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COLÉGIO ST.

GEORGES

Invisibilidade e registro civil: acesso à cidadania em


regiões carentes do Brasil em consonância com a
ausência das tecnologias

Breno Haro, Gabriel Donato, João Vittor Bandeira, Julia Brandão,


Ketlyn Marin, Laise Maria, Luíza Lustosa, Marcos Vinicius Macedo,
Marcos Willian Barros, Maria Eduarda Militão, Pedro Quadrat.

RIO DE JANEIRO
2021
1

Breno Haro, Gabriel Donato, João Vittor Bandeira, Julia Brandão,


Ketlyn Marin, Laise Maria, Luíza Lustosa, Marcos Vinicius Macedo,
Marcos Willian Barros, Maria Eduarda Militão, Pedro Quadrat.

Invisibilidade e registro civil: acesso à cidadania em


regiões carentes do Brasil em consonância com a
ausência das tecnologias

Relatório final, apresentado ao Colégio


St. Georges, como parte das
exigências para a obtenção do diploma
do ensino médio.

Orientador:Prof.Dr.
________________

RIO DE JANEIRO
2

2021

Breno Haro, Gabriel Donato, João Vittor Bandeira, Julia Brandão, Ketlyn
Marin, Laise Maria, Luíza Lustosa, Marcos Vinicius Macedo, Marcos Willian
Barros, Maria Eduarda Militão, Pedro Quadrat.

Invisibilidade e registro civil: acesso à cidadania em regiões carentes do


Brasil em consonância com a ausência das tecnologias

Relatório final, apresentado ao Colégio


St.Georges, como parte das exigências
para a obtenção do diploma do ensino
médio.

Local, ______ de ______________


de ______.

BANCA EXAMINADORA

Prof. de história Glauco Pinheiro de Oliveira Junior


Afiliações

Prof. de filosofia e sociologia Roberto Guimarães dos Santos


Afiliações

Prof. de literatura e português Alysson Franco Abrantes


Afiliações

Coordenadora Luciana Assunção


3

Afiliações

RESUMO

No Brasil, o registro civil foi criado em abril de 1874, de maneira que todos os
indivíduos cadastrados tenham acesso aos direitos básicos à vida. Nessa
conformidade, é fatídico o empecilho vivenciado por classes excluídas ao
buscarem seus direitos de cidadão, visto que muitos não estão, ao menos,
documentados nos Órgãos Públicos. Sendo assim, as regiões carentes do país
não têm acesso a essas normas, pois as noções de cidadania são praticamente
inexistentes, além de complicações com os cartórios e com a documentação
desde criança. Na mesma medida, a nova era digital possibilita a praticidade de
alguns nichos sociais ao mesmo tempo que acentua as desigualdades vigentes
nesse processo.

Palavras-chaves: Registro civil; Cidadania; Digital


4

ABSTRACT

Invisibility and Civil Register: access to citizenship in disadvantaged


regions of Brazil, attributed to the absence of technology

In Brazil, the civil register was created back in April of 1874 so that all the
individuals who registered could gain access to primary rights of life. As such, it's
essential that any hindrances that affect the excluded classes in their search for
Rights, as many of them have been, are, at last, documented in the Public
Organs. That way, the disfavored regions of the country do not have access to
these rules since the notions of citizenship are basically non-existent. Besides
complications with Notary Offices, there are those with the birthing of the people
themselves. In the same context, the birth of the new digital era has enabled us to
turn some social niches more practical, at the same time accentuating the
prevailing inequalities of this procedure.

Keywords: Civil Register; Citizenship; Digital;


5

SUMÁRIO
PREFÁCIO............................................................................ 7
1. CAPÍTULO I.......................................................................... 8

1.1. Origem e conceito de cidadania.................... 8


1.2. Falta de entendimento dos direitos.............. 9
1.3. Cidadania e a história dos registros civis.... 10
2. CAPÍTULO II......................................................................... 11

2.1. Valores estatísticos por região..................... 11


2.2. Questão indígena........................................... 12
2.3. Moradores de rua e de favelas..................... 13
3. CAPÍTULO III....................................................................... 15

3.1. Trabalho informal........................................... 15


3.2. Direitos da carteira assinada........................ 16
3.3. Aquisição da CTPS e Conclusão................. 17
4. CAPÍTULO IV....................................................................... 19

4.1. Função e organização dos cartórios............ 19


4.2. Falta de investimento em locais precários.. 20
4.3. Efeitos da ineficiência de cartórios .............. 21
5. CAPÍTULO V........................................................................ 23

5.1. Efeitos históricos na falta de registros……. 23


5.2. Crianças e jovens não registrados.............. 24
5.3. Geração invisível........................................... 25
6. CAPÍTULO VI...................................................................... 27

6.1. Importância tecnológica atual..................... 27


6.2. Desdobramentos da exclusão digital…….. 28
6.3. Meios para alcançar a inclusão .................. 30
7. CONCLUSÃO...................................................................... 32

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................... 33
6

PREFÁCIO

De acordo com o filósofo britânico John Locke o homem tem três direitos
inalienáveis: vida, liberdade e propriedade. Reforçando a perspectiva da
necessidade imprescindível de assegurar a integridade social e a busca por suas
garantias no contexto de atribuições originárias.

O trabalho apresentado foi formulado para corroborar com o conhecimento


acerca dos princípios do registro civil no Brasil. Destacando a importância da
documentação no país em todos os eixos econômicos e regiões federais,
respeitando a igualdade em qualquer aspecto vislumbrado.

Sob essa ótica, o conteúdo do trabalho foi segmentado em seis capítulos que
visam estabelecer uma relação entre os registros brasileiros e sua acessibilidade
para todos os nichos, destacando tópicos como cidadania, exclusão digital e
ausência de cartórios. Sendo assim, essa adversidade será contextualizada e
apresentada com informações fatídicas contemplando a lucidez a respeito da
pauta retratada.

Além disso, características como dados estatísticos, leis brasileiras e quesitos


históricos são utilizados para efetivar as bases argumentativas da atividade, de
forma que a problemática abordada seja debatida com alicerces comprovados por
justificativas cabíveis.
7

Capítulo I

1.1 Origens da noção de cidadania

O termo cidadania vem do latim "civitas". Este termo surgiu inicialmente na


Grécia antiga e, apesar de na época abranger somente homens adultos nascidos
nessa região, enquanto crianças, mulheres e estrangeiros eram excluídos. Nessa
condição, nos dias atuais presencia-se uma busca pela inclusão social de todo
indivíduo dentro das normas legislativas.

