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EDITORIAL
Sonhos – entre
o passado
e o futuro
Ao retratarem nossos desejos como realizados, os
sonhos decerto nos transportam para o futuro.
e
Mas esse futuro, que o sonhador representa
como presente, foi moldado por seu desejo in-
destrutível à imagem e semelhança do passado.
S. Freud
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Erro, porém, seria pensar que Freud e Lacan são o alfa e ômega da
psicanálise. Se o texto de Canguilhem nos faz voltar a milênios na his-
tória, outros artigos da IMPULSO nos remetem a novas perspectivas, de-
cididamente atuais e mais próximas de questões concretas de nossa re-
alidade cotidiana. Maurício Lourenção Garcia argumenta que a psica-
nálise se presta a tais atualizações, pois é obra aberta, e dedica-se a ava-
liar o modo como a psicoterapia institucional de Félix Guattari acolheu
as contribuições do marxismo, do existencialismo e da fenomenologia
para repensar a subjetividade em termos sociais. Edson Olivari de Castro
dialoga com a filosofia, abordando o questionamento a respeito da
noção de consciência vigente na virada do século, que recebeu da feno-
menologia diferentes respostas. Márcia Maesso oferece um estudo teóri-
co-clínico sobre a criança especial, mostrando, por meio de estudos de
caso, que a linguagem infantil espelha condicionamentos familiares e so-
ciais, os quais devem ser objeto de uma psicanálise contextualizada.
A IMPULSO traz, ainda, dois artigos gerais. O primeiro, de Ana
Maria Carrão, apresenta-nos tema de relevância global, que trata do
Fordismo e do Toyotismo. Ela demonstra como ambos levaram a mu-
danças radicais no mundo do trabalho, ao estabelecerem novos para-
digmas de organização, produção e competitividade, e indica como tais
sistemas alteraram as relações de emprego e empregabilidade durante o
século XX. O segundo, de Nádia Kassouf Pizzinatto, tem uma dimensão
mais local: refere-se ao modo como o Curso de Administração da UNI-
MEP tem dialogado com o contexto nacional e como responde ao de-
safio de se adaptar ao sempre mutante perfil dos profissionais desta
área.
Complementando este número, incluem-se Resenhas e Comuni-
cações. A primeira destas seções apresenta dois livros: Crítica dos Fun-
damentos da Psicologia – a psicologia e a psicanálise, de Georges Po-
litzer, e A Inocência e o Vício – estudos sobre o homoerotismo, de J.
Freire Costa. A seção Comunicações, especialmente criada para receber
textos de ocasião, mais breves e mais livres em sua abordagem, bem
como críticas, comentários e discussões de interesse geral, em sua estréia
conta com César Cesarotto, psicanalista e professor de comunicação e
semiótica em São Paulo, notório por seus artigos em revistas especiali-
zadas e aqui nos traz o texto “A realidade onírica”, também referente à
efeméride neste número celebrada. E, encerrando esta edição, o advo-
gado e jornalista Hernán Maldonado Borda, boliviano radicado nos
EUA, trata, com sua experiência de quase meio século na imprensa la-
tino-americana, estadunidense e européia, a honestidade jornalística e
outros aspectos da ética no considerado “quarto poder” do Estado.
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COMISSÃO EDITORIAL
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Sumário
Artigos
Temáticos
Que é a Psicologia?
What is Psychology?
GEORGES CANGUILHEM 11
Pequenas Notas a “Que é a Psicologia?”
Small Notes to “What is Psychology?”
OSMYR FARIA GABBI JR. 27
A Escrita do Capítulo I do “Livro dos Sonhos”:
Freud, leitor de seu tempo
The Writing of Chapter I of the Book on Dreams:
Freud, a reader of his Time
MÁRCIO MARIGUELA 35
A Interpretação na Psicanálise Lacaniana
Interpretation in Lacanian Psychoanalysis
REGINA CLÁUDIA MELGES PUGLIA 47
Um Método sobre o Discurso, ou a Metáfora Opaca
A Method on Discourse or the Opaque Metaphor
FRANKLIN WINSTON GOLDGRUB 59
Luto e Criação em A Interpretação de Sonhos
Mourning and Creativeness in The Interpretation of Dreams
MARIA TERESA GIMENEZ 97
A Psicanálise como Obra Aberta
Psychoanalysis as an Open Work
MAURÍCIO LOURENÇÃO GARCIA 111
Existo, Penso. A filosofia e a questão do inconsciente:
algumas indicações
I am, I Think. Philosophy and the Unconscious: some indications
EDSON OLIVARI DE CASTRO 129
A Criança Especial na Psicanálise
The Special Child in Psychoanalysis
MÁRCIA CRISTINA MAESSO 139
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Sumário Artigos
Gerais
Fordismo e Toyotismo:
mudanças no mundo do trabalho
Ford and Toyota Systems: changes in the world of work
ANA MARIA ROMANO CARRÃO
Ensino de Administração e o Perfil do
Administrador: contexto nacional e o
curso de administração da UNIMEP
153
...............................
Resenhas
Crítica dos Fundamentos da Psicologia –
A psicologia e a psicanálise, de Georges Politzer
FRANKLIN WINSTON GOLDGRUB 193
A Inocência e o Vício – Estudos sobre o
homoerotismo, de J. Freire Costa
DANIELA MAULE BALBUENO 197
...............................
Comunicações
A Realidade Onírica
Dream Reality
OSCAR CESAROTTO 205
Periodismo Honesto
Honest Journalism
HERNÁN MALDONADO BORDA 209
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Que é a Psicologia?*1
What is Psychology?
RESUMO – Neste texto, originado de uma conferência apresentada em 18 de de-
zembro de 1956 no Collège Philosophique (Paris) e publicado dois anos mais tar-
de, Georges Canguilhem propõem-se a discutir a psicologia, investigando a exis-
tência (ou não) de uma unidade de projeto que pudesse conferir sua unidade even-
tual aos diferentes tipos de disciplinas tidas então como psicológicas. Para respon-
der à questão “Que é a psicologia?”, considera necessário esboçar uma história da
psicologia. Mas enfatiza: “uma história considerada apenas nas suas orientações e
relacionada com a história da filosofia e das ciências, uma história necessariamente GEORGES CANGUILHEM**
teleológica, uma vez que destinada a transferir, para a interrogação proposta, o Trad. Osmyr Faria Gabbi Jr.
sentido originário suposto nas diversas disciplinas, métodos ou empreendimentos,
cuja disparidade atual legitima essa pergunta”.
*1 Nota do Editor (N.E.): texto publicado originalmente na Revue de Métaphysique et de Morale (Paris, 1:
12-25, 1958), a partir de palestra proferida em 18 de dezembro de 1956, no Collège Philosophique de
Paris.
**N.E.: formado em medicina, o francês Georges Canguilhem (1904-1995) tornou-se um incomparável
professor de filosofia; dedicado à instituição acadêmica, foi professor da Universidade de Strasbourg e da
Sorbonne, na qual dirigiu o Instituto de História das Ciências. Deixou trabalhos profundamente originais
em filosofia das ciências da vida.
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tendo em vista que ele não se identifica com a razão matemática e me-
canicista, instrumento da verdade e medida da realidade.
Mas essa responsabilidade é censurável aos olhos do físico. Por-
tanto, a psicologia é constituída como um empreendimento de remis-
são do espírito. Seu projeto é de uma ciência que, face à física, explique
o motivo do espírito, à primeira vista, ser coagido, devido a sua natu-
reza, a enganar a razão em relação à realidade. A psicologia faz-se física
do sentido externo para dar conta dos contra-sensos que a física me-
canicista imputa ao exercício dos sentidos na função cognitiva.
A. A física do sentido externo
Portanto a psicologia, ciência da subjetividade, começa como psi-
cofísica por duas razões. Em primeiro lugar porque não pode ser menos
do que uma física para ser levada a sério pelos físicos. Em segundo, por-
que deve procurar em uma natureza, ou seja, na estrutura do corpo hu-
mano, a razão da existência de resíduos irreais na experiência humana.
Mas, entretanto, essas razões não implicam um retorno à con-
cepção antiga de uma ciência da alma, ramo da física. A nova física é
um cálculo. A psicologia tende a imitá-la. Ela procurará determinar as
constantes qualitativas da sensação e as relações entre essas constantes.
Aqui Descartes e Malebranche são os corifeus. Nas Regras para
Direção do Espírito (XII), Descartes propõe a redução das diferenças
qualitativas entre dados sensórios a uma diferença de figuras geomé-
tricas. Trata-se aqui de dados sensórios na medida em que são, no sen-
tido próprio do termo, as informações de um corpo por um outro cor-
po; os sentidos externos informam um sentido interno, “a fantasia,
que nada mais é que um corpo real e figurado”. Na Regra XIV, Des-
cartes trata expressamente do que Kant chamará da grandeza intensiva
das sensações (Crítica da Razão Pura, analítica transcendental, anteci-
pação da percepção): as comparações entre luzes, entre sons etc., só
podem ser convertidas em relações exatas por analogia com a exten-
são do corpo figurado. Se se acrescenta que Descartes, que não é exa-
tamente nem o inventor do termo nem do conceito de reflexo, afir-
mou, no entanto, a constância de ligação entre a excitação e a reação,
vê-se que uma psicologia, entendida enquanto física matemática do
sentido externo, começa com ele para chegar em Fechner, graças ao
apoio de fisiólogos como Hermann Helmholtz, apesar e contra as re-
servas kantianas, criticadas por sua vez por Herbart.
Essa variedade de psicologia é ampliada por Wundt às dimensões
de uma psicologia experimental, apoiada em seus trabalhos pela espe-
rança de fazer aparecer, nas leis dos “fatos de consciência”, um deter-
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dade para lhe dizer o que é e o que deve fazer. “Tratar como um inseto”,
a palavra é de Stendhal, que a tomou emprestada de Cuvier.12 E se nós
tratarmos o psicólogo como um inseto; se nós aplicarmos, por exemplo,
a recomendação de Stendhal ao morno e insípido relatório Kinsey?
