A colonização da América só pode ser entendida como parte da história do desenvolvimento do co-
mércio europeu. A idéia de povoar não era o objetivo principal dessa empresa, norteada pela ambição do lu-
cro comercial.
I) O Sistema Colonial
Na fase de transição do feudalismo para o capitalismo, que é a Época Moderna, o Estado Nacional
Absolutista coordenou todos os esforços econômicos, orientando o comércio no sentido do fortalecimento do
poder real e do progresso da burguesia. Era a política mercantilista, propulsora da ascensão da burguesia e
elemento de unificação e fortalecimento do poder do Estado.
A plena realização do mercantilismo estava no estabelecimento de colônias ultramarinas que ofere-
cessem a baixíssimos custos, produtos altamente rentáveis no comércio europeu, propiciando balança comer-
cial favorável ao Estado Metropolitano. As colônias deveriam se, ainda, mercados potenciais para a absorção
dos excedentes da produção européia e subordinarem-se rigorosamente ao esquema de monopólio, ao “exclu-
sivo” colonial.
As colônias estavam rigidamente subordinadas ao Pacto Colonial, ao regime de monopólio comercial
(exclusivo) e à legislação metropolitana.
Essas colônias que objetivavam atender as necessidades do comércio eram as colônias de exploração.
Estavam situadas em regiões de clima tropical, produzindo mercadorias que não existiam na Europa (produ-
ção complementar à européia). A produção era organizada com vistas ao mercado externo e todo o lucro da
empresa colonial deveria fluir para a Metrópole (fluxo de renda externo). A organização produtiva estava ba-
seada na lavoura monocultora de grandes latifúndios. A mão de obra era composta por escravos negros ou por
índios submetidos ao regime de servidão (trabalho compulsório).
Parte da América, porém, foi ocupada por europeus, que, vítimas de perseguições políticas e religio-
sas, migravam e fixavam-se. Eram as colônias de povoamento. Estavam localizadas em regiões de clima tem-
perado.
A produção, diversificada, objetivava o mercado interno, produzindo similares europeus. A produ-
ção era baseada na pequena propriedade, na policultura e no trabalho livre.
Podemos dividir a História político administrativa da época colonial (1500-1808) em dois períodos:
período pré-colonial e período colonial.
1
A adoção da lavoura canavieira como solução econômica para a ocupação do Brasil deveu-se a vá-
rios fatores:
a) Os portugueses já tinham experiência na produção do açúcar, nas ilhas do Atlântico.
b) O açúcar estava com seus preços em alta no mercado europeu.
c) O clima e o solo do Brasil eram favoráveis.
d) Os flamengos apoiavam financeira e comercialmente os negócios do açúcar.
1) Capitanias Hereditárias
Para transferir para particulares a exploração da colônia, o rei D. João III implantou o sistema de Ca-
pitanias Hereditárias, já utilizado com êxito nas Ilhas da Madeira, Açores e de Cabo Verde. O sistema consis-
tia na divisão da colônia em faixas de terras, cujo governo era dotado, em caráter hereditário, a portugueses
que se interessassem pela colonização.
Os privilégios e obrigações dos donatários vinham estabelecidos em cartas de doações e em forais.
As cartas de doação descreviam os limites da terra, confirmavam a doação e atribuíam ao donatário a jurisdi-
ção civil e criminal, permitindo-lhes, ainda, conceder sesmarias. Cediam para o sustento do donatário, dez lê-
guas de terra, ao longo da costa, livres de tributos. Os forais eram uma espécie de código tributário da Capita-
nia, definindo os tributos a serem pagos, os deveres dos donatários para com o rei e dos colonos para com os
donatários.
Embora o sistema houvesse sido bem sucedido nas Ilhas do Atlântico, no Brasil fracassou. Em pri-
meiro lugar, ele não atendia aos objetivos da Coroa, devido à grande descentralização gerada. Muitos dona-
tários não investiram nas Capitanias, enquanto outros nelas tudo perderam. Os ataques indígenas freqüentes
eram outro obstáculo à colonização e a distância de Portugal impedia o envio de socorros.
Apenas as Capitanias de São Vicente e de Pernambuco conseguiram prosperar, porque seus donatá-
rios fizeram maiores investimentos e os negócios do açúcar progrediram.
2) O Governo – Geral
A ocupação rentável do Brasil, porém, se fazia cada vez mais urgente. O sistema de capitanias here-
ditárias haviam gerado grande descentralização, o que impedia o desenvolvimento da exploração. Assim, sem
extinguir as capitanias, em 1548 Portugal determinou a instalação de um Governo-Geral, para centralizar o
processo de ocupação do território. A capitania da Bahia foi escolhida para sede, por situar-se no meio da cós-
ta brasileira e em região favorável ao cultivo da cana-de-açúcar.
Entre 1549 e 1553, o Brasil foi governado por Tomé de Souza, a quem coube a instalação do gover-
no e a fundação de Salvador. Com ele vieram os primeiros jesuítas para iniciar a catequese sistemática dos
indígenas, adaptando-os à cultura do colonizador.
Em 1553 o governo foi entregue a Duarte da Costa. Em seu governo ocorreu a fundação de São Pau-
lo (1554) e os franceses invadiram o Rio de Janeiro (1555), onde pretendiam fundar a França Antártica.
Foi no governo de Mem de Sá (1558-15572) que os franceses foram expulso e foi fundada a cidade
do Rio de Janeiro (1565).
Em 1572 o Brasil foi dividido em dois Governos-Gerais, mas em 1578 retomou-se o sistema de um
Governo, com sede em Salvador.
2
A situação econômico-financeira de Portugal não era boa. O açúcar do Brasil tinha seus preços em
baixa, devido à concorrência da produção das Antilhas, onde os holandeses se haviam instalados após sua
expulsão do Nordeste. A longa guerra contra a Espanha endividava o Reino, tornando-o dependente econô-
micamente da Inglaterra. Um exemplo dessa dependência foi assinatura do Tratado de Methuen, em 1703.
Conhecido como Tratado dos panos e vinhos, estabeleceu um sistema de vantagens alfandegárias recíprocas
entre os vinhos portugueses na Inglaterra e os tecidos ingleses em Portugal. Como conseqüência, Portugal
especializou-se na produção de vinhos e sua manufatura têxtil estagnou-se. Por outro lado, como balança co-
mercial portuguesa ficava desfavorável em relação à Inglaterra, o déficit era coberto pelo envio de ouro do
Brasil, que se acumulou, financiando, em parte, a Revolução Industrial inglesa.
Para compensar essa situação foi preciso intensificar a exploração da colônia. Mas esta, durante o
domínio espanhol se havia desorganizado, e a descentralização havia sido reforçada pelo crescimento do po-
der das Câmaras Municipais.
A solução foi um forte arrocho colonial, aumentando a exploração do Brasil, centralizando a admi-
nistração e aumentando a tributação e a fiscalização. Em 1642 foi criado o Conselho Ultramarino, em Por-
tugal, para cuidar da administração das colônias. Outra medida foi a subordinação das Câmaras Municipais à
autoridade do Juiz-de-Fora, nomeado pela Metrópole.
O comércio colonial foi rigidamente controlado e subordinado às Companhias Gerais de Comércio
(do Estado do Brasil e do Estado do Maranhão). Esse arrocho gerou descontentamento na colônia e a eclosão
de movimentos como a Revolta de Beckman (Maranhão 1684) e a Guerra dos Mascates (Pernambuco 1710).
A necessidade econômica impulsionou, por outro lado, a atividade dos bandeirantes e a descoberta
de ouro e de metais preciosos. A atividade mineradora, iniciada no final do século XVII levaria à prosperida-
de da região das Gerais, declinando a partir de 1750.
EXERCÍCIOS
TESTES:
I) Entre os fatores responsáveis pela expansão marítima do século XVI está o monopólio do comércio do
Mediterrâneo pelas cidades italianas.
II) A centralização política pode ser considerada um pré-requisito para a expansão marítima, comercial e
colonial, do século XVI.
III) A expansão marítima do século XVI agiu como fator de fortalecimento do poder do Estado.
IV) A colonização européia da Época Moderna é um desdobramento da expansão comercial, na medida em
3
que se constitui para atender aos interesses do mercado externo.
2. (FUVEST-SP) O processo de colonização portuguesa no Brasil caracterizou-se por promover:
a) liberdade de comércio e trabalho assalariado;
b) escoamento do excedente demográfico português;
c) descentralização política e sociedade igualitária;
d) subordinação política e monopólio comercial;
e) imigração da aristocracia rural portuguesa.
4. Dentre as primeiras medidas tomadas pela Coroa Portuguesa, para a ocupação do Brasil, após 1530, não
podemos incluir:
a) o envio de expedição de Martim Afonso de Souza;
b) a decisão de desenvolver a produção de açúcar;
c) a criação do sistema de Capitanias Hereditárias;
d) a expulsão dos holandeses;
e) a tentativa de transferir para particulares o custo da defesa e da colonização.
5. (FUVEST-SP) Comente os problemas do regime de Capitanias Hereditárias e sua relação com a criação
do Governo Geral em 1548.
6. (PUC-SP) Uma das principais conseqüências da União Ibérica (1580-1640), para o Brasil foi:
a) a decadência do bandeirismo como atividade de penetração no interior, já que o Tratado de
Tordesilhas deixou de vigorar;
b) o desenvolvimento da economia mineratória, aproveitando-se os brasileiros da experiência espanho-
la nesse setor;
c) a formação da Companhia Geral do Comércio de Pernambuco e Paraíba, por determinação direta de
Felipe II;
d) a eclosão de vários movimentos nativistas de tendência emancipadora, como a Guerra dos Emboa-
bas;
e) a invasão holandesa do Nordeste e a posterior decadência da cultura canavieira brasileira. com a fi-
xação dos holandeses nas Antilhas.
7. (PUC-SP) Principal órgão português para controle dos assuntos coloniais a partir de meados do século
XVII:
a) Mesa de Consciência e Ordens; d) Conselho Ultramarino;
b) Casa da Mina e da Guiné; e) Casa de Suplicação.
c) Conselho de Guerra;
8. (SJT) Em 1703, Portugal e Inglaterra firmavam um importante Tratado estipulando: Portugal venderia
seus vinhos na Inglaterra com nítida superioridade em relação aos de outra procedência; a Inglaterra te-
ria vendidos livremente em Portugal. Que nome foi dado ao Tratado ?
9. (PUC-SP) A plena centralização administrativa da colônia foi alcançada no tempo de Pombal que deter-
4
minou:
a) a extinção das capitanias particulares transformadas em capitanias reais;
b) a ampliação dos poderes atribuídos às Câmaras Municipais;
c) as reformas eleitorais para escolha dos representantes nas Câmaras;
d) a extinção dos direitos dos “homens bons” de se reunirem em assembléias;
e) a transferência de todos os Tribunais de Relação para Lisboa.
A) A transferência da Corte
5
Desde o século XVII, Portugal estava na esfera da dependência inglesa. Em 1703, a situação tornara-
se bastante clara, quando da assinatura do Tratado de Methuen, que na prática transformava Portugal e seus
domínios em mercados preferenciais dos produtos ingleses. Legalmente, porém, as manufaturas inglesas não
podiam entrar diretamente nas colônias portuguesas, sendo comercializadas pela burguesia metropolitana. Es-
sa situação, é claro, prejudicava tanto os interesses ingleses, como os das colônias. Esse aspecto é fundamen-
tal para entendermos o processo de independência do Brasil e o de outras regiões coloniais.
Em 1806, dentro do quadro das guerras européias, Napoleão decretou o Bloqueio Continental, para
tentar sufocar economicamente a Inglaterra. Portugal, devido aos seus laços com os ingleses, não aderiu e, em
1807, pelo Tratado de Fontainebleau, Napoleão dividiu o território português e declarou extinta a dinastia de
Bragança. A invasão de Portugal, pelas tropas de Junot, foi o motivo da rápida transferência da Corte para o
Brasil, sob proteção inglesa.
6
A política interna joanina, porém, atrelada à Inglaterra atendia apenas aos interesses do sudeste, dei-
xando de lado os problemas do nordeste (seca, falta de mercados para seus produtos), o que levou à eclosão
da Revolução de 1817, em Pernambuco. O movimento, de caráter republicano e separatista, foi duramente re-
primido.
A) As Guerras de Independência
Embora a Independência do Brasil não se tenha constituído em profunda ruptura (pois o processo de
separação havia sido iniciado, na prática por D. João; o escravismo, o latifúndio, a lavoura de exportação fos-
sem mantidas; e o governo fosse exercido por D. Pedro, português e herdeiro da dinastia de Bragança), tropas
portuguesas, sediadas em algumas regiões, resistiram: na Bahia, no Piauí, no Pará e na Cisplatina. Para repri-
mir esses focos de resistência, D. Pedro contou com o auxílio de navios e de tropas inglesas.
Na Assembléia Constituinte de 1823 a maioria era do Partido Brasileiro. O anteprojeto em discussão
era de autoria de Antonio Carlos Ribeiro de Andrada e ficou conhecido como “Constituição da Mandioca”,
pois a participação política dos cidadãos estava condicionada à renda (portanto critério censitário), mas medi-
da em alqueires de farinha de mandioca. Essa aparente e absurda condição era uma forma de restringir a parti-
cipação política aos grandes proprietários de terra e de escravos.
Se aprovada, essa constituição restringiria, também, os poderes do Imperador, que passou a pressio-
nar os deputados e a 12 de novembro decretou a dissolução da Constituinte (Noite da Agonia). Em seguida,
nomeou um Conselho de Estado, incumbindo-o de redigir uma nova Constituição. A 25 de março de 1824 era
outorgada nossa primeira Constituição. Embora fosse inspirada em princípios do pensamento liberal, na práti-
ca era uma constituição conservadora. De acordo com as idéias de Benjamin Cosntant, estabelecia quatro po-
deres: Executivo, Legislativo, Judiciário e Moderador (que dava ao Imperador poderes praticamente absolu-
tistas). Tinha caráter centralizador, estabelecia o princípio de renda monetária para a habilitação eleitoral e su-
bordinava a Igreja ao Estado. Vigorou (modificada em 1834, 1840 e 1847) até 1889.
7
C) A Confederação do Equador (1824)
No nordeste, o descontentamento com os rumos políticos do Brasil já era patente desde 1817. A po-
lítica brasileira voltava-se preponderantemente para os interesses do centro-sul. As idéias liberais e republica-
nas, de há muito se desenvolviam no Norte e no Nordeste. Assim, quando em 1823 evidenciou-se a tendência
autoritária e centralizadora de D. Pedro I, com o episódio do fechamento da Constituinte, criaram-se as condi-
ções para um movimento revolucionário e separatista. Em 1824, a partir de Pernambuco, com a adesão do
Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba, eclodia a Confederação do Equador. Foi constituída uma república in-
dependente e adotada, provisoriamente, a Constituição da Colômbia. A repressão imperial foi enérgica e o
movimento foi violentamente dissolvido, sendo seu líderes, entre eles Frei Caneca, executados.
