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1.

CARGA ELETRICA E CAMPO ELETRICO


1.1. Electroestática – Carga elétrica
A história da eletricidade inicia-se no século VI a.C com uma descoberta feita pelo matemático e
filósofo grego Tales de Mileto (640-546 a.C.). Ele observou que o atrito entre uma resina fóssil (o
âmbar) e um tecido ou pele de animal produzia na resina a propriedade de atrair pequenos
pedaços de palha e pequenas penas de aves. Como em grego a palavra usada para designar
âmbar é élektron, dela vieram às palavras elétron e eletricidade.
Por mais de vinte séculos, nada foi acrescentado à descoberta de Tales de Mileto. No final do
século XVI, William Gilbert (1540-1603), repetiu a experiência com o âmbar e descobriu que é
possível realizá-la com outros materiais.
Por volta de 1729, o inglês Stephen Gray (1666-1736) descobriu que a propriedade de atrair ou
repelir podia ser transferido de um corpo para outro mediante contato. Até então, acreditava-se
que somente por meio de atrito conseguia-se tal propriedade. Nessa época, Charles François Du
Fay (1698-1739) realizou um experimento em que atraía uma fina folha de ouro com um bastão
de vidro atritado. Porém, ao encostar o bastão na folha, esta era repelida. Du Fay sugeriu a
existência de duas espécies de “eletricidade”, que denominou eletricidade vítrea e eletricidade
resinosa.
Em 1747, o político e cientista norte-americano Benjamin Franklin (1706 -1790), inventor do
para-raios, propôs uma teoria que considerava a carga eléctrica um único fluido elétrico que
podia ser transferido de um corpo para outro: o corpo que perdia esse fluido ficava com falta de
carga eléctrica (negativo), e o que recebia com excesso de carga eléctrica (positivo).
Hoje sabemos que os elétrons é que são transferidos.
Um corpo com “excesso” de elétrons está eletrizado negativamente e um corpo com “falta” de
elétrons encontra- se eletrizado positivamente.

1.1.1. Noção de carga eléctrica


Como sabemos no núcleo de um átomo encontramos
partículas denominadas prótons e nêutrons. Ao redor
do núcleo, na região chamada eletrosfera, movem-se
outras partículas, denominadas elétrons.
As massas de um próton e de um nêutron são
praticamente iguais. A massa de um elétron, porém, é
𝑝𝑚
muito menor (𝑚𝑒 ≅ 1836).

Física III – LEC2M, LEE2M e LEE2N


Se um protón, um nêutron e um elétron passarem
entre os polos de um ímã em forma de U, como sugere a
figura a seguir, constatarão que o próton desviará para
cima, o elétron desviará para baixo e o nêutron não
sofrerá desvio.
Esse resultado experimental revela que os prótons e os
elétrons têm alguma propriedade que os nêutrons não
têm. Essa propriedade foi denominada carga eléctrica, e
convencionou-se considerar positiva a carga eléctrica
do próton e negativa a carga eléctrica do elétron. Entretanto, em valor absoluto, as cargas
eléctricas do próton e do elétron são iguais. Esse valor absoluto é denominado carga eléctrica
elementar e simbolizado por e. Recebe o nome de elementar porque é a menor quantidade de
carga que podemos encontrar isolada na natureza.
A unidade de medida de carga eléctrica no SI é o coulomb (C), em homenagem ao físico francês
Charles Augustin de Coulomb (1736-1806).
Comparada com a unidade coulomb, a carga elementar é extremamente pequena. De fato, o
valor de e, determinado experimentalmente pela primeira vez pelo físico norte-americano Robert
Andrews Millikan (1868-1953) é:
𝒆 = 1,6 × 10−19 𝐶
É preciso salientar ainda que 1,0 coulomb, apesar de corresponder a apenas uma unidade de
carga eléctrica, representa uma quantidade muito grande dessa grandeza física. Por isso,
costumam-se usar submúltiplos do coulomb. Veja no quadro a seguir os principais
submúltiplos.
Submúltiplo Símbolo Valor
Milicoulomb 𝑚𝐶 10−3 𝐶
microcoulomb 𝜇𝐶 10−6 𝐶
Nanocoulomb 𝑛𝐶 10−9 𝐶
Picocoulomb 𝑝𝐶 10−12 𝐶

1.2. Corpo eletricamente neutro e corpo eletrizado


Um corpo apresenta-se eletricamente neutro quando a quantidade de prótons e elétrons é igual,
ou seja, a soma algébrica de todas as cargas é igual à zero. Quando, porém, o número de
prótons é diferente do número de elétrons, dizemos que o corpo está eletrizado positivamente se
o número de prótons for maior que o de elétrons, e negativamente se o número de elétrons for
maior que o de prótons. É o caso, por exemplo, de um íon, isto é, um átomo que perdeu ou
ganhou elétrons.

