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INFORME 2008 - ANISTIA INTERNACIONAL
PARTE TRÊS: PAÍSES
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e negação do direito dos detentos à defesa legal e ao de maior repercussão, em meados de 2007,
acesso à informação. A falta de confiança ou de acesso envolvendo a morte de civis pelas forças militares
ao sistema de justiça formal resultou na dependência internacionais, a ISAF instituiu novas regras para os
de sistemas de justiça informais, sobretudo nas áreas combates.
rurais, onde consta que mais de 80 por cento dos O impacto causado pela medida permaneceu
casos foram resolvidos através de mecanismos incerto; porém, houve relatos regulares de ocorrência
informais de justiça. desproporcional de mortes de civis em conseqüência
de operações militares internacionais.
Impunidade No dia 4 de março, depois de um ataque suicida a um
Persistiu a cultura de impunidade. Essa cultura foi comboio dos EUA na principal rodovia de Jalalabad, na
incentivada, em fevereiro, pela introdução de um província de Nangarhar, as tropas estadunidenses
projeto de Lei de Anistia que absolve o governo da abriram fogo indiscriminadamente por um percurso de
responsabilidade de levar à Justiça os suspeitos de 12 km da rodovia, matando pelo menos 12 civis e
A
terem cometido, no passado, violações de direitos ferindo 35 pessoas. Investigações da Comissão
humanos e crimes sob o direito internacional, inclusive Independente de Direitos Humanos do Afeganistão
crimes de guerra e crimes contra a humanidade. revelaram que as tropas dos EUA utilizaram a força de
Em dezembro, o Presidente Karzai declarou que seu modo excessivo e indiscriminado. Os militares
governo ainda não teve condições de prender nem estadunidenses remeteram o caso para o Serviço de
de processar muitos dos responsáveis por abusos de Investigação Criminal Naval, mencionando a
direitos humanos passados e atuais. Os acusados por necessidade de maiores investigações.
tais abusos incluíam membros do Parlamento, assim
como autoridades dos governos provinciais. Tortura e outros maus-tratos
Não houve progresso na implementação do Plano de A ISAF continuou a transferir prisioneiros para o
Ação para a Paz, a Justiça e a Reconciliação no Diretório Nacional de Segurança apesar das denúncias
Afeganistão, lançado em fevereiro de 2006. de tortura e de outros maus-tratos praticados pelo
órgão. As tentativas das forças internacionais de
Pena de morte monitorar os detentos transferidos foram aplicadas de
Quinze pessoas foram executadas em outubro – sendo forma inconsistente.
essas as primeiras execuções em três anos –, e um Além disso, as forças envolvidas com a Operação
indivíduo condenado à morte supostamente conseguiu Liberdade Duradoura, sob comando estadunidense,
se livrar da execução através de suborno. As 15 continuaram a transferir pessoas para o Diretório
pessoas foram mortas a tiros quando tentaram fugir Nacional de Segurança e para instalações de detenção
da execução. Imediatamente após as execuções, administradas pelos EUA, inclusive para a base aérea
uma greve de fome de 10 dias foi iniciada por de Bagram, próxima a Cabul. As autoridades
alguns prisioneiros do presídio de Pol-e-Charkhi. estadunidenses transferiram mais de 100 detentos de
Os prisioneiros disseram que as execuções não Bagram e de Guantánamo para o recém reformado
foram baseadas em julgamentos justos e transparentes Bloco D do presídio de segurança máxima de Pol-e-
e que algumas foram politicamente motivadas. Charkhi, nos arredores de Cabul. Não estava claro
Acredita-se que entre 70 e 110 pessoas permaneciam quem era responsável pela supervisão do Bloco D.
no corredor da morte. Acredita-se que aproximadamente 600 detentos
permaneciam em Bagram no fim do ano.
Abusos cometidos pelas forças internacionais
Matança de civis Abusos cometidos por grupos armados
As forças militares internacionais teriam causado a Seqüestros e assassinatos
morte de várias centenas de civis. Alguns podem ter Grupos armados, incluindo o Talibã, o Hizb-e-Islami e a
sido vítimas de ataques indiscriminados em Al Qaeda, visaram deliberadamente civis como parte
bombardeios aéreos e em outras operações que, de sua luta atual contra o governo afegão e contra as
possivelmente, violaram o direito internacional forças militares internacionais. A estratégia incluía o
humanitário. Depois de ocorrerem vários incidentes assassinato de pessoas que pareciam estar
trabalhando ou cooperando com o governo afegão ou expressão. Vários jornalistas foram presos ou
com as forças militares internacionais. Mulá Dadullah, intimidados e mortos. Integrantes da Comissão
um comandante do Talibã, declarou que o seqüestro Independente de Direitos Humanos do Afeganistão
era uma “boa tática” e encorajou os combatentes (AIHRC) e representantes de organizações nacionais
talibãs a utilizá-la com maior freqüência. Houve um de direitos humanos também sofreram ameaças.
aumento acentuado de seqüestros em todo o sul e A Associação de Jornalistas Independentes do
sudeste do Afeganistão. Afeganistão registrou, em 2007, 53 casos de violência
Quatro funcionários de tribunais provinciais afegãos contra jornalistas, perpetrados pelo governo afegão e
foram seqüestrados pelo Talibã enquanto viajavam no por insurgentes talibãs. Em seis dos casos, um
distrito de Andar, em Ghazni, no dia 24 de julho. Seus jornalista foi morto.
corpos foram encontrados mais tarde pelas autoridades Zakia Zaki, que dirigia a emissora privada Rádio da
afegãs. Paz, foi morto por um pistoleiro em sua casa, na
Forças talibãs seqüestraram 23 coreanos, no dia 19 província central de Parwan, no dia 5 de junho.
A
de julho, enquanto eles viajavam através de Ghazni. Dois Kamran Mir Hazar, jornalista da Rádio Salaam
dos reféns foram mortos; os demais foram libertados Watandar e editor do portal de notícias na Internet Kabul
após seis semanas de cativeiro. Press, foi preso duas vezes, aparentemente por criticar o
Forças talibãs seqüestraram cinco afegãos e dois governo, e libertado em seguida sem acusações.
alemães, em 18 de julho, na província de Wardak. Um
dos afegãos escapou e um dos alemães morreu em Violência contra mulheres e meninas
cativeiro. Os demais reféns foram libertados em outubro. Nas mais diversas áreas, os direitos das mulheres
Ataques suicidas continuaram a ser corroídos. Mulheres que
Grupos armados realizaram cerca de 140 ataques trabalhavam para o governo sofreram ameaças, sendo
suicidas contra alvos militares e civis, matando que muitas sobreviveram a tentativas de assassinato.
aproximadamente 300 civis. Massoma Anwary, diretora do Departamento de
Até 80 pessoas foram mortas durante um atentado Assuntos da Mulher da província de Ghor, sobreviveu a
suicida à bomba, ocorrido no dia 6 de novembro, em uma tentativa de assassinato em novembro.
uma cerimônia na província de Baghlan. Inúmeras Uma diminuição no número de ataques contra
pessoas ficaram feridas. Algumas das mortes e dos escolas permitiu que alguns estabelecimentos fossem
ferimentos podem ter sido causados por seguranças dos reabertos em áreas perigosas e, de modo geral, houve
membros do Parlamento presentes à cerimônia, os aumento no número de crianças que freqüentavam a
quais aparentemente abriram fogo após a primeira escola. No entanto, temores com a segurança fizeram
explosão. com que muitas meninas não pudessem ir à escola.
Em 17 de julho, 24 pessoas foram mortas e 35 De acordo com o segundo relatório da AIHRC sobre
ficaram feridas quando um homem-bomba explodiu direitos econômicos e sociais, publicado em agosto,
dentro de um ônibus que transportava recrutas da 36,1 por cento das meninas em idade escolar não
polícia afegã. freqüentavam a escola por questões de acessibilidade,
Assassinatos após processos quasi-judiciais incluindo segurança.
O Talibã e outros grupos mataram pessoas ilegalmente
depois de processos quasi-judiciais. Relatórios da Al
No dia 30 de setembro, combatentes talibãs Afghanistan: Detainees transferred to torture – ISAF complicity? (ASA
seqüestraram o jovem Zainullaah, um chaveiro de 15 11/011/2007)
anos, da loja onde ele trabalhava no distrito de Sangin, Amnesty International dismayed by execution of 15 in Afghanistan (ASA
na província de Helman, no sul do Afeganistão. Eles o 11/014/2007)
acusaram de ser espião, o enforcaram em um poste de Afghanistan: Amnesty International condemns the unlawful killing of
luz e deixaram uma nota avisando que se outras pessoas 15-year-old boy by Taleban (ASA 11/013/2007)
fossem pegas espiando, teriam o mesmo destino. Afghanistan: Amnesty International demands immediate release of all
hostages (ASA 11/010/2007)
Liberdade de expressão Afghanistan: Justice and rule of law key to Afghanistan’s future
Prosseguiram as severas restrições à liberdade de prosperity (ASA 11/007/2007
Na província de KwaZulu Natal, os procedimentos ação. O ministro afirmou que a responsabilidade por
judiciais contra guardas penitenciários da prisão restituição de direitos e reparações repousa no
Ncome foram adiados para que se façam mais governo sul-africano, e não em tribunais
investigações sobre um ataque a aproximadamente estrangeiros.
50 prisioneiros ocorrido em 2003. Em 2006, a
Comissão de Inquérito Jali havia recomendado Violência contra a mulher
acusações criminais e criticado as autoridades Níveis elevados de violência sexual e outras formas de
prisionais por sua inércia. violência contra a mulher continuaram sendo
Um órgão supervisor, a Inspetoria Judicial de registrados.
Prisões, conduziu uma inspeção nacional em 235 De acordo com as estatísticas da polícia, os
penitenciárias e concluiu que a superlotação, a falta incidentes de estupro notificados decresceram 4,2
de programas de reabilitação e a carência de pessoal por cento nos seis anos anteriores. No entanto, entre
eram problemas “sistêmicos”, e que a prestação abril de 2006 e março de 2007, foram registrados
A
serviços de saúde estava em “crise”. 52.617 estupros. Também foram registrados 9.327
casos de “atentado ao pudor” – incluindo violação
Impunidade anal e outros tipos de ataque sexual que não se
Em julho, parentes de vítimas de violações de enquadravam na definição de estupro. Em dezembro,
direitos humanos da época do apartheid, o Grupo de novas estatísticas criminais referentes ao período de
Apoio Khulumani e duas outras ONGs iniciaram abril a setembro de 2007 incluíam o registro de
procedimentos junto ao Tribunal Superior de Pretória 22.887 estupros.
para declarar inválidas as emendas de 2005 à Autoridades policiais informaram ao Parlamento
Política Nacional de Processos Judiciais. Essas que, entre julho de 2006 e junho de 2007, a polícia
emendas teriam o efeito de permitir a impunidade registrou 88.784 incidentes de “violência doméstica”
para perpetradores que não haviam cooperado com nos termos da Lei de Violência Doméstica de 1998. O
a Comissão de Verdade e Reconciliação ou cuja Departamento de Justiça informou que mais de 63
anistia fora recusada pela Comissão. Os mil ordens de proteção foram emitidas pelos tribunais
procedimentos judiciais continuavam no final de entre abril de 2006 e março de 2007. No entanto, a
2007. Diretoria de Queixas Independente informou, em
Em agosto, o Superior Tribunal de Pretória impôs novembro, que das 245 delegacias auditadas em
sentenças com penas suspensas ao ex-ministro de 2006, apenas 23 por cento cumpriam suas
Lei e Ordem da época do apartheid, Adriaan Vlok, e obrigações previstas na Lei de Violência Doméstica:
a quatro outros indivíduos após a aceitação de nenhuma nas províncias de Mpumalanga e Limpopo;
negociação de culpa. Eles expressaram “remorso” todas as auditadas na província do Cabo Ocidental.
pela tentativa de assassinato de um líder anti- Mulheres vítimas de violência e organizações que
apartheid, Frank Chikane, em 1989, e aceitaram fornecem auxílio a essas mulheres relataram à Anistia
cooperar em outras investigações. Todos os cinco Internacional que, enquanto alguns policiais
acusados se declararam culpados da acusação de facilitavam o acesso das mulheres às ordens de
tentativa de assassinato. proteção, outros remetiam as vítimas de volta a suas
Em outubro, o ministro da Justiça e famílias, ou não apreendiam armas perigosas, ou,
Desenvolvimento Constitucional emitiu uma então, se recusavam a tomar qualquer medida a
declaração reiterando a oposição do governo a uma menos que a reclamante apresentasse antes
ação apresentada nos EUA por vítimas de violações acusações criminais.
de direitos humanos. O grupo está buscando Um dos motivos apontados para a deterioração na
indenizações de 50 corporações estadunidenses, eficácia da resposta policial nos casos de violência
européias e canadenses por suposta cumplicidade baseada em gênero teria sido a dissolvição das
nos abusos da era do apartheid. A declaração foi unidades especializadas em Violência Familiar,
emitida em resposta à decisão do Tribunal de Proteção à Criança e Crimes Sexuais e a transferência
Recursos do Circuito de Nova York de reverter a dos funcionários para as delegacias de polícia locais.
decisão de um tribunal inferior que havia rejeitado a O Departamento de Justiça suspendeu a implantação
de tribunais especializados em crimes sexuais, apesar física aos serviços de saúde, os custos do transporte,
de seu alto índice de condenações em julgamentos a escassez de funcionários da área de saúde, os
por estupro. atrasos no "credenciamento” de unidades habilitadas
Em dezembro, o Presidente Mbeki promulgou um a oferecer o TAR, a falta de acesso diário à
ato de emenda à Lei Penal (de Crimes Sexuais e alimentação adequada e as desigualdades sócio-
Questões Relacionadas), encerrando um processo de econômicas.
reforma legislativa de quase 10 anos. A lei define o Em razão de ter recebido reclamações e de ter
estupro em termos de gênero neutro, aplicáveis a observado a precariedade dos serviços prestados em
todas as formas de “penetração sexual” não muitas províncias, a Comissão Sul-africana de Direitos
consentida. Isso obriga as autoridades a Humanos realizou, no mês de maio, audiências
desenvolverem um sistema de políticas e de públicas sobre o direito de acesso aos serviços de
instruções nacionais para garantir o treinamento e a saúde. Até o final do ano, a Comissão não havia
coordenação relativos à implementação das publicado suas conclusões.
A
disposições da Lei. No entanto, as medidas protetivas
e os serviços destinados às vítimas e testemunhas Visitas e relatórios da Al
previstos na lei são mais limitados do que as Representantes da Anistia Internacional visitaram a África do Sul em
organizações de defesa pleiteavam originalmente. março e em maio 2007.
Disposições que permitem a testagem compulsória de Pakistan/South Africa: Khalid Mehmood Rashid appears after 18 months
HIV dos suspeitos detidos foram criticadas tanto no of secret detention (AFR 53/003/2007))
que se refere aos interesses da vítima quanto aos Afghanistan: Amnesty International condemns the unlawful killing of
direitos do acusado. 15-year-old boy by Taleban (ASA 11/013/2007)
South Africa: Submission to the UN Universal Periodic Review First Session
Saúde – pessoas vivendo com HIV of the UPR Working Group 7-11 April 2008 (AFR 53/005/2007)
Estima-se que 5,5 milhões de pessoas estejam
vivendo com HIV. Em maio, um novo Plano
Estratégico Nacional sobre HIV/Aids para o período
2007/2011 foi adotado pelos ministérios, depois de
seis meses de consultas envolvendo departamentos
do governo, organizações da sociedade civil e
ALEMANHA
provedores de serviço de saúde. O Plano objetiva
REPÚBLICA FEDERAL DA ALEMANHA
expandir o acesso a tratamento, cuidado e apoio a 80 Chefe de Estado: Horst Köhler
por cento das pessoas vivendo com HIV, buscando Chefe de governo: Angela Merkel
suplantar os obstáculos sistêmicos que dificultam a Pena de morte: abolicionista para todos os crimes
prevenção, o tratamento e os cuidados. A demissão Tribunal Penal Internacional: ratificado
pelo Presidente Mbeki, em agosto, do ministro- População: 82,7 milhões
Expectativa de vida: 79,1 anos
adjunto da Saúde, Nozizwe Madlala-Routledge, que
Mortalidade de crianças até 5 anos (m/f): 5/5 por mil
teve um papel chave no desenvolvimento do Plano, Taxa de alfabetização: 99 por cento
levantou preocupações de que o governo não estaria
totalmente comprometido com o projeto.
De acordo com dados do governo divulgados em
maio, um total de 303.788 pacientes recebiam A Alemanha falhou em lidar com as violações de
tratamento anti-retroviral (TAR) através de programas direitos humanos cometidas no contexto da “guerra
da área de saúde pública. No entanto, organizações ao terror” liderada pelos EUA, o que inclui seu
de monitoramento dos direitos à saúde manifestaram envolvimento em transferências ilegais de suspeitos
preocupação de que esses números representam entre países. Além disso, a Alemanha tentou obter
menos da metade dos que necessitam de TAR. Em garantias diplomáticas para casos de deportação em
áreas rurais, o acesso a serviços de saúde e a que indivíduos corriam o risco de enfrentar sérias
possibilidade de as mulheres seguirem o tratamento violaçòes de direitos humanos, infringindo suas
foram impedidos por fatores como a inacessibilidade obrigações sob o direito internacional.
dos Direitos Humanos e dos Povos relativo aos Moradia - desalojamentos forçados
Direitos da Mulher na África e aderiu ao Protocolo Embora o número de vítimas de desalojamentos
Facultativo à Convenção da ONU sobre a Eliminação forçados tenha diminuído em relação aos anos
de Todas as Formas de Discriminação contra a anteriores, o risco dessas expulsões continuou a existir.
Mulher. Algumas das pessoas despejadas à força em 2007
Prosseguiu a implementação do acordo feito em foram realojadas. Entretanto, o governo se empenhou
2006 para pôr fim ao conflito armado na província de muito pouco e, em alguns casos, nem tentou, realojar
Cabinda. Os ex-combatentes da Frente de Libertação ou oferecer compensação às centenas de famílias que
do Enclave de Cabinda (FLEC) foram incorporados às foram expulsas, por várias vezes desde 2005, de suas
Forças Armadas de Angola (FAA) em janeiro. Mais de casas nos bairros Cambamba I, Cambamba II e
60 militares, mantidos na Cadeia Militar de Landana Cidadania. Elas continuaram desabrigadas, vivendo
por crimes cometidos durante o conflito, foram nas ruínas de suas casas, sob risco de serem expulsas
libertados em janeiro, de acordo com a Lei de Anistia novamente.
A
de 2006. Em agosto, a FLEC mudou seu nome para Cerca de 200 famílias ficaram sem moradia depois
Frente de Libertação do Estado de Cabinda. dos despejos forçados que ocorreram nos bairros
As eleições legislativas e presidenciais adiadas para Comandante Jika e Camama, nos municípios de
o fim de 2007 foram adiadas mais uma vez para 2008 Maianga e Kilamba Kiaxi, em Luanda, no mês de julho.
e 2009, respectivamente. O cadastro dos eleitores, Em Comandante Jika, diversos moradores afirmaram
inicialmente programado para terminar em 15 de que alguns dos alojamentos alternativos
junho, foi prorrogado até 15 de setembro devido às disponibilizados haviam sido destinados a moradores
fortes chuvas e às estradas intransitáveis que de outra região, o que deixou algumas famílias sem ter
dificultavam o acesso a milhões de pessoas. Mais de para onde ir. As famílias não receberam nenhum outro
oito milhões de pessoas foram cadastradas como tipo de compensação.
eleitores. Desde o mês de julho, centenas de famílias foram
Prosseguiu a epidemia de cólera que eclodiu em desalojadas à força e tiveram suas casas demolidas
2006 e que, até o fim de agosto, havia matado mais pela construtora Jardim do Éden, no bairro Iraque, em
de 400 pessoas. A situação se agravou devido às Luanda. Segundo informações, a maioria das famílias
chuvas torrenciais de janeiro e fevereiro em Luanda, foi expulsa por funcionários da construtora, protegidos
que causaram a morte de mais de 110 pessoas e por seguranças particulares e pela Polícia Nacional. Os
destruíram cerca de 10 mil casas, deixando desalojamentos forçados ocorreram para dar lugar à
aproximadamente 28 mil famílias sem moradia. Uma construção de um condomínio residencial de luxo. Não
doença misteriosa, causando sonolência, vômitos e se ofereceu às famílias nenhum tipo de acomodação
diarréia, surgiu no distrito de Cacuaco, em Luanda, no alternativa ou de compensação. Em novembro, dois
mês de outubro. Pelo menos 400 pessoas foram jornalistas que faziam reportagem sobre as expulsões –
hospitalizadas e duas morreram. No final de António Cascais, jornalista autônomo da estação de
novembro, a Organização Mundial da Saúde afirmou rádio alemã Deutsche Welle, e Alexandre Neto, da
que a doença fora possivelmente causada por rádio angolana Despertar – foram agredidos por
intoxicação com brometo. seguranças particulares de uma empresa e detidos por
Em setembro, o ex-diretor do Serviço de Segurança cerca de três horas pela Polícia Militar.
Externa de Angola, general Fernando Garcia Miala, foi Em Lubango, capital da província de Huíla, segundo
sentenciado por um tribunal militar a quatro anos de informações, entre quatro e vinte famílias foram
prisão por insubordinação. Ele não compareceu à desalojadas à força, em julho, para dar espaço a um
solenidade em que seria rebaixado de graduação, complexo hoteleiro de luxo. Houve tentativas de
após ter sido destituído de seu posto em 2006. Outros realojar as famílias expulsas, mas a maioria das
três integrantes - Ferraz António, Miguel André e moradias alternativas estava localizada em áreas
Maria Domingos - foram condenados por distantes de seus locais de trabalho e das escolas, em
insubordinação pelo mesmo motivo e foram lugares que careciam de transporte e de infra-estrutura
sentenciados a dois anos e meio de prisão. Eles urbana adequada. Não lhes foram oferecidas outras
entraram com recurso contra a sentença. formas de reparação.
Desenvolvimentos legais
Em outubro, o governo introduziu duas leis para a
reestruturação dos tribunais e para a alteração das
regras relativas às profissões jurídicas, destinando 1,8
bilhão de dólares para a implementação destas Em maio, detentos foram exibidos na televisão,
mudanças. Contudo, não se sabe ainda qual o confessando serem filiados a “grupos mal orientados”
impacto dessa ação positiva sobre três problemas e descrevendo planos de bombardear instalações de
cruciais: o sigilo e a falta de transparência do sistema petróleo e outros alvos. O governo declarou que os
de justiça criminal; a falta de adesão às normas julgaria com base em suas confissões. Entre eles
internacionais para julgamentos justos, como o direito estavam Nimr Sahaj al-Baqmi e Abdullah al-Migrin,
a um advogado de defesa e o direito à apelação; e a cujas confissões foram, segundo informações, aceitas
falta de independência do Judiciário. Estas pelos juízes. Não foi esclarecido se os dois detentos
deficiências continuaram bem evidenciadas durante haviam recebido permissão para ter acesso a um
todo o ano e contribuíram para que ocorressem advogado, apesar da probabilidade de serem acusados
violações dos direitos humanos. O Judiciário, por de crimes sujeitos a pena de morte. O destino de todos
exemplo, continuou a não se pronunciar ou a ser os detentos permaneceu envolto em segredo.
cúmplice em violações cometidas no contexto do
A
combate ao terrorismo e continuou a aplicar leis “Guerra ao terror”
discriminatórias e a emitir julgamentos Um cidadão saudita, Yasser Talal al-Zahrani, morreu
discriminatórios em casos que envolviam mulheres. sob custódia dos Estados Unidos na base de
Guantánamo, em Cuba. Ao menos outros 77 foram
Combate ao terrorismo libertados pelas autoridades estadunidenses e
Centenas de supostos simpatizantes de grupos voltaram para a Arábia Saudita, onde foram
religiosos de oposição – oficialmente descritos como imediatamente detidos, podendo receber visitas dos
“grupos mal orientados” – foram presos, enquanto familiares. Alguns foram libertados logo depois e
milhares de pessoas detidas nos anos anteriores outros continuaram presos, aparentemente, para
continuaram encarceradas sem julgamento e sem serem submetidos ao programa de “reforma” do
acesso aos seus direitos básicos como prisioneiros. governo para os detentos que ameaçavam a
Entre os detidos em 2007 incluíam-se suspeitos segurança.
de terrorismo que foram repatriados à força pelas
autoridades de países como os Estados Unidos e o Prisioneiros de consciência
Iêmen. A maioria das detenções, porém, ocorreu na Mais de 100 pessoas detidas devido a sua prática
Arábia Saudita. Em alguns casos, as forças de religiosa ou a sua orientação sexual eram ou
segurança armadas mataram supostos militantes em pareciam ser prisioneiros de consciência. Entre elas
circunstâncias obscuras durante o que seriam estavam trabalhadores estrangeiros pertencentes à
tentativas de prendê-los. As autoridades disseram que Ahmadi – considerada uma seita islâmica –,
172 pessoas suspeitas de planejarem ataques membros da comunidade xiita, reformistas sunitas e
violentos foram detidas em abril e outras 208 em dissentes pacíficos. Havia também mulheres que, no
novembro, em diferentes partes do país. No entanto, mês de julho, organizaram os protestos diante da
as autoridades não revelaram maiores detalhes e não prisão do al-Mabahith al-Amma (o Departamento
esclareceram precisamente quantos suspeitos foram Geral de Inteligência), em Buraida, ao norte de Riad.
presos e onde eles estavam sendo mantidos. Também Elas reivindicavam o julgamento ou a libertação de
era incerto o número de suspeitos detidos em anos familiares que haviam permanecido detidos durante
anteriores que continuavam presos, apesar de se anos sem julgamento e sem acesso a advogados ou
acreditar que fossem milhares. Em julho, o Ministério aos tribunais para questionar a legalidade das
do Interior declarou que havia detido 9 mil suspeitos detenções. A maioria desses detentos foi libertada
de ameaçarem a segurança entre os anos de 2003 e após períodos curtos de prisão, mas os cidadãos
2007, dos quais 3.106 continuavam presos. A estrangeiros, como os ahmadis, foram despedidos de
maioria, segundo informações, foi submetida a um seus empregos e deportados sem que tivessem
programa de “reforma” conduzido por especialistas permissão para questionar a legalidade das ações
em religião e em psicologia. Em novembro, o governo tomadas contra eles.
anunciou a libertação de 1.500 detentos que haviam, Entretanto, ao menos 12 prisioneiros de
aparentemente, concluído o programa. consciência ainda estavam sendo mantidos presos
sem julgamento e sem acesso a advogado no fim do casal, o tribunal determinou que eles seriam
ano. Estavam entre eles Abdul Rahman al-Shumayri e divorciados com base na regra tribal de paridade de
outras nove pessoas, todas professores universitários, status entre famílias e tribos como condição necessária
escritores e advogados, que haviam sido detidos em para validar o casamento. Temendo correr perigo junto
fevereiro após terem feito um abaixo-assinado a seus familiares, Fátima preferiu viver na prisão a ir
reivindicando reforma política. Eles foram mantidos morar na casa de seu irmão, sendo mais tarde
incomunicáveis por aproximadamente seis meses na transferida para um abrigo de mulheres com seus dois
prisão do al-Mabahith al-Amma, em Jidá, antes de filhos. Ela não pode mais se encontrar com seu ex-
receberem permissão para visitas familiares. Segundo marido, já que isso significaria cometer o crime de
informações, pelo menos dois deles foram confinados khilwa (o encontro entre um homem e uma mulher que
em solitárias. não são membros diretos da mesma família), o que
Em um procedimento incomum, o prisioneiro de colocaria ambos em risco de serem processados e
consciência Abdullah al-Hamid foi libertado sob punidos com açoitamentos e prisão.
A
fiança, após ter sido detido por um breve período Uma mulher de 20 anos, identificada como “a
devido ao seu envolvimento com o protesto das garota de Al Qatif” para proteger sua verdadeira
mulheres, tendo sido, então, julgado por um tribunal identidade, foi estuprada por sete homens em 2006,
penal comum em uma audiência semipública. Ele e na cidade de Al Qatif. Quando o caso chegou ao
seu irmão, julgados juntos por acusações referentes tribunal, a garota e seu companheiro, que havia estado
ao seu envolvimento no protesto das mulheres, foram com ela antes do estupro, foram sentenciados, cada um,
condenados e sentenciados a seis e a quatro meses a 90 chibatadas pelo crime de khilwa. Os estupradores
de prisão, respectivamente, sendo obrigados a foram sentenciados a penas de prisão entre um e cinco
assumir o compromisso de não incitar mais nenhum anos, além da pena de açoitamento. Na apelação,
protesto. Os dois entraram com recurso, mas o todas as sentenças foram aumentadas. A vítima do
resultado ainda era aguardado ao final do ano. estupro e seu companheiro foram sentenciados a seis
Centenas de ex-prisioneiros de consciência, meses de prisão e a 200 chibatadas, enquanto as
ativistas de direitos humanos e defensores de sentenças dos estupradores aumentaram para penas
mudanças políticas pacíficas continuaram proibidos de prisão que variavam de dois a nove anos, além da
de viajar para o exterior. Entre eles estava Matrouk al- pena de açoitamento. O advogado da vítima de estupro
Falih, professor universitário e um dos reformistas, declarou publicamente que sua cliente, como vítima do
preso de março de 2004 a agosto de 2005. Ele foi crime, não deveria ter sido punida. Em resposta, o
informado pelo Ministério do Interior de que não teria Ministério da Justiça declarou que, ao cometer o crime
permissão para viajar ao estrangeiro até março de de khilwa, a jovem havia sido parcialmente responsável
2009. Consta que outros tiveram suas proibições por seu próprio estupro e, então, deu início a uma ação
renovadas depois que elas expiraram. disciplinar contra o advogado, acusando-o de infringir
a lei e de revelar o caso à imprensa. Em dezembro, o
Discriminação e violência contra a mulher Rei concedeu indulto à vítima do estupro e, segundo
Dois casos chamaram a atenção para a natureza informações, o caso contra ela e seu companheiro foi
severa e para a extensão das discriminações legais encerrado. A ação disciplinar movida contra o
e de outros tipos aplicadas contra as mulheres na advogado também foi anulada e ele teve permissão
Arábia Saudita, provocando debates nacionais e para continuar trabalhando.
internacionais. Em setembro, ativistas de defesa dos direitos das
O irmão de uma mulher conhecida como Fátima – mulheres fizeram uma petição junto ao Rei a fim de
mãe de dois filhos – invocando sua autoridade legal que ele permitisse às mulheres dirigir automóveis,
como tutor masculino da irmã, solicitou uma ordem como acontece em todos os outros países. Houve
judicial para divorciar Fátima de seu marido, contra a ainda pedidos para que as mulheres sauditas
vontade de ambos. O irmão argumentou que o marido tivessem permissão para competir em eventos
de Fátima pertencia a uma tribo de status inferior e que esportivos internacionais, assim como os homens
ele não revelara essa informação quando pediu também competem.
permissão para casar com ela. Apesar da oposição do A discriminação estimulou a violência contra a
mulher, principalmente contra as empregadas chibatadas – contra dois homens condenados por
domésticas estrangeiras, que corriam maiores riscos sodomia em um tribunal de Al Baha, em outubro.
de sofrer abusos como espancamentos, estupros e Crianças também estavam entre os sentenciados a
até assassinatos, bem como de não receberem açoitamento.
salários. Houve preocupação com as leis Ao menos três pessoas tiveram a mão direita
discriminatórias relacionadas ao casamento, que amputada na altura do pulso após serem condenadas
faziam com que mulheres acabassem presas a por roubo.
relacionamentos violentos e abusivos contra os quais
não havia qualquer recurso legal. Pena de morte
O governo entregou o seu primeiro relatório ao Ao menos 158 pessoas foram executadas: 82
Comitê para a Eliminação da Discriminação contra a sauditas e 76 cidadãos estrangeiros. Havia entre elas
Mulher (CEDAW). Sua apresentação perante o Comitê três mulheres e pelo menos um menor infrator,
estava marcada para janeiro de 2008. Dhahian Rakan al-Sibai, que tinha 15 anos à época
A
do suposto homicídio pelo qual foi condenado. Ele foi
Tortura e outros maus-tratos executado em julho, em Taif. As pessoas executadas
A tortura e outros maus-tratos foram disseminados e, foram condenadas por homicídio, estupro, crimes
na maioria dos casos, eram cometidos impunemente. relacionados a drogas, bruxaria, apostasia e outras
As forças de segurança, segundo informações, acusações. Entretanto, praticamente não havia
utilizavam vários métodos que incluíam qualquer informação disponível sobre seus
espancamentos com bastões, socos, suspensão dos julgamentos, nem sobre possíveis apelações ou sobre
detentos pelos pulsos, privação de sono e insultos. se os réus tiveram acesso a advogado. A maioria das
Um vídeo divulgado em abril mostrava imagens de execuções ocorreu em público.
prisioneiros sendo torturados na prisão de al-Hair, em Acredita-se que várias centenas de pessoas
Riad. O governo declarou que investigaria o incidente. continuem no corredor da morte. Entre elas, estão
As autoridades prisionais, mais tarde, disseram que menores infratores, como Rizana Nafeek, uma
um soldado havia sido disciplinado pelo uso da empregada doméstica do Sri Lanka, que foi
tortura, sendo suspenso por um mês, e que outro condenada à morte por um homicídio ocorrido em
havia sido suspenso por 20 dias por não intervir e 2005 quando ela tinha 17 anos.
nem impedir as agressões aos prisioneiros. Não se
sabia se alguma investigação independente sobre o Visitas da AI
caso havia sido feita ou se os perpetradores haviam A Anistia Internacional solicitou novamente permissão para visitar a
sido levados à Justiça. Arábia Saudita a fim de discutir a situação dos direitos humanos; porém,
Houve denúncias em vários tribunais de, pelo no final de 2007, o governo ainda não havia marcado as datas para esta
menos, seis supostos casos de tortura e de mortes visita.
sob custódia que teriam sido cometidos pela polícia
religiosa: o Comitê para a Promoção da Virtude e a
Prevenção do Vício. Em todos os casos concluídos,
porém, os agentes do Comitê acusados foram
isentados. Houve, contudo, uma maior cobertura
desses casos por parte da imprensa.
