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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS
CURSO DE LICENCIATURA EM QUÍMICA
QUÍMICA INORGÂNICA EXPERIMENTAL

JOÃO FRANCISCO SOUSA SALGUEIRA - Matrícula: 416718


LETICIA DOS SANTOS MARTINS - Matrícula: 416774

PREPARAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE COMPLEXOS DE COBRE (II)

Fortaleza, Ceará
2021
1. INTRODUÇÃO

1.1 COMPLEXOS

Os compostos de coordenação, também conhecidos como complexos, apresentam


atualmente grande destaque nos ramos de estudo da química medicinal, no desenvolvimento
de catalisadores, de supramoléculas, entre outros. Estes são definidos como compostos
contendo um átomo central ou íon central, que na maioria das vezes é um metal de transição,
ligado a moléculas neutras ou íons de natureza orgânica ou inorgânica, chamados de ligantes
[1].

O complexo provém de uma ligação covalente coordenada, que historicamente


considerava-se que era formada por doação de um par de elétrons de um átomo para outro.
Em compostos de coordenação, geralmente, os doadores são os ligantes, e os aceptores são os
metais [2].

Conhecido como o pai da Química de Coordenação, Werner foi quem começou


formalmente os estudos dos complexos. Na Teoria de Coordenação de Werner, o átomo
central apresentaria dois tipos de valência, a primária e a secundária. O valor da carga do íon
complexo corresponderia à valência primária, atualmente conhecida como estado de oxidação
e, a valência secundária estaria relacionada ao número de átomos ligantes coordenados ao
metal, hoje conhecida como número de coordenação [1].

Na visão espacial introduzida por Werner, o íon metálico ocupa a região central, e
passa a coordenar a entrada das moléculas denominadas ligantes, ao seu redor (Figura 1). O
íon metálico, ao exercer atração sobre os ligantes, os mantêm firmemente presos ao seu redor.
Essa atração, que também pode ser chamada de afinidade, foi pensada como uma forma de
valência espacial que dirige a entrada e acomodação dos ligantes no composto [3].

Figura 1: Modelo de Werner

Fonte: TOMA, 2014

O número de ligantes que podem formar ligações coordenadas com o íon central é
denominado número de coordenação do composto , sendo determinado pela configuração
eletrônica da espécie central, seu tamanho e outros fatores.
Um ligante que possui um único grupo doador de elétrons é chamado monodentado,
enquanto aquele, que possui dois grupos disponíveis para ligações covalentes, é dito
bidentado. Ligantes com três ou mais grupos disponíveis para ligações covalentes são
chamados de polidentados.

Um quelato é produzido quando um íon metálico coordena-se com dois ou mais


grupos doadores de um único ligante para formar um anel heterocíclico de cinco ou seis
membros. Os grupos ligantes quelatos formam em geral complexos mais estáveis que seus
análogos monodentados. Este resultado é conhecido com o nome de efeito quelato e se
explica pelas favoráveis condições entrópicas que acompanham o processo de quelação

1.2 TEORIA DO CAMPO CRISTALINO (TCC)

A teoria do Campo Cristalino (TCC) foi desenvolvida para descrever as


propriedades de íons metálicos d em cristais iônicos. De acordo com essa teoria, um par
solitário ligante é modelado como um ponto de carga negativa que repele elétrons nos orbitais
d do íon central. Essa abordagem resulta no desdobramento de orbitais d em grupos de
energias diferentes, parâmetro esse definido como desdobramento do campo cristalino, ou
simplesmente 10 Dq (Δ0). A teoria do Campo Cristalino baseia-se em um modelo
eletrostático, ou seja, não leva em consideração as interações covalentes entre o ligante e íon
central.

1.3 TEORIA DO CAMPO LIGANTE (TCL)

Essa teoria parte da terminologia da Teoria do Campo Cristalino, mas leva em


consideração as ligações em termos de interação de orbitais de fronteira entre o metal e o
ligante para formar orbitais moleculares. A análise qualitativa na separação dos orbitais
associados com a espécie metálica é a mesma da TCC, mas a TCL nos fornece um
entendimento mais aprofundado na origem da separação da energia.