Operários. TARSILA DO AMARAL

Herbert de Souza, em 1993, acreditava que a Cidadania, acima de tudo, é a


participação na política, podendo ser atuada de várias formas, como:

● Votando - ato de expressar sua decisão perante os candidatos.

● Se candidatando a um cargo eleitoral - apresentar-se como candidato.

● Participando de reuniões e manifestações - defender sua própria opinião


sobre um assunto que acredita.

● Contribuindo financeiramente com um partido político.

Desse modo, é fundamental a busca por um constante envolvimento na política


dentro da sociedade brasileira, visto que esse entendimento constrói uma
população eticamente correta que compreende sua funcionalidade dentro das leis.
Estabelecendo assim uma relação de cumprimento de deveres em detrimento da
garantia de seus direitos sob vigência de uma Constituição.
8

Criando uma nação, a qual entende-se como um conjunto de pessoas que se


identificam como parte de um mesmo grupo. Para isso, alguns elementos são
necessários como cultura, língua e tradição, formando a ideia de um desejo
comum geral.

Portanto, torna-se clara a importância do completo entendimento da noção de


cidadania. Já que, para haver uma convivência harmônica entre as pessoas, é
preciso que todos compreendam seu papel dentro do corpo social. Fazendo uma
analogia mais inclusiva ao que ocorria na Grécia antiga.

1.2 Falta de entendimento dos direito

A falta de documentação fomenta a inexistência de noção dos benefícios e


deveres de cidadania. Sob essa ótica, o jornalista Aristides Lobo comentou que
durante a proclamação da República a maioria dos habitantes do Brasil não
souberam sobre esse acontecimento histórico e, por consequência, os moradores
ficaram privados dos seus direitos como uma população republicana. Infelizmente,
percebe-se que as pessoas persistem nesse panorama, pois diversos indivíduos
não possuem conhecimento sobre sua condição enquanto cidadão dentro da
Constituição Federal.

NOVAES, Carlos Eduardo; LOBO, César. História do Brasil para principiantes. São Paulo:
Ática, 1998.
9

Como mostra a imagem anterior, após a implementação de um sistema político


republicano, os indivíduos mais pobres no corpo social não sabiam como
funcionava a legislação. Esse cenário não civilizatório ainda representa várias
regiões do Brasil, pois alguns sujeitos não têm conhecimento sobre os seus
direitos e as suas funções dentro da sociedade.

Como pode ser notado, por exemplo, no período eleitoral brasileiro quando o
desconhecimento popular em vários segmentos pode ser vislumbrado, tanto por
não ter conhecimento sobre as formas de voto quanto por não ter acompanhado
seu candidato ao longo de seu mandato.

Em suma, é evidente que o passado histórico do país tupiniquim colaborou para


a incompreensão das oportunidades e necessidades ofertadas pela Constituição
Federal e dificultou a formação de cidadãos que compreendessem seus direitos.

1.3 Cidadania e história dos registros civis

O registro civil é essencial para garantir os direitos básicos e a participação de


decisões sociais. Portanto, deve atuar em conformidade com a noção de
cidadania, visto que além de sua efetuação é necessária sua compreensão

Publicado em 10 de maio de 2021 em Ética e Cidadania por Anelise Penteado


de Oliveira
10

A história dos registros civis é contada de maneira muito rica ao longo da história,
em especial a sua criação. Desde a cristianização completa do império romano
cabia somente a igreja os direitos do registro civil já que ela fazia parte do
estado, porém com o surgimento do movimento iluminista a sociedade começou a
questionar os interesses entre a igreja e o estado. Além disso, a ideia de direito e
dever pode ser notada na babilônia com o código de Hamurabi, de forma mais
rígida do que ocorre na sociedade atual.

No Brasil o registro civil foi criado de modo formal e generalizado com o Decreto
de número 5 604 de 25 de Abril de 1874, tal decreto possibilitou o regulamento de
óbitos, nascimentos e casamentos. Graças a criação dessas diretrizes, as
pessoas invisíveis perante os olhos da comunidade puderam finalmente se incluir
nela podendo apreciar os benefícios porém tendo que cumprir os deveres que
são igualmente cobrados a cada membro. Desde esse decreto o número de leis
que visam a inclusão foi crescente possibilitando uma sociedade mais igualitária.
11

CAPÍTULO II

2.1 Valores estatísticos por região

O registro civil é o principal viés para tornar um indivíduo em alguém com direito
à cidadania no Brasil. Sendo assim, é exorbitante os dados apresentados pelo
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) que afirmam que no território
nacional quase três milhões de pessoas não apresentam nenhuma
documentação, ou seja, são invisíveis perante o Estado. É fatídico que diversos
fatores contribuem para esses altos valores em cada região brasileira, de modo
que seja crucial analisar essas motivações em cada área para posteriormente
tentar amenizar esses números.

IBGE, 2015

Como pode ser compreendido ao analisar o mapa acima, o Sudeste apresenta


o número mais inquietante demonstrando haver mais de um milhão de indivíduos
não registrado em seu território, nitidamente isso advém do fato de que essa é a
área mais populosa do país, mas também está atrelado à causas financeiras e
sociais.
12

Analogamente, a região Centro-oeste é a que apresenta o menor valor, em


função do seus números populacionais e a relação econômica de sua população.
Entretanto, não se pode desconsiderar as 243 mil pessoas não registradas na
área, para se obter uma perspectiva esse valor equivale a cerca de seis vezes o
número da população de Mônaco.

Ainda de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) o


número de crianças não registradas ao nascer diminuiu em 60% em dez anos.
Desse modo, embora os dados ainda sejam elevados, é apresentado um quadro
de melhora.

2.2 Questão indígena

Os povos indígenas apresentam uma complexa e densa história a ser retratada.