A resposta do governo federal e dos governos Nacional, a força de elite do governo federal. A polícia
estaduais à violência criminal foi confusa. O governo matou ao menos 19 supostos criminosos, um deles
federal lançou o Programa Nacional de Segurança com 13 anos de idade, e dezenas de transeuntes
Pública com Cidadania (PRONASCI), voltado à foram feridos. Foram apreendidas 13 armas e uma
prevenção do crime, à inclusão social, à reabilitação quantidade de drogas. Ninguém foi preso. A
de prisioneiros e à melhora dos salários dos policiais. Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos
Entretanto, apesar dos relatos abundantes de Advogados do Brasil, Seção do Rio de Janeiro, e a
violações de direitos humanos cometidas pela polícia, Secretaria Especial de Direitos Humanos do governo
o Presidente Lula e outras autoridades de seu federal declararam que investigações independentes
governo apoiaram publicamente certas operações dos relatórios forenses oficiais apontaram fortes
policiais militarizadas de grande repercussão, indícios da ocorrência de execuções sumárias.
especialmente no Rio de Janeiro. O relator especial da ONU sobre execuções sumárias,
Nos estados, apesar de alguns governadores terem arbitrárias ou extrajudiciais, que visitou o Rio de
prometido reformas, a maioria das forças policiais Janeiro em novembro, criticou a falta de investigações
B estaduais continuou a adotar métodos violentos, oficiais sobre os assassinatos e concluiu que a
discriminatórios e corruptos no combate e na operação teve motivação política.
repressão ao crime nas comunidades carentes, com Em outubro, uma operação da Polícia Civil na favela
escassa supervisão ou controle. Em nenhum outro da Coréia, em Senador Camará, zona oeste do Rio,
lugar isso foi tão evidente quanto no Rio de Janeiro, deixou 12 mortos: um menino de quatro anos, que teria
onde as promessas de reforma foram abandonadas e sido atingido por fogo cruzado, um policial e 10
o governador passou a adotar uma postura pública "suspeitos", um deles de 14 anos. Imagens aéreas
cada vez mais draconiana e belicosa nas questões de exibidas pela televisão em rede nacional mostraram
segurança. A política de realizar operações policiais dois homens tentando fugir do local enquanto eram
militarizadas de grande escala foi intensificada à alvo de tiros disparados de um helicóptero que os
custa de centenas de vidas. Segundo dados oficiais, a seguiu até serem mortos.
polícia matou ao menos 1.260 pessoas no estado em Milícias parapoliciais, formadas por policiais e
2007 – o maior número até agora. Todas as mortes bombeiros fora de serviço, continuaram a dominar
foram classificadas como "resistência seguida de uma grande parte das favelas do Rio de Janeiro.
morte" e tiveram pouca ou nenhuma investigação Em abril, Jorge da Silva Siqueira Neto, presidente da
séria. Associação de Moradores da Favela Kelson's, na
Houve dezenas de mortes e uma enorme Penha, dominada pelas milícias, foi obrigado a
quantidade de feridos durante as operações policiais abandonar o bairro após receber ameaças de morte.
realizadas no Complexo do Alemão – um aglomerado Ele acusou cinco policiais militares de terem assumido
de 21 comunidades socialmente excluídas, na zona "poderes ditatoriais" dentro da comunidade e fez
norte do Rio de Janeiro, onde vivem mais de 100 mil denúncias à Corregedoria da Polícia, à Secretaria de
pessoas – e na vizinha Vila da Penha. Milhares de Segurança Pública e ao Ministério Público. Três dos
pessoas tiveram de enfrentar o fechamento de escolas policiais foram detidos administrativamente, sendo
e de postos de saúde, bem como cortes no soltos em seguida, no início de setembro. Quatro dias
fornecimento de água e de energia elétrica. Durante as depois, Jorge da Silva Siqueira Neto foi morto a tiros.
operações, houve denúncias de execuções Um inquérito foi aberto, mas até o fim do ano não havia
extrajudiciais, espancamentos, vandalismo e roubo progressos.
cometidos por policiais. Membros da comunidade Em São Paulo, mais uma vez, as autoridades
disseram que um veículo blindado da polícia (o estaduais anunciaram redução nos números oficiais
caveirão) era usado como uma unidade móvel dentro de homicídios policiais, embora esses dados tenham
da qual os policiais aplicavam choques elétricos e sido contestados. As violações de direitos humanos
praticavam espancamentos. nas mãos de policiais, no entanto, continuaram.
A ação repressiva culminou com uma "mega- Em dezembro, no município de Bauru, Carlos
operação", realizada no final de junho, envolvendo Rodrigues Júnior, de 15 anos, segundo informações,
1.350 policiais civis e militares e membros da Força foi torturado e morto por vários policiais militares dentro
de sua própria casa. De acordo com os laudos Mais de 20 pessoas morreram em 2007 no Presídio
forenses, ele levou 30 choques elétricos enquanto era Aníbal Bruno, em Pernambuco. A prisão, que tem um
interrogado sobre o roubo de uma motocicleta. Seis problema crônico de falta de funcionários e que abriga
policiais estavam detidos provisoriamente no final do um número de prisioneiros mais de três vezes acima da
ano. sua capacidade, há muito tem sido alvo de denúncias
de tortura e de maus-tratos.
Grupos de extermínio Em todo o Brasil, as condições dos centros de
Em São Paulo, nos primeiros 10 meses de 2007, detenção juvenil continuaram a ser motivo de
foram registradas 92 mortes em chacinas ligadas a preocupação. Houve novas denúncias de
grupos de extermínio – a maioria na zona norte da superlotação, de espancamentos e de maus-tratos. A
cidade. Nas cidades de Ribeirão Pires e Osasco, diretora da Fundação Casa (antiga Febem), em São
policiais estavam sendo investigados em conexão Paulo, foi afastada do cargo por meio de uma decisão
com as mortes de mais de 30 pessoas. Assassinatos que criticava a unidade Tietê pela higiene precária e
cometidos por grupos de extermínio também foram pelas condições das acomodações abaixo do padrão.
registrados em outros estados, sobretudo Rio de A demissão foi posteriormente revogada pelo Tribunal B
Janeiro (especialmente na Baixada Fluminense), de Justiça do estado.
Espírito Santo, Bahia, Pernambuco, Rio Grande do
Norte e Ceará. Violência contra a mulher
Em agosto, Aurina Rodrigues Santana, seu marido, Os casos processados sob a Lei Maria da Penha, de
Rodson da Silva Rodrigues, e seu filho, Paulo Rodrigo 2006, que criminaliza a violência doméstica,
Rodrigues Santana Braga, foram mortos a tiros por um começaram a chegar aos tribunais em 2007.
grupo de homens encapuzados enquanto dormiam em Apesar de a lei representar um grande avanço, a falta
sua casa, no bairro de Calabetão, em Salvador, na de recursos, as dificuldades para cumprir ordens de
Bahia. O ataque aconteceu depois que a família exclusão e a precariedade dos serviços de apoio
denunciou que seu filho e sua filha, de 13 anos, foram foram obstáculos à sua efetiva implementação.
torturados por quatro policiais militares. A ausência de proteção do Estado nas
Um acontecimento positivo ocorreu em abril, comunidades marginalizadas expôs as mulheres à
quando a Polícia Federal desarticulou um grupo de violência tanto dos criminosos quanto da polícia. Nas
extermínio que agia no Estado de Pernambuco e que comunidades controladas por traficantes de drogas,
teria sido responsável pelas mortes de mais de mil as mulheres sofreram discriminação, violência e não
pessoas num período de cinco anos. Outro grupo de tiveram acesso a serviços básicos. Há informações de
extermínio foi desarticulado em novembro, quando mulheres que tiveram de raspar a cabeça por serem
foram presas 34 pessoas, entre as quais policiais, consideradas infiéis, que foram expulsas das
advogados e comerciantes. comunidades por serem HIV positivas e que foram
forçadas a fazer favores sexuais para pagar dívidas.
Prisões – tortura e outros maus-tratos Geralmente, elas tinham muito medo de fazer
Superlotação extrema, condições sanitárias precárias, denúncias. As mulheres que lutavam por justiça em
violência entre gangues e motins continuaram a nome de familiares mortos pela polícia eram
deteriorar o sistema prisional. Maus-tratos e tortura freqüentemente ameaçadas e intimidadas.
foram corriqueiros. As mulheres representam uma parcela pequena,
Em agosto, 25 detentos foram queimados até a mas crescente, da população carcerária; suas
morte na penitenciária de Ponte Nova, em Minas necessidades, porém, têm sido constantemente
Gerais, durante uma briga entre facções. negligenciadas. Tortura, espancamentos e abuso
No Espírito Santo, em meio a acusações de tortura e sexual foram relatados em delegacias de polícia e em
de maus-tratos, o governo impediu que o Conselho celas prisionais.
Estadual de Direitos Humanos (CEDH) – um órgão com Em novembro, uma menina de 15 anos, acusada
mandato oficial que, segundo a legislação estadual, de um pequeno furto, foi presa em uma delegacia de
tem poderes para monitorar o sistema prisional – polícia na cidade de Abaetetuba, no Pará. Ela foi
entrasse nas celas. forçada a dividir uma cela com cerca de 20 a 30
homens pelo período de um mês. Ela foi estuprada trabalhadores utilizados em atividades de desmatamento
repetidamente, segundo informações, em troca de ou de cultivo da fronteira agrícola do Cerrado e da
comida. Quando o fato veio à público, os policiais a Amazônia, como também trabalhadores empregados na
teriam ameaçado e ela, então, foi mantida sob produção de monoculturas em estados mais abastados
proteção. Sua família também teria sido ameaçada como São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.
pela polícia e passou a integrar um programa de Prosseguiu a exploração no crescente setor canavieiro.
proteção a testemunhas. O caso recebeu uma ampla Em março, procuradores da Secretaria do Emprego e
cobertura da imprensa e diversos órgãos federais Relações do Trabalho de São Paulo resgataram 288
abriram investigações, o que revelou a existência de pessoas que faziam trabalhos forçados em seis plantações
vários casos de mulheres vítimas de graves violações de cana-de-açúcar no estado. No mesmo mês, 409
de direitos humanos em outros locais de detenção. trabalhadores, 150 dos quais eram índios, foram
resgatados da destilaria de etanol Centro Oeste Iguatemi,
Disputas por terra no Mato Grosso do Sul. Em novembro, equipes de
Prosseguiu a violência nas áreas rurais, geralmente em inspeção encontraram 831 índios que trabalhavam no
B situações de disputa que opunham, de um lado, grandes corte de cana alojados em condições extremamente
proprietários de terra e, de outro, trabalhadores rurais sem precárias e insalubres, em uma fazenda no município de
terra e povos indígenas ou quilombolas. A expansão da Brasilândia, também no Mato Grosso do Sul.
monocultura, como as plantações de soja e de eucaliptos, Mais de mil pessoas que trabalhavam em condições
a extração ilegal de madeiras e a mineração, juntamente análogas à escravidão foram libertadas de uma fazenda de
com projetos de desenvolvimento, como a construção de cana da empresa produtora de etanol Pagrisa, em
represas e o projeto de desvio do Rio São Francisco, Ulianópolis, no Pará. Após a autuação, uma comissão do
estiveram entre as principais fontes de conflito. Houve Senado acusou os inspetores de exagerarem a
sérias preocupações também com as condições de precariedade da situação dos trabalhadores. Em
exploração das pessoas que trabalham com o conseqüência, as operações do grupo de fiscalização foram
desmatamento e com a produção de carvão vegetal, bem temporariamente suspensas pela Secretaria de Inspeção
como no setor canavieiro. do Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego devido a
Aumentaram as expulsões forçadas, geralmente temores de que as alegações pudessem comprometer a
envolvendo ameaças e intimidações. Segundo a Comissão credibilidade da atuação do grupo de fiscalização. As
Pastoral da Terra (CPT), de janeiro a setembro de 2007 inspeções foram retomadas em outubro.
foram expulsas 2.543 famílias em todo o Brasil, um O governo adotou algumas medidas para melhorar as
aumento significativo com relação a 2006. condições de trabalho no setor canavieiro. No Estado de
Em novembro, trabalhadores rurais que ocupavam uma São Paulo, que responde por mais de 60 por cento da
fazenda próxima ao município de Santa Teresa do Oeste, no produção de cana do Brasil, o Ministério Público do
Paraná, foram atacados por 40 homens armados que Trabalho tomou a iniciativa de dar início a inspeções e de
teriam sido contratados por uma empresa de segurança a instaurar processos. No âmbito federal, o governo
serviço da companhia multinacional suíça proprietária da prometeu introduzir um esquema de credenciamento
terra. Eles mataram o líder sem-terra Valmir Motta de social e ambiental voltado à melhoria das condições de
Oliveira com um tiro no peito. Um segurança da empresa trabalho e à redução do impacto ambiental.
também foi morto a tiros em circunstâncias incertas. Outras
oito pessoas foram feridas no ataque, entre elas Izabel Povos indígenas
Nascimento, espancada até perder os sentidos. O O Estado do Mato Grosso do Sul continuou sendo um
assassinato se enquadra em um padrão de violência e foco de violência contra os povos indígenas.
intimidação há muito perpetrado pelas milícias rurais no Em janeiro, Kuretê Lopes, uma mulher indígena
Paraná. Guarani-Kaiowá de 69 anos de idade, morreu ao levar um
Casos de trabalho forçado foram relatados por todo o tiro no peito, disparado por um segurança privado, durante
país. Em dezembro, o Ministério do Trabalho atualizou sua a evacuação de uma área cultivável que os Guarani-Kaiowá
relação de empregadores que sujeitavam trabalhadores a ocupavam, pois afirmavam ser sua terra ancestral. Em
condições de exploração. A lista incluía 185 setembro, quatro lideranças Guarani-Kaiowá envolvidas na
empregadores de 16 estados, envolvendo não apenas ocupação foram sentenciadas por tribunais estaduais a 17
anos de prisão pelo suposto roubo de um trator, uma coordenação continuaram a atrapalhar a implementação
sentença que as ONGs locais consideraram do Programa Nacional de Proteção aos Defensores dos
desproporcional, discriminatória e politicamente motivada. Direitos Humanos.
No final do ano, um recurso ainda era aguardado. Defensores continuaram a ser ameaçados e intimidados.
Em junho, o líder indígena Ortiz Lopes foi morto a tiros O líder indígena Marcos Ludison de Araújo (Marcos
em sua casa no município de Coronel Sapucaia. Ao efetuar Xucuru) recebeu ameaças no mês de julho. Devido a uma
os disparos, o pistoleiro teria dito a Ortiz Lopes que estava a longa história de intimidações por parte da Polícia Federal,
mando de fazendeiros que queriam resolver uma disputa. um órgão com responsabilidade constitucional de garantir
Ativo defensor do direito às terras dos Guarani-Kaiowá, proteção, Marcos Xucuru decidiu então solicitar proteção a
Lopes já vinha sendo ameaçado de morte. membros de confiança da Polícia Militar – uma medida
Em agosto, o governo federal anunciou sua decisão de prevista conforme as regras do programa de defensores.
declarar 11.009 hectares na região de Aracruz, no Espírito Entretanto, ele permaneceu em perigo por vários meses
Santo, como terras indígenas. A decisão foi tomada após enquanto ocorriam as negociações entre o governo
uma longa disputa envolvendo os povos Guarani e estadual e o federal.
Tupinikim e uma empresa produtora de celulose. Márcia Honorato, funcionária de uma ONG que diversas
vezes denunciou as atividades de grupos de extermínio na C
Impunidade Baixada Fluminense, uma região extremamente violenta
Devido às falhas existentes em todos os estágios do próxima ao Rio de Janeiro, recebeu uma série de ameaças
sistema de justiça criminal, os violadores de direitos de morte, tendo, em uma ocasião, uma arma apontada
humanos desfrutaram de uma impunidade que só foi para sua cabeça
exceção em casos com ramificações internacionais.
As autoridades tomaram providências para investigar, Visitas e relatórios da Al
processar e condenar os responsáveis pelo assassinato da Representantes da Anistia Internacional visitaram o Brasil em maio e
irmã Dotothy Stang, uma missionária dos EUA, ocorrido em junho.
fevereiro de 2005. Em maio, Vitalmiro Bastos de Moura, o Brasil: "De ônibus queimados a caveirões": a busca por segurança
fazendeiro acusado de ser o mandante do crime, foi humana (AMR 19/010/2007)
sentenciado a 30 anos de prisão. Em outubro, Rayfran das Brasil: Submissão à Revisão Periódica Universal da ONU - Primeira
Neves Sales, um dos pistoleiros envolvidos, foi sentenciado sessão do Grupo de Trabalho RPU, 7-11 de abril de 2008 (AMR
a 27 anos de prisão. Porém, o tribunal de justiça anulou o 19/023/2007).
julgamento e ordenou que fosse refeito.
Procedimentos judiciais como esse, no entanto,
continuam sendo raros em um estado onde a impunidade
é a regra para os casos de violência rural. Segundo a
Comissão Pastoral da Terra, dos 814 casos de assassinato
entre os anos de 1971 e 2006, no Estado do Pará, 568
CANADÁ
permanecem não solucionados. Entre 92 casos criminais,
Chefe de Estado: Rainha Elizabeth II, representada pela
houve apenas uma condenação. governadora-geral Michaëlle Jean
Durante a onda de violência provocada por grupos Chefe de governo: Stephen Harper
criminosos no Estado de São Paulo, em maio de 2006, a Pena de morte: abolicionista para todos os crimes
polícia matou mais de 100 pessoas que seriam supostos População: 32,5 milhões
criminosos; em outros 87 casos há indicações do Expectativa de vida: 80,3 anos
Mortalidade de crianças até 5 anos (m/f): 6/6 por mil
envolvimento de grupos de extermínio com ligações com a
polícia. Segundo o Ministério Público estadual, até o final de
2007 ninguém havia sido processado. Ocorreram mortes após o uso de armas de eletrochoque
pela polícia. Povos indígenas continuaram a enfrentar
Defensores de direitos humanos discriminação. Houve constante preocupação a respeito
O programa de defensores de direitos humanos do de leis antiterrorista e do tratamento de refugiados e de
governo federal criou um órgão de coordenação nacional. requerentes de asilo.
Porém, tanto a falta de recursos quanto a falta de
Discriminação – direitos dos povos indígenas iniciada pela Anistia Internacional e pela British
Um relatório publicado em maio sobre o inquérito Columbia Civil Liberties Association questionando a
público do assassinato de Dudley George pela polícia, prática da transferência de prisioneiros detidos nos
em 1995, forneceu a base para o fortalecimento da campos de batalha do Afeganistão para a custódia
proteção dos direitos dos povos indígenas. As afegã, sob a qual correriam sérios riscos de tortura.
disputas envolvendo terras e recursos continuaram, O governo canadense recusou-se a intervir em
assim como o fracasso das autoridades em garantir favor de Omar Khandr, detido pelas forças dos EUA
sua resolução de modo rápido e imparcial. Isso foi no Afeganistão quando tinha 15 anos de idade e
demonstrado pela situação em Grassy Narrows, no mantido por mais de cinco anos na base de
noroeste de Ontário, e com os índios Lubicon Cree, Guantánamo.
ao norte de Alberta. O governo recusou-se a tratar de
disparidades nos recursos financeiros disponíveis Violência contra a mulher
para as agências de proteção à criança indígena. As autoridades não instituíram uma estratégia
O Canadá votou contra a adoção da Declaração das nacional para abordar a violência e a discriminação
Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas contra mulheres indígenas, nem tomaram medidas
C em setembro e, em seguida, argumentou que a para implementar antigas recomendações sobre as
Declaração não se aplicava ao Canadá. mulheres nas prisões federais. Continuaram as
restrições ao financiamento de organizações para
“Guerra ao terror” defesa das mulheres, resultando no fechamento de
Maher Arar, cidadão canadense vítima de alguns grupos e na redução das atividades.
transferência ilegal (rendition) dos Estados Unidos
para a Síria, em 2002, recebeu um pedido formal de Refugiados e requerentes de asilo
desculpas e uma compensação do governo em Em novembro, o Tribunal Federal decidiu que o
janeiro. No entanto, muitas das recomendações do acordo de Terceiro País Seguro entre o Canadá e os
inquérito público sobre seu caso não foram Estados Unidos violava a Carta de Direitos e o direito
implementadas. O inquérito sobre o papel de agentes internacional. O governo recorreu da decisão. No final
canadenses nos casos de três cidadãos canadenses – do ano, tramitava no Parlamento uma legislação que
Abdullah Almalki, Ahmed El-Maati e Muayyed exigiria do governo a implementação das disposições
Nureddin – detidos e torturados no exterior foi sobre apelação de refugiados previstas na Lei de
frustrado por excesso de segredo. Proteção a Imigrantes e Refugiados de 2001.
Em fevereiro, a Suprema Corte do Canadá decidiu
que o sistema de certificação de segurança de Polícia e forças de segurança
imigração, usado pelo governo federal para deter e Pelo menos quatro pessoas morreram após o uso de
deportar pessoas nascidas em outros países e armas de eletrochoque Taser pela polícia. A morte do
suspeitas de crimes terroristas, violava a Carta de cidadão polonês Robert Dziekanski, no Aeroporto
Direitos, pois uma quantidade substancial de provas Internacional de Vancouver, após ser atingido por
era retida, impedindo que os indivíduos preparassem cargas de eletrochoque ao menos duas vezes pela
uma defesa efetiva. Um projeto de lei que propunha a polícia, em outubro, resultou em diversas revisões e
criação de uma Defensoria Especial falhou em na abertura de um inquérito público provincial.
abordar essa preocupação.
Em fevereiro, o Parlamento votou em favor da Pena de morte
permissão para que cláusulas controversas da Lei Em outubro, o Canadá reverteu uma política já
Antiterrorista expirassem. Em outubro, o governo tradicional no país ao declarar que não mais pedirá
introduziu um projeto de lei que restauraria as clemência para cidadãos canadenses sentenciados à
cláusulas que permitem a prisão preventiva e as morte em países democráticos que respeitem o
audiências de investigação. O projeto de lei estava Estado de direito.
pendente no Parlamento no fim do ano.
Em novembro, o Tribunal Federal rejeitou um
requerimento do governo para anular a ação judicial
província de Heilongjiang, foi detido em 6 de julho por recebeu ordens para interromper seu trabalho de
“subversão do poder do Estado”. Ele apoiou uma direitos humanos. Depois disso, foi libertado.
ação judicial apresentada por mais de 40 mil Vários ativistas morreram, tanto durante a
agricultores cujas terras foram confiscadas sem detenção quanto logo após serem libertados.
compensação. Yang Chunlin ajudou a colher
assinaturas para uma petição denominada “Nós Liberdade de expressão
queremos direitos humanos, não os Jogos As autoridades chinesas mantiveram os esforços
Olímpicos”, firmada por muitos dos agricultores. para controlar de modo bastante rígido o fluxo de
A polícia recusou repetidamente seu acesso à família informações. Elas decidiam quais os tópicos e quais
e a advogados, alegando que seu caso era as notícias que poderiam ser publicados. Às vezes,
“relacionado ao Estado”. Yang Chunlin foi torturado, os meios de comunicação tinham de responder a
teve seus braços e pernas esticados e amarrados aos diretrizes do governo em questão de minutos. As
quatro cantos de uma cama de ferro, em várias autoridades continuaram a bloquear alguns sites e a
ocasiões, sendo, inclusive, obrigado a comer, beber e controlar o conteúdo da Internet, considerando
defecar nessa posição. palavras ou tópicos específicos.
C Chen Xiaoming, ativista pelo direito à moradia, de Sabe-se que cerca de 30 jornalistas e mais, pelo
Xangai, morreu em decorrência de uma extensa menos, outras 50 pessoas estavam presas por
hemorragia, logo após ter sido colocado em liberdade veicularem suas opiniões na Internet. Com
condicional médica, no dia 1º de julho. freqüência, as pessoas eram punidas simplesmente
por acessarem sites que haviam sido proibidos.
Defensores de direitos humanos Apesar de um afrouxamento temporário das
Enquanto o espaço para as atividades da sociedade regulamentações aplicadas aos jornalistas
civil continuou a crescer, os defensores dos direitos estrangeiros na China no período anterior aos Jogos
humanos que abordaram questões consideradas Olímpicos, o controle sobre jornalistas chineses e
politicamente sensíveis tornaram-se cada vez mais estrangeiros continuou rigoroso, e muitos jornalistas
visados. As autoridades criminalizaram as atividades chineses foram presos por abordarem assuntos
dos ativistas de direitos humanos, acusando-os de sensíveis. Em abril, o Ministério da Segurança
crimes como dano à propriedade pública, extorsão e Pública teria ordenado uma triagem de todos os
fraude. participantes das Olimpíadas de Pequim, com 43
Defensores dos direitos humanos e seus categorias de pessoas a serem barradas, inclusive
parentes, inclusive crianças, foram ainda mais com base em crenças religiosas ou políticas.
intensamente hostilizados, tanto por funcionários do
governo quanto por agressores não identificados, Violência e discriminação contra a mulher
por meio de vigilância, prisão domiciliar e As mulheres sofreram discriminação no trabalho, na
espancamentos. Entre os principais alvos estavam educação e no acesso a serviços de saúde. O tráfico
os advogados, cujos pedidos para renovação da de mulheres e de meninas permaneceu intenso,
licença profissional foram cada vez mais rejeitados. principalmente a partir da Coréia do Norte (veja
O advogado de defesa e ativista de direitos abaixo). A violência doméstica continuou sendo
humanos Gao Zhisheng permaneceu sob estrita amplamente praticada, tendo sido apontada como a
vigilância policial, durante todo o ano, depois que foi principal causa de suicídio entre as mulheres das
condenado, em dezembro de 2006, por “incitação à áreas rurais.
subversão”. Entre os dias 24 de junho e 4 de julho e, Em maio, segundo informações, dezenas de
novamente, entre 22 de setembro e o início de mulheres da região autônoma de Guangxi Zhuang,
novembro, ele foi mantido incomunicável e foi no sudoeste da China, foram submetidas a abortos
torturado em locais desconhecidos antes de retornar forçados sob a supervisão dos órgãos locais de
à prisão domiciliar em Pequim. planejamento familiar. Em alguns casos, essas
O advogado de direitos humanos Li Heping foi mulheres estavam no nono mês de gestação.
seqüestrado por indivíduos não identificados no final
de setembro. Ele foi espancado por várias horas e
detenção de imigrantes foram despidos na frente de guerra e crimes contra a humanidade. No entanto,
outros detentos, humilhados por funcionários da menos civis foram mortos em comparação com os
imigração e não receberam cuidados médicos últimos anos. Pessoas continuaram a ser
adequados. seqüestradas e os grupos guerrilheiros foram
Em outubro, 29 requerentes de asilo, mantidos responsáveis pela maioria dos casos relacionados ao
no centro de detenção de imigrantes de Castle conflito; a quantidade de casos relatados, porém, foi
Peak, fizeram uma greve de fome por três dias em menor do que em anos anteriores. O assassinato, em
protesto contra sua prolongada detenção. Grupos de junho, de 11 reféns mantidos pelas Forças Armadas
apoio disseram que alguns estavam detidos havia Revolucionárias da Colômbia (FARC) provocou
quase um ano, ao passo que as autoridades condenação generalizada e renovou os apelos para
alegaram que a maioria estava lá por que as FARC libertassem todos os seus reféns.
aproximadamente um mês. Continuaram os ataques a defensores de direitos
humanos e a ativistas da sociedade civil; os
Relatórios da Al paramilitares foram apontados como responsáveis
Open Letter to Chairman of the Standing Committee of the National pela maioria desses ataques.
People's Congress on the reform of Re-education through Labour (ASA Menos pessoas foram mortas por grupos C
17/020/2007). paramilitares do que em anos anteriores. No entanto,
People's Republic of China: The Olympics countdown – one year left to aumentaram os relatos de mortes de civis pelas
fulfil human rights promises (ASA 17/024/2007) forças de segurança. Grupos paramilitares
China: The Olympics countdown – Repression of activists overshadows permaneceram ativos em várias partes do país,
death penalty and media reforms (ASA 17/015/2007) apesar de terem sido supostamente desmobilizados.
Hong Kong's return to Chinese sovereignty: ten years on (ASA O número de pessoas forçadas a fugir de suas casas
19/001/2007) por causa do conflito também aumentou. As FARC
China: Internal Migrants: Discrimination and abuse – the human cost foram responsabilizadas pelos assassinatos de vários
of an economic “miracle” (ASA 17/008/2007) candidatos durante a campanha para as eleições
China: Remember the Gulja massacre? China's crackdown on peaceful locais de outubro.
protesters (ASA 17/002/2007) Houve progressos em algumas investigações
de maior repercussão sobre abusos de direitos
humanos, mas a impunidade continuou sendo a
maior preocupação. Cerca de 40 congressistas foram
implicados nas prolongadas investigações judiciais
nenhuma tentativa séria de fazer com que os Fracasso em revelar a verdade sobre os
responsáveis prestassem contas. abusos dos paramilitares
Em 22 de abril, soldados da XVI Brigada do Exército Apenas cerca de 10 por cento dos mais de 31 mil
entraram na casa de Ernesto Cruz Guevara, no paramilitares desmobilizados se qualificaram para
município de Aguazul, departamento de Casanare. Os inclusão na Lei de Justiça e Paz, segundo a qual
soldados o interrogaram sobre atividades da guerrilha. aqueles que depuserem as armas podem se
Antes de saírem, disseram à esposa que estavam beneficiar de significativa redução das penas, em
levando seu marido para o Ministério Público (Fiscalía). troca de confissões sobre violações de direitos
Mais tarde, a família de Ernesto Cruz identificou seu humanos e de reparação às vítimas. Porém, com
corpo; o Exército alegou tratar-se de um guerrilheiro apenas cerca de 20 unidades de investigação para
morto em combate. lidar com milhares de casos, o andamento do
Em junho, o Ministério da Defesa emitiu a Diretiva processo foi muito lento.
Nº 10, que reiterava que as execuções extrajudiciais Embora os líderes paramilitares que confessaram
eram uma violação do direito à vida. tenham revelado alguns dados sobre aqueles que
assassinaram, as informações sobre a identidade das
C Grupos paramilitares vítimas e sobre a localização de seus corpos
O governo alegou que mais de 31 mil combatentes permaneceram incompletas. Foram exumados mais
haviam sido desmobilizados e que os paramilitares de 1.100 corpos encontrados em várias covas
não estavam mais na ativa. Eles atribuíram a coletivas entre o início de 2006 e o fim de 2007. A
continuação da violência a grupos criminosos de maioria desses corpos, porém, foi descoberta graças
narcotraficantes. Embora alguns grupos paramilitares a informações obtidas junto a soldados rasos
tenham realmente se transformado em grupos de paramilitares que estavam fora do processo da Lei de
narcotráfico, e alguma violência estivesse ligada às Justiça e Paz. A grande maioria dos corpos
disputas entre esses grupos, havia fortes indícios de permanece não identificada. A maior parte dos cerca
que os grupos paramilitares tradicionais continuavam de 4 milhões de hectares de terra que se estima
a operar em várias partes do país com novos nomes, terem sido roubados pelos paramilitares ainda não foi
como “Águias Negras” e “Organização Nova identificada, e apenas uma porção muito pequena
Geração". Foram constantes os informes de dessas terras foi devolvida aos seus reais
cumplicidade entre os paramilitares e as forças de proprietários.
segurança. A maioria dos paramilitares escapou de
De acordo com o Oitavo Relatório Trimestral da investigações efetivas através do Decreto 128 e da Lei
Missão da OEA para Apoiar o Processo de Paz na 782, que concedem anistias de facto àqueles que
Colômbia (MAPP/OEA), publicado em fevereiro, foram não estão sendo investigados por abusos de direitos
identificados 22 desses grupos compostos de humanos e que admitiram ser membros de grupos
aproximadamente três mil combatentes. Outras fontes paramilitares, um delito conhecido como
sugerem que este número seja muito maior. Pelo “conspiração para cometer um crime” (concierto para
menos 230 assassinatos de civis foram atribuídos aos delinquir). No entanto, em julho, a Corte Suprema de
paramilitares, que agiam tanto sozinhos quanto em Justiça determinou que pertencer a grupos
associação com as forças de segurança, em um paramilitares não era um crime político e que,
período de 12 meses, terminado em junho de 2007. portanto, as anistias não se aplicavam. A decisão
No dia 23 de fevereiro, Alba Milena Gómez Quintero deixou aproximadamente 19 mil paramilitares em um
e seu filho de 18 anos, Miguel Antonio, foram mortos limbo legal.
depois de serem levados, por dois supostos Várias vítimas e seus representantes no processo
paramilitares, do táxi em que viajavam, na rodovia San da Lei de Justiça e Paz foram assassinados,
Juan de Arama – Granada, no departamento de Meta, supostamente por paramilitares.
em um ponto localizado entre duas barreiras do Carmen Cecilia Santana Romaña, que representava
Exército. Segundo informações, Alba havia feito uma vítimas que tentavam reaver suas terras e que
queixa formal contra o Exército, que a teria acusado postulavam seu direito a participar das audiências da
falsamente de auxiliar a guerrilha. Lei de Justiça e Paz, foi morta por um pistoleiro não
Quatro pessoas foram mortas, supostamente pelas condenados pertencentes às FARC. O Presidente
FARC, na municipalidade de Yarumal, departamento Uribe autorizou o presidente venezuelano, Hugo
de Antioquia, em 1º de janeiro. Pelo menos duas das Chávez, a intermediar um acordo e, em novembro, o
vítimas eram líderes comunitários. Presidente Chávez reuniu-se com líderes das FARC
No departamento de Arauca, as pessoas tiveram em Caracas. Nesse mesmo mês, porém, o Presidente
que fugir de suas casas depois que o atual conflito Uribe encerrou a mediação venezuelana depois que o
entre as FARC e o ELN levou a escaramuças armadas e Presidente Chávez teria supostamente contatado o
ao assassinato seletivo de civis. Entre as vítimas comandante do Exército colombiano, contrariando
estavam líderes comunitários e sociais acusados por um acordo de não falar diretamente com líderes do
cada um dos lados de apoiar o grupo rival. Exército da Colômbia sobre a questão dos reféns. O
As FARC continuaram visando políticos eleitos e incidente levou à deterioração das relações
teriam sido responsáveis pela maioria dos 29 diplomáticas entre os dois países. A libertação
assassinatos de candidatos durante o período de previamente anunciada de três proeminentes reféns
campanha para as eleições locais, realizadas em 28 de mantidos pelas FARC não se materializou até o final
outubro. do ano.
C Quatro prefeitos e vereadores foram mortos nos Embora os seqüestros tenham continuado a
departamentos de Caquetá, Chocó e Valle del Cauca diminuir – de 687 em 2006 para 521 em 2007 – os
entre 7 e 10 de julho. números permanecem altos. Grupos guerrilheiros,
O uso de minas terrestres anti-pessoais pelos principalmente as FARC e, em escala bastante mais
grupos guerrilheiros continuou sendo amplamente reduzida, o ELN, foram responsáveis pelo seqüestro
disseminado. Em 2007, mais de 180 civis e membros de aproximadamente 150 pessoas, a grande maioria
das forças de segurança, que continuaram sendo as dos quais relacionados ao conflito. Grupos criminosos
principais vítimas das minas terrestres, foram mortos foram responsáveis pela maior parte dos demais
e 680 ficaram feridos. seqüestros. A autoria de cerca de 125 seqüestros não
Cinco membros da comunidade indígena Awá, entre foi determinada.
os quais duas crianças, foram mortos por minas
terrestres supostamente colocadas pelas FARC no Violência contra a mulher
município de Ricaurte, departamento de Nariño, em Todas as partes no conflito continuaram a submeter
14 e 15 de julho. mulheres e meninas a abuso sexual e a outras formas
Conversações de paz preliminares entre o governo de violência. Mulheres guerrilheiras foram obrigadas a
e o ELN foram suspensas em agosto, após realizar abortos ou a tomar contraceptivos em
desacordos sobre os termos de um cessar-fogo. violação aos seus direitos reprodutivos.
