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Transtornos Ansiosos

➔ O que é?

● Os transtornos de ansiedade configuram um dos transtornos psiquiátricos mais


comuns e provocam grande demanda nos serviços de saúde.
● A ansiedade é um estado de humor desconfortável, um sentimento de defesa, que
alerta o indivíduo quanto à possibilidade de um perigo ou ameaça iminente ou de
algo desconhecido.
● O medo é também um sinal de alerta, mas é definido como uma resposta a uma
ameaça conhecida.

➔ Quais os tipos?

1. Tag (transtorno de ansiedade generalizada)

● É provavelmente o transtorno de ansiedade mais comum entre as pessoas que


procuram um serviço de atenção primária. Consiste em uma preocupação excessiva
e abrangente, acompanhada por uma variedade de sintomas somáticos, que causa
comprometimento significativo no funcionamento sócio-ocupacional ou acentuado
sofrimento.
● Não ocorre exclusivamente, nem mesmo de modo preferencial, em uma
determinada situação, a ansiedade tem caráter “flutuante”.
● Neurotransmissores serotoninérgicos e gabaérgicos parecem estar envolvidos.
● O transtorno de ansiedade generalizada (TAG) ocorre quando a preocupação
excessiva com questões cotidianas é a característica central. Assim, após a
caracterização da presença de preocupações ou apreensão excessivas, também
deve-se caracterizar o contexto em que isso ocorre.
● A preocupação pode estar restrita a temas específicos, como obsessões no
transtorno obsessivo-compulsivo, à possibilidade de ocorrência de ataques de pânico
no transtorno de pânico, ao medo de ter uma doença grave na hipocondria, a um
possível defeito na aparência na anorexia, na bulimia nervosa ou no transtorno
dismórfico corporal.
● Ou seja, no TAG, a preocupação toma vários aspectos da vida da pessoa como
saúde, filhos, futuro, questões financeiras, trabalho, entre outras.
2. Transtorno do pânico

● O transtorno do pânico se caracteriza pela ocorrência espontânea, inesperada de


ataques de pânico, de forma recorrente.
● Os ataques de pânico são ataques agudos e graves de ansiedade, de curta duração, e
seus sintomas podem ser confundidos com outras condições clínicas. Por este
motivo, os pacientes frequentemente procuram serviços de emergência clínica.
● O transtorno do pânico costuma ser acompanhado por agorafobia, isto é, medo de
estar sozinho em locais públicos – especialmente aqueles onde sair possa ser difícil
ou o auxílio pode não estar disponível, caso sobreviva um ataque de pânico.
● O primeiro ataque de pânico, na maioria das vezes, ocorre de forma completamente
espontânea. No entanto, pode ter início após exercício físico, trauma emocional,
atividade sexual, ou uso de substâncias, como cafeína, álcool e outras.
● Frequentemente, tem duração de aproximadamente vinte a trinta minutos, com
rápida progressão dos sintomas, atingindo o máximo de sua intensidade em dez
minutos.
● Os sintomas psíquicos principais são: extremo medo e sensação de morte e
catástrofe iminentes; medo de enlouquecer ou perder o controle, desrealização e
despersonalização.
● Os sintomas físicos incluem palpitações, sudorese, tremores, boca seca, calafrios ou
sensações de calor, sensação de falta de ar ou de asfixia, dor ou desconforto torácico,
náusea ou dor abdominal, tontura e parestesias.
● O paciente abandona qualquer atividade que esteja fazendo para procurar ajuda.

3. Fobias (Social e Específica)

😱 Fobia: medo irracional que provoca ansiedade antecipatória e comportamento


consciente de esquiva do objeto, atividade ou situação específica temida. Pode acarretar
prejuízo na capacidade funcional do indivíduo, que reconhece sua reação como sendo
excessiva.