1.4 CARACTERIZAÇÃO DE COMPLEXO

O parâmetro 10 Dq é determinado experimentalmente através do espectro de


absorção do composto, que nos mostra a quantidade de radiação eletromagnética que é
absorvida por uma amostra em função do comprimento de onda.

Geralmente, em muitos complexos de metais de transição, o valor de 10 Dq


corresponde à radiação na região do visível, o que justifica as cores variadas que a maioria
desses compostos apresenta. A determinação do valor de 10 Dq é feita através da técnica de
espectroscopia de ultravioleta/visível (UV- Vis) [4]. Para a radiação ultravioleta e visível, a
excitação envolve a promoção de elétrons presentes em um orbital molecular ou atômico de
baixa energia para um orbital de maior energia.

De acordo com a Lei de absorção de Beer-Lambert, a absorbância é diretamente


proporcional à concentração de uma espécie absorvente (c) e ao caminho óptico (b) do meio
absorvente:
A = log (P 0/P) = εbc

Em que: A = absorbância; ε = absortividade molar (L / mol.cm); b = caminho óptico (cm); c


= concentração de espécies absorventes (mol/L).

O espectro de infravermelho é utilizado para a obtenção de informações estruturais


de uma molécula. A radiação infravermelha geralmente não é suficientemente energética
para causar transições eletrônicas, porém pode induzir transições nos estados vibracionais e
rotacionais associados com o estado eletrônico fundamental da molécula.

Nem todas as ligações em uma molécula são capazes de absorver energia no


infravermelho, mesmo que a frequência da radiação seja exatamente igual à do movimento
vibracional. Apenas as ligações que têm um momento de dipolo que muda em função do
tempo são capazes de absorver radiação no infravermelho [5].

1.5 COBRE

O cobre é metal de transição de grande destaque, é um elemento essencial e seus


íons metálicos e complexos são considerados antitumorais, catalisadores e antimicrobianos
ativos. O cobre em seu estado de oxidação II é um íon metálico ideal para a síntese de
compostos de coordenação com ligantes N-doadores. Além disso, este é um ácido de Pearson
de dureza intermediária que apresenta excelente coordenação com ligantes que tenham em
sua estrutura átomos de nitrogênio e/ou oxigênio [1,6].

1.6 COMPLEXOS COM COBRE (II)

O ácido etilenodiaminotetracético – também chamado ácido (etilenodinitrilo)


tetracético –, comumente abreviado para EDTA (do inglês Ethilene Diamine Tetraacetic
Acid), é um ligante hexadentado (Figura 2)

Figura 2: estrutura do EDTA

Fonte: Os autore, 2021s

Por se tratar de um ligante polidentado, o EDTA forma quelatos com quase todos os
cátions, exceto os metais alcalinos [7]. Além disso, forma complexos muito estáveis devido a
seus 6 sítios ativos. A estrutura de um complexo metal/EDTA está representada na Figura 3,
onde o cobre se encontra na posição representada pela letra M. O complexo tem número de
coordenação 6 e geometria octaédrica.

Figura 3: Estrutura metal/EDTA


Fonte: Skoog, 2012

Complexos com EDTA possuem alta estabilidade devido seus sítios formarem uma
estrutura semelhante a uma gaiola, pela qual a espécie central é isolada das moléculas do
solvente.

O cobre em água forma o complexo hexaaquacobre (II) - [Cu(H2O)6]2+, com número


de coordenação 6 e geometria octaédrica (Figura 4).

Figura 4: [Cu(H2O)6]2+

Fonte: Os autores, 2021

Ao se adicionar etilenodiamina, que é um ligante bidentado, a uma solução contendo


[Cu(H2O)6]2+, parte das moléculas de água desse complexo são substituídas, ocorrendo a
formação de um quelato. O complexo diaquabisetilenodiaminocobre (II) [Cu(en)2(H2O)2]2+
(Figura 5) formado possui número de coordenação 6 e geometria octaédrica.