No dia 23 de maio, soldados armados teriam
Seqüestro e tomada de reféns invadido uma residência no município de Toribío,
Houve condenação generalizada depois que 11 dos departamento de Cauca, onde teriam tentado abusar
12 deputados do departamento de Valle del Cauca, sexualmente de uma menina de 11 anos.
seqüestrados pelas FARC em abril de 2002, foram Em 26 de março, cinco paramilitares dos Águias
mortos em circunstâncias não esclarecidas no dia 18 Negras – duas mulheres, dois menores e um homem –
de junho. As FARC alegaram que eles morreram no teriam entrado na casa de duas irmãs de 10 e 14 anos,
fogo cruzado do combate com um grupo armado não no município de Bello, departamento de Antioquia.
identificado. No entanto, as autoridades contestaram Alguns dos paramilitares teriam espancado as duas
esta versão. meninas, tendo abusado sexualmente e matado a mais
A comunidade internacional passou a envolver-se velha. Consta que um vizinho de 60 anos, José
mais ativamente nas discussões sobre a troca de Mendieta, que teria tentado ajudar as meninas, foi
prisioneiros das FARC por reféns mantidos pelo grupo morto a facadas pelos agressores.
guerrilheiro, depois de o Presidente Uribe autorizar Segundo informações, paramilitares e grupos
que o “representante diplomático” das FARC, Rodrigo criminosos recrutaram à força, em várias partes do
Granda, fosse solto da prisão em junho, e depois da país, mulheres e meninas como trabalhadoras do
libertação simultânea de mais de 100 prisioneiros sexo. No departamento de Putumayo, pelo menos
dependia do progresso das autoridades colombianas estatísticas sobre direitos humanos e sobre direito
com relação a certos indicadores de direitos internacional humanitário”. O relatório também
humanos. Em abril, a secretária de Estado dos EUA, expressou preocupação sobre a presença continuada
Condoleezza Rice, certificou que a Colômbia estivesse dos paramilitares, sobre o aumento dos relatos de
fazendo progressos em matéria de direitos humanos, execuções extrajudiciais cometidas pelas forças de
e autorizou a liberação do montante total dos 25 por segurança e sobre violações do direito internacional
cento da ajuda certificada referente ao ano fiscal de humanitário cometidas por grupos guerrilheiros,
2006. O Congresso dos Estados Unidos, porém, especialmente pelas FARC.
reteve a liberação do dinheiro para as forças
armadas, cerca de US$ 55,2 milhões, por Visitas e relatórios da AI
preocupações relativas a execuções extrajudiciais e Representantes da Anistia Internacional visitaram o país em fevereiro,
ao escândalo para-político. Apesar de três rodadas de junho e setembro.
perguntas e respostas, o Congresso não aceitou a Killings, arbitrary detentions, and death threats – the reality of trade
justificativa para a certificação do progresso unionism in Colombia (AMR 23/001/2007)
colombiano em matéria de direitos humanos e o Colombia: FARC and ELN must release all hostages (AMR 23/019/2007)
dinheiro permanecia retido no final do ano. Colombia: Latest killing of human rights defender throws controversial
Em dezembro, o presidente George W. Bush paramilitary demobilization process into further doubt (AMR 23/002/2007))
promulgou uma legislação que trazia mudanças
E significativas na assistência que os Estados Unidos
prestavam à Colômbia. A assistência policial e militar
previstas no projeto de lei para o financiamento de
Operações Exteriores foi cortada em 31 por cento,
enquanto a ajuda social e econômica aumentou 70
EGITO
por cento. As condições de direitos humanos foram
REPÚBLICA ÁRABE DO EGITO
ampliadas para 30 por cento da ajuda e requeriam Chefe de Estado: Muhammad Hosni Mubarak
que as autoridades colombianas desmantelassem Chefe de governo: Ahmed Nazif
“grupos armados sucessores” – um reconhecimento Pena de morte: retencionista
do governo dos EUA de que prosseguem as Tribunal Penal Internacional: assinado
atividades paramilitares na Colômbia. O valor total da População: 72,9 milhões
Expectativa de vida: 70,7 anos
assistência à Colômbia foi US$ 44 milhões a menos
Mortalidade de crianças até 5 anos (m/f): 38/31 por mil
do que o montante requisitado pelo Presidente Bush Taxa de Alfabetização: 71,4 por cento
para 2008.
330 integrantes da organização que estavam presos. considerou sem efeito a ordem presidencial, mas, alguns
Usama Mostafa Hassan Nasr (Abu Omar), dias depois, o Supremo Tribunal Administrativo reverteu
seqüestrado na Itália e transferido ilegalmente para o a decisão quando o governo recorreu. O julgamento
Egito em 2003, foi inesperadamente libertado sem ainda estava em andamento no fim do ano. No entanto,
acusação em fevereiro. Pelo menos 16 ordens para sua jornalistas, observadores nacionais e internacionais,
soltura emitidas anteriormente pelos tribunais haviam inclusive a Anistia Internacional, foram impedidos de
sido ignoradas. Quando retornou ao Egito, seu destino e assistir as sessões.
seu paradeiro permaneceram desconhecidos durante 14 Detenção administrativa
meses. Ele foi libertado em abril de 2004, mas preso Apesar de aproximadamente 530 detentos
novamente 23 dias depois, por ter contado a seus muçulmanos terem sido libertados em 2007, cerca de
familiares que havia sido torturado enquanto esteve 18 mil pessoas continuaram a ser detidas sem
detido. Após sua libertação em 2007, ele se encontrou acusação nem julgamento, sob as ordens do ministro
com representantes da Anistia Internacional e descreveu do Interior, conforme a lei de emergência. A maioria
como foi seu seqüestro na Itália e sua prisão no Egito. Abu dessas pessoas era mantida em condições cruéis,
Omar relatou ter sido torturado durante os 14 meses em desumanas e degradantes, sendo que, segundo
que foi mantido nas dependências dos serviços de informações, centenas estavam doentes com
Inteligência Geral e de Inteligência de Segurança de tuberculose, doenças de pele e outras enfermidades.
Estado (SSI), quando foi torturado com choques elétricos Muitas dessas pessoas continuaram detidas mesmo
E aplicados em partes sensíveis do seu corpo, foi após serem absolvidas pelos tribunais e receberem
crucificado em um dispositivo de madeira colocado em ordens de soltura várias vezes.
uma porta de metal, foi espancado com cabos elétricos e Mohamed Abd Rahim el Sharkawy, um cidadão
com mangueiras d'água, sendo também açoitado. paquistanês de origem egípcia, de 57 anos, continuou
em detenção administrativa na prisão de Tora Liman. Ele
Sistema de justiça foi extraditado do Egito para o Paquistão em 1995,
Tribunais especiais e tribunais militares mantido incomunicável durante meses e, segundo
Continuou a operar um sistema paralelo de justiça de informações, torturado. Logo em seguida, ele foi
caráter emergencial – que inclui tribunais de absolvido por um tribunal de emergência. Os tribunais
emergência especialmente constituídos e o julgamento ordenaram sua libertação pelo menos 15 vezes, inclusive
de civis por tribunais militares. Sob esse sistema, as em abril de 2007. Sua saúde estava debilitada devido às
salvaguardas para julgamentos justos, tais como torturas que ele sofrera nos anos 90, às condições
igualdade perante a lei, acesso imediato a um advogado severas na prisão e à falta de cuidados médicos
e proibição do uso de provas obtidas mediante tortura, adequados. Em fevereiro, a administração da prisão
são freqüentemente violadas. encaminhou-o para fazer exames médicos, mas a
O julgamento de 40 integrantes da Irmandade solicitação foi negada pelo SSI.
Muçulmana (sete dos quais ausentes) teve início em
abril. Eles foram acusados de terrorismo e de lavagem de Tortura e outros maus-tratos
dinheiro e, apesar de serem civis, foram julgados por um A tortura e outros tipos de maus-tratos continuaram a
tribunal militar. Entre os réus, acusados de crimes ocorrer de forma sistemática e disseminada; segundo
passíveis de punição com a morte, estava Khairat al- informações, tendo causado ou contribuído para, pelo
Shatir, vice-líder supremo da Irmandade Muçulmana, menos, 20 mortes em 2007. Vídeos que mostravam o
preso em dezembro de 2006 juntamente com outros 16 uso da tortura pela polícia foram colocados na Internet
integrantes proeminentes da organização. Em janeiro, por blogueiros egípcios.
todos os 17 foram absolvidos de todas as acusações por Os métodos de tortura mais comuns incluíam
um tribunal penal regular; porém, em seguida foram choques elétricos, espancamentos, suspensão em
presos novamente. Em fevereiro, o Presidente Mubarak posições dolorosas, confinamento solitário, estupro,
determinou que esses 17 casos e os casos de outros 23 ameaças de morte, abusos sexual e ataques a
supostos integrantes da Irmandade Muçulmana fossem familiares. Denúncias de tortura raramente eram
transferidos para o Supremo Tribunal Militar de Heikstep, investigadas. Os poucos processos instaurados contra
no Cairo. Em maio, um tribunal administrativo do Cairo supostos torturadores nunca foram relacionados a
casos políticos, e referiam-se, geralmente, a casos em haviam denunciado casos de assédio sexual ao Centro,
que a vítima havia morrido. somente 12 por cento registraram queixa na polícia. O
Em agosto, Mohamed Mamduh Abdel Rahman, um Centro Nacional de Pesquisas Sociais e Criminais, um
menino de 13 anos, morreu na cidade de Mansura, órgão oficial, confirmou que os crimes sexuais estavam
situada no delta do rio Nilo, após ter sido supostamente aumentando; porém, não conseguiu fornecer dados.
torturado pela polícia. Ele perdeu a consciência quando Após uma audiência em novembro, a Comissão
ficou detido por seis dias sob suspeita de roubar pacotes Africana dos Direitos Humanos e dos Povos declarou
de chá. As autoridades o transferiram para um hospital, que julgaria, em maio de 2008, uma demanda proposta
onde ele morreu. Ele foi sepultado sem que a família fosse por 33 organizações de direitos humanos contra o
informada. Seu irmão, detido no mesmo dia, contou que fracasso do governo egípcio em impedir e processar os
a polícia queimou Mohamed com uma bobina quente, ataques físicos e sexuais cometidos contra jornalistas e
espancou-o e aplicou-lhe choques elétricos. Ele disse manifestantes mulheres durante um protesto realizado
ainda que, quando Mohamed começou a ter convulsões, em maio de 2005.
um policial chutou-o no tórax. Um vídeo de Mohamed no Mutilação genital feminina (MGF)
hospital mostra como ficaram as queimaduras em suas O UNICEF estimou que três quartos das meninas
costas e em seus testículos. A polícia disse que ele muçulmanas e cristãs com idade entre 15 e 17 anos
morreu devido a causas naturais agravadas por foram submetidas à mutilação genital feminina, e que
tratamento médico inadequado e que as queimaduras dois terços das meninas agora com menos de três anos
foram acidentais. A família entrou com uma ação judicial. de idade têm a probabilidade de serem submetidas a E
Em setembro, uma comissão de especialistas forenses essa prática antes de completarem 18 anos. Segundo
designada pelo governo inocentou a polícia de qualquer as estatísticas oficiais egípcias, 97 por cento das
má conduta. mulheres com idade entre 15 e 49 anos já foram
Em um caso raro de processo bem-sucedido contra vítimas de mutilação genital feminina.
supostos torturadores, dois policiais da delegacia de A MGF foi proibida em 1997 para todos os casos,
Bulaq Dakrur, na província de Giza, foram sentenciados exceto para casos “excepcionais”, com pena máxima
em novembro a três anos de prisão pela detenção ilegal, de três anos de prisão. Os avanços em direção à
pela tortura e pelo estupro de Emad Mohamed Ali erradicação da mutilação genital feminina continuaram
Mohamed (Emad al-Kabir), um taxista de 21 anos. Emad em 2007. Em junho, Bedur Ahmed Shaker, uma
al-Kabir foi preso, em janeiro de 2006, após tentar acabar menina de 11 anos, morreu no povoado de Maghagha,
com uma discussão entre seu primo e alguns policiais. em Minya, no Nilo, em conseqüência de MGF. O fato
Ele relatou que os policiais amarraram suas mãos e pés, o teve ampla divulgação. O grão mufti (responsável pela
açoitaram e ordenaram que ele dissesse palavras aplicação da lei islâmica) declarou então que a
ofensivas contra si próprio. Os policiais, então, tiraram mutilação genital feminina era proibida pelo Islã. No
suas calças e o estupraram com um bastão, filmaram a mesmo mês, o ministro da Saúde emitiu um decreto
tortura e divulgaram o vídeo no bairro em que Emad al- proibindo os profissionais da área médica de realizarem
Kabir morava, em uma tentativa de humilhá-lo e de mutilações genitais em mulheres. Em setembro, quatro
intimidar outras pessoas. Em novembro de 2006, o vídeo médicos e uma parteira do sul da província de Minya,
foi colocado na Internet. Em janeiro de 2007, Emad al- segundo informações, foram processados por
Kabir foi sentenciado a uma pena de três meses de prisão realizarem MGF. Suas clínicas teriam sido fechadas.
por “resistir à prisão” e por “agredir um policial”. Uma lei que estabelece penas mais severas para quem
fizer uso dessa prática estava sendo elaborada pelo
Violência contra a mulher Ministério.
A violência contra a mulher causou 247 mortes no
primeiro semestre do ano, segundo uma organização Defensores de direitos humanos
não-governamental egípcia. Em novembro, o Centro Segundo a lei egípcia, as greves que se espalharam
Egípcio dos Direitos da Mulher informou que os casos pelo país eram “ilegais”, uma vez que não foram
de assédio sexual estavam aumentando e que duas autorizadas pela Federação Geral de Sindicatos,
mulheres eram estupradas por hora no país. A financiada pelo Estado. As autoridades responderam
organização afirmou ainda que, de 2.500 mulheres que com aumento da repressão aos sindicalistas e aos
condenados por delitos relacionados à morte sob protetores", os quais podem violar a proibição
custódia de Juan Martínez Galdeano, na delegacia de internacional de tratamento cruel, desumano ou
polícia de Roquetas del Mar, no dia 24 de julho de degradante, e podem causar asfixia ou outras lesões
2005. O oficial comandante, José Manuel Rivas, foi corporais graves a uma pessoa que está sendo
condenado por atentado não-grave contra a deportada à força.
integridade moral e por tratamento degradante. Ele foi No dia 9 de julho, o cidadão nigeriano Osamuyia
sentenciado a 15 meses de prisão, a inabilitação para o Akpitaye morreu durante uma tentativa de deportá-lo à
exercício da função por três anos e a pagamento de força. Segundo testemunhas, os dois agentes de
multa. Os outros dois oficiais foram condenados por aplicação da lei que o acompanharam no vôo de Madri
lesão corporal e por abuso de autoridade e também para Lagos amarraram suas mãos e seus pés e
foram multados. Cinco oficiais foram absolvidos. Tanto amordaçaram sua boca, supostamente com fita
a acusação quanto a defesa entraram com recursos. adesiva, para conter sua resistência à deportação.
No dia 19 de julho, Courage Washington, um Osamuyia Akpitaye morreu logo após a decolagem.
cidadão ganense, foi gravemente ferido durante uma Uma autópsia determinou que ele morreu por asfixia.
troca de tiros no aeroporto de Barajas, em Madri. Dois Procedimentos extraterritoriais
policiais à paisana abordaram Courage e pediram As autoridades espanholas realizaram diversas
seus documentos de identidade. Alegou-se que o operações de resgate para salvar imigrantes e pessoas
ganense, que sofre de distúrbios mentais, tirou do em busca de asilo que se encontravam em situação
E bolso uma arma de brinquedo e que a polícia, então, de perigo quando tentavam chegar à Europa por mar.
atirou nele quatro vezes. Segundo testemunhas, Os direitos de muitos deles, porém, foram violados
alguns dos disparos foram feitos quando ele já estava durante a interceptação e durante os procedimentos
caído no chão. Mais tarde, foi aberto um inquérito relativos a processos extraterritoriais. As condições de
criminal contra Courage Washington por agressão a detenção e os direitos de acesso aos procedimentos
um funcionário público. Seu advogado entrou com de asilo para as pessoas detidas em centros de
uma queixa contra a polícia. processamento extraterritorial não estavam de acordo
Armas Taser com as normas internacionais.
Diversos órgãos de aplicação da lei anunciaram a No dia 30 de janeiro, o serviço de resgate marítimo
aquisição de armas de eletrochoque Taser, que já espanhol interceptou o barco Marine I, com 369
estavam sendo usadas por forças policiais locais em pelo pessoas a bordo. Os passageiros, provavelmente da
menos três das Comunidades Autônomas. Essas armas Ásia e da África subsaariana, viajavam em direção às
não são usadas pela Polícia Nacional e pela Guarda Civil. Ilhas Canárias. O serviço de resgate espanhol auxiliou o
Não houve controle nem regulamentação suficientes barco a posicionar-se a 12 milhas da costa da
sobre o porte e a utilização dessas armas por agentes de Mauritânia. A embarcação permaneceu ancorada
aplicaçãoda lei. naquele local por quase duas semanas até que as
autoridades espanholas e mauritanas concordassem,
Imigração no dia 12 de fevereiro, em permitir que o barco
Abusos durante a deportação aportasse na Mauritânia. Como parte do acordo, as
Em julho, o Ministério do Interior anunciou um novo autoridades espanholas puderam administrar a
projeto de protocolo para a Polícia Nacional e para a assistência social e os processos dos imigrantes e dos
Guarda Civil referente ao repatriamento seguro de requerentes de asilo na Mauritânia. As autoridades
imigrantes, inclusive daqueles em situação irregular. espanholas concordaram em processar, na própria
O projeto, porém, não reflete as normas européias embarcação, os pedidos de asilo de 10 cidadãos do Sri
pertinentes de direitos humanos nem as Lanka que, juntamente com outras 25 pessoas, foram
recomendações das organizações internacionais sobre transferidos às Ilhas Canárias. Contudo, apesar de um
o uso da força e de técnicas de imobilização por relatório positivo emitido pelo ACNUR, o órgão da ONU
agentes de aplicação da lei durante expulsões. Na lista para os refugiados, os pedidos de asilo não foram
de materiais que tiveram seu uso aprovado durante admitidos pelos procedimentos de asilo espanhóis e, no
expulsões, o protocolo incluía "fita adesiva reforçada", dia 25 de março, os 10 indivíduos foram deportados.
"cintos e roupas de imobilização" e "capacetes Informou-se, em abril, que, das 369 pessoas a bordo do
Marine I, 35 foram repatriadas para a Guiné, 161 para a parceiros chegou a 71 em 2007. Destas, 48 eram
Índia e 115 para o Paquistão. Vinte e três pessoas estrangeiras. As mulheres imigrantes continuaram a
teriam permanecido em um galpão na Mauritânia, sob ser particularmente vulneráveis à violência, pois
controle efetivo das autoridades espanholas, em continuaram a sofrer discriminação, na lei e na
condições de detenção que não estavam de acordo prática, quando tentavam ter acesso à Justiça e a
com a legislação espanhola. No dia 18 de maio, 17 outros recursos essenciais, tais como assistência
dessas pessoas foram transferidas para um centro de financeira, tratamento psicológico e abrigos.
detenção sob jurisdição mauritana, sendo repatriadas Em 22 de março, foi aprovada uma legislação
para o Paquistão em junho. As outras seis foram estendendo o status de refugiado às mulheres que
transferidas para Melilla (Espanha) para receberem fugiam de perseguição baseada em gênero.
tratamento psicológico devido a sua experiência de
detenção. Grupos armados
Em março, o barco Happy Day, carregando 260 Após o encerramento de seu "cessar-fogo
imigrantes irregulares do Senegal para as Ilhas permanente", o ETA voltou a cometer atentados na
Canárias, foi interceptado por uma embarcação italiana Espanha. O cessar-fogo, efetivamente interrompido no
operando em conjunto com a agência de controle de dia 30 de dezembro de 2006, com um atentado no
fronteiras da União Européia, Frontex, sob orientação aeroporto de Barajas, em Madri, que matou duas
espanhola. Por causa de disputas entre a Espanha, o pessoas, foi declarado oficialmente encerrado no dia 5
Senegal e a Guiné (que se acreditava ser o ponto de de junho de 2007. No dia 24 de agosto, um carro E
partida original do barco), os 260 passageiros bomba explodiu diante do quartel da Guarda Civil em
permaneceram uma semana dentro do barco ancorado Durango, no País Basco, causando danos à
em Kamsar, na Guiné, pois as autoridades guineanas propriedade, mas nenhuma morte. No dia 9 de
recusaram-se a permitir que desembarcassem. A outubro, o guarda-costas de um vereador basco foi
Anistia Internacional não pode acompanhar o que ferido em outro atentado a bomba. Em 1º de
aconteceu aos imigrantes depois disso. dezembro, dois oficiais desarmados da Guarda Civil
Menores desacompanhados espanhola foram mortos a tiros por supostos membros
A reunificação familiar de menores desacompanhados do ETA, em Capbreton, na França. Um homem e uma
não garantiu que fossem levados em conta os mulher foram presos e acusados de assassinato; um
melhores interesses da criança. Menores terceiro suspeito escapou.
desacompanhados foram expulsos para o Marrocos
sem garantias adequadas para sua segurança. Combate ao terrorismo
Lei de estrangeiros No dia 4 de outubro, 22 pessoas suspeitas de
Em novembro, o Tribunal Constitucional decidiu que envolvimento na direção do partido político basco
eram inconstitucionais as disposições da Lei de Batasuna, banido em 2003 pela Lei de Partidos
Estrangeiros, de 2000, que restringiam os direitos de Políticos, foram presas durante uma assembléia, com
associação, de acesso à educação básica e de base em sua filiação a uma organização terrorista.
assistência jurídica gratuita aos imigrantes. Em 19 de dezembro, a Audiência Nacional expediu
sua sentença referente ao julgamento do chamado
Violência contra a mulher Macroprocesso 18/98, no qual 47 pessoas foram
Dois anos após a introdução de uma lei de prevenção condenadas por filiação ou por diversos graus de
à violência baseada em gênero, as mulheres colaboração com o ETA, em conseqüência de seu
continuaram a enfrentar obstáculos para obter trabalho com várias organizações nacionalistas
proteção, justiça e reparação. Cláusulas fundamentais bascas. A sentença afirmava que as organizações ou
da lei ainda estavam sendo desenvolvidas ou sendo faziam parte do ETA e/ou recebiam instruções do
implantadas muito lentamente. Entretanto, algumas grupo. No final do ano, ainda eram aguardados os
medidas positivas foram introduzidas, como um recursos contra a sentença. Entre os indivíduos
protocolo comum para os trabalhadores da saúde que condenados, vários declararam publicamente sua
lidarem com vítimas de violência doméstica. O número oposição ao ETA e ao uso da violência para fins
de mulheres assassinadas por seus parceiros ou ex- políticos.
da CIA revelou que a agência havia destruído fitas de Tribunais de Revisão do Estatuto de Combatente – juntas
vídeo que continham os interrogatórios dos detentos. compostas por militares que podem utilizar informações
Soldados que se recusaram a servir no Iraque por secretas e obtidas sob coação para tomar suas decisões.
razões de consciência foram encarcerados. As sessões desses tribunais referentes aos 14 homens
Prisioneiros continuaram a receber maus-tratos nas ocorreram a portas fechadas sob a alegação de que os
mãos de policiais e de guardas prisionais. Dezenas detentos possuíam informações confidenciais sobre o
de pessoas morreram depois que a polícia utilizou programa de detenções secretas da CIA, inclusive sobre
armas de eletrochoque contra elas. Houve falhas técnicas de interrogatório, condições de reclusão e
graves em nível local, estadual e federal no que se localização das unidades de detenção. As denúncias de
refere à abordagem da violência sexual contra tortura sob custódia da CIA, feitas por alguns dos presos,
mulheres indígenas. A discriminação continuou foram censuradas nas transcrições dos Tribunais de
sendo uma preocupação nas mais diversas áreas, Revisão. No fim de 2007, apenas um dos 14 indivíduos
inclusive com relação às práticas policiais, ao havia conseguido ter acesso a advogado para a limitada
funcionamento do sistema de justiça criminal e ao revisão judicial das decisões desses tribunais, conferida
direito à moradia. Ocorreram 42 execuções durante o pela Lei de Tratamento de Detentos (2005). Até o fim do
ano. No final de setembro, a decisão da Suprema ano, nenhuma revisão desse tipo havia sido realizada para
Corte de rever a constitucionalidade do uso de nenhum dos detentos de Guantánamo.
injeção letal levou a uma moratória de facto das Em fevereiro, o Tribunal de Recursos do Circuito do
execuções realizadas por esse método. Em Distrito de Columbia decidiu que as disposições da Lei de E
dezembro, Nova Jersey se tornou o primeiro estado, Comissões Militares que retiravam dos tribunais a
em mais de quatro décadas, a legislar sobre a jurisdição para julgar petições de habeas corpus se
abolição da pena de morte. aplicavam a todos os detentos mantidos em Guantánamo
"sem exceções". Em 2 de abril, a Suprema Corte rejeitou
"Guerra ao terror" um apelo contra a decisão. No entanto, em 29 de junho, a
Pelo sexto ano consecutivo, as autoridades Corte tomou a decisão, historicamente singular, de anular
estadunidenses continuaram a deter cidadãos sua sentença de 2 de abril, concordando em ouvir o caso
estrangeiros, classificados por elas como “combatentes depois que advogados dos detentos apresentaram novas
inimigos”, sob detenção militar indefinida e sem acusação informações sobre a inadequação do esquema dos
na base de Guantánamo. No final de 2007, havia Tribunais de Revisão do Estatuto de Combatente. As
aproximadamente 275 detentos nessa prisão. Durante o novas informações foram fornecidas por um oficial militar
ano, mais de 100 detentos foram transferidos para os seus que estivera envolvido nas revisões dos Tribunais de
países de origem, a fim de serem soltos ou de Revisão. A decisão da Suprema Corte estava pendente no
permanecerem detidos. Quatro detentos, descritos pelo final de 2007.
Pentágono como “suspeitos de terrorismo perigosos”, Ali al-Marri, um cidadão qatariano residente nos
foram transferidos para Guantánamo. Um indivíduo, Estados Unidos que, em junho de 2003, foi designado
descrito pelo Pentágono como “membro de alto nível Al “combatente inimigo” pelo Presidente Bush, permanecia
Qaeda”, foi transferido da custódia da CIA para a base dos em detenção militar indefinida dentro do território dos
EUA em Cuba. EUA no final do ano. Em junho, um painel de três juízes do
Quatorze homens descritos pelas autoridades Tribunal de Recursos do Quarto Circuito decidiu que a Lei
estadunidenses como detentos de “alto valor”, que foram de Comissões Militares não se aplicava ao caso de Ali al-
transferidos para Guantánamo, em setembro de 2006, Marri e determinou que sua detenção militar “precisava
com o propósito declarado de enfrentar julgamento, ainda terminar”. No entanto, o governo tentou, com êxito,
não haviam sido acusados formalmente no fim de 2007. realizar uma nova audiência perante todo o corpo do
Antes de serem transferidos, os homens haviam passado Tribunal do Quarto Circuito. A decisão estava pendente no
mais de quatro anos e meio sob custódia secreta da CIA, e fim do ano.
seus casos foram utilizados pelo governo para postular a Em Guantánamo, foram retomados os procedimentos
Lei de Comissões Militares de 2006. Em 9 de agosto, o das comissões militares.
Pentágono anunciou que todos os 14 haviam sido Em março, o australiano David Hicks tornou-se o
confirmados como “combatentes inimigos” pelos primeiro – e até o final do ano, o único – prisioneiro de
Guantánamo condenado pelos Estados Unidos. Ele se publicaram uma lista de mais de 36 indivíduos que teriam
declarou culpado, conforme a Lei de Comissões Militares, sido detidos pelo programa da CIA e cujo paradeiro ou
de uma acusação de “fornecer apoio material para o destino permanece desconhecido.
terrorismo”. Uma junta de oficiais militares recomendou Em dezembro, o diretor da CIA revelou que, em 2005, a
sete anos de prisão, porém, seis anos e três meses da agência destruiu as fitas de vídeo com gravações dos
pena foram suspensos de acordo com os termos de um interrogatórios conduzidos em 2002 com detentos
acordo feito antes do julgamento. David Hicks foi mantidos sob custódia secreta. Segundo informações, as
transferido de Guantánamo, em maio, para cumprir o fitas continham centenas de horas de interrogatórios de
restante de seus nove meses de prisão na Austrália. No Abu Zubaydah e Abd al-Rahim al-Nashiri, dois dos
dia 29 de dezembro, ele foi libertado do presídio de Yatala detentos de “alto valor” transferidos para Guantánamo em
em Adelaide. setembro de 2006. Ambos alegaram, durante suas
Três outros detentos de Guantánamo estavam audiências nos Tribunais de Revisão do Estatuto de
enfrentando acusações no fim do ano, inclusive dois que Combatente, em 2007, que haviam sido torturados sob
eram menores de 18 anos quando foram presos. custódia da CIA. Abu Zubaydah está entre os que teriam
As condições de detenção em Guantánamo e seu impacto sido submetidos à técnica de asfixia na "prancha d'água"
na saúde dos internos, já abalada pela natureza indefinida (waterboarding).
de sua detenção, continuaram causando sérias Centenas de pessoas permaneceram sob custódia dos
preocupações. Um dos detentos, cidadão saudita, teria EUA no Afeganistão e no Iraque. Houve preocupações
E cometido suicídio no dia 30 de maio. Até meados de também sobre os assassinatos cometidos no Iraque por
janeiro, 165 detentos haviam sido transferidos para o empresas de segurança contratadas pelos Estados
Campo 6, onde ficavam confinados em celas de aço Unidos (veja os capítulos sobre o Afeganistão e o Iraque).
individuais sem janelas por, pelo menos, 22 horas por dia.
Contrário às normas internacionais, as celas não têm Tortura e outros maus-tratos
acesso à luz natural ou ar e permanecem iluminadas por Houve denúncias de maus-tratos em penitenciárias e
luz fluorescente durante as 24 horas do dia. durante a custódia policial no território continental dos
Aproximadamente 100 outros detentos eram mantidos no Estados Unidos, geralmente envolvendo o uso cruel de
Campo 5, onde os presos permanecem confinados até 24 instrumentos de contenção ou de armas de eletrochoque.
horas por dia, em celas pequenas, com um pouco de Sessenta e nove pessoas morreram depois de serem
acesso à luz natural, mas sem vista para o exterior. atingidas por descargas de armas Taser, elevando para
Acreditava-se que outros 20 detentos eram mantidos no quase 300 o número desse tipo de mortes desde 2001.
Campo Echo, onde os prisioneiros ficam entre 23 e 24 Vários dos mortos foram submetidos a choques
horas por dia em celas sem janelas e sem luz natural. múltiplos ou tinham problemas de saúde que poderiam
No dia 20 de julho, o Presidente Bush emitiu uma torná-los mais suscetíveis aos efeitos adversos dessas
ordem executiva para que o programa de detenções e armas. Apesar de essas mortes serem comumente
de interrogatórios secretos coordenado pela CIA atribuídas a fatores como intoxicação por drogas,
respeitasse o Artigo 3º comum às quatro Convenções de médicos legistas concluíram que os choques de Tasers
Genebra de 1949. A Anistia Internacional escreveu ao causaram ou contribuíram para muitas das mortes.
Presidente Bush enfatizando que, se o programa da CIA A grande maioria dos mortos estava desarmada e não
recebesse detentos como fizera antes, ele estaria representava uma séria ameaça quando atingida pelos
novamente autorizando o crime internacional de choques. Muitos departamentos de polícia continuaram
desaparecimento forçado. Até o fim do ano, não havia a autorizar o uso de armas Taser em diversas
sido recebida qualquer resposta. circunstâncias, inclusive contra pessoas desarmadas
Um detento, Abd al-Hadi al-Iraqi, segundo que resistiam à prisão ou que se recusavam a obedecer
informações, foi transferido da custódia da CIA para às ordens da polícia. A Anistia Internacional apresentou
Guantánamo durante o ano. O Pentágono anunciou a suas preocupações em um inquérito do Departamento
transferência em 27 de abril, mas não forneceu detalhes de Justiça sobre as mortes causadas por armas Taser e
sobre quando ele fora detido ou onde estivera mantido reiterou seu apelo às autoridades estadunidenses para
antes da transferência. Em junho, a Anistia Internacional e que suspendam o uso dessas e de outras armas de
outras cinco organizações de direitos humanos eletrochoque, até que se conclua um inquérito rigoroso
e independente, ou para que se restrinja sua utilização de seus advogados de que a tortura e outros maus-
a situações em que o uso de força letal pelos policiais tratos sob custódia militar o deixaram inepto para
poderia ser justificado. enfrentar julgamento. O governo preferiu não
Milhares de prisioneiros continuaram a ser apresentar as informações obtidas durante sua
confinados em isolamento prolongado em unidades de detenção militar, pois poderiam ser contestadas por
segurança máxima, onde as condições algumas vezes terem sido obtidas mediante coação. A Anistia
equivalem a tratamento cruel, desumano ou degradante. Internacional continuou preocupada com a falta de
Herman Wallace e Albert Woodfox, ambos prisioneiros prestação de contas pelos três anos de tratamento
da Penitenciária Estadual de Louisiana em Angola, ilegal de Jose Padilla e pelos danos ao seu direito de
permaneceram em isolamento prolongado. Por mais de presunção de inocência, por ter sido constante e
30 anos eles ficaram confinados, sozinhos, em pequenas publicamente estigmatizado pelo governo como um
celas, 23 horas por dia, com apenas três horas semanais “perigoso terrorista”.
para exercícios ao ar livre. Consta que ambos sofrem de Gary Tyler, um cidadão estadunidense
sérios problemas de saúde decorrentes de sua situação. afrodescendente, permaneceu na prisão de Lousiana
Uma ação judicial, argumentando que o tratamento dado pelo assassinato de um estudante secundarista branco
aos prisioneiros era inconstitucional, permanecia durante um incidente racial em 1974. Durante os 33
pendente no fim do ano. anos que passou na prisão, Gary Tyler, que tinha 16
Originalmente, os dois homens haviam sido colocados anos na época do homicídio, tem constantemente
no “seguro” depois de serem acusados de envolvimento afirmado sua inocência. Ele foi condenado por um júri E
no assassinato de um guarda, em 1972, durante uma formado exclusivamente por brancos, após um
rebelião na prisão – acusações que eles sempre negaram. julgamento gravemente falho. Os apelos para que o
A Anistia Internacional continua preocupada que seu então governador lhe concedesse perdão foram
prolongado isolamento tenha sido baseado, ao menos em infrutíferos.
parte, em seu histórico de ativismo político na prisão, Em agosto, ocorreu uma audiência oral referente ao
inclusive na sua participação no Partido Pantera Negra caso de cinco cidadãos cubanos que haviam sido
(organização negra radical). condenados em Miami, em junho de 2001, por
conspirar para atuar como agentes da República de
Prisioneiros de consciência Cuba e por outras acusações (USA v Gerardo
O especialista do Exército Mark Lee Wilkerson cumpriu Hernandez et al). As razões da apelação incluíam
três meses e meio de pena, após ser sentenciado a sete insuficiência de provas e supostas declarações
meses de prisão, por ter se recusado a servir no Iraque por impróprias da promotoria durante o julgamento. A
razões de consciência. Outro objetor de consciência à decisão do Tribunal de Recursos permanecia pendente
guerra no Iraque, o médico do Exército dos EUA Agustín no fim do ano. O governo dos Estados Unidos
Aguayo, foi sentenciado a oito meses de prisão por continuou a recusar vistos às esposas de dois dos
motivos semelhantes. Como o tempo que passou sob prisioneiros para que os visitassem na prisão.
custódia aguardando julgamento foi levado em
consideração, ele foi libertado depois de um mês. No fim Discriminação
do ano, vários outros soldados que se recusaram a servir Preocupações constantes sobre discriminação nos
no Iraque por oposição à guerra enfrentavam a EUA incluem disparidades raciais em batidas e
possibilidade de serem processados. revistas policiais, bem como em outras áreas do
sistema de justiça criminal, além do tratamento de
Sistema de justiça cidadãos não-estadunidenses detidos no contexto da
Jose Padilla, cidadão estadunidense previamente “guerra ao terror” (veja acima).
detido por mais de três anos sem acusação nem Mychal Bell foi julgado em julho e acusado de
julgamento, sob custódia militar dos EUA como um tentativa de assassinato em segundo grau. Seu
“combatente inimigo”, foi condenado, em agosto, por julgamento ocorreu em um tribunal adulto, apesar de
um tribunal civil federal por conspiração para fornecer ele ser menor de idade no momento do suposto crime.
apoio material ao terrorismo. Sua sentença estava O caso levantou preocupações sobre a disparidade no
pendente no final do ano. O tribunal rejeitou a alegação tratamento de adolescentes negros e brancos. Ele foi
um dos seis estudantes secundaristas negros que tornou o primeiro estado dos EUA, desde 1965, a
foram acusados de agredir um estudante branco, em legislar para abolir a pena de morte, quando os
dezembro de 2006, em Jena, Lousiana, durante um deputados aprovaram e o governador sancionou a
período de tensão racial desencadeado quando legislação que substitui a pena capital pela prisão
estudantes brancos penduraram três forcas em uma perpétua sem direito à liberdade condicional.