Como pode ser visto na guerra justa quando uma quantidade exorbitante de
nativos foram mortos por ordens de D João. Por ser uma minoria seus direitos
foram questionados e revogados em inúmeras situações. Sendo assim, a garantia
do direito à terras dos aldeamentos foi a primeira legislação que assegurou algo à
esse povo, em 1850 pela Lei Imperial 601.

Sob esse viés, a existência do Registro Administrativo de Nascimento de


Indígena (RANI) auxilia os povos nativos na sua busca pelo acesso à cidadania.
Assim, esse órgão que é administrado pela FUNAI entende-se por um documento
administrativo que não pode ser substituído pela certidão de nascimento, ou seja,
o RANI é um intermediário para solicitar o registro civil final. Outra finalidade para
esse registro é a retirada do CadÚnico, embora outros programas incluídos nesse
projeto peçam outros documentos para sua ingressão.

Outra campanha importantíssima foi o projeto Cidadania Indígena, ocorrida no


Mato Grosso em 2017, essa ação ajudou 1.032 indígenas gratuitamente a
adquirir sua documentação. Sabe-se que segundo o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatísticas, no Mato Grosso existem 51.969 índios na região, ou
seja, a atividade de campanhas nesse padrão é fundamental para a ocorrência de
13

mais registros para esses nativos. Ademais, o projeto garante outros documentos
além do registro civil, como a declaração de nascido vivo, Registro Administrativo
de Nascimento de Indígena, 2º via de CPF, 1º e 2º via da Certidão de Casamento,
Óbito e Nascimento, Carteira de Trabalho, 1º e 2º via da Carteira de Identidade,
Cartão SUS, comprovação de escolaridade, encaminhamentos de serviços
sociais, orientações jurídicas, foto 3x4, e outros serviços essenciais.

2.3 Moradores de rua e de favelas

Indivíduos em situação de rua são aqueles que se encontram em um viés sem


moradia regular. Sob essa ótica, é crucial destacar a forma como muitas dessas
pessoas não possuem registro civil, por nunca terem obtido essas certidões ou
por não possuírem acesso para renovar os dados. Sabe-se que moradores de rua
muitas vezes buscam projetos sociais que visem democratizar esses registros
para todos. Como por exemplo o primeiro Posto de Atendimento Especializado
para a Identificação Civil desses moradores, fundado pela Defensoria Pública do
Rio de Janeiro em conjuntura com o Departamento Estadual de Trânsito
(DETRAN) que atende dezenas de pessoas nessas condições por dia.
Paralelamente, no livro “Quarto de despejo”, escrito por Carolina Maria de Jesus
em 1960, é demonstrado o dilema cotidiano vivido por uma mulher periférica,
residente em uma favela, em tentar sustentar sua família. Em síntese, favelas são
aglomerados de habitações localizadas geralmente em encosta de morros.
Assim, economicamente e socialmente analisando a situação dessas moradias,
pode-se notar que os moradores dessas zonas não apresentam o devido acesso
aos serviços básicos. Desse modo, é válido ressaltar que nesses aglomerados
suburbanos a população muitas vezes não apresenta registro civil, isto é, não tem
a possibilidade de usufruir dos direitos dados pelo governo.
14

Como pode ser compreendido pelo gráfico, a qualidade de vida presente no


cotidiano desses moradores de favela não é a ideal, demonstrando a carência de
bens, teoricamente, garantidos pelos Órgãos Públicos. Similarmente, a população
dessas regiões, por vezes, não entende a indispensabilidade de adquirir seus
documentos, pois não tem acesso a essas informações ou não apresenta
mecanismos suficientes para buscar sua via de registros.

A retirada do auxílio emergencial no período pandêmico da Covid-19 demonstra


essa problemática, visto que milhares de pessoas não conseguiram acesso a
essa quantia em detrimento de não possuírem documentação. Como exemplo,
pode-se perceber o ocorrido na favela da Maré, no Rio de Janeiro, onde são
estabelecidos projetos que viabilizam a retirada da 2a via de documentos de
graça, assim centenas de indivíduos buscam essas campanhas, pois não
possuem condição financeira para a formação desses registros.

Em suma, nota-se o quanto é indispensável o cuidado governamental em


fiscalizar e auxiliar o processo de retirada de documentação, principalmente, para
os nichos mais carentes da sociedade atual, já que os dados de pessoas não
registradas é exacerbado em decorrência da falta de conhecimento popular e do
descaso estatal em criar mais modos de tornar acessível ao público o
recolhimento desses registros.
15

Capítulo III

3.1 Trabalho Informal

O trabalho informal é caracterizado como toda atividade realizada sem qualquer


vínculo empregatício ou registro formal. Esse tipo de atividade tem crescido muito
no país nos últimos anos, segundo dados do IBGE, cerca de 12% dos
trabalhadores ativos do Brasil não possuem carteira assinada, e outros 20% são
considerados autônomos. Alguns exemplos de trabalhos que se encaixam na
categoria informal são:

● Camelôs, vendedores ambulantes.

● Catadores de material reciclável, profissão reconhecida em 2002, tratam-


se daqueles que catam, selecionam e vendem materiais recicláveis.

● Feirantes, profissionais responsáveis por trabalhar em feiras livres


comercializando produtos alimentícios e afins.

● Motoristas de aplicativo, profissional autônomo, que trabalha com carro


próprio ou alugado transportando passageiros para empresas.

● Trabalhadores autônomos, profissional que exerce sua atividade


profissional sem qualquer vínculo empregatício, por conta própria, sendo
essa a prestação de serviço ocasional e não habitual.
16

Trabalhadores informais no Brasil fazem parte de nosso dia a dia, eles são os
ambulantes nas ruas, praças e praias, os feirantes e os motoristas de aplicativos.
No entanto, esses cidadãos que são muitas vezes essenciais no decorrer de
nossas rotinas não possuem carteira de trabalho assinada, já que não têm o
devido acesso aos registros civis. Em 2020 esse número de informais e
autônomos chegou a 41,1%, o que totaliza cerca de 37 milhões de pessoas.

Brasil Escola, 2021.

Dessa forma, a informalidade do trabalho permite que o trabalhador seja seu


próprio chefe, de forma que o mesmo possa flexibilizar seu horário de trabalho,
obter sua renda de forma direta e imediata além da redução burocrática quando
comparada ao trabalho de carteira assinada. Porém, essa informalidade também
possui malefícios, uma vez que o autônomo não possui qualquer tipo de auxílio
em caso de doença, gravidez ou acidentes, além de não receber décimo terceiro,
acesso a planos de saúde e a suas férias não são remuneradas.