Fobia social: medo excessivo de humilhação ou embaraço em vários contextos


sociais – falar ou escrever em público, por exemplo. Pode ser circunscrita, isto é,
ligada ao desempenho de uma situação determinada, como comer ou escrever em
público; ou generalizada, quando os temores incluem a maioria das situações.
Fobia específica: medo acentuado e persistente de objetos claramente discerníveis
ou situações isoladas. Pode ser classificada em diversos tipos, segundo a situação
fóbica.

Pode haver associação com outros transtornos ansiosos, transtorno depressivo maior e
transtorno relacionado a substâncias, particularmente por uso de álcool.

4. Transtorno De Estresse Pós-Traumático (TEPT)

● Desenvolve-se após experiência de uma situação estressante de ordem física ou


emocional de magnitude suficientemente traumática para qualquer pessoa (por
exemplo: guerras, torturas, estupro, acidentes, catástrofes naturais).
● O indivíduo passa a reviver a situação traumática através de sonhos ou flashbacks
(pensamentos durante a vigília), associados à evitação persistente de situações que
relembrem o trauma, dificuldades cognitivas, sintomas ansiosos e depressivos.
● O paciente pode apresentar sentimentos de culpa, rejeição e humilhação;
comprometimento da memória e atenção, revivência dolorosa do evento traumático,
comportamento esquivo ou agressivo. Pode haver ideação suicida.
● O diagnóstico diferencial deve incluir epilepsia, transtorno por uso de substâncias,
outros transtornos ansiosos e transtornos de humor. O curso é flutuante e pode
haver recuperação completa.
● O início rápido dos sintomas, bom funcionamento pré-mórbido e presença de
suporte social e familiar são indícios de bom prognóstico.
● O tratamento baseia-se no uso de antidepressivos e psicoterapia.

5. Transtorno Obsessivo-Compulsivo

● O Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) é caracterizado pela existência de


pensamentos obsessivos e comportamentos compulsivos.
● Os pensamentos obsessivos são ideias, sentimentos ou imagens intrusivos, ou seja,
que invadem o pensamento da pessoa de forma repetida e contra a sua vontade.
Estes trazem muita ansiedade e a realização dos atos compulsivos diminui.
● As compulsões são comportamentos repetitivos ou atos mentais estereotipados, que
têm como objetivo aliviar os pensamentos obsessivos.
ANSIEDADE

➔ O que é?

● Expressão inadequada do medo


● O estado de ansiedade corresponde ao acionamento do SNAS, associado a uma
variedade de respostas do sistema cognitivo, motor e neuroendócrino
● Características: emoções negativas, reflexos autônomos, comportamento defensivo,
vigilância e secreção de mineralocorticóides, sem que haja estímulo externo
● A ansiedade é caracterizada por um sentimento vago, difuso e desagradável de
apreensão, que pode ser experimentado das mais diversas maneiras por cada
indivíduo.
➔ Epidemiologia

● Além de confirmar a alta prevalência dos transtornos de ansiedade na população


brasileira, dados de estudos similares revelaram a sua comorbidade com
depressão.
● No Estudo sobre violência em São Paulo e Rio de Janeiro, a prevalência-ano de
transtornos de ansiedade foi de 12,9%, sendo que 24,9% dos casos de ansiedade
também apresentou comorbidade com transtornos depressivos.
● No ELSA, por sua vez, o transtorno de ansiedade mais frequente foi o transtornos de
ansiedade generalizada, cuja prevalência-ponto variou entre 9,9% a 10,2%.
Novamente, a comorbidade da ansiedade com depressão também foi
substancial (13,0% a 14,6% de transtorno misto de ansiedade-depressão e a
comorbidade com a depressão maior variou de 2,9% a 6,6%)

➔ Fisiopatologia

● O medo é normalmente evocado por um estímulo ameaçador, chamado de


estressor, e manifesta-se por uma resposta conhecida como resposta ao estresse.
● A característica dos transtornos de ansiedade é uma resposta inadequada ao
estresse, quando o estressor não está presente ou quando não houver ameaça
imediata.
● Assim, uma chave para se compreender a ansiedade é saber como a resposta ao
estresse é regulada pelo encéfalo.
RESPOSTA AO ESTRESSE

● A resposta ao estresse é a reação coordenada a estímulos ameaçadores.