Figura 5: [Cu(en)2(H2O)2]2+

Fonte: Os autores, 2021


2. OBJETIVOS

2.1. Preparar e caracterizar os complexos [Cu(en)2(H2O)2]I2 e Mg[Cu(edta)].6H2O por


espectroscopias na região do infravermelho e no visível.

2.2. Calcular o desdobramento do campo ligante (Δo) para os complexos [Cu(en)2(H2O)2]I2 ,


[Cu(H2O)6]SO4 e Mg[Cu(edta)].6H2O.

2.3. Calcular o rendimento percentual dos complexos.

3. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

3.1 - Preparação do [Cu(en)2(H2O)2]I2

1. Pesou-se 0,95 g de acetato de cobre (II) em um béquer de 50 mL. O sal foi então dissolvido
completamente em 3 mL de água destilada e adicionou-se, a essa solução, 1 mL de
etilenodiamina, gota a gota.

2. Preparou-se uma solução contendo 2,1 g de iodeto de potássio (KI) em um béquer,


dissolvendo-o na menor quantidade possível de água (~ 3 mL).

3. Misturou-se a solução de iodeto de potássio com a solução de acetato de cobre e


etilenodiamina, e aqueceu-se a mistura em um banho de água a 60 °C durante 30 min. Após
esse tempo, o material não dissolvido foi filtrado sob vácuo a quente. Adicionou-se 5 mL de
etanol ao filtrado e resfriou-se a fase líquida em banho de gelo durante 20 min, promovendo a
cristalização.

4. Em seguida, filtrou-se a solução sob vácuo e lavou-se o precipitado com 2 mL de etanol


gelado.

5. Em seguida, filtrou-se sob vácuo e lavando-se com 2 mL de etanol gelado.

6. Os cristais foram recolhidos em um béquer previamente pesado e colocados em um


dessecador sob vácuo, durante uma semana.

7. Após esse período, pesou-se o béquer com o produto e obteve-se a massa do composto para
o cálculo do rendimento percentual.

3.2 - Preparação do Mg[Cu(edta)].6H2O

1. Em um béquer de 50 mL, pesou-se 0,73 g de H4EDTA, o qual foi dissolvido em 40 mL de


água destilada.
2. Adicionou-se 0,49 g de Cu(OH)2 e agitou-se a mistura à temperatura ambiente durante 2
min.
3. Colocou-se o béquer contendo a mistura em banho de água a 60 °C durante 10 min.
4. Em seguida, adicionou-se 0,71 g de MgCO3.3H2O lentamente e em pequenas porções, sob
agitação, e aqueceu-se em banho de água a 60 °C durante 30 min, a solução resultante foi
agitada em certos intervalos de tempo.
5. Evaporou-se, então o solvente presente na solução em um banho de areia à temperatura de
ebulição durante durante 60 min, porém sem levar à secura.
6. Após esfriar de 5 a 10 min, filtrou-se a mistura em funil de Buchner, usando papel de filtro,
sob vácuo para eliminar as impurezas insolúveis, e transferiu-se o filtrado para um béquer de
50 mL rotulado.
7. Evaporou-se novamente o filtrado em banho de areia até um volume de 5 mL. Deixou-se
em repouso por um ou dois dias.
8. Adicionou-se 15 mL de etanol e a mistura foi aquecida em banho de água a 80 °C até a
obtenção de cristais
9. Filtrou-se sob vácuo em funil de vidro sinterizado e lavou-se o sólido com 2 porções de 3
mL de etanol.
10. Transferiu-se o sólido para um béquer de 50 mL, previamente pesado, e colocou-se em
um dessecador sob vácuo por uma semana.
11. Após esse período, o béquer contendo o composto foi pesado e obteve-se a massa do
complexo para o cálculo do rendimento percentual.