D) Política Externa
Não bastava apenas proclamar a independência. Era preciso que a nova nação fosse reconhecida ex-
ternamente. Na época de nossa independência, havia um problema: A Santa Aliança era contrária à emanci-
pação das colônias. Contra ela, o Presidente Monroe, dos Estados Unidos, havia estabelecido o princípio de
“América para os americanos”. As nações européias, ligadas à Santa Aliança demoraram para reconhecer
nossa independência, mas os Estados Unidos baseados na Doutrina Monroe foram a primeira nação a reco-
nhecer o novo governo, em 1824.
Portugal reconheceu nossa independência, sob pressão inglesa, em 1825, mas exigiu uma indeniza-
ção de dois milhões de libras esterlinas e a concessão, a D. João VI, do título de Imperador Perpétuo do Bra-
sil.
O reconhecimento inglês deu-se em 1826, mas, em troca, os Tratados de 1810 foram renovados por
quinze anos.
A Província Cisplatina, anexada ao Brasil desde 1816, rebelou-se, a partir de 1825. O conflito sofria
a influência da Argentina, que desejava a anexação da região e da Inglaterra, favorável à independência para
garantir a livre navegação da Bacia do Prata. A guerra, que durou até 1828, resultou na independência do U-
ruguai e no endividamento do Brasil.
E) A Abdicação de D. Pedro I
O clima político do Primeiro Reinado foi marcado pelo conflito entre D. Pedro e a aristocracia rural.
Com o fechamento da Constituinte, em 1823, D. Pedro havia rompido com o “partido brasileiro” e aliado-se
ao “partido português”. A oposição a D. Pedro cresceu com a Guerra da Cisplatina e com a intervenção do
Imperador na questão sucessória de Portugal, quando a morte de D. João VI (sendo D. Pedro o herdeiro, ele
interveio, abdicando em favor de sua filha, mas de qualquer forma, assumindo o papel de político português).
A oposição ao centralismo e absolutismo de D. Pedro era grande e as idéias liberais proliferavam.
Em 1830, o jornalista Líbero Badaró foi assassinado em São Paulo, por partidários do Imperador, o que agra-
vou o descontentamento dos brasileiros. Por outro lado, a vitória dos liberais sobre os absolutistas na França,
com a deposição de Carlos X, em 1830, refletiam-se no Brasil, incentivando o movimento contra o Impera-
dor.
Em 1831, após uma visita de D. Pedro a Minas Gerais, os portugueses do Rio de Janeiro resolveram
fazer comemorações em honra do Imperador, o que resultou em graves conflitos de rua entre portugueses e
brasileiros (março de 1831 - “Noite das Garrafadas”). A situação era insustentável e a 7 de abril D. Pedro
renunciou, abdicando em favor de seu filho Pedro de Alcântara, de 5 anos. O Imperador partiu para Portugal,
engajando-se na luta contra seu irmão D. Miguel (que havia usurpado o trono à D. Maria II). Retomou o tro-
no, reconstitucionalizando Portugal e morreu em 1834, como D. Pedro IV.
EXERCÍCIOS
TESTES:
1. (FUVEST-SP) “O certo é que se os marcos cronológicos com que os historiadores assinalam a evolução
social e política dos povos não se estribassem unicamente nos caracteres externos e formais dos fatos,
mas refletissem a sua significação íntima, a independência brasileira seria antedatada de quatorze a-
nos ...” (Caio Prado Junior - Evolução Política de Brasil e outros estudos ).
8
a) Qual o fato histórico acontecido quatorze anos antes ?
b) Qual a “significação íntima” do referido fato ?
2. (OSEC-SP)
I. O Processo de Independência no Brasil, iniciou-se coma a crise do sistema colonial, desenvolveu-se
com o estabelecimento da Corte Portuguesa e culminou com as transformações da conjuntura portu-
guesa em 1820.
II. Em 1820 ocorreu em Portugal a Revolução do Porto, que faz parte do ciclo das Revoluções Atlânti-
ticas e determinou para a colônia, o início do processo de recolonização.
III. A independência do Brasil foi o desfecho da luta da classe dominante colonial contra a política de re-
colonização da Metrópole.
3. (OSEC-SP)
I. A Confederação do Equador foi o resultado do enraizamento dos ideais liberais: república, federalis-
mo e abolição da escravidão.
II. O líder da Confederação do Equador foi o Padre Diogo Antonio Feijó.
III. O movimento não teve êxito por ser estruturalmente fraco, não contando sequer com um projeto poli-
tico.
4. (FZL-SP) “Liberalismo significava nesta fase (Independência do Brasil) a liquidação dos laços coloniais.
Não se pretendia reformar a estrutura colonial de produção, não se tratava de tratar a estrutura da socieda-
de - tanto é assim que em todos os movimentos revolucionários se procurou garantir a propriedade es-
crava.” (Emília Viotti da Costa)
De acordo com o texto, podemos afirmar que por ocasião da Independência do Brasil:
a) a produção tornou-se exclusiva para o mercado interno;
b) a escravidão não era mais necessária para a ordem econômica;
c) as relações sociais sofreram profundas modificações;
d) os políticos liberais passaram a condenar a manutenção do escravismo;
e) não ocorreram mudanças estruturais, nem na economia, nem na sociedade.
5. (UFRGS) O anteprojeto que deveria servir de base para a 1ª Constituição do Brasil, em discussão na As-
sembléia Constituinte em setembro de 1823, tinha como uma de suas características:
a) o espírito liberal de seus artigos, permitindo às camadas populares o direito de elegerem os seus re-
presentantes;
b) a tentativa de limitar a influência da aristocracia rural nas decisões políticas;
c) a possibilidade de os portugueses, desde que dispusessem de uma determinada renda, exercerem car-
gos públicos;
d) a limitação ao máximo do poder de Pedro I, com a valorização do poder da representação nacional;
e) a completa eliminação do eleitorado brasileiro.
6. (PUC-SP) A abdicação de D. Pedro I pôs fim ao Primeiro Reinado e proporcionou as condições para a
consolidação da independência nacional, uma vez que:
a) as lutas das várias facções políticas se resolveram com a vitória dos exaltados sobre os moderados;
b) as rebeliões anteriores à abdicação possuíam nítido caráter reivindicatório de classe;
c) o governo do príncipe não passou de um período de transição em que a reação portuguesa apoiada no
absolutismo do soberano, se conservou no poder;
d) as propostas do partido brasileiro contavam com o apoio unânime dos deputados à Assembléia Cons-
tituinte de 1823;
9
e) as disputas entre conservadores e liberais representariam diferentes concepções sobre a forma de or-
ganizar a vida econômica do país.
10
II) O Segundo Reinado
A) Características gerais
O período do segundo reinado caracterizou-se pela grande centralização do poder. O imperador, gra-
dativamente, assumiu o controle da vida política.
Até 1870, a vida política foi monopolizada pelos Partidos Liberal e Conservador. A partir de 1870,
surgiu o Partido Republicano.
Na política externa podemos destacar a ação d Inglaterra, contrária ao tráfico de escravos e a inter-
venção do Brasil nas lutas políticas da região do Rio da Prata. A participação do Brasil nesses conflitos esta-
va ligada aos interesses brasileiros de evitar a formação de uma única grade nação na região e de manter a li-
vre navegação da Bacia do Prata.
B) Política Interna
Quando D. Pedro assumiu o governo em 1840, o Brasil era agitado por rebeliões provinciais (a Far-
roupilha e a Balaiada). Do ponto de vista partidário, eram ainda grandes os conflitos entre os liberais que (há-
viam antecipado a maioridade do Imperador) e os conservadores, afastados do poder pelo golpe de 1840.
Inicialmente os Liberais assumiram a liderança do governo, formando o Ministério dos Irmãos (as-
sim chamado pela participação de membros das famílias Andrada e Cavalcanti). Embora os liberais estives-
sem no governo, não contavam com a maioria na Câmara dos Deputados e não podiam governar. A Câmara
foi dissolvida e foram convocadas novas eleições. Para garantir sua vitória, o Partido Liberal usou de todos os
recursos: fraude, espancamento, roubo de urnas, falsificação de votos etc. Essas eleições passaram à História
como “eleições do cacete .
Os liberais garantiram, à força, a maioria, mas não tinham apoio moral para governar e em 1841, o
Ministério Liberal foi substituído por um Ministério conservador. Com a ascensão dos conservadores, as me-
didas centralizadoras aumentaram, gerando o descontentamento dos liberais, que se rebelaram em 1842, em
São Paulo e Minas Gerais.
As disputas políticas continuaram até 1847, quando foi criado o cargo de Presidente do Conselho de
Ministros, que implantava o regime parlamentarista no Brasil.
O regime parlamentarista é uma forma de governo onde a hegemonia política pertence ao legislativo.
De acordo com o modelo inglês o povo escolhe o Parlamento e o Partido que obtém maioria governa, através
do 1º Ministro. Este, por sua vez, escolhe o Ministério, de acordo com a composição partidária do Parlamen-
to, mas imprime à política a diretriz de seu partido. O rei (ou presidente, caso o sistema seja republicano exer-
ce apenas o poder moderador, podendo dissolver o ministério e mesmo o Parlamento, convocando novas elei-
ções, caso perceba o descontentamento popular ou a ineficiência do governo. Dentro dos limites essa forma
permite um maior exercício democrático.
No Brasil, porém, o regime parlamentarista serviu para consolidar o centralismo político e o poder do
Imperador. Ao invés de o 1º Ministro ser escolhido a partir do Partido eleito em maioria, no Brasil o Impera-
dor primeiramente escolhia o Ministro, e depois eram realizadas as eleições. Como o Ministro só poderia go-
vernar se tivesse maioria na Câmara, as eleições eram manipuladas para que seu partido fosse o vencedor.
Dessa forma, ao invés de o Legislativo gerar o Executivo (como no verdadeiro Parlamentarismo), no Brasil o
Executivo era que gerava o Legislativo. (Parlamentarismo às avessas). A criação do cargo de Presidente do
Conselho de Ministro foi iniciativa de Honório Hermeto Carneiro Leão..
Entre 1840 e 1850, o governo imperial dedicou-se à tarefa de sufocar as revoltas liberais. A última
revolta sufocada foi a Praieira e a partir de então, praticamente desapareceram os Exaltados. O Brasil entrava
numa fase de “pacificação” e de “conciliação” políticas, que perdurou até o fim da Guerra do Paraguai, com a
alternância pacífica dos Partidos, no Governo.
11
o Brasil passou a intervir nas lutas internas da região, através de uma política de apoio às facções que defen-
dram o separatismo.
Após a independência, o antigo Vice-Reinado do Prata fragmentaram-se em três nações: Argentina,
Uruguai e Paraguai. Os comerciantes de Buenos Aires que até o final do século XVIII detinham o monopólio
da região, perderam sua supremacia, sofrendo a concorrência de Montevidéu. No Uruguai, formaram duas
facções: Blancos e Colorados. Os Blancos representavam os interesses dos pecuaristas do interior e não dese-
javam se submeter às determinações fiscais de Montevidéu, apoiando, então, os argentinos, os Colorados re-
presentavam os interesses dos comerciantes de Montevidéu e desejavam manter a separação. O Brasil apoiou
a facção dos colorados contra os blancos e a Argentina, para manter a fragmentação da região. Houve várias
guerras, destacando-se as travadas pelo Brasil contra Rosas (Argentina) e Oribe (Uruguai) apoiando Rivera
(colorado do Uruguai); e a guerra contra Rosas (Argentina), apoiando Urquiza (Argentina) e Rivera (Uru-
guai).
Por volta de 1860, Argentina e Uruguai eram governados por elementos favoráveis à descentraliza-
ção e à política brasileira. Restava porém o Paraguai, governado pela família Lopes o que desenvolvera uma
política de isolamento, para poder progredir. Sem cair na dependência inglesa, o Paraguai conseguira um no-
tável desenvolvimento interno, produzindo seu próprio tecido, chá mate (que exportava), erradicando o anal-
fabetismo. Mas, Lopes sabia que sua política contrariava os interesses imperialistas ingleses e de outros pai-
ses da região. Formou um Exército moderno e disciplinado e tomou a iniciativa dos ataques, para preservar
sua autonomia.
Para enfrentar o Paraguai, Brasil, Argentina e Uruguai formaram a Tríplice Aliança, cabendo ao Bra-
sil a maior parte dos encargos militares.
O confronto teve início quando em 1864 o navio brasileiro Marquês de Olinda foi atacado por forças
paraguaias. O Exército Brasileiro, pequeno e desorganizado, sem armas modernas, foi presa fácil dos para-
guaios, nos primeiros momentos da Guerra. A partir de 1866, quando o comando de nossas tropas foi entre-
gue a Caxias, o Exército foi treinado, organizado e armado. A partir de 1868 ocorrem as grandes batalhas e as
grandes vitórias brasileiras de Lomas Valentinas, Humaitá, Avai e em 1869, as tropas brasileiras entraram em
Assunção.
A partir de 1869, o comando foi entregue ao Conde D’Eu (Gastão de Orleans, marido da Princesa I-
sabel) responsável pelas grandes matanças de paraguaio. (Assassinato de Solano Lopes em Cerro Cora e mas-
cre da população civil paraguaia).
As conseqüências da guerra foram desastrosas para o Brasil e para o Paraguai. O país vizinho foi pra-
ticamente arrasado e o Império Brasileiro entrou em crise, pois o escravismo desarticulou-se, a política do Im-
perador ficou desmoralizada e surgiu uma nova força política no cenário brasileiro: o Exército.
EXERCÍCIOS
TESTES:
1. (PUC-SP) A política externa do Império Brasileiro ao longo do século XI caracterizou-se por uma cons-
tante situação de conflito em relação aos problemas platinos, porque:
a) as pretensões francesas de domínio do Rio da Prata exigiam a presença da esquadra brasileira.
b) da Independência aos meados do século XIX, a intervenção que havia sido exclusivamente diplomá-
tica passou a ser militar.
c) envolvendo-se na política interna dos países platinos, o Brasil defendeu sempre os “Blancos” do
Uruguai.
d) as intervenções militares do Brasil, na região, visava assegurar o princípio da livre navegação na
Bacia do Prata.
e) as indenizações cobradas pelos danos causados por invasores paraguaios às estâncias gaúchas dei-
xaram de ser pagas.