● É caracterizada pelos seguintes aspectos:

- Comportamento de esquiva
- Aumento na vigilância e no alerta
- Ativação da divisão simpática do SNV
- Liberação de cortisol a partir das glândulas suprarrenais

● Não deve ser surpresa que o hipotálamo esteja envolvido centralmente na


orquestração de respostas humorais, visceral motoras e somatomotoras.
● Para se ter uma ideia de como essa resposta é regulada, nos concentraremos na
resposta humoral, que é mediada pelo eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal (HPA).
● O hormônio cortisol (um glicocorticóide) é liberado do córtex da glândula
suprarrenal em resposta a um aumento nos níveis sanguíneos do hormônio
adrenocorticotrófico (ACTH).
● O ACTH é liberado pela adeno-hipófise em resposta ao hormônio liberador de
corticotrofina (CRH).
● O CRH é liberado no sangue da circulação portal pelos neurônios neurossecretores
parvocelulares, que se localizam no núcleo paraventricular do hipotálamo.
● Assim, essa parte da resposta de estresse pode ser traçada até a ativação dos
neurônios que contêm CRH no hipotálamo.
O eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal: O eixo HPA regula a secreção de cortisol pela
glândula suprarrenal em resposta ao estresse. O CRH é o mensageiro químico entre o
núcleo paraventricular do hipotálamo e a adeno-hipófise. O ACTH liberado pela hipófise
viaja pela circulação sanguínea até a glândula suprarrenal, localizada acima do rim,
estimulando a liberação de cortisol. O cortisol contribui para a resposta fisiológica do
corpo.

A REGULAÇÃO DO EIXO HPA PELA AMÍGDALA E PELO HIPOCAMPOOOOOOOOOOOOOOO

● Os neurônios CRH do hipotálamo são regulados por duas estruturas que já foram
estudadas em capítulos anteriores: a amígdala e o hipocampo.
● As informações sensoriais entram via amígdala basolateral (onde são processadas e
retransmitidas para neurônios no núcleo central)
● Quando o núcleo central da amígdala se torna ativo, a resposta ao estresse é
acionada (Figura 22.5).
FIGURA 22.5 Controle da resposta ao estresse pela amígdala. A amígdala recebe
informação sensorial ascendente do tálamo e recebe aferências descendentes do
neocórtex. Essas informações são integradas pelos núcleos basolaterais e retransmitidas
para o núcleo central. A ativação do núcleo central leva à resposta ao estresse.

● A jusante da amígdala está uma coleção de neurônios, chamada de NÚCLEO


PRÓPRIO DA ESTRIA TERMINAL (manda informação da amígdala pro hipotálamo)
● Os neurônios desse núcleo ativam o eixo HPA e a resposta ao estresse.

Ativação da descarga noradrenérgica → Ativa o SNAS → aumento ⬆ da vigilância,


tônus muscular → ativa o HIPOCAMPO (neurônios em áreas ‘’place cells’’) →
ativação do HIPOTÁLAMO

Obs.: O HIPOTÁLAMO é ativado devido ao NÚCLEO DA ESTRIA TERMINAL, por ele


ser ‘’a ponte de envio de informação’’ entre a amígdala e o hipotálamo

● O eixo HPA também é regulado pelo HIPOCAMPO.