Dito de outra maneira, a psicologia da reação e do comporta-
mento, nos séculos XIX e XX, acreditou que se tornaria independente
ao separar-se de toda filosofia, ou seja, da especulação que pesquisa
uma idéia de homem para além do horizonte dos dados biológicos e
sociológicos. Mas essa psicologia não pode evitar a recorrência de seus
resultados sobre o comportamento daqueles que os obtêm. A questão
“Que é a psicologia?”, na medida em que se interdita a psicologia de
procurar sua resposta, torna-se “Onde querem chegar os psicólogos
fazendo o que fazem? Em nome de quem se declaram psicólogos?”.
Quando Gedeão recrutou o comando dos israelitas e chefiando-os re-
pele os madianitas para além do Jordão, ele utiliza um teste em duas
etapas que lhe permite, inicialmente, escolher dez mil homens entre
trinta e dois mil, e depois trezentos entre os dez mil. Mas este teste é
devedor do Eterno, tanto em relação ao objetivo de sua utilização
quanto ao procedimento de seleção usado. Para selecionar um seleci-
onador, é preciso normalmente transcender o plano dos procedimen-
tos técnicos de seleção. Dada a imanência da psicologia científica, per-
manece a questão: quem tem, não a competência, mas a missão de ser
psicólogo? A psicologia repousa realmente sobre um desdobramento
– que não é mais aquele da consciência de acordo com os fatos e as
normas que a idéia de homem comporta –, uma massa de “sujeitos”
e uma elite corporativa de especialistas que investem a si mesmos de
sua própria missão.
Em Kant e em Maine de Biran, a psicologia está situada em uma
antropologia, ou seja, apesar da ambigüidade, atualmente muito em
voga desse termo, em uma filosofia. Em Kant, a teoria geral da habi-
lidade humana permanece relacionada a uma teoria da sabedoria. A
psicologia instrumentalista apresenta-se como uma teoria geral da ha-
bilidade, fora de qualquer referência à sabedoria. Se não podemos de-
finir essa psicologia por uma idéia de homem, ou seja, situá-la dentro
da filosofia, certamente não temos o poder de interditar a quem quer
que seja de se dizer psicólogo e de chamar psicologia ao que faz. Mas
ninguém pode mais interditar a filosofia de continuar a interrogar-se
12 “Ao invés de odiar o pequeno livreiro da cidade vizinha que vende o Almanaque Popular, dizia eu ao meu
amigo Senhor de Ranvelle, aplique-lhe o velho remédio indicado pelo célebre Cuvier; trate-o como inseto.
Investigue seus meios de subsistência, procure adivinhar suas formas de acasalamento” (Mémorires d’un
Touriste, ed. Calmann-Lévy, tomo II, p. 23).
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Pequenas Notas a
“Que é a Psicologia?”
Small Notes to
“What is Psychology?” OSMYR FARIA GABBI JR.
Departamento de
Filosofia da Unicamp
RESUMO – A séria crítica de Canguilhem à psicologia também pode ser estendida osmyr@cle.unicamp.br
tanto à psicanálise de Freud quanto a de Lacan. Apontamos algumas das questões
que deveriam ser elucidadas antes de realizar essa tarefa.
Palavras-chave: psicologismo – epistemologia da psicanálise – inconsciente.
ABSTRACT – The serious critique of psychology by Canguilhem can be extended
also to Freud and Lacan’s psychoanalysis. We designate some of the problems that
should be elucidated before undertaking such a task.
Keywords: psychologism – epistemology of psychoanalysis – unconscious.
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sa ser lida dessa forma apropriada –, possa ter seu horizonte filosófico
perfeitamente equacionado, escaparemos, assim, às críticas de Kant
em relação à possibilidade de uma psicologia científica? Afinal, está
aqui o nó da questão. Não pretendemos desatá-lo, mas apenas ressal-
tar alguns dos nós prévios que precisam ser desfeitos para quem se dê
a esta tarefa hercúlea e temerária.
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A PSICANÁLISE DE LACAN
Estamos supondo que, se não for possível provar sua cientifici-
dade, a psicanálise é passível de cair sob a tríplice objeção formulada
por Canguilhem. Assim, para que se revele isenta de tal crítica – como
querem alguns simpatizantes da psicanálise lacaniana –, é preciso in-
dicar os motivos pelos quais o afastamento do psicologismo, por parte
de Lacan, estariam ligados ao projeto de uma psicanálise realmente
científica. Para entendê-los, basta recordar as críticas de Politzer contra
a psicologia clássica.18 Essa crítica – igualmente inspirada em Kant –,
pode ser resumida em poucas palavras: a psicologia padece de um pro-
fundo engano, pois ela resulta da transformação indevida da teoria do
conhecimento que nasce com Descartes em teoria empírica.19 Assim,
a psicologia teria abandonado o estudo dos atos de homens concretos
para consagrar-se à análise de processos abstratos, ela tentaria ser a im-
possível ciência da coisa em si. No caso de Freud, Politzer acredita que
seria justamente a teoria sobre o inconsciente que levaria a psicanálise
para o caminho da psicologia clássica, o que contraria a sua tendência,
presente na clínica, de ser uma psicologia concreta no sentido de pri-
vilegiar a dimensão intencional. O psicologismo de Freud estaria pre-
sente na sua metapsicologia, na sua teoria do aparelho psíquico que,
pelo menos até 1920, é uma teoria da representação. Por conseguinte,
um dos nós a desatar consiste em estudar as relações entre Politzer e
Lacan, de modo a mostrar que a crítica do segundo ao modelo repre-
sentativo da psicanálise clássica seria feita no sentido da crítica do pri-
meiro a Freud. Em outras palavras, Lacan teria suposto que a remoção
do psicologismo da teoria psicanalítica abriria o caminho para uma psi-
canálise científica. Removê-lo significaria afastar as cinco teses da psi-
cologia clássica sobre o fato psicológico: a tese de que a forma última
do psicológico seria atomista (T1); de que o psicológico é apreendido
de forma imediata pela percepção (T2); de que o psicológico é de na-
tureza representativa (T3); de que o psicológico é o que resulta de pro-
cessos, e não de atos concretos de agentes (T4); e finalmente de que a
função da palavra é denotar o psicológico (T5). Assim, outro nó para
ser desatado é certificar-se se é possível mostrar que a psicanálise la-
caniana pode ser concebida enquanto crítica a essas cinco teses da psi-
18POLITZER, G. [1928] Crítica dos Fundamentos da Psicologia. Piracicaba: Editora UNIMEP, 1998.
19Como bem observa Canguilhem, “A meditação cartesiana não é uma confidência pessoal”, ou seja, ela
não é de natureza empírica, mas metafísica. Op. cit., p. 17.
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CONCLUSÃO
Como qualquer leitor atento de “Que é a Psicologia?” pode
constatar, essa conferência é plena de pistas e sugestões para pensar a
psicologia nas suas mais diversas formas. No nosso caso, foi a opor-
tunidade para apresentar algumas reflexões epistemológicas sobre a
psicanálise de Freud e de Lacan.
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A Escrita do Capítulo I
do “Livro dos Sonhos”:
Freud, Leitor de seu
Tempo
The writing of Chapter I
of the Book on Dreams:
Freud, a Reader of his Time
RESUMO – A correspondência de Sigmund Freud com Wilhelm Fliess é um vasto
arquivo para investigação do processo de escrita do livro A Interpretação dos So-
nhos. Através do registro epistolar, com freqüência cotidiana, Freud narra as difi- MÁRCIO MARIGUELA
culdades que enfrentou na edificação da teoria psicanalítica: o processo de deslin- Doutorando em Filosofia (Unicamp),
analista praticante, membro da Escola
dar a estrutura das neuroses conduziu-o aos problemas relativos à formação oní- Lacaniana de Psicanálise de Campinas
rica. O presente ensaio tem como objetivo acompanhar pelas cartas, a escrita do e professor da Faculdade de Filosofia
História e Letras (UNIMEP)
capítulo I “A Literatura Científica que trata dos Problemas dos Sonhos”. Por exi- m.mariguela@zaz.com.br
gência de Fliess, Freud assumiu a árdua tarefa de preparar esse capítulo, que, ao
final, revelou-se um entrave para os leitores. Nossa posição é demonstrar que o ca-
pítulo I é apropriado para revelar o leitor Freud na demarcação de seu campo teó-
rico pelos embates com a literatura científica e filosófica de seu tempo.
ABSTRACT – Sigmund Freud’s correspondence with Wilhelm Fliess is a vast file for
investigating the process of writing the book The Interpretation of Dreams. Throu-
gh this registered epistle, Freud narrated daily the difficulties that he faced in the
construction of psychoanalytic theory: the process of discovering the structure of
neuroses drove him to the problems related to dream formation. The present ar-
ticle aims to follow the letters he wrote while writing chapter I “The Scientific Li-
terature About the Problems of Dreams”. Because of Fliess’ demands, Freud as-
sumed the arduous task of preparing this chapter that, ultimately, has revealed it-
self as a problem for readers. Our position is to demonstrate that chapter I is ap-
propriate in revealing Freud as a reader in the demarcation of its theoretical field
through the debates with the scientific and philosophical literature of his time.
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INTRODUÇÃO
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11 Ibid., p. 301.
12 Ibid., p. 316.
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CONCLUSÃO
Na Conferência V, “Dificuldades e Abordagens Iniciais”, de 1916,
Freud situa com precisão os problemas relativos à literatura científica
sobre os sonhos. Estabelecendo a premissa que sustenta A Interpretação
dos sonhos, pergunta: “qual deve ser a verdadeira origem do desprezo
no qual são mantidos os sonhos nos círculos científicos? Acredito que
se trata de uma reação contra a supervalorização dos sonhos em épocas
antigas”.25 A posição científica sobre os sonhos é marcada pelas teorias
fisiológicas, que não consideram os sonhos como atos psíquicos, mas
sim como expressão de estímulos somáticos.