Portanto, ao optar pela informalidade o trabalhador deve estar atento aos


malefícios da falta de documentação perante o governo, já que o trabalho
informal não é desprovido de riscos, além de não possuir a estabilidade e
benefícios que a carteira assinada carrega.

3.2 Direitos da Carteira Assinada


17

Atualmente no Brasil, o trabalho com carteira assinada trata-se de um grande


diferencial no dia a dia do trabalhador uma vez que a mesma garante ao
empregado diversos benefícios, além de uma garantia de estabilidade e do
cumprimento de seus direitos trabalhistas por parte dos empregadores.

Carbonera & Tomazini, 30/08/2018.

Segundo a Constituição Federal e a CLT, os trabalhadores do Brasil têm seus


direitos garantidos e protegidos por lei, que são reforçadas pelos sindicatos em
caso de qualquer injustiça sofrida pelos mesmos. Alguns dos direitos aos quais os
trabalhadores são intitulados são:

● FGTS, fundo de garantia do tempo de serviço.

● Décimo terceiro, um salário extra pago em duas parcelas ao final do ano.

● Férias remuneradas, tempo de descanso de trinta dias anuais, que é


concedido após um ano de trabalho.

● Hora extra, todo tempo de trabalho além das quarenta e quatro horas
semanais permitidas por lei devem ser pagas, porém essas horas extras
não podem exceder duas horas a mais diárias.
18

● Aviso prévio, onde a demissão deve possuir trinta dias de remuneração


antes de sua efetivação, caso contrário o empregador deve indenizar o
trabalhador com um salário.

● Licença maternidade ou paternidade, onde os funcionários que tiveram


filhos têm o direito de até quatro meses de afastamento remunerados.
Dessa forma, a posse da carteira de trabalho é algo indispensável para todos
os trabalhadores brasileiros de forma que a mesma os garantem direitos básicos
cuja importância é essencial para uma boa experiência e vínculo empregatício.

3.3 Aquisição da Carteira de Trabalho e Conclusões Gerais

O processo pelo qual a carteira de trabalho é adquirida no Brasil, é extenso e


exige muitos documentos como CPF, comprovante de residência e certidão de
nascimento ou qualquer outro documento de identificação original. Para grande
parte da população esses documentos são triviais, já que os mesmos não tiveram
dificuldade alguma para adquiri-los com a ajuda de pais ou responsáveis ao longo
de suas vidas, porém há uma parte populacional cuja situação é tão precária que
a posse desses documentos e muitas vezes algo impensável, ou extremamente
difícil de se adquirir. Outrossim, após o dia 23 de Setembro de 2019, a CTPS
digital passa a ser equivalente a CTPS física por meio do Decreto-Lei nº
5.452/1943 além de que segundo ao Art. 7º, A Carteira de Trabalho em meio
físico poderá ser utilizada, em caráter excepcional, enquanto o empregador não
for obrigado ao uso do eSocial.

Por essa razão, mesmo que o processo de obtenção da carteira de trabalho


seja completamente gratuito, a população menos desfavorecida da sociedade
não possuiria condições de assegurar a obtenção da CTPS sem a documentação
necessária. Ademais, o acesso às localidades geradoras desses documentos não
são democratizadas, e os meios de obtenção digitais dessa documentação não
são acessíveis à população mais carente do país.
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Desse modo a obtenção desse documento extremamente importante acaba


sendo complicada para um parte da população que acaba sendo invisível aos
olhos do governo além de terem seus problemas, condições e necessidades
desconhecidas durante suas vidas, além de não terem o reconhecimento de seus
direitos garantidos por leis, o que acabam tornando-os mais sucessíveis a
abusos, descasos e exploração.

Capítulo IV

4.1 Função e organização dos cartórios

Os cartórios são zonas públicas ou privadas que detém o controle de


documentos como o registro de nascimentos. Dessa maneira, de acordo com a
Lei Federal n. 9.534 essas instituições tem por finalidade “garantir a publicidade,
autenticidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos.” (BRASIL,1997).

Sendo assim, percebe-se que essas instituições são cruciais para assegurar a
cidadania civil, visto que garantem os direitos básicos à vida e dignidade, pois
sabe-se que existem diversos tipos de cartórios, são eles:

● Cartório de Registro Civil – atos relacionados a pessoas naturais, tutelas e


interdições.

● Cartório de Notas – Reconhece assinaturas e lavra documentos.

● Cartório de Registro de Imóveis- Relacionado aos bens de imóveis e suas


assinaturas.

● Cartório de Registro de Títulos e Documentos – Tem a finalidade de


registrar documentos no geral.
20

● Cartório de Protesto de Títulos – fiscaliza as dívidas de pessoas físicas e


jurídicas.

● Cartório de Registro de Pessoas jurídicas – Reconhece atos ligados a


sociedades, fundações, partidos, jornais e etc.

● Cartório de Distribuição – É o responsável pela organização quando


envolve vários cartórios.

Nessa perspectiva, percebe-se que todos apresentam sua devida relevância e


estabelecem uma relação de direito e dever do indivíduo. Destacando o Cartório
do Registro Civil que é o responsável pelo atrelamento direto entre documentação
e cidadania, pois é esse o instituto incumbido de gerar as certidões que
posteriormente irão ocasionar na acessibilidade aos direitos básicos.

Desse modo, entende-se que o cartório é uma pessoa jurídica de Direito Privado
que realiza trabalhos para o serviço público com o objetivo de criar títulos oficiais
como certidão de nascimento, tornando o indivíduo apto aos direitos de cidadão
brasileiro.

Paralelamente, de acordo com o presidente da Associação Nacional dos


Registradores de Pessoas Naturais (Arpen), Gustavo Renato, “os cartórios
brasileiros comprovam seu compromisso de zelar pelos direitos e pela cidadania
da população de nosso país”. Com isso, pode-se notar a importância e a
funcionalidade desses institutos em todo o território nacional.