3.3 - Caracterização dos complexos

1. Obteve-se os espectros de absorção no infravermelho (em KBr) dos dois complexos


obtidos e fez-se a atribuição das bandas de acordo com a literatura.
2. Obteve-se os espectros de absorção na região de 400 - 900 nm, de cada um dos complexos
[Cu(H2O)6]2+, [Cu(en)2(H2O)2]2+ e [Cu(edta)]2-, em solução aquosa. Usaram-se as seguintes
quantidades: 0,500 g de CuSO4.5H2O, 0,25 g de [Cu(en)2(H2O)2]I2 e 0,1743 g de
Mg[Cu(edta)].6H2O, cada um diluído em 50 mL de água.
3. Determinou-se o 𝛌máx e o ε para cada banda no espectro eletrônico e fez-se a atribuição das
mesmas de acordo com a literatura.
4. Calculou-se o valor de Δo para cada um dos complexos.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 - Preparação do complexo [Cu(en)2(H2O)2]I2

Foram utilizados os dados da tabela abaixo para determinar o rendimento do


complexo:

Tabela 1- Dados usados na síntese do complexo [Cu(en)2(H2O)2]I2


Composto Massa molar (g.mol-1)

Acetato de cobre (II) hidratado 199,65

Água 18,02

Etilenodiamina 60,02

Iodeto de potássio 166,00

Complexo [Cu(en)2(H2O)2]I2 473,39

Na dissolução do sal de acetato de cobre em água, obtém-se o íon cobre (II)


hexahidratado conforme a reação.

Cu(CH3COO)2(s) + 6H2O(l) → [Cu(H2O)6]2+(aq) + 2CH3COO-(aq)

Com a adição do ligante etilenodiamina, as moléculas deste substituem as seis


moléculas de água que se encontravam complexadas com o cobre, como mostrado a seguir:

[Cu(H2O)6]2+(aq) + 2C2H8N2(aq) → [Cu(C2H8N2)2(H2O)2]2+(aq) + 4H2O(l)

Isso ocorre devido a um efeito importante que é o efeito quelato, que diz respeito à
maior estabilidade de complexos formados com ligantes que possuam dois ou mais sítios de
coordenação disponíveis [8]. O etilenodiamina é um ligante bidentado e forma um complexo
mais estável quando comparado com a água, que é um ligante monodentado.
O iodeto de potássio age como agente precipitante do íon complexo formado
anteriormente, como mostra a reação:

[Cu(en)2(H2O)2]2+(aq) + 2KI(aq) → [Cu(en)2(H2O)2]I2(s) + 2K+(aq)

Portanto, a equação geral para obtenção do complexo [Cu(en)2(H2O)2]I2 é dada por:

Cu(CH3COO)2(s) + 2C2H8N2(aq) + 2KI(aq) + 2H2O(l) → [Cu(C2H8N2)2(H2O)2]I2(s) +


2KCH3CO2(aq)

Na prática, foram pesados 0,95 g de acetato de cobre (II) hidratado. E através da


equação geral, observa-se a proporção de 1 mol de acetato de cobre (II) para 1 mol do
complexo formado. Logo, o rendimento teórico foi calculado da seguinte forma:

➢ número de mols (n) = massa de acetato de cobre (II)


massa molar de acetato de cobre(II)

n = 0,95 g / 199,65 g.mol-1


n = 4,76 mmol de Cu(CH3COO)2

➢ 1 mol de [Cu(en)2(H2O)2]I2 - 473,39 g


4,76 mmol de [Cu(en)2(H2O)2]I2 - xg

x = 2,25 g de [Cu(en)2(H2O)2]I2

Portanto, para alcançar um rendimento de 100%, a massa obtida deveria ser 2,25 g.
Porém, a massa real obtida na síntese foi de 1,36 g. O rendimento percentual é, portanto:

Rendimento % = 1,36 g x 100%


2,25 g

Rendimento % = 60,4%

4.2 - Preparação do complexo Mg[Cu(EDTA)].6H2O

Utilizou-se os dados da tabela abaixo para o cálculo do rendimento do complexo


obtido:

Tabela 2- Dados usados na síntese do complexo Mg[Cu(EDTA)].6H2O.