Freud admite que “os estímulos incidem sobre a mente e ela
deve reagir a eles. Um sonho, pois, é a maneira como a mente reage
aos estímulos que a atingem no estado de sono”.26 Isso prova que a
vida psíquica não consegue dormir, isto é, está em atividade ininter-
rupta. Por outro lado, a linguagem predominante nos sonhos é com-
posta de imagens visuais, e isso os distingue da atividade de vigília, ou
seja, dos processos de pensamento por meio de palavras. Aqui ficam
estabelecidos os dois processos psíquicos constitutivos: o primário e o
secundário.
Os sonhos são representantes dos processos primários, ao passo
que os pensamentos de vigília são secundários. Eis o argumento deci-
sivo para sustentar a analogia entre os sonhos e os sintomas:
24 FREUD, 1987, p. 39.
25 Idem, 1976, p. 108.
26 Ibid., p. 112.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FREUD, S. [1895] Projeto de uma Psicologia. Trad. Osmyr Faria Gabbi Jr. Rio de
Janeiro: Imago, 1995.
FREUD, S. L’Interprétation des Rêves. Traduit en français par I. Meyerson, nouve-
lle édition augmentée et entièrement révisée par Denise Berger, 7ª tirage,
Press Universitaires de France: Paris, 1993.
FREUD, S. [1900] A Interpretação dos Sonhos. Edição Standard Brasileira das
Obras Completas. 2ª ed. Rio de Janeiro: Imago, 1987, v. 4-5.
FREUD, S. [1916-1917]. Conferências Introdutórias sobre Psicanálise Edição Stan-
dard Brasileira das Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago, 1976, v. 15.
JONES, E. Vida e Obra de Sigmund Freud. Trad. Marco Aurélio de Moura Mattos.
Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1970, v. 1.
MASSON, J.M. [1887- 1904] Correspondência Completa de Sigmund Freud para
Wilhelm Fliess. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Imago, 1986.
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A Interpretação na
Psicanálise Lacaniana
Interpretation in
Lacanian Psychoanalysis REGINA CLÁUDIA MELGES PUGLIA
Psicóloga formada pelo Instituto
de Psicologia (USP). Psicanalista,
RESUMO – O artigo apresenta, em uma visão lacaniana, as transformações ocor- membro-correspondente da
ridas com alguns conceitos psicanalíticos, a partir de Freud, relacionados ao pro- Escola Brasileira de Psicanálise-SP
pusch@sti.com.br
cesso analítico e à interpretação. Discute a função do analista enquanto intérprete.
Faz distinção entre psicoterapia e psicanálise, apontando algumas de suas diferen-
ças.
Palavras-chave: Lacan – psicanálise – interpretação – processo analítico.
ABSTRACT – This article presents a Lacanian perspective on the changes that have
occurred since Freud’s statement of principles in some psychoanalytical concepts
related to both the analytical process and interpretation. It also discusses the func-
tion of the analyst as an interpreter, distinguishing psychotherapy from psychoa-
nalysis.
Keywords: Lacan – psychoanalysis – interpretation – analytical process.
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INTRODUÇÃO
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FANTASIA E SINTOMA
Freud observou como o sujeito não podia dizer nada sobre sua
fantasia, uma vez que falar sobre ela lhe causa vergonha e vai contra
seus valores ideais. Dificuldade esta que só poderia ser resolvida atra-
1 Ver também alguns comentários sobre a construção de chistes em FREUD, 1969c, p. 280s.
2 LACAN, 1998a, p. 591.
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vés de uma nova abordagem, que será proposta por Lacan, abordagem
fundada na diferenciação dos três registros: o Real, o Simbólico e o
Imaginário. Com a conceituação dos três registros, a fantasia se trans-
formou também num conceito fundamental para o avanço da psica-
nálise.
Freud, em seus últimos textos, e em particular em Análise Ter-
minável e Interminável, se perguntava o que fazer com a inércia frente
ao trabalho analítico. A questão da fantasia comprometia a psicanálise
quanto a seu fim e quanto a seu estatuto em relação a outras discipli-
nas. Lacan elaborará para a fantasia um matema fundamental. Este
matema aparece como um dos elementos que estruturam a direção do
tratamento no discurso analítico. Ao introduzir o objeto Real (a) na
fantasia ($<>a)[articulação do sujeito barrado com o objeto causa do
desejo (para sempre perdido)], Lacan dá à fantasia uma causalidade so-
bre o sintoma.
Lacan, durante seu ensino, fez inúmeras modificações na sua for-
ma de pensar o funcionamento psíquico. Num primeiro momento,
pensou que a imagem, e não o significante, atraía a libido. Haveria
uma inércia da libido articulada à imagem bloqueando o funciona-
mento da cadeia significante. Foi o momento da predominância do
Imaginário em seu ensino.
Num segundo momento, Lacan abordou o aspecto do gozo,
vendo que havia uma conexão direta entre significante e libido. O que
atraía a libido, então, seria uma imagem significantizada, a qual cha-
mou de identificação fálica. Existiria um significante especial, que no
Simbólico, atrairia o investimento libidinal. Lacan fez do falo esse sig-
nificante investido pelo fator quantitativo da libido.
A terceira maneira que Lacan pensou essa relação significante/li-
bido trouxe a fantasia como o lugar onde estes se juntam, pois a fan-
tasia é uma articulação significante na qual, de um lado, está presente
o sujeito dividido ($) e, de outro, a quantidade libidinal (a), sendo a
pulsão o articulador deles ($<>a).
A única forma de fazer com que o sujeito se desembarace desse
gozo presentificado na imagem, no significante e na fantasia, é dar
condições para que, em sua análise, ele ultrapasse o Imaginário, dei-
xando cair as identificações idealizadas, e atravesse a fantasia que cons-
truiu. É justamente na fantasia que incide o destino do investimento li-
bidinal, e o final da análise depende do desinvestimento libidinal da
fantasia.
Lacan, no Seminário 11: os quatro conceitos fundamentais da
psicanálise, não inclui a fantasia entre os quatro conceitos fundamen-
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A INTERPRETAÇÃO
Freud, no início de suas descobertas, concebia a interpretação
dos sonhos e das formações inconscientes como a busca de um signi-
ficado, obtido apenas pelo próprio sonhador através das associações
que fizesse, que proporcionariam acesso a algum conteúdo recalcado,
oculto. O sujeito, com certeza, estabeleceria essas associações com o
que originasse diretamente de sua vida mental, de fontes que lhe eram
desconhecidas, derivadas provavelmente de algum complexo. Todo
trabalho interpretativo considerava que as lembranças que acometidas
ao sujeito a partir do sonho trazido para a análise eram dependentes
de idéias e de emoções inconscientes. O trabalho interpretativo visava
tornar consciente o inconsciente. Para Freud, a elaboração onírica7 é
o trabalho que o sujeito faz para transformar o sonho latente em so-
nho manifesto. Para tanto, lança mão de condensações, deslocamentos
e transformações regressivas de pensamentos em imagens. O trabalho
que opera em sentido oposto e que é realizado numa sessão de análise,
em que a transferência está instalada, é o trabalho interpretativo. Freud
nos alerta, entretanto, que, “quanto mais o sujeito adquire conheci-
mento neste campo, tanto mais obscuros serão seus sonhos”.8 A cen-
sura leva em conta o saber adquirido com a interpretação dos sonhos.
O trabalho de elaboração do sonho incorpora esse saber, o que pro-
voca um fechamento do inconsciente, ou uma alienação do sujeito no
significante.
Lacan, em “Função e campo da palavra e da linguagem em psi-
canálise”, retoma uma afirmação feita por Freud na Traumdeutung: “o
7 A totalidade do cap. VI de A Interpretação dos Sonhos (mais de um terço de todo o livro) dedica-se ao
estudo da elaboração onírica (FREUD, 1969a, p. 297s).
8 FREUD, 1969b.
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O que faz com que uma intervenção seja interpretação? Toda in-
terpretação provoca efeitos, é operante. Mas somente “no depois”
(après-coup) se saberá quais serão esses efeitos.
Lacan não é diretamente contra a interpretação significativa.
Apenas afirma não ser ela capaz de resolver de modo algum o enigma
do sujeito: ela apenas o desloca. O que não quer dizer que seja proi-
bida ou de todo descartada. Ela pode ser útil. Para Lacan (Seminário
11), o que uma interpretação como significação possui de mais inte-
ressante não é a significação por ela produzida, mas os significantes pe-
los quais é formulada. Sua conclusão é a seguinte: “o interesse da in-
terpretação significativa é o decifrar, fazer aparecer um significante que
estava faltando ao sujeito, mas que se encontrava latente em seu dis-
curso”.12
Lacan evoca a pontuação como um modo de interpretação. A
pontuação garante a significação, marcando uma enunciação do sujei-
to em particular.
O corte da sessão, como oposto à pontuação, recorta as signifi-
cações, entalha-as, esculpe-as. Interromper o sujeito no meio de uma
frase impedindo que as significações, que as explicações proliferem,
causa um efeito de perplexidade e até de desagrado. Para lançar mão
desse modo de interpretação é preciso levar em conta as diferenças in-
dividuais. Num sujeito que tem dificuldade em falar ou naquele que
está muito aderido à significação, pode não provocar os efeitos dese-
jados. O intuito é provocar um efeito non sense. O não-senso possui
a sua fecundidade.
Outra maneira de intervir é por alusão, um enunciado que par-
ticipa do silêncio, que deixa a entender sem formular, que designa, que
mostra. Lacan também fala em recorrer à polissemia, à pluralidade de
sentidos.
Em seu Seminário 17: o avesso da psicanálise, Lacan fala em cita-
ção, que consiste em sublinhar algo enunciado pelo sujeito, como se se
colocasse aspas em seu dizer; e também em enigma: um enunciado
sem mensagem, um dizer sem proposição.
