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74 Full Dent. Sci. 2016; 7(26):74-82.

Uso de guias no planejamento de próteses sobre implantes


Use of guides in planning for implant-supported prostheses
Madalena Lucia Pinheiro Dias¹
Gabriel Leonardo Magrin²
Leonardo Vieira Bez³
César Augusto Magalhães Benfatti4
Cláudia Ângela Maziero Volpato5

Resumo
O planejamento é fundamental na Implantodontia. Com um correto planejamento, tor-
nam-se muito maiores as chances de obtenção do sucesso clínico, que hoje vai muito além
de somente alcançar a osseointegração dos implantes, mas sim, de posicionar o implante
idealmente para a confecção de uma prótese que venha a contemplar saúde, função e esté-
tica. O objetivo desse artigo foi de reforçar a importância das etapas de planejamento e da
utilização de meios para transferir as informações obtidas para a situação clínica através do
uso de guias. A busca pelas publicações foi realizada nas bases de dados Pubmed (Medline) e
Periódicos CAPES, durante o segundo semestre de 2013. Também foi realizada busca manual
de referências. A seleção final após a leitura de títulos, abstracts e textos completos chegou
a 30 artigos. Concluiu-se que os guias auxiliam em todas as fases do tratamento e permitem
maior previsibilidade dos resultados, aumentando substancialmente a qualidade e longevida-
de das reabilitações protéticas implantossuportadas.
Descritores: Implantes dentários, planejamento de prótese dentária, cirurgia assistida
por computador, prótese dentária, prótese dentária fixada por implante.

Abstract
Planning is essential in oral Implantology. With correct planning there are greater chances
of obtaining clinical success, which currently means more than the osseointegration of im-
plants, and includes ideal positioning of the implant for making a prosthesis that contem-
plates health, function and aesthetics. The aim of this article was to reinforce the importance
of planning steps and the use of means to transfer the information obtained to the clinical
situation using the guides. The search was conducted in the databases Pubmed (Medline) and
CAPES journals during the second half of 2013. It was also performed manual search of refer-
ences. The final selection after reading titles, abstracts and full texts reached 30 articles. It can
be concluded that the guides help at all stages of treatment and allow greater predictability
of the results, thereby greatly enhancing the quality and longevity of the prosthetic implant
restorations.
Descriptors: Dental implants, dental prosthesis design, computer-assisted surgery, dental
prosthesis, fixed dental implant.

1
Mestranda em Implantodontia no Programa de Pós-Graduação em Odontologia – UFSC.
2
Mestrando em Implantodontia no Programa de Pós-Graduação em Odontologia – UFSC.
3
Doutorando e Me. em Implantodontia no Programa de Pós-Graduação em Odontologia – UFSC.
4
Prof. Adjunto do Depto. de Odontologia – UFSC.
5
Profª. Adjunta do Depto. de Odontologia – UFSC.

E-mail do autor: glmagrin@gmail.com


Recebido para publicação: 14/09/2015
Aprovado para publicação: 28/10/2015

Como citar este artigo:


Dias MLP, Magrin GL, Bez LV, Benfatti CAM, Volpato CAM. Uso de guias no planejamento de próteses sobre implantes. Full Dent. Sci. 2016;
7(26):74-82.

Relato de caso / Case report


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Introdução 70 artigos. A busca manual também foi realizada, en-