árvore no pátio da escola. Os estudantes negros foram Nova York efetivamente se tornou o 13º estado
originalmente acusados de tentativa de assassinato em abolicionista dos EUA em outubro, quando sua mais
segundo grau, o que poderia colocá-los na prisão por alta corte se recusou a abrir uma exceção à sua
décadas. Depois de ocorrerem manifestações pelos decisão de 2004, que julgou o estatuto estadual da
direitos civis, as acusações contra os réus foram pena de morte inconstitucional. A contestação dessa
reduzidas e Mychal Bell foi transferido para um tribunal sentença foi apresentada pelo estado no caso da
juvenil. última pessoa que ainda restava no corredor da morte
em Nova York.
Pena de morte Desde 1975, mais de 120 pessoas foram libertadas
Um total de 42 prisioneiros foram executados nos EUA dos corredores da morte nos EUA por serem inocentes.
durante o ano, elevando para 1.099 o número total de Curtis Edward McCarty, que passou 21 anos na
execuções levadas a cabo desde que a Suprema Corte prisão, 16 dos quais no corredor da morte de
suspendeu a moratória da pena de morte em 1976. Oklahoma, foi libertado em maio quando um juiz
E Este foi o menor número anual de mortes judiciais nos federal ordenou que as acusações contra ele fossem
EUA desde 1994 e deveu-se, em parte, à suspensão retiradas. Exames de DNA ajudaram a exonerá-lo, e o
das execuções, seguidas ao anúncio dado pela juiz decidiu que o caso contra ele havia sido maculado
Suprema Corte, em 25 de setembro, de que apreciaria pelo testemunho questionável de uma ex-perita
a contestação ao procedimento de injeção letal com forense sem credibilidade.
três substâncias químicas administradas no Kentucky Em dezembro, Michael McCormick, ao ser julgado
e na maioria dos outros estados que utiliza esse novamente, foi inocentado de um assassinato pelo qual
método. passou 16 anos no corredor da morte do Tennessee.
Em junho, a Suprema Corte impediu a execução de Em dezembro, promotores retiraram todas as
Scott Panetti, prisioneiro do corredor da morte do Texas acusações contra Jonathan Hoffman, relativas a um
que sofre de delírios severos. A decisão considerou que crime pelo qual ele permaneceu quase uma década no
o Tribunal de Recursos do Quinto Circuito havia corredor da morte na Carolina do Norte.
empregado uma interpretação “falha” e “muito Joseph Nichols foi executado no Texas, em 7 de
restritiva” da decisão de 1986 da Suprema Corte, a março, pelo assassinato de Claude Shaffer em 1980.
qual afirmava ser inconstitucional a execução de Seu co-réu, Willie Williams, que foi julgado primeiro,
prisioneiros insanos. A sentença tem potencial de declarou-se culpado e foi executado em 1995. No
fornecer proteção adicional a prisioneiros condenados julgamento de Joseph Nichols, o estado argumentou
à morte que sofrem de doenças mentais graves. que, apesar do fato de Willie Williams ter dado o tiro
O estado de Dakota do Sul realizou sua primeira fatal, Joseph Nichols era culpado conforme a “lei de
execução desde abril de 1947. Elijah Page foi cumplicidade” do Texas, segundo a qual a distinção
executado por um assassinato cometido em 2000, entre o ator principal e seu cúmplice em um crime é
quando ele tinha 18 anos e provinha de uma infância abolida, e ambos podem ser considerados igualmente
de privações e de abusos. Ele desistiu de tentar apelar. culpados. O júri não conseguiu chegar a um veredicto e
Com sua execução, 34 estados e o governo federal Joseph Nichols foi novamente julgado. Dessa vez, a
conduziram ao menos uma execução desde 1976. promotoria alegou que Joseph havia disparado o tiro
Em 2 de janeiro, a Comissão de Estudos sobre a fatal, e o júri votou pela pena de morte.
Pena de Morte de Nova Jersey – estabelecida pelo Philip Workman foi executado no Tennessee, em 9
parlamento estadual em 2006 para estudar todos os de maio, apesar das fortes evidências de que uma
aspectos da pena capital no estado – divulgou seu testemunha-chave do estado havia mentido no
relatório final, no qual recomendou que a pena de julgamento e de que o policial, por cujo assassinato ele
morte fosse abolida. Em dezembro, Nova Jersey se fora condenado, possa ter sido morto com um tiro
disparado acidentalmente por um colega policial. acessíveis pudesse ter provocado uma mudança
Philip Workman permaneceu no corredor da morte por demográfica em que as comunidades pobres, de
25 anos. maioria afrodescendente, não teriam condições de
No dia 16 de julho, menos de 24 horas antes do retornar para suas casas
horário agendado para ser morto, o prisioneiro do
corredor da morte da Georgia, Troy Davis, recebeu da Relatórios da AI
Comissão de Perdão e Liberdade Condicional a USA: New Jersey Death Penalty Study Commission recommends
suspensão de sua execução. Ele havia passado mais abolition (AMR 51/003/2007)
de 15 anos aguardando ser executado pelo assassinato USA: The experiment that failed -- A reflection on 30 years of executions
de um policial. Não havia provas materiais contra ele e (AMR 51/011/2007)
a arma usada no crime nunca foi localizada. O caso USA: “Where is the justice for me?” The case of Troy Davis, facing
contra Troy Davis consistia inteiramente de execution in Georgia (AMR 51/023/2007)
testemunhos, a maioria dos quais posteriormente Maze of injustice: The failure to protect Indigenous women from sexual
abjurados. Em 3 de agosto, a Suprema Corte da violence in the USA (AMR 51/035/2007)
Georgia concedeu um recurso extraordinário e USA: Justice delayed and justice denied? Trials under the Military
concordou em realizar uma audiência para um novo Commissions Act (AMR 51/044/2007)
julgamento de seu caso. No final de 2007, uma decisão USA: Cruel and inhuman: Conditions of isolation for detainees at
ainda era aguardada. Guantánamo Bay (AMR 51/051/2007)
USA: An “uncomfortable truth”: Two Texas governors -- more than 300 E
Violência contra a mulher executions (AMR 51/076/2007)
Mulheres nativas norte-americanas dos EUA e do USA:: Prisoner-assisted homicide – more “volunteer” executions loom
Alaska continuaram a sofrer um nível (AMR 51/087/2007)
desproporcionalmente alto de estupros e de violência USA: Off the record -- US responsibility for enforced disappearances in
sexual; porém, enfrentaram barreiras para ter acesso à the “war on terror” (AMR 51/093/2007)
Justiça. Isso se deve a um complexo labirinto de USA: Supreme Court tightens standard on “competence” for execution
jurisdições tribais, estaduais e federal, que permite aos (AMR 51/114/2007)
perpetradores escaparem da Justiça; à falta de verbas USA: Law and executive disorder -- President gives green light to secret
governamentais para serviços essenciais; e às falhas, detention program (AMR 51/135/2007)
em nível estadual e federal, para processar os casos. USA: Amnesty International’s concerns about Taser use: Statement to
As recomendações do Congresso para que se the US Justice Department inquiry into deaths in custody (AMR
aumentassem os fundos destinados a tratar de 51/151/2007)
algumas dessas preocupações ainda dependiam de USA: No substitute for habeas corpus -- Six years without judicial
aprovação federal no fim do ano. review in Guantánamo (AMR 51/163/2007)
USA: Slippery slopes and the politics of torture (AMR 51/177/2007)
Direito à moradia – Furacão Katrina USA: Amnesty International’s briefing to the Committee on the
Milhares de pessoas evacuadas das áreas da Costa do Elimination of Racial Discrimination (AI Index: AMR 51/178/2007)
Golfo afetadas pelo Furacão Katrina em 2005 USA: A tool of injustice: Salim Hamdan again before a military
permanecem desalojadas e com poucas perspectivas commission (AMR 51/189/2007)
de retornarem para suas casas. Muitas continuaram a USA: Destruction of CIA interrogation tapes may conceal government
viver sob condições precárias, em acomodações crimes (AMR 51/194/2007)
temporárias espalhadas pelos EUA, sem trabalho e USA: Breaking a lethal habit – A look back at the death penalty in 2007
sem acesso às suas antigas redes de apoio. (AMR 51/197/2007)
Grupos comunitários e de direitos civis USA: Unlawful detentions must end, not be transferred (AMR
manifestaram preocupação com a proposta de 51/200/2007)
demolição de uma grande parte das unidades
residenciais públicas de Nova Orleans _ apesar de
terem sofrido apenas danos menores causados pela
inundação e poderem ser recuperadas e reabitadas.
Temia-se que a ausência de residências com preços
a um incidente ocorrido em agosto de 2006, quando foram, de fato, entrevistados por agentes franceses. Os
ela, grávida de seis meses, teria sido maltratada por advogados de defesa dos réus alegaram que seus
policiais. Em novembro de 2006, o processo judicial clientes estavam comparecendo ao tribunal francês
que ela movia contra os policiais foi encerrado sem ser com base em testemunhos extraídos quando eles
investigado pelo promotor público, apesar de estavam em Guantánamo, fora de qualquer jurisdição
numerosos testemunhos oculares e de relatórios legal e enquanto estavam detidos ilegalmente e que,
médicos que respaldavam sua queixa. Acusações que portanto, os procedimentos criminais franceses
haviam sido feitas contra Albertine Sow e seu irmão, deveriam ser declarados nulos. Até o final do ano,
Jean-Pierre Yenga Fele, por agressão aos policiais, quatro dos cidadãos haviam interposto recurso.
ainda estavam sendo investigadas.
Em setembro, a juíza investigadora encerrou o Desdobramentos legais
inquérito sobre a queixa de maus-tratos policiais No dia 30 de outubro, conforme requerido pelo
apresentada por Gwenaël Rihet, em janeiro de 2005, Protocolo Facultativo à Convenção contra a Tortura da
sob alegação de falta de provas. Gwenaël Rihet, um ONU, foi aprovada uma nova lei (N° 2007-1545, de 30
jornalista, foi supostamente agredido por um policial, outubro de 2007), criando um órgão independente para
em 15 de maio de 2004, quando filmava uma inspecionar locais de detenção. O órgão tem permissão
manifestação no Festival de Cinema de Cannes. O para visitar todos os locais de detenção dentro do
incidente foi gravado em vídeo, mas a juíza se recusou território francês, incluindo presídios, centros de
a vê-lo, afirmando ter lido a transcrição do vídeo feita detenção de imigrantes, instalações de detenção nas
pela Superintendência Geral da Polícia Nacional fronteiras e unidades de segurança nos hospitais
F
(IGPN), o órgão de disciplina interna da polícia. A psiquiátricos. No entanto, a lei não garante ao órgão
transcrição afirmava que o vídeo não mostrava poderes para visitar locais de detenção sob jurisdição
evidências de má-conduta do policial acusado. Um francesa que não estejam em território francês, e
vídeo contendo imagens de uma câmera de segurança permite que as autoridades dos centros de detenção,
da cidade, que se acreditava ter gravado o incidente, sob diversos pretextos, recusem ou adiem as visitas.
foi extraviado no gabinete da juíza. O advogado de
Gwenaël Rihet interpôs um recurso contra o Pena de morte
encerramento da investigação, que ainda se Em 2 de outubro, a França aderiu ao Segundo
encontrava pendente no final do ano. Protocolo Facultativo ao Pacto Internacional sobre
Direitos Civis e Políticos, que visa à abolição da pena
“Guerra ao terror” de morte. Em 10 de outubro, a França ratificou o
Em 19 de dezembro, cinco cidadãos franceses, Protocolo 13 da Corte Européia de Direitos Humanos,
previamente detidos sob custódia dos EUA na base relativo à abolição da pena de morte sob todas as
de Guantánamo antes de serem repatriados para a circunstâncias.
França, em 2004 e 2005, foram condenados por
associação criminosa relacionada a operações Habitação
terroristas. Eles foram sentenciados a um ano de prisão Em fevereiro, a Assembléia Nacional aprovou um
(considerado o tempo cumprido), além de sentenças projeto de lei apresentado pelo ministro da Habitação e
entre três e quatro anos de prisão a ser cumprida em Coesão Social com o objetivo declarado de criar uma
regime condicional. Um sexto cidadão foi absolvido. Os garantia legal (droit opposable) ao direito à moradia
réus compareceram perante o Tribunal Correcional de para todos os residentes legais no país, impossibilitados
Paris em julho de 2006, mas o caso foi suspenso de ter acesso a tais acomodações, ou de permanecer
quando o juiz ordenou que fossem fornecidas nelas por seus próprios meios. O projeto de lei
informações adicionais sobre as visitas que integrantes estabelece “comissões arbitrais” que avaliarão as
do serviço secreto francês e do Ministério de Assuntos queixas de indivíduos que aleguem que seu direito à
Exteriores fizeram a Guantánamo em 2002 e 2004, moradia adequada não está sendo cumprido ou que
quando teriam entrevistado os seis detidos. está ameaçado. Pessoas designadas por estas
Documentos anteriormente confidenciais recebidos comissões como “casos prioritários” terão direito de
pelo juiz supostamente confirmaram que os detidos apelar ao tribunal administrativo. Imigrantes irregulares
Em novembro, 108 soldados cingaleses das forças anônimas por telefone depois de recusar mudar suas
de paz foram repatriados para o Sri Lanka, devido a transmissões para apoiar um partido político de
denúncias de abuso sexual e de exploração de oposição. Ele foi atacado e espancado, e sua casa foi
mulheres e de meninas haitianas. totalmente destruída em um incêndio criminoso.
Em dezembro, dois homens foram condenados por
Sistema de justiça um tribunal penal pelo assassinato do jornalista Brignol
Houve empenho em fortalecer o sistema de justiça com Lindor, em 2001. Porém, a identidade das pessoas
a adoção de novas leis relativas à condição dos responsáveis por instigar o assassinato permanecia
magistrados e ao Conselho Superior que supervisiona desconhecida até o final do ano.
suas funções, ambas com o intuito de reforçar a
independência do Judiciário. No entanto, a fraqueza Defensores de direitos humanos
estrutural e institucional, agravadas pela corrupção e Ativistas e defensores de direitos humanos continuaram
pela carência de recursos, continuaram a alimentar a receber ameaças de agentes do Estado e de indivíduos
violações de direitos humanos dentro do sistema de particulares. Foram registrados alguns casos com claras
justiça. conotações políticas.
Detenções provisórias prolongadas infringiram Em outubro, Dérilus Mérilus e Sanièce Petitphat,
persistentemente as normas internacionais de direitos ambos integrantes do Comitê de Direitos Humanos de
humanos, e pouco foi feito para corrigir essa situação. Savanette, receberam ameaças de morte de parentes de
Somente 16 por cento dos detentos haviam sido um acusado de estupro depois de auxiliarem a vítima a
sentenciados; no caso de meninos e meninas menores fazer uma queixa formal.
de 18 anos, somente cinco por cento. Outros Em agosto, Lovinsky Pierre-Antoine, presidente da
permaneciam detidos após cumprirem sua pena. Fundação 30 de Setembro, foi seqüestrado. Seu
O presidente da Comissão Interamericana de Direitos paradeiro permanecia desconhecido até o final do ano.
H
Humanos e relator especial da OEA sobre o Direito das Ele trabalhara para pôr fim à impunidade por abusos
Pessoas Privadas de Liberdade observou que algumas cometidos no passado e para obter reparação para as
pessoas haviam sido presas por membros da vítimas de violações de direitos humanos no período do
MINUSTAH sem mandado ou, então, haviam sido governo militar (1991-1994).
submetidas a prisões em massa, "sem seguir os
procedimentos básicos de um devido processo legal e Direitos das crianças
sem respeitar as normas internacionais de direitos O acesso das crianças à educação foi limitado pelo
humanos”. impacto da pobreza, pela violência e pelo elevado preço
do ensino. O UNICEF estimava que aproximadamente
Impunidade 500 mil crianças estavam fora da escola no Haiti.
O governo avançou pouco na investigação de casos de Os castigos físicos foram proibidos nas escolas, mas
violações de direitos humanos ocorridos no passado. seu uso continuou a ser relatado.
Liberdade de expressão - jornalistas Segundo dados fornecidos por organizações de saúde e
Jornalistas foram ameaçados e atacados por indivíduos de mulheres, cerca da metade de todos os casos
suspeitos de agirem em nome de criminosos ou de registrados de estupro e de violência sexual foram
perpetradores de abusos de direitos humanos cometidos contra meninas haitianas menores de 17
cometidos no passado. Os assassinatos de pelo menos anos.
nove jornalistas, desde 2000, continuaram sem solução. Até 175 mil crianças estavam envolvidas com
Em agosto, porém, foi criada a Comissão trabalhos domésticos. A maioria delas não freqüentava a
Independente de Apoio às Investigações Relativas aos escola e muitas, segundo informações, eram
Assassinatos de Jornalistas (CIAPEAJ). Foi uma submetidas a abusos e a castigos corporais.
iniciativa conjunta do presidente do Haiti e da SOS A detenção de crianças com até 10 anos de idade em
Journalistes, uma ONG que trabalha para a proteção dos estabelecimentos penitenciários violou a legislação
direitos dos jornalistas. nacional e as normas internacionais.
Em março, o jornalista Robenson Casseus, da rádio Houve várias denúncias de abuso e de tráfico de
Nouvelle Génération, recebeu ameaças de morte crianças que estavam em orfanatos.
Informações gerais
Centenas de pessoas foram mortas em ataques a
bomba, entre elas, 66 passageiros que estavam em um
A Índia assinou a Convenção Internacional para a milícias privadas aliadas ao Partido Comunista,
Proteção de Todas as Pessoas contra os atualmente no poder. Anteriormente, 1.500 pessoas, na
Desaparecimentos Forçados, em fevereiro, e foi reeleita maioria simpatizantes do PCI, haviam sido desalojadas
para o Conselho de Direitos Humanos da ONU. de suas casas quando os apoiadores das organizações
Entretanto, o país não ratificou a Convenção contra a locais ergueram bloqueios durante as manifestações
Tortura e a Convenção Internacional sobre a Proteção contra os desalojamentos forçados.
dos Direitos de Todos os Trabalhadores Migrantes e Em Orissa, pelo menos 50 pessoas ficaram feridas
Membros de Suas Famílias. As solicitações de visitas ao nas manifestações que as organizações de agricultores
país feitas pela Relatoria Especial da ONU sobre tortura e realizaram durante todo o ano contra os desalojamentos
sobre execuções extrajudiciais continuaram pendentes. forçados, devido a um projeto de construção de uma
Os Grupos de Trabalho sobre detenções arbitrárias e fábrica de aço. Uma investigação oficial sobre os
sobre desaparecimentos forçados e involuntários assassinatos de 12 manifestantes da comunidade
também não foram convidados a visitar a Índia. adivasi, cometidos pela polícia em Kalinganagar em
2006, permaneceu suspensa. Em novembro, após uma
Direitos econômicos, sociais e culturais longa campanha dos adivasis, a Suprema Corte
Cerca de 300 milhões de pessoas, aproximadamente deliberou contra uma decisão do governo do estado que
1/4 da população, continuaram a viver na pobreza. As permitia a mineração, por parte de uma empresa
preocupações com a proteção dos direitos das multinacional, em áreas florestais preservadas de
comunidades que já eram marginalizadas aumentaram. Niyamagiri.
As disposições constitucionais em vigor foram Em julho, a polícia usou força excessiva contra
desconsideradas, uma vez que as áreas ricas em manifestantes em Badwani, Madhya Pradesh, ferindo ao
recursos demarcadas para uso exclusivo da menos 10 pessoas e detendo 92. As manifestações se
comunidade adivasi foram cedidas a várias indústrias, opunham aos desalojamentos forçados causados pelo
dentre elas a extrativa. Em geral, as comunidades projeto da represa Narmada.
I afetadas foram excluídas dos processos decisórios,
somente participando das decisões sobre Violência contra os adivasis e contra
reassentamento e reabilitação depois de serem comunidades marginalizadas
desalojadas. Apesar das leis que garantem o direito à Houve aumento da violência na região de Dantewada,
informação, as autoridades continuaram relutantes em em Chattisgarh, entre os maoístas armados e as forças
divulgar informações importantes. do estado apoiadas pela Salwa Judum, uma milícia civil
Em Nandigram, em Bengala Ocidental, milícias amplamente patrocinada pelo governo do estado. Civis,
privadas aliadas ao Partido Comunista da Índia (PCI - em sua maioria adivasis, foram atingidos pelos dois
marxista), que está no governo, entraram em confronto lados. Houve denúncias de homicídios ilegais,
com apoiadores armados de organizações locais por seqüestros, torturas e mutilações cometidos por ambas
controle de território. As autoridades não conseguiram as partes. Houve ainda casos de abuso sexual por parte
persuadir os agricultores a abandonar um bloqueio que de agentes do governo e de assassinatos após
fizeram em protesto contra a decisão de transferir um julgamentos sumários cometidos pelos maoístas. A
projeto industrial para a região. Seguiu-se uma série de grande maioria desses abusos não foi completamente
violações contra os direitos humanos, dentre elas, investigada.
homicídios ilegais, expulsões forçadas, uso excessivo da Cerca de 50 mil adivasis continuaram como
força policial, violência contra as mulheres, negação de deslocados internos da região de Dantewada. A maioria
acesso e de informações para a imprensa e para as deles morava em campos especiais. Não houve
organizações de direitos humanos, perseguição dos nenhuma tentativa real de garantir o seu retorno
defensores de direitos humanos e impedimento à justiça voluntário e houve denúncias de que partes de suas
para as vítimas das violações. terras poderiam ser oferecidas para empresas e para
Em janeiro e março, pelo menos 25 pessoas, a projetos de desenvolvimento. Há informações de que ao
maioria moradores da região, foram mortas em menos outros 10 mil adivasis deixaram a região em
Nandigram. Mais de 100 pessoas ficaram feridas e pelo direção a Andhra Pradesh.
menos 20 mulheres foram abusadas sexualmente pelas Em 15 de março, pelo menos 55 pessoas, a maioria
delas pertencentes à Salwa Judum, foram mortas em Em abril, a polícia usou força excessiva contra os
um ataque de supostos maoístas próximo a Bijapur. adivasis que protestavam contra a ameaça de expulsões
Em 31 de março, 12 adivasis foram mortos pela forçadas por parte do departamento estadual de
polícia estadual e pela Salwa Judum em Santoshpur. florestas, no distrito de Rewa, em Madhya Pradesh. Sete
Em 14 de maio, um conhecido ativista da União adivasis ficaram feridos.
Popular das Liberdades Civis, Dr. Binayak Sen, foi preso. Em julho, sete manifestantes foram mortos quando a
Ele foi acusado sob a Lei de Segurança Pública Especial polícia atirou contra os participantes de um protesto pelo
de Chhattisgarh, de 2005, e de acordo com as alterações direito à terra, em Khammam, no distrito de Andhra
nas disposições da Lei de Prevenção às Atividades Pradesh.
Ilegais, de 1967. Sua prisão motivou protestos das
organizações de direitos humanos e da comunidade Segurança e direitos humanos
médica. Persistiram as demandas por novas leis internas
Em 10 de julho, 24 integrantes de diversas forças de antiterrorismo. A Lei de Poderes Especiais das Forças
segurança e 20 supostos maoístas foram mortos em Armadas, de 1958, não foi revogada apesar do grande
ataques e contra-ataques ocorridos em Konta. número de protestos. Uttar Pradesh juntou-se à lista dos
Abusos semelhantes contra os direitos humanos foram estados com leis de controle do crime organizado que
registrados em vários outros estados, dentre eles prevêem a possibilidade de detenção arbitrária.
Karnataka, Jharkhand e Andhra Pradesh.
Em 10 de julho, cinco ativistas adivasi foram mortos Impunidade
pela polícia de Karnataka, em Adyaka, no distrito de A impunidade continuou disseminada pelo país.
Chikmagalur. Jammu e Caxemira
Em 20 de agosto, 11 mulheres adivasi foram Tanto atores estatais quanto não-estatais continuaram a
abusadas sexualmente pela polícia de Andhra Pradesh, gozar de impunidade por crimes de tortura, por mortes
em Vakpalli, no distrito de Visakhapatnam. sob custódia, por seqüestros e por assassinatos. Uma
Em 26 de outubro, maoístas armados detonaram uma organização de direitos humanos denunciou que, nos I
mina terrestre em Vidyanagar, no distrito de Nellore, últimos 18 anos, 1.051 pessoas foram vítimas de
aparentemente com intuito de atingir o ex-ministro-chefe desaparecimentos forçados somente no distrito de
(equivalente a governador) de Andhra Pradesh, N Baramulla. Organizações de direitos humanos
Janardhana Reddy, e sua esposa, N Rajyalakshmi, contestaram as declarações oficiais de que não houve
secretária de governo. Três integrantes da comitiva desaparecimentos até o dia 10 de novembro de 2007.
também foram mortos. As organizações afirmaram que 60 pessoas haviam
Em 27 de outubro, maoístas armados realizaram desaparecido desde 2006 e que nove delas
disparos durante um festival cultural em Chikhadia, desapareceram em 2007. Cinco pessoas, supostamente
matando 18 pessoas. detidas ilegalmente, foram encontradas. Foram poucos
Os ativistas que fizeram campanha pelo direito à terra ou os casos em que se iniciaram ações criminais por
por questões ambientais relacionadas às comunidades violações de direitos humanos cometidas em anos
marginalizadas foram vítimas de abusos. anteriores.
Em julho, Saroj Mohanty, escritor e ativista que se Em maio, o Tribunal Superior de Jammu e Caxemira
manifestou contra a ameaça de desalojamento de uma ordenou à polícia estadual que abrisse inquérito para
comunidade adivasi devido a um projeto industrial da apurar as acusações de assassinato contra 11 policiais
Utkal Alumina, em Kashipur, Orissa, foi detido sob da Polícia de Fronteira Indo-Tibetana, em conexão com o
acusações de roubo qualificado (dacoity), violação do desaparecimento de Ashraf Ahmad Koka, um morador
direito de propriedade e tentativa de assassinato. de Gond, em outubro de 2001.
Roma, um ativista que trabalhava com os dalits e com Gujarat
os adivasis em Mirzapur, Uttar Pradesh, foi detido em Cinco anos depois de milhares de muçulmanos serem
agosto de acordo com a Lei de Segurança Nacional. atacados e mais de dois mil serem mortos, a justiça não
As novas leis que garantem aos adivasis o direito de se cumpriu para a maioria das vítimas e sobreviventes.
acesso às terras florestais foram praticamente ignoradas, Os responsáveis pelos episódios de violência indicaram
e as comunidades foram vítimas de violência policial. aos meios de comunicação que membros do Partido
a situação dos direitos humanos no Irã. represálias, inclusive detenções arbitrárias e tortura.
O aiatolá Meshkini, presidente da Assembléia dos Defensores de direitos humanos foram
Peritos, o órgão que supervisiona a nomeação do Líder individualmente perseguidos devido ao seu trabalho;
Supremo, morreu em julho. Ele foi substituído pelo ex- alguns eram prisioneiros de consciência.
presidente do Irã, Hashemi Rafsanjani. Emaddedin Baghi, presidente da Associação para
Com a deterioração da situação econômica, cada a Defesa dos Prisioneiros e importante ativista contra a
vez mais iranianos estão vivendo na pobreza. pena de morte, foi detido em outubro após ser intimado
Em junho, houve tumultos após a introdução de um a prestar esclarecimentos sobre acusações de "pôr em
racionamento de gasolina. Uma greve de três meses risco a segurança nacional". Ao comparecerem para
dos trabalhadores da usina de cana-de-açúcar Haft pagar a fiança, seus familiares foram informados de
Tapeh, na província do Khuzistão, por causa de que ele agora deveria cumprir a pena de uma sentença
benefícios e de salários que não foram pagos, foi suspensa, imposta em 2003, por motivos como
interrompida à força pelas forças de segurança em "publicar mentiras". Em julho de 2007, outra pena de
outubro. Os funcionários da Haft Tapeh juntamente prisão que ele recebeu por "fazer propaganda favorável
com professores e com outros trabalhadores aos oponentes", por causa de seu trabalho em favor
realizaram grandes manifestações, quando várias dos árabes iranianos condenados à morte após
pessoas foram presas. julgamentos injustos, aguardava julgamento de
recurso. Em outubro, sua esposa, Fatemeh Kamali
Liberdade de expressão Ahmad Sarahi, e sua filha, Maryam Baghi, receberam
Leis redigidas de forma vaga e práticas severas sentenças de prisão de três anos com pena suspensa
resultaram na repressão generalizada a expressões por se "reunirem e conspirarem com a intenção de
pacíficas de opiniões divergentes. As manifestações prejudicar a segurança nacional", após participarem,
freqüentemente acabavam com prisões em massa e em 2004, de uma oficina de direitos humanos em
julgamentos injustos. As autoridades mantiveram Dubai. Em dezembro, ele sofreu convulsões enquanto
I restrições rigorosas de acesso à Internet. Jornalistas, estava sob custódia.
acadêmicos e internautas, alguns inclusive com dupla Mansour Ossanlu, presidente do sindicato que
nacionalidade, que mantinham blogs na Internet, representa os trabalhadores da empresa de ônibus de
foram detidos e sentenciados a penas de prisão ou Teerã e de seus subúrbios (Sharekat-e Vahed), foi
açoitamento; diversos periódicos foram fechados. detido, em julho, depois de visitar a Europa para buscar
Em abril, o ministro da Inteligência, Gholam Hossein apoio ao movimento de sindicatos independentes.
Ejei, acusou publicamente os estudantes e o Após protestos internacionais, ele recebeu tratamento
movimento das mulheres de fazerem parte de uma médico por um ferimento no olho, que teria sido
tentativa de conseguir uma "suave derrubada" do causado durante uma contenda com carcereiros
governo iraniano. quando estivera detido anteriormente. Em outubro,
Ali Farahbakhsh, jornalista, obteve uma concessão um tribunal de recursos manteve a sentença de prisão
de liberdade condicional antecipada, em outubro, após de cinco anos que havia sido imposta em fevereiro.
11 meses de detenção. Ele foi condenado por
"espionagem" e por "receber dinheiro de estrangeiros" Discriminação contra as mulheres
em conexão com sua participação em uma conferência As mulheres continuaram a enfrentar discriminação
sobre mídia na Tailândia. generalizada, tanto na lei quanto na prática. Milhares
foram presas por não seguirem o código de vestuário
Defensores de direitos humanos obrigatório.
Grupos independentes de direitos humanos e outras Ativistas que trabalhavam para a Campanha pela
organizações não-governamentais continuaram Igualdade, que visava a coletar um milhão de
enfrentando longas demoras, geralmente durante assinaturas no Irã, pedindo que se acabasse com a
anos, para obter registro oficial, o que os colocava em discriminação legalizada contra as mulheres, foram
risco de serem fechados por estarem operando presas e sofreram hostilidades. Em agosto, Nasim
ilegalmente. Estudantes que fizeram campanha por Sarabandi e Fatemeh Dehdashti foram sentenciadas
maior respeito aos direitos humanos enfrentaram a seis meses de prisão, com pena suspensa por dois
anos, por "agirem contra a segurança nacional através lhe foi negado acesso a um advogado. Sua família
da divulgação de propaganda contrária ao sistema". afirmou que as autoridades responsáveis pela prisão
Elas foram as primeiras pessoas a serem julgadas e Evin se recusaram a permitir que lhe entregassem os
sentenciadas por coletar assinaturas. No final do ano, remédios de que ele necessitava para tratar de
quatro ativistas da campanha permaneciam detidas doenças cardíacas e hematológicas, colocando sua
sem acusação nem julgamento: Ronak Safarzadeh e vida em risco.