O que esses modos de interpretar têm em comum é um “dizer
nada”. O que não significa que eles nada profiram. O dizer do analista,
na interpretação, deve ser esquecido na medida em que é silencioso.
Lacan afirma que o discurso do analista é um discurso sem palavras.
Pela interpretação, conduz-se o sujeito, no percurso da experiência
12 LACAN, 1988, p. 231.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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SOLER, C. Interpretação: as respostas do analista. Opção Lacaniana, São Paulo,
(13), 1995.
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Um Método Sobre
o Discurso, ou a
Metáfora Opaca
A Method on Discourse
or the Opaque Metaphor FRANKLIN WINSTON GOLDGRUB
Mestre em Filosofia e doutor em
Lingüística pela PUC-SP. Professor
da Faculdade de Psicologia da
PUC-SP. Área de atuação: Psicanálise.
sanlorenzo@mail.com
RESUMO – O presente texto propõe uma reflexão sobre o método psicanalítico,
primeiramente a partir da distinção entre dois procedimentos geralmente indife-
renciados, a análise de conteúdo e a interpretação, que visam respectivamente a
causa (do sintoma) e o sentido (do discurso). Na seqüência, a interpretação é de-
finida como “procedimento de desmetaforização”; para tanto, são desenvolvidos
os conceitos de metáfora transparente e de metáfora opaca, ou discursiva. A res-
pectiva argumentação se baseia numa releitura da teorização freudiana acerca do
sonho e na crítica à concepção de metáfora elaborada por Jacques Lacan.
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INTRODUÇÃO
E, no entanto, a interpretação é o ato pelo qual se re-
conhece o analista; podemos mesmo nos perguntar o
que mais ele poderia fazer. Não obstante, essa questão
é particularmente negligenciada. Ela só foi aprofunda-
da a propósito dos sonhos, e isso também pode colo-
car muitos problemas curiosos...1
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seria preciso não esquecer que a prática clínica está longe de confor-
mar-se a seu modelo. Na contramão da interpretação, e apresentando
uma adesão bem mais intensa, apresenta-se um outro procedimento,
que poderia ser designado pelo qualificativo “conteudístico”. A grande
maioria dos autores faz da interpretação e da análise conteudística pro-
cedimentos complementares; ao longo deste texto pretende-se de-
monstrar sua incompatibilidade. Enquanto a análise tem por objeto
qualquer conteúdo do discurso que se entenda privilegiar, a interpreta-
ção tem por único objeto o próprio discurso.
Como habitualmente acontece, a hesitação e também o conse-
qüente ecletismo procedem do próprio Freud. A preconização freudi-
ana de que o psicanalista corresponda com “atenção flutuante” à “as-
sociação livre” constitui uma indicação clara de que o objeto da escuta
é o discurso, e não determinado aspecto do seu conteúdo. Por outro
lado, a própria denominação “psicanalista” poderia ser vista como um
indicativo em sentido contrário..., para não falar da ênfase concedida
à análise das recordações da infância, das fantasias derivadas do com-
plexo de Édipo, das modalidades de defesa, da resistência e da trans-
ferência em diferentes momentos da teorização freudiana.
Pela expressão análise conteudística designar-se-á o privilégio
concedido a tal ou qual tema nas diferentes etapas que marcaram a ela-
boração do método psicanalítico, dando a entender qual seria o seu
objeto – o seu objeto por excelência ou o seu objeto preferencial. As-
sim, de acordo com os diferentes momentos da “história da técnica
psicanalítica” e da “linha” ou das preferências pessoais do analista, pri-
vilegiou-se (exclusivamente ou não) a análise de: recordações infantis,
sintomas, fantasias, “conteúdos” edipianos, resistências, transferências,
incongruências entre o conteúdo e a forma da fala, acting outs, e quem
sabe ainda outros aspectos, pois nessa perspectiva procede-se por
exaustão e é difícil saber onde se deve parar – se é que se deve. (Trata-
se, aliás, de um enfoque cumulativo, que costuma aceitar ou propor
inovações, as quais serão por sua vez somadas ao acervo existente). A
palavra análise merece especial atenção; sua função talvez seja a de
prover o psicanalista de um “objeto concreto”, que poderia ser “exa-
minado”, e que faria as vezes dessas outras análises costumeiramente
pedidas pelo médico: sangue, urina, fezes... Há bons motivos para sus-
peitar que a conhecida influência do modelo médico sobre a psicaná-
lise seja ainda maior do que se tem reconhecido. Não nos dedicare-
mos, contudo, a indagar pelas raízes teóricas do enfoque conteudísti-
co. O interesse reside em argumentar convincentemente acerca do que
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O SONHO
Eu lhes digo o que Freud fez. Digo-lhes como procede
seu método. E, na verdade, basta abrir em qualquer
página o volume da Traumdeutung para encontrar o
equivalente.19
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tes para que o primeiro não fosse nomeado, caso em que Freud po-
deria continuar alimentando esperanças nesse sentido, já que sobre ele
não pesaria qualquer imputação semelhante. A “grande afeição” pelo
tio, sentimento integrante do sonho, constitui para Freud um exemplo
de deslocamento, tendo em vista que disfarça uma das idéias centrais,
ou seja, a “calúnia” endossada pelo sonhador contra R. e N. (um outro
amigo de Freud, igualmente interessado num cargo universitário, e
que por esse motivo aparece nas respectivas associações).
Poder-se-ia dizer que Freud usa o termo condensação para referir
uma operação que seria revertida com certa facilidade, desde que a re-
cordação dos “restos diurnos” responsáveis pelas imagens oníricas não
fosse bloqueada pela resistência. De fato, com referência a esse mesmo
sonho, ele confessa uma “má vontade” inicial em associar, atitude mais
apropriada, comenta, num paciente; uma vez superada a barreira, os
pensamentos latentes acorrem com relativa fluência. Assim, o sonha-
dor percebe sem grande dificuldade, mesmo se com certo desagrado,
que a associação entre R. (e N.) e o tio José obedece possivelmente a
um “desejo” de manter as esperanças de nomeação. A condensação
em questão, portanto, tem certamente um caráter metafórico, institu-
indo uma semelhança obtida por comparação, cujo teor, aqui, seria se-
melhante ao de uma difamação.
Mas outro tanto ocorre com o que Freud chama de deslocamen-
to. “Sinto uma grande afeição por ele(s)”, metaforiza o não querer sa-
ber da “calúnia” veiculada pelo sonho. Esse procedimento de despis-
tamento poderia representar uma operação onipresente nos processos
de elaboração onírica, escreve Freud, e nesse caso seria “uma desco-
berta de validade geral” para a teoria dos sonhos.29
A partir dessas formulações iniciais, diríamos que a condensação
colabora com a censura, subsumindo uma vasta cadeia discursiva
(“pensamentos latentes pré-conscientes”) em elementos mínimos, per-
fazendo uma miniaturização ocultante, enquanto o deslocamento cha-
ma a atenção para os “elementos mínimos” menos importantes ou
mesmo intercala imagens despistadoras em relação ao sentido do
enunciado onírico (no presente sonho, através de uma estratégia de
maximizar um sentimento e omitir outro). Mais importante, porém, é
considerar que as regras propostas por Freud dão a entender que a con-
densação e o deslocamento somente poderiam ser superados por inter-
médio de associações. Essas cadeias verbais progressivamente deixariam
de se restringir aos restos diurnos responsáveis pelas imagens oníricas,
29 FREUD [1912], 1969, v. 4, p. 151.
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pode ser pensado em relação à metonímia, visto ser uma “parte” que
representa o “todo” das associações. Diríamos então que, do ponto de
vista das considerações de figurabilidade (Rücksicht auf Darstellba-
rkeit), ou seja, do caráter imagético do sonho, a condensação seria de
fato metafórica, mas em relação ao conteúdo latente (associações), re-
lação essa caracterizada pela oposição “parte/todo” e prefigurada, ali-
ás, pela elaboração secundária, a condensação evocaria muito mais a
metonímia, por constituir um discurso dentro de um discurso.
Em oposição, o termo deslocamento parece aplicar-se muito me-
lhor à operação de mascaramento ou disfarce, conforme ilustrado pelo
sonho do tio José. (Um bom exemplo de deslocamento seria o da ope-
ração “desfeita” por Freud quando passou da primeira para a segunda
interpretação, procedimento que exigiu um novo conjunto de associ-
ações, ou seja, a inserção das metáforas transparentes singulares do so-
nho no âmbito discursivo). Na terminologia ora proposta e apresen-
tada acima, o deslocamento se expressa através da metáfora discursiva
ou opaca, em contraposição à metáfora sintagmática ou transparente,
mecanismo por excelência da condensação. O aspecto metonímico as-
sinalado por Lacan designaria, de acordo com nosso ponto de vista, o
fato de que toda sessão (todo discurso de uma sessão) seria “parte” de
um conjunto virtual, jamais plenamente aferível, embora certamente
“representado” pelo fragmento ouvido e interpretado, ou seja, o mes-
mo tipo de relação que Freud descreveu entre os conteúdos manifesto
e latente do sonho. Diríamos, portanto, que tanto a condensação como
o deslocamento são metafóricos (diferenciando-se respectivamente pela
transparência e pela opacidade), na medida em que exigem a interpre-
tação para que seu sentido seja explicitado, embora também sejam
metonímicos, porquanto a mencionada explicitação de sentido perma-
neceria assintótica – ou seja, jamais equivaleria à totalidade do discurso
do sujeito.