contrando 10 publicações. A partir da leitura dos tex-
Na Implantodontia, a necessidade de prever resul- tos completos, 39 trabalhos foram selecionados para
tados diante de situações críticas é uma rotina. O me- serem incluídos. Ao iniciar a escrita do artigo, optou-se
lhor protocolo terapêutico para um implante dentário pela remoção de 9 publicações que não se encaixavam
é aquele que resulta na osseointegração e, ao mesmo como altamente relevantes, restando então 30 publica-
tempo, em uma posição ideal do implante para a con- ções incluídas na revisão final do artigo (Figura 1).
fecção de uma restauração funcional e estética15,25.
Para alcançarmos esses objetivos, é fundamental que
haja integração e diálogo entre a equipe responsável
pelo tratamento, formada pelo protesista, cirurgião e Seleção por títulos:
109 artigos
técnico em prótese dentária. Assim, é importante fazer
uso de ferramentas que viabilizem um planejamento
integrado prévio à cirurgia de implantes e à reabilitação Após a leitura dos Busca manual:
protética, tais como o enceramento de diagnóstico, abstracts: 70 artigos 10 publicações
montagem dos modelos em articulador semiajustável
(ASA), radiografias, tomografias computadorizadas Após a leitura dos 9 removidos por não Incluídos na escrita
(TC) e confecção de guias para serem utilizados nas textos completos: serem tão relevantes da revisão:
39 artigos na revisão 30 artigos
diferentes fases do tratamento5,23.
Os guias são dispositivos desenvolvidos para o pré, Figura 1 – Diagrama representando a estratégia de busca.
trans e/ou pós-operatório que permitem à equipe visu-
alizar as peculiaridades do caso, além de facilitar a co-
municação com o paciente e com outros profissionais Relato de caso
envolvidos no tratamento10. De posse de um correto
enceramento diagnóstico e exames radiográficos e/ou
Importância de um correto posicionamento
tomográficos apropriados, o cirurgião pode estudar e
do implante
É de concordância universal que, para alcançar o
determinar com a equipe, a posição ideal dos implan-
sucesso de uma reabilitação sobre implantes, os pro-
tes nas áreas desejadas4. Após o cirurgião e o protesis-
fissionais dependem diretamente de diagnóstico e pla-
ta concordarem quanto ao plano de tratamento para
nejamento meticulosos28. No passado, a localização e a
a instalação dos implantes, é de responsabilidade do
inclinação dos implantes eram ditadas pela quantidade
protesista construir um guia para auxiliar o cirurgião no
de osso residual12. Frequentemente, isso gerava um
exato posicionamento de cada implante, assegurando
problema para o protesista, que se deparava com di-
que a posição do implante não comprometa a restau-
ficuldades operatórias para confeccionar uma prótese
ração protética2.
adaptada à situação cirúrgica, na tentativa de restaurar
Esse artigo teve como objetivo ressaltar a necessi-
a função (Figuras 2, 3 e 4). Nesses casos, a estética,
dade de um correto planejamento na reabilitação pro-
por ser uma preocupação secundária, geralmente era
tética sobre implantes e, a partir deste, a confecção de
sacrificada. Contudo, depois de se submeterem a tra-
guias que auxiliam no posicionamento dos implantes,
tamentos extensos com implantes, que envolvem gran-
minimizando erros e garantindo a qualidade da restau-
des procedimentos cirúrgicos, os pacientes desejam
ração final.
próteses agradáveis, tanto do ponto de vista funcional
quanto estético3. Um grande número de insucessos e
Revisão de literatura o desejo por uma prótese previsível levaram ao desen-
Dias MLP, Magrin GL, Bez LV, Benfatti CAM, Volpato CAM.

Foi feita uma pesquisa bibliográfica, buscando a li- volvimento do conceito conhecido por “Implantodon-
teratura já publicada a respeito do tema, utilizando os tia guiada proteticamente”. Este conceito estabelece
seguintes descritores: “prosthetic planning”, “prostho- a correta posição do implante durante a fase de diag-
dontic guide”, “dental implants”, “implant retained nóstico, de acordo com a restauração definitiva previa-
dentures” e “computer-guided surgery”, nas bases de mente planejada1,7,18.
dados Pubmed (Medline) e Portal de periódicos da CA- Muitas vezes, um planejamento inadequado e a
PES. A busca foi realizada durante o segundo semes- falta de comunicação entre o cirurgião e o protesista
tre de 2013. Foram priorizados artigos e publicações podem levar a resultados indesejáveis. Implantes mal
em revistas preferencialmente datadas a partir do ano posicionados resultam em distribuição de forças não
2000, sendo que os artigos considerados clássicos não axiais, promovendo dissipação inadequada das cargas,
foram desprezados. A seleção dos artigos aconteceu aumento na concentração de tensão e eventual perda
a partir da leitura dos títulos, tendo sido selecionados da osseointegração7,25. Além disso, implantes com po-
109 artigos nesse primeiro momento. Em seguida foi sição desfavorável tornam os procedimentos clínicos e
executada a leitura dos abstracts e, feito isso, restaram laboratoriais muito mais complexos2,6,24.
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Os guias cirúrgicos há muito tempo são considera- que o guia indica um adequado posicionamento para o
dos uma ferramenta importante para garantir o correto implante. Geralmente essa situação ocorre porque era
posicionamento dos implantes durante a cirurgia (tan- necessária uma reconstrução do tecido ósseo da área,
to quanto à inclinação mésio-distal e vestíbulo-lingual visando instalar o implante na posição protética mais
quanto ao aprofundamento apical do implante)3,4. No adequada. Isso indica que a relação entre a prótese fi-
entanto, devido a sua utilização apenas no momento nal e as estruturas ósseas não foi bem visualizada antes
cirúrgico, podem haver situações ósseas limitantes em da cirurgia15,21,26 (Figuras 5 e 6).