Hana Abdi, duas mulheres curdas que foram detidas, Azeris (azerbaijanos)
respectivamente, em outubro e novembro, em Centenas de ativistas iranianos azeris foram presos
Sanandaj; e Maryam Hosseinkhah e Jelveh Javaheri, por causa de uma manifestação pacífica realizada no
detidas em Teerã, em conexão com seu trabalho de Dia Internacional da Língua Materna, 21 de fevereiro.
edição do site da campanha. As autoridades Os manifestantes pediam que sua própria língua fosse
persistentemente filtravam o site (controlavam seu usada nas escolas e em outras instituições de ensino
conteúdo), dificultando o acesso. em regiões do noroeste iraniano onde mora a maioria
A defensora dos direitos das mulheres Delaram Ali, dos iranianos azeris.
presa em junho de 2006 depois de uma manifestação O prisioneiro de consciência Saleh Kamrani,
pacífica pedindo maior respeito aos direitos das advogado e defensor dos direitos humanos, ficou
mulheres, teve sua sentença de prisão de 30 meses detido na prisão Evin entre os meses de agosto e
adiada provisoriamente após a realização de uma dezembro. Em setembro de 2006, ele havia sido
campanha local e internacional. Em março, 33 sentenciado a um ano de prisão – com pena suspensa
mulheres ativistas foram presas em frente ao Tribunal por cinco anos – por "divulgar propaganda contra o
Revolucionário de Teerã durante um protesto contra o sistema". Não ficou claro se sua prisão estava
julgamento de cinco mulheres acusadas em conexão relacionada a essa sentença.
com a manifestação de junho de 2006. Todas foram Balúchis
soltas, mas algumas delas irão a julgamento. O grupo armado balúchi Jondallah realizou ataques
contra servidores iranianos, inclusive a explosão de I
Repressão das minorias um ônibus que conduzia oficiais da Guarda
Prosseguiu a repressão às minorias étnicas do Irã, Revolucionária, no mês de fevereiro. O grupo também
que mantiveram sua campanha por um maior tomou reféns, dos quais ao menos um foi morto.
reconhecimento de seus direitos culturais e políticos. Nasrollah Shanbeh-zehi foi preso após o atentado
Árabes contra o ônibus. Cinco dias mais tarde, ele foi
Pelo menos oito árabes iranianos (ahwazis) foram executado publicamente depois de um julgamento
executados após serem condenados em conexão com sumário.
os atentados a bomba ocorridos em 2005 no Yaqub Mehrnehad, presidente da Sociedade da
Khuzistão. Acredita-se que ao menos outros 17 árabes Juventude Voz da Justiça, uma organização não-
iranianos aguardem execução após julgamentos governamental reconhecida, foi detido em Zahedan,
injustos relativos ao atentado. Várias dezenas, e no mês de abril, inicialmente pelo Ministério da
possivelmente centenas, de árabes iranianos teriam Inteligência, após uma reunião na secretaria provincial
sido presos no mês de abril, às vésperas do aniversário do Ministério da Cultura e Orientação Islâmica, na qual
dos distúrbios ocorridos em 2005. Os tumultos estaria presente o governador de Zahedan. Até o final
aconteceram em protesto a uma carta que teria sido do ano, ele permanecia na prisão de Zahedan sem ter
escrita por um conselheiro presidencial, o qual negou acesso a um advogado. Ele pode ter sido torturado.
sua autenticidade, expondo uma série de políticas Em maio, a polícia matou a tiros Roya Sarani, uma
voltadas à redução da população árabe do Khuzistão. menina balúchi de 11 anos, quando ela voltava de
Em abril, o jornalista Mohammad Hassan Fallahiya carro com seu pai da escola para casa, em Zahedan.
foi sentenciado a três anos de prisão com trabalhos Segundo informações, as autoridades pressionaram
forçados, por escrever artigos que criticavam o governo sua família para que fizesse um funeral discreto.
e por, supostamente, ter feito contato com grupos Acredita-se que não tenha havido nenhuma
oposicionistas baseados fora do Irã. Ele foi detido em investigação sobre sua morte.
novembro de 2006 e, durante todo o processo judicial,
vilarejos próximos à fronteira com a Síria, habitados iraquiana, 13 civis foram mortos, entre os quais duas
principalmente por membros da seita minoritária crianças, e vários outros foram feridos. Um militar dos
yazidi. Entre as vítimas estavam muitas crianças. EUA declarou que um comitê estava examinando o
No dia 28 de outubro, Shehab Mohammad al-Hiti, incidente.
sunita e editor do jornal semanal Baghdad al-Youm, foi Em agosto, um soldado dos EUA foi condenado a
seqüestrado em Al-Jamia, Bagdá. Posteriormente, ele 110 anos de prisão, com direito a liberdade
foi encontrado morto a tiros. condicional, pelo estupro seguido da morte de ‘Abeer
Qasim Hamza al-Janabi, uma menina de 14 anos, e
Matanças por parte das forças de pelo assassinato de três membros da família da jovem,
segurança iraquianas em Mahmoudiya, em março de 2006. Um tribunal
As forças de segurança iraquianas mataram civis de militar em Kentucky (EUA) considerou o soldado
modo ilegal. Em alguns casos, apesar de terem sido culpado de "estupro, conspiração para cometimento
anunciadas investigações, seus resultados não foram de estupro, violação de domicílio com a intenção de
divulgados. cometer estupro, e quatro acusações de homicídio
No dia 27 de março, atiradores vestindo uniformes qualificado". Dois outros solados, que já haviam
da polícia mataram 70 árabes sunitas na cidade de admitido ter estuprado a menina, receberam penas de
população mista Tal-'Afar, próxima a Mosul, prisão perpétua no mês de fevereiro.
aparentemente em represália a um ataque suicida
cometido por um insurgente sunita em um bairro xiita Prisões e detenções arbitrárias
da cidade. Segundo informações, os sobreviventes A força multinacional e as forças de segurança
relataram que os atiradores arrastaram os homens de iraquianas mantinham presas 60 mil pessoas,
suas casas, algemaram-nos, vendaram seus olhos e, conforme estimativas de novembro do Comitê
então, os fuzilaram com grande quantidade de tiros. Internacional da Cruz Vermelha (CICV). A maioria
Dois dias depois, o governo reconheceu que a polícia encontrava-se detida indefinidamente, sem acusação
havia sido responsável pela matança e, segundo ou julgamento, na condição de “detentos de I
informações, 13 policiais teriam sido detidos segurança”. Em outubro, o comandante de
brevemente. Não ficou claro se algum deles foi levado à operações para detentos da força multinacional disse
Justiça. que a força mantinha cerca de 25 detentos no campo
Bucca, na região sul, nos campos Victory e Cropper,
Matanças e outras violações cometidas próximos ao Aeroporto Internacional de Bagdá, e em
pela força multinacional mais outros locais. Entre os detentos estavam 840
As forças dos EUA cometeram graves violações de menores e 280 estrangeiros, a maioria de países
direitos humanos, como homicídios ilegais de civis, árabes. Logo após a declaração, a força multinacional
prisões arbitrárias, destruição de propriedade e começou a libertar os detentos. Em dezembro,
buscas domiciliares violentas. Um número reduzido milhares de detentos haviam sido soltos com a
de soldados dos EUA e do Reino Unido foi julgado e condição de não representarem uma ameaça à
condenado por violações de direitos humanos segurança e de suas famílias oferecerem garantia de
cometidas em anos anteriores. que teriam boa conduta.
Em 28 de setembro, as forças dos EUA lançaram um
ataque aéreo noturno que tinha como alvo um edifício Tortura e outros maus-tratos
localizado em um bairro majoritariamente sunita de Foram corriqueiros os relatos de tortura e de outros
Saha, no sudoeste de Bagdá. Pelo menos 10 homens, maus-tratos de detentos, inclusive de menores, pelas
mulheres e crianças foram mortos. forças de segurança iraquianas, sobretudo do
Em 21 de outubro, após violentos confrontos entre Ministério do Interior. Milhares de prisioneiros foram
as forças dos EUA e atiradores do exército Mahdi, em mantidos nas prisões extremamente superlotadas
Sadr City, em Bagdá, as forças dos EUA usaram administradas por iraquianos, nas delegacias de
helicópteros para, segundo informações, atingir um polícia e nos campos de detenção, sendo que muitos
homem suspeito de ter seqüestrado soldados da força deles não tinham acesso a advogado, situação que
multinacional. Durante o ataque, segundo a polícia facilita a ocorrência de tortura. Em maio, ex-detentos
de uma unidade prisional no bairro majoritariamente Hussain Jihad Hassan, ‘Abdel-Qader Qasim Jameel,
xiita de Kadhimiya, em Bagdá, relataram a um Mostafa Mahmoud Isma’il, Qais Habib Aslem e Islam
funcionário da ONU que eles haviam sido submetidos Mostafa ‘Abdel-Sattar – foram condenados à morte
a "espancamentos freqüentes, suspensão pelos pelo TPCI, por seqüestro e morte de um homem no
membros durante longos períodos de tempo, distrito de Adhamiya, em Bagdá. Não se sabia se eles
aplicação de choques elétricos em partes sensíveis do haviam sido executados.
corpo e ameaças de maus-tratos a familiares
próximos". Como já havia acontecido em anos Abusos cometidos por seguranças e por
anteriores, o governo anunciou que conduziria militares privados
investigações sobre denúncias específicas de abusos Guardas armados de origem estrangeira empregados
cometidos pelas forças de segurança iraquianas, mas por empresas militares e de segurança privadas
não tornou público o resultado dessas investigações, mataram civis. As empresas de segurança contavam
aumentando as preocupações de que houve com imunidade jurídica, segundo a Ordem 17,
impunidade generalizada. expedida em 2004 por Paul Bremer, então chefe da
No dia 4 de março, tropas britânicas e iraquianas Autoridade Provisória da Coalizão. No entanto, após
encontraram cerca de 30 prisioneiros, inclusive alguns um grave incidente ocorrido em setembro,
que apresentavam sinais de tortura, quando invadiram envolvendo a empresa Blackwater, com sede nos
a sede de um órgão de inteligência do governo em EUA, o governo iraquiano apresentou um projeto de
Basra. lei que revogaria a Ordem 17.
Em outubro, a Associação dos Prisioneiros por No dia 16 de setembro, 17 civis iraquianos foram
Justiça, uma ONG iraquiana de direitos humanos, mortos e 27 foram feridos, quando seguranças da
afirmou ter entrevistado cinco adolescentes entre 13 e Blackwater dispararam contra civis em um
17 anos torturados pelas forças de segurança movimentado cruzamento do bairro Al Mansour, em
iraquianas, que suspeitavam que esses jovens Bagdá. A empresa afirmou que seus seguranças
I prestassem auxílio a insurgentes e a milícias. atiraram em legítima defesa. Porém, testemunhas e o
governo iraquiano afirmaram que os seguranças
Pena de morte iniciaram os disparos. Tanto as autoridades iraquianas
A pena de morte foi utilizada extensivamente, apesar quanto o Departamento de Estado dos EUA
de o ministro de Direitos Humanos ter afirmado ao anunciaram estar conduzindo investigações e, em
Conselho de Direitos Humanos da ONU, em março, novembro, o Birô Federal de Investigação dos EUA
que o governo estava trabalhando pela abolição da (FBI) concluiu que o tiroteio havia sido injustificado. A
pena capital. empresa declarou que, se algum de seus seguranças
Ao menos 199 homens e mulheres foram fosse culpado de má conduta, eles seriam
condenados à morte, e ao menos 33 prisioneiros responsabilizados. O governo iraquiano exigiu que a
foram executados. A maioria das sentenças de morte Blackwater pagasse 8 milhões de dólares em
foi proferida depois de julgamentos injustos compensação para cada uma das famílias das 17
conduzidos pelo Tribunal Penal Central do Iraque pessoas mortas.
(TPCI). Os réus queixaram-se de que confissões
extraídas sob tortura foram usadas como prova contra Violência contra as mulheres
eles, e de que não podiam escolher seu próprio Houve um aumento da violência contra as mulheres.
advogado. Muitas tiveram de deixar seus empregos após
Em fevereiro, o Tribunal de Cassação manteve as receberem ameaças de morte, ou tiveram de buscar
sentenças de morte por homicídio qualificado refúgio no exterior. Em Basra, cerca de 42 mulheres
proferidas contra duas mulheres. Samar Sa’ad teriam sido mortas, entre julho e setembro, por
‘Abdullah e Wassan Talib foram condenadas à morte, grupos armados xiitas que disputavam o controle da
respectivamente, pelo Tribunal Penal de Karkh, em área. Na maioria das províncias, cada vez mais as
agosto de 2005, e pelo TPCI, em Bagdá, em agosto de mulheres eram ameaçadas por homens armados
2006. caso não seguissem um rígido código de vestuário.
Em maio, seis homens – Moazzea Abdul-Khazal, Segundo informações, a violência doméstica e os
detidos nos anos anteriores, continuavam presos no israelenses libertaram cerca de 770 prisioneiros
fim de 2007. Mais de 900 estavam sendo mantidos palestinos: a maioria membros do partido Fatah,
em detenção administrativa sem acusação nem do presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud
julgamento – alguns deles desde 2002. Entre os Abbas. Em um acordo firmado em outubro no
detidos estavam vários ex-ministros do governo da Líbano com o Hizbollah, as autoridades israelenses
Autoridade Palestina liderado pelo Hamas, bem libertaram um libanês que sofria de transtornos
como parlamentares e prefeitos do partido que, mentais, capturado pelas forças israelenses no
aparentemente, estavam sendo detidos para Líbano e levado para Israel em agosto de 2006.
pressionar o Hamas a libertar Gilad Shalit, um Devolveram, ainda, os corpos de dois guerrilheiros
soldado israelense capturado em 2006, que libaneses do Hizbollah, em troca do corpo de um
continuava a ser mantido em Gaza pelos braços israelense que havia se afogado e cujo corpo fora
armados do Hamas e pelos Comitês de Resistência levado pela água para a costa libanesa alguns anos
Popular. atrás. As autoridades israelenses continuaram
Quase todos os detentos palestinos continuaram recusando-se a entregar às famílias os corpos de
sendo mantidos em cadeias dentro de Israel, em centenas de palestinos mortos nos ataques e
violação ao direito internacional humanitário, que confrontos com as forças de Israel em anos
proíbe a remoção de detentos para o território da anteriores.
potência ocupante. Impunidade por ataques contra os palestinos
Em outubro, após um pedido de habeas corpus Soldados israelenses e outros integrantes das forças
feito por uma organização de direitos humanos, o de segurança, bem como os colonos israelenses,
Supremo Tribunal determinou que o Exército e a continuaram a desfrutar de impunidade pelos
administração da prisão explicassem por que as abusos de direitos humanos cometidos contra os
transferências dos detentos palestinos de um local palestinos, como homicídios ilegais, tortura e outros
de detenção para outro muitas vezes não eram maus-tratos, agressões físicas e ataques contra suas
I registradas. O caso continuava pendente no final do propriedades. As investigações e os processos
ano. referentes a tais abusos foram raros, geralmente
Negação de visitas familiares limitando-se aos casos divulgados por organizações
As autoridades israelenses freqüentemente negaram de direitos humanos e pela imprensa. São poucas as
permissões de visitas aos familiares de detentos investigações iniciadas sobre esses abusos das
palestinos por motivos de “segurança” não quais se tem conhecimento. A maioria é encerrada
especificados. A proibição muitas vezes parecia por “falta de provas”. Nos raros casos em que
arbitrária, e os mesmos familiares recebiam soldados ou colonos foram condenados por abusos
permissão de visitas em algumas ocasiões, mas não cometidos contra palestinos, eles foram tratados
em outras. Muitos pais, esposas e filhos de detentos com relativa indulgência, e não se sabe de nenhum
não obtiveram permissão para visitar seus familiares integrante do Serviço de Segurança Geral (a agência
por mais de quatro anos. Em junho, as autoridades de inteligência israelense) processado por torturar
israelenses suspenderam todas as visitas familiares palestinos.
a cerca de 900 detentos da Faixa de Gaza. A
suspensão continuou a vigorar no resto do ano. Tortura e outros maus-tratos
Nenhum israelense que cumpria pena de prisão foi Os detentos eram freqüentemente mantidos
submetido a tais restrições. incomunicáveis por um longo período, sendo
Julgamentos injustos em tribunais militares interrogados e sem ter acesso a seus advogados até
Os julgamentos de palestinos nos tribunais militares mesmo durante várias semanas. As denúncias de
israelenses geralmente não observavam as normas tortura e de outros maus-tratos eram muito comuns
internacionais de imparcialidade, e não houve durante esse período. Os métodos relatados
investigações confiáveis sobre denúncias de tortura incluíam espancamentos, períodos prolongados com
e de outros maus-tratos infligidos aos detentos. a pessoa amarrada em posições dolorosas,
Libertação de prisioneiros impedimento do uso do banheiro e ameaças de
Em julho, outubro e dezembro, as autoridades causar mal aos familiares dos detentos. Em alguns
casos, pais, esposas, irmãos e irmãs dos detentos retornar a Gaza em agosto, mas um grande número
eram intimados e forçados a aparecer diante dos permanecia retido no fim do ano e milhares de
detentos vestindo o uniforme da prisão para fazê-los estudantes e trabalhadores não podiam deixar Gaza
pensar que seus familiares também estavam presos para retornar a suas escolas e locais de trabalho no
e sendo maltratados. exterior. Exceto em alguns casos urgentes, até
Em outubro, após o requerimento de uma mesmo pacientes que necessitavam de cuidados
organização de direitos humanos, o Supremo médicos não disponíveis em Gaza não tiveram
Tribunal emitiu uma decisão provisória permissão para deixar a área, e mais de 40 pessoas
determinando que as autoridades informassem aos acabaram morrendo em conseqüência disso.
palestinos mantidos em um centro de detenção na O bloqueio causou uma deterioração acentuada
Cisjordânia que o novo regulamento permita que na já terrível situação humanitária em Gaza. As
usassem o banheiro livremente. Em março, após o poucas fábricas que continuavam a funcionar,
requerimento de uma organização de direitos apesar das restrições impostas nos anos anteriores,
humanos, o Supremo Tribunal determinou que o foram forçadas a fechar, pois não podiam importar
Serviço de Segurança Geral informasse Mohammed matérias-primas e nem exportar os produtos
Sweiti, um detento que havia sido mantido fabricados. Grandes quantidades de flores e de
incomunicável por cinco semanas, que sua esposa outros produtos agrícolas foram perdidos porque
não se encontrava detida. Mohammed Sweiti havia não puderam ser exportados. Houve escassez de
iniciado uma greve de fome e tentado suicídio após carne, de laticínios e de outros gêneros alimentícios
ver sua esposa e seu pai vestidos com o uniforme da básicos, bem como de diversos outros produtos,
prisão e ser levado a acreditar que eles estavam como papel, lápis, roupas, medicamentos e peças
sofrendo maus-tratos. de reserva para equipamentos hospitalares. A
pobreza extrema, a desnutrição e outros problemas
Bloqueios e outras restrições de saúde aumentaram. Oitenta por cento da
Mais de 550 barreiras e postos de controle do população foi forçada a depender de ajuda I
Exército israelense restringiram ou impediram a internacional; porém, as agências assistenciais da
circulação dos palestinos entre as cidades e vilarejos ONU e as organizações humanitárias também foram
da Cisjordânia. As autoridades israelenses prejudicadas tanto pelas restrições quanto por
continuaram a expandir os assentamentos ilegais na aumentos nos custos operacionais decorrentes
Cisjordânia ocupada e a construir uma cerca/muro dessa situação.
de 700 km, 80 por cento do qual passa por dentro
da Cisjordânia. Com este propósito, grandes áreas Destruição de casas
de terras palestinas foram confiscadas ou se As forças israelenses demoliram mais de 100 casas
tornaram inacessíveis aos palestinos, privando-os de palestinas em toda a Cisjordânia, inclusive em
seus meios de subsistência e restringindo seu Jerusalém Oriental, devido à falta de licenças para
acesso aos seus locais de trabalho, às escolas, aos construção – que eram sistematicamente negadas
serviços de saúde e a outros serviços necessários. aos palestinos que moravam nessas áreas dos TPO.
Os palestinos foram impedidos de circular e tiveram As demolições deixaram centenas de palestinos
seu acesso limitado em mais de 300 km de estradas desabrigados.
na Cisjordânia, as quais eram utilizadas sobretudo Em agosto, as forças israelenses destruíram várias
pelos colonos israelenses. casas e currais de animais em Humsa, um pequeno
Em junho, as autoridades israelenses reforçaram vilarejo da Cisjordânia situado na área do Vale do
ainda mais o bloqueio imposto anteriormente à Jordão. As famílias de Abdallah Hsein Bisharat e de
Faixa de Gaza, em um nível sem precedentes. Elas Ahmad Abdallah Bani Odeh, que totalizavam cerca
fecharam a fronteira com o Egito, que é o único de 40 pessoas, a maioria delas crianças, ficaram
ponto de saída e de entrada para os moradores de desabrigadas. O Exército também confiscou os
Gaza, e o terminal comercial de Karni. Milhares de tanques de água e o trator que pertenciam aos
palestinos ficaram retidos durante meses no lado residentes do vilarejo. Os moradores já haviam sido
egípcio da fronteira. A maioria teve permissão para forçados a se mudar do povoado vizinho de Hadidiya
cidadãos estadunidenses suspeitos de envolvimento com o Comitê contra a Tortura da ONU recomendou que a
as transferências extrajudiciais. Até o final do ano, o Itália acatasse integralmente o Artigo 3º da Convenção
ministro da Justiça não havia enviado às autoridades dos contra a Tortura referente aos procedimentos de
EUA os pedidos de extradição dos 26 cidadãos devolução (refoulement). O Comitê manifestou particular
estadunidenses, a maioria dos quais se acreditava serem preocupação com relação à Lei Pisanu.
agentes da CIA (Agência Central de Inteligência dos No dia 4 de janeiro, Cherif Foued Ben Fitouri foi expulso
Estados Unidos). da Itália para a Tunísia com base nas disposições da Lei
Em abril, o Tribunal Constitucional declarou admissível Pisanu. Segundo a ordem de expulsão, ele foi removido da
uma apelação sobre "conflito de poderes" feita pelo Itália por ter relações com pessoas envolvidas com grupos
governo italiano. O governo alegou que o Judiciário havia islâmicos que, supostamente, estariam planejando atos
assumido poderes que não lhe seriam terroristas. Na Tunísia, ele foi mantido em prisão solitária
constitucionalmente permitidos ao reunir algumas das nas dependências do Ministério do Interior. No dia 16 de
provas usadas nos processos contra os acusados de janeiro, ele foi transferido a uma prisão sob jurisdição
responsabilidade pela transferência extrajudicial de Abu militar. De acordo com os informes recebidos pela Anistia
Omar. No dia 18 de junho, o julgamento foi suspenso Internacional, ele foi submetido a tortura e a outros maus-
enquanto se aguardava o resultado de uma reapreciação tratos enquanto esteve detido na Tunísia, onde permanecia
do Tribunal Constitucional. O julgamento continuou detido até o final do ano.
suspenso até o final do ano. No dia 29 de maio, as autoridades italianas requisitaram
Em fevereiro, o Parlamento Europeu condenou a ao governo tunisiano que povidenciasse garantias
transferência extraordinária do cidadão italiano Abou diplomáticas de que se Nassim Saadi fosse deportado da
Elkassim Britel em uma resolução sobre a denúncia de Itália para a Tunísia ele não seria submetido a tratamento
utilização de países europeus pela CIA para fins de contrário ao Artigo 3º (proibição da tortura e de tratamento
transporte e detenção ilegal de prisioneiros. Abou Elkassim desumano ou degradante) da Convenção Européia de
Britel foi preso no Paquistão, em março de 2002, pela Direitos Humanos. No dia 8 de agosto de 2006, o ministro
polícia paquistanesa. Foi interrogado por agentes do Interior havia ordenado a deportação de Nassim Saadi I
estadunidenses e paquistaneses e, depois disso, entregue para a Tunísia. No dia 14 de setembro de 2006, Nassim
extrajudicialmente às autoridades marroquinas. O lançou um apelo à Corte Européia de Direitos Humanos
Ministério do Interior da Itália teria cooperado com serviços para que suspendesse sua expulsão. A Corte emitiu uma
secretos estrangeiros no caso de Abou Elkassim Britel medida provisória e a expulsão foi suspensa até segunda
depois que ele foi detido no Paquistão. ordem.
tarde, reapareceram; os registros de ligações telefônicas tortura abrangendo todos os elementos contidos no Artigo
feitas para serviços de emergência na noite de sua morte 1º da Convenção. O CAT recomendou ainda que todos os
foram adulterados. funcionários responsáveis pela aplicação da lei fossem
No dia 4 de abril, segundo informações, agentes de adequadamente equipados e treinados para empregar
aplicação da lei utilizaram força excessiva para conter um meios não-violentos e para somente recorrerem ao uso
confronto potencialmente violento entre torcedores do AS da força e de armas de fogo quando estritamente
Roma e do Manchester United durante um jogo de futebol necessário e de modo proporcional. O CAT fez
no Estádio Olímpico de Roma. Imagens do incidente e observações quanto às constantes denúncias de uso
depoimentos de testemunhas prestados à Anistia excessivo da força e de maus-tratos praticados por
Internacional mostraram que entre 60 e 100 policiais funcionários responsáveis pelo cumprimento da lei. Com
italianos entraram na área do estádio onde se encontrava a relação à responsabilização dos agentes de aplicação da
torcida do Manchester e espancaram violentamente os lei envolvidos com atos de violência desproporcionais e
torcedores com cassetetes. Várias das vítimas afirmaram desnecessários, o CAT recomendou que a Itália
que os policiais os golpeavam repetidamente enquanto "reforçasse medidas que garantam investigações
eles estavam deitados no chão, e que os golpes eram imediatas, imparciais e eficazes sobre todas as denúncias
dados por trás, na cabeça ou nas costas. Algumas das de tortura e de maus-tratos cometidos por funcionários
pessoas agredidas ainda não haviam se recuperado dos responsáveis pela aplicação da lei".
ferimentos no final do ano, enquanto outras tomaram
conhecimento de que ficariam parcialmente incapacitadas Direitos de imigrantes e refugiados
pelo resto de suas vidas. A Itália ainda não possuía uma legislação de asilo
Julgamentos do G8 específica e abrangente, ajustada à Convenção da
Prosseguiram os julgamentos dos agentes de aplicação ONU relativa ao Estatuto dos Refugiados.
da lei envolvidos no policiamento da reunião de cúpula Um projeto de lei governamental, aprovado pelo
do G8, ocorrida em Gênova, em 2001. Estima-se que Conselho de Ministros no dia 24 de abril, continha
I mais de 200 mil pessoas participaram das manifestações novas propostas referentes à detenção de imigrantes.
antiglobalização nas ruas de Gênova durante o encontro O projeto propunha diretrizes para reformar a lei
realizado em 2001 e nos dias que o precederam. única de imigração (Testo Unico Immigrazione,
No dia 17 de janeiro, foi revelado que provas cruciais, 286/98 - conhecida como Lei Turco-Napolitano),
obtidas durante uma audiência do julgamento de 29 modificada pela Lei 189/02 (conhecida como Lei
policiais acusados, entre outras coisas, de violência e de Bossi-Fini). Essas diretrizes incluíam regras relativas a
fabricação de provas com relação à invasão do prédio da menores desacompanhados, a detenção e a
escola Diaz, haviam desaparecido. A delegacia de polícia deportação. O Ministério do Interior expediu uma
(questura) de Gênova declarou que as provas podem ter diretiva requisitando que todos os prefettos
sido "destruídas por engano". permitissem o aceso do ACNUR, de "organizações
Em maio, foi proferida a primeira sentença referente aos humanitárias e internacionais", de ONGs locais e de
eventos do encontro do G8. O Ministério do Interior foi jornalistas aos estabelecimentos que abrigassem
condenado a pagar indenizações de 5 mil euros a Marina requerentes de asilo e imigrantes irregulares.
Spaccini e de 18 mil euros a Simona Zabetta Coda, que Em suas Observações Finais de 18 de maio, o CAT
foram espancadas por policiais em Gênova. afirmou que a Itália deveria adotar medidas efetivas
Em março, a Corte Européia de Direitos Humanos para garantir que a detenção de requerentes de asilo
declarou admissível a demanda apresentada no caso de e de outros não-cidadãos fosse usada em
Carlo Giuliani, morto com um tiro de um agente policial circunstâncias excepcionais ou como último recurso,
durante o encontro do G8. e pelo menor tempo possível. O Comitê afirmou ainda
que a Itália deveria assegurar que os tribunais
Comitê contra a Tortura da ONU conduzissem uma revisão judicial mais eficaz acerca
No dia 18 de maio, o Comitê contra a Tortura (CAT) da detenção desses grupos.
publicou suas Observações Finais sobre a Itália. O CAT
recomendou que a Itália incorporasse o crime de tortura Discriminação - ciganos
à sua legislação doméstica e adotasse uma definição de No dia 2 de novembro, entrou em vigor um decreto-lei de
chamou atenção para a falta de um sistema dos Estados Unidos aprovou a Resolução 121. Em
independente para monitorar a custódia policial e de novembro, os parlamentos holandês e canadense
um sistema efetivo para receber denúncias. aprovaram moções como esta por unanimidade, e o
Em novembro, o tribunal do distrito de Osaka não Parlamento Europeu adotou uma resolução em 13 de
aceitou uma confissão obtida durante os dezembro.
procedimentos investigatórios devido à suspeita,
baseada na gravação digital do interrogatório, de que a Visitas e relatórios da Al
confissão fora forçada. Esta foi a primeira vez que um Representantes da Anistia Internacional visitaram o Japão em
suspeito é absolvido em um julgamento devido a uma setembro.
gravação digital. Open letter to the Minister of Justice of Japan, the Hon. Nagase Jinen:
Detention of minors seeking asylum in Japan (ASA 22/002/2007)
Refugiados e imigração
Um total de 816 solicitantes requisitaram a condição
de refugiados em 2007 – 500 dos quais de Mianmar.
O status de refugiado foi concedido a 41 indivíduos,
entre os quais 25 cidadãos de Mianmar e três do Irã.
O CAT concluiu que a Lei de Controle de Imigração
MÉXICO
e Reconhecimento de Refugiados, que foi emendada,
ESTADOS UNIDOS MEXICANOS
não proibia expressamente a deportação para países Chefe de Estado e de governo: Felipe Calderón Hinojosa
onde houvesse risco de tortura. Não havia nenhum Pena de morte: abolicionista para todos os crimes
órgão independente para avaliar os pedidos de Tribunal Penal Internacional: ratificado
reconhecimento dos refugiados, nem os locais de População: 109,6 milhões
detenção. Também não havia nenhum sistema Expectativa de vida: 75,6 anos
Mortalidade de crianças até 5 anos (m/f): 22/18 por mil
independente de denúncias para averiguar alegações
Taxa de alfabetização: 91,6 por cento
de violência cometidas por funcionários contra os
requerentes de asilo detidos, que continuaram a
sofrer com a falta de acesso a cuidados médicos
adequados. Os requerentes de asilo foram mantidos Violações de direitos humanos continuaram a ocorrer
em custódia por tempo excessivo entre o momento da em todo o país e em alguns estados foram
negativa do pedido de asilo e a deportação. Menores sistemáticas. A maioria dos responsáveis pelas
M
de idade ficaram detidos por períodos prolongados e violações continuou a esquivar-se da justiça.
corriam risco de serem deportados sem seus pais e A polícia usou força excessiva para dispersar
sem aviso prévio. manifestantes em várias ocasiões, ferindo vários
A coleta de impressões digitais e de fotografias de deles. Abusos contínuos contra os direitos humanos
todos os estrangeiros maiores de 16 anos que entram foram reportados no estado de Oaxaca.Militares que
no Japão, inclusive dos residentes permanentes, e os exerciam funções de polícia mataram várias pessoas
procedimentos de deportação acelerada de qualquer e cometeram outras graves violações contra os
pessoa considerada um “possível terrorista” pelo direitos humanos. O governo também falhou em
ministro da Justiça, entraram em vigor a partir de levar à Justiça os responsáveis pelas graves violações
outubro. Essas medidas foram associadas a uma lista dos direitos humanos cometidas em décadas
de interdição de acesso sem nenhum mecanismo anteriores.
que permitisse contestar a inclusão de nomes na Jornalistas e defensores de direitos humanos foram
lista. mortos e ameaçados. Em vários estados, as
autoridades fizeram mau uso do sistema de justiça,
Violência contra a mulher submetendo ativistas políticos e sociais a processos
Os parlamentos do mundo todo adotaram resoluções injustos.
que pediam justiça para os sobreviventes do sistema Comunidades indígenas e outros grupos
de escravidão sexual imposto pelo Japão durante a II desprotegidos, tais como os imigrantes, continuaram
Guerra Mundial. Em julho, a Câmara dos Deputados a sofrer discriminação. A falta de acesso a serviços
básicos e a falta de participação nos projetos de de um inquérito especial determinado pela Suprema
desenvolvimento aumentaram as desigualdades e Corte sobre o caso de Lydia Cacho. O inquérito
resultaram em conflito. Freqüentemente, as concluiu que o governador do estado de Puebla e
comunidades prejudicadas tiveram seu devido outras autoridades de alto escalão foram responsáveis
acesso à Justiça negado. pelo mau uso do sistema de justiça, que resultou na
Mesmo com reformas legais positivas, a violência detenção, em maus-tratos e num processo judicial
contra a mulher continuou a ocorrer por todo o país e injusto contra a jornalista por ela ter publicado um
a maioria das mulheres que sobreviveram à violência livro sobre abusos contra crianças e redes de
não puderam ter acesso à Justiça. pornografia. Contudo, a maioria dos juízes da Corte
recusou-se a endossar as conclusões.
Informações gerais Os resultados de dois outros inquéritos especiais
O Presidente Calderón comprometeu-se a combater o determinados pela Suprema Corte de Justiça sobre
crime organizado, que teria sido responsável por mais abusos cometidos nos estados de San Salvador
de 2.500 mortes durante o ano de 2007. Atenco e Oaxaca estavam pendentes no fim do ano.
Em outubro, os governos do México e dos Estados Direitos reprodutivos
Unidos anunciaram a Iniciativa Mérida, um programa A Assembléia Legislativa do Distrito Federal
de cooperação em segurança regional. Os Estados descriminalizou os abortos feitos no primeiro trimestre
Unidos ofereceram 1,4 bilhão de dólares ao México e e disponibilizou serviços para a realização de abortos
à América Central, durante três anos, para financiar na cidade do México. A Procuradoria Geral da
os gastos com segurança e com justiça criminal. No República e a Comissão Nacional de Direitos
fim de 2007, o Congresso dos EUA continuou a Humanos apresentaram à Suprema Corte suas
discutir a proposta e seu impacto potencial sobre os objeções quanto à constitucionalidade dessas
direitos humanos e a segurança. reformas, as quais estavam pendentes no fim do ano.
Acesso das Mulheres a uma Vida Livre de Violência. locais em 2006. Houve sérias preocupações com a
Nove estados adotaram reformas legais semelhantes. imparcialidade do julgamento e da sentença.
Há informações de que mais de 25 mulheres
foram assassinadas em Ciudad Juarez em 2007. As Defensores de direitos humanos
autoridades continuaram não levando à Justiça os Os defensores dos direitos humanos continuaram a
responsáveis por muitos crimes de violência ser vítimas de ataques, ameaças, perseguições e de
cometidos contra mulheres no estado de Chihuahua acusações criminais infundadas em muitos estados,
em anos anteriores. Em outros estados, como no aparentemente como forma de retaliação ao seu
estado do México, havia denúncias de que a trabalho.
impunidade e o número de mulheres assassinadas Em maio, Aldo Zamora, membro de uma família de
eram ainda maiores. ativistas ambientais que faziam campanha contra o
desmatamento ilegal no município de Ocuilán, no
Sistema judiciário - detenção arbitrária e estado do México, foi morto a tiros. Seu pai havia
julgamentos injustos denunciado várias vezes junto às autoridades que sua
O sistema judiciário criminal continuou a ser usado família estava recebendo ameaças de morte feitas, mas
em alguns estados para processar ativistas sociais e nada foi feito para protegê-los. Dois suspeitos foram
opositores políticos. Eles foram submetidos a longos presos em agosto e outros dois continuavam livres no
períodos de detenção arbitrária e a procedimentos fim do ano.
legais injustos. Apesar de, em muitos casos, serem Em abril, o defensor dos direitos dos imigrantes,
expedidas ordens judiciais federais favoráveis, os Santiago Rafael Cruz, foi espancado até a morte no
tribunais de justiça dos estados freqüentemente escritório do Fórum Sindical dos Trabalhadores do
falhavam na punição das injustiças. Nenhuma Campo (FLOC) em Monterrey, estado de Nuevo León.
autoridade teve que se justificar por ter violado as As autoridades estaduais negaram que a morte de
normas para julgamentos justos. Santiago Rafael Cruz estivesse ligada ao seu trabalho
Em novembro, a prisioneira de consciência, em defesa dos direitos humanos, mas as organizações
Magdalena García Durán, uma mulher indígena detida de direitos humanos locais manifestaram preocupação
durante as manifestações ocorridas em San Salvador com a qualidade da investigação feita sobre sua morte.
Atenco, em maio de 2006, foi libertada devido à Um homem foi acusado do assassinato e, no final do
insuficiência de provas. Ela foi libertada depois que um ano, encontrava-se detido aguardando julgamento.
juiz local finalmente aceitou uma segunda ordem de A defensora de direitos humanos Aline Castellanos
M
um juiz federal. Entretanto, mais de 20 outras pessoas foi forçada a deixar o estado de Oaxaca após receber
detidas em San Salvador Atenco, no mesmo dia, um mandado de prisão fundamentado em provas
estavam sendo julgadas no fim do ano por meio de forjadas que a acusavam de envolvimento com a
procedimentos caracterizados por injustiças ocupação de um prédio público.
semelhantes.
Diego Arcos, um líder comunitário de Nuevo Tila, no Liberdade de expressão - jornalistas
estado de Chiapas, foi libertado em dezembro de 2007, Jornalistas, principalmente aqueles que fizeram
após passar um ano sob custódia acusado de quatro reportagens sobre tráfico de drogas e corrupção,
assassinatos cometidos durante um ataque à comunidade foram atacados diversas vezes. Pelo menos seis
de Viejo Velasco em novembro de 2006. Mesmo tendo jornalistas e profissionais dos meios de comunicação
obtido um mandado judicial federal favorável em agosto, foram assassinados e três outros foram seqüestrados.
ele só foi libertado quando o secretário estadual de Justiça A maioria das investigações oficiais sobre esses
reexaminou o caso e retirou as acusações. crimes e sobre os ataques feitos contra jornalistas em
Em maio, Ignacio del Valle Medina, Felipe Alvarez anos anteriores teve pouco ou nenhum progresso.