12
c) para combater as tropas do país guarini, o Brasil se uniu à Argentina, Uruguai e Bolívia.
d) no início da segunda metade do século passado as importações paraguaias chegavam ao dobro de
suas exportações.
e) o Paraguai perdeu em combate, na guerra contra o Brasil e seus aliados, apenas uma pequena parce-
la do total de seus soldados.
3. (PUC-SP) “A Praieira, apesar de ter brotado em meios aos conflitos políticos entre liberais e conservado-
res, foi, antes de mais nada, uma revolta social. Isto significa que:
a) as reivindicações expressas em seu programa questionavam as diferenciações e os privilégios sociais
existentes no país em geral em Pernambuco em particular.
b) a rebelião foi apoiada essencialmente na insatisfação dos proprietários de terra da Província de Per-
nambuco.
c) os proprIetários rurais se mostravam descontentes com a proteção comercial dada aos interesses
ingleses.
d) os assalariados da zona canavieira pernambucana se rebelaram contra a tentativa do governo central
de impor limites ao seu trabalho.
e) seu ideário e sua plataforma de lutas estavam inspirados nos manifestos da social democracia da é-
poca.
13
A REPÚBLICA VELHA (1889-1930) - 1ª Parte
I) Fatores da Proclamação
14
ciedade. Pressionado por um levante da Esquadra, comandada pelo Almirante Custódio de Melo, Deodoro re-
nunciou, entregando o Executivo ao vice-presidente, Marechal Floriano Peixoto (23 de novembro d 1891).
Não estavam ainda resolvidos os problemas. De acordo com a constituição, quando o Presidente re-
nunciasse ou por qualquer motivo abandonasse o poder antes de completados dois anos de seu mandato, assu-
miria, provisoriamente, o vice-presidente, até que novas eleições fossem realizadas. Floriano não convocou
novas eleições, alegando que o mandato de Deodoro iniciara-se a 15 de novembro de 1889. Seu governo foi
marcado por profundas tensões, como a Revolta da Armada e a Revolução Federalista no sul do Brasil. Com
firmeza reprimiu os movimentos em 1894, deixou o poder para o civil e paulista Prudente de Morais.
EXECÍCIOS
TESTES:
1. (MACK-SP) O declínio da monarquia e a propagação dos ideais republicanos, no final do século passa-
ligam-se, sem dúvida, aos efeitos que a Guerra do Paraguai nos deixou como herança. Isto porque:
a) a vitória da Tríplice Aliança sobre o Paraguai implicou em enormes prejuízos no campo diplomático,
sobretudo em relação à Inglaterra.
b) A Guerra acelerou as contradições internas, abalando a mais sólida base da monarquia - escravidão
- e fazendo emergir um exército com consciência de seu poder.
c) a derrota brasileira obrigou a monarquia a concessões territoriais que abalaram a economia.
d) os partidos conservadores do Império opunham-se à Guerra e defendiam a mudança das estruturas
sociais internas.
e) embora a nossa situação se consolidasse com a Guerra, a Monarquia não logrou reconciliar as duas
facções de nossa política na época: o Partido Liberal e o Partido Conservador.
2. (FATEC-SP) O governo provisório, instituído logo após à Proclamação da República, representava diver-
sas forças que derrubaram o Império, a saber:
a) as camadas médias médias urbanas, e a aristocracia latifundiária do café e do açúcar.
b) o Exército, os ex-escravos e a burguesia industrial já fortalecida.
c) setores da Igreja, a Guarda Nacional, as camadas urbanas.
d) o Exército, a Guarda Nacional, a burguesia agrária canavieira.
e) o Exército, as camadas médias urbanas e a burguesia agrária cafeeira.
3. (FGV-SP) A chamada “Política dos Governadores” instituída a partir do governo de Campos Sales, ca-
racterizava-se por:
a) permitir que a escolha do Presidente da República fosse resultado do consenso entre os governa-
dores.
b) tornar os governadores um mero instrumento do poder do presidente da República.
c) fortalecer os governadores como o principal instrumentos para garantir a estabilidade política entre
as oligarquias regionais.
d) tornar os governadores representantes de um federalismo liberal e democrático.
e) promover, através dos governadores, a desarticulação das oligarquias locais.
15
a) o poder das oligarquias, desde o nível municipal até o federal.
b) a influência das camadas populares no porcesso político.
c) um Congresso livre, combativo e exercendo forte oposição ao Executivo.
d) um governo militarista e fortemente autoritário.
e) o projeto desenvolvimentista e com prioridades sociais, apoiado pela oligarquia do café.
5. (MACK-SP) Se a República foi, em grande parte, o fruto da aliança entre o Exército e fazendeiros do ca-
fé, o rompimento, logo após a proclamação, entre ambos, foi causado:
a) pelas divergências político-ideológicas, já que os militares apoiavam um governo forte e centralizado
e as oligarquias pretendia um federalismo que favorecia seus interesses.
b) pela defesa de um governo central forte pelos fazendeiros, com o objetivo de anular as diferenças re-
gionais.
c) pela oposição dos militares ao projeto de industrialização do país, defendido pelos cafeicultores.
d) pela rejeição do federalismo pelas oligarquias agrárias, porque possibilitava constantes intervenções
da União nos Estados.
e) pela fraqueza política do governo do Marechal Floriano Peixoto, que se revelou incapaz de conter as
revoltas que eclodiram em seu governo.
16
A REPÚBLICA VELHA (1889 - 1930) 2ª Parte
I) Economia
A) Finanças
Quando a República foi proclamada, a situação financeira do Brasil era crítica. A situação da agricul-
tura, prejudicada por uma prolongada seca tornava necessária a colocação de maiores recursos monetários. Ao
mesmo tempo, a mudança de regime de trabalho e o aumento dos trabalhadores assalariados, exigia, também,
maior quantidade de produtos no mercado e maior quantidade de moeda circulante. Rui Barbosa adotou então
uma política emissionista, para estimular a produção nacional, reduzir a dependência em relação às importa-
ções e manter o orçamento federal, pela arrecadação de tributos da produção interna. Mas a política não teve
os resultados esperados, gerando uma grande especulação, aumento de preços, falência. Essa política ficou
conhecida como encilhamento.
Em 1898, as perspectivas financeiras do Brasil eram ainda piores: a dívida externa havia aumentado,
nossa moeda estava extremamente desvalorizada e os saldos da balança comercial eram insuficientes para pa-
gar as despesas do país. A solução foi renegociar a dívida com nossos credores estrangeiros, enviando a Lon-
dres, uma delegação chefiada por Campos Sales, que acabava de ser eleito presidente. Após meses de debate,
foi assinado, com o nosso maior credor, o Banco Rothschild, um acordo conhecido como “Funding-Loan”. De
acordo com ele, recebíamos novos empréstimos, suspenderíamos o pagamento de juros e das prestações por
dois anos, comprometíamos a adotar uma política de contenção financeira e como garantia, hipotecávamos
nossas alfândegas.
Durante o governo de Campos Sales, a política econômica desenvolveu-se no sentido de recuperar
nossas finanças, de acordo com as exigências do Funding-Loan: controle da inflação, contenção dos gastos,
redução do crédito e aumento dos impostos. Era o saneamento financeiro, executado pelo Ministro da
Fazenda, Joaquim Murtinho.
Desde 1896, os preços internacionais do café estavam em baixa, ao mesmo tempo, em que a nossa
produção aumentava. A partir de 1898, com a política de valorização da moeda, nossos cafeicultores, que até
então mantinham suas rendas em função da desvalorização cambial, foram acumulados prejuízos. Em final de
1905 a situação era insustentável e os cafeicultores resolveram tomar medidas práticas. em fevereiro de 1906,
reuniram-se na cidade de Taubaté, elaborando um plano de valorização do café, que ficou conhecido como
Convênio de Taubaté. O acordo estabelecia que os governos dos Estados de São Paulo, Rio de Janeiros e Mi-
nas Gerais comprariam o café excedente, retirando-o do mercado. Para isso, seria contraído um empréstimo
no estrangeiro, garantido pelo governo federal. O presidente Rodrigues Alves opôs-se à medida, que só pode
ser posta em prática após a posse de Afonso Pena, em novembro de 1906.
Em geral, a situação financeira do Brasil agravou-se no decorrer da República Velha. Contraímos
empréstimos, articulamos outras negociações de dívidas, aumentamos nosso déficit, nossa moeda sempre ten-
deu à desvalorização. Em 1919, após a Primeira Guerra Mundial, a moeda base do nosso câmbio, a libra, foi
substituída pelo dólar, indicando uma tendência de dependência em relação aos Estados Unidos, que se con-
solidaria a partir de 1930. Em 1929, na época do início da grande depressão, o presidente Washington Luís
estava preparando uma profunda reforma financeira.
B) A Hegemonia Cafeeira
Entre o final do século XIX e o início do século XX, o café consolidou-se como nosso principal pro-
duto de exportação. Em 1902, produzíamos 75% do café do mundo, e tínhamos 500 milhões de cafeeiros
plantados, só no Estado de São Paulo. A comercialização do produto era comandada por empresas importa-
doras e exportadoras, com sede na Alemanha, na Inglaterra, na França ou nos Estados Unidos. Dotadas de
grande capital, conseguiam manter os preços baixos para o plantador brasileiro e elevados para os consumi-
dores estrangeiros, especulando com estoques. Essa crise foi solucionada a partir do Convênio de Taubaté,
quando o governo passou a intervir diretamente no mercado para sustentar os preços do produto.
Mas nem só de cafeicultura vivia o Brasil. Durante a primeira a República, a produção do açúcar, do
cacau e a exploração da borracha mobilizaram capitais e mão-de-obra, representante, também, itens de nossa
exploração.
C) A Produção Industrial
17
Durante a Primeira República não houve, no Brasil, nenhuma política sistemática de incentivo à in-
dustrialização. Mesmo assim, o crescimento industrial, embora lento, manteve-se em constante evolução.
As medidas emissionistas de Rui Barbosa (Encilhamento) representaram estímulo às atividades in-
dustriais. Além disso, a crescente desvalorização da moeda incentivava a produção nacional, indiretamente,
encarecendo as importações. Com a política saneadora de Joaquim Murtinho e a valorização da moeda, a in-
dústria, a partir de 1889, sofreu grave crise. O crescimento, todavia, foi retomado a partir de 1904, e até 1914,
o Brasil possuía mais de 3 mil indústrias, que empregavam cerca de 54 mil operários. Com a Primeira Guerra
Mundial, a produção industrial brasileira recebeu um poderoso estímulo, pois a produção européia caía sensi-
velmente, as trocas se tornavam difíceis e os países envolvidos no conflito passavam a necessitar da produção
de outras regiões. Nosso parque fabril diversificou-se e cresceu, procurando substituir os produtos que até en-
tão importávamos. Esse processo é conhecido como substituição de importações. A partir de então, nosso par-
que industrial, a sociedade brasileira assistia ao crescimento do operariado e da população urbana.
II) Sociedade
A) O Movimento Operário
A Primeira República viu nascer no Brasil, uma nova categoria social: o proletariado urbano. As pri-
meiras tentativas de organização dos trabalhadores data da década de 1980. A maioria do operariado era então
formada por imigrantes europeus, que traziam consigo concepções políticas novas: socialismo, anarquismo.
Os anarquistas representavam a maior força entre os operários. Sob sua influência foram criados os primeiros
sindicatos e realizados três congressos. Em 1906, durante o primeiro Congresso foi fundada a Confederação
Operária Brasileira (COB), primeira tentativa de articulação dos movimentos operários no Brasil. Em 1913,
durante o segundo Congresso, os anarquistas consolidavam a sua liderança, mas em 1920 o movimento entra-
va em declínio. Em 1917, a greve geral em São Paulo representou o ponto culminante do movimento anar-
quista. Mas, a partir de 1919, com a repressão desencadeada por Epitácio Pessoa e Artur Bernardes, os anar-
quistas são puderam manter uma posição sistemática. Como temiam criar uma nova forma de opressão ope-
rária, recusavam-se a formar um Partido. E a partir de 1917, com a vitória da Revolução Russa, nova perspec-
tiva de articulação política surgia para os trabalhadores: o comunismo. Em 1922, era fundado o Partido Co-
munista do Brasil, que assumiria, nos anos seguintes, a liderança do movimento operário. Em geral, na Pri-
meira República o movimento operário (questão social) era reprimido como uma “questão de polícia”.
B) Insurreições Rurais
A instabilidade social desse período não se manifestou apenas nos movimentos operários das gran-
des cidades. O sertão conheceu também a agitação, sob a forma de movimentos messiânicos e pelo bandi-
tismo. Durante o governo de Prudente de Morais (1894-1898), o sertão da Bahia foi abalado pelo movimen-
to de Canudos. Entre 1912 e 1916, uma verdadeira guerra civil abalava a região do Contestado, na fronteira
dos Estados de Paraná e Santa Catarina. Nessa mesmo época, grupos cangaceiros varriam o Nordeste, em-
quanto milhares de sertanejos veneravam a figura mística do Padre Cícero. Entrando para o cangaço, se-
guindo um líder místico, saqueando ou rezando, o sertanejo brasileiro buscava organizar-se à margem da so-
ciedade oligárquica. Seus ideais não eram os mesmos que os líderes da República e os movimentos foram re-
primidos violentamente.
Durante a República Velha, a política externa do Brasil oscilou entre interesses ingleses e interesses
norte-americanos. A Inglaterra era o país dos Rothschild, poderosos banqueiros que praticamente dominavam
nossa vida financeira; os Estados Unidos eram nosso maior comprador de café, borracha e cacau. A figura
máxima de nossa diplomacia, nesse período foi o Barão do Rio Branco (até 1912) que tendeu a aceitar a a-
gressiva política externa aberta do Presidente Theodore Roosevelt, dos Estados Unidos, o “Big Stick” (1901-
1909).
Entre 1889 e 1930 o Brasil solucionou importantes questões de limites, com as três Guianas, a Ar-
gentina, o Peru, o Uruguai. No início do século tornou-se aguda a tensão no Acre, território da Bolívia, mas
onde viviam milhares de seringueiros brasileiros. Depois de muitas negociações e do estabelecimento de in-
denizações, o Acre foi incorparado aos domínios territoriais do Brasil.
18
O Brasil não participou diretamente dos conflitos da Primeira Guerra Mundial, mas sofreu seus efei-
tos: a suspensão do comércio internacional obrigou-nos a substituir os produtos importados, provocando um
surto industrial. Por outro lado, a alteração no jogo das forças internacionais refletiu em nossa política exter-
na: com o fim da Guerra o Brasil entrava definitivamente para a órbita da influência dos Estados Unidos.