Figura 2 – Paciente com implante na região do dente 11 ins- Figura 3 – O posicionamento do implante sem uma preocu-
talado em uma posição inadequada para reabilitação protética. pação com a prótese dentária levou ao insucesso estético da
reabilitação.

Figura 4 – Visão aproximada do defeito estético. Figura 5 – . Em função do posicionamento inadequado, optou-
-se pela remoção do implante e posterior reconstrução dos teci-
dos para corrigir o defeito estético presente.

Enceramento diagnóstico
O enceramento diagnóstico é, juntamente com os
exames de imagem, a etapa mais importante do plane-
jamento protético. Isso porque ele permite antecipar as
informações, orientar os pacientes a respeito do trata-
mento e das modificações que podem surgir durante
sua execução e, posteriormente, ser utilizado para a
Relato de caso / Case report

confecção do guia cirúrgico1,25,30.


O protesista é quem elabora o plano de trata-
mento restaurador. Portanto, ele deve confeccionar
um enceramento diagnóstico com a função de deter-
Figura 6 – Visão 3 meses após o procedimento cirúrgico e a minar a posição e anatomia exatas dos dentes a serem
instalação de uma prótese provisória. restaurados20. A comunicação entre o cirurgião e o
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protesista é fundamental para o tratamento com pró- das4 (Figura 7).


teses sobre implantes para evitar a instalação de im- Para identificar o local ideal do implante de acordo
plantes onde não será possível realizar uma adequada com a oclusão habitual, a relação estática, funcional e
restauração, ou onde não há osso suficiente. Para me- dinâmica da condição oclusal é analisada por meio do
lhorar essa comunicação, o enceramento diagnóstico enceramento diagnóstico dos dentes ausentes. Infor-
do posicionamento ideal de cada dente deve ser con- mações a respeito do eixo ideal para distribuição da
feccionado antes das discussões a respeito da cirurgia. carga, obtidas a partir de modelos de estudo montados
De posse do enceramento e de radiografias e/ou to- em ASA e de um enceramento diagnóstico, são trans-
mografias apropriadas, o cirurgião poderá determinar feridas para os guias radiográfico e cirúrgico durante o
o posicionamento dos implantes nas posições deseja- planejamento do tratamento1,2.

A B

Figura 7 (A-C) – Enceramento diagnóstico. A) Modelo de gesso


inicial. B) Enceramento do dente 14. C) A partir do enceramento, um
C guia cirúrgico foi confeccionado.

Dias MLP, Magrin GL, Bez LV, Benfatti CAM, Volpato CAM.