Composto Massa molar (g.mol-1)

Hidróxido de cobre (II) 97,56

H4EDTA 292,24

MgCO3.3H2O 138,36

Mg[Cu(EDTA)].6H2O 484,09

A reação química que representa a obtenção do composto de coordenação está


descrita a seguir:

Cu(OH)2(aq) + H4EDTA(aq) + MgCO3.3H2O → Mg[Cu(EDTA)].6H2O(s) + CO2(g)

Pode-se observar que o número de mols de hidróxido de cobre (II) e o número de


mols do complexo formado estão numa proporção 1:1. Logo, a partir da massa pesada de
0,49 g de Cu(OH)2 é possível determinar a massa que deveria ser obtida se o rendimento
fosse de 100%. O cálculo é realizado da seguinte forma:

➢ número de mols (n) = massa de hidróxido de cobre (II)


massa molar de hidróxido de cobre(II)
n = 0,49 g / 97,56 g.mol-1

n = 5,02 mmol de Cu(OH)2

➢ 1 mol de Mg[Cu(EDTA)].6H2O - 484,09 g


5,02 mmol de Mg[Cu(EDTA)].6H2O - y

y = 2,43 g de Mg[Cu(EDTA)].6H2O

Considerando que a massa real obtida na prática foi 1,18g, calculou-se o rendimento
percentual:

Rendimento % = 1,18 g x 100%


2,43 g

Rendimento % = 48,6%

4.3 - Caracterização dos complexos

A análise dos espectros de absorção no infravermelho dos complexos obtidos


permitiu identificar as bandas vibracionais das principais ligações presentes, bem como
relacioná-las com as mudanças após a interação das moléculas dos ligantes com o cobre.

Figura 6 - Espectro de absorção no infravermelho do complexo [Cu(en)2(H2O)2]I2

O espectro no infravermelho representado na Figura 6 mostra as bandas do ligante


etilenodiamino coordenado ao complexo: absorções em 3000-3500 são atribuídas aos
estiramentos das ligações N-H, 2954 e 2869 aos estiramentos das ligações C-H, 1601 e 1582
a deformação das ligações N-H e 1040 ao estiramento da ligação C-N [9]. Comparando com
o espectro do ligante livre (Figura 7), ficam evidentes as mudanças com relação às bandas
vibracionais das ligações devido à presença do metal. Ocorreu uma diminuição no valor da
banda para C-N, que se apresentava em torno de 1300 cm-1. Além de uma redução na
intensidade das ligações N-H.

Figura 7 - Espectro de absorção no infravermelho do ligante etilenodiamina livre.

Fonte: scifinder.cas.org. Consultado em 19/08/2021.

No espectro infravermelho do complexo com EDTA (Figura 8) também ocorreram


alterações quando comparado às bandas obtidas para o ligante livre. Por exemplo, redução no
valor da frequência da vibração C = O do grupo carboxílico de 1725-1700 para 1600 cm-1.
Inclusive, essa banda forte em 1600 cm-1 é uma característica em quelatos com EDTA como
uma indicação do caráter covalente para a ligação metal-carboxilato [10]. A banda
correspondente à ligação O-H do ácido carboxílico (Figura 9) em torno de 2900 cm-1 não é
mais observada. Na mesma região observa-se a vibração do estiramento da hidroxila devido à
presença de água.

Figura 8 - Espectro de absorção no infravermelho do complexo Mg[Cu(EDTA)].6H2O


A essa banda de absorção em 1109 cm-1 pode ser atribuída a ligação C-N também do
quelato formado pelo EDTA correspondente a uma amina terciária.

Figura 9 - Espectro de absorção no infravermelho do ligante EDTA

Fonte: scifinder.cas.org. Consultado em 19/08/2021.

Em ambos os espectros de infravermelhos, observa-se que os complexos foram


formados, pois há diferenças nos padrões de absorção entre o ligante livre e as mesmas
ligações do ligante num ambiente diferente agora complexadas com cobre (II).
Nos espectros eletrônicos obtidos na região do visível (Figuras 10, 11 e 12)
observa-se que o íon cobre (II) hexahidratado apresentou maior comprimento de onda
máximo de absorção em relação aos outros dois complexos. Isto se deve às características dos
ligantes que interferem na absorção máxima de comprimento de onda absorvido.