Do ponto de vista da participação em conferências internacionais, no período, temos dois destaques.
Em 1907 o Brasil foi representado na Conferência Internacional da Paz de Haia por Rui Barbosa, que se no-
tabilizou na defesa das nações fracas, sendo cognominado “Águia de Haia”. Em 1919, na Conferência de Paz
de Versalhes, fomos representados por Epitácio Pessoa, futuro Presidente da República.
EXERCÍCIOS
TESTES:
1. Rui Barbosa, ministro da Fazendo do Governo Provisório, adotou em 1890, uma política financeira carac-
terizada, EXCETO por:
a) pluriemissionismo c) incentivo à industrialização e) inflação
b) facilidade de crédito d) estatização
5. (PUC-SP) As origens dos movimentos sociais, caracterizados como messiânicos e fanáticos, no nordeste
brasileiro, podem ser buscadas, basicamente:
a) nas condições objetivas em que se desenvolveram as relações sociais no regime da grande proprieda-
de territorial.
b) nas reação ao espírito de religiosidade, pregado pelas missões religiosas.
c) na fixação dos pequenos proprietários às terras, ainda que sem cultiva-las.
d) nas atitudes do clero regular, que pegava a insurreição armada no campo.
e) no fortalecimento político dos grandes proprietários após a abolição da escravidão.
19
8. Foi característica marcante de nossa política externa durante a República Velha:
a) plena autonomia de decisões, sem pressões estrangeiras.
b) timidez na solução das questões de limites.
c) oscilação entre interesses ingleses e norte-americanos.
d) decisiva participação na Primeira Guerra Mundial.
e) perda definitiva do Acre para a Bolívia.
20
46. Quais as conseqüências do conflito para a nossa diplomacia ?
47. Quem representou o Brasil na Conferência Internacional da Paz de Haia, de 1907 ?
48. Qual a posição defendida por nosso representante ?
49. Quem foi nosso representante na Conferência de Versalhes, que determinou a situação
mundial após a Primeira Guerra ?
A) Quadro Geral
A década de 1920 marcou a falência do modelo político estruturado pela oligarquia cafeeira. O de-
senvolvimento da urbanização, a industrialização, os reflexos da Primeira Guerra na economia, criavam um
novo clima político. Incapaz de renovar-se, o sistema instaurado em 15 de novembro de 1889, dava sinais de
esgotamento. As camadas urbanas intensificavam a contestação à política dominante. Setores jovens do Exér-
cito expressavam a luta por um governo mais atuante, através do movimento tenentista. E mesmo nos grupos
oligárquicos surgiam descontentamentos e cisões. Apoiado pela manipulação do voto rural, a República Vê-
lha, entretanto não conseguia adaptar-se à realidade.
Uma série de mudanças eram necessárias: atender à questão social, regulamentando as relações en-
tre capital e trabalho; criar canais de expressão para os novos grupos políticos; encontrar saída para a econo-
mia agro-exportadora, afogada pela diminuição da demanda mundial.
Quando em 1926 Washington Luís, representante do Partido Republicano Paulista, chegou ao poder,
sucedendo ao mineiro Arthur Bernardes, a situação político-econômica do país era grave. Nos quatro anos
anteriores, o Brasil fora atingido por movimentos sociais de grande vulto: rebeliões no Rio Grande do Sul e
em São Paulo, a marcha da Coluna Prestes. Bernardes, praticamente, governou o país em Estado de sítio e or-
ganizara uma severa repressão aos movimentos operários. Em 1926 o estado de sítio fora suspenso,mas a ten-
são continuava. Do ponto de vista da economia, a moeda brasileira, o mil-réis, estava muito desvalorizada,
nossa dívida externa crescia e o café, nosso principal produto, tinha suas cotações em baixa. Tentando refor-
mular a economia, Washington Luís iniciou uma reforma financeira, com vistas a estabilizar nossa moeda.
Para manter a repressão aos movimentos operários, em 1927 era aprovada a Lei Aníbal de Toledo, conhecida
como Lei Celerada. O novo dispositivo legal permitia o fechamento de sindicatos e agremiações, que de al-
gum modo ameaçassem a ordem e a segurança públicas.
Mas a crise se intensificava. Em São Paulo, surgia um Partido dissidente, da oligarquia, o Partido
Democrático. Os operários articulavam-se junto ao Bloco Operário e Camponês, (BOC), contra a oligarquia
dominante.
A situação tornou-se mais grave quando, em 1929, a crise mundial atingiu seu ponto máximo. Com a
quebra das economias européias e norte-americana, nossas exportações baixaram ainda mais.
B) O Processo Sucessório
Em 1929, alegando a necessidade de continuar o programa de estabilização financeira iniciado em
seu governo, Washington Luís rompia com o acordo café-com-leite, indicando, como candidato oficial à Pre-
sidência da República, o paulista Júlio Prestes. Alijados da sucessão, os mineiros procuram o apoio do Rio
Grande do Sul. Surgia, então, a Aliança Liberal, que tinha como candidato Getúlio Vargas, então chefe do
governo gaúcho.
A Aliança Liberal foi derrotada nas eleições, que, como sempre, garantiram a vitória do candidato
oficial. Mas o descontentamento era profundo e a velha oligarquia paulista, embora vitoriosa nas urnas, esta-
va isolada.
C) A Revolução de 1930
Era necessário mudar. Os grupos dissidentes das oligarquias, que haviam apoiado a Aliança Liberal
temiam, entretanto, que essa mudança viesse do povo e fosse radical. A deposição de Washington Luís e a ar-
ticulação de um novo pacto político eram, assim, tarefas a serem comandadas pelas elites, mais uma vez, tal
como expresso na célebre frase de Antonio Carlos: “Façamos a Revolução, antes que o povo a faça!”.
21
O estopim do golpe foi aceso quando, por motivos pessoais, João Pessoa, que fora candidato a vice-
presidência na chapa aliancista, foi assassinado em 1930. O povo brasileiro, comovido, associou o crime â po-
lítica oligárquica e encampou a idéia da deposição de governo.
A 3 de outubro, irrompia o movimento, comandado por Getúlio Vargas, da oligarquia gaúcha. De-
posto, Washington Luís partia para o exílio, enquanto o poder era exercido por uma Junta Pacificadora, com-
posta pelos Generais Mena Barreto e Tasso Fragoso e pelo almirante Isaías de Noronha. No dia 31 de outu-
bro de 1930, essa Junta entregava o poder a Getúlio Vargas.
Procurando atender às diferentes reivindicações, Vargas procederia à reorganização do Estado, dando
mais ênfase ao poder Executivo. O poder estruturava-se de forma mais coesa, centralizada e acima dos confli-
tos regionalistas.
A) A Reorganização do Estado
O discurso com que Vargas iniciou seu longo governo (quinze anos) afirmava o caráter transitório de
seu cargo: “Assumo, provisoriamente, o processo de mudanças. O decreto de 11 de novembro de 1930, dis-
solvia o Congresso Nacional e as Assembléias Estaduais. Todos os governadores (Com exceção do de Minas)
foram destituídos e substituídos por interventores nomeados por Vargas. Criou-se um novo cargo, entregue a
Juarez Távora: a Delegacia do Governo Provisório para os Estados do Norte, que com vastos poderes, coorde-
nava a política do Norte e Nordeste. Por causa desses poderes, Juarez Távora passou a ser chamado “Vice-Rei
do Norte”.
Um dos primeiros atos do novo governo foi a anulação de novos ministérios que pudessem articular
as mudanças exigidas pelas camadas urbanas. Sugiram o Ministério da Educação e o Ministério do Trabalho.
A nova organização do poder era influenciada por duas correntes políticas, os tenentes e os políticos
gaúchos, que advogavam um Estado forte e centralista.
O Estado surgido com a Revolução de 1930 deixava de lado os princípios do liberalismo clássico, in-
tervindo diretamente na economia e coordenando as lutas entre patrões e empregados. O novo governo deixa-
va, para comandar o processo de afirmação do capitalismo. Para isso, a política orientou-se no sentido de ma-
nipulação das massas populares, através do nacionalismo e do trabalhismo. Essa política é conhecida como
populismo.
Essa função é bastante clara nas medidas que o Governo Provisório tomou quanto à questão traba-
lhista. Em dezembro de 1930 era promulgada a lei de nacionalização do Trabalho, determinando a obriga-
toriedade de as empresas contarem, no mínimo, com 2/3 de empregados brasileiros, o que, de certa forma
marginalizava os trabalhadores imigrantes, mais politizados, de forma que daí em diante seriam controlados
pelo Governo. Outras medidas foram tomadas: regulamentou-se o trabalho infantil e feminino, protegeu-se o
trabalho das mulheres grávidas; estabeleceu-se a jornada de oito horas de trabalho e o descanso semanal re-
munerado.
Atendendo aos setores urbanos e aos empresários nacionais, adotou-se medidas protecionistas à in-
dústria, proibindo a importação de novas máquinas e de produtos de luxo. Foram criados órgãos estatais para
a defesa de alguns setores: Conselho Nacional do Café. Instituto do Açúcar e do Álcool, e o Conselho Federal
do Comércio Exterior.
B) Política Cafeeira
Imediatamente que assumiu o poder, o Governo Provisório procurou encontrar soluções urgentes pa-
ra a crise do café, que afetando toda a economia nacional, punha em risco a consolidação do novo regime. O
governo comprou os excedentes de café, para deter a queda dos preços. Em junho de 1931, uma medida mais
drástica seria adotada: além da compra do excedente, esse estoque seria queimado, eliminando-se a possibi-
lidade de especulação em torno das safra futuras. Essa medida seria sistematicamente aplicada até 1944, sem-
do queimadas, nesse período, cerca de 78 milhões de sacas. Para evitar que a produção aumentasse, incentiva-
da pela proteção do governo, foi proibida, em 1932, a plantação de novos cafezais. Para amparar os cafeicul-
tores endividados o Governo Provisório decretou uma moratória de 50% de suas dívidas bancárias, em 1932 e
em 1933 proclamou a Lei da Usura, tabelando os juros bancários nas operações que envolvessem hipotecas
rurais.
22
Embora aparecesse como salvador da cafeicultura, Vargas afastara os paulistas dos centros de deci-
são, impondo a São Paulo interventores escolhidos pelo poder central. Essa atitude descontentava principal-
mente os políticos do Partido Democrata que haviam apoiado o movimento de 1930 como forma de conse-
guir o governo do Estado. Os empresários, por sua vez, temiam que a legislação trabalhista de Vargas leves-
se a um poder incontrolável do operariado, pois as greves e as reivindicações dos trabalhadores aumentavam,
em 1932, em São Paulo. Vargas, procurava com suas medidas trabalhistas, neutralizar o operariado, através
de uma legislação corporativista, que misturava concessões e controle, mas o empresariado paulista preferia
tratar a questão social como antigamente, como um “caso de polícia”.
Os meios de comunicação passaram então a divulgar um campanha que exigia a imediata reconstitu-
cionalização do país.
Vargas já tomara algumas medidas no sentido de atender às reivindicações dos paulistas. Decretara
uma nova lei eleitoral (fevereiro de 1932) estabelecendo as regras paro o pleito que escolheria os deputados
de uma Constituinte e nomeara para governar São Paulo, um interventor civil.
Os paulistas, porém, desejavam retomar a hegemonia política nacional, depondo Vargas. Precisavam,
para isso de grande apoio. Em São Paulo, a população foi mobilizada em torno da luta pela legalidade, pela
Constituição e pela devolução da autonomia político-administrativa do Estado. Políticos descontentes com
Vargas foram atraídos, em outros Estados. A vasta Frente Única contra o Governo Provisório reunia políticos
e militares de tendências diversas: João Neves da Fontoura, Bertoldo Klinger, Euclides de Figueiredo, João
Cabanas, Flores da Cunha.
A 23 de maio de 1932, manifestações de rua contra Vargas resultaram na morte de quatro jovens,
Martins, Miragaia, Drausio e Camargo, cujas iniciais, MMDC, transformava-se no símbolo dos paulistas. A 9
de julho, eclodia a Revolução. São Paulo, porém, não podia contar com apoio dos outros Estados, neutraliza-
dos pela ação de Vargas. Cercados por um inimigo muito mais forte e bem armado, procurou resistir. Para
suprir a falta de armamentos, a FIESP promoveu um gigante esforço de guerra, produzindo cerca de 20 mil
cartuchos e 8 mil granadas por dia. Para financiar a luta, o governo estadual lançou bônus de guerra e promo-
veu a campanha “ouro para o bem de São Paulo”. Mas em meados de setembro, os revolucionários paulistas
sabiam que a guerra estava perdida. Em outubro era nomeado um novo interventor e os líderes da Revolução,
presos e exilados (Júlio de Mesquita Filho, Pedro de Toledo, Altino Arantes, Francisco Morato, Euclides Fi-
gueiredo, Isidoro Dias Lopes, Bertoldo Klinger).
A) Elaboração da Constituição
Como já havia sido asseguradao pela lei eleitoral de fevereiro de 1932, em 1933 foram realizadas
eleições para a Assembléia Constituinte. Além dos 214 deputados estaduais, foram incluídos 40 representan-
tes eleitos pelos sindicatos: era a inovação da representação classista.
Os trabalhos da Assembléia resultaram na Constituição, aprovada em 16 de julho de 1934, a terceira
de nossa história e a segunda Constituição Republicana. No dia 17 de julho, a Assembléia elegeu (voto indi-
reto) Getúlio Vargas para a Presidência da República.
A Constituição promulgada em 1934 tinha características ao mesmo tempo liberais e centralizadoras.
Embora incorporasse alguns princípios liberais da Constituição Alemã de Weimar, tendia para o corporativis-
mo, para o nacionalismo e para a hipertrofia do Estado (maior poder do Estado na vida social, política e eco-
nômica). Seus principais pontos eram:
a) 3 poderes, tendo o Executivo grande expressão e o poder de decretar estado de sítio.
b) mandato presidencial de 4 anos, sem reeleição.
c) eleições diretas, voto secreto e universal para brasileiros de ambos os sexos, natos ou naturalizados,
alfabetizados e maiores de 18 anos.
d) extinção do cargo de vice-presidente.
e) voto profissional e deputados classistas.
f) Leis Trabalhistas.
g) ensino primário obrigatório e gratuito (4 anos).
h) medidas nacionalistas e estatizantes: restrições à entrada de imigrantes estrangeiros; nacionalização
de todos os meios de divulgação; obrigatoriedade de as empresas estrangeiras contarem, também,
com 2/3 de empregados brasileiros.