4.2 falta de investimento em locais precários

Assim, pode-se analisar a necessidade de investir nessas regiões carentes, já


que esses fatores são indispensáveis para a integridade pública.
Sob essa ótica, nota-se que, infelizmente, nas regiões mais fragilizadas do país
essas aplicações de capital não ocorrem efetivamente, impedindo o crescimento
de uma sociedade brasileira mais igualitária.
21

Dessa forma, posto que nas áreas mais carentes do Brasil os investimentos são
mais escassos ocorre um problema social notável, de modo que esses indivíduos
não têm o acesso correto à cidadania pois não possuem facilidade para retirar
seus registros civis. Por conseguinte, a ausência de uma relação justa entre
igualdade de investimento públicos em regiões carentes e a efetivação do
processo de documentação aumenta os dados alarmantes de indivíduos não
registrados.

Segundo dados estatísticos do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e


Estatística) 2.37% dos nascimentos no Brasil não são registrados, assim essas
pessoas ficam invisíveis diante das leis do país. Como consequência, os direitos
das pessoas ficam impossibilitados pela falta de investimento em cartórios por
todo o país, restringindo a ingressão dos indivíduos em sua busca pela cidadania.
Sendo assim, a aplicação econômica em registradores de locais precários está
estreitamente ligada à admissão dos direitos básicos.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2014

Nesse ínterim, de acordo com o gráfico do IBGE (Instituto Brasileiro de


Geografia e Estatística) acima, o número de pessoas registradas está
aumentando substancialmente na última década. Entretanto, é válido ressaltar
que um valor alto de indivíduos ainda não possui a documentação correta.
Isso pode ser relacionado, entre vários fatores, à ineficiência dos cartórios em
determinadas regiões.
22

Outro empecilho vislumbrado é a distância entre os registradores em zonas


isoladas do país, de forma que o caminho efetuado para a formulação dos
documentos torna-se inviável para essa classe social. Dessa maneira, é
imprescindível que formas sejam criadas para atenuar esse trajeto, para que
meios de transporte sejam viabilizados ou a construção de mais zonas de
cartórios em áreas afastadas existam efetivamente.
4.3 Efeitos da ineficiência de cartórios

Portanto, pode-se concluir que infelizmente a atuação dos cartórios não é


totalmente eficaz. Sendo essa instituição a responsável pela a expedição de
registros imprescindíveis para o acesso à cidadania, não é politicamente viável a
ineficiência dessa organização.

É cabível assimilar que os indivíduos não registrados advém, primordialmente,


de zonas desfavorecidas, ou seja, a localidade que mais necessita de
investimentos é a mais desconsiderada em virtude de sua posição econômica.

Sob essa perspectiva, é crucial o entendimento governamental e público acerca


dessa questão documental nos cartórios, visto que esse dilema afeta a população
e o desenvolvimento de todo o país em diversos âmbitos, tanto éticos quanto
políticos.

Logo, o poder estatal não deve ser negligente com essa causa pois seus
investimentos são essenciais para tornar acessível e conhecido por todos a
indispensabilidade de buscar seus registros civis e consequentemente seu direito
de cidadão. Por conseguinte, o entendimento público, fornecido pelos
registradores, em assimilar seus documentos como algo primordial constitui uma
sociedade que compreende seus direitos e deveres, ou seja, o conhecimento
acerca dos registros civis é importante para a ideia de cidadania tanto coletiva
quanto individual. Assim sendo, sob a ótica do pensador John Locke é dever do
Estado garantir o bem-estar social, de modo que o investimento em cartórios
23

assegure o direito à cidadania para todos os nichos aplicando o ideal defendido


pelo filósofo.

Entretanto, em meio a tantos empecilhos para o acesso a todos, o governo tem


buscado maneiras digitais para facilitar o contato popular aos cartórios. Com as
mudanças sofridas pela pandemia da Covid-19 novos métodos alternativos foram
considerados, entre eles a criação do acesso a esses registros por formulações
on-line. Por exemplo no site “registro civil” que possibilita a efetivação de
atividades como:

 Pedidos de segunda via dos documentos de: nascimento, casamento e


óbito.

● Prestação de serviços: localizar certidão e localizar cartórios.

● Outras atividades: validar certidão digital, verificar status do pedido de CPF


e pedidos de procuração RFB.

● Páginas informativas: portal de transparência, blog de Registro Civil e


valores de certidão.

Dessa forma, nota-se que o Estado está buscando soluções alternativas para
criar uma proximidade mais prática aos cartórios. Todavia, é necessário ressaltar
que, infelizmente, nem toda a população do país apresenta o devido acesso à
internet. Portanto, embora novas alternativas estejam sendo criadas é crucial a
tentativa de sempre analisar outras formas de introduzir as formas de
conhecimento para todas as regiões e classes no Brasil.

Conclui-se que a aplicação de capital nesse ramo é fundamental para a


acessibilidade de todos os brasileiros ao registro civil, proporcionando a ingressão
à cidadania e aos direitos básicos como a carteira de trabalho e a certidão de
nascimento. Estabelecendo a relação ideal entre meios tecnológicos como o site
24

“registro civil”, entre as condições de documentação para mães em todas as


áreas, além de, inclusive, características de trabalho melhor. Tudo isso em
decorrência da boa condução dos cartórios no território brasileiro.

CAPÍTULO V

5.1. Efeitos históricos na falta de registros

No ano de 1874, foi criado o primeiro decreto número 5.604 que visava
normalizar de forma formal e generalizada as atividades dos cartórios de registro
civil no Brasil, com mais dificuldade nas áreas rurais sob o controle da igreja,
onde antes, a instituição tinha a atribuição desse documento. Porém, logo em
seguida, foi criado 1889 o decreto de lei número 9.886, essa lei instituiu a
obrigatoriedade do registro de nascimento, casamento e óbito em serventias
cartorárias do Estado.

Após a lei obrigatória cartorária a retirada da documentação tinha um custo.