Hernández e Héctor Galindo Gochicoa, líderes de um Em outubro, Mateo Cortés Martínez, Flor Vásquez
movimento local de protesto em San Salvador Atenco, López e Agustín López Nolasco, funcionários do jornal
no estado do México, foram sentenciados, cada um, a El Imparcial del Istmo, em Oaxaca, foram mortos a
67 anos de prisão, após serem condenados por quando entregavam jornais. Logo após os assassinatos,
seqüestrar funcionários públicos durante disputas o diretor e dois repórteres do jornal receberam
ameaças, advertindo-os de que o mesmo aconteceria Cidade do México e o estado de Guerrero. Ela também reuniu-se com
com eles. autoridades do governo e participou da reunião bienal do Comitê Executivo
As circunstâncias recorrentes dos ataques Internacional da Anistia Internacional em Cocoyoc, no estado de Morelos, em
praticados contra jornalistas resultaram em um agosto
aumento da autocensura, comprometendo a Mexico: Laws without justice: Human rights violations and impunity in
liberdade de expressão. the public security and criminal justice system (AMR 41/002/2007)
Em abril, a difamação foi descriminalizada na Mexico: Laws without justice – appeal cases (AMR 41/015/2007)
legislação federal, mas continuou a ser considerada Mexico: Human rights at risk in La Parota Dam project (AMR
crime na maior parte das jurisdições estaduais. 41/029/2007)
Mexico: Oaxaca – Clamour for justice (AMR 41/031/2007)
Discriminação - comunidades marginal-
izadas
Muitas comunidades marginalizadas continuaram a
ter acesso limitado aos serviços básicos, apesar do
compromisso assumido pelo governo de aumentar os
gastos na área social. Essa situação fomentou
MOÇAMBIQUE
conflitos, desigualdades e discriminação que
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE
afetaram, principalmente, muitas comunidades Chefe de Estado: Armando Guebuza
indígenas.O fato de as comunidades prejudicadas por Chefe de governo: Luisa Diogo
projetos de desenvolvimento ou de exploração Pena de morte: abolicionista para todos os crimes
econômica não serem devidamente informadas ou Tribunal Penal Internacional: assinado
consultadas, e de não terem a oportunidade de População: 20,5 milhões
Expectativa de vida: 43 anos
participar da elaboração desses projetos, acentuou as
Mortalidade de crianças até 5 anos (m/f): 171/154 por mil
tensões e piorou ainda mais suas condições de Taxa de alfabetização: 38,7 por cento
carência.
As comunidades que se opuseram à construção da
represa da hidrelétrica de La Parota, no estado de Aumentou o número de pessoas suspeitas de
Guerrero, venceram várias ações judiciais preliminares cometerem crimes que foram mortas ilegalmente
com base em que sua aprovação não havia sido obtida pela polícia. A polícia também foi responsável por
por meios legais. No fim do ano, o projeto continuava outras violações de direitos humanos, como prisões e
M
suspenso enquanto se aguardava o resultado de detenções arbitrárias e o uso excessivo da força. As
diversas ações judiciais. inundações, que começaram em dezembro de 2006,
haviam deslocado cerca de 120 mil pessoas até
Imigrantes fevereiro de 2007. A situação se agravou quando o
Houve denúncias contínuas de abusos cometidos Furacão Favio atingiu a província de Inhambane, no
contra alguns dos milhares de imigrantes irregulares sul do país, destruindo casas e causando ainda mais
que cruzaram as fronteiras do sul e do norte do país. prejuízos.
Pessoas que ofereciam assistência humanitária aos
migrantes que cruzavam o México corriam o risco de Informações gerais
serem acusadas de tráfico de pessoas. Em março, Moçambique ratificou a Convenção da
O governo propôs novos procedimentos ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência.
regulatórios para os centros de detenção de Em novembro, a Assembléia da República se
imigrantes. As propostas, que restringiriam o acesso autoconcedeu poderes para propor emendas à
da sociedade civil e aumentariam o controle sobre os Constituição, com o objetivo de adiar o que seriam as
imigrantes, ainda aguardavam aprovação do primeiras eleições para as Assembléias Provinciais,
Executivo no fim do ano. programadas para dezembro.
Houve uma série de explosões em um depósito de
Visitas e relatórios da AI armas do Exército na capital, Maputo, e uma
A secretária-geral da Anistia Internacional visitou a cidade de Oaxaca, a explosão na cidade de Beira. Mais de 100 pessoas
foram mortas, centenas ficaram feridas e outras perdesse a consciência. Depois disso, atiraram em sua
centenas ficaram sem moradia. O incidente mais nuca, atearam-lhe fogo e foram embora,
grave ocorreu em março, quando uma explosão no aparentemente pensando que ele estivesse morto.
depósito de armas do Exército em Malhazine, Abrantes conseguiu arrastar-se até a estrada mais
Maputo, que já havia explodido em fevereiro, matou próxima, onde foi encontrado por moradores que
mais de 100 pessoas e feriu pelo menos 500. entraram em contato com sua família e o levaram para
Explosões menores ocorreram durante todo o ano de o hospital de Xinavane. Ele foi, então, transferido para o
2007, causando ainda mais mortes. Hospital Central de Maputo. A família denunciou o
caso na 5ª Delegacia de Polícia e um policial foi ao
Execuções extrajudiciais hospital para colher seu depoimento. A polícia
O número de pessoas suspeitas de cometerem informou à família que o caso estava sendo investigado,
crimes que foram mortas pela polícia aumentou. mas nenhum dos policiais envolvidos havia sido preso
Somente alguns desses casos foram investigados e até o fim de 2007.
nenhum policial foi processado por cometer violações
dos direitos humanos. Em maio, o procurador-geral Prisões e detenções arbitrárias
anunciou uma investigação sobre a possível Houve denúncias de prisões e de detenções
existência de grupos de extermínio dentro da polícia, arbitrárias pela polícia. A maioria desses casos não foi
os quais seriam responsáveis por esses assassinatos. investigada pelas autoridades.
Entretanto, até o momento, os resultados da Em março, manifestantes em Maputo exigiram a
investigação não foram divulgados. Policiais detidos renúncia do ministro da Defesa Nacional após uma
por violações de direitos humanos em 2006 ainda segunda explosão no depósito de armas do Exército em
não haviam sido julgados no fim de 2007. Malhazine. Eles argumentavam que o ministro não
Em abril, três policiais levaram Sousa Carlos Cossa, havia retirado as armas e as munições daquele local
Mustafa Assane Momede e Francisco Nhantumbo de depois de uma explosão anterior, ocorrida em fevereiro.
uma delegacia de polícia em Laulane, Maputo, para Seis manifestantes foram presos e detidos sem
um campo de futebol, no bairro Costa do Sol, onde os acusação na delegacia de Alto Mãe em Maputo. Eles
mataram a tiros. Os policiais alegaram que os três foram soltos na manhã seguinte. O jornalista Celso
homens tentaram fugir. Porém, os resultados da Manguana foi preso na delegacia de Alto Mãe quando
autópsia revelaram que os três haviam sido baleados investigava as seis detenções. Ele ficou detido por dois
na nuca de uma distância muito próxima. Os policiais dias e, depois disso, foi acusado de desacato às
M
foram afastados de suas atividades, mas a polícia, autoridades, sendo então transferido para a Cadeia
inicialmente, se recusou a prendê-los. Finalmente, em Civil de Maputo. Aparentemente, ele chamou os
maio, eles foram detidos e mantidos presos, alegando, policiais de incompetentes quando eles não
então, que cumpriam ordens superiores. A responderam às suas perguntas. Ele foi libertado três
investigação sobre esse caso estava em andamento no dias após ter sido preso, e as acusações contra ele
fim de 2007. foram retiradas.
Abrantes Afonso Penicela morreu no hospital, em
agosto, um dia depois de ter sido seqüestrado, Visita da AI
espancado, baleado e queimado por policiais que o Representantes da Anistia Internacional visitaram Moçambique em
abandonaram, acreditando que ele estivesse morto. setembro.
Antes de morrer, porém, ele disse a sua família e a um
policial que um grupo de, ao menos, cinco policiais foi
até sua casa, em dois carros, com um amigo seu. O
telefone do seu amigo foi usado para chamá-lo e,
quando ele saiu de casa, os policiais o agarraram, o
colocaram em um dos carros e lhe aplicaram uma
injeção de entorpecente. Os policiais o levaram então
para uma área isolada em Xinavane, cerca de 120 km
ao norte de Maputo, e o espancaram até que ele
de uma reunião internacional promovida pelos EUA que ele não se incumbisse de nenhuma atividade.
em Annapolis, da qual o Hamas foi excluído. O Em 4 de setembro, a administração do Hamas
objetivo da reunião era retomar as negociações de anunciou o estabelecimento de um Conselho
paz; porém, nenhum progresso tangível era evidente Supremo de Justiça alternativo para indicar juízes ao
no final de 2007. Contrariando os compromissos que Departamento de Justiça da Faixa de Gaza – uma
assumiram antes da reunião, as autoridades atitude contrária ao princípio de independência do
israelenses não suspenderam suas restrições à Judiciário e que infringiu as leis palestinas.
circulação dos palestinos nos TPO e continuaram a As divisões entre o Fatah e o Hamas exacerbaram
expandir os assentamentos israelenses na os imensos obstáculos enfrentados pelos habitantes
Cisjordânia. de Gaza quando tentavam obter justiça ou reparação
Durante todo o ano, os principais grupos armados nas já problemáticas instituições judiciais e de
palestinos – Jihad Islâmica, Comitês de Resistência segurança da AP.
Popular, Brigadas dos Mártires de Al Aqsa (braço Em junho, depois que o Hamas assumiu à força o
armado do Fatah) e as Brigadas de Izz al-Din al- poder em Gaza, atiradores do Fatah realizaram
Qassam (braço armado do Hamas) – freqüentemente ataques de retaliação contra supostos ou conhecidos
dispararam foguetes caseiros “qassam” da Faixa de apoiadores do Hamas na Cisjordânia, seqüestrando e
Gaza para o sul de Israel, matando dois civis agredindo diversas pessoas e incendiando dezenas
israelenses e ferindo vários outros. de propriedades.Tais atos foram realizados com
impunidade, muitas vezes na presença das forças de
Tomada de poder do Hamas na Faixa de segurança da AP, que falharam em intervir e em
Gaza manter a lei.
Em junho, depois que as forças do Hamas e suas
milícias aliadas tomaram o controle das instalações Assassinatos, ilegalidade e impunidade
de segurança e das instituições da AP, o Presidente Janeiro a junho
Abbas ordenou que todas as forças de segurança e O clima de ilegalidade e de impunidade, já evidente
instituições judiciais da AP na Faixa de Gaza em anos anteriores, se intensificou na primeira
suspendessem suas operações. A administração de metade de 2007, com o aumento na escalada dos
facto do Hamas preencheu o vácuo institucional e conflitos inter-sectários entre militantes do Fatah e do
legal resultante dessa ação, estabelecendo órgãos Hamas na Faixa de Gaza.
judiciais e de segurança. Esses órgãos careciam de Cerca de 300 palestinos foram mortos nos
pessoal com formação adequada às funções, de confrontos entre as facções. Em sua maioria eram
mecanismos de prestação de contas e de membros de forças de segurança e de milícias rivais;
salvaguardas de direitos humanos. porém, dezenas eram civis desarmados que
Cerca de 40 mil funcionários públicos e passavam nas proximidades. Atiradores efetuaram
integrantes das forças de segurança da Autoridade ataques e realizaram intensos tiroteios em áreas P
Palestina foram demitidos pelo governo de residenciais densamente povoadas, inclusive dentro e
emergência da AP por suspeitas de que trabalhassem próximo de hospitais, com absoluta indiferença pelas
para instituições controladas pelo Hamas na Faixa de vidas de residentes e transeuntes.
Gaza. Dezenas de milhares de outros, que não Integrantes das forças de segurança da AP e grupos
recebiam vencimentos integrais havia mais de um armados afiliados ao Fatah e ao Hamas cometeram
ano, tiveram seus salários pagos pelo governo de homicídios ilegais e seqüestros de rivais com
emergência da AP, sediado na Cisjordânia, sob a impunidade. Em junho, pistoleiros do Hamas
condição de não continuarem trabalhando na Faixa perseguiram membros das forças de segurança da
de Gaza. AP e da milícia do Fatah – as Brigadas de Al Aqsa –
Freqüentemente, as forças do Hamas hostilizavam matando alguns e atirando nas pernas de outros.
ex-membros das forças de segurança e outros Pistoleiros do Fatah também realizaram ataques
funcionários leais ao governo de emergência da AP. similares contra membros do Hamas, embora em
No dia 16 de agosto, as forças do Hamas detiveram menor escala.
brevemente o procurador-geral da AP e ordenaram Mohammed Swerki, um cozinheiro da Guarda
Presidencial, foi atirado do alto de um prédio na cidade responsáveis por assassinatos, por seqüestros e por
de Gaza, em 10 de junho, depois que ele e um colega, outros ataques.
ao entrarem no prédio errado para entregar comida,
foram capturados por atiradores do Hamas. Os Detenções arbitrárias, torturas e outros
atiradores do Fatah retaliaram, seqüestrando um maus-tratos
suposto simpatizante do Hamas, Husam Abu Qinas, Gaza
quando ele voltava para casa do trabalho, e o mataram Depois da metade de junho, as forças e milícias do
jogando-o de outro prédio. Hamas detiveram cerca de 1.500 pessoas em uma
Uma passeata pacífica pelo fim dos confrontos entre campanha de prisões politicamente motivada.
o Fatah e o Hamas, organizada por partidos de Centenas de pessoas, na maioria apoiadores do Fatah,
esquerda e por outros, no dia 13 de junho, em Gaza, foi foram detidas arbitrariamente por participarem de
alvo de tiros. Três manifestantes foram mortos: manifestações não-violentas. A maior parte dessas
Taghreed Salah al-‘Alia, Shadi Tayseer al-‘Ijla e pessoas foi libertada em 48 horas; porém, só eram
Mohammad Mahmoud Adas. soltas com a condição de assinarem um compromisso
Junho a dezembro de não participarem de futuros protestos ou de outras
A falta de lei, os homicídios ilegais e os seqüestros na formas de oposição. Em muitos casos, as forças do
Faixa de Gaza diminuíram significativamente depois Hamas também exigiram que os detidos pagassem
que o Hamas tomou o poder em junho. No entanto, “multas”. Os indivíduos foram detidos principalmente
as forças e as milícias do Hamas freqüentemente nas antigas instalações de segurança da AP e em
atacavam ativistas do Fatah e outros críticos e outros locais que, segundo as leis palestinas, não
manifestantes, assim como os jornalistas que cobriam podiam ser usados como centros de detenção.
esses ataques. Enquanto isso, integrantes das forças Muitos detidos alegaram terem sido torturados ou
do Hamas foram alvo de ataques à bomba, que o maltratados de outras formas – sendo surrados,
Hamas atribuiu a ativistas do Fatah. amarados em posições dolorosas (shabeh) e
Em 12 de novembro, pelo menos seis manifestantes ameaçados. Alguns disseram ter sido ameaçados de
foram mortos e dezenas ficaram feridos quando as levar tiros nas pernas. Pelo menos dois detentos –
forças do Hamas atiraram contra os participantes de Walid Abu Dalfa e Fadhel Dahmash – morreram sob
um comício organizado por ativistas do Fatah, para custódia, aparentemente em resultado de tortura ou
celebrar o terceiro aniversário da morte de Yasser de outros maus-tratos.
Arafat, ex-presidente da AP e chefe do Fatah. Tariq Mohammed Asfour, um ex-policial, foi detido
Na Cisjordânia, as forças da Autoridade Palestina pelas forças e milícias do Hamas no final de junho. Ele
atacaram manifestantes em diversas ocasiões. foi espancado por seis horas com arames, com varas e
No dia 27 de novembro, em Hebron, um manifestante foi com uma pá de ferro, e teve pregos enfiados em suas
morto a tiros durante um protesto contra a reunião entre tíbias com um martelo.
P Israel e a AP, realizada em Annapolis. Wael Ghalban, um ativista do Fatah, foi severamente
O governo de emergência da AP, sob intensa pressão dos espancado nos pés e em outras partes do corpo por
doadores ocidentais, tomou algumas medidas para forças do Hamas durante uma noite em que passou
controlar a falta de lei que havia predominado em anos detido, no mês de novembro.
anteriores, especialmente os freqüentes seqüestros, as Cisjordânia
agressões e outros ataques praticados pelas Brigadas de Depois da metade de junho, forças de segurança da
Al Aqsa. Em outubro, as forças de segurança da AP AP lançaram uma ofensiva contra os apoiadores do
implementaram um conjunto de medidas, planejadas Hamas em toda a Cisjordânia e prenderam cerca de
pelo enviado estadunidense para questões de segurança, 1.500 pessoas. A maioria delas foi libertada em alguns
o general Keith Dayton, a fim de aumentar a segurança dias sem acusações e, freqüentemente, sob a
em Nablus, um forte reduto das Brigadas de Al Aqsa. condição de delatar o Hamas e o compromisso de não
Apesar de não terem cessado completamente, essas apoiá-lo. Vários outros permaneceram detidos por
medidas resultaram em uma diminuição acentuada dos várias semanas ou meses e foram, então, libertados
ataques desses grupos. Porém, a AP fracassou em levar à sem acusações. De setembro em diante, porém, as
Justiça os militantes das Brigadas de Al Aqsa forças israelenses geralmente prendiam quem havia
sido solto pela AP. A maioria das detenções da AP ataques, o menor índice anual de fatalidades desde a
foram efetuadas pelas forças de segurança, eclosão da intifada, em 2000.
especialmente a Segurança Preventiva que, de acordo Freqüentemente, os grupos armados palestinos
com a lei palestina, não estava autorizada a deter lançavam foguetes “qassam”, de fabricação caseira,
suspeitos. Os detidos, além disso, eram mantidos em da Faixa de Gaza em direção à cidade vizinha de
locais não autorizados para detenção. As famílias Sderot e a outras áreas próximas em Israel. Dois
raramente eram notificadas sobre as prisões ou sobre israelenses morreram e vários outros ficaram feridos
o paradeiro dos detentos e, em alguns casos, as forças devido aos ataques.
de segurança transferiam os indivíduos de um local Shirel Friedman e Oshri Oz foram mortos por ataques
para outro a fim de impedir que comparecessem de foguetes “qassam” em Sderot, nos dias 21 e 27 de
perante um juiz ou para evitar cumprir as ordens maio.
judiciais de soltá-los. Com freqüência, os detidos não Os atentados suicidas à bomba e os ataques a tiros
eram levados perante um juiz dentro do prazo praticamente cessaram em 2007. Um ataque suicida
requerido pela lei palestina. Denúncias de torturas e foi realizado pelo grupo Jihad Islâmica, em Eilat, no
de maus-tratos, raras a princípio, tornaram-se mais dia 29 de janeiro.
comuns a partir de agosto, com prisioneiros relatando Emile Ameliach, Israel Zamalloa e Michael Bem
terem sido propositalmente amarrados em posições Sa’don foram mortos em um ataque suicida a uma
dolorosas (shabeh). A maioria das vítimas, no entanto, padaria em Eilat, no dia 29 de janeiro.
relutava em apresentar queixa por temerem ser presas Na primeira metade do ano, os grupos armados
novamente pelas forças da AP ou detidas pelas forças palestinos continuaram a seqüestrar membros de
israelenses. grupos rivais e cidadãos estrangeiros. Vários reféns
Ahmad Doleh foi preso pelas forças da AP em palestinos foram mortos (veja acima), embora a
Nablus, no começo de julho, permanecendo detido por maioria tenha sido libertada ilesa.
cinco meses, sem acusação nem julgamento, em vários Em março, o Exército do Islã, um grupo pequeno e,
locais. Poucos dias após sua libertação pela AP, no até então, pouco conhecido, seqüestrou o jornalista
início do dezembro, ele foi preso pelas forças britânico Alan Johnston na cidade de Gaza e o manteve
israelenses. cativo por 114 dias, ameaçando matá-lo ou feri-lo em
Hussein al-Sheikh, um advogado da região de várias ocasiões. Ele foi libertado no início de julho depois
Belém, foi detido pelas forças da AP durante 13 dias em de pressões do Hamas.
setembro e, então, libertado sem acusações. Uma Em junho, o Hamas e os Comitês de Resistência
semana depois, porém, ele foi preso pelas forças Popular divulgaram uma gravação de áudio de Gilad
israelenses e colocado sob detenção administrativa sem Shalit, um soldado israelense capturado em junho de
acusações ou julgamento. 2006. No entanto, continuaram negando o acesso do
Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) ao
Impunidade prisioneiro ou qualquer comunicação com sua família. P
Nem a AP na Cisjordânia nem o Hamas na Faixa de
Gaza tomaram qualquer medida confiável para Violência contra a mulher
assegurar que membros de suas forças de segurança Mais de 10 mulheres foram assassinadas nos
ou de suas milícias prestassem contas de seus atos. chamados “assassinatos em nome da honra” e várias
Eles continuaram desfrutando de impunidade pelos outras foram mortas ou feridas em ataques das forças
abusos de direitos humanos cometidos, inclusive israelenses ou durante os combates sectários entre
homicídios ilegais, tomada de reféns, incêndios grupos palestinos rivais.
criminosos e outros tipos de ataque contra pessoas ou Nisreen Mohammad Abu Bureik e Inam Jaber
propriedades. Daifallah foram mortas em Gaza, respectivamente, em
julho e agosto. De acordo com suas famílias, ambas
Abusos de grupos armados foram mortas por parentes homens, nos denominados
Os grupos armados palestinos realizaram ataques crimes "de honra".
indiscriminados contra civis israelenses. Treze As vidas das mulheres se tornaram ainda mais difíceis
israelenses, incluindo sete civis, foram mortos nesses devido à deterioração das condições humanitárias, e
ordem, bem como o estado de emergência. especial da ONU sobre a liberdade de religião, Asma
No dia 10 de novembro, o Presidente Musharraf Jahangir, ficou detida em sua casa por 90 dias sob
emendou a Lei do Exército para permitir que civis uma ordem de detenção baseada no decreto de
acusados de traição, de subversão e de indefinidas Manutenção da Ordem Pública, que foi suspensa no
"declarações que conduzam a danos públicos", dia 16 de novembro. Uma ordem de detenção de 90
cometidos a partir de janeiro de 2003, pudessem ser dias expedida contra Hina Jilani, representante
julgados em tribunais militares especial do secretário-geral da ONU para os
No dia 21 de novembro, o Presidente Musharraf defensores de direitos humanos, não foi cumprida
promulgou uma emenda constitucional que impedia a quando ela retornou ao país.
análise judicial do estado de emergência, da Ordem No dia 5 de novembro, o líder nacionalista baluchi
Provisória Constitucional e de qualquer ação tomada Hasil Bizenjo; Ayub Qureshi, dirigente provincial do
durante o período de exceção. Partido Nacional do Baluchistão; Yusuf Mastikhan, vice-
Centenas de casos na Suprema Corte e nos quatro presidente do Partido Nacional dos Trabalhadores; e os
tribunais superiores provinciais estão atrasados, pois os líderes sindicais Liaquat Sahi e Farid Awan foram presos
advogados boicotaram os tribunais presididos por em Karachi, acusados de subversão e desordem após
juízes que prestaram juramento sob a Ordem fazerem discursos contrários à imposição do estado de
Provisória Constitucional. emergência. Eles foram libertados mediante fiança no
dia 22 de novembro, mas as acusações permaneceram.
Prisões e detenções arbitrárias
Durante o período de emergência, o direito à liberdade Tortura e outros maus-tratos
de reunião foi reprimido por meio da aplicação rigorosa Muitas das pessoas que foram detidas arbitrariamente
da Seção 144 do Código de Processo Penal, o qual teriam sido torturadas ou foram maltratadas por meio
proíbe a reunião de mais de quatro pessoas em lugar de práticas como privação de sono e negação de
público sem autorização. A maioria das pessoas tratamento médico de urgência. A tortura e outros
detidas foi presa sem referência a qualquer lei, maus-tratos foram usados rotineiramente contra
enquanto outros o foram por infringir a Seção 144 e pessoas suspeitas de cometerem crimes.
por ameaçar a manutenção da ordem pública. Alguns Mohammad Shahid Rind foi preso no dia 28 de julho
foram mantidos em detenção administrativa, segundo e, segundo informações, foi torturado pela polícia, que o
o Decreto de Manutenção da Ordem Pública. Diversos teria confundido com o irmão de um criminoso
manifestantes foram acusados de crimes terroristas ou procurado. O Tribunal Superior de Sind determinou que
de subversão. ele fosse solto e recebesse tratamento médico, tendo
Entre os meses de março e julho, centenas de aberto um inquérito para investigar sua prisão e sua
advogados e de ativistas que apoiavam o presidente da tortura. Ele permanecia detido no final do ano.
Suprema Corte foram detidos. Membros idosos de
partidos políticos foram arrastados de suas casas à Desaparecimentos forçados P
noite, e ativistas foram detidos em prisões distantes de A Suprema Corte realizou audiências sobre petições de
suas casas. Às vésperas do esperado retorno do ex- habeas corpus em nome de mais de 400 pessoas que
primeiro-ministro Nawaz Sharif, em setembro, foram submetidas a desaparecimentos forçados, tanto
centenas de filiados partidários foram presos. no contexto da "guerra ao terror" do governo quanto
Após a declaração de estado de emergência, vários em outras campanhas de segurança nacional. Depois
dos juízes afastados, inclusive o presidente do da apresentação das petições, mais de 100
Supremo, foram colocados em prisão domiciliar de desaparecidos foram localizados. Alguns dos que
facto, impedidos de ter acesso à família ou amigos, reapareceram haviam sido detidos sob acusações
sem referência a qualquer lei. Milhares de advogados e aparentemente falsas.
de outros defensores dos direitos humanos foram No dia 5 de outubro, o presidente da Suprema Corte, o
detidos, entre os quais 55 ativistas de direitos humanos juiz Iftikhar Chaudhry, afirmou haver "provas
que haviam se reunido no escritório da ONG Comissão irrefutáveis" de que as pessoas desaparecidas estavam
de Direitos Humanos do Paquistão, em Lahore, no dia sob a custódia de agências secretas e de que os
4 de novembro. A presidente da Comissão e relatora responsáveis seriam processados. Ele ordenou que
todos aqueles cujo paradeiro ainda era desconhecido policiais, na maioria à paisana, os espancaram usando
comparecessem perante o tribunal. As audiências cassetetes. Em 1º de outubro, a Suprema Corte
prosseguiram até o dia 2 de novembro, quando a corte considerou o chefe da polícia de Islamabad responsável
prorrogou os procedimentos até 13 de novembro. por ordenar o uso desproporcional da força e
Porém, após a imposição do estado de emergência, no determinou sua imediata suspensão. No dia 23 de
dia 3 de novembro, e da suspensão de vários juízes da outubro, a Suprema Corte concluiu que o destacamento
Suprema Corte, as audiências sobre os desaparecidos de policiais à paisana havia sido ilegal.
não foram mais realizadas. Em julho, depois de não terem prendido ou tentado
O destino e o paradeiro de centenas de pessoas processar os religiosos e estudantes da Mesquita
continuou incerto; temia-se que estivessem sob risco Vermelha, em Islamabad, que seqüestraram,
de tortura ou de outros maus-tratos. espancaram e ameaçaram pessoas que eles
Saud Memon, que seria o proprietário da cabana em consideraram estarem desrespeitando as normas
que o jornalista estadunidense seqüestrado Daniel Pearl islâmicas, as forças de segurança sitiaram e depois
foi assassinado em 2002, foi encontrado próximo a sua invadiram a mesquita. Calcula-se que ao menos 100
casa, em Karachi, no dia 28 de abril de 2007. Ele havia pessoas tenham sido mortas. Entre os mortos estavam
perdido a memória, não conseguia falar e pesava apenas mulheres e crianças desarmadas que, possivelmente,
36 kilos. No dia 18 de maio, ele morreu no hospital. foram usadas como escudos humanos pelos indivíduos
Acredita-se que ele tenha sido preso por agentes do FBI, entrincheirados na mesquita. Os religiosos e os
o Birô Federal de Investigação dos Estados Unidos, em estudantes haviam sido avisados previamente pelo
março de 2003, na África do Sul. Ainda não se sabe Presidente Musharraf que seriam mortos caso não se
onde e sob a custódia de quem ele foi mantido depois rendessem.
disso. A polícia foi cúmplice nos violentos ataques
As transferências ilegais de vítimas de supostamente realizados por aliados políticos do
desaparecimentos forçados para países onde estariam governo, sobretudo durante a campanha dos
em risco de sofrer tortura ou outros maus-tratos advogados contra a suspensão do presidente do
prosseguiram. Supremo, em março. No dia 12 de maio, pelo menos
Osman Alihan, um homem de etnia uigur da Região 40 pessoas que faziam uma manifestação de boas-
Autônoma Uigur de Xinjiang, na China, foi mantido em vindas ao presidente do tribunal, em Karachi, foram
um local de detenção desconhecido após ter sido preso mortas em conseqüência desses ataques dos aliados
em Rawalpindi, no dia 4 de julho. Ele estava sendo políticos. A polícia geralmente não protegia nem os
procurado pelas autoridades chinesas por suposta manifestantes, nem os advogados e nem mesmo
filiação ao proscrito Movimento Islâmico do Turquistão impedia a violência.
Oriental. No final de julho, ele foi transferido ilegalmente Nas áreas tribais e em Swat, o Exército alegou ter
à China. Seu destino permanecia desconhecido. Outro matado centenas de "militantes", mas os moradores
P homem de etnia uigur, Ismail Semed, foi executado na locais disseram que muitas das vítimas eram mulheres
Região Autônoma Uigur de Xinjiang, no dia 8 de e crianças. Os militares efetuaram vários bombardeios
fevereiro de 2007, por "tentativa de dividir a pátria" e por em vilarejos, que, segundo informações, resultaram na
outros delitos. Ele havia sido repatriado à força do morte de inúmeros civis desarmados. Poucas
Paquistão para a China em 2003 (veja a entrada sobre a tentativas foram feitas para prender e julgar os
China). supostos "militantes".
No dia 7 de outubro, aviões de caça bombardearam
Uso excessivo da força supostos "esconderijos de militantes" no Waziristão do
Durante várias ondas de protestos, as forças de Norte, matando cerca de 250 pessoas, inclusive civis.
segurança fizeram uso excessivo e desnecessário da Segundo informações, milhares de camponeses fugiram
força contra manifestantes pacíficos. da região.
Em 29 de setembro, mais de 80 advogados e
militantes de partidos políticos que protestavam em Restrição à liberdade de expressão
Islamabad contra as futuras eleições presidenciais Muitos jornalistas que faziam a cobertura das
ficaram feridos; alguns deles gravemente, quando manifestações de protesto foram espancados,
ameaçados e detidos. Depois da imposição do estado Continuaram os processos com base nas leis de
de emergência, estações de rádio e de televisão blasfêmia, e muitas pessoas foram condenadas à
independentes foram fechadas. Em novembro, foram morte.
publicadas novas leis arbitrárias de restrição aos meios Younus Masih, um homem cristão, foi condenado à
de comunicação impressos e eletrônicos. Canais de TV morte por blasfêmia em um tribunal de Lahore, no dia 30
paquistaneses independentes foram proibidos de de maio, em um julgamento que, segundo informações,
realizar suas transmissões dentro do Paquistão, a foi injusto. Ele foi falsamente acusado de fazer
menos que assinassem um Código de Conduta observações difamatórias contra o profeta do Islã
restringindo as críticas ao governo. durante um serviço religioso em 2005. Younus Masih era
um prisioneiro de consciência.
Abusos de grupos armados
Tomadas de reféns e assassinatos Violência contra a mulher
Integrantes de grupos armados islâmicos foram A violência sob custódia, inclusive estupro, continuou
responsáveis por tomadas de reféns, por assassinatos acontecendo. O Estado falhou no seu dever de prevenir
de prisioneiros cativos e por outros homicídios ilegais. e processar casos de violência doméstica e
Após o cerco da Mesquita Vermelha, os atentados comunitária, como mutilações, estupros e assassinatos
suicidas contra instalações do governo e do Exército "em nome da honra". A ONG Fundação Aurat afirmou
aumentaram, resultando em mais de 400 mortes. que, nos primeiros 10 meses de 2007, somente na
Somente no mês de julho, 194 pessoas, entre as quais província de Sind, 183 mulheres e 104 homens foram
muitos civis, foram mortas em 13 atentados suicidas. assassinados por, supostamente, mancharem a
Membros de grupos islâmicos executaram dezenas de "honra" da família. Apesar de, em 2004, o Tribunal
pessoas consideradas contraventoras da lei islâmica ou Superior de Sind ter proibido as jirgas, esses conselhos
que se julgava terem cooperado com o governo. Em continuaram a ter apoio oficial. Em novembro, o
alguns casos, as execuções ocorreram após a ministro interino da Informação, Nisar Memon,
realização de audiências por conselhos islâmicos declarou que as jirgas eram uma realidade e que
(shura). deveriam ser "trazidas para dentro do sistema".
Em agosto, um grupo pró-Talibã em Waziristão do Em diversas ocasiões, a corte superior determinou a
Sul, divulgou um vídeo que, aparentemente, mostrava instauração de processos judiciais contra pessoas
um adolescente decapitando um membro de uma responsáveis pela prática da swara: a entrega de uma
força paramilitar pró-governo que havia sido capturado. menina ou de mulher para o casamento com um
O vídeo fez surgirem preocupações de que o grupo adversário em troca da resolução de disputas. Essa
estaria utilizando crianças para cometer graves abusos prática passou a ser punível com até 10 anos de
de direitos humanos. prisão, segundo uma lei de 2005. No entanto,
Violência contra meninas e mulheres continuou a ser amplamente disseminada.
Cada vez mais, meninas e mulheres foram alvo de P
abusos nas áreas de fronteira com o Afeganistão sob Direitos das crianças ignorados
controle do Talibã. O número de tribunais de menores ainda era
Em Bannu, na Província da Fronteira Noroeste, os insuficiente. Crianças continuaram a ser julgadas e
corpos de duas mulheres foram encontrados em detidas juntamente com adultos. Houve casos de
setembro. Um bilhete preso ao corpo de uma delas crianças detidas sob uma cláusula de responsabilidade
afirmava que ela havia sido morta como punição por coletiva da Regulamentação de Crimes de Fronteira
suas atividades imorais. nas áreas tribais, por delitos que foram cometidos por
outrem: uma clara violação à proibição de punições
Discriminação contra minorias religiosas coletivas no direito internacional.
As autoridades não deram proteção às minorias
religiosas. Pena de morte
Em setembro, em Karachi, dois médicos ahmadi Cerca de 310 pessoas teriam sido condenadas à
foram mortos, supostamente, em razão de sua crença morte, a maioria por homicídio. Ao menos 135
minoritária. Ninguém foi preso. pessoas foram executadas, entre as quais, pelo
tentava deportar para a Argélia por razões de em procedimentos que equivaliam a uma “completa”
segurança nacional desistiram de seu direito de negação do que seja um julgamento justo, e de que
continuar apelando contra a deportação, sendo, pudessem ser condenados à morte.
assim, repatriados.