Em relação às duas interpretações de Freud acerca do sonho do
tio José, caberia supor, de acordo com a conceituação anterior, que a
primeira se inscreve no âmbito da metáfora transparente singular (ten-
do correspondência com a noção lacaniana de demanda), enquanto a
segunda se manifesta no nível discursivo (metáfora opaca, apontando
para o que Lacan define como desejo). A primeira desmetaforização
(interpretação da metáfora transparente, ou seja, a expectativa da não-
nomeação dos amigos, por serem semelhantes ao tio, traduzida por
“calúnia” e, conseqüentemente, por “rivalidade”) é seguida de uma se-
gunda, que representa, por sua vez, algo de caráter mais genérico e
abstrato: desejo de exclusividade (ser o único ministro judeu), meta-
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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GARCIA-LORCA, F. Antologia Poética. Buenos Aires: Losada, 1957.
GOLDGRUB, F. Fenomenologia da metáfora. Psicologia Revista, (1): 19-31,
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ROUDINESCO, J. Lacan, Esboço de uma Vida, História de um Sistema de Pensa-
mento. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.
64 A “dobradiça” articulando a teoria do sujeito e a teoria do método poderia ser enunciada aproximada-
mente assim: se o inconsciente se estrutura como linguagem, o sujeito se manifesta como discurso. Em
decorrência, se a teoria das leis gerais da linguagem (isto é, do inconsciente) requer a perspectiva do univer-
sal, a pesquisa do sentido presente no discurso (isto é, no sujeito) requer o reconhecimento da singularidade
de suas manifestações.
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Luto e Criação em
A Interpretação de Sonhos*
Mourning and Creativeness in
The Interpretation of Dreams
RESUMO – Em 23 de outubro de 1896, o professor Sigmund Freud vivenciou a
experiência da morte de seu pai. O propósito do presente trabalho é trazer à su-
perfície alguns movimentos psíquicos do mundo interno do pai de A Interpretação
de Sonhos, em especial aqueles que se referem ao doloroso processo de elaboração
do luto normal. Percorrendo as cartas de Freud a Fliess no período de 1896 a
1900, foram seguidas as pegadas das etapas do luto de Freud pela morte do pai,
desde a idealização inicial do objeto perdido, a culpa do(s) sobrevivente(s), os sen-
timentos de ódio que transtornam a idealização, o triunfo sobre o morto e a culpa.
Abraçando o aporte teórico de Klein sobre o luto e suas relações com os estados
MARIA TERESA GIMENEZ
maníaco-depressivos, destacam-se os passos do luto de Freud, desembocando nos Professora da Faculdade de Psicologia
movimentos de reparação, sublimação e criação. Foi pela análise dos próprios so- da UNIMEP, supervisora de Estágio
nhos e sob a força da elaboração do luto que nasceu a obra que lançou a psica- e mestre em Psicologia Clínica.
fp@unimep.br
nálise no mundo.
Palavras-chave: luto – reparação – sublimação – criação.
ABSTRACT – On October 23rd, 1896, Professor Sigmund Freud lived through the
experience of the death of his father. This paper intends to uncover some psychic
movements within the inner world of the father of The Interpretation of Dreams,
especially those relating to the painful process involved in normal mourning. By
investigating his letters to Fliess from 1896 to 1900, the stages of Freud’s mour-
ning process for his father’s death are followed, from the initial idealization of the
lost object to the guilt felt by the survivor(s), the feelings of hate that disturbs ide-
alization, the triumph over the deceased and guilt. Applying Klein’s theoretical ap-
proach to mourning and its relationship to maniac-depressive states, the stages of
Freud’s mourning are thrown into relief, culminating in movements of reparation,
sublimation and creativeness. It was through the analysis of his own dreams and
under the stress of mourning that Freud prepared the book that brought psycho-
analysis into the world.
Keywords: mourning – reparation – sublimation – creativeness.1
1 * Nota do editor (N.E.): a autora deste artigo opta pelo título original da obra, A Interpretação de Sonhos,
seguindo as primeiras traduções para o português e guardando fidelidade à versão inglesa, The Interpreta-
tion of Dreams, bem como ao original alemão Die Traumdeutung.
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O CENÁRIO
2 “Um amigo íntimo e um inimigo odiado sempre foram requisitos necessários de minha vida emocional”,
confessou Freud em A Interpretação dos Sonhos. “Eu sempre soube me prover constantemente de ambos”
(FREUD [1899], 1980b, p. 516). Na sua primeira infância este duplo papel foi desempenhado pelo sobri-
nho. Mais tarde, durante a década de suas descobertas iniciais, Freud converteu Wilhelm Fliess nesse neces-
sário amigo e, depois, inimigo.
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O PAI
Os sentimentos dúbios de Freud em relação ao pai foram alcan-
çando cada vez mais a superfície. Conta ele: “Devia contar dez ou
doze anos, quando meu pai começou a levar-me em seus passeios e a
revelar-me em suas conversas seus pontos de vista sobre as coisas do
mundo em que vivemos”.6 Um dia, para mostrar como a vida havia
melhorado para os judeus da Áustria, Jacob Freud contou esse caso
para o filho: “Quando eu era jovem, fui dar um passeio, certo sábado,
pelas ruas do seu lugar de nascimento; estava bem vestido e usava um
novo gorro de pele. Um cristão dirigiu-se a mim e, com um só golpe,
jogou meu gorro na lama e gritou: ‘Judeu, fora da calçada!’” Com ávi-
da curiosidade, Freud perguntou ao pai: “E que fez o senhor?”. E ob-
3 FREUD [1899], 1980a, p. 343.
4 Ibid., p. 343.
5 O nome Alexander foi escolhido pelo menino Freud, então com dez anos, baseado na lembrança da mag-
nanimidade de Alexandre e sua bravura como líder militar macedônio.
6 FREUD [1899], 1980b, p. 208.
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vertido por uma espécie de proibição fóbica. Mais de uma vez passou
férias na Itália mas, paradoxalmente, o lugar mais próximo da capital
italiana a que chegara fora o lago Trasimeno, a setenta e cinco quilô-
metros de Roma. Era o lugar em que Aníbal também se detivera.
No fim de 1897, sonhou que ele e Fliess poderiam organizar um
de seus “congressos” em Roma. E, no início de 1899, sugeriu de lá se
encontrarem na Páscoa. Roma aparece na temática freudiana como a
recompensa máxima, mas também como a incompreensível ameaça.
“A propósito”, disse a Fliess, “meu anseio por Roma é profundamente
neurótico. Ele está ligado ao meu entusiasmo dos tempo de escola pelo
herói semita Aníbal”.10 Na verdade, conquistar Roma era triunfar no
próprio quartel-general. Freud interpretava sua ambivalência por
Roma como o contraste entre a tenacidade do povo judeu e a orga-
nização da Igreja Católica. Porém, sugere algo mais: conquistar Roma
seria triunfar na sede, dominar o pai, subjugá-lo, castrar ou ser castra-
do. Um sério conflito, uma séria batalha!
Freud mesmo sugeriu que sua fobia tinha uma natureza edipiana
quando evocou o antigo vaticínio apresentado aos Tarquínios, de o
primeiro a beijar a mãe se tornar o governante de Roma. A implicação
psicanalítica desse beijo, embora Freud não o diga explicitamente, é a
vitória sobre o pai. Roma representava os mais fortes desejos eróticos
e também os mais intensos impulsos agressivos – estes apenas menos
ocultos do que aqueles. Ao publicar A Interpretação de Sonhos, Freud
ainda não chegara a conhecer Roma. Numa metáfora, não “conquis-
tara” Roma.11
A MORTE DO PAI
Na primavera e no verão de 1896 seu pai esteve à morte, e isso
foi muito mais absorvente para Freud do que seus afazeres neurológicos
e até mesmo do que as neuroses. Informou a Fliess no fim de junho de
1896: “Meu velho pai (81 anos) está em Baden”, uma estância a meia
hora de Viena, “no mais frágil estado, com insuficiência cardíaca, pa-
ralisia da bexiga e coisas semelhantes”.12
Pouco mais adiante, escreveu: “realmente creio que são seus úl-
timos dias”. A perspectiva, quase certeza, da morte do pai não o de-
10 MASSON, 1986, carta de 3 de dezembro de 1897, p. 286.
11 A natureza edipiana das fobias foi amplamente descrita por Freud ([1909] 1980d), postulando que o
ponto de fixação delas localiza-se nos conflitos em torno da situação triangular da fase fálica do desenvolvi-
mento libidinal. Igualmente, Gimenez (1983) aponta esse fator psicodinâmico predominando em uma das
quatro classes de fobia escolar em estudo. Ir à escola ou... “ir a Roma”, ambas podem evocar profunda con-
flitiva emocional de caráter edípico, com resultados semelhantes.
12 MASSON, 1986, carta de 30 de junho de 1896, p. 194.
O LUTO
Um fenômeno que Freud observou em si mesmo durante esses
primeiros dias de pesar foi a culpa do sobrevivente. Na carta a Fliess de
2 de novembro de 1896, escreveu sobre “a auto-recriminação que re-
gularmente surge entre os sobreviventes”.15 Klein16 estabelece ligações
entre o luto normal e a posição depressiva infantil. Aponta que, na afli-
ção do indivíduo em luto, a pena pela perda real da pessoa querida é
em grande parte aumentada pelas fantasias inconscientes de ter perdido
também os objetos bons internos. Surge o sentimento de que predo-
minam seus objetos internos maus e seu mundo interno está em perigo
de romper-se. A perda da pessoa amada leva o indivíduo enlutado a
reinstalar no ego esse objeto amado perdido. Não só o objeto perdido,
mas junto com ele outros objetos bons interiorizados, os quais são sen-
tidos como destruídos. Então, a posição depressiva mais primitiva, e
com ela as ansiedades, os sentimentos de culpa, de perda e aflição, da
situação edipiana e de outras fontes – tudo isso é reativado.
Como sabemos, a pessoa enlutada consola-se recordando a bonda-
de e as qualidades do morto, devido à tranqüilidade que experimenta ao
conservar idealizado o seu objeto amado. As fases passageiras de elação
são devidas ao sentimento de possuir dentro de si o perfeito objeto ama-
do, porém idealizado. Entretanto, a qualquer momento os sentimentos
de ódio podem irromper e transtornar o processo de idealização.