● No entanto, a ativação do HIPOCAMPO suprime a liberação de CRH.
● O HIPOCAMPO contém numerosos receptores para glicocorticóides (no CÓRTEX
PRÉ-FRONTAL), que são ativados pelo CORTISOL liberado pela glândula suprarrenal
em resposta à ativação do eixo HPA.
● Assim, o HIPOCAMPO normalmente participa da regulação por retroalimentação do
eixo HPA = inibindo a liberação de CRH (e a subsequente liberação de ACTH e
CORTISOL) quando o CORTISOL circulante está em níveis muito altos.
● A exposição contínua ao CORTISOL, como ocorre durante os períodos de estresse
crônico, pode levar à retração das ramificações e à morte dos neurônios
hipocampais.
● Essa degeneração do hipocampo pode estabelecer um círculo vicioso, no qual a
resposta ao estresse se torna mais pronunciada, levando a uma maior liberação de
cortisol e maiores danos ao hipocampo.
● Em resumo, a amígdala e o hipocampo regulam o eixo HPA e a resposta ao estresse
de modo coordenado (Figura 22.6).

● Os transtornos de ansiedade têm sido relacionados tanto com a hiperatividade da


amígdala quanto com a diminuição da resposta do hipocampo.
● É importante termos em mente, porém, que tanto a amígdala quanto o hipocampo
recebem informação altamente processada do neocórtex.
● De fato, outro achado consistente em seres humanos com transtornos de ansiedade
tem sido a atividade elevada do córtex pré-frontal.

FISIOLOGIA DOS SINTOMAS FÍSICOS S

💧 Resposta Endócrina ao Medo 🦠


● A resposta do medo pode caracterizar-se, em parte, por efeitos endócrinos, como o
aumento do cortisol, que ocorrem devido à excitação do eixo
hipotálamo-hipófise-suprarrenal (HHSR) pela amígdala.
● A excitação prolongada do eixo HHSR e a liberação de cortisol podem ter implicações
significativas para a saúde, como aumento do risco de doença arterial coronária,
diabetes tipo 2 e acidente vascular encefálico.
👃🏻 Resposta respiratória 💨
● Podem ocorrer alterações da respiração durante uma resposta de medo.
● Essas alterações são reguladas pela excitação do núcleo parabraquial (NPB) por meio
da amígdala.
● A excitação inapropriada ou excessiva do NPB pode levar não apenas a aumento da
frequência respiratória, mas também a sintomas como dispneia, exacerbação da
asma ou sensação deasfixia.
💗 Resposta autonômica ao Medo 💗
● As respostas autonômicas costumam estar associadas aos sentimentos de medo.
Essas respostas envolvem aumento da frequência cardíaca (FC) e da pressão arterial
(PA), que são reguladas por conexões recíprocas entre a amígdala e o locus coeruleus
(LC).
● A ativação a longo prazo desse circuito pode levar a aumento do risco de
aterosclerose, isquemia cardíaca, alteração da PA, diminuição da variabilidade da FC,
infarto do miocárdio (IM) ou mesmo morte súbita.

NEUROTRANSMISSORES S

SEROTONINA (5-HT)

● Os níveis plasmáticos de serotonina (5-HT) estão reduzidos nos diversos transtornos


de ansiedade.
● Evidências mostram que algumas subpopulações de neurônios serotoninérgicos do
núcleo dorsal e mediano da rafe, por meio de projeções topograficamente
organizadas, direcionadas a diferentes alvos cerebrais, têm funções importantes
para a fisiopatologia desses transtornos.
● Podem-se ser citados os neurônios serotoninérgicos do NÚCLEO DA RAFE →
projetam para a AMÍGDALA, facilitando a expressão do medo condicionado e da
ansiedade, → E para a SUBSTÂNCIA CINZENTA PERIAQUEDUTAL, → INIBINDO as
respostas comportamentais do tipo fuga, e os neurônios serotonérgicos do
mediano da rafe, que apresentam a capacidade de aumentar a resiliência ao
estresse.
● Ademais, o receptor serotonérgico 5- HT1A é estimado como modulador da
ansiedade nas suas formas normais e patológicas.