Figura 10 - Espectro eletrônico no visível do complexo [Cu(en)2(H2O)2 ]2+

Figura 11 - Espectro eletrônico no visível do complexo [Cu(EDTA)]2-.


.

Figura 12 - Espectro eletrônica no visível do complexo [Cu(H2O)6]2+

O coeficiente de absorção molar (ε) é uma propriedade intrínseca das substâncias e


depende do comprimento de onda e de sua concentração. A partir dos valores de 𝛌máx e Amáx
obtidos, determinou-se a concentração das soluções dos diferentes complexos para chegar aos
valores de εmáx utilizando a equação de Beer-Lambert.

- Cálculo da absortividade molar (ε) do complexo [Cu(H2O)6]2+.

Inicialmente determinou-se o número de mols a partir da massa de CuSO4.5H2O utilizada:


1 mol de CuSO4.5H2O - 249,62 g
x - 0,500 g

x = 2,00 x 10-3 mol de CuSO4.5H2O

Em seguida, calculou-se a concentração da solução de CuSO4.5H2O, sendo utilizado


50 mL de água destilada :

C (mol L-1) = n (mol) = 2,00 . 10-3 = 4,01 . 10-2 mol L-1


5,00 . 10-2

Com o valor da concentração da solução utilizada no experimento, sabendo que o


caminho ótico (cubeta) mede 1 cm de largura, e da observação da absorbância máxima obtida
no espectro de absorção desse complexo, foi possível aplicar a equação de Lambert-Beer e
determinar a absortividade molar;

A = ε.b.c (Eq.Lambert-Beer)

onde, nesse caso: A máx = 0,491. Então:

0,491 = ε . 1 . 4,01 . 10-2


ε = 12,24 L mol -1 cm-1

Procedeu-se da mesma forma acima para determinar as absortividades molares dos


complexos: [Cu(en)2(H2O)2]2+ e [Cu(EDTA)]2-. De acordo com os espectros eletrônicos, Amáx
do complexo com etilenodiamina foi 0,7074 e para o complexo com EDTA foi 0,598. O
volume de água utilizado no preparo das soluções foi o mesmo (50 mL). As massas foram
0,25 de [Cu(en)2(H2O)2 ]I2 e 0,1743 g de Mg[Cu(EDTA)].6H2O e, portanto, o número de mols
calculado foi 5,28 x 10-4 e 3,06 x 10-4, respectivamente. Em seguida, as concentrações
obtidas foram 1,32 x 10-2 para solução de [Cu(en)2(H2O)2 ]I2 e 7,21 x 10-3 para solução de
Mg[Cu(EDTA)].6H2O, e determinou-se as absortividades molares iguais a 67,00 L mol-1 cm-1
para o primeiro composto e 82,96 L mol-1 cm-1 para o segundo. Os valores de εmáx
expressam as intensidades das bandas de absorção dos complexos.
Conforme a Teoria do Campo Cristalino (TCC), quando os ligantes se aproximam
do íon metálico, os orbitais d sofrem influência dos orbitais do ligante e aqueles passam a
ocupar estados diferentes de energia, e o complexo formado poderá ser mais ou menos
estável dependendo de alguns fatores [11].
Através de medições espectroscópicas, foi possível ordenar os ligantes em ordem
crescente do valor de Δo, o que deu origem a série espectroquímica abaixo:

I- < Br- < S2- < Cl- < NO3- < F- < OH- < EtOH < oxalato < H2O < EDTA <
piridina < NH3 < etilenodiamina < bipiridina < o-fenantrolina < NO2- < CN- <
CO
A TCC também afirma que a radiação absorvida é equivalente a quantidade de
energia necessária para promover um elétron do orbital t2g para o orbital eg [12]. Portanto,
através dos espectros de absorção eletrônico, obteve-se os valores do desdobramento
cristalino dos complexos a partir da equação:

Δo = ⊽ = 1 / (𝛌máx) (cm)