Física III – LEC2M, LEE2M e LEE2N


Podemos dizer, então, que eletrizar um corpo significa tornar diferentes suas quantidades de
prótons e elétrons. No cotidiano, isso é feito por fornecimento ou extração de elétrons, uma vez
que alterações no núcleo só podem ser produzidas em equipamentos altamente sofisticados: os
aceleradores de partículas.
1.2.1. Quantização da carga eléctrica
A carga eléctrica de um corpo é quantizada, isto é, ela sempre é um múltiplo inteiro da carga
eléctrica elementar.
Isso é verdade porque um corpo, ao ser eletrizado, recebe ou perde um número inteiro de
elétrons. Assim, um corpo pode ter, por exemplo, uma carga igual a 9,6 × 10−19 𝐶, pois
corresponde a um número inteiro (6) de cargas elementares (observe que 6 × 1,6 × 10−19 𝐶 = 9,6 ×
10−19 𝐶). Entretanto, sua carga não pode ser, por exemplo, igual a 7,1 × 10−19 𝐶, pois esse valor
não é um múltiplo inteiro da carga elementar.
Representando por Q a carga eléctrica de um corpo eletrizado qualquer, temos:
𝑄 = ±𝑛𝑒 (𝑛 = 1, 2, 3, … )
1.3. Princípios da eletrostática
A Eletrostática baseia-se em dois princípios fundamentais: o princípio da atração e da repulsão e
o princípio da conservação das cargas eléctricas.
Pode-se enunciar o Princípio da atração e da repulsão da seguinte forma: Partículas eletrizadas
com cargas de sinais iguais se repelem, enquanto as eletrizadas com cargas de sinais opostos se
atraem.
1.3.1. Princípio da conservação das cargas eléctricas
Inicialmente, devemos observar que a propriedade carga eléctrica existente nas partículas
elementares é inerente a estas (como a massa, por exemplo), não podendo ser retirada delas ou
nelas colocada. Assim, não havendo alteração da quantidade e do tipo das partículas dotadas de
carga eléctrica, a carga total de um sistema permanece constante.
Fundamentados na noção de que: Sistema eletricamente isolado é aquele que não troca cargas
eléctricas com o meio exterior.
A soma algébrica das cargas eléctricas existentes em um sistema eletricamente isolado é
constante. Princípio da conservação das cargas eléctricas:
Portanto, se em um sistema eletricamente isolado houver n corpos com pelo menos um deles
eletrizado, poderão ocorrer trocas de cargas eléctricas entre eles, mas a soma algébrica dessas
cargas será a mesma antes, durante e depois das trocas.
1.3.2. Processos de eletrização
Como vimos, um corpo estará eletrizado quando possuir mais elétrons do que prótons ou mais
prótons do que elétrons. Um corpo neutro, por sua vez, tem igual número de prótons e de
elétrons. Denomina-se eletrização o fenômeno pelo qual um corpo neutro passa a eletrizado
devido à alteração no número de seus elétrons.
Os processos mais comuns de eletrização são descritos a seguir.

Física III – LEC2M, LEE2M e LEE2N


1.3.2.1. Eletrização por atrito de materiais diferentes
Experimentalmente, comprova-se que, ao atritar entre si
dois corpos neutros de materiais diferentes, um deles
recebe elétrons do outro, ficando eletrizado com carga
negativa, enquanto o outro – que perdeu elétrons –
adquire carga positiva.
Ao se atritar, por exemplo, seda com um bastão de vidro,
constata-se que o vidro passa a apresentar carga
positiva, enquanto a seda passa a ter carga negativa.
Entretanto, quando a seda é atritada com um bastão de
ebonite, ela torna-se positiva, ficando a ebonite com
carga negativa. Os corpos atritados adquirem cargas de
mesmo módulo e sinais opostos