NOREPINEFRINA (NE) / NORADRENALINA

● A norepinefrina (NE) é uma catecolamina produzida principalmente no LOCUS


COERULEUS NA PONTE
● Seu metabolismo e suas funções têm sido avaliados nos transtornos de ansiedade,
sendo que a sua hiperfunção é evidenciada em tais transtornos.
● A NE é considerada um marcador da atividade simpática.
● Uma das funções do CORTISOL é aumentar o nível de glicose no sangue, sinalizar o
aumento de metabolismo basal e estimular a liberação de
NOREPINEFRINA/NORADRENALINA, fazendo uma retroalimentação positiva
(feedback +)

SISTEMA ÁCIDO GAMA-AMINOBUTÍRICO (GABA)

● O sistema do ácido gama-aminobutírico (GABA) serve como o mais importante


sistema neurotransmissor inibitório do sistema nervoso central (inibe os processos
de transmissão sináptica - entre 2 neurônios) → isso ocorre devido a uma
hiperpolarização neuronal
● Para que um neurônio seja estimulado (enviar um sinal), ele precisa receber carga
suficiente para isso, desencadear um potencial de ação
● O canal que é ativado pelo GABA é um canal que vai contra o estado de
despolarização, ele permite a entrada de CLORO (chamado de GABAa)
● Permite ainda mais a entrada de CLORO no canal, fazendo com que ele fique
eletronegativo, e dificulte a troca de cargas → diminui o potencial de ação →
despolarização do neurônio → sem ter transmissão
● O GABA é utilizado no nosso cérebro para bloquear a transmissão do sinal neuronal
● O GABA tem uma relação forte com o glutamato, que é outro neurotransmissor do
nosso cérebro e faz exatamente o contrário. Ele atua em 3 receptores: NMDA, AMPA
e cainato. Qualquer um deles, quando ativados pelo glutamato, permite a entrada de
íons ++
● GABA (neurotransmissor inibitório) e GLUTAMATO (neurotransmissor excitatório)
● Glutamato → Enzima glutamato descarboxilase → GABA
● GABA: neuroprotetor; Glutamato: tóxico
● Evidências crescentes apontam para seu envolvimento na fisiopatologia dos
transtornos de ansiedade, sendo que os benzodiazepínicos, que atuam no sistema
GABA, são utilizados para tratar essas condições.

RECEPTORES

● Ionotrópicos: GABAa e GABAc → benzodiazepínicos


● Metabotrópicos (acoplados a proteína G): GABAb → abertura de canais de K+ →
saída de K+ da célula

Obs.: Os medicamentos que atuam no sistema gabaérgico, prometem: sedação, ansiólise,


hipnose, neuroproteção e relaxamento da musculatura.
➔ Quadro Clínico

A experiência de ansiedade pode ser dividida em sinais e sintomas físicos e psíquicos:

➔ Diagnóstico

Diagnóstico Clínico

● Para diagnosticar a ansiedade recomenda-se a observância de seis dos seguintes


sintomas, quando frequentemente presentes, quais sejam:

- tremores ou sensação de fraqueza


- tensão ou dor muscular
- inquietação
- fadiga fácil
- falta de ar ou sensação de fôlego curto
- palpitações
- sudorese, mãos frias e úmidas
- boca seca;
- vertigens e tonturas
- náuseas e diarréias
- rubor ou calafrios
- polaciúria (aumento do número de urinadas)
- bolo na garganta
- impaciência
- resposta exagerada à surpresa
- dificuldade de concentração ou memória prejudicada
- dificuldade de conciliar e manter o sono e irritabilidade (Associação Psiquiátrica
Americana 1995; Organização Mundial da Saúde, 1993).

🩺 Anamnese

🩺 Exame Físico
No exame físico geral, têm importância para o diagnóstico diferencial psiquiátrico os
seguintes dados:

Estado geral do paciente: Se está aparentemente saudável ou demonstra sinais


físicos de doença crônica ou aguda.
Estado de nutrição: Se aparenta emagrecimento; se obeso, observar a distribuição
da adiposidade (diagnóstico diferencial com síndrome de Cushing)
Pele: Coloração e eventuais lesões; observar cicatrizes e equimoses que estejam
relacionadas com autoagressão, crises epilépticas e uso de drogas; icterícia.
Estatura e constituição: Observar se o paciente é excessivamente alto ou baixo, se
apresenta simetria e proporção corporais e presença de deformidades.
Caracteres sexuais secundários: A voz, a implantação dos cabelos, o tamanho dos
seios, se estão de acordo com a idade e o sexo do paciente.
Postura, atividade psicomotora e marcha: Sinais de desconforto, cansaço e dor.
Sudorese, dispnéia, posições antálgicas.
Odor do corpo e da respiração: Pode fornecer importantes dados diagnósticos. Falta
de higiene corporal, perda do controle esfincteriano, hálito cetônico, alcoólico são
dados importantes.

Assim que o paciente permitir, é importante verificar sinais vitais: temperatura, pressão
arterial e pulso radial. No exame físico do paciente psiquiátrico, a avaliação neurológica
tem particular importância, sobretudo quando há comprometimento das funções
psíquicas: consciência, atenção, orientação, memória, inteligência; e distúrbios da
sensopercepção (alucinações visuais e as acompanhadas de cefaleia, ilusões e distorções).

Diagnóstico Laboratorial

● É fundamental descartar a presença de uma doença não psiquiátrica que possa ser a
causa da manifestação dos sinais e sintomas psiquiátricos atuais. A avaliação médica
no primeiro episódio psicótico inclui exame físico com ênfase no exame neurológico;
aferição dos sinais vitais; peso, altura e circunferência abdominal; e exames
laboratoriais [hemograma completo, função renal, função hepática, glicemia de
jejum, perfil lipídico, hormônio estimulante da tireoide (TSH) e tiroxina (T4) livre.
● Deve-se solicitar exames de neuroimagem quando há suspeita de alguma doença
médica de base, sendo a ressonância magnética (RM) o método preferível (mais
sensível para detectar as alterações associadas com mais frequência ao primeiro
episódio psicótico: doenças da substância branca, tumores cerebrais e alterações em
lobo temporal).
● A necessidade de exames complementares é dada pela suspeita de sintomas
ansiosos secundários a condições médicas gerais.
● Muitas vezes, durante uma crise de pânico, pode ser necessária a execução de um
ECG para excluir insuficiência coronariana, especialmente quando os sintomas e/ou
a idade do paciente forem atípicos.
● Em quadros típicos, em pacientes jovens, a realização de ECG de repetição em
serviços de emergência, além do custo desnecessário, pode reforçar
comportamentos disfuncionais do paciente.
● Durante a investigação de quadros de ansiedade, é aconselhável realizar dosagem
de hormônios tireoidianos, TSH e cálcio.
● Outros exames devem ser solicitados de acordo com a suspeita clínica. Por exemplo,
na presença de sintomas atípicos como ataxia, oscilação de nível de consciência e
liberação esfincteriana, deve-se realizar EEG e exames de imagem cerebral para
excluir epilepsia ou tumores.
Diagnóstico Diferencial

➔ Tratamento

Tratamento Farmacológico

● Muitos tratamentos para os transtornos de ansiedade estão disponíveis. Em muitos


casos, os pacientes respondem bem à psicoterapia e ao aconselhamento; em outros
casos, medicações específicas são mais efetivas.

Medicações Ansiolíticas

● Medicamentos que reduzem a ansiedade, chamados de ansiolíticos, atuam


alterando a transmissão sináptica química no encéfalo.
● As principais classes de fármacos utilizados atualmente para o tratamento dos
transtornos de ansiedade são os benzodiazepínicos e os inibidores seletivos da
recaptação de serotonina

➔ BENZODIAZEPÍNICOS
● Lembre-se que o ácido g-aminobutírico (GABA) é um importante neurotransmissor
inibitório do sistema nervoso central. Receptores GABAA são canais de cloreto
acionados pelo GABA que medeiam potenciais pós-sinápticos inibitórios rápidos.
● Uma ação apropriada do GABA é um fator crítico para o funcionamento adequado
do encéfalo: inibição em excesso resulta em coma, e pouca inibição resulta em crises
convulsivas.
● Além do sítio de ligação para o GABA, o receptor GABAA contém outros sítios de
ligação, onde substâncias específicas podem atuar, modulando de forma poderosa a
função do canal.
● Os benzodiazepínicos ligam-se a um desses sítios e atuam no sentido de tornar o
GABA muito mais efetivo em abrir o canal e produzir a inibição.

