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O caçador e o pescador individuais e isolados, de que partem Smith e Ricardo, pertencem às

inocentes ficções do século xviii. São “robinsonadas” que não exprimem de forma alguma,
como parecem crer alguns historiadores da civilização, uma simples reação contra os excessos
de requinte e um regresso a um estado de natureza mal compreendido. Não passa de
aparência, aparência de ordem puramente estética nas pequenas e grandes “robinsonadas”.
Na realidade, trata-se de uma antecipação da “sociedade burguesa” que vem se preparando
desde o século xvi e que, no século xviii, caminhava a passos de gigante para sua maturidade.
Nessa sociedade onde reina a livre concorrência, o indivíduo aparece isolado dos laços naturais
que fazem dele, em épocas históricas anteriores, um elemento de um conglomerado humano
determinado e delimitado. Para os profetas do século xviii — Smith e Ricardo fundamentam-se
ainda completamente em suas teses —, esse indivíduo do século xviii — produto, por um lado,
da decomposição das formas feudais de sociedade e, por outro, das novas forças de
produção que se desenvolvem a partir do século xvi — surge como um ideal que teria existido
no passado. Veem nele não um resultado histórico, mas o ponto de partida da história, porque
consideram esse indivíduo algo natural, de acordo com sua concepção de natureza humana,
não como um produto da história, mas como um dado da natureza.

Quanto mais se recua na história, mais o indivíduo — e, por conseguinte, também o indivíduo
produtor — se apresenta num estado de dependência.

Não há produção possível sem trabalho passado acumulado; esse trabalho será a habilidade
que o exercício repetido desenvolveu e fixou na mão do selvagem. Entre outras coisas, o
capital é, também, um instrumento de produção, é também trabalho passado, objetivado.
Logo, o capital é uma relação natural universal e eterna; sim, mas com a condição de
negligenciar precisamente o elemento específico, o único que transforma em capital o
“instrumento de produção”, o “trabalho acumulado”. Se não há produção em geral, não há
também produção geral. A produção é sempre um ramo particular da produção — por
exemplo, a agricultura, a criação de gado, a manufatura etc. — ou constitui um todo. Mas
economia política não é tecnologia. Finalmente a produção também não é apenas uma
produção particular; surge sempre sob a forma de um determinado corpo social de um
indivíduo social, que exerce sua atividade num conjunto mais ou menos vasto e rico de
ramificações da produção

Todos estágios da produção possuem determinações comuns, às quais o pensamento dá um


caráter geral, mas as pretensas condições gerais de qualquer produção não são mais que
esses fatores abstratos, sem nenhuma correspondência num estágio histórico real da
produção.

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