23
B) A Radicalização Ideológica
Vargas assumiu o poder em 1934, consciente de que a Constituição, tão reclamada pelos brasileiros,
não tinha condições de ser cumprida pois o clima político nacional, tal qual acontecia em todo mundo era de
polarização política. A década de 1930, marcada pela recessão mundial não comportava as meias-medidas da
Carta Magna de 1934, que não se definia nem como liberal nem como intervencionista. Os efeitos da crise
também afetavam todos os setores, gerando desemprego em massa, miséria e conflitos sociais. No mundo to-
do, a resposta para esses problemas encontrava duas alternativas: a ditadura fascista (Itália, Mussolini -
1932; Espanha, Franco - 1936; Portugal, Salazar - 1932; Hitler, Alemanha - 1933) ou a ditadura comunis-
ta de Stalin.
No Brasil, essa radicalização encontrava reflexos e o período constitucional de Vargas (1934-1937)
foi marcado pela oposição de duas entidades políticas: a Aliança Nacional Libertadora (ALN) de tendência
esquerdista e a Ação Integralista Brasileira, inspirada no fascismo europeu.
A partir dessas entidades, a agitação política crescia. Em 5 de julho de 1935, Luís Carlos Prestes (o
líder tenentista da década de 1920, agora convertido ao marxismo) pronuncio violento discurso contra Getúlio
Vargas. Uma semana mais tarde, a 12 de julho, com base na Lei de Segurança Nacional, a Aliança Nacional
Libertadora foi fechada.
Os esquerdistas, porém, continuaram em sua luta e em novembro de 1935, militares, membros da
ANL iniciaram a partir dos quartéis uma rebelião em Natal, Recife e Rio de Janeiro. Esse episódio passou à
história como a Intentona Comunista.
Nessa época, a Constituição, na prática, não mais estava em vigor, porque o país estava em estado de
emergência. Os confrontos políticos, porém, cresciam. Os grupos de esquerda acusavam Vargas de fazer o jo-
go do capitalismo. Os integralistas acusavam-no de liberal.
Em 1936, a situação ainda se tornou mais crítica. Além da perseguição sistemática aos comunistas e
dos reclamos fascistas dos integralistas, surgia a questão da sucessão presidencial, pois em 3 de janeiro seriam
realizadas eleições. Mas enquanto o povo estava distraído com eleições, Getúlio articulava um golpe que pu-
desse garantir sua continuidade no poder.
EXECÍCIOS
TESTES:
1. (UFMG-MG) Sobre o papel político desempenhado pela classe operária brasileira no movimento revolu-
cionário de 1930, pode-se afirmar:
a) a instalação de um significativo parque industrial, destinado à produção de bens de capital, atuou co-
mo dinamizador da ação da classe operária conferido-lhe papel decisivo no movimento revolucioná-
rio de 1930.
b) a intervenção efetiva da classe operária nas rebeliões militares dos anos 20 e no movimento da Ali-
ança Liberal acelerou o processo de mudança do modelo político-econômico brasileiro, iniciado nos
anos 30.
c) a crise do capitalismo, no final dos anos 20, acelerou o afluxo para o Brasil de trabalhadores euro-
peus, que portadores de maior experiência política atuaram no sentido de fortalecer o movimento
sindical brasileiro.
d) a presença difusa da classe operária brasileira nos acontecimentos ligados à Revolução de 1930 está
diretamente relacionada à especificidade de sua formação histórica, bem como à estrutura político-
econômica do país.
e) a inexistência de meios institucionais e de soluções legislativas par a consideração dos problemas
operários resultou no radicalismo do movimento operário brasileiro às vésperas da Revolução de
1930.
2. (F.C.CHAGAS-BA) Após a Revolução de 1930, o Governo Provisório, sob a liderança de Getúlio Var-
gas, preocupou-se, do ponto de vista econômico com o problema:
a) da comercialização do café, cujos excedentes comprava e queimava para manter os preços.
b) da penetração das multinacionais em áreas básicas do país.
c) da alta carga de impostos, sobretudo o de renda, que afetava e gerava a oposição da classe média.
24
d) dos empréstimos externos, tendo em vista a possibilidade de solicitar uma moratória ao bancos in-
ternacionais.
e) das altas taxas de juros no mercado internacional, o que aumentava a inflação interna.
4. (UFRGS-RS) O Governo Provisório de Getúlio Vargas sofreu, desde seu início, a oposição de São Paulo,
entre outros movimentos porque o referido Estado desejava:
a) o afastamento do interventor Pedro de Toledo, em face do seu comportamento com o tenentismo.
b) a introdução de representação classista dos sindicatos profissionais, o que contrariava a política getu-
lista.
c) a extensão do direito de voto às mulheres, soldados e analfabetos, a fim de democratizar o sistema
eleitoral.
d) a indicação de um interventor civil, assim como a imediata constitucionalização do país.
e) a implantação de um governo forte, centralizado, que dominasse a vida econômica, para garantia dos
preços do café.
25
31. Quando eclodiu o movimento ?
32. São Paulo recebeu apoio ? Por que ?
33. Cite algumas expressões do esforço de guerra desenvolvido pelos paulistas.
34. Cite alguns líderes do movimento paulista de 1932, que foram presos e exilados.
35. O que é populismo ?
36. Quando foram realizadas eleições para a Assembléia Constituinte ?
37. Como era composta a Assembléia ?
38. Quando foi aprovada e promulgada a nova Constituição ?
39. Quem foi eleito para presidente, pela Assembléia ?
40. Por que podemos dizer que essa Constituição tinha caráter dúbio ?
41. Qual a Constituição eropéia que serviu de modelo para a Constituição de 1934 ?
42. Por que essa Constituição tinha caráter centralizador, ao lado do liberalismo ?
43. Em que medida era aumentado o poder Executivo ?
44. De quantos anos era o mandato presidencial na Constituição de 1934 ?
45. Qual a inovação na composição da Câmara dos Deputados ?
46. Quais as condições para um indivíduo ser eleitor, nessa Constituição ?
47. O que a Constituição de 1934 estabelecia em relação ao cargo de Vice-Presidente ?
48. O que a Constituição de 1934 estabelecia em relação ao ensino primário ?
49. Cite medidas nacionalistas estabelecidas nessa Constituição.
50. Qual o principal efeito político da recessão da década de 1930 ?
51. Quais as duas principais tendências políticas do período ?
52. O que era a ANL ?
53. O que era a AIB ?
54. O que foi a “Intentona Comunista” ?
55. Como Vargas era pressionado pelos grupos extremistas ?
56. Qual a nova preocupação política a partir de 1936 ?
I) O Estado Novo
A) A Preparação do Golpe
O processo político que levou à implantação do Estado Novo, em 1937, não foi produto apenas da
ambição pessoal de Getúlio Vargas. Ele, Vargas, foi na verdade o elemento aglutinante de circunstâncias his-
tóricas que se delineavam desde 1930. As medidas de renovação, de atendimento à questão social, de organi-
zação trabalhista de Vargas, haviam levado a um impasse. A partir de 1935, as elites políticas e as classes do-
minantes, temerosas de revoluções e de ampliação das manifestações sindicais, passaram a se unir a Vargas,
pressionando-o no sentido de controlar ainda mais o processo sócio-político-econômico brasileiro.
A sucessão presidencial que se aproximava levava, todavia, a dois tipos de incertezas: de um lado te-
mia-se que outro dirigente não tivesse capacidade para manter a ordem; do outro lado, os liberais pressentiam
que Vargas queria continuar no comando da nação. A situação do país, ao mesmo tempo, era de extrema tem-
são, pois desde 1935 vivíamos em estado de emergência e estado de guerra.
A luta pela sucessão implicou no aparecimento de vários candidatos: Armando Sales de Oliveira, Jo-
sé Américo de Almeida e Plínio Salgado.
Aparentemente Getúlio agia como se quisesse as eleições, mas nos bastidores da política era prepa-
rado um golpe. No dia 30 de setembro de 1937, os meios de comunicação (rádios e jornais) publicavam, com
alarme, trechos de um documento que provava a existência de um grande plano comunista para a tomada do
poder: era o “Plano Cohen”. O documento propunha um golpe violento de esquerda, uma revolução comunis-
ta que implicaria no massacre de cidadãos, na queima das igrejas e na destruição dos jornais e meios de comu-
nicação. A opinião pública ficou alarmada e predisposta a aceitar medidas excepcionais para evitar a “ascen-
são comunista”. Hoje sabemos que o documento fora forjado por oficiais do próprio exército, mas na época
mobilizou a população a favor da manutenção de Vargas no poder, como solução para “manter a ordem”.
26
Enquanto isso era preparada uma nova Constituição, pelo jurista Francisco Campos (o Chico Ciên-
cia”) e os integralistas, acreditando que Vargas penderia para sua organização, realizaram uma grande mani-
festação no Rio, apoiando o presidente.
No dia 10 de novembro estava tudo pronto: o Congresso Nacional foi fechado e uma nova Constitui-
ção era outorgada à nação (a quarta de nossa história e a terceira do período republicano). Estava instaurado o
Estado Novo.
D) O Trabalhismo
Entre 1930 e 1935, o movimento operário foi marcado por agitações, greves e manifestações de rua
que tendiam a uma maior participação política. As leis trabalhistas desse período: descanso semanal remune-
rado, oito horas de trabalho, obrigatoriedade de assistência médica etc; eram uma forma de o governo anteci-
par-se às reivindicações, esvaziando a mobilização operária.
Após 1937, com a proibição de qualquer manifestação grevista, Vargas pôde consolidar uma estru-
tura sindical corporativista, com a colaboração de dirigentes sindicais que defendiam os interesses do Estado e
por isso chamados pelegos (termo utilizado para designar a pele de carneiro colocada entre a sela e o cavalo,
para que este reaja menos ao cavaleiro). Estava formada a base do trabalhismo de Vargas.
Após 10 de novembro de 1937, o Estado passou a ser diretamente identificado a Getúlio Vargas, o
“responsável” pela legislação trabalhista que “tirou” os operários da miséria. Vargas era apresentado à popu-
lação, pelo seu forte esquema de propaganda, como um “anjo tutelar dos trabalhadores”. Apoiado pela legis-
lação trabalhista que atendia e mesmo antecipava anseios populares, as massas urbanas prestigiavam as mani-
festações promovidas pelo governo, como o 1º de maio.
Em 1939 era criada a Justiça do Trabalho, encarregada de julgar as questões entre patrões e emprega-
dos. Em 1940, através de um decreto-lei (lei outorgada pelo Executivo, sem aprovação de um Congresso), era
27
criado o salário-mínimo. Em 1943, procurando ordenar toda legislação trabalhista criada após 1930, foi esta-
belecida a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
E) Economia
A década de 1930 e os primeiros anos da década de 1940 foram um período de profundas transfor-
mações, também no setor econômico. O impacto da Grande Depressão, ao diminuir nossas exportações, impe-
diu que importássemos, estimulando a produção industrial para a substituição das importações. Surgiram mi-
lhares de novas fábricas, que produziam bens de consumo que não mais podíamos obter do exterior. Nossa in-
dústria cresceu à taxa de 11% ao ano e o valor da produção industrial ultrapassou o valor da produção agríco-
la.
Como Vargas, o Estado assumiu uma posição de comando econômico, intervindo diretamente na
produção. Foram criados órgãos de coordenação (o primeiro deles, o próprio Ministério do Trabalho, Indús-
tria e Comércio), destinados a regulamentar a vida econômica do país. Em 1933 surgia o Departamento Na-
cional do Café (origem do IBC) que controlava a política cafeeira. Em 1934, foi regulamentado o uso das ri-
quezas do subsolo, através do Código de Minas. Nesse mesmo ano era criado o Departamento Nacional de
Produção Mineral. Em 1938 surgia o Conselho Nacional do Petróleo. Em 1943 era criada a Companhia Vale
do Rio Doce (minério de ferro). Em 1941 eram criadas as obras da construção da Usina Siderúrgica de Volta
Redonda (inaugurada em 1946).
A política industrialista e intervencionista de Vargas não prejudicou a agricultura. Vargas, na verda-
de, amparou a cafeicultura mais do que qualquer outro governo da República Velha, pois o café era o nosso
principal produto de exportação, gerando divisas para a importação de petróleo, máquinas e matérias-primas.
A produção açucareira também passou a ser controlada pelo governo, que em 1933 criara o IAA (Instituto do
Açúcar e do Álcool).
Graças à política do governo, nossos produtos primários avançavam no mercado mundial. Em 1939 o
café do Brasil conquistava 57% do mercado mundial e nesse mesmo ano exportávamos 300 mil toneladas de
algodão. A borracha, beneficiada pela 2ª Guerra Mundial conheceu um período de expansão, a partir de 1939.
O açúcar, porém declinou no mercado externo, mas durante a guerra a produção canavieira voltou-se para a
produção do álcool combustível. a maior parte de nossa produção agrícola no período, entretanto (cerca de
57%) destinava-se ao consumo interno, privilegiando-se as culturas de feijão, do arroz e do milho.
28
veram início as obras do Ministério da Educação e Saúde, arquitetos brasileiros inovadores começaram a sur-
gir. O Projeto, elaborado por Lúcio Costa e uma equipe que incluía Oscar Niemeyer, Carlos Leão, Jorge Mo-
reira e Afonso Reidy, contou com a orientação do famoso Le Corbusier. Mais ou menos nessa época, surgia
em São Paulo, o Edifício Éster, primeiro prédio moderno de apartamentos, projetado por Álvaro Vital Brasil.
Em 1940, Oscar Niemeyer era convidado pelo então prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek, para
realizar naquela cidade o conjunto arquitetônico do Parque da Pampulha, uma das obras primas da arquitetu-
ra moderna.
A Era de Vargas foi, no Brasil, o início da cultura de massas. O rádio, que surgira no Brasil, em 1922
alcançou um grande desenvolvimento.
Na imprensa, praticamente castrada pela censura, a grande inovação foi o surgimento de revistas de
variedades, semanários femininos e revistas em quadrinhos.
Incentivada pelo rádio e pelas empresas de discos, a produção de música popular desenvolveu-se. O
nacionalismo do período deu grande alento aos ritmos brasileiros e o samba, em variadas formas (samba-can-
ção, samba de breque) era o gênero preferido. Nos primeiros tempos da década de 1930, o clima de boemia,
retratado, por exemplo, nas músicas de Noel Rosa, marcava nossos sambas. Durante o Estado Novo, o gover-
no patrocinou a produção de músicas que exaltassem o trabalho e o conformismo dos pobres, cuja vida mise-
rável foi idealizada em composição como Ave Maria do Morro. Outra linha de produção, estimulada pelo go-
verno, era a do samba-exaltação, que glorificava as riquezas e potencialidades do Brasil, como as composi-
ções de Ari Barroso (principalmente Aquarela do Brasil).