1.3.2.2. Eletrização por contato


Quando dois ou mais corpos condutores são colocados em contato, estando pelo menos um
deles eletrizado, observa-se uma redistribuição de carga eléctrica pelas suas superfícies
externas.
Considere, por exemplo, dois condutores A e B, estando A eletrizado negativamente e B neutro.
É importante observar que, ao se fazer contato entre esses dois condutores, obtém-se um novo
condutor de superfície externa praticamente igual à soma das superfícies individuais.
Assim, a carga eléctrica de A redistribui-se sobre a superfície total.
É importante também notar que o corpo neutro adquire
carga de mesmo sinal da carga do corpo inicialmente
eletrizado e que a soma algébrica das cargas eléctricas
deve ser a mesma antes, durante e depois do contato.
A quantidade de carga eléctrica existente em cada um dos
condutores no final do processo depende da forma e das
dimensões deles.
Considere o caso particular de esferas condutoras de
mesmo raio. Nessas esferas, a redistribuição é feita de tal forma que temos, no final, cargas
iguais em cada uma delas.
No caso de haver contato simultâneo entre três esferas condutoras de mesmo raio, cada uma
ficará, no final, com um terço da carga total do sistema. Assim, para o contato simultâneo de n
esferas de mesmo raio e admitindo que a carga total do sistema seja igual a Q, tem-se, no final, a
𝑸
carga em cada condutor.
𝒏

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1.3.2.3. Eletrização por indução eletrostática.
Quando aproximamos (sem tocar) um condutor eletrizado de um neutro, provocamos no
condutor neutro uma redistribuição de seus elétrons livres. Esse fenômeno, denominado
indução eletrostática, ocorre porque as cargas existentes no condutor eletrizado podem atrair ou
repelir os elétrons livres do condutor neutro. O condutor eletrizado é chamado de indutor, e o
condutor neutro, de induzido.
1.4. Lei de coulomb.
Usando um modelo newtoniano, o francês Charles-Augustin
de Coulomb estabeleceu que a interação eletrostática entre
essas partículas manifestava-se por meio de forças de
atração e repulsão, dependendo dos sinais das cargas.
O enunciado da Lei de Coulomb pode ser apresentado da
seguinte forma:
As forças de interação entre duas partículas eletrizadas
possuem intensidades iguais e são sempre dirigidas
segundo o segmento de reta que as une. Suas intensidades
são diretamente proporcionais ao módulo do produto das cargas e inversamente proporcionais
ao quadrado da distância entre as partículas.
Considere duas partículas eletrizadas com cargas Q e q, a uma distância d uma da outra. De
acordo com a Lei de Coulomb, a intensidade da força de interação eletrostática (atração ou
repulsão) entre as cargas é calculada por:
𝑄∙𝑞
𝐹=𝑘
𝑑2
em que K é uma constante de proporcionalidade.
1
𝑘=
4𝜋𝜖
Sendo 𝜖 a permissividade absoluta do meio onde as cargas estão.
Como em nosso estudo geralmente o meio considerado é o vácuo, nesse dielétrico temos, no SI:
𝐶2
𝜖0 = 8,85 × 10−12
𝑁𝑚2
Assim:
1 9
𝑁𝑚2
𝑘0 = ⇒ 𝑘0 ≅ 9,0 × 10
4𝜋𝜖0 𝐶2
1.4.1. Superposição de Forças
A lei de Coulomb como nós a apresentamos descreve apenas a interação entre duas cargas
puntiformes. Quando duas cargas exercem forças sobre uma terceira carga, a experiência
mostra que a força total exercida sobre essa carga é dada pela soma vetorial das forças que as
duas cargas exercem individualmente. Essa importante propriedade, denominada princípio da
superposição das forças, pode ser aplicada a um número qualquer de cargas. Usando esse
princípio, podemos aplicar a lei de Coulomb para qualquer conjunto de cargas.
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EXERCÍCIOS PROPOSTOS

1. Uma pequena esfera de chumbo de massa igual a 8,00 g possui excesso de elétron com uma
carga líquida igual a -3,20×10-9 C. (a) Calcule o número de elétrons em excesso sobre a esfera.
(b) Quantos elétrons em excesso existem por átomo de chumbo? O número atômico do
chumbo é igual a 82 e sua massa atômica é 207 g/mol.
2. Uma esfera condutora eletrizada com carga Q = 6,00 µC é colocada em contato com outra,
idêntica, eletrizada com carga q = –2,00 µC. Admitindo-se que haja troca de cargas apenas
entre essas duas esferas, determine o número de elétrons que passa de uma esfera para a
outra até atingir o equilíbrio eletrostático.
3. Três pequenas esferas A, B e C com cargas elétricas respetivamente iguais a 2Q, Q e Q estão
alinhadas como mostra a figura. A esfera A exerce
sobre B uma força elétrica de intensidade 2,0∙10-6 N.
Qual a intensidade da força elétrica resultante que A
e C exercem sobre B?
4. Inicialmente, a força elétrica atuando entre dois corpos, A e B, separados por uma distância d,
é repulsiva e vale F. Se retirarmos metade da carga do corpo A, qual deve ser a nova
separação entre os corpos para que a força entre eles permaneça igual a F?
5. Duas esferas metálicas idênticas, separadas pela distância d, estão eletrizadas com cargas
elétricas Q e −5Q. Essas esferas são colocadas em contato e em seguida são separadas de
uma distância 2d. A força de interação eletrostática entre as esferas, antes do contato, tem
𝐹1
módulo 𝐹1 e, após o contato, tem módulo 𝐹2 . Determine a relação 𝐹2
.