Então, a inevitável reação se manifestou. Freud sentiu dificulda-
des até em escrever cartas. Agradecendo as condolências de Fliess, afir-
ma que “a morte do velho me comoveu muitíssimo. Eu o estimava
profundamente, entendia-o muito bem e ele teve grande efeito na mi-
13 MASSON, 1986, carta de 15 de julho de 1896, p. 196. Nessa tradução para o português, o tempo de
verbo utilizado por Freud teria sido o passado, “ele foi”; na tradução de GAY (1989, p. 96), a ênfase
repousa no tempo pretérito. De qualquer forma, Freud já contava com o pai morto.
14 Ibid., carta de 26 de outubro de 1896, p. 202.
15 Ibid., carta de 2 de novembro de 1896, p. 203.
16 KLEIN [1940], 1981.
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nha vida, com sua típica mescla de profunda sabedoria e sua fantástica
despreocupação”.17 Subseqüente à morte do pai, Freud experimentou
um intenso bloqueio no processo que vinha empreendendo de sua
auto-análise. Em maio de 1897, escreve a Fliess que “algo está fer-
mentando e fervilhando em mim”.18 Em meados de junho, confessou
estar preguiçoso, intelectualmente estagnado. Logo mais, comunica:
“estou num casulo, e sabe Deus que tipo de bicho vai sair dele”.19 Ain-
da a Fliess: “Algo proveniente das mais recônditas profundezas de mi-
nha neurose opõe resistência contra qualquer progresso na compreen-
são das neuroses (...)”.20
O grande risco na elaboração do luto provém do reverso contra
si mesmo, do ódio pela pessoa amada. Uma das formas como se ex-
pressa o ódio é através do triunfo sobre a pessoa morta. A morte, em-
bora acabrunhadora, é sentida como uma vitória, originando triunfo,
mas também culpa. Klein21 observa que os sentimentos de triunfo têm
o efeito de retardar a superação do luto e contribuem ainda mais para
as dificuldades e penas do enlutado. Isso não só torna o ente querido
perseguidor mas também abala a crença nos objetos bons. Perturba si-
multaneamente o processo de idealização, necessário para se salva-
guardar dos objetos maus e vingativos.
A morte de seu pai tinha redespertado todo o passado em seu ín-
timo. “Agora sinto-me totalmente desenraizado”.22 Klein23 afirma que,
durante o luto normal, reativam-se as primeiras ansiedades psicóticas.
Observa que o indivíduo de luto atravessa um estado maníaco-depres-
sivo modificado e transitório, e consegue sobrepujá-lo, repetindo as-
sim os processos que a criança atravessa normalmente em seu desen-
volvimento. Alternam-se os estados de perseguição, em que o objeto
odiado pode infligir as mais terríveis penas ao sujeito, e os estados de
idealização, através dos quais o sujeito exalta maniacamente as quali-
dades do objeto perdido. Essas duas espécies de estados mentais cor-
rem paralelas e dissociadas.
Dificilmente seria essa a reação comum de um filho de meia-ida-
de diante do fim de um pai idoso. A tristeza de Freud foi excepcio-
nalmente intensa. E foi excepcional também pela forma como ele a
empregou para uso científico, distanciando-se um tanto de sua perda
17 MASSON, 1986, carta de 2 de novembro de 1896, p. 203.
18 Ibid., carta de 16 de maio de 1897, p. 244.
19 Ibid., carta de 22 de junho de 1897, p. 255.
20 Ibid., carta de 7 de julho de 1897, p. 256.
21 KLEIN [1940], 1981.
22 MASSON, 1986, carta de 2 de novembro de 1896, p. 203.
23 KLEIN [1940], 1981.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FREUD, S. [1899] Lembranças Encobridoras. Edição Standard Brasileira das
Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago,
1980a, v. 3.
_________. [1899] A Interpretação de Sonhos. Edição Standard Brasileira das
Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago,
1980b, v. 4-5.
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A Psicanálise como
Obra Aberta
Psychoanalysis as an
Open Work
RESUMO – Este artigo traz algumas reflexões acerca da contemporaneidade da teoria
e da prática psicanalíticas. Para tanto, são utilizados alguns dispositivos conceituais e
teóricos advindos da psicoterapia institucional. Esses dispositivos, que posteriormen-
te foram traduzidos, incorporados e ampliados ao institucionalismo, trouxeram
contribuições importantes às rupturas já produzidas pela psicanálise. Tomando-se
MAURÍCIO LOURENÇÃO GARCIA
como referência a idéia de descentramento do sujeito produzido pela teoria freudi- Mestre (PUC-SP) e doutorando
ana, a própria noção de sujeito do inconsciente e a primazia da palavra no trabalho em Psicologia Clínica (PUC-SP).
Docente da Faculdade
psicanalítico, pretende-se esboçar elementos que ofereçam condições de se continuar de Psicologia da UNIMEP.
problematizando o alcance, os avanços e as estagnações da obra freudiana. Ao per- mlgarcia@mandic.com.br
correr-se algumas brechas do universo psicanalítico, é possível apropriar-se das crí-
ticas e das contribuições necessárias para que se possa continuar pensando e prati-
cando a psicanálise de forma crítica.
ABSTRACT – This article brings some reflections to bear upon the current relevan-
ce of psychoanalytic theory and practice, using concepts and theories derived from
institutional psychotherapy. These concepts, originally developed under the rubric
of institutionalism, led to both important contributions and ruptures within
psychoanalysis. Taking as references the idea of the decentralization of the subject
as proposed by Freudian theory, concepts of the unconscious subject, and the im-
portance of the word in clinical practice, the goal of this paper is to draft elements
which will facilitate our continued questioning into the achievements, advance-
ments, and stagnations of Freudian work. By bridging some of the gaps in the
psychoanalytic universe, it is possible to incorporate the necessary criticisms and
contributions, enabling us to continue thinking about and practicing psychoanaly-
sis in a critical fashion.
INTRODUÇÃO
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A PRIMAZIA DA PALAVRA
Constituindo parte do material que um analisando apresenta
para ser analisado, encontramos alguns elementos privilegiados, como
sonhos, atos falhos, lapsos de memória, entre outros. Esses fenômenos
designam o que a psicanálise classicamente concebeu como derivados
do inconsciente ou formações do inconsciente. São fenômenos resul-
tantes de uma combinação, da articulação de uma transição/transação
entre as instâncias do id, do ego e do superego. Em psicanálise esses
efeitos têm por característica, pelo menos fenomênica ou técnica, ex-
primir exclusivamente a problemática de um indivíduo, manifestá-la,
denunciá-la. Na aparência desses fenômenos, na materialidade
fenomênica, privilegiam-se, fundamentalmente, os efeitos verbais.
Sem querer adentrar no mérito das várias interpretações e defi-
nições que se fazem da linguagem e de sua importância na clínica psi-
canalítica, salientarei apenas que essa ênfase ao verbal está referida à
idéia de que as relações da psicanálise com a linguagem e o discurso
são fundamentais. Tendo em vista que a fala constitui a matéria-prima
da experiência psicanalítica, não se pode representar o ato psicanalíti-
co na exterioridade do campo do discurso. Tais relações, no entanto,
são múltiplas e implicam diferentes ordens de problemas, já que não
se trata apenas de constatar o óbvio – isto é, que o processo analítico
se realiza pelo discurso –, mas também de indagar sobre o modo de se
ordenar a estrutura do psiquismo para que o ato psicanalítico fundado
na palavra seja uma experiência possível.
13 FREUD, 1981a, tomo III.
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REPENSANDO A SUBJETIVIDADE:
ALGUMAS CONTRIBUIÇÕES DO INSTITUCIONALISMO
Nos itens anteriores, foram abordados de forma sintética alguns
elementos que compõem o tecido da teoria e da prática psicanalítica.
Para que seja possível conduzir o texto a uma ampliação das questões
inerentes ao saber psicanalítico, vai-se apontar aqui de que forma o
institucionalismo oferece elementos preciosos para potencializar a psi-
canálise como uma obra aberta. Essa opção dá-se pelo fato de que o
institucionalismo é movido pela vontade de produzir novos proble-
mas, pela necessidade de criação; sendo originalmente um dispositivo
de desnaturalização e de desarticulação das totalizações instituídas e re-
conhecidas, o institucionalismo dedica-se a fazer uma genealogia das
formas históricas de produção, para expor manifestamente os poderes
que estas envolvem, ao invés de orientar-se por uma visão epistemoló-
gica, ou seja, por critérios de verdade, sejam estes revelados, especu-
lativos ou experimentais.
O institucionalismo pode ser considerado um conjunto aberto e
internamente diversificado de correntes que mostram certos valores
em comum, assim como marcadas diferenças. Trata-se de um universo
não totalizável, sem limites precisos, que compreende inúmeros sabe-
res e fazeres que tomam por objetivo os coletivos sociais no que se re-
ferem à lógicas que os regem, às subjetividades que produzem e/ou re-
produzem, às formas concretas em que estas se materializam, às fina-
lidades que perseguem, assim como aos expedientes que se dão para
obtê-las.19
Muito sumariamente mencionada, a gênese social mais circuns-
crita do institucionalismo fala de uma passagem que ocorreu no campo
da saúde mental no início da década de 40: o impacto recebido pela
psiquiatria tradicional, positivista e classificatória, proveniente sobretu-
do da psicanálise, da pedagogia libertária e da antipsiquiatria. A partir
daí houve um questionamento de todos os aparatos da psiquiatria e
apareceram tentativas de operar eficiência terapêutica, utilizando as
próprias organizações da psiquiatria; deu-se o questionamento da ins-
19 Baseado no ideário da análise institucional, desenvolvi em minha dissertação de mestrado o conceito de
clínica ampliada, clínica essa comprometida com a crítica, construção e produção de uma subjetividade
heterogenética, aliançada com a escuta daquilo que propicia a criação e potencializa os processos de trans-
formação do cotidiano. Cf. GARCIA, 1996.