O futebol foi estimulado pelo governo, e atingiu o nível de “esporte das multidões” e o cinema evi-
tava tocar nos grandes problemas nacionais, limitando-se a músicas carnavalescas e às chanchadas que diver-
tiam o povo, e livravam-no de pensar.
29
os povos, certamente não pedimos demais, reclamando para nós mesmos os direitos e garantias que as carac-
terizam.”
EXERCÍCIOS
TESTES:
1. (UCBA) O golpe de estado de Getúlio Vargas, que instituí o Estado Novo (1937-1945), usou, como pre-
texto para a sua realização:
a) o perigo que representava para a Nação a penetração da direita nas Forças Armadas.
b) o desejo de conter a ideologia da direita apresentada pela Ação Integralista Brasileira.
c) a inquietação social que existia no Nordeste em virtude da alta do cursto-de-vida.
d) a possibilidade de uma revolução comunista, conforme constava de um documento em poder do
Governo - Plano Cohen.
e) a necessidade de conter a agitação política promovida pela Aliança Liberal nos grandes centros ur-
banos.
2. (CESGRANRIO) Inspirando-se na “Carta del Lavoro” do regime fascista italiano, o Estado Novo intensi-
ficou a regulamentação das relações mantidas entre as classes patronais e os trabalhadores, no processo
de industrialização vivido pelo Brasil no período posterior a 1930. O espírito dessa intervenção estatal se
expressa:
1) na busca da harmonia social, caracterizada pelo fortalecimento do Estado que passa a tutelar as diver-
gências e conflitos baseados em interesses particulares;
2) na tentativa de disciplinar a atuação dos diferentes agentes sociais, através da transformação de seus
sindicatos em órgãos de colaboração de classe;
3) na valorização do elemento nacional que se expressava tento na expulsão dos judeus quanto na dos
demais residentes de origem estrangeiras;
4) no estabelecimento de um salário mínimo calculado com base nos índices de produtividade industrial,
em atendimento a uma das principais reivindicações dos trabalhadores urbanos.
Assinale:
a) se somente a afirmativa 1) está correta,
30
b) se somente a afirmativa 4) está correta,
c) se somente as afirmativas 1) e 2) estão corretas,
d) se somente as afirmativas 2) e 3) estão corretas,
e) se somente as afirmativas 2), 3) e 4) estão corretas.
4. (UFRGS) A Ação Integralista Brasileira, organizada na década de 30 por Plínio Salgado, caracterizava-se
por ser um movimento político que preconizava a:
a) unificação com diferentes frentes, inclusive a Aliança Nacional Libertadora, para combater o
fascismo.
b) execução do Plano Cohen, a fim de evitar que o Brasil se inclinasse para o totalitarismo de direita.
c) insurreição armada para garantia dos princípios revolucionários advogados pelo Comintern.
d) realização de um amplo plebiscito para verificar se o povo apoiava o Estado Novo.
e) instauração de um governo ditatorial ultranacionalista baseado na hegemonia unipartidária.
6. (STA. CASA) O Manifesto dos Mineiros (1943), que contou com a assinatura de Milton Campos, Pedro
Aleixo e Magalhães Pinto, entre outros, foi uma:
a) definição de políticos liberais em relação ao Estado Novo.
b) demonstração de apoio ao Governo de Getúlio Vargas.
c) denúncia contra a influência da Ação Integralista Brasileira.
d) posição assumida pelo empresariado contra o imperialismo americano.
e) manifestação contrária ao esquerdismo na política brasileira.
1. O Estado Novo foi resultado apenas da ambição política de Getúlio Vargas ? Por que ?
2. Quando do início da disputa sucessória em 1936 quais os temores de alguns segmentos
sociais ?
3. Qual era a situação do Brasil (política interna) nos anos de 1935 a 1937 ?
4. Quais os candidatos que se apresentaram à sucessão de Vargas, a partir de 1936 ?
5. O que foi o Plano Cohen ?
6. Qual a finalidade de sua divulgação ?
7. Quando foi instalado o Estado Novo ?
8. Quais as críticas de Vargas ao liberalismo político ?
9. Quais as principais características da Constituição de 1937 ?
10. Qual o sentido do apelido “Polaca” dado a essa Constituição ?
11. Quais as principais manifestações do aumento da centralização do poder, no Estado Novo ?
12. Qual o motivo da rebelião integralista de 1938 ?
13. Como decorreu a tentativa de golpe ?
14. Qual o sentido do trabalhismo de Vargas ?
15. O que eram sindicatos corporativistas ?
16. O que eram pelegos ?
17. A que se deve essa denominação ?
18. Quais as principais medidas trabalhistas de Vargas no Estado Novo ?
19. Quais as características gerais da Economia no Estado Novo ?
20. Como se manifestou o intervencionismo estatal na Era de Vargas ?
31
21. Qual o quadro geral da agricultura brasileira na Era de Vargas ?
22. Quais as características gerais do processo cultural brasileiro entre 1930 e 1945 ?
23. Quais as principais modificações educacionais ocorridas no período ?
24. O que foi o “redescobrimento do Brasil” ?
25. Qual a principal característica da literatura de ficção na Era de Vargas ?
26. Qual o texto revolucionário de nossa dramaturgia que, composto em 1933 só foi exibido
em 1967 ?
27. Qual o grupo teatral inovador surgido na Era de Vargas ?
28. Qual a obra que inaugurou uma nova linha arquitetônica brasileira ?
29. Qual o texto inovador levado à cena em 1943 ?
30. Qual a obra que inaugurou uma nova linha arquitetônica brasileira ?
31. Quais as principais características da cultura de massas no período ?
32. Qual a nossa posição nos anos iniciais da 2ª Guerra Mundial ?
33. Por que a partir de 1940 pendemos para o apoio aos aliados ?
34. Quando se deu o rompimento de nossas relações diplomáticas com o Eixo
35. O que nos leva a declarar guerra ao Eixo ? Quando ?
36. Qual a situação do Brasil na 2ª Guerra ?
37. Do ponto de vista da política interna, qual a conseqüência de nossa participação na 2ª
Guerra Mundial ?
38. Quais as primeiras manifestações contra a ditadura, em 1943 ?
39. Qual a posição de Vargas frente ao problema ?
40. Quais as primeiras medidas de encaminhamento da normalização política, em 1945 ?
41. Quais os partidos que foram organizados ?
42. Quais seus candidatos à sucessão presidencial ?
43. O que era o “queremismo” ?
44. Para quando estavam marcadas as eleições ?
45. O que se temia d Vargas ?
46. Qual a atitude dos militares ?
47. Quem assumiu a presidência interina do Brasil ?
48. Quem foi o candidato vencedor das eleições presidenciais de 1945 ?
fim
HISTÓRIA GERAL
I) A Formação do Feudalismo
A composição do sistema feudal é extremamente, podendo ser relacionada, de forma estrutural, com
elementos oriundos do mudo romano e das instituições germânicas.
32
A gradual decadência do Império Romano do Ocidente, através da ruralização da economia, das Vil-
lae que passam a constituírem a unidade básica da produção, do Colonato que substituiu a mão-de-obra escra-
va e a descentralização administrativa, em seu todo, já começa a dar uma idéia do novo sistema.
Os Germânicos, com sua economia natural, sua organização tribal, sua sociedade estratificada cola-
boram muito para sua composição. Deles, merece destaque o comitatus, ou bando de guerra germânico que se
estruturava quando de um perigo bélico; escolhia-se um chefe que tinha poderes exclusivamente militares e
que desaparecia com o término do perigo que montara o comitatus, retomando-se a organização tribal.
A instalação dos germânicos na Europa Ocidental pusera fim à unidade político-administrativa do
Império Romano, fragmentando-a em uma multiplicidade de Reinos. Suas lutas e seus particularismos facili-
taram os ataques e invasões de outros povos. Isolando regiões, estabelecendo a dependência direta dos campo-
neses ao castelo do Senhor da região, criando um clima de medo e tensão, os ataques e invasões de Árabes,
Vikings (Normandos), Húngaros e Eslavos, contribuirão deforma conjuntural para a articulação do feudalis-
mo.
Entre os árabes, a pregação do Islão será o fator decisivo para sua expansão. Maomé, após a Hégira
(sua fuga para Medina em 622) que marca o início do calendário muçulmano, organiza um exército com o
qual toma a cidade de Meca, em 630, data oficial da fundação do Islão. A nova religião centralizou o poder
em um Estado Teocrático que pode atender a antigas reivindicações da população do deserto: busca de terras
férteis. A idéia de Guerra Santa (pregar o nome de Alá mesmo que através da guerra) a justificará. A partir
do século VII, os árabes expandem-se para a Síria, a Pérsia; avançam sobre o norte da África e, em 711 inva-
dem o Reino dos Visigodos na Espanha. Ocupam toda a Península Ibérica excetuando a região das Astúrias,
de onde os remanescentes cristãos organizaram Reinos que deram início a mais longa guerra da História da
Humanidade: A Guerra da Reconquista (717-1492).
Ao tentarem invadir o Reino dos Francos, (atual França) os árabes são detidos na célebre Batalha de
Poitiers (732), pelo Major Domus dos Francos, Carlos Martel. Senhores da Península Ibérica, Norte da Áfri-
ca e Sicília, os muçulmanos interrompem a navegação cristã no Mediterrâneo Ocidental. Praticam Rzzias (a-
taques que visam saque) no litoral da França e da Itália, afastando dstas as populações destas regiões e agra-
vando a ruralização européia.
A partir do final do século VIII, provenientes da Noruega, Suécia e Dinamarca, expedições saquea-
doras normandas (homens do norte) ou Vikings assolam a Europa. “Navegam em barcos estreitos, cujos cas-
cos são muito altos nas extremidades e sabem menejá-los com uma habilidade que os antigos desconheciam:
porque os normandos descobriram a arte de mudar de rumo no mar, o que lhes permite navegar contra o ven-
to. Estão, por isso, sempre prontos a afastar-se ou a aproximar-se das costas: desembarcam, saqueiam e tor-
nam a embarcar; ou então, como seus navios têm pequeno calado, devastam suas costas. São intrépidos e im-
piedosos ( ... ). Por toda parte destroem e matam. Só deixam seus navios para sangrentas cavalgadas. As po-
pulações tremem, os soberanos pagam tributos para conseguir a partida dos invasores”. (SEDILLOT, R.: Op Cit,
p.107-109)
Fechando o quadro de invasões e assaltos sofridos pela Europa Ocidental na Alta Idade Média, as
incursões Húngaras e Eslavas assolam do Danúbio aos Pirineus, ampliando a insegurança, reforçando os
quadros da localização do poder e da produção voltada para a suficiência.
EXERCÍCIOS
2. (PUC-SP) Na Alta Idade Média, período que se segue à desintegração do mundo antigo, houve o surgi-
mento de vários reinos germânicos do Ocidente, como o dos Visigodos, o qual ocupava:
a) o Sudoeste da França, e grande parte da Península Ibérica.
b) a Região do Reno, o Leste da França e a parte da Suíça.
c) o Território Sul da atual Alemanha e a Alsácia e Lorena.
d) a península e parta da atual Iugoslávia.
33
e) o Norte da África, do estreito de Gibraltar à Tunísia.
2) Tentativa de reconquista do Ocidente: conquista a África do Norte (Reino dos Vândalos), a Itália (Reino
Ostrogodo) e o sul da Espanha (Reino Visigodo). A reconquista teve curta duração, excetuando-se a Itá-
lia onde constituiu-se o Exarcado de Ravena.
3) Levantamento popular no Hipódromo (Revolta de Nika - 532) termina com sangrenta repressão. Fixa-se
a posição autocrática do Estado - Cesaropapismo - com o imperador também intervindo nos assuntos e-
clesiásticos.
4) Sob a direção de Triboniano, elabora-se o Corpus Juris Civiles, dividido em “Instituitiones” (tratado es-
lar), “Digesto” ou “Pandectas” (compilação das obras jurídicas clássicas), o “Codex Justinianus” (Cons-
tuições Imperiais) e as “Novelas” (Leis publicadas por Justiniano a partir de 534).
5) A vida do Império foi conturbada por diversas querelas religiosas, destacando-se as Heresias dos Icono-
clastas e a dos Monofisistas. O monofisismo, pregava haver em Cristo apenas uma natureza, a Divina. Em
451, o Concílio de Calcedônia já havia aprovado a tese do Papa Leão I de que Cristo tinha duas naturezas
(Humana e Divina) em uma só pessoa. Tais contendas acabavam tomando cunho político donde o Cesaro-
papismo Imperial.
Os iconoclastas pregavam a retomada do cristianismo primitivo e o fim da adoração de imagens (Ícones).
Em 726 o Imperador Leão III Isaurico proíbe as imagens nas Igrejas, exceto a de Cristo. A partir de 730
se decretou pena de morte aos adoradores de imagens.
6) A partir das Cruzadas, na Baixa Idade Média, após sofre uma invasão do Ocidente (4ª Cruzada) que já
fundara o Reino Latino de Constantinopla (1204-1261), o Império Bizantino definha até ser tomado pelos
Turcos Otomanos (queda de Constantinopla em 1453), deixando uma profunda herança cultural da anti-
guidade clássica, seus mosaicos e a Igreja de Santa Sofia, construída no governo de Justiniano.
34
los Martel, que consegue conter a expansão muçulmana no Ocidente na histórica Batalha de Poitiers, em 732.
Seu filho , Pepino o Breve, afasta o último rei merovíngio, Childerico III, tornando-se Rei dos Francos e fun-
dando a Dinastia Carolíngia.
A) Economia autárquica
1) CORVÉIA: pagamento realizado sob forma de trabalho compulsório nas terras do Manso Senhorial.
Os dias da Corvéia variam de região para região, ficando geralmente entre 2 a 5 dias por semana. Às
vezes os sevos eram obrigados a trabalharem em reparações de pontes, estradas etc., dias que se es-
tendiam além da Corvéia, denominados “Dias de Graças”.
2) TALHA: correspondia ao pagamento de parte da produção que os servos obtinham em seu manso ao
Senhor Feudal.
3) BANALIDADE: pagamento que o servo realizava pela utilização dos instrumentos pertencentes ao
Senhor Feudal; também correspondia a presentes compulsórios em ocasiões festivas.
Além dessas obrigações fundamentais, outras sobrecarregavam os servos como o Tostão de Pedro
(dízimo para a Igreja), Taxa de Justiça, de Casamento, Mão Morta (taxa sobre heranças) etc.