6. Duas pequenas esferas estão separados por 0.60 m e têm a carga total de 200 µC. (a) Qual a
carga em cada uma delas, se a força de repulsão entre elas é de 80 N?
7. Quatro cargas idênticas Q são colocadas nos vértices de um quadrado de lado igual a L. (a)
Faça um diagrama do corpo livre mostrando todas as forças que atuam sobre uma das cargas.
(b) Determine o módulo, a direção e o sentido da força resultante exercida pelas outras três
cargas sobre a carga considerada.
8. Duas cargas elétricas puntiformes 𝑄1 𝑒 𝑄2 = 4𝑄1 estão fixas nos pontos A e B, distantes 30 cm
em que posição deve ser colocada uma carga 𝑄3 = 2𝑄1 para ficar em equilíbrio sobre a acção
de forças eléctricas.
9. Duas partículas de mesma carga são colocadas a 3,2 × 10−3 𝑚 de distância uma da outra e
liberadas a partir do repouso. A aceleração inicial da primeira é 7,0 𝑚𝑠 −2 e a da segunda é
9,0 𝑚𝑠 −2 se a massa da primeira partícula é 6,3 × 10−7 𝑘𝑔. Determine:
a) A massa da segunda esfera
b) O módulo da carga de cada esfera.

Física III – LEC2M, LEE2M e LEE2N


10. Três partículas são mantidas sobre o eixo x a partícula 1 de carga 𝑄1 está em 𝑥 = −𝑎 e a
partícula 2 de carga 𝑄2 , está em 𝑥 = 𝑎 determine a razão 𝑄1 ⁄𝑄2 para que a força eletrostática a
que está submetida a partícula 3 seja nula, se a partícula 3 estiver no ponto 𝑥 = +0,500𝑎.
11. A que distância deve ser colocado dois protões para que o módulo da força eletrostática que
um exerce sobre o outro seja igual à força gravitacional a que um dos protões esta
submetida à superfície terrestre.
12. Uma pequena esfera isolante de massa igual a 5×10-2 kg e carregada
com uma carga positiva de 5×10-7 C está presa ao teto por um fio de
seda. Uma segunda esfera com carga negativa de –5×10-7 C, movendo-
se na direção vertical, é aproximada da primeira. (a) Calcule a força
eletrostática entre as duas esferas quando a distância entre os seus
centros é de 0,5 m. (b) Para uma distância de 5×10-2 m entre os
centros, o fio de seda se rompe. Determine a tração máxima
suportada pelo fio.
13. Duas cargas puntiformes 𝑄1 = 2 𝜇𝐶 𝑒 𝑄2 = −6 𝜇𝐶 estão fixas separadas por uma distância de
600 mm no vácuo. Uma terceira 𝑄3 = 3 𝜇𝐶 e colocada no ponto médio do segmento que une
as cargas. Qual é o módulo da força eletrostática que atua sobre a carga 𝑄3 .
14. Três cargas puntiformes estão sobre o eixo dos x, 𝑄1 = −6,0 𝜇𝐶 em 𝑥 = −3,0 𝑚, 𝑄2 = 4,0 𝜇𝐶 na
origem e 𝑄3 = −6,0 𝜇𝐶 em 𝑥 = 3,0 𝑚 Calcular a resultante das forças sobre a carga 𝑄1 .
15. Duas cargas iguais, de 3,0 𝜇𝐶 estão sobre o eixo dos 𝑦, uma delas na origem e outra em 𝑦 =
6 𝑚. Uma terceira carga 𝑄3 = 2 𝜇𝐶 esta no eixo 𝑥, 𝑒𝑚 𝑥 = 8. Calcular a resultante das forças
sobre 𝑄3 .

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