Fichamento detalhado
Aula: HZ379B_2020S2 “Oficina de leitura e escrita em humanidades’’
Texto: “A Ciência do Concreto” primeiro capítulo do livro “O pensamento selvagem”
Autor: Claude Lévi-Strauss
Ano de publicação: 1989
Claude Lévi-Strauss (1908-2009), foi um grande cientista social que fez grandes
contribuições para a Antropologia, com sua vasta obra e sua teoria sobre o estruturalismo, o
capítulo que estará sendo fichado é o primeiro capítulo do livro “Pensamento Selvagem”
primeiramente publicado em 1960 pela editora Plon em Paris.
O texto é composto de setenta e nove parágrafos divididos em sete partes separadas
por asteriscos.
1. Primeira parte (1§-8§):
Nesta primeira parte Lévi-Strauss tem o objetivo de tecer uma crítica a intelectuais como
Malinowski e Krausse que consideravam que o interesse dos “selvagens” em plantas e
animais era unicamente inspirado pela utilidade. Ele realiza isso através de apresentar
conceitos, sintaxe e discursos das línguas indígenas e como mesmo com conceitos faltantes
como “árvore” ou mesmo só se tendo esse conceito existe dentro desses povos a ânsia de
conhecimento objetivo, que interpretamos como ciência.
Ele inicia o texto colocando exatamente em foco essa questão das faltas de conceito, ele
então traz para discussão Franz Boas e a linguagem chinuque, língua do noroeste da América
do Norte para exemplificar o fato de mesmo com a fata de conceitos gerais e vocabulários
ainda se é possível a explicações das coisas por meio de outras palavras e o discurso
explicativo delas. A mesma coisa se aplicaria ao caso inverso onde existe uma ocorrência
maior de conceitos gerais e a não existência de conceitos específicos.
Ele deixa claro que nem um ou outro teria haver com a capacidade intelectual dos nativos
e crítica Krauss que faria uso da falta de conceitos para justificar a menor capacidade
intelectual dos indígenas. O autor se utiliza do verbete “nome” da Enciclopédia escrito no
século XVIII, para apoiar sua crítica e argumentação.
Então ele parte para completar sua argumentação, trazendo a ideia de que “cada
civilização tende a superestimar a orientação objetiva de seu pensamento; é por isso,
portanto, que ela jamais está ausente.” ele então traz Handy e Pukui com a crítica dos
indígenas havaianos que utilizam bem mais completamente seus recursos do que a pratica
comercial da época, e identificavam essa prática como melhor logicamente.
2. Segunda parte (9§-26§):
Lévi-Strauss nessa parte continua a colocar argumentos para comprovar que o
conhecimento de povos considerados “primitivos” não é baseado na pura e simples utilidade,
mas é útil pois é conhecido.
Ele então estabelece um diálogo com diferentes autores onde ele demonstra o extensivo
conhecimento botânico e morfológico de diferentes povos e como esse conhecimento é
essencial a vida dessas pessoas.
O primeiro autor com quem ele dialoga é Cooklin, exemplificando que um simples habito
de mastigação de bétele, dos hanunoo das Filipinas, supõe o conhecimento de quatro
sementes de areca e de oito produtos de substituição.
Em seguida ele se usa do texto do biólogo R.B.Fox para exemplificar o interesse dos
indígenas pelas plantas que não lhe são diretamente úteis, e então coloca o que Smith diz
sobre uma sociedade atrasada “mesmo uma criança consegue identificar....”, exemplificando
que mesmo uma criança dentro daquela sociedade teria um conhecimento extensivo em
botânica
Ele continua nessa jogada com os autores nos próximos parágrafos demonstrando a
extensão desse conhecimento natural em diferentes povos, ele usa um outro argumento para
comprovar sua teoria de que um conhecimento desenvolvido tão sistematicamente não
poderia ser em função apenas de sua utilidade prática, mas sim de interesse e curiosidade
também, por isso esse conhecimento não é necessariamente somente um conhecimento útil.
3.Terceira parte (27§-37§) :
O autor inicia esta parte colocando que esta ciência feita pelos povos citados acima não
têm a obrigatoriedade de ser eficaz no plano prático já que esse tipo de conhecimento não é
feito em vista desse objetivo, mas sim com o objetivo de criar um agrupamento de seres e
coisas que crie um princípio de ordem no universo.
Usando o argumento de Simpson de que a desordem é a única coisa que a ciência não
deve tolerar, Lévi-Strauss inicia uma comparação com os meios rituais onde cada coisa
sagrada têm o seu lugar e cumpre sua parte nessa organização de uma ordem.
Essa preocupação com cada detalhe para o autor é um ponto importante pois é o mesmo
cuidado em processos científicos, então ele parte para fazer uma diferenciação entre a magia
e a ciência se baseando no conceito de magia dos azandes colocado por Evans-Pritchard,
sendo que a magia postula um determinismo global e integral, enquanto a ciência opera
distinguindo níveis dos quais apenas alguns admitem formas de determinismo tidas como
inaplicáveis a outros níveis.