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21 GUATTARI, 1976.
22 Molar: ordem de realização do real em que as entidades características são os extratos e os grandes blo-
cos representativos dos territórios constituídos. É o lugar dos códigos, da “forma sujeitos e objetos” defini-
dos. É o campo da regularidade, da estabilidade, da conservação e da reprodução. É o mundo do macro.
Molecular: caracteriza os elementos que compõem a superfície da produção. É o lugar das matérias não for-
madas e das energias não vetorizadas, em que as máquinas se formam ao mesmo tempo em que funcio-
nam.
23 GUATTARI, 1992, p. 21.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O que o institucionalismo nos mostra – em especial na vertente
esquizoanalítica que o compõe – é que sempre é possível buscar outros
24 GUATTARI, 1992, p. 23.
25 Ibid., p. 11.
26 DELEUZE & GUATTARI, 1976.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DELEUZE, G. & GUATTARI, F. O que a Filosofia? Rio de Janeiro: Editora 34,
1992.
__________. O Anti-Édipo. Rio de Janeiro: Imago, 1976.
FREIRE COSTA, J. et al. Redescrições da Psicanálise: ensaios pragmáticos. Rio de
Janeiro: Relume Dumará, 1995.
FREUD, S. Obras Completas. Madri: Biblioteca Nueva, 1981.
__________. Projeto para uma Psicologia Científica. Obras Completas, tomo I.
Madri: Biblioteca Nueva, 1981a.
__________. A Interpretação dos Sonhos. Obras Completas, tomo I. Madri: Biblio-
teca Nueva, 1981b.
__________. O Inconsciente. Obras Completas, tomo II. Madri: Biblioteca Nueva,
1981a.
__________. Luto e Melancolia. Obras Completas, tomo II. Madri: Biblioteca
Nueva, 1981b.
__________. Análise Terminável e Interminável. Obras Completas, tomo III.
Madri: Biblioteca Nueva, 1981a.
__________. Esboço de Psicanálise. Obras Completas, tomo III. Madri: Biblioteca
Nueva, 1981b.
GARCIA, M.L. Análise institucional: considerações sobre a clínica ampliada. PUC-
SP, 1996. [Dissertação de mestrado]
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Existo, Penso.
A Filosofia e a Questão
do Inconsciente:
Algumas Indicações*
I am, I Think. Philosophy and the
Unconscious: some indications
RESUMO – Este artigo faz algumas indicações sobre as relações entre filosofia e psi-
canálise. O questionamento a respeito da noção de consciência vigente na virada
do século, período em que a noção de inconsciente foi formulada por Freud, re- EDSON OLIVARI DE CASTRO
cebeu da fenomenologia diferentes respostas, que são apontadas nos trabalhos de Psicanalista, professor em regime
de dedicação da Faculdade de
Husserl, Heidegger, Sartre e Merleau-Ponty. O diálogo com esses autores permite Psicologia (UNIMEP), doutorando
demarcar o campo epistemológico da descoberta freudiana. em Psicologia Clínica (PUC-SP),
sócio-titular do Centro de Estudos
Palavras-chave: inconsciente – filosofia – fenomenologia – psicanálise. Fenomenológicos de São Paulo e
sócio-fundador da Associação
ABSTRACT – This article indicates the relationships between philosophy and Livre – Instituto de Cultura e
psychoanalysis. The questions about the notion of the conscience present at the Psicanálise – Piracicaba/SP.
edson.oc@uol.com.br
turn of the century when the notion of the unconscious was formulated by Freud,
received from phenomenology different answers that are shown in the works of
Husserl, Heidegger, Sartre and Merleau-Ponty. Dialogue with these authors allows
the demarcation of the epistemological field of Freudian discovery.
Keywords: unconscious – philosophy – phenomenology – psychoanalysis.1
1 * Originalmente escrito para participação da mesa-redonda “Sou onde não me penso – A destituição do
Cogito”, da 7ª Semana de Estudos Filosóficos da UNIMEP, que teve como mote Razão e Existência, este
artigo foi ligeiramente adaptado para a presente publicação.
Brincava a criança
com carro de bois.
Sentiu-se brincando
e disse: eu sou dois!
CARNEIRO LEÃO
2 Professor de Filosofia da Universidade de Viena, autor de A Psicologia do Ponto de Vista Empírico, 1874.
3 MERLEAU-PONTY, 1984a, p. 190.
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I
Mesmo com todos os problemas que um resumo nos traz, diga-
mos que, em Husserl, o cogito (o pensar) é irredutível a um pensar ra-
cional e não é confundido com a cogitatio (o pensado), pois se funda
num compromisso com o pré-temático vivido, por ele denominado de
“mundo da vida”, em que uma intencionalidade operante age e é agi-
da, e em que só por um esforço de retomada deste vivido o sentido se
esclarece em diferentes níveis de constituição. Um desses níveis é o
pensar reflexivo, de uma consciência transcendental, não tética de si
(ou seja, que não supõe a si mesma em seu próprio ato), sempre parcial
e provisória, e que só se encontra nos matizes noemáticos dos objetos
que se lhe apresentam.6
Podemos, então, dizer que a descrição fenomenológica de Ed-
mund Husserl – contanto que não a forcem a um sentido idealista com
o qual não concordo7 – pode fornecer-nos elementos para as questões
sobre o que se convencionou chamar de inconsciente, pois sua epochê
4 Essa questão, especificamente, se coloca porque a descoberta de que, quando falamos, sempre dizemos
algo a mais do que queremos explicitamente dizer não é um troféu da psicanálise. Com certeza desde Pla-
tão, e talvez mesmo antes dele, sabe-se que todo discurso é acompanhado por uma franja marginal de
significações, que pode ser mais ou menos densa, embora na comunicação cotidiana exista uma convenção
tácita no sentido de suspender a atenção a essa franja conotativa, para concentrar o foco sobre o conteúdo
manifesto ou denotativo daquilo que é dito. Como sabemos, apenas na situação analítica, e por autorização
explícita dada pelo paciente ao analista, é que o chamado argumento ad hominem tem direito de cidadania.
A interpretação legitima-se pela referência do discurso ao seu emissor e não ao seu objeto designado.
5 Cf. ROUDINESCO, 1994.
6 Cf. BEIRÃO, 1984, pp. 27-34.
7 Acompanho a compreensão que Merleau-Ponty manifesta em O Filósofo e sua Sombra (1960): a partir
dos Inéditos (quando se dedica à elucidação do Lebenswelt – ou mundo-da-vida) há, em Husserl, um
impensado que é muito seu e que, no entanto, abre para uma outra coisa, uma nova abordagem que indica
que nem o Espírito nem a Natureza são fundantes, mas que ambos são manifestações de uma “terceira
dimensão”, abaixo deles, anterior à objetividade e à subjetividade e que os constitui. Indico a leitura aos que
só conhecem os objetos de pensamento de Husserl e insistem em mantê-lo exclusivamente limitado ao eixo
cartesiano de uma filosofia da consciência.
II
Também podemos realizar aproximações desde a analítica exis-
tencial de Martin Heidegger.9 Sem tratar de resumir suas proposições
essenciais, gostaria de destacar especialmente aquelas sobre a inauten-
ticidade – situação inicial, espontânea e ineludível do Dasein (Estar-aí):
como ser-para-a-morte, vivemos em evidências que consideramos na-
turais, resultando de nossa incessante e ante-predicativa interpretação;
cremos que a fisionomia afetiva dos outros e do mundo dependem de-
les, enquanto de outro lado, não adquirimos dos outros e do mundo
mais do que um conhecimento universal, público, baseado no “falató-
rio” (Gerede), que não nos desprende de nosso modo de ser “a gente”
(Das man) – ao contrário, disfarça nossa finitude.
Apenas na angústia – que nos arranca da inautenticidade para um
ser-si-mesmo, autêntico – e, por um triz, subjetivamos a morte, singu-
larizando-nos. Mas, imediatamente, mergulhamos de novo na situação
(dimensão) anterior, pois no modo de ser autêntico também nos damos
conta do quão inarredável é nossa pertença ao mundo comum.10
Não estou equiparando o que Heidegger chama de inautentici-
dade ao que Freud ou Lacan chamaram de inconsciente, porém, mais
uma vez, tentando posicionar o problema nos termos da filosofia: as
indicações acima nos mostram que o homem não pode viver sem dis-
8 Cf. LYOTARD, 1986. Ver também BEIRÃO, in CASTRO & BEIRÃO, 1992, pp. 135-48.
9 Na perspectiva da ontologia fenomenológica, a novidade de Heidegger, em relação ao seu mestre Hus-
serl, é ter tentado resolver o problema do fundamento sem recorrer à consciência, mesmo transcendental, o
que seria sem dúvida idealista demais, mesmo subjetivista, pois Heidegger recusa partir de intuições, mas
parte da compreensão da vida concreta: do contrário, passar-se-ia ao lado da vida na sua realidade e no
complexo dos significados do mundo – Heidegger parte da vida na sua facticidade no mundo, da vida que
é em última análise histórica e se compreende historicamente.
10 Cf. HEIDEGGER, 1968, § 26. Sobre Heidegger e Freud, ver LOPARIC, 1990 e LOPARIC, In KNO-
BLOCH, 1991, pp. 43-58.
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III
Cabe, ainda, fazer referência a dois outros fenomenólogos que,
embora discordantes entre si, aclaram alguns pontos que dizem res-
peito à noção de inconsciente: Jean-Paul Sartre e Maurice Merleau-
Ponty.
Ao interrogar-se descritivamente sobre o ser do homem, Sartre
nos mostra que através da reflexão não podemos alcançar o modo do
ser para-si – ou uma qualificação própria que nos seja interior –, pois
é através do outro, e, mais particularmente, mediante o olhar do ou-
tro, que o homem se dá conta de que tem um ser (que escapa à liber-
dade absoluta) e que este não se lhe é revelado de outra maneira, nem
pode recusá-lo.