Partindo desse ponto, a pobreza era um dos principais fatores para a falta de
registro. Ao passar dos anos, esse custo foi removido de algumas
documentações pensando em beneficiar e estruturar, de forma ordenada, esses
registros em prol de auxiliar regiões precárias, como por exemplo o Norte e o
Nordeste. Como forma de denunciar essa situação, temos alguns autores que
utilizaram a sua obra para mostrar as condições que esses indivíduos vivem.
Como exemplo, temos a obra Vidas Secas de Graciliano Ramos, que mostra a
dificuldade na vida do sertão, com desigualdade social, lutas de classe, fome e
miséria. Outro exemplo bom a ser citado é a obra regionalista, O Quinze, da
autora Rachel de Queiroz, esse romance enfatiza muito bem o problema nos
25

quais as pessoas com baixa renda e que vivem no sertão estão sofrendo
mostrando a realidade local, a fome e a miséria.

ADPERJ, 2018

Atualmente, podemos perceber que é um problema que persiste nos dias de


hoje e não é de agora, e sim, de muitos anos. Os romances citados fazem críticas
a situação de miséria que a população do sertão vem sofrendo e, que sem
dúvidas, está diretamente relacionada ao sub-registro nessas áreas, pois, como
muitos não possuem documentos, não possuem condições básicas de vida, sem
ter acesso à carteira assinada e seus direitos, à saúde pública, luz, água tratada,
pois por não possuírem registro não existem para o governo, logo não são
enviados sistemas simples para se ter condições básicas de vida.

Portanto, é notório que a pobreza e o sub-registro andam de mãos dadas, o que


infelizmente ainda existe no Brasil uma boa taxa de analfabetismo que ainda é
percebida no país, devido à falta de documentos que impede crianças e jovens de
se matricularem nas escolas, mesmo com várias organizações governamentais e
não governamentais, que dispõem variados projetos e ações sociais em regiões e
comunidades mais carentes que visam identificar e reintegrar esta pequena e
expressiva parcela de pessoas “invisíveis”.

5.2. Crianças e jovens não registrados

Como já citado, a certidão é o primeiro documento que comprova sua


existência. Sem ele, as crianças não conseguem ser vacinadas tampouco
matriculadas nas escolas, sendo completamente “invisíveis” aos olhos do Estado,
26

perdendo seus direitos governamentais, dificultando também para o próprio


governo o planejamento e execução de políticas públicas.

De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística,


houve um aumento no número de crianças sem registro no ano de 2015.
Segundo esses valores, os estados mais alarmantes que apresentaram aumentos
maiores da falta de documentação, foram o Paraná obtendo 1.613 em 2010 e
12.575 crianças em 2015 e o Alagoas tendo 4.561 crianças em 2010 e 14.472 em
2015.

Para que possa ter uma melhora nessa situação, o Governo Federal
implementou duas medidas. A primeira foi a via Provimento 13 do CNJ, que
possibilitou a emissão da certidão de nascimento nos estabelecimentos de saúde
que realizam partos conectando-os virtualmente aos cartórios locais.

A segunda medida tomada foi o Provimento 38 do Conselho Nacional de Justiça,


que institui a Central de Informações de Registro Civil, sistema que interliga os
cartórios de registro civil do país, a realizar a emissão rápida da certidão de
nascimento nos hospitais. Demonstrando possibilidades de auxílio da tecnologia
dentro do meio das documentações.

Por conseguinte é válido destacar que as crianças não possuem discernimento


para retirar seus próprios registros sendo os seus responsáveis, incumbidos por
isso. Além do provimento 13 e o provimento 38, a juíza Raquel Chrispino da Vara
da Família de São João de Meriti criou um projeto para estimular mães a
registrarem seus filhos, logo após o nascimento na maternidade e incentivar o
reconhecimento voluntário da paternidade. Ademais como forma de ajudar os
municípios com menor IDH, os quais consequentemente possuem maior índice
de pessoas sem registro, o projeto tem o objetivo de aumentar o acesso ao
registro civil, à documentação básica, ajudando também os juízes nos casos de
registros tardios de adultos, em que é preciso investigar mais a fundo a origem do
cidadão.

Além disso, dois fatores mencionados como a problemática no sub-registro pelo


Juiz auxiliar da corregedoria do CNJ, Ricardo Chimenti, foi a falta de informações,
27

pois muitas pessoas não sabem que a certidão de nascimento é gratuita. E os


movimentos migratórios que, por sua vez, a criança nasce em uma localidade,
mas a família vive em outra região. O problema o qual o Estado do Rio de Janeiro
vem enfrentando, nos casos de pessoas que migraram dos estados do Norte e do
Nordeste e perderam os seus documentos, pois na hora de retirar a segunda via
é difícil porque os cartórios não possuem arquivos digitalizados, onde se passam
anos e a pessoa que o perdeu muitas vezes não sabe onde foi registrada.

Florence Bauer, representante do Fundo das Nações Unidas para a Infância no


Brasil relata que tivemos um avanço ao efetivar a documentação básica dos
cidadãos, onde atualmente cerca de 2 a 3% não são registradas ao nascerem,
um número que é aceitável internacionalmente. Vale ressaltar que esse registro é
um documento básico para um cidadão ter acesso a saúde, educação, vacina,
cesta básica, entre vários outros.

5.3. Geração invisível

Com a falta do registro civil, não é possível adquirir documentos como carteira
de identidade, CPF, título de eleitor, carteira de trabalho, entre outros. Pois o
registro civil é o documento base que precisamos dispor.

O sub-registro atinge populações vulneráveis, como indígenas, quilombolas e


indivíduos em situação de rua. Consequentemente, essas pessoas não poderão
ser incluídas em programas sócio governamentais e não receberão nenhum
benefício como aposentadoria e pensão.

O Imparcial, 2021
28

A falta de documentação não afeta apenas o indivíduo negativamente. Essa


ausência de registro interfere em estatísticas que são baseadas no registro civil.
O IBGE, em seu levantamento de 16 de dezembro de 2002, estima que, nas
regiões Norte e Nordeste, 48,2% e 35,6% dos nascimentos não foram registrados
em 2000. O sub-registro de morte tem proporções semelhantes, 33,2% para o
Norte e 42,7% para o Nordeste. Além do que, isso afeta diretamente nos
programas sociais feito pelo governo, pois como muitos não possuem registro é
notório que há dificuldade em contabilizar os habitantes, com essa situação o
governo não consegue abranger toda a população, aumentando a margem da
pobreza.