Mecanismo de ação: Os benzodiazepínicos ligam-se a um sítio do receptor GABAA,


tornando-o muito mais responsivo ao GABA, que é o principal neurotransmissor inibitório
do prosencéfalo. O etanol pode ligar-se a um sítio diferente, no mesmo receptor, também
o tornando mais responsivo ao GABA

● Os benzodiazepínicos, dos quais provavelmente o Valium (ou diazepam) é o mais


conhecido, são altamente efetivos para o tratamento da ansiedade aguda. De fato,
praticamente todas as substâncias que estimulam a ação do GABA são ansiolíticas,
incluindo o ingrediente ativo nas bebidas alcoólicas, o etanol. A redução da
ansiedade provavelmente pode explicar, pelo menos em parte, o amplo uso social do
álcool.
● Os efeitos ansiolíticos do etanol também são um motivo óbvio para o fato de os
distúrbios da ansiedade e o abuso do álcool andarem juntos.
● Podemos inferir que os efeitos calmantes dos benzodiazepínicos se devem à
supressão da atividade dos circuitos encefálicos utilizados na resposta ao estresse.
● O tratamento com benzodiazepínicos talvez seja necessário para restaurar a função
normal desses circuitos.
💊 DIAZEPAM M

● O Diazepam faz parte do grupo dos benzodiazepínicos que possuem propriedades


ansiolíticas, sedativas, miorrelaxantes, anticonvulsivantes e efeitos amnésicos.
Sabe-se atualmente que tais ações são devidas ao reforço da ação do ácido
gama-aminobutírico (GABA), o mais importante inibidor da neurotransmissão no
cérebro.
● Efeitos colaterais: cansaço, sonolência, relaxamento muscular relacionados com a
dose administrada.
● Efeitos colaterais pouco frequentes: confusão mental, amnésia anterógrada,
depressão, diplopia, disartria, cefaléia, hipotesão, variações nos batimentos do pulso,
parada cardíaca.

💊 ZOLPIDEM M

● O Zolpidem é um agente hipnótico não benzodiazepínico pertencente ao grupo das


imidazopiridinas. Estudos experimentais demonstraram que Zolpidem promove um
efeito sedativo em doses muito inferiores àquelas necessárias para obtenção de um
efeito anticonvulsivante, relaxante muscular ou ansiolítico. Esses efeitos são devidos
a uma atividade agonista seletiva sobre um receptor GABA-ÔMEGA, que modula a
abertura do canal de cloro. O Zolpidem é um agonista preferencial da subclasse de
receptores ômega 1 (BZD1). No homem, Zolpidem encurta o tempo de indução ao
sono, reduz o número de despertares noturnos e aumenta a duração total do sono,
melhorando sua qualidade.
● Efeitos colaterais: sonolência, dor de cabeça, tontura, distúrbios cognitivos — como
amnésia anterógrada (amnésia para os eventos após a ingestão do remédio) —,
diarreia, náusea, dor abdominal, vômito, dor nas costas e fadiga
➔ INIBIDORES SELETIVOS DA RECAPTAÇÃO DE SEROTONINA (ISRS)