É isso que assegura a possibilidade do que Sartre denominou má-
fé: negando seu ser a pretexto de que o recebe de outrem, de que não
pode aceitar um ser que não receba de si mesmo, tenta negar o fato
em si e não só tal ou qual qualificação, escondendo-se de toda espe-
cificação de seu ser. Porém, a única forma de provar o “erro” de uma
qualificação recebida (por exemplo: “Tal pai, tal filho!”) seria “traba-
lhar” para impor ao outro uma modificação, o que implica, finalmen-
te, restituir-lhe o lugar de atribuidor.
É certo que as teses de Sartre exigiriam uma discussão mais apro-
fundada, não apenas para verificarmos se realmente haveria, e como,
uma destituição do cogito, mas também no sentido de elucidar as re-
lações entre a ambigüidade do ser do homem e nossos diagnósticos,
que são uma maneira de atribuir certa qualificação ao ser de nossos pa-
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13 O filósofo procura mostrar, nesse momento de sua reflexão, que a consciência não se define inicialmente
como cogito e faculdade intelectual da representação, mas como percepção, que não seria sequer um ato,
mas o fundo sobre o qual se destacam todos os atos e é pressuposto por eles. Merleau-Ponty foi, nessa obra,
obrigado a retomar a problemática husserliana para fundar sua fenomenologia da percepção como recusa,
justamente, de uma filosofia da consciência.
14 Cf. MERLEAU-PONTY, 1984b. Sobre o inconsciente em Merleau-Ponty, vide COELHO JR. in KNO-
BLOCH, op. cit., pp. 123-145. De qualquer modo, vale assinalar que, para o filósofo, a ciência e a filosofia
da consciência nunca foram capazes de dar conta da peculiaridade e da ambigüidade da relação corpo-
mundo (pois sempre manteve como apanágios exclusivos da consciência e do objeto, respectivamente, a
reflexividade e a visibilidade), nem da intersubjetividade (pois para a primeira cada um é um autômato igual
a uma coisa ou à matéria inerte, enquanto, para a segunda, é um “eu penso” único e total, não havendo
como sair de si e encontrar o outro), nem sequer da linguagem (já que para a primeira ela sempre foi um sis-
tema convencional e econômico de sinais e, para a Segunda, uma tradução imperfeita do pensamento), o
que o levou à critica do “pensamento de sobrevôo” tanto numa como noutra.
15 Cf. MERLEAU-PONTY, 1960, p. 9.
IV
Sem dúvida, há outros caminhos na própria fenomenologia e na
filosofia contemporânea que concorrem para a destituição do cogito.16
Penso, porém, que já estão indicadas questões suficientes para se ini-
ciar, notadamente no nosso meio acadêmico (já que em outros ele não
é nada novo), um diálogo profícuo entre filosofia e psicanálise que,
por vezes, tem sido incentivado a deixar de lado os debates fundados
nos clássicos e voltar sua atenção para querelas corporativistas, moti-
vadas por razões mercadológicas; ou ainda, o que é pior, se reduz a fi-
losofia ao desejo do filósofo de um lado e, de outro, a psicanálise a
uma pseudociência ou a um saber em-si que não se permite ser inter-
rogado pela filosofia, quer pelo viés epistemológico, quer pelo viés éti-
co-político ou ontológico.
Que a comemoração do centenário dessas obras nos enseje a
busca de respostas a questões como as que Paul Ricoeur formulava há
trinta anos: como devemos repensar e re-fundamentar o conceito de
consciência, de maneira tal que o inconsciente possa ser seu outro?
Como conduzir uma crítica – no sentido kantiano – referente aos mo-
delos que a psicanálise constrói, necessariamente, para dar conta do in-
consciente? E, para além da revisão do conceito de consciência impos-
ta pela ciência do inconsciente: em que visão de mundo e de homem
são possíveis essas coisas? O que deve ser o homem para ser, de uma
só vez, responsável por um pensar razoável e capaz da loucura? Ser
obrigado por sua humanidade a uma maior consciência e capaz de de-
pender de uma tópica e economia, porquanto o “isso fala n’ele”? Que
nova visão sobre a fragilidade humana – e, ainda mais radicalmente,
sobre o paradoxo da responsabilidade e da fragilidade – é exigida por
um pensamento que aceita ser descentrado da consciência por uma re-
flexão sobre o inconsciente?17
E, uma questão, ou é tomada como própria, ou se faz de conta
que a responde!
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A Criança Especial
na Psicanálise
The Special Child in Psychoanalysis
RESUMO – Esta pesquisa fez-se necessária pelas questões surgidas a partir de aten-
MÁRCIA CRISTINA MAESSO
dimentos clínicos psicológicos realizados no CEPAC, em Jacareí-SP, instituição que Psicanalista, especialista em
recebe crianças especiais, submetidas a diversos tipos de comprometimentos físicos Psicanálise e Linguagem (PUC-SP).
maesso_bernardes@uol.com.br
e ou mentais, sobretudo algumas síndromes e paralisia cerebral. Trata-se de um es-
tudo teórico-clínico segundo o referencial psicanalítico, envolvendo a problemá-
tica do déficit orgânico sobre a constituição psíquica da criança. Resultou de uma
pesquisa que teve como ponto de partida a seguinte questão: como uma insufici-
ência orgânica sobrevém nas condições de constituição da subjetividade? Na ten-
tativa de respondê-la, tomamos como referência teórica Freud, Lacan e outros psi-
canalistas contemporâneos, articulada a três resenhas de casos.
ABSTRACT – The need for the present research came from the questions that arose
in the clinical psychological treatments at CEPAC in Jacareí-SP, Brazil, an institution
which assists special children with physical and mental disabilities, syndromes and
cerebral paralysis. This is a clinical theoretical study based on psychoanalysis, in-
volving the problem of organic disabilities and the child’s psychic constitution.
The article resulted from research based on the question of how an organic insu-
fficiency affects the conditions of subject formation. In our attempt to respond, we
used as our theoretical framework the works of Freud, Lacan and other contem-
porary psychoanalysts which were articulated in the discussion of three case stu-
dies.
INTRODUÇÃO
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CASO I
Lucas, menino de cinco anos, que sofreu AVC (derrame cerebral)
com um ano e oito meses de idade, apresenta um quadro de hemipa-
resia e de constantes convulsões. Em algumas entrevistas sua mãe de-
clara que, pelo fato de Lucas ter convulsões diárias, ela teme deixá-lo
sozinho; sua presença é constante para o caso de ter de socorrê-lo.
Quando é convocada a dizer como é sua relação com o filho, nota-se
que é através das convulsões que ela se faz. O menino não pode ficar
sozinho; quando quer jogar bola com o irmão e os amigos (que ela diz
serem do irmão), a mãe tem medo; só pode brincar na rua quando ela
tem condições de olhá-lo; além disso, sente-se penalizada pelo fato das
outras crianças notarem e comentarem que Lucas não sabe brincar di-
reito. Entretanto, mesmo com tantos cuidados e a presença da mãe,
Lucas teve uma crise convulsiva e caiu da escada. Ao relatar o fato, a
mãe se explica dizendo que estava perto do filho, mas a proximidade
não foi suficiente para alcançá-lo a tempo. Essa “necessidade” de se-
gurá-lo configura-se em outra situação: quando estão na rua a mãe se-
gura bem forte a mão de Lucas; se soltar, ele sai correndo e ela teme
que algo ruim possa acontecer.
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CASO II
Uma mulher grávida tropeça e bate a barriga; sua filha Jhullya
nasce normalmente e, aos seis meses de idade, a mãe nota que a criança
não consegue sentar-se, mantendo-se em movimentos descoordenados,
sacudindo o corpo. A criança é levada ao pediatra, que a encaminha ao
neurologista; através de exames é diagnosticado que a criança tem sí-
ndrome de West criptogênica, com prognóstico de não andar e não fa-
lar. Entretanto, Jhullya anda aos três anos e fala aos cinco anos, idade
com a qual é levada a freqüentar uma pré-escola pública convencional,
mas na qual não lhe é dado continuar, devido ao seu comportamento
“hiperativo” e mau aproveitamento. Jhullya começa, então, a ser assis-
tida por mim, aos seis anos e meio; suas manifestações resumem-se na
criação de palavras inexistentes (glossolalia) e em jogos que desenvol-
vem-se em deslocamentos metonímicos: um animal chama o outro
para falar, que por sua vez chama outro animal, que chamará outro, e
assim por diante. Às vezes falava imperativamente consigo, como se
fosse um outro e respondia com um ato.
Através das conversas com a mãe, soube-se que, a seu ver, o fato
de ter batido a barriga durante a gestação ao correr de um homem por
ela considerado louco poderia ter causado o problema de Jhullya. E,
a respeito do exame genético, ela considerava o “gen” do pai o res-
ponsável, já que o pai não podia ter filhos. Depois de Jhullya ouvir es-
ses relatos da mãe, começou a estender seus jogos, produzir desenhos,
desdobrar significantes e pedir que eu desenhasse seu pai levando-a à
escola.
Notamos nesse curto relato que Jhullya ficou sem um lugar de-
finido: a batida durante a gestação talvez tivesse contribuído para que
o bebê real não fosse identificado como o bebê esperado; o bebê so-
freu um acidente e deste esperava-se algum efeito, mas que não se sa-
bia qual. O nome escolhido para a criança durante a gravidez, Tânia,
não lhe foi dado; outro nome (Jhullya) surgiu quando a mãe folheava
uma revista no hospital. Jhullya refere-se a si própria como Tânia (o
nome que teria e que sua prima recebeu) e à sua irmã como Marcos,
o nome de seu primo. Além de apontar o ideal de filha em sua prima
por parte de mãe, através de sua tentativa de nomeação, Jhullya apon-
ta a insatisfação que representa. Para a mãe, Jhullya é um nome que