“Quanto às maneiras de se cultivar a terra destacavam-se o trabalho temporal, o sistema bienal e o
sistema trienal. Na primeira forma, o terreno arroteado, em seguida cultivado por alguns anos e depois aban-
donado, procurando-se então outro para lavrar. No sistema bienal, usado desde a antiguidade, a terra fértil era
dividida em duas partes: no primeiro ano uma delas era cultivada e a outra ficava em pouso, isto é não era se-
meada, no segundo ano invertia-se tal esquema e assim sucessivamente ( ... ). O sistema trienal, utilizado des-
de o século VIII ( ... ) dividia a terra cultivável em três partes - uma semeada com cereais, outra com cererais
de primavera e outra ficando em pousio - aumentava a área produtiva e proporcionava maior segurança ao
permitir colheitas anuais ( ...). O instrumental da Alta Idade Média era basicamente o mesmo que o do Baixo
Império. Algumas técnicas foram então mais difundidas, caso do moinho de água, utilizado para farinhar o
trigo ( ... ). No conjunto, a produtividade era baixa: em média uma colheita de trigo dava apenas três vezes a
35
sementeira (atualmente pelo menos catorze)”. (CHACON, P.P. e FRANCO JR. H.: História Econômica Geral e do Brasil.
São Paulo, Editora Atlas, 1980. p. (7 9-81).
A sociedade Estamental, em que as pessoas estão presas ao seu Status de nascimento, adapta-se com
facilidade à estrutura feudal. Também é denominada de “Ordens”, pois cada indivíduo tem uma determinada
tarefa a cumprir. Assim, os nobres guerreiam, os padres oram e os servos trabalham. O clima de medo e tem-
são habilmente explorado pela Igreja, justifica amplamente esta estruturação. O pessimismo predomina na
mentalidade do servo que nada mais que senão salvar sua alma.
O Coletivismo é sua marca fundamental, onde os grupos sociais não vivem em função de si mesmos;
existem em função dos outros, cabendo a cada qual uma precisa tarefa.
C) Descentralização do Poder
“Com o fim de assegurar uma proteção eficaz das terras, o senhor confia uma terra, o feudo, a um
vassalo ( ...). O Senhor deve proteger o seu vassalo e preservar a integridade do feudo. O Vassalo deve acon-
selhar o seu Senhor e ajuda-lo militar e financeiramente. além disso, o vassalo jura fidelidade ao seu Senhor
através da cerimônia de Homenagem. O feudo nunca deixa de ser propriedade do Senhor.
Por seu lado, um vassalo pode proceder da mesma foram e tornar-se Senhor, de um outro vassalo (..).
(HERMAN, J.: Op.Cit. pg. 90)
Assim o poder político acaba por definir-se através da já célebre frase: “Quem tem terra , tem poder
e Não existe Senhor sem terra ou terra sem Senhor”.
É importantíssimo lembrar que a relação feudo-vassálica é, socialmente, uma relação horizontal, isto
é: apenas entre nobres. O vassalo jamais poderá ser um servo. Lembramos também que o Clero possui terras e
que é constituído pela nobreza.
A autoridade do monarca, desta forma, é meramente nominal no que excede suas propriedades terri-
toriais. Outra frase célebre também define bem esta situação: “O Rei á um Senhor entre Senhores, um Susera-
no entre Suseranos”. Possui a autoridade apenas “de direito” e não “de fato”.
O MERCANTILISMO
O Mercantilismo não deve ser entendido como o “sistema” econômico da Idade Moderna, mas co-
mo a “política” econômica do sistema denominado capitalismo comercial ou, mais precisamente, capital
comercial.
Tal sistema econômico tem como principais características o fato de sua principal atividade econô-
mica centrar-se na circulação de mercadorias e se constituir na época da acumulação primitiva do capital.
O advento do Capitalismo Comercial liga-se aos últimos tempos da Idade Média, onde as atividades
comerciais superam as atividades agrícolas. Tal superação é vinculada aos processos de revolução demográ-
fica e agrícola da Baixa Idade Média. Sua intensificação adquire tais proporções que altera profundamente
todos os setores da sociedade medieval, donde podemos falar em uma “Revolução Comercial”.
O monopólio italiano, seu lucrativo comércio com o norte da Europa (Liga Hanseática), a introdu-
ção de moedas de aceitação geral, a acumulação de capitais excedentes, a procura de produtos do Extremo
Oriente são alguns dos elementos encontrados entre os fatores desta Revolução Comercial.
O desenvolvimento do sistema bancário, o aparecimento de novas Indústrias, as Companhias regula-
mentadas e as Sociedades por Ações consistem em alguns de seus aspectos. Porém, sua maior amplitude vin-
cula-se ao processo de transferência do Eixo Econômico do Mediterrâneo para o Atlântico através das Gran-
des Navegações.
“A revitalização econômica dos Séculos XI-XIII trouxe consigo os germes de uma profunda crise
que abalou a Europa do século XIV e assim, tornou necessária uma reorganização com a qual se assentaram
os elementos marcantes da modernidade (...). A crise agrícola resultou de chuvas contínuas que provocaram a
alta do preço do trigo (...). Esta carestia causou epidemias, sobretudo em regiões superpovoadas. Com a nor-
malização da produção de víveres os preços caíram abaixo dos níveis anteriores, mas os salários continuaram
a subir, prejudicando a economia senhorial. A passagem de uma economia de paz para uma economia de
Guerra (A Guerra dos Cem Anos) (...) levou ao surgimento de um fisco esgotador, a redução da produção, à
36
diminuição das trocas, à crise do crédito e, assim, à insegurança monetária com as constantes desvalorizações
que as monarquias faziam para poderem manter a guerra. Estas dificuldades abriram caminho às epidemias
como a Peste Negra (1348-1350) que valorizando a mão-de-obra, acabariam por acelerar a desagregação da
exploração senhoria”. (CHACON, P.P. e FRANCO JR., História Econômica Geral e do Brasil. São Paulo, Editora Atlas, 1980.
p.129-131).
Apesar de todos os elementos envolvidos na explicação dos fatores das grandes navegações, não po-
demos deixar de dar ênfase à tentativa de rompimento do Monopólio das Cidades Italianas. Os últimos e di-
fíceis tempos da Idade Média levam a burguesia à busca e uma saída para a estagnação econômica. Maiores
necessidades agrícolas e metalíferas, a estabilidade política, os aperfeiçoamentos técnicos darão um decisivo
impulso a essa aventura européia. O mundo já não parece tão achatado e o Atlântico já não é tão “tenebroso”.
O afã do lucro e do crescimento econômico, revestido pela capa de uma “nova cruzada” conduz a iniciativa
européia.
“Traço característico da nova época é a aparição de uma economia nacional, no sentido de uma poli-
tica econômica que, dirigida pelo soberano, afeta todo o território submetido à sua autoridade e a busca do
enriquecimento do Estado. A concentração do poder político nas mãos do monarca, apoiado pela burguesia
mercantil e nos exércitos mercenários, pode conseguir a unidade nacional, e com ele, a implantação de um
sólido Estado, regedor da atividade econômica.” (VAZQUES DE PRADA, : História Econômica Mundial. Madrid, Edicio-
nes Rialp S. A., 1972. Vol. 1, p. 275).
Assim, o Mercantilismo se constitui no conjunto de teorias e práticas de intervenção econômica de-
senvolvida na Europa, a partir da metade do século XV. O termo “mercantilismo” não é contemporâneo à sua
prática, e apesar de possuir diversas variantes distintivas no seu tempo e no espaço, existem alguns elementos
que são comuns à sua aplicação:
1) Metalismo: muitas vezes apontado com sua característica essencial, corresponde à idéia de que
a riqueza de uma nação é diretamente vinculada à quantidade de metais preciosos que possui.
2) Balança Comercial Favorável: defende a idéia de uma maior exportação e menor importação,
uma vez que importar, muitas vezes implica na evasão dos metais.
4) Intervencionismo: desempenhado pelo Estado, que regula, dirige e encaminha a economia com
vistas ao seu fortalecimento.
Com o mercantilismo, forma-se a base para a Revolução Industrial. Promoveu o grande desenvolvi-
mento das atividades comerciais, industriais, manufatureiras; o afluxo de metais para a Europa e a Revolução
dos preços. Ascensão da burguesia, o reinício da escravidão, o desenvolvimento do comércio mundial, a eu-
ropeização das conseqüências desta nova fase econômica da Europa, justificando amplamente o termo “Re-
volução Comercial”.
A 1ª REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
37
Dois elementos básicos definem o sistema capitalista de produção: a propriedade privada dos meios
de produção (Capital) e o trabalho assalariado (Trabalho). Tal divisão se consubstancias, socialmente, na Bur-
guesia proprietária e no Proletariado, desprovido dos meios de produção, vendendo sua força de trabalho. Tais
características se implantarão em definitivo a partir da 1ª Revolução Industrial, inaugurada na Inglaterra, a
partir de 1760, caracterizada pela mecanização da indústria. Mas, por que a Inglaterra ?
Pelo seu desenvolvimento comercial anterior à revolução, na fase de acumulação primitiva do capital
(época mercantilista), por sua facilidade para obtenção de créditos. Os tratados de Methuen, (1703), Utrecht
(1713) e de Paris (1763) fornecem os necessários metais e abrem mercados para a Inglaterra assegurando-lhe
a hegemonia marítimo-comercial. Também o crescimento demográfico, aumentando o consumo e fornecendo
a necessária mão-de-obra, a presença do ferro e do carvão, o governo liberal estabelecido desde a Revolução
Gloriosa de 1688-89 assim como a ética protestante (Puritanos), estimulando a acumulação e poupança, com-
pletam as razões para a primazia inglesa na Revolução Industrial.
Em princípios do século XVIII, a indústria inglesa já era mais desenvolvida que em outros países eu-
ropeus, mas ainda não consistia na principal atividade. A Revolução Agrária, efetivada pelo processo dos cer-
camentos (enclosures) começa a afetar o Sistema Doméstico, meio industrial meio camponês, caracterizado
pela posse dos meios de produção pelo próprio artesão que , junto com a família e às vezes alguns operários,
transforma a matéria-prima e vende pessoalmente no mercado. Completavam sua economia alguns poucos
hectares cultivados e algumas cabeças de gado, o que geralmente era realizado nas antigas “terras coletivas”,
agora extintas pelos cercamentos. Advém então, o êxodo rural que lança grande quantidade de mão-de-obra
para o desenvolvimento das Manufaturas. Nesta, o artesão já perde a propriedade do meio de produção e tor-
na-se um assalariado. Há também uma pequena especialização do trabalho.
Os aperfeiçoamentos causados pelo desenvolvimento do comércio, a presença de novos clientes ul-
tramarinos, de novos gastos e novos concorrentes incrementam a necessidade de se reduzir os preços de cus-
to e abre a possibilidade de realizar grandes margens de lucros.
O comércio com o oriente traz o contato com os tecidos de algodão, que logo supera a lã, pois possui
grande abundância e não conta com a legislação protecionista. Assim, apesar da mais tradicional indústria têx-
til inglesa estar ligada à lã, será a do algodão a primeira a mecanizar-se. Mas, o alastramento da mecanização
dentro da fabricação de produtos de algodão, decorreu dos sucessivos desequilíbrios que se manifestavam no
momento em que uma etapa se mecanizava.
E a mecanização, assim difundida, atinge mais tarde o setor da indústria pesada (Metalúrgico), origi-
nando centros metalúrgicos e promovendo o Ferro e o Carvão como produtos básicos da primeira industriali-
zação.
A inovação técnica implicava no aumento da produção e esta, por sua vez, trazia maiores quantida-
des de capitais, que eram aplicados em outras inovações à medida que ocorriam desequilíbrios nas fases pro-
dutivas, criando um processo cíclico. O exemplo já é clássico.
Em 1733 John Kay apresenta a Lançadeira volante, aumentando a capacidade de tecer e, conseqüen-
temente, se principia a falta de fios. Em 1764, James Heargreaves introduz a “Spinning Jenny”, que aumenta a
produção de fios, porém quebradiços; em 1769 Richard Arkright inventa a fiadora hidráulica “Water Frame”,
mas que produz fios grossos; em 1779, Samuel Crompton com sua “Mule” combina a Spinning Jenny e a Wa-
ter Frame, produzindo fios finos e resistentes, começando a sobrar fios, até que com E. Cartwright em 1785 a-
parece o tear mecânico (hidráulico), que precisa de metais mais resistentes para ser construído, desenvolven-
do a metalurgia e necessita de maior quantidade de matéria-prima, implicando no aparecimento do desenca-
roçador mecânico. Por sua vez, a metalurgia requisita melhores técnicas para a extração do carvão etc...
Grandes são as transformações operadas pela Maquinofatura: agora o trabalho passa a ser realizado
com grandes concentrações de mão-de-obra, efetivando-se a separação do Trabalho do Capital e com ela, uma
nova luta de classes (Proletariado X Burguesia). O controle dos fatores de produção (capital, matéria-prima,
instalações) permite dispor da Mão-de-obra abundante, o que rebaixa o salário e provoca as primeiras rebeli-
ões contra as novas máquinas, que provocaram o desemprego, o excesso de produção com paralisações perió-
dicas, a criação do exército de reserva que promove a concorrência entre os próprios trabalhadores e até me-
mo de suas mulheres e filhos, em virtude da inexistência de uma legislação.
O rápido crescimento da urbanização e proletarização torna difícil a moradia nos centros industriais,
lançando o trabalhador na promiscuidade e submetendo-o a jornadas exaustivas de trabalho. A resposta do o-
perariado se concretizou através da organização Trade-Unions (sindicatos) e, posteriormente, através do mo-
vimento Cartista.
38
Opera-se também uma transformação nos transportes e nas comunicações, com os “caminhos de Fer-
ro”, a navegação à vapor, alterando profundamente a noção de distância, espaço, e a própria concepção de
tempo. A demora dos demais países na industrialização deve-se, em especial, a problemas econômicos e po-
líticos, mas logo vemos a Bélgica, a França, a Alemanha etc. , a trilharem o mesmo caminho, o que já começa
a demonstrar a necessidade de novos mercados e ...
A corrida colonial produziu inúmeros atritos entre os países colonialistas, constituindo-se mesmo
num dos fatores básicos do equilíbrio europeu de poderes, que rompido em 1914, gerou a primeira guerra
mundial.