Em janeiro, dois argelinos – Reda Dendani, citado Detentos de Guantánamo com conexões
nos procedimentos legais como Q, e outro homem, no Reino Unido
citado nos procedimentos legais como H, – foram Em abril, Bisher Al Rawi, ex-residente do Reino
deportados do Reino Unido para a Argélia. Antes da Unido, foi devolvido para o Reino Unido depois de
deportação, consta que ambos teriam recebido mais de quatro anos sob custódia dos EUA na base
garantias orais das autoridades argelinas de que não de Guantánamo.
eram procurados na Argélia. Ambos foram presos e Em agosto, autoridades britânicas escreveram às
detidos assim que retornaram e foram acusados de autoridades estadunidenses, requisitando a libertação
“participação em uma rede terrorista operando no da base de Guantánamo e o retorno ao Reino Unido
exterior”. Segundo informações, H e Reda Dendani dos ex-residentes Jamil El Banna, Omar Deghayes,
foram condenados em novembro e sentenciados, Shaker Aamer, Binyam Mohammed e Abdennour
respectivamente, a três e oito anos de prisão. Sameur. Não houve qualquer pedido em nome de um
Em maio, o argeliano Moloud Sihali ganhou um sexto ex-residente, Ahmed Belbach, cidadão argelino
recurso contra sua deportação por razões de que, segundo informações, foi liberado para soltura e
segurança nacional. A SIAC decidiu que ele não era enfrentaria um risco real de detenção secreta caso
uma ameaça à segurança nacional. fosse devolvido para a Argélia, o que o deixaria em
Em julho, o Tribunal de Recursos julgou as perigo de sofrer tortura ou outros maus-tratos.
apelações de três argelinos contra as decisões da SIAC Em dezembro, Jamil El Banna, Omar Deghayes e
de confirmar suas ordens de deportação por razões de Abdennour Sameur foram devolvidos para o Reino
segurança nacional. Os três homens eram: Mustapha Unido. Os três foram detidos ao chegar. Abdennour
Taleb, mencionado nos procedimentos legais como Y; Sameur foi libertado sem acusações. Jamil El Banna
um homem citado como U; e outro, referido como BB. e Omar Deghayes foram libertados sob fiança até que
O Tribunal de Recursos decidiu que a SIAC deveria seja realizada uma audiência formal sobre sua
reconsiderar todos os três casos. Nos casos de BB e de extradição para a Espanha, a fim de que lá sejam
U, o Tribunal de Recursos chegou a esta conclusão por julgados.
motivos que não foram revelados nem aos indivíduos, No fim do ano, Binyam Mohammed, Shaker
nem aos seus advogados, nem ao público. Em Aamer e Ahmed Belbacha permaneciam na base de
novembro, a SIAC reafirmou sua decisão anterior de Guantánamo.
que os três poderiam ser devolvidos para a Argélia
legalmente e com segurança. Transferências extrajudiciais (renditions)
Em fevereiro, a SIAC rejeitou a apelação de Omar Em julho, o Comitê de Inteligência e Segurança (ISC)
Mahmoud Mohammed Othman, também conhecido divulgou um relatório sobre o suposto envolvimento
como Abu Qatada, contra sua deportação para a do Reino Unido no programa de transferências
R
Jordânia, por razões de segurança nacional. A SIAC extrajudiciais liderado pelos EUA. O informe fez
concluiu que o Memorando de Entendimento que o críticas limitadas às autoridades britânicas, inclusive
Reino Unido finalizou com a Jordânia, em 2005, por não manterem “registros apropriados para
garantiria sua segurança nesse país. No final do ano, pesquisa” dos requerimentos para conduzir
seu apelo contra a decisão ainda estava pendente. operações de transferências extrajudiciais através do
Em abril, a SIAC impediu a tentativa de deportar dois espaço aéreo britânico. Porém, concluiu-se, nesse
cidadãos líbios – mencionados nos procedimentos informe, não haver “provas” de que o Reino Unido
legais como DD e AS – para seu país de origem por tenha sido cúmplice nas “transferências
razões de segurança. A SIAC concluiu que, apesar das extraordinárias como foram definidas pelo ISC.
garantias oferecidas no Memorando de Entendimento O ISC está subordinado diretamente ao primeiro-
entre o Reino Unido e a Líbia, existia um risco real de ministro, que decide se o relatório será apresentado
que, retornando para a Líbia, DD e AS fossem julgados ao Parlamento. A Anistia Internacional considerou
que o órgão não tem suficiente independência do britânica apenas a partir do momento de sua
Executivo para conduzir uma investigação chegada à unidade de detenção administrada pelo
devidamente independente e imparcial sobre as Reino Unido, e não desde o momento de sua prisão.
alegações de envolvimento do Reino Unido nas Os lordes ordenaram que o caso de Baha Mousa
transferências. retornasse a um tribunal inferior, para que se
Continuaram a surgir informações sugerindo que o determinasse se havia ocorrido violação de seu direito
território britânico, incluindo a ilha de Diego Garcia, à vida e de seu direito de não ser torturado. Até o
pode ter sido utilizado por aeronaves envolvidas em final do ano, esses procedimentos judiciais não
vôos de transferências extrajudiciais. As autoridades haviam sido retomados.
britânicas disseram à Anistia Internacional que o Em dezembro, os lordes julgaram um recurso contra
Reino Unido “não mantém registros rotineiros dos a detenção sem acusação nem julgamento, por mais
vôos que chegam ou saem de Diego Garcia”, mas de três anos, de Hilal Al-Jedda, um dos cerca de 75
que estavam “satisfeitas com [a] garantia” dada pelos “detentos de segurança” mantidos pelas forças
EUA de que “não utilizaram Diego Garcia para britânicas no Iraque. Eles decidiram que Hilal Al-Jedda
nenhuma operação de transferência extrajudicial”. estava sob jurisdição britânica, pois sua detenção era
legalmente atribuída ao Reino Unido e não (como o
Forças armadas britânicas no Iraque país alegara) às Nações Unidas. No entanto, eles
O governo continuou tentando limitar a aplicação de julgaram que a Resolução 1546 do Conselho de
suas obrigações de direitos humanos fora do território Segurança da ONU permitia que o Reino Unido
britânico, sobretudo com relação às atividades de efetivamente mantivesse pessoas detidas no Iraque.
suas forças armadas no Iraque. Não fosse por isso, fazê-lo seria considerado
Em março, foi concluído o julgamento militar (court incompatível com as obrigações do Reino Unido frente
martial) de sete militares britânicos. Eles foram à Corte Européia de Direitos Humanos.
acusados em conexão com a tortura e a morte de Baha
Mousa, em setembro de 2003, e pelo tratamento Disparos da polícia e mortes sob custódia
dispensado a vários outros civis iraquianos presos e Em novembro, um júri condenou o Comissariado da
detidos na base militar britânica de Basra no mesmo Polícia Metropolitana – por um delito previsto na
período. Um dos acusados declarou-se culpado da legislação de saúde e segurança – em conexão com a
acusação de tratamento desumano, um crime de operação policial que resultou na morte, a tiros, de
guerra. Ele foi absolvido das demais acusações contra Jean Charles de Menezes em julho de 2005.
ele. Seis outros foram absolvidos de todas as Após o veredicto, a Comissão Independente de
acusações. Queixas à Polícia (IPCC) publicou seu relatório sobre
O juiz observou que encapuzar prisioneiros, os disparos da polícia. A Comissão reiterou a
mantê-los em posições estressantes e privá-los de preocupação com o fato de a polícia ter tentado
sono se tornaram “procedimentos padrão de impedir que a Comissão realizasse a investigação
operação” dentro do batalhão responsável pela sobre o tiroteio desde o começo.
detenção dos indivíduos. Em dezembro, teve início uma audiência para
R
Em junho, os lordes julgaram seis casos decidir se uma investigação forense sobre a morte,
apresentados sob o nome Al Skeini, referentes às que havia sido adiada até que o processo criminal
mortes de seis civis iraquianos. Cinco dos seis foram estivesse finalizado, deveria ser retomada.
atingidos por disparos fatais, em circunstâncias A Comissão Independente de Queixas à Polícia
controversas, durante operações realizadas pelas anunciou que quatro policiais envolvidos na operação
forças armadas britânicas; o sexto era Baha Mousa. não enfrentariam acusações disciplinares.
Os lordes decidiram que os cinco primeiros
indivíduos não estavam sob jurisdição britânica Atualizações
quando foram mortos, e que as obrigações do Reino Em junho, o Tribunal de Recursos confirmou o
Unido sob a Convenção Européia de Direitos veredicto de 2004 de um grande júri, de que o policial
Humanos não eram, portanto, aplicáveis a eles. Eles que atirou e matou Derek Bennett, em 2001, havia
decidiram que Baha Mousa estava sob jurisdição agido dentro da legalidade.
Em agosto, a Comissão Independente de Queixas à bomba em Omagh, em 1998, entre outros incidentes.
Polícia anunciou que nenhum dos oito agentes da O único réu foi absolvido de todas as acusações contra
Polícia Metropolitana envolvidos nos eventos que ele. O juiz fez críticas ao caso da promotoria,
levaram à morte sob custódia de Roger Sylvester, em especialmente à maneira com que as provas de DNA
janeiro de 1999, enfrentará ações disciplinares. foram utilizadas. Ele acusou dois funcionários da
polícia de “indução ao erro deliberada e calculada” e
Irlanda do Norte remeteu o caso ao ouvidor da polícia para a Irlanda do
Em maio, o governo direto chegou ao fim, com a Norte.
restauração da Assembléia da Irlanda do Norte,
suspensa desde 2002. Refugiados e requerentes de asilo
Conivência e assassinatos políticos Em outubro, a Lei de Fronteiras do Reino Unido foi
Em janeiro, a Ouvidoria da Polícia para a Irlanda do aprovada. A lei falha em pôr fim à situação de
Norte divulgou um relatório sobre uma investigação carência a que são forçados os requerentes de asilo
que encontrou provas de conivência entre a polícia e rejeitados, em função da legislação existente.
os paramilitares legalistas em um período tão recente O governo britânico continuou a impor o retorno de
quanto 2003. requerentes de asilo iraquianos rejeitados para o
Em junho, o Comitê de Ministros do Conselho da norte do Iraque.
Europa adotou sua segunda resolução provisória Uma ação legal em andamento impede o governo
sobre a obediência do Reino Unido a uma série de do Reino Unido de devolver requerentes de asilo
julgamentos da Corte Européia de Direitos Humanos. rejeitados para o Zimbábue.
Os casos em questão foram apresentados por Em novembro, os lordes revogaram a decisão de
familiares de indivíduos que, supostamente, foram um Tribunal de Recursos de que seria
mortos por ou com a cumplicidade das forças de “excessivamente severo” devolver à capital sudanesa,
segurança britânicas na Irlanda do Norte. A Corte Cartum, os requerentes de asilo de Darfur que
julgou, em cada caso, que o Reino Unido não havia fossem rejeitados.
fomentado investigações adequadas sobre essas
mortes. O Comitê de Ministros lamentou que “em Violência contra a mulher
nenhum dos casos uma investigação efetiva foi Foi praticamente impossível às mulheres submetidas
concluída”. a controle de imigração e que sofreram violência no
Em junho, o Tribunal de Recursos da Irlanda do Reino Unido, inclusive violência doméstica e tráfico,
Norte reverteu uma decisão da Suprema Corte, de ter acesso ao auxílio moradia ou ao apoio financeiro
2006, que havia determinado ser ilegal a decisão de de que necessitavam em conseqüência da regra que
manter a investigação sobre as denúncias de proíbe “auxílio proveniente de verbas públicas”. De
cumplicidade no assassinato de Billy Wright sob a Lei acordo com essa regra, certas categorias de
de Inquéritos de 2005. A investigação procedeu sob a imigrantes com licença para entrar e permanecer no
Lei de Inquéritos. Reino Unido somente por um período limitado não
Em outubro, o comitê de investigação anunciou têm qualquer direito (sujeito a exceções restritas) a
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sua intenção de produzir um relatório provisório, no usufruir de tais benefícios.
início de 2008, sobre a cooperação prestada pelo
Serviço de Polícia da Irlanda do Norte à investigação; Tráfico de seres humanos
em particular no que diz respeito às significativas Em março, o Reino Unido assinou a Convenção do
lacunas no material fornecido pelo Serviço de Polícia Conselho da Europa relativa à Luta contra o Tráfico de
para a investigação. Seres Humanos, mas ainda não a havia ratificado até
No fim do ano, o governo ainda não havia o final do ano.
estabelecido um inquérito sobre as denúncias de Em dezembro, informou-se que quatro mulheres
cumplicidade do Estado no assassinato de Patrick que haviam sido traficadas para o Reino Unido, a fim
Finucane, ocorrido em 1989. de serem exploradas sexualmente, receberiam uma
Em dezembro, foi anunciado o veredicto sobre um indenização do órgão que administra as
processo criminal referente à explosão de um carro- compensações financeiras às vítimas de crimes
violentos (Criminal Injuries Compensation Authority); continuou a melhorar em algumas províncias, uma
decisão que poderia fazer com que outras vítimas de crise humanitária e de direitos humanos aprofundou-
tráfico se qualificassem para receber indenização. se nas duas províncias Kivu no leste do país.
Organizações não-governamentais estavam As necessidades humanitárias continuaram
preocupadas com a falta de alojamentos adequados, críticas em todo o território nacional, com mais de
mantidos com fundos do governo, para as vítimas de 1,4 milhão de pessoas deslocadas pelo conflito no
tráfico. país. O fornecimento de serviços sociais vitais, como
saúde e educação, foi prejudicado por uma
Visitas da AI governança precária, pela infra-estrutura decadente
Representantes da Anistia Internacional participaram como observadores e pelo baixo nível de investimentos.
em audiências judiciais no Reino Unido; algumas, inclusive, sobre legislação
antiterrorista Informações gerais
United Kingdom: Deportations to Algeria at all costs (EUR Um novo governo, formado em fevereiro, encerrou
45/001/2007) a administração interina da coalizão que, desde
Europe and Central Asia: Summary of Amnesty International's 2003, dividia o poder. As tensões entre o governo e
Concerns in the Region: January – June 2007 (EUR 01/010/2007). Jean-Pierre Bemba, principal candidato à presidência
pela oposição em 2006, explodiram no final de
março. Cerca de 600 pessoas foram mortas quando
eclodiram os combates entre as forças
governamentais e os guardas armados de Jean-Pierre
da ONU, MONUC, contra as forças de Laurent cometeram centenas de homicídios ilegais. Durante
Nkunda, em dezembro, foi inconclusiva. No fim do as operações militares, ou todas as forças envolvidas
ano, anunciaram-se planos de uma grande alvejaram civis deliberadamente ou não tomaram as
conferência nacional com o objetivo de pacificar Kivu. medidas adequadas para proteção da população civil.
Durante o conflito de março em Kinshasa, tanto as
Pessoas deslocadas dentro do país forças governamentais quanto a guarda armada de
Mais de 170 mil pessoas foram deslocadas pelos Jean-Pierre Bemba usaram armamentos pesados em
conflitos em Kivu Norte, ocorridos entre agosto e áreas residenciais, densamente povoadas, causando
dezembro, somando-se a cerca de outras 200 mil a morte de centenas de civis.
pessoas deslocadas na região desde o fim de 2006 Em 31 de janeiro/1º de fevereiro, 95 civis foram
devido à insegurança. No total, mais de 1,4 milhões mortos pelo Exército e pela polícia, que usaram força
de pessoas estavam deslocadas no interior do desproporcional e, em alguns casos, execuções
território da RDC, enquanto 322 mil viviam como extrajudiciais para sufocar os violentos protestos
refugiadas em países vizinhos. ocorridos na província do Congo Central (Baixo-
Congo). Dez membros das forças de segurança
Forças policiais e de segurança morreram nos distúrbios.
O Exército, a força policial e os serviços de Segundo denúncias, as forças governamentais
inteligência militar e civil nacionais operaram teriam executado ao menos 27 supostos apoiadores
rotineiramente com pouco ou nenhum respeito às de Jean-Pierre Bemba, em Kinshasa, no final de
leis congolesas e ao direito internacional e cometeram março.
a maioria das violações de direitos humanas Em setembro, 21 corpos foram descobertos dentro
registradas. Um número cada vez maior de violações de covas coletivas, em áreas desocupadas pelas forças
foi atribuído à polícia. A falta de disciplina e o fraco de Laurent Nkunda no território de Rutshuru, em Kivu
comando dessas forças, somados à impunidade Norte. Alguns dos corpos estavam com as mãos e os
generalizada de que gozam, continuaram sendo a pés amarrados.
maior barreira para que a realização dos direitos
humanos melhorasse. O programa de Reforma do Tortura e outros maus-tratos
Setor de Segurança, voltado à integração das forças Atos de tortura e de maus-tratos foram cometidos
e dos grupos armados desmobilizados a uma força de de modo rotineiro pelos serviços de segurança do
segurança unificada do Estado, permaneceu apenas governo e por grupos armados, incluindo
parcialmente completo. O fracasso do governo e de espancamentos prolongados, esfaqueamentos e
Laurent Nkunda em respeitar a estrutura legal estupros sob custódia. Os detentos eram mantidos
nacional para a integração do Exército foi um dos incomunicáveis, algumas vezes em locais de
fatores que contribuiu para a violência em Kivu do detenção secretos. Em Kinshasa, a Guarda
Norte. Republicana (guarda presidencial) e a divisão de
A proteção de civis, no leste, permaneceu quase Serviços Especiais da polícia detiveram
que completamente dependente das sobrecarregadas arbitrariamente, torturaram e maltrataram vários
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forças da MONUC. Em novembro, o secretário-geral supostos adversários do governo. Muitas vítimas
da ONU propôs algumas metas que deveriam ser foram visadas por terem a mesma origem étnica ou
atingidas antes de qualquer redução das forças da geográfica de Jean-Pierre Bemba, que é da província
MONUC. Entres essas: o desarmamento e a de Equateur. As condições na maioria das prisões e
desmobilização ou repatriação de grupos armados do centros de detenção continuaram sendo cruéis,
leste; e um aumento substancial das garantias de que desumanas ou degradantes. Mortes de prisioneiros
as forças de segurança da RDC proverão segurança, por desnutrição ou por doenças tratáveis foram
protegendo civis e respeitando os direitos humanos. relatadas com regularidade.
Papy Tembe Moroni, jornalista em Kinshasa, oriundo
Homicídios ilegais da província de Equateur e que trabalhava para uma
As forças de segurança do Estado, assim como estação de televisão oposicionista, passou 132 dias
grupos armados congoleses e estrangeiros, detido arbitrariamente antes de ser libertado em abril.
Sobre o tempo que permaneceu em custódia policial, voltados à reintegração de ex-crianças soldados à
ele disse à AI: “Eu apanhei com pedaços de madeira e vida civil continuaram fracos em muitas regiões do
cassetetes, como se eles estivessem matando uma país. Cerca de cinco mil ex-crianças soldados
cobra”. aguardavam auxílio à reintegração no final de 2007.
Em Kivu Norte, o grupo armado de Laurent
Violência sexual Nkunda e a milícia adversária Mayi-Mayi recrutaram
Uma alta incidência de estupros e de outras formas uma grande quantidade de crianças, muitas delas à
de violência sexual continuou a ser observada em força. As forças de Nkunda teriam escolhido as
todo o país, particularmente no leste. Soldados e escolas como alvos do recrutamento forçado.
policiais, assim como membros de grupos armados A insegurança em Kivu Norte prejudicou os
congoleses e estrangeiros, estavam entre os programas de organizações não-governamentais
principais responsáveis por esses crimes. Houve voltados à reunificação de famílias e à reintrodução
aumento também no número de estupros de ex-crianças soldados à comunidade. Ex-crianças
perpetrados por civis. Muitos estupros, especialmente soldados que haviam se unido novamente às suas
os cometidos por grupos armados, envolviam famílias estavam entre as que foram levadas pelos
mutilação genital ou outros extremos de brutalidade. grupos armados.
O grupo armado FDLR e sua facção dissidente, Em outubro, mais de 160 meninas e meninos, com
Rasta, raptaram mulheres e meninas para serem idades entre sete e 18 anos, foram abrigadas em um
escravas sexuais. Poucos responsáveis por violência estádio na cidade de Rutshuru, em Kivu Norte. Elas
sexual foram levados à Justiça. Uma lei de 2006 que haviam escapado de tentativas das forças de Laurent
reforçava os procedimentos judiciais e as penas para Nkunda de recrutá-las à força. Temia-se que outras
os crimes de violência sexual não foi implantada de crianças tivessem sido capturadas por milicianos
modo abrangente. Sobreviventes de estupro armados ou que estivessem perdidas na floresta.
continuaram a ser estigmatizadas, sofrendo exclusão
social e econômica. Poucas tiveram acesso a Defensores dos direitos humanos
cuidados médicos adequados. A contínua crise de Os defensores dos direitos humanos continuaram a
estupros é parte de um padrão mais amplo da sofrer ataques e ameaças de morte, que se acredita
violência e da discriminação endêmica contra as terem sido realizados principalmente por agentes do
mulheres na RDC. governo. Jornalistas e advogados foram
Combatentes Mayi-Mayi teriam sido responsáveis rotineiramente agredidos, detidos arbitrariamente ou
pelo estupro em massa de aproximadamente 120 intimidados por causa de suas atividades
mulheres e meninas em Lieke Lesole, no território de profissionais.
Opala, na província de Orientale, entre 21 de julho e 3 Uma defensora de diretos humanos foi estuprada
de agosto. Uma investigação judicial estava em curso por um agente de segurança durante uma visita de
no fim do ano. trabalho a uma unidade de detenção no mês de maio.
Entre 26 e 27 de maio, segundo informações, Em setembro, as filhas de outra ativista foram
combatentes Rasta ou da FDLR assassinaram 17 violentamente agredidas sexualmente em sua casa por
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pessoas, incluindo mulheres e crianças, tendo raptado soldados.
e agredido sexualmente sete mulheres, em Kanyola, na Em junho, Serge Maheshe, jornalista da Rádio
província de Kivu Sul. As mulheres foram Okapi, apoiada pela ONU, foi morto, em Bukavu, em
posteriormente resgatadas pelo Exército. circunstâncias que não foram satisfatoriamente
investigadas. Depois de um julgamento militar injusto,
Crianças soldados quatro pessoas foram condenadas à morte em agosto,
Várias centenas de crianças permaneceram nas inclusive dois amigos da vítima, condenados com base
fileiras de grupos armados congoleses e estrangeiros em testemunhos não corroborados, e mais tarde
e em algumas unidades do Exército. Um programa retratados, de dois homens que confessaram o
governamental que visava a identificar as crianças e assassinato. Um recurso estava pendente.
afastá-las das forças armadas estava em grande
medida inoperante no final do ano. Os programas
sendo cometidos na Inguchétia por funcionários Novgorod impôs condições mais rígidas para o
responsáveis pelo cumprimento da lei, foram cumprimento de sua pena.
seqüestrados por indivíduos mascarados, em um hotel Segundo informações, nove pessoas foram indiciadas
na Inguchétia, no dia 24 de novembro. Eles relataram pelo assassinato da jornalista de direitos humanos Anna
terem sido espancados e ameaçados com tiros antes Politkovskaya, ocorrido em outubro de 2006.
de serem soltos em um descampado.
Em abril, pela primeira vez as ONGs russas foram Liberdade de expressão
obrigadas a entregar informações sobre suas Nos meses que antecederam as eleições para a
atividades ao Serviço Federal de Registro, conforme a Duma, as autoridades aumentaram as restrições às
nova lei das ONGs. Nos meses seguintes, defensores demonstrações públicas de opiniões divergentes.
de direitos humanos foram submetidos a contínuas Dezenas de pessoas, entre as quais jornalistas e
inspeções de suas atividades; muitos foram forçados monitores, foram brevemente detidas antes, durante
a registrar novamente suas ONGs segundo e após manifestações; sendo muitos condenados por
procedimentos burocráticos demorados e tiveram de violações do Código Administrativo em julgamentos
contestar, nos tribunais, acusações feitas contra suas que nem sempre seguiram as normas para
organizações. julgamentos justos.
A Citizen’s Watch, uma organização de direitos Em novembro, o líder oposicionista Garry Kasparov
humanos de São Petesburgo, que atua sobre questões foi sentenciado a cinco dias de detenção administrativa
de reforma policial e de combate ao racismo, utilizou por ter participado de uma "passeata dos dissidentes"
fundos de doadores não-russos para suas publicações. em Moscou, uma semana antes das eleições para a
O Serviço Federal de Registro considerou que a Duma. A Anistia Internacional considerou-o um
impressão dos nomes dos doadores nas publicações prisioneiro de consciência e pediu que ele fosse
da Citizen’s Watch constituía publicidade para os libertado imediatamente.
doadores, e, para fazer isso, a ONG teria de pagar Em diversas ocasiões, a polícia utilizou força
taxas. Em julho, o Serviço Federal de Registro exigiu excessiva para dispersar manifestações organizadas
cópias de todas as comunicações enviadas pela por partidos de oposição e por ativistas contrários ao
organização desde 2004. A Citizen’s Watch contestou governo. Após uma passeata em São Petesburgo, no
o direito do Serviço Federal de Registro de receber dia 15 de abril, várias pessoas tiveram de receber
essas informações. tratamento hospitalar.
Em agosto, entraram em vigor as novas emendas As autoridades utilizaram diversos métodos para
à lei de combate a "atividades extremistas". impedir que jornalistas, ativistas políticos de destaque
Os dispositivos acrescentaram à lista de possíveis e ativistas de direitos humanos participassem de
motivações "extremistas" um novo motivo de ódio manifestações e monitorassem os eventos. Em maio,
contra um grupo específico: a lista agora inclui não o prefeito de Moscou, Yuri Luzhkov, proibiu uma
apenas o ódio contra uma raça, uma religião ou uma passeata por direitos GLBT. Ativistas GLBT, entre os
etnia específica, mas também contra grupos políticos, quais diversos membros do Parlamento Europeu,
ideológicos e sociais. A lei permite que atos menos foram detidos brevemente quando tentaram entregar
R
graves de desordem sejam punidos com maior ao prefeito uma petição instando-o a respeitar o
severidade quando cometidos por razões de ódio direito à liberdade de expressão e protestando contra
contra um grupo específico. Defensores de direitos a sua decisão de proibir que uma passeata por
humanos manifestaram preocupação de que a lei direitos homossexuais acontecesse em Moscou.
pudesse ser usada para reprimir as diferenças de
opinião. Conflito armado no norte do Cáucaso
No dia 27 de janeiro, o Supremo Tribunal manteve a Os órgãos tanto federais quanto locais de aplicação
condenação do defensor de direitos humanos Stanislav da lei que operam na região responderam de modo
Dmitrievskii, que havia recebido uma sentença arbitrário e ilegal aos ataques violentos de grupos
condicional, em 2006, por incitação à inimizade étnica, armados. Violações graves dos direitos humanos,
após ter publicado artigos de líderes separatistas como seqüestros e desaparecimentos forçados,
chechenos. Em novembro, um tribunal de Nizhny detenções arbitrárias, tortura (inclusive em locais
de detenção não oficiais), e execuções extrajudiciais Europeu para a Prevenção da Tortura (CPT) emitiu
foram reportadas nas repúblicas da Chechênia, da a sua terceira declaração pública sobre a Chechênia,
Inguchétia, do Daguestão e da Ossétia do Norte. apontando seis centros de detenção policial em que
Pessoas foram condenadas por crimes em casos nos o risco de os detentos serem torturados foi
quais "confissões" forçadas eram parte das provas considerado alto.
apresentadas contra elas. Na Inguchétia e no Em Kabardino-Balkaria, no mês de outubro, teve
Daguestão, foram organizadas manifestações contra início o julgamento de 59 suspeitos acusados de
desaparecimentos e outros atos arbitrários praticados terem realizado um ataque armado na cidade de
pelos órgãos de aplicação da lei. Na capital da Nalchik, em outubro de 2005, no qual foram mortas
Chechênia, Grozni, uma passeata contra os 100 pessoas. Muitos dos detentos, entre os quais um
desaparecimentos foi proibida em outubro. Abusos ex-prisioneiro de Guantánamo, Rasul Kudaev,
de direitos humanos, inclusive seqüestros, teriam sido afirmaram ter sido torturados para que fizessem
cometidos por grupos armados contra civis na região. confissões.
Na Inguchétia, em pelo menos seis casos em que
indivíduos foram mortos a tiros por funcionários Impunidade
encarregados de cumprir a lei, testemunhas As vítimas de violações de direitos humanos e seus
afirmaram que os homens haviam sido sumariamente familiares geralmente tinham medo de prestar
executados; as autoridades, por sua vez, afirmaram queixas de maneira oficial. Em alguns casos, a vítima
que eles apresentaram resistência armada. Familiares ou os seus advogados eram ameaçados diretamente
de um menino de seis anos, morto a tiros por agentes para que não levassem adiante as denúncias. Grupos
de segurança durante uma incursão na casa da de direitos humanos da região que divulgavam as
família, em novembro, afirmaram que o garoto foi violações e prestavam assistência às vítimas sofreram
morto deliberadamente. Detentos foram torturados e pressão por parte das autoridades. Alguns indivíduos
maltratados com a finalidade de extrair "confissões" estariam relutantes em apresentar requerimentos à
ou informações. Ao menos três pessoas vítimas de Corte Européia de Direitos Humanos devido a
seqüestro ou de desaparecimento forçado durante o represálias tomadas anteriormente contra outros
ano continuavam desaparecidas no final do ano. demandantes.
Ibragim Gazdiev foi capturado por homens armados Sumaia Abzueva, de 76 anos, teria sido espancada
usando roupas camufladas, no mês de agosto, em a caminho do mercado, em Argun, no dia 9 de janeiro,
Karabulak, na Inguchétia, tendo desaparecido depois por um grupo de rapazes. Ela estava tentando fazer
disso. Segundo informações, os homens armados com que a morte de seu filho, ocorrida em 2005, fosse
eram agentes de aplicação da lei do Serviço Federal de investigada. Sumaia afirmou ter sido ameaçada mais
Segurança (FSB). As autoridades negaram de uma vez pelos homens que haviam detido e levado
oficialmente que Ibragim Gazdiev tivesse sido detido. seu filho da residência da família, os quais se
Desde que isso aconteceu, não se tem qualquer notícia suspeitava serem membros das forças de segurança
dele. chechenas.
Na Chechênia, o número de seqüestros e de Nos casos em que se abriam investigações a
R
desaparecimentos forçados comunicados diminuiu respeito de violações de direitos humanos, elas
em comparação com o ano anterior, embora ainda geralmente se mostravam inúteis, sendo suspensas
continue a haver registros desse tipo de casos. Houve por não conseguirem identificar qualquer suspeito.
denúncias de tortura e de maus-tratos cometidos por O CPT destacou graves impropriedades em muitas
funcionários responsáveis pela aplicação da lei, das investigações que foram abertas sobre denúncias
inclusive em locais de detenção secretos e ilegais. de tortura. Não havia uma lista única das pessoas
Durante a visita que fez à Chechênia, em março, o desaparecidas, não havia trabalho de coleta de DNA
comissário de Direitos Humanos do Conselho da dos parentes das pessoas desaparecidas, não eram
Europa afirmou ter tido "a impressão de que a tortura feitos trabalhos de exumação em sepulturas coletivas
e os maus-tratos eram disseminados", acrescentando e não havia um laboratório forense adequadamente
que os perpetradores da tortura tinham uma equipado para efetuar autópsias. Poucos casos foram
sensação de "total impunidade". Em março, o Comitê a julgamento.
tratos e contra violações de seus direitos, tais como aos processos criminais, e a equipe de advogados
não poder receber visitas familiares nem que defende os prisioneiros foi intimidada.
encomendas de comida, e o uso freqüente de celas
de castigo por pequenas infrações do regulamento Violência contra a mulher
penitenciário. Informes semelhantes foram A violência contra as mulheres no âmbito familiar foi
recebidos de colônias penais das regiões de amplamente disseminada. O apoio governamental a
Krasnodar, Sverdlovsk e Kaluga. Os meios de centros de atendimento e a serviços telefônicos de
comunicação divulgaram que três prisioneiros emergência foi totalmente inadequado. Não havia, no
morreram durante a supressão a um motim na direito russo, qualquer medida que tratasse
região de Sverdlovsk. especificamente da violência contra a mulher dentro
Em janeiro, o Presidente Putin deu declarações da família.
favoráveis à ratificação do Protocolo Facultativo à
Convenção da ONU contra a Tortura. Estavam sendo Racismo
discutidas propostas que permitissem o Ataques racistas violentos ocorreram com uma
monitoramento público de locais de detenção; regularidade alarmante, principalmente nos grandes
porém, até o final do ano, não havia sido centros urbanos como Moscou, São Petesburgo e
implementado nenhum sistema efetivo de inspeções Nizhny Novgorod, onde vive a maioria dos
sem aviso prévio. estrangeiros e das minorias étnicas. Embora seja
difícil verificar o número exato de ataques e de
Preocupação com julgamentos justos incidentes racistas, o Centro de Informação e Análise
Em abril, a Assembléia Parlamentar do Conselho da SOVA, uma entidade não-governamental, informou
Europa exortou as autoridades russas a usarem que pelo menos 61 pessoas foram mortas e que 369
"todos os meios legais disponíveis" para libertar Igor ficaram feridas em ataques racistas; uma quantidade
Sutiagin, Valentin Danilov e Mikhail Trepashkin. Os maior do que em 2006. Ataques anti-semitas e
parlamentares manifestaram preocupação com o profanação de cemitérios judaicos também foram
fato de as autoridades não cumprirem as normas relatados. Devido a um problema crônico de
internacionais para julgamentos justos e com subnotificação, a real incidência desse tipo de
denúncias de tratamento médico inadequado. violência permanece oculta.
Igor Sutiagin, sentenciado em 2004 a 15 anos de Apesar dos esforços crescentes das autoridades
prisão por espionagem, passou três meses em uma para que a questão do racismo obtenha
cela de castigo, por, segundo informações, possuir reconhecimento, e de algumas indicações de que as
um telefone celular em uma colônia penal. disposições legais contra os crimes racistas estão
O advogado e ex-agente dos serviços de sendo utilizadas de maneira mais eficaz, houve
segurança, Mikhail Trepashkin, foi considerado poucas condenações por agressões racistas e as
culpado, em 2004, de revelar segredos de Estado e vítimas afirmaram que suas tentativas de denunciar
de posse ilegal de munições. Em março, ele foi esses ataques às autoridades foram em vão.
transferido de uma colônia penal de regime aberto
R
para uma de regime mais rigoroso por, supostamente, Visitas e relatórios da AI
ter infringido as regras da prisão. No entanto, seus Representantes da Anistia Internacional visitaram o país em julho e em
advogados e defensores de direitos humanos dezembro. Uma visita à Chechênia, planejada para outubro, foi adiada a
acreditavam que a transferência fora uma punição pedido das autoridades.
por suas queixas contra as autoridades prisionais. Russian Federation: What justice for Chechnya’s disappeared? (EUR
Mikhail Trepashkin foi solto no dia 30 de novembro. 46/015/2007)
Em fevereiro, novas acusações foram apresentadas Russian Federation: Update Briefing: What progress has been made
contra o ex-diretor da companhia de petróleo Yukos, since May 2006 to tackle violent racism? (EUR 46/047/2007)
Mikhail Khodorkovskii, e contra seu associado, Platon Russian Federation: Human rights defenders at risk in the North
Lebedev, ambos presos por envolvimento com Caucasus (EUR 46/053/2007)
fraudes e com lavagem de dinheiro. A Procuradoria Russian Federation: New trial of Mikhail Khodorkovskii and Platon
Geral não respeitou as decisões judiciais referentes Lebedev must meet international fair trial standards (EUR 46/052/2007)
Eles estavam entre as 10 pessoas detidas em maio com outro país, expondo-o ao risco de ações hostis”,
de 2006 por causa da Declaração Beirute-Damasco, bem como por seu envolvimento na organização de
assinada por 300 sírios e cidadãos libaneses, que um grupo de discussão formado por jovens e por
buscava a normalização das relações entre os dois publicarem artigos pró-democracia na Internet. Maher
países. Isber Ibrahim e Tareq al-Ghorani também foram
Das 40 pessoas detidas por participarem de uma condenados por “transmitir notícias falsas” e
reunião, em 1º de dezembro, do Conselho Nacional da sentenciados a sete anos de prisão, enquanto os outros
Declaração de Damasco para uma Mudança Nacional cinco receberam sentenças de cinco anos de prisão.