- Cálculo do desdobramento do campo cristalino (Δ0) do complexo [Cu(H2O)6]2+:

Δo = 1/𝛌máx = 1 / (8,042 x 10-5)


Δo = 1,24 x 104 cm-1

- Cálculo do desdobramento do campo cristalino (Δ0) do complexo [Cu(EDTA)]2-:

Δo = 1 / (7,313 x 10-5)
Δo = 1,37 x 104 cm-1

- Cálculo do desdobramento do campo cristalino (Δ0) do complexo [Cu(en)2(H2O)2]2+

Δo = 1 / (5,456 x 10-5)
Δo = 1,83 x 104 cm-1

Portanto, a ordem de grandeza da diferença de energia, Δo, calculada foi en > EDTA
> H2O, conforme esperado através da série espectroquímica. Logo, a etilenodiamina se
classifica como um ligante de campo mais forte, ou seja, provoca maior desdobramento do
campo cristalino. Uma explicação para isso é o fato desse ligante ser um grupo menor do que
o EDTA e poder se aproximar mais do metal. Segundo a Teoria dos Orbitais Moleculares, a
diferença de energia entre os orbitais de menor e maior energia é essencialmente devido ao
caráter covalente das ligações. Logo, quanto maior a sobreposição dos orbitais atômicos,
maior será a separação dos orbitais moleculares.
Os resultados encontram-se compilados na tabela abaixo:
Tabela 3 - Resumo dos valores de 𝛌máx, ε e Δo obtidos para os complexos
Complexo 𝛌máx (nm) ε (L mol -1 cm-1) Δo (cm-1)

[Cu(H2O)6]2+ 804,2 12,24 1,24 x 104

[Cu(EDTA)]2- 731,3 82,96 1,37 x 104

[Cu(en)2(H2O)2]2+ 545,6 67.00 1,83 x 104


5. CONCLUSÃO

Foi possível sintetizar os complexos [Cu(en)2(H2O)2]I2 e Mg[Cu(edta)].6H2O, com


rendimentos de 60,4% e 48.6%, respectivamente. Com relação aos rendimentos, estes não
apresentaram eficiência satisfatória. Através de técnicas espectroscópicas, os complexos
foram caracterizados e a influência da natureza do ligante no desdobramento do campo
cristalino foi observada. A análise das bandas de absorções dos complexos com en e EDTA
mostrou que estes são mais estáveis em comparação com o complexo com H2O. Isto se deve
ao efeito quelato, onde ligantes que possuem mais de um sítio de coordenação, como os
ligantes etilenodiamina e EDTA, exercem uma maior estabilização do complexo formado em
comparação com ligantes monodentados, como a água. Dentre os ligantes polidentados
citados, a etilenodiamina foi a que causou maior desdobramento do campo cristalino,
confirmando também a influência da natureza do ligante.

Como esperado pela série espectroquímica, o complexo com etilenodiamina


apresentou maior desdobramento do campo cristalino, seguido pelo complexo com EDTA e
por último, o complexo com água. Com a técnica de IV (infravermelho) foi possível
comprovar que os complexos foram formados, uma vez que os espectros apresentaram picos
característicos dos ligantes presentes em cada um deles (etilenodiamina, EDTA e água).

6. REFERÊNCIAS

[1] Shriver, D. F.; Atkins, P. Química Inorgânica. 4ª Ed. Porto Alegre: Bookman, 2008.

[2] MIESSLER, Gary L.; FISCHER, Paul J.; TARR, Donald A. Inorganic chemistry. 5ed.
Boston: Pearson, 2014.

[3] TOMA, Henrique E. Alfred Werner e Heinrich Rheindoldt: Genealogia e Legado


científico. Quim. Nova, Vol. 37, No. 3, 574-581, 2014.

[4] BARROS, Haroldo L.C. Química Inorgânica: Uma introdução. Belo Horizonte:
Editora UFMG, 1992.

[5] PAVIA, Donald L. et al. Introdução à espectroscopia. São Paulo: Cengage Learning,
2010.

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