Por um lado, se a disponibilidade de capitais para a política colonialista do século XIX era fruto da
1ª Grande Depressão iniciada em 1870 e permitiu, por algum tempo ao centro do sistema capitalista uma “res-
piração” mais folgada, de outro lado, as aplicações feitas na sua “periferia” revertem agora para o seu centro,
agravando ainda mais as contradições inerentes ao sistema. “A busca desenfreada por mercados, que originou
o imperialismo, jogou nas nações industrializadas em choques que nem sempre a diplomacia pode evitar. Se a
briga pelo Egito e Sudão, entre a Inglaterra e a França, acabou por originar um pacto militar conjunto denomi-
nado Entente Cordiale (1904), o mesmo não ocorreu entre a França e Itália a respeito da Tunísia ou entre a
França e Alemanha a respeito do Marrocos e do Congo. Pois foi, sem dúvida o crescimento alemão que desi-
quilibrou o frágil concerto europeu (...). O adiantamento do conflito promovido pela diplomacia só serviu para
acirrar as contradições e acumular a raiva nacional contra o adversário.” (CHACON, P.P. e FRANCO JR, H.: Op.Cit.
p. 281).
Desta forma, encontramos na raíz do primeiro grande conflito mundial, o problema da redivisão in-
ternacional do trabalho. Destarte, o conflito Franco-Germânico originara-se da Guerra Franco-Prussiana
(1870-71) que promoveu a Unificação Alemã e a passagem da Alsácia-Lorena para este último. O Revanchis-
mo Francês ainda se alimenta das crises Marroquinas, que culminam no Incidente de Agadir (1911) onde, pe-
la renúncia ao Marrocos, a Alemanha recebia uma parte do Congo Francês. Acirrando o conflito franco-ger-
mânico, também reforça a Entente Cordiale (1904) entre Inglaterra e França.
Derrotada no Oriente pelo Japão, a Rússia atira-se sobre a questão balcânica, ferindo os interesses do
Império Austro-Húngaro, que reforça seus vínculos com a Alemanha. Esta, buscando colocar-se no coração
do Império Turco-Otomano (Denominado O Enfermo do Levante) com a construção da Ferrovia Berllim-
Bagdá vê com grande simpatia o reforço da amizade Austro-Húngara. A união dos Impérios Centrais contra a
Rússia será um dos pólos básicos para o eclodir do conflito. A rivalidade Austro-Sérvia será o dedo que pres-
sionará o gatilho.
Desde 1870 a Europa vive um clima de insegurança. Um sistema de alianças e acordos começa a
configurar-se.Tal Política de Alianças tem sua origem com Bismarck: logo após a guerra Franco-Prussiana, o
único medo do “Chanceler de Ferro” era de uma revanche francesa. Para evitar essa possibilidade unem-se a
Alemanha, a Áustria-Hungria e posteriormente a Itália (esta última em razão da França ter anexado a Tunísia,
território considerado pelos italianos como seu), formando a Tríplice Aliança .
Por sua vez, outros países europeus também se mobilizaram em busca de alianças. A Crise de Fasho-
da entre a França e a Inglaterra (relacionada com o Sudão Egípcio) havia possibilitado a Entente Cordiale já
mencionada. Posteriormente a Rússia se aproxima da França, compondo-se a Tríplice Entente .
Logo, as tentativas de predomínio no plano de internacional vincula-se ao potencial bélico de cada
país, ou seja: a Paz Armada. O maior exemplo desta corrida armamentista se vincula ao conflito anglo-saxô-
nico, caracterizado pela sua política agressiva e a ameaça alemã à hegemonia britânica.
A máscara dos nacionalismos logo se sobrepõe à reais pretensões, compondo o plano ideológico do
conflito: o Revanchismo Francês, o Pan-Eslavismo (A Rússia deveria proteger os demais povos eslavos) o
Pan-Germanismo (união dos povos germânicos e a idéia de sua superioridade) e o Nacionalismo Sérvio, ma-
terializado na idéia da formação da “Grande Sérvia”.
Este último, recebeu um tremendo revés com uma intervenção na Bósnia e Herzegovina pelo Império
Austro-Húngaro, o que acabou precipitando aos acontecimentos. A 28 de Junho de 1914 ocorre o assassinato
do Arquiduque Francisco Ferdinando em Serajevo, capital da Bósnia. Iniciada as investigações apura-se a rea-
lização do assassinato pelo estudante da Bósnia Gravillo Príncipe, vinculado a uma entidade secreta sérvia,
partidária do Pan-Eslavismo e da formação da Grande Sérvia.
39
A Áustria procura explorar o incidente para eliminar a Sérvia como elemento de perturbação em sua
política balcânica. A Rússia, fiel a seus interesses, promete auxílio à Sérvia em caso de agressão. Um ultimato
austríaco com resposta não satisfatória acaba por tornar o “incidente de Serajevo” no fator imediato da eclo-
são do conflito.
A Áustria declara guerra a Sérvia e a Rússia se mobiliza; a Alemanha exige a retirada russa, não re-
cebendo resposta. Em seguida a Alemanha declara guerra à Rússia e logo após à França, a qual invade através
da Bélgica, o que joga a Inglaterra no conflito. A Itália, pretextando que seu acordo com os Impérios Centrais
só exigia sua entrada em caso deles aterem sofrido agressão, permanece inicialmente neutra; entrará em 1915
a favor da Entente atraída por promessas de partição na partilha das colônias alemãs, vantagens territoriais na
Ásia e o controle do Adriático.
Evolução do Conflito
Outras potências que acabaram se envolvendo foram: a favor da Entente, o Japão (1914), a Romênia
(1916), os EUA (1917) e grande parte dos países latino-americanos; ao lado dos Impérios Centrais a Turquia
(1914) e a Bulgária (1915).
Rápidas investidas caracterizam as frentes de batalha em 1914: baseados no Plano Schiliefen a Ale-
manha pretendia bater primeiramente a França e depois voltar-se a Rússia. Em setembro, tudo parecia perdi-
do para os franceses; pois a luta chegara às vizinhanças de Paria. Entretanto, graças ao General Joffre, os ale-
mães são forçados a recuar até o Marne (1ª batalha do Marne), onde foi batidos em Tennenberg e Mazurinos
(ambas em Setembro). Na Ásia frente o Japão e na África frente às forças franco-britânicas, a Alemanha per-
de as suas possessões.
A Guerra de Trincheiras (1915-1916) é o mais característico momento da primeira grande guerra.
No mar, desenvolve-se a guerra submarina e, na superfície, o desembarque franco-britânico em Galipoli
(Dardanelos) e 1915 é frustrado; a Batalha de Jutlândia (91916) é o mais importante encontro das esquadras
britânicas e germânica, tendo um resultado indefinido. Em terra, uma gigantesca ofensiva germânica fo front
oriental ameaça desagregar os exércitos russos.
O ano crítico, porém, é 1917, onde se intensifica a guerra submarina alemã, ocorre a entrada dos Es-
tados Unidos e a Retirada da Rússia no conflito. A adesão americana à Entente, justificada pelo afundamento
de navios americanos “neutros”, mas entende-se pela proteção dos créditos que até então haviam sido dados à
França e Inglaterra. Sua participação é decisiva considerando-se o grande envio de capitais, tropas e material
bélico que quebra o já precário equilíbrio das forças em combate.
Quanto à Rússia, tendo deposto sua monarquia em Março deste ano, em Novembro sobre a Revolu-
ção Bolchevique, cuja primeira atitude é a assinatura de acordos com os Impérios Centrais retirando a Rússia
da guerra (Paz de Brest-Litovsk, março de 1918).
Em 1918, uma última grande ofensiva alemã, comandada por Ludendorf é contida na Segunda Bata-
lha do Marne pelo general Foch. Esta etapa final da guerra contou com a sofisticação dos armamentos, tais
como: os tanques, a aviação, gases venenosos etc. A partir da vitória de Foch, a Entente iniciou uma podero-
as contra-ofensiva, obrigando os alemães ao recuo. A Bulgária e a Turquia depuseram armas, ameaçadas pelo
avanço britânico. O Império Austro-Húngaro se desarticula frente aos movimentos nacionais. A Itália, ainda
não muito bem recuperada de seu desastre na batalha de Caporetto, tenta uma nova ofensiva em Vittorio-Ve-
neto, auxiliada pelos aliados contra a já decomposto Império Austro-Húngaro. A Alemanha estava só. Uma
revolução socialista republicana irrompe, provocando a fuga do Kaise Guillherme II. Em 11 de novembro de
1918, os representantes do Governo provisório alemão assinam a rendição em Pethondes. A Guerra chegara a
seu termo.
Os Tratados
Em 1919, assinava-se o Tratado se St. Germain com a Áustria, ficando esta reduzida à sua população
de língua alemã. Também deveria reconhecer a independência da Hungria, Tchecoslováquia e Iugoslávia ce-
dendo também Trieste e Trento (Itália Irridenta) para a Itália.
No mesmo ano é assinado com a Bulgária o tratado de Neully, onde esta potência perdia grande parte
dos territórios para a Grécia, Iugoslávia e Romênia.
Com a Hungria assinou-se o Tratado de Trianon (1920) e com a Turquia o de Sèvres (1920), mas
com o movimento dos Jovens Turcos (1922) liderado por Mustafá Kemal Ataturk, repele-se Sèvres e um novo
tratado, o de Lausanne, bem menos severo que o primeiro, é assinado com a Turquia.
40
Costuma-se afirmar que ao término da primeira grande guerra, tem início a segunda. Esta frase é per-
feitamente compreensível ao se analisar a paz acertada com a Alemanha. A 19 de janeiro de !919, reúnem-se
em Paris diversos representantes de nações vitoriosas ou neutras para debater os problemas das nações derro-
tadas. Na realidade, apenas três países discutem os pontos essenciais: a França, representada por Clemanceau,
a Inglaterra com Lloyd George e os Estados Unidos com seu presidente Wilson que, um ano antes já arquite-
tara os famosos “14 Pontos” que serviriam de base para as negociações. A 28 de junho, firmava-se, na mesma
sala onde havia sido fundado o Império Alemão, o Tratado de Versalhes.
O acordo previa o desarmamento alemão com a desmilitarização da margem esquerda do Reno, a a-
bolição do serviço militar obrigatório, a extinção de sua força aérea, força submarina, artilharia pesada e limi-
tação de forças navais de superfície como a manutenção de um insignificante contingente militar terrestre.
Perderiam vários territórios, destacando-se a devolução da Alsácia-Lorena à França e a formação do
“Corredor Polonês” , o que partiria em dois a Prússia. A Alemanha, considerada culpada pela guerra, tam-
bém deveria pagar as reparações aos países vencedores, o que em 1921 foi fixado em 400 bilhões de marcos,
além do fornecimento de certa tonelagem de carvão à França, Itália e Bélgica. Também ficava proibida qual-
quer tentativa de unificação com a Áustria (“Anschluss”).
Assim, o Ditado de Versalhes, como o designaram os alemães, lançavam-se as bases para o segundo
conflito mundial. A Tríplice Aliança via desintegrar-se dois potentosos impérios: o Austro-Húngaro e o Tur-
co-Otomano.
Do lado dos vencedores, grandes transformações ocorrem paralelamente; o fim do conflito marcava
também o fim da hegemonia Européia no mundo, agora sediada no maior credor mundial, os Estados Unidos
da América do Norte. Wilson, porém, sofrera derrotas nos acordos de paz e, de seus 14 Pontos, na realidade,
apenas o da restauração da Bélgica, o da devolução de Alsácia-Lorena e o que propunha a formação da Liga
das Nações foram paralelamente aceitos, razão pela qual os EUA passam a adotar um “isolacionismo” no pla-
no político com as demais nações Européias. Assinaram com a Alemanha uma paz em separado (1921); não
participaram da Liga das Nações e passam a voltar-se exclusivamente para seus problemas internos. A Guerra
havia terminado. Terminado ?
41
facilidade de crédito, etc., muito contribuem para este “sonho” que esconde a realidade de um “pesadelo” e-
conômico.
No setor agrícola, mecanizado pelas necessidades do tempo de guerra, a continuidade do ritmo da
produção acaba por promover uma superprodução. A mecanização gerara desemprego e a produção agora
passava a ser estocada, provocando uma baixa geral nos preços. Esta crise agrícola acelera a crise industrial:
voltando da guerra, muitos soldados desmobilizados não encontram emprego nesta nova indústria nacionali-
zada, aumentando ainda mais o exército-de-reserva que, por sua vez incide sobre os salários baixando-os e,
com eles, também baixando o consumo. O mercado interno e externo em retração impossibilitava o escoa-
mento da produção que assim é maior que o consumo.
O “sonho”, no entanto, só acabará com a crise do setor financeiro: a gigantesca especulação na Bol-
as de Nova York gerou altas taxas de juros artificiais, pois não correspondiam ao crescimento real da econo-
mia. O pesadelo começa com a célebre Quinta-Feira Negra (24 de outubro de 1929), data da ‘quebra’ da
bolsa de Nova York; além da falência de diversas “firmas-fantasmas”, indústrias de peso como a G.M., a Ford
e a Chryler vêem cair a índices baixíssimo suas ações. Os grandes agenciadores da especulação também tor-
nam-se vítimas: em três anos falem cerca de 4000 bancos. O desemprego chaga a 16 milhões de norte-ameri-
canos. O repatriamento dos capitais e dos fundos americanos, assim como a redução de suas importações ir-
radiam a crise para a Europa para o capitalismo periférico. Diversos países que estavam baseando sua recons-
trução nos capitais americanos vêem ruir seus esforços. Um dos exemplos mais típicos é a Alemanha , onde o
desemprego chegou a atingir 7 milhões de pessoas e a produção industrial caiu em 39%.
Em 1932, a eleição de Franklin Delano Roosevelt acabava com uma época de governos “republica-
nos” e inaugurava uma nova fase do capitalismo e do Partido Democrata americano. Sua política econômica,
conhecida como New Deal (Nova Distribuição) partia do princípio de que se deveria incentivar o consumo e
estabelecer seu equilíbrio com a produção, o que só poderia acontecer através do abandono da Economia Li-
beral. Esta foi substituída Intervencionismo Estatal, pelo Dirigismo Econômico, tendências que foram sinte-
tizadas por Keynes (“Teoria Geral do Emprego, do Juro e do Dinheiro” - 1936).
Devemos considerar que nem todos os países violentamente atingidos pela crise, dispunham de capi-
tais para incrementar o consumo. O protecionismo alfandegário e o incentivo à indústria bélica foram algumas
soluções encontradas por estes outros países. Sempre dentro da idéia do intervencionismo, assistimos assim,
ao surgimento dos regimes totalitários em especial em países de tradição liberal. As democracias liberais so-
frem um violento abalo e, apesar de persistirem em alguns países, já será sem a idéia do “Estado não interven-
tor”. A Crise de 1929, portanto, consiste num dos mais importantes fatores para a eclosão da IIª Guerra Mun-
dial: uma nova reorganização internacional do capitalismo.
fim
42