Democrática – um importante grupo pró-democracia e Todos foram detidos pelo Serviço de Inteligência da
de oposição não-autorizado – sete continuavam presas Força Aérea no início de 2006 e, segundo informações,
e mantidas incomunicáveis no fim do ano. mantidos incomunicáveis até novembro de 2006. Eles
não reconheceram as “confissões” que haviam feito
Grupo de Trabalho da ONU sobre durante a prisão temporária, alegando que haviam sido
detenções arbitrárias obtidas mediante tortura e coação. Entretanto, o STSE
Foi anunciado, em fevereiro, que o Grupo de Trabalho falhou em investigar suas denúncias e aceitou as
da ONU sobre detenções arbitrárias havia declarado, “confissões” como prova.
em maio de 2006, que a detenção de Riad Drar al- Fa’eq al-Mir, líder do Partido Democrático Popular,
Hamood fora arbitrária devido à inobservância das foi condenado pelo Tribunal Penal, em 31 de
normas para julgamentos justos e por ele ter sido dezembro, por “espalhar informações falsas
condenado pelo exercício do direito de liberdade de prejudiciais à nação”. Esta acusação aparentemente
expressão. Riad Drar al-Hamood foi condenado a está relacionada a uma ligação telefônica que ele fez
cinco anos de prisão pelo STSE em abril de 2006, para um político libanês a fim de expressar
acusado de pertencer a uma “organização secreta”, condolências pelo assassinato de um ministro de
de “publicar notícias falsas” e de “incitar a luta Estado. Ele foi sentenciado a 18 meses de prisão.
sectária”. As acusações estão relacionadas a um Segundo informações, Kareem Arabji foi detido em
discurso feito por ele no funeral de um proeminente 7 de junho pelo Serviço de Inteligência Militar em
estudioso islâmico curdo, xeque Muhammad Damasco, por coordenar o fórum de jovens
Ma’shuq al-Khiznawi, que havia sido seqüestrado www.akhawia.net na Internet. No fim do ano, ele ainda
e morto. era mantido incomunicável .
Em junho de 2007, o Grupo de Trabalho da ONU
declarou que Ayman Ardenli, mantido preso por três Tortura e maus-tratos
anos na Síria sem acusação, havia sido detido Os detentos continuaram a sofrer tortura e maus-
arbitrariamente, já que sua detenção não poderia ser tratos. Segundo informações, cinco deles morreram
justificada por “quaisquer bases legais”, e que possivelmente em conseqüência dos abusos.
Muhammad Zammar, mantido preso por quase cinco As autoridades não tomaram nenhuma medida para
anos sem acusação antes de ser sentenciado pelo investigar as alegações de tortura.
STSE a 12 anos de prisão, em 11 de fevereiro, fora Aref Dalilah, de 64 anos, continuou em
detido arbitrariamente devido à inobservância das confinamento solitário em uma pequena cela na prisão
normas para julgamentos justos (veja abaixo). de ‘Adra, cumprindo uma pena de 10 anos imposta S
devido ao seu envolvimento no movimento pró-reforma
Liberdade de expressão conhecido como “Primavera de Damasco”. Ele sofre
A liberdade de expressão continuou a ser de diabetes, de pressão alta e dos efeitos de um
severamente controlada. derrame, e teve negado o acesso aos cuidados
Em 17 de junho, Maher Isber Ibrahim, Tareq al- médicos adequados.
Ghorani, Hussam ‘Ali Mulhim, Diab Siriyeh, ‘Omar ‘Ali O corpo de Abd al-Moez Salem foi devolvido a sua
al-’Abdullah, ‘Allam Fakhour e Ayham Saqr foram família em Areeha, em 4 de julho, e, segundo
condenados pelo STSE por “agirem ou fazerem informações, foi sepultado na presença de agentes do
declarações escritas ou orais que pudessem colocar o Serviço de Inteligência Militar que não permitiram que
Estado em perigo ou prejudicar o seu relacionamento ele fosse visto nem preparado para o sepultamento.
Aparentemente ele havia sido mantido incomunicável situação das mulheres. Dentre as reivindicações do
por até dois anos, inclusive no departamento da Comitê estavam: a reforma das leis discriminatórias
Palestina do Serviço de Inteligência Militar. ou o seu repúdio, incluindo a reforma de disposições
Aref Hannoush, de 16 anos, estava entre os nove relevantes da Lei de Estado Civil, do Código Penal e
jovens que, segundo informações, foram vítimas de da Lei da Nacionalidade; a criminalização do estupro
tortura e maus-tratos quando estiveram detidos em cometido pelos marido; o fim da impunidade para os
Damasco, em agosto. Eles disseram ter sido responsáveis pelos crimes de “honra” e o fim de
confinados em condições precárias e degradantes, qualquer redução de pena; a criação de abrigos e de
privados do sono e do acesso ao banheiro, e outros serviços para as mulheres vítimas de violência;
espancados, inclusive pelo método conhecido como e permissão para as organizações defensoras dos
dulab, em que a vítima é espancada com bastões direitos das mulheres e outras ONGs de direitos
enquanto está suspensa por um pneu. humanos atuarem independentemente do governo.
Direitos Humanos criticou o governo pela sua falha Segundo o UNICEF, o recrutamento de crianças
em registrar, investigar e processar adequadamente soldados pelos Tigres Tâmeis, de fato, diminuiu em
os casos de seqüestros, desaparecimentos e 2007.
homicídios. Em abril, o UNICEF afirmou que, dos 285 casos de
Em novembro, o líder político dos Tigres Tâmeis, crianças recrutadas pelo grupo Karuna, havia 195
S.P. Thamilchelvan, foi morto em um ataque da força ainda não solucionados.
aérea do Sri Lanka. Em 28 de novembro, dois
bombardeios na capital, Colombo, mataram 18 e Prisões e detenções arbitrárias
feriram mais de 30 pessoas. O Exército culpou os A polícia do Sri Lanka foi responsável por detenções
Tigres Tâmeis pelos bombardeios. em massa de mais de mil homens e mulheres tâmeis
As solicitações dos grupos defensores de direitos que, segundo informações, foram efetuadas em
para a instalação de um escritório local do Alto resposta aos bombardeios suicidas ocorridos em
Comissariado para os Direitos Humanos, a fim de Colombo, em 28 de novembro. As detenções foram
cuidar da segurança dos civis no Sri Lanka, foram feitas de forma arbitrária e discriminatória usando os
negadas várias vezes pelo governo. amplos poderes garantidos pelas leis de emergência.
Em dezembro, os Estados Unidos suspenderam Segundo denúncias, “os tâmeis foram jogados em
a ajuda militar para o Sri Lanka devido às veículos de carga e levados para interrogatório”.
preocupações com os direitos humanos. Mais de 400 detidos, dentre eles 50 mulheres, foram
levados para o campo de Boosa, próximo a Galle, no
Deslocados internos no país sul, um local que é conhecido pela superlotação e
O número de pessoas deslocadas em conseqüência por não ter saneamento nem água potável
do conflito, desde abril de 2006, totalizou mais de adequados.
200 mil em 2007. Além disso, muitas pessoas
continuavam deslocadas desde há muito tempo. Liberdade de expressão
Em Puttalam, por exemplo, uma cidade no noroeste Aumentou o número de ataques contra jornalistas,
do Sri Lanka, famílias muçulmanas deslocadas da principalmente daqueles a quem se considerava
região norte do país passaram seu 17º ano nessas fazerem parte da imprensa tâmil.
condições. A segurança física dos deslocados Em 29 de abril, Selvaraja Rajivaram, um jovem
internos, na maioria das vezes, ficou comprometida. jornalista do jornal Uthayan, foi morto a tiros próximo a
Em várias ocasiões, o governo forçou-os a voltarem sede do jornal em Jaffna.
para suas casas em condições de insegurança, em Em 2 de agosto, Sahathevan Deluxshan, um
violação às internacionais. jornalista de 22 anos que trabalhava meio período,
foi baleado e morto por homens não identificados na
Crianças soldados cidade de Jaffna.
O recrutamento de crianças soldados pelos Tigres de As autoridades não investigaram efetivamente nem
Libertação da Pátria Tâmil e pelo grupo armado tâmil, processaram os responsáveis por estes homicídios
conhecido como facção Karuna, continuou nas regiões ilegais. Jornalistas de todas as comunidades foram
leste e norte. Em maio de 2007, o Grupo de Trabalho detidos por causa de artigos críticos ao governo.
S sobre as Crianças e o Conflito Armado do Conselho de Em 16 de agosto, a segurança particular oferecida
Segurança ameaçou tomar providências contra os pelo governo para proteger o colunista Iqbal Athas foi
Tigres Tâmeis se eles continuassem a recrutar retirada. Iqbal Athas havia recebido proteção policial
crianças. O representante especial da ONU para as depois de ter sido repetidamente ameaçado por
crianças e o conflito armado identificou os Tigres membros das forças de segurança irritados com suas
Tâmeis como “criminosos contumazes que por quatro reportagens sobre o tráfico de armas.
anos têm constado na lista do secretário-geral sobre
violadores ”. Impunidade
Em 18 de junho, os Tigres Tâmeis libertaram 135 A proposta de uma comissão de inquérito não
crianças soldados e se comprometeram a reduzir o conseguiu conquistar a confiança de todos os lados
recrutamento de todas as crianças até o fim do ano. do conflito. Surgiram graves preocupações com a
sobre o Protocolo de Abyei não haviam sido resolvidos em prática. O CDH votou pelo fim do mandato do
até o final do ano. grupo de especialistas, mas manteve o mandato do
O Acordo de Paz assinado com os grupos armados relator especial sobre a situação dos direitos humanos
do leste do Sudão, em 2006, permaneceram em no Sudão.
vigor, e os líderes oposicionistas do leste juntaram-se Em dezembro, o CDH instou o Sudão a
ao GNU. Algumas figuras de destaque declararam implementar todas as recomendações ainda
que pessoas do leste próximas ao Partido do pendentes identificadas pelo grupo de especialistas
Congresso Nacional receberam uma quantidade sobre Darfur, estendeu em um ano o mandato da
desproporcional de cargos no governo. relatora especial da ONU sobre a situação dos direitos
A harmonização da legislação nacional com as humanos no Sudão e pediu que ela desse
disposições do Acordo de Paz Global sofreu diversos prosseguimento à implementação dessas
atrasos. Entre as leis que não foram aprovadas em recomendações.
2007 estavam a Lei do Serviço de Segurança Um painel de especialistas, criado em 2005,
Nacional, a Lei da Polícia Nacional, a Lei das Forças através da Resolução 1591 do Conselho de
Armadas e a Lei Eleitoral. Além disso, não foram Segurança, para monitorar o embargo de armas,
apresentados projetos de lei à Comissão Nacional de reportou que todas as partes envolvidas estavam
Direitos Humanos, à Comissão Eleitoral e à Comissão infringindo o embargo e identificou nominalmente
de Terras. certos indivíduos responsáveis por sua violação.
Em julho, o Conselho de Segurança aprovou a
Escrutínio internacional em Darfur Resolução 1769, estabelecendo uma Operação
O secretário-geral da ONU apresentou relatórios Híbrida da União Africana-Nações Unidas em Darfur
mensais ao Conselho de Segurança sobre a situação (UNAMID) - uma força mista de manutenção da paz
em Darfur. O Conselho também recebeu informes da União Africana (UA) e da ONU, com mais de 26
regulares do relator especial da ONU sobre a situação mil integrantes, entre os quais mais de seis mil
dos direitos humanos no Sudão. A Missão da ONU no policiais da ONU. O governo do Sudão obstruiu a
Sudão (UNMIS), estabelecida com base no Acordo possibilidade de intervenção rápida da força ao não
de Paz Global, tinha mais de 10 mil tropas no sul e aprovar a lista de países contribuintes, a qual incluía
também em Abyei, nas montanhas da Núbia e no países não-africanos. Além disso, países-membros da
Nilo Azul. A UNMIS contava com 70 monitores de ONU não contribuíram com equipamentos cruciais,
direitos humanos por todo o Sudão, inclusive 33 em tais como helicópteros. A UNAMID substituiu a AMIS
Darfur. A Missão emitiu relatórios periódicos sobre no dia 31 de dezembro, porém com um contingente
incidentes específicos de direitos humanos, mas de apenas 9 mil integrantes, incluindo 6.880
parou de publicar informes atualizados regulares soldados e 1.540 policiais.
sobre direitos humanos. Em fevereiro, o promotor do Tribunal Penal
Uma missão de alto nível, com cinco integrantes, Internacional (TPI) apresentou à Câmara de Instrução
com um mandato da Seção Especial sobre Darfur do do TPI provas de crimes de guerra e de crimes contra
Conselho de Direitos Humanos (CDH) da ONU, de a humanidade, ocorridos em Darfur, contra Ahmad
dezembro de 2006, não obteve concessão de vistos Muhammad Harun, ex-ministro do Interior e
S para entrar no Sudão. A missão visitou o Chade e posteriormente ministro de Questões Humanitárias, e
também outras áreas e apresentou seu relatório ao contra o líder da milícia Janjawid Ali Mohammad Ali
Conselho de Direitos Humanos em março. Abdel-Rahman (Ali Kushayb). Em abril, a Câmara de
Nesse mês, o CDH convocou um grupo de Instrução do TPI expediu mandados de prisão contra
especialistas para levar a cabo as recomendações os dois acusados. O governo do Sudão afirmou que
feitas anteriormente pelos organismos de direitos se recusaria a entregá-los. Em dezembro, o Conselho
humanos da ONU para Darfur. O Conselho Consultivo de Segurança da ONU não aceitou uma declaração
de Direitos Humanos, designado pelo governo presidencial apoiando a condenação do promotor à
sudanês, respondeu às recomendações. Porém, falta de cooperação do Sudão com o TPI.
segundo um relatório apresentado ao CDH em
novembro, foram poucas as recomendações postas
inclusive adolescentes, foram estupradas quando aparentemente para forçá-los a confessar participação
saíram de campos para DI, em Zalingei, para coletar em um suposto golpe. Os métodos de tortura utilizados
lenha, no segundo semestre de 2007. Em agosto, uma incluíam espancamentos, permanecer sentado ou em
mulher foi estuprada quando estava grávida de oito pé por longos períodos de tempo e suspensão pelos
meses. pulsos e tornozelos amarrados às costas (posição
A mutilação genital feminina continuou a ser conhecida como tayyara - avião). Em novembro,
praticada sistematicamente no norte do Sudão. Mubarak al-Fadel al-Mahdi e Ali Mahmoud Hassanain,
esse diabético, entraram em greve de fome em protesto
Detenções arbitrárias, tortura e outros contra as ilegalidades e os atrasos durante a fase de
maus-tratos instrução do processo. No dia 4 de dezembro, o Estado
O Serviço Nacional de Inteligência e Segurança, a soltou Mubarak al-Fadel al-Mahdi sem qualquer
Inteligência Militar e a polícia continuaram a cometer acusação e, no dia 31 de dezembro, os demais
violações de direitos humanos, inclusive prisões detentos receberam indulto presidencial.
arbitrárias, tortura e maus-tratos, bem como o uso de Em agosto, a polícia e o Serviço Nacional de
força excessiva. Presos políticos, pessoas suspeitas Inteligência e Segurança cercaram o campo Kalma,
de terem cometido crimes, estudantes em Cartum, próximo a Niala, em Darfur, e prenderam cerca de 35
darfurenses e pessoas de outras áreas marginalizadas deslocados internos depois que dois policiais teriam
foram rotineiramente submetidos a tortura e a maus- sido mortos. A maioria dos detentos foi espancada no
tratos. Açoitamentos continuaram a ser impostos para momento da prisão e também posteriormente na
uma variedade de delitos contra a ordem pública, delegacia central de Niala, onde permaneceram
como relações sexuais ilegais e comércio de álcool. detidos incomunicáveis por um longo tempo. Eles
Manifestações eram freqüentemente reprimidas com foram libertados em outubro, sem acusações nem
uso de força excessiva. julgamento.
Ao menos 30 pessoas foram presas, entre os meses Mais de 100 pessoas, entre as quais estudantes,
de junho e julho, em conexão com os protestos contra participaram de uma manifestação em setembro, por
a represa Kajbar. Em junho, durante uma passeata ocasião do Dia Global por Darfur. Após as
pacífica, a polícia matou quatro manifestantes e feriu manifestações, oito estudantes foram presos por um
outros 11. Entre os que foram presos estava um grupo período de dois dias. Segundo informações, eles
que investigava os homicídios, entre eles: Mohammed tiveram os olhos vendados e foram torturados pelo
Jalal Ahmad Hashim, professor da Universidade de Serviço Nacional de Inteligência e Segurança. No
Cartum; membros do comitê contra a represa Kajbar, terceiro dia, eles foram transferidos para custódia da
inclusive seu porta-voz, Osman Ibrahim; e jornalistas. polícia e as torturas cessaram.
As pessoas detidas, inclusive os jornalistas, foram
mantidas incomunicáveis por até 10 semanas e Julgamentos injustos e pena de morte
tiveram de assinar uma declaração prometendo, no Há confirmação de que ao menos 23 pessoas foram
futuro, não mais fazer comentários sobre a represa. condenadas à morte e de que sete foram executadas
Mubarak al-Fadel al-Mahdi, presidente do Partido Al por enforcamento em 2007. Acredita-se, porém, que
Umma para a Reforma e a Renovação (PURR), foi os números verdadeiros sejam muito mais altos.
S preso, em julho, juntamente com, no mínimo, outras Sentenças de morte continuaram a ser
40 pessoas, entre as quais vários ex-militares, sendo freqüentemente proferidas após julgamentos injustos
acusado de contrabandear armas e de planejar um em que confissões extraídas mediante tortura eram
golpe. Logo após a prisão, foi emitida uma ordem usadas como prova. Em diversas ocasiões, os réus
proibindo que o caso fosse discutido na imprensa. foram condenados à morte depois de julgamentos em
No dia 1º de agosto, Ali Mahmoud Hassanain, de 73 que não tiveram advogado de defesa.
anos, advogado de direitos humanos e vice-presidente Mulheres acusadas de adultério continuaram a
do Partido Democrático Unionista, foi preso. Entre o receber sentenças de morte, porém, não se sabe de
grupo de detentos no qual ele se encontrava, muitos alguma que tenha sido executada. Em Darfur, os
foram torturados durante um período de detenção Tribunais Especiais e os Tribunais Penais Especiais
incomunicável que chegou a seis semanas, continuaram a conduzir julgamentos injustos.
O Tribunal Penal Especial sobre os acontecimentos por terem escrito um artigo criticando o Serviço
de Darfur não realizou nenhuma audiência durante Nacional de Inteligência e Segurança pela detenção
o ano. de outros jornalistas. Eles eram prisioneiros de
No Sudão Meridional muitas pessoas que foram consciência.
julgadas sem acesso a advogados de defesa
receberam sentenças de morte. Porém, não se tem Sudão Meridional
conhecimento de que alguém tenha sido executado No Sudão Meridional - uma região autônoma,
judicialmente em 2007. segundo o Acordo de Paz Global (APG) - diversas
Sadia Idriss Fadul e Amouna Abdallah Daldoum, comissões do APG foram criadas por meio de
ambas de Darfur, foram condenadas em fevereiro e decreto presidencial, entre elas a Comissão de
março, respectivamente, à lapidação*(apedrejamento Direitos Humanos do Sudão Meridional. Em
até a morte), por adultério, pelo Tribunal Penal da novembro, a Assembléia Legislativa do Sudão
Província de Managil, no Estado de Gazira. Acreditava- Meridional aprovou uma Lei do Exército. Projetos
se que a pena havia sido comutada. de lei relativos ao Serviço Público, a População e
Em novembro, 10 pessoas de origem darfurense, Censo, e a Desarmamento, Desmobilização e
entre as quais al-Tayeb Abdel Aziz, de 16 anos, e Idris Reintegração (DDR) estavam prestes a ser
Mohammed al-Sanousi, de 71 anos, foram apresentados.
condenadas à morte no Tribunal Penal de Cartum pelo Os choques entre diferentes milícias continuaram
assassinato de um editor de jornal, Mohammed Taha. e muitas vezes resultaram na morte ou no
Todos os 10 retrataram suas confissões, pois disseram seqüestro de civis. As pessoas continuaram a ser
que haviam sido extraídas sob tortura. O Tribunal detidas arbitrariamente, às vezes como reféns em
rejeitou o pedido dos advogados de defesa para que nome de outros familiares. Em parte devido à falta
fossem requisitados exames médicos. de advogados, muitas pessoas foram condenadas
Dois membros da Inteligência Militar, Bakhit sem terem acesso a advogados de defesa. Várias
Mohammed Bakhit e Abdel Malik Abdallah, foram sentenças de morte foram proferidas, mas não se
executados por enforcamento no mês de maio, na tem conhecimento de que tenha ocorrido alguma
prisão de Shalla, em Al-Fashir, Darfur. Eles foram execução.
levados a julgamento no Tribunal Penal Especial sobre Em outubro, Mapet Daniel Dut foi condenado à
os acontecimentos de Darfur, em agosto de 2005, e morte por assassinato, pelo Tribunal de Justiça de
foram condenados à pena de morte, por assassinato, Rumbek. Segundo informações, ele não teve
pela morte de Adam Idris Mohammed, torturado até advogado de defesa. Posteriormente, ele escapou
a morte quando estava sob custódia. O chefe da da prisão e a polícia então deteve seu irmão e seu pai
Inteligência Militar foi absolvido. em seu lugar. Duas irmãs, que foram levar-lhes
comida, também foram detidas, sendo soltas depois
Liberdade de expressão de alguns dias. Mapet Daniel Dut não foi recapturado
Continuaram as restrições à liberdade de expressão e e seu pai permanecia detido no final do ano.
de associação. As disposições da Lei de Imprensa, de
2004, foram utilizadas para censurar jornais e para Relatórios da AI
limitar a liberdade de expressão. O governo impôs Sudão: Time is running out: Protect the people of Darfur (AFR S
ordens de silêncio (*leis de mordaça) que incluíam 54/016/2007)
proibições arbitrárias de reportar: casos criminais Sudão: Arms continuing to fuel serious human rights violations in
referentes ao conflito de Darfur, investigações sobre Darfur (AFR 54/019/2007)
mortes de civis em manifestações contra a represa de Sudão: Arrest Now! Darfur, the Sudan: Ahmad Harun and Ali Kushayb
Kajbar, informações referentes ao caso de Mubarak (AFR 54/027/2007)
al-Fadel al-Mahdi. Darfur: When will they protect us? (AFR 54/043/2007)
Em novembro, dois jornalistas do jornal Al-Sudani Sudão: Obstruction and Delay (AFR 54/006/2007)
foram detidos por 12 dias quando se recusaram a
pagar uma multa de 10 mil libras sudanesas (5 mil
dólares). Eles haviam sido condenados por difamação
timorense quanto o governo indonésio resistiram concedeu-lhe poderes para legislar por decreto,
a novas iniciativas de levar à Justiça todos os durante 18 meses, sobre uma ampla variedade de
perpetradores dos crimes de 1999. questões, entre as quais segurança pública e reforma
A Comissão da Verdade e da Amizade, estabelecida institucional. Em dezembro, por meio de referendo, os
conjuntamente pela Indonésia e pelo Timor-Leste venezuelanos rejeitaram mudanças constitucionais
para documentar os crimes cometidos no Timor- controversas. Preocupações de que algumas das
Leste em 1999 e para promover a reconciliação, mudanças constitucionais propostas pudessem
deu início às suas investigações por meio de restringir direitos humanos fundamentais foram
audiências públicas e fechadas. Em julho, o expressas pelo relator especial da ONU sobre
secretário-geral da ONU instruiu os funcionários liberdade de opinião e de expressão, pelo
das Nações Unidas a não testemunharem, pois a representante especial do secretário-geral da ONU
Comissão poderia recomendar anistia para crimes para os defensores de direitos humanos e pelo relator
graves. Observadores nacionais e internacionais especial da ONU sobre a independência de
manifestaram preocupação com o tratamento que magistrados e advogados.
a Comissão dispensou às vítimas durante as
audiências e com a possibilidade de uma Forças policiais e de segurança
apreciação tendenciosa dos testemunhos de Uma nova lei sobre o direito da mulher de viver livre
militares, de membros de milícias e de burocratas de violência entrou em vigor em março. Apesar de
frente ao testemunho das vítimas. esta nova lei garantir uma maior proteção às mulheres
vítimas de violência, um plano de ação que contasse
com os recursos necessários para que a lei fosse
implementada ainda não havia sido desenvolvido no
fim do ano.
as conversações, foi aprovada, em outubro, a meses em algumas partes da cidade. Esta proibição
emenda constitucional Nº 18, com o objetivo de parece ter infringido a seção 27 da Lei de Segurança
sincronizar as eleições presidenciais, parlamentares e Ordem Pública, que apenas permite que a polícia
e locais, bem como de criar uma comissão de imponha um mês de proibição.
direitos humanos.Em dezembro, o Parlamento Embora a polícia tenha usado força excessiva
aprovou outros projetos de lei elaborados em para dispersar as manifestações e reuniões
conformidade com os acordos firmados nas organizadas pelo MDC e por organizações da
conversações; entre eles, o projeto de emenda à Lei sociedade civil, não havia relatos de que a polícia
de Segurança e Ordem Pública e o projeto de tivesse impedido qualquer reunião ou manifestação
emenda às Leis Eleitorais. organizada pelo partido governista, a União Nacional
A economia continuou em declínio, provocando Africana do Zimbábue – Frente Patriótica (ZANU-PF)
perdas acentuadas nas rendas familiares e ou por organizações associadas, entre as quais a
dificultando o acesso a alimentação, saúde e Associação dos Veteranos da Guerra de Libertação
educação. O Programa Alimentar Mundial (PAM) Nacional do Zimbábue.
estimou que cerca de quatro milhões de Em 18 de fevereiro, a polícia de Harare impediu o
zimbabuanos necessitavam de ajuda alimentar. MDC de realizar um comício em Highfield, um bairro
A inflação havia ultrapassado o índice de 7.900 por na periferia da cidade. A facção do MDC liderada por
cento no fim de setembro, mas o Escritório Central Morgan Tsvangirai havia programado um comício para
de Estatísticas não divulgou os números relativos a lançar sua campanha presidencial às eleições de
outubro, novembro e dezembro. Em junho, o 2008. Mesmo com uma ordem do Tribunal Superior,
governo adotou um controle de preços com a obtida pelo MDC em 17 de fevereiro, que proibia a
intenção declarada de conter alta descontrolada dos polícia de impedir o comício, a polícia montou
alimentos. Essa política causou pânico e provocou barreiras de controle para impedir as pessoas de
uma corrida às compras. No início de julho, a chegarem ao local do evento. Pelo menos 50 pessoas
maioria dos produtos, como farinha de milho – um ficaram feridas, cinco delas gravemente, quando a
item básico na dieta dos zimbabuanos –, havia polícia agrediu os participantes aleatoriamente.
desaparecido dos mercados. Durante o período de A polícia primeiro agrediu os simpatizantes do MDC
aplicação dessas regras, a polícia prendeu mais de com cacetetes, e depois utilizou cães, gás
sete mil comerciantes por não respeitarem o controle lacrimogêneo e jatos d’água para dispersá-los.
oficial de preços. Houve denúncias de conduta Policiais também ficaram feridos. Houve denúncias
corrupta por parte dos agentes responsáveis pelo de que a polícia ainda teria ido de casa em casa
cumprimento das normas, inclusive sobre o espancando pessoas suspeitas de apoiarem o
armazenamento clandestino de produtos praticado MDC.Em 19 de fevereiro, a polícia prendeu vários
por encarregados da segurança pública. líderes do MDC em Highfield.
Em 11 de março, pelo menos 50 ativistas foram
Liberdade de reunião e de associação presos em Highfield após tentarem participar de um
Ao longo de todo o ano, a polícia impôs sérias encontro de orações organizado pela Campanha Salve
restrições aos direitos de reunião e de associação o Zimbábue, uma coalizão de partidos políticos,
de defensores dos direitos humanos, estudantes, organizações da sociedade civil e igrejas. O encontro
sindicalistas e membros do MDC. A polícia usou foi organizado em protesto contra a proibição policial
força excessiva para dispersar manifestações de se fazer manifestações por três meses em partes de
pacíficas. Os detentos sob custódia da polícia Harare. Entre os detidos estavam os líderes da facção
foram vítimas de tortura, principalmente por do MDC, Morgan Tsvangirai e Arthur Mutambara, o
espancamentos graves, e de maus-tratos. presidente da organização não-governamental
Os detentos tiveram seu acesso a advogados, Assembléia Nacional Constitucional (NCA), Lovemore
alimentos e cuidados médicos repetidamente Madhuku, e dois integrantes da cúpula do MDC, Sekai
negado. Holland e Grace Kwinjeh. Eles foram levados para a
Em 21 de fevereiro, a polícia de Harare anunciou delegacia de Machipisa, onde foram chutados e
que as manifestações estariam proibidas por três espancados com cacetetes pela polícia. Z
onde estava e forçaram os familiares a sepultá-lo na Bruxelas para participar de um encontro parlamentar
zona rural, em Mt. Darwin, onde ele nascera. sobre a parceria UE-ACP (União Européia-Estados da
África, Caribe e Pacífico). No fim de 2007, ninguém
Tortura e outros maus-tratos havia sido detido por este ataque.
Durante todo o ano, persistiram as denúncias de Em março, Last Maengahama, um funcionário do
tortura sob custódia da polícia. Muitas vítimas de MDC, foi seqüestrado por supostos agentes da
tortura foram presas depois de participarem de segurança do Estado, no shopping center de
manifestações pacíficas, ou eram membros do MDC Borrowdale, em Harare, depois de participar da
acusados pela polícia de estarem envolvidos em cerimônia religiosa em memória de Gift Tandare. Last
supostos ataques e explosões terroristas. Maengahama foi jogado dentro de um caminhão e
No dia 28 de março e em datas próximas, a polícia agredido antes de ser abandonado em Mutorashanga,
prendeu vários funcionários, ativistas e membros de a cerca de 100 km de Harare.
destaque do MDC por todo o país, acusando-os de Em 18 de maio, Cleopas Shiri, presidente do MDC
atividades terroristas e de ataques com coquetéis no distrito urbano de Gweru, foi seqüestrado por
molotov. Segundo informações, a maioria dos detentos quatro homens em um carro Mazda 323 verde,
foi torturada sob custódia da polícia. Trinta e duas das quando voltava para casa do trabalho. Ele teve os
pessoas detidas foram acusadas depois e ficaram olhos vendados e foi levado para um prédio onde foi
presas entre dois e quatro meses. Philip Katsande, o torturado, inclusive com pinos de metal para choques
secretário de políticas e pesquisas do MDC na nos dedos dos pés. Quando ele perdeu a consciência,
província de Harare, estava entre os presos. Ele foi seus seqüestradores o largaram em um matagal.
baleado no momento da prisão, quando se escondia Algum tempo depois, Cleopas Shiri recuperou a
no forro do teto da sua casa. A polícia teria também consciência, conseguiu chegar até a estrada e pegou
agredido sua esposa e seus filhos durante a detenção. uma carona até Bulawayo, onde ficou hospitalizado
Depois, ele foi levado pela polícia para o hospital de por um mês. Quando voltou a Gweru, ele descobriu
Parirenyatwa. Paul Madzore, um parlamentar do MDC que sua casa estava sendo vigiada. Esta vigilância só
por Glen View, foi preso pela polícia em sua casa no dia acabou quando ele fez uma denúncia ao oficial
28 de março. Outros moradores da casa, entre os comandante da polícia do distrito.
quais crianças, também foram presos. Ele foi torturado Em 22 de novembro, pelo menos 22 membros da
pela polícia na delegacia central de Harare. NCA foram capturados por pessoas não identificadas
As acusações contra 30 dos detidos foram retiradas e deixados em dois microônibus em uma área
mais tarde devido à falta de provas. comercial central do distrito de Harare. Eles teriam
Em junho, seis homens, incluindo um oficial sido levados para a sede estadual do partido ZANU-PF
reformado do Exército, foram levados a julgamento em Harare, na Rua 4, onde foram espancados nas
sob acusação de planejarem um golpe. Segundo solas dos pés com varas e barras de ferro, sendo
informações, Albert Mugove Mutapo, o ex-soldado obrigados a ficar em posições dolorosas, inclusive
Nyasha Zivuka, Oncemore Mudzuradhona, simulando estar sentados em uma cadeira por um
Emmanuel Marara, Patson Mupfure e Shingirai longo período de tempo, e a rolar pelo chão. Depois,
Matemachani foram torturados. Seu julgamento eles receberam ordens para lavar o chão da sala e
estava em andamento no fim do ano. um banheiro, usando as próprias mãos. Segundo
informações, depois que os seqüestradores
Seqüestros e agressões chamaram a polícia, as vítimas foram levadas para a
Membros do MDC foram seqüestrados e agredidos delegacia central de Harare, onde a polícia as acusou
por pessoas suspeitas de serem agentes de de “obstrução da justiça” segundo a Lei Penal
segurança do Estado. (Codificação e Reforma), e foram multadas.
Em 18 de março, Nelson Chamisa, um parlamentar Nenhum dos perpetradores foi detido. Dez das
do MDC por Kuwadzana, foi atacado com barras de vítimas precisaram de tratamento médico hospitalar.
ferro, do lado de fora do aeroporto internacional de
Harare, por pessoas que se acredita serem agentes de
segurança do Estado. Ele estava a caminho de Z
Estado de Direito
Em outubro, magistrados e promotores entraram de
greve reivindicando um aumento de 900% nos seus
salários. Muitos salários dos funcionários do poder
Judiciário estavam abaixo da linha da pobreza, o que
comprometia o sistema de justiça.
Em 6 de novembro, o procurador-geral Sobusa
Gula-Ndebele foi detido sob suspeita de “conduta
contrária ou inconsistente com as funções de um
funcionário público”. Ele foi detido após um
encontro, que teria acontecido em setembro, com o
ex-diretor administrativo e representante do National
Merchant Bank, James Andrew Kufakunesu
Mushore, procurado pela polícia por crimes contra o
sistema financeiro. O procurador-geral foi acusado
de contravenção à seção 174 (1) da Lei Penal
(Codificação e Reforma), sendo advertido e libertado.
Em dezembro, o Presidente Mugabe afastou o
procurador-geral e anunciou a criação de um
tribunal formado por três pessoas para investigar as
alegações de que o procurador-geral havia abusado
de seu cargo público.
Visitas e relatórios da AI
Representantes da Anistia Internacional visitaram o Zimbábue entre
fevereiro e março, em agosto, entre outubro e novembro e entre novembro e
dezembro.
Open letter from AI's Secretary General Irene Khan to President Robert
Mugabe (AFR 46/006/2007)
Zimbabwe: End harassment, torture and intimidation of opposition
activists (AFR 46/007/2007)
Call for Africa leaders to speak out against brutality in Zimbabwe (AFR
46/011/2007)
Zimbabwe: human rights in crisis – Shadow report to the African
Commission on Human and Peoples’ Rights (AFR 46/016/2007)
Zimbabwe: Between a rock and hard place – women human rights
defenders at risk (AFR 46/017/2007)
Zimbabwe: Women at the forefront of challenging government policy