O sub-registro é uma parte triste da nossa história, é onde a falta de informação


e a pobreza se unem. Sem o registro o indivíduo perde todos os seus direitos
como cidadão e não pode ter uma carteira de trabalho, sobrevivendo apenas de
trabalhos extras, ficando muito difícil se manter no mês.

Como forma de ajudar a melhorar esse índice alto de sub-registros, o Governo


Federal vem implementando decretos e movimentando campanhas. O mais
recente decreto criado foi o de número 10.063/2019, com objetivo de ajudar as
regiões mais carentes, pela Erradicação do Sub-registro Civil de Nascimento e
Ampliação do acesso à documentação básica, como a região Norte, Nordeste e
Centro-Oeste com um maior número de não documentados.

Ademais, conclui-se que a pessoa não identificada sofre consequências


ilimitadas perante aos direitos que a constituição confere ao cidadão, pois a partir
do registro civil, dá-se a uma sequência de documentos que primordialmente é
iniciada na certidão de nascimento, propicia aquele recém nato a suas garantias
civis que durante a sua existência adquire carteira de identidade, cadastro de
pessoa física, carteira de trabalho, título eleitoral e outras certificações diversas.

O ser humano, em sua sociedade, cria leis e regras independente da sua


ideologia política social e religiosa em que vive. Outra consequência que sofre por
não possuir seus documentos, porque sem ele, a pessoa não poderá reclamar
29

das suas posses e pedir pelos seus direitos, pois na própria lei ela não existe por
falta de documentação.

Capítulo VI

6.1 Importância tecnológica atual

O meio digital se tornou um grande aliado das pessoas que têm o privilégio de
usufruí-lo, pois essa criação proporciona várias facilidades para a vida da
sociedade, desde entretenimento até mesmo o cumprimento de obrigações como
cidadãos. Analogamente, por meio da internet conseguimos acessar um número
diverso de informações e oportunidades, por conseguinte, as pessoas se
tornaram mais antenadas e aptas para debaterem sobre diferentes assuntos em
uma conversa.
30

Publicado em 16/01/2019 em Cantinho do Professor

Atualmente, com democratização ao acesso nas redes sociais, que antes eram
apenas vistas como um meio de entretenimento e diversão, hoje ganham força
para protestos, coberturas de conflitos, guerras, política, assuntos polêmicos,
conflitos étnicos, manifestações e informações de todo tipo. Outrossim, a
proporção da internet é tanta que o governo começou a usá-la a favor da
sociedade, com o objetivo de trazer facilidade e comodidade pros cidadãos e
acabar com as filas extensas. Sob esse viés, o site oficial do governo, criado em
2019, possui em um só lugar todos os mais de três mil serviços que estão
disponíveis para o cidadão ter no seu aparelho eletrônico. Isso representa 70%
dos 4,5 mil serviços oferecidos, a plataforma atende mais de 110 milhões de
brasileiros já cadastrados. Nesse sentido, o Secretário Especial de Modernização
do Estado da Secretaria-Geral da Presidência da República, Eduardo Gomes,
ressaltou que “O Governo Brasileiro atua de forma decisiva na modernização dos
serviços prestados aos brasileiros ao mesmo tempo em que busca colocar o
Brasil em posição de destaque no mundo, e o gov.br é uma das provas desse
avanço. O ritmo de mudanças é continuado e perene, gerando transparência,
eficiência no serviço público e desenvolvimento econômico e social a todos os
cidadãos".

Nesse sentido, além do site do governo ter adotado uma série de serviços de
forma de digital, como o alistamento militar obrigatório e a emissão do título de
eleitor, os cartórios não obrigam mais que você se desloque até sua instituição
para reconhecer firma, na atualidade é possível que faça esse serviço de forma
remota por vídeo chamada com o tabelião pela internet, o serviço tem o mesmo
31

preço que o cobrado presencialmente, criado exclusivamente para facilitar o


cidadão e os funcionários do cartório.

Além disso, pode-se validar que outro grande aliado da sociedade é o site do
registro civil, no qual se tem acesso a múltiplos serviços, como: validar certidões
digitais, ver o status do seu pedido de CPF, localizar certidões, encontrar cartórios
e pedir a segunda via de certidões de nascimento,casamento e óbito. Segundo o
site registrocivil.org.br “ essas certidões são emitidas em dois formatos: digital e
impressa. Caso escolha digital, essa certidão ficará disponível em no site para
download em formato de arquivo PDF. Caso prefira uma certidão impressa, a
certidão será enviada via Correios (carta registrada ou Sedex),ou poderá ser
retirada em um cartório de sua escolha (será cobrada uma taxa de
materialização)”, seguindo essa ótica, atualmente existem a maior parte dos
serviços de forma online e quem não possui acesso fica prejudicado por não ter
informações de como, por exemplo, ter a segunda via de um registro civil seu.

Registro Civil - Portal Oficial Site Oficial do Governo - gov.br


Entretanto, é válido destacar que juntamente com o avanço tecnológico, a
exclusão digital vem ganhando destaque nos últimos anos, isso significa que
muitas pessoas ainda não têm acesso ao meio digital, nem a uma série de
informações e serviços disponíveis de forma online, resultando em uma
desintegração social. Dessa forma, mesmo os facilitadores digitais ajudando uma
parte da população, a outra, que é minoria, acaba sendo esquecida e ficando sem
solução para recorrer aos seus direitos. Segundo o site do governo, até o fim de
2022, o Governo Federal almeja disponibilizar em meios digitais 100% dos seus
serviços no site, mas para que isso possa ser realidade é necessário que
impeçam a continuidade da exclusão digital.
32

6.2 Desdobramentos da exclusão digital

O afastamento eletrônico é uma forma de miséria e exclusão social ao abster


uma parte da população de meios imprescindíveis para se desenvolver e se
informar. Sob essa ótica, as causas podem ir desde o alto custo-benefício dos
aparelhos digitais à carência de sabedoria sobre seu uso ou ao escassez de
infraestruturas proporcionadas pelo governo para seu acesso, e além disso, as
pessoas que vivem em locais muito isolados acabam não tendo sinal de rede
para incluir-se tecnologicamente. Dessa forma, as pessoas desprovidas de
conexão com os artifícios técnicos se tornam prejudicadas socialmente em
relação a quem possui a acessibilidade digital, isso foi visto nitidamente na
pandemia do coronavírus no ano de 2020, na qual tudo se tornou online e as
pessoas sem possibilidade de ingressar se afetaram desde alunos na educação à
adultos perdendo seus trabalhos.