Então ele termina esta parte usando a química como um exemplo de que a intuição em
agrupar alimentos em grupos químicos sem um conhecimento químico especifico pode
mostrar uma lógica que não está tão longe da nossa ciência e que essa noção de conhecimento
pode abrir espaço a aquilo que denominamos ciência, mesmo que a partir de um senso
estético artístico.
4.Quarta parte (38§-46§):
Lévi-Strauss volta para a questão magia e ciência para deixar claro que magia não seria
uma forma tímida de ciência pois o pensamento magico forma um sistema bem articulado;
independente do sistema que constitui a ciência., portanto o melhor seria coloca-los em
paralelo como dois modos de conhecimento desiguais quanto aos resultados teóricos e
práticos.
Ele então aponta o paradoxo Neolítico, pois se a ciência como a conhecemos só foi
inventada somente a alguns séculos atrás, não teria como os feitos do homem neolítico serem
considerados como ciência, e que essas técnicas supõem séculos de observação ativa e
metódica, hipóteses ousadas e controladas afins de rejeitá-las ou confirmá-las através de
experiencias incansavelmente repetidas. O autor então questiona o que diferencia esse tipo de
ciência da ciência praticada por esses selvagens.
Lévi-Strauss parte para explicar então que existiriam dois modos de pensamento
cientifico, um seria próximo da intuição cientifica e o outro seria mais distanciado, ele
também coloca que qualquer tipo de classificação é superior ao caos, mesmo aquelas que se
arquitetam por um sentido puramente estético.
Ele finaliza essa parte chamando essa ciência sensível praticada por esses povos como
ciência do concreto, pois ela é feita em base de observações, associações e logicas puramente
empíricas.
5. Quinta parte (47§-58§):
Nesta parte Lévi-Strauss constrói uma relação entre o mito e a forma de arte bricolage,
que consiste em pegar diferentes materiais e até objetos e os compor juntos formando uma
imagem, o autor coloca que o pensamento mítico seria uma forma de bricolage intelectual
onde se pegam todos os fatos ou resquícios dos fatos e se transforma eles em uma estrutura
fechada.
Ele explica então que os elementos de reflexão mitica estão sempre situados entre
perceptos e conceitos, e que seria melhor representado pelo signo que estaria entre os dois.
Ele faz uso do conceito de Saussure sobre signos linguísticos para exemplificar isso já que
eles possuem um elo entre imagem e conceito, que desempenham respectivamente papéis de
significante e significado.
Lévi-Strauss volta então a comparação entre mito e ciência através dos paralelos de
conduta do engenheiro e do bricoleur, chegando à conclusão de que a ciência opera através
dos conceitos e o mito através dos signos, o mito elabora estruturas organizando fatos, a
ciência cria seus meios e seus resultados sob a forma de fatos, graças as estruturas que fabrica
sem cessar e que são suas hipóteses e teorias.
6. Sexta parte (59§-72§):
Nesta parte Lévi-Strauss busca entender o lugar da arte entre a ciência e o mito, que ele
diz estar entre os dois, ele começa por comparar a ciência e a arte através do modelo
reduzido.
O modelo reduzido para o autor não teria haver com o tamanho, mas sim com a
simplificação da realidade, dizendo que dependendo da arte você não teria como ter acesso a
um todo.
O autor faz uma relação entre arte e metáfora e ciência e metonímia, já que a última tende
pegar partes para entender o todo e a primeira ao fazer uso do modelo reduzido permite uma
melhor compreensão de um todo por um todo.
Lévi-Strauss propõe que a arte estaria no meio do caminho pois trata tanto do objeto
como do signo, estando em um processo simétrico e inverso tanto com a ciência quanto com
o mito, em relação a ciência ela partiria dos fatos sempre em busca de um caráter totalitário e
com relação ao mito ela parte desses fatos dados para criar sua estrutura.
Por fim ele articula como diferentes estilos de arte, pertencentes ao seu estilo, lugar
época, estruturação e finalidade se relacionam com essa perspectiva pois ao contrário da
ciência e o mito a arte não necessariamente precisa do ordenamento.
7. Sétima parte (73§-79§):
Na última parte Lévi-Strauss propõe uma última relação entre rito e jogo, em uma análise
de um rito funerário realizado através de uma partida de futebol pelos gahuku-gama da Nova
Guiné.
Ele conclui o texto no pensamento de que o jogo como a ciência produz seus fatos a partir
da estrutura ao passo que os ritos e os mitos decompõem e recompõem conjuntos factuais e se
servem deles como de outras tantas peças indestrutíveis, em vista de arranjos estruturais que
assumem alternativamente o lugar de fins e de meios.