● Os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS) são amplamente utilizados


no tratamento de transtornos de humor.
● Os ISRS, contudo, são também altamente efetivos no tratamento de outros
transtornos psiquiátricos, incluindo, particularmente, o TOC.
● Lembre-se que a serotonina é liberada em todo o encéfalo por um sistema
modulatório difuso, que se origina dos núcleos da rafe, no tronco encefálico.
● As ações da serotonina são mediadas principalmente por receptores ligados à
proteína G e são encerradas pela recaptação no terminal axonal, via proteínas
transportadoras de serotonina. Assim, exatamente como expresso pelo seu nome, os
ISRS prolongam as ações da serotonina liberada, inibindo sua recaptação, de modo
que ela possa continuar a agir nos seus receptores.
● Diferentemente dos benzodiazepínicos, entretanto, a ação ansiolítica dos ISRSs não
é imediata. Os efeitos terapêuticos desenvolvem-se lentamente, durante semanas,
em resposta a doses regulares diárias.
● No contexto dos transtornos de ansiedade, entretanto, é muito interessante que uma
das respostas adaptativas aos ISRSs seja um aumento dos receptores para
glicocorticóides no hipocampo.
● Os ISRSs podem diminuir a ansiedade, aumentando a regulação por
retroalimentação negativa dos neurônios CRH no hipotálamo;
● Os medicamentos antidepressivos classificados como Inibidores Seletivos da
Recaptação da Serotonina (ISRS) – Fluoxetina, Citalopram, Paroxetina, Sertralina,
Fluvoxamina, Escitalopram e outros da mesma classe – promovem o aumento da
disponibilidade da serotonina na fenda sináptica, o que pode explicar o seu efeito
antidepressivo.

💊 SERTRALINA A

● O cloridrato de sertralina faz parte da classe dos ISRS (inibidores seletivos da


recaptação de serotonina) e é indicado no tratamento de sintomas de depressão,
incluindo depressão acompanhada por sintomas de ansiedade, em pacientes com
ou sem história de MANIAa.
● Após uma resposta satisfatória, a continuidade do tratamento com cloridrato de
sertralina é eficaz tanto na prevenção de recaída dos sintomas do episódio inicial de
depressão, assim como na recorrência de outros episódios depressivos.
● Mecanismo de ação: inibição de captação neuronal de serotonina (5-HT) no sistema
nervoso central (SNC).
● Efeitos colaterais:
- Sistema Nervoso Autônomo: boca seca e aumento da sudorese.
- Sistema Nervoso Central e Periférico: tontura e tremor.
- Gastrintestinal: diarreia/fezes amolecidas, dispepsia e náusea.
- Psiquiátrico: anorexia, insônia e sonolência.
- Reprodutivo: disfunção sexual (principalmente retardo na ejaculação).

Tratamento não farmacológico

Psicoterapia

● Como vimos, existe um forte componente de aprendizado no medo, portanto não é


surpresa que a psicoterapia pode ser um tratamento efetivo para muitos dos
transtornos de ansiedade.
● O terapeuta aumenta gradualmente a exposição do paciente aos estímulos que
produzem ansiedade, reforçando a noção de que os estímulos não são perigosos.
● No nível neurobiológico, o propósito da psicoterapia é alterar as conexões no
encéfalo, de modo que esses estímulos, imaginários ou reais, não mais evoquem a
resposta ao estresse.

Psicoterapia psicodinâmica

Psicoterapia de apoio

● Apesar do tratamento adequado dos ataques de pânico com medicamentos, a


evitação fóbica pode permanecer. Dessa forma, a psicoterapia de apoio e a
orientação sobre a doença são necessárias para encorajar o paciente a confrontar a
situação fóbica.
● Outrossim, indivíduos que não respondem podem necessitar terapia adicional,
psicodinâmica ou comportamental. O encorajamento de outros pacientes com
condições semelhantes é frequentemente útil.
● Contudo, a psicoterapia de apoio isolada não é um tratamento suficientemente
efetivo para o transtorno de pânico.

Terapia cognitivo-comportamental

● As principais técnicas comportamentais para o tratamento de ataques de pânico são


o retreinamento da respiração, para controlar hiperventilação crônica e aguda;
exposição a sintomas físicos provocados intencionalmente, em geral envolvendo uma
hierarquia de enfrentamento de sensações temidas por meio de exercícios de
imaginação e comportamentais; e treinamento de relaxamento

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