Exames de imagem te; porém, nenhuma dessas opções pode determinar


Para planejar uma reabilitação com implantes, vá- exatamente a sua posição tridimensional25. Somente
rios requisitos devem ser analisados, principalmente uma avaliação panorâmica não é suficiente, já que esta
quanto à situação biológica do paciente. Para isso, ele produz imagens distorcidas dos maxilares de forma
deverá ser submetido à avaliação médica e odontoló- não uniforme22. Assim, as imagens bidimensionais não
gica, que vai desde exame clínico, modelos de estu- proveem uma interpretação adequada da anatomia do
do e documentação fotográfica, até exames comple- paciente, aumentando o risco do tratamento e de injú-
mentares, como os exames laboratoriais e de imagem rias às estruturas vitais11. A obtenção da posição ótima
(radiografias periapicais, panorâmica, perfil, oclusal e de um implante pode ser determinada por um banco
tomografia computadorizada)5. de dados radiográficos, fornecido por uma tomografia
Tradicionalmente, as radiografias periapicais e pa- computadorizada (TC) quando usada em conjunto com
norâmicas são usadas em conjunto com modelos de um guia de diagnóstico16,29.
diagnóstico, para verificar a situação óssea enquan- As tomografias computadorizadas (TC) e tomo-
to se determina a angulação e a posição do implan- grafias computadorizadas de feixe cônico (TCFC) per-
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mitem uma avaliação tridimensional da anatomia in- pacos capazes de indicar a relação de osso disponível
dividual do paciente, proporcionando informações de com a futura prótese11,15,20.
quantidade óssea e das estruturas anatômicas críticas, A tomografia computadorizada interativa (TCI) é
antes da cirurgia. A fase de planejamento pré-cirúrgico uma técnica desenvolvida para facilitar a transferên-
é beneficiada pela tecnologia da TCFC, que apresenta cia de informações entre o radiologista e o cirurgião.
vários dados que serão usados na tomada de decisões Nessa técnica, o radiologista transfere as imagens via
durante o tratamento, além de proporcionar uma me- computador para que o clínico possa estudá-las em
nor exposição à radiação, quando comparada às TCs seu próprio computador pessoal, e interagir com as
tradicionais8,11. No entanto, quando não associadas, a imagens. Outro benefício é a realização de cirurgias
correta orientação para o posicionamento do implante guiadas por computador19. A habilidade de visualizar
torna-se uma tarefa difícil, pois determinar a relação a anatomia de cada paciente por meio de uma ava-
adequada entre a restauração final e a quantidade de liação interativa 3D descarta o trabalho de “adivinha-
osso disponível nem sempre é possível. Por este moti- ção” e permite aos clínicos tomarem decisões verda-
vo, a TC passou a ser realizada conjuntamente a um deiramente orientadas em relação ao tratamento que
guia diagnóstico intraoral contendo marcadores radio- será proposto6,11 (Figura 8).

A B
Relato de caso / Case report

C
Figura 8 (A-C) – Reabilitação total implantossuportada planejada por tomografia computadorizada interativa (TCI). A) Situação
inicial da paciente. B) Prova do guia tomográfico com marcadores radiopacos. C) Planejamento virtual da instalação dos implantes nas
imagens obtidas através da TCFC.
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Guias cirúrgico, anatomia oclusal completa até a região de


Os guias são dispositivos que permitem visuali- molares para permitir a obtenção do registro oclusal e
zar as limitações e deficiências do caso, apresentar a reprodução do contorno vestibular da futura próte-
ao paciente o grau de dificuldade da situação clínica se14,17,27 (Figura 9).
e localizar adequadamente os implantes com o ob- Existem três momentos clássicos para se colocar
jetivo de alcançar resultados estéticos, funcionais e carga sobre os implantes, tardio, precoce e imediato.
fonéticos satisfatórios10. Eles podem ser classificados Na carga imediata, a carga é aplicada em até 48 ho-
em diversos tipos, segundo o seu objetivo, e utiliza- ras, quando for alcançada uma boa estabilidade pri-
dos em diferentes fases do tratamento. São eles guias mária na instalação dos implantes. A carga imediata
diagnósticos, estéticos, radiográficos, cirúrgicos e de requer uma excelente comunicação entre o cirurgião,
transferência1,3,8,10,25,28. O mais importante dessa clas- o protesista e o laboratório, antes e depois da cirurgia.
sificação não é o tipo de guia, mas, sim, as funções Planejar antecipadamente um dispositivo para guiar
que o guia deveria desempenhar nas diferentes situ- a posição dos implantes pode minimizar quaisquer
ações clínicas. A confecção de vários guias para um problemas na instalação, determinando o tempo que
mesmo caso clínico tomaria muito tempo, além de ge- o técnico levará para fazer a prótese e diminuindo o
rar custos adicionais. Desta forma, é mais interessante tempo de espera do paciente após o ato cirúrgico6.
que um único guia apresente as funções necessárias Portanto, planejar previamente o posicionamento ide-
para o caso em questão. Esse dispositivo que contém al do implante permite a confecção antecipada das
a maior parte das funções supracitadas é denominado reconstruções protéticas e torna a aplicação de carga
de guia multifuncional17,27. imediata possível24.
Os primeiros guias multifuncionais foram usados Com o advento da TC que teve seu custo reduzi-
em cirurgias de prótese protocolo com carga imedia- do e menor quantidade de radiação graças à tecno-
ta17. Geralmente eram obtidos por meio da duplicação logia cone beam (TCFC), o posicionamento virtual de
das próteses totais dos pacientes, caso estivessem em implantes por softwares específicos permite a cons-
estado satisfatório14. Esse tipo de guia possui várias trução de guias prototipados por meio da tecnologia
funções, tais como auxiliar no procedimento cirúrgico, CAD/CAM (Computer-Aided Design; Computer-Aided
servir como moldeira individual, transferindo a posi- Manufacturing)13,24. O uso da cirurgia guiada por com-
ção dos implantes para um modelo de trabalho, assim putador pode ser especialmente útil em casos com
como possibilitar o registro oclusal desse modelo. Para volume ósseo crítico ou quando a anatomia da loca-
tanto, se a prótese total não estiver adequada, ou se lização ideal para posicionamento do implante apre-
o paciente não possuir uma, o técnico deve encerar senta alta exigência estética. Contudo, são indicados
a posição dentária desejada para a confecção do guia principalmente nos casos em que os implantes serão
multifuncional. O guia confeccionado em resina acrílica instalados com uma exposição óssea cirúrgica mínima
deve conter aberturas na região lingual ou palatal para ou, até mesmo, com uma abordagem sem retalho. O
acessar a área cirúrgica, aberturas (ou janelas) na área planejamento e execução de cirurgia guiada conside-
vestibular para inserir o material de moldagem, exten- rando tanto informações anatômicas quanto protéti-
sões distais que estejam bem apoiadas sobre o rebordo cas, facilita a construção de uma prótese mais precisa e
para dar estabilidade ao guia durante o procedimento previsível7,9,24 (Figura 10).