Fonte: IBGE, levantamento feio no 4° trimestre de 2019

Dessa forma, é válido destacar que existem três tipos de exclusão digital, são
eles:

● Exclusão de acesso

● Exclusão de uso

● Exclusão de qualidade de uso

A exclusão de acesso que se refere a capacidade que as pessoas possuem de


usar este recurso mas são impossibilitadas pela falta de verba, a exclusão de uso
33

que faz referência à ausência de conhecimento para usar o meio digital que
impede o acesso da tecnologia, e a exclusão de qualidade de uso que existe as o
conhecimento digitais para manejar a Internet, mas não o suficiente para fazer um
uso mais aprofundado e conseguir melhores informações.

Na pandemia da covid-19, o governo brasiliero disponibilizou um auxílio


emergencial para as famílias necessitadas e muitas pessoas de classe
econômica baixa não conseguiram ter acesso ao benefício por conta da falta de
internet e pela carência do registro civil. De acordo com o site Brasil “Segundo o
estudo, 20% dos entrevistados, que compõem a faixa mais pobre da população,
não tinham o celular para pedir o benefício, enquanto outros 22% alegaram falta
de acesso à internet. O levantamento usou como base o painel TIC Covid-19 do
Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da
Informação (Cetic.br)”. Esses chamados excluídos digitais deixaram de se
beneficiar com parcelas de R$600 ou R$1200 durante a pandemia.
Assim, pode-se ressaltar que essa exclusão causa consequências, como: a
incomunicação e isolamento dos habitantes de áreas remotas onde a Internet não
chega, embarreirar o estudo e o conhecimento dos estudantes e professores,
diminuição das buscas por um emprego de qualidade, o que influenciam de
maneira negativa na economia dos trabalhadores.

Outrossim, de acordo com a Constituição Federal, o artigo 5° assegura aos


cidadãos o direito fundamental da liberdade de informação, por conseguinte essa
minoria precisa receber seus direitos para que seja possível um maior avanço
social e tecnológico.

6.3 Meios para alcançar a inclusão

A exclusão digital no Brasil vem diminuindo conforme os anos estão passando,


os números dos incluídos digitalmente vem crescendo mas ainda é pequeno em
comparação às necessidades e do grande papel que a internet vem tendo nos
últimos tempos. De maneira geral, os excluídos ficam concentrados na parte dos
estados mais precários. Alcançar a inclusão digital não se resume apenas a dar
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um celular e uma conexão de internet a cada cidadão, os componentes não-


tecnológicos da problemática (direitos civis, informações , conhecimento e
educação) são tão ou mais importantes quanto os componentes tecnológicos
(equipamentos, conectividade). Para essa exclusão não acontecer é necessário
que as pessoas tenham três instrumentos básicos, a internet, o aparelho digital e
conhecimento de como usar os meios digitais.

Por outra ótica, a desigualdade econômica é , indubitavelmente, um pilar


decisivo para a exclusão digital no Brasil quando comparado com os outros
países, pelo fato do preço do produto eletrônico , que é importado , ser em muitas
das vezes o dobro do valor no país em comparação com os países que são o
centro produtivo dos celulares, computadores e tablets. Sendo assim, como no
Brasil tem muitos cidadãos sem registro e usando do trabalho informal, que na
maioria das vezes não tem um bom salário, o valor cobrado pelos aparelhos é
inacessível para algumas pessoas. Analogamente, o governo deve conscientizar
as empresas de criarem um aparelho de qualidade e com custo-benefício
acessível, por conta da importância tecnológica nos dias de hoje e de como para
uma parte populacional é quase impossível comprar um aparelho, com o objetivo
de se incluírem tecnologicamente na sociedade.

Publicado em 11/06/2016 no site SOBLEC

Em suma, para o país alcançar a inclusão digital é preciso apoio governamental


em disponibilizar locais em áreas carentes com acesso a internet e a um aparelho
digital. Além disso, é de grande importância que o Ministério da Ciência,
Tecnologia e Inovação crie projetos para a ampliação das redes em áreas que o
sinal da internet não chega . Outrossim, o Ministério da educação deixa a desejar
35

no letramento digital que é de extrema importância atualmente e que seria capaz


ensinar as pessoas sobre os conhecimentos básicos para se incluir digitalmente.
Assim, a exclusão digital diminuiria drasticamente no Brasil possibilitando a
acessibilidade ao registro civil a civilização brasileira.

Conclusão

Sendo assim, o objetivo dessa atividade infere-se em elucidar os entendimentos


a respeito da problemática dos registros civis no Brasil, assim como sua relação
com as funções tecnológicas. Desse modo, foi produzida uma explicação
contextualizada nesse âmbito baseada em informações comprovadas.

Portanto, pode-se compreender a importância do entendimento dos direitos e


deveres dentro da população, da mesma forma como se deve ser atentado para
as minorias sociais. Analogamente, a compreensão da forma como essa
documentação pode auxiliar o meio trabalhístico influencia o mercado de trabalho
36

e a profissionalização e especialização dos indivíduos no país, além da maneira


como a nova geração poderá ser melhor atendida em todos os sentidos dentro do
viés de registro civil.

Similarmente, com o melhoramento dos cartórios, a percepção popular acerca


da facilidade de receber sua documentação irá possibilitar a melhora nos quadros
estatísticos de casos de pessoas não registradas, haja vista que sua
acessibilidade é um fator preponderante para a resolução dessa problemática.
Em conformidade, a disponibilidade de informações tecnológicas nesse meio
auxilia a retirada de documentação para as pessoas que têm essa possibilidade,
ressaltando também a necessidade de estabelecer outros métodos, dado que
nem toda a população tem recursos financeiros para tal procedimento.

Desse modo, é incontestável a indispensabilidade dos registros civis para os


indivíduos brasileiros, sendo crucial a elucidação das problemáticas retratadas
nesse trabalho. Com isso, será possível levar a ideia de cidadania para todos os
nichos sociais dentro de um país tão diversificado como o Brasil.

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