Dias MLP, Magrin GL, Bez LV, Benfatti CAM, Volpato CAM.

A B
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C D

E F
Figura 9 (A-F) – Aplicação clínica do guia multifuncional. A) Situação inicial da paciente. B) Instalação de implantes na posição
indicada pelo guia. C) Registro oclusal com resina acrílica. D) União dos transferentes e união destes ao guia multifuncional. E) Guia
utilizado para a transferência da posição dos implantes. F) Aspecto final da prótese instalada em carga imediata.

A B
Relato de caso / Case report

Figura 10 (A-C) – Cirurgia guiada. A) Guia cirúrgico obtido atra-


vés de prototipagem. B) Implantes instalados na posição indicada
pelo guia em um procedimento sem retalho cirúrgico. C) Prótese
C instalada.
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Discussão putador, os guias multifuncionais podem ser confec-


cionados a partir da tecnologia de prototipagem, tor-
Vários estudos demonstraram que uma prótese nando os procedimentos cirúrgicos ainda mais seguros,
implantossuportada funcional e estética depende di- aumentando a previsibilidade do tratamento com im-
retamente de uma posição adequada dos implantes. plantes e respeitando estruturas anatômicas nobres e
Para que isso seja obtido, o planejamento protético é aspectos relacionados à prótese final7,24.
que deve ditar esse posicionamento1,7,18. É de concor-
dância geral que um planejamento pré-operatório bem
Conclusão
executado é indispensável durante o procedimento de
instalação de implantes. Para minimizar as chances de Para que a prótese final corresponda às expectativas
falhas, deve-se fazer uso de recursos como modelos de do paciente, as reabilitações com implantes devem ter
gesso, enceramento diagnóstico, montagem em arti- um planejamento cuidadoso, baseadas em parâmetros
culador semiajustável e exames de imagem4,20,28. funcionais, fonéticos e estéticos. Lançar mão do uso dos
O enceramento diagnóstico ainda é parte funda- guias é uma estratégia importante para obter segurança
mental do planejamento para reabilitações protéticas. É no tratamento com implantes. Eles auxiliam em todas
por meio dele que informações sobre forma, contorno as fases do tratamento e, mesmo em casos mais com-
e posição da prótese final e dos implantes podem ser plexos, permitem maior previsibilidade dos resultados,
antecipadas. Pode-se também perceber a necessidade aumentando substancialmente a qualidade e a longevi-
de reconstruções teciduais e cirurgias corretivas. Além dade das reabilitações protéticas implantossuportadas.
disso, é uma ferramenta útil para a comunicação entre o
dentista e o paciente, por permitir a visualização das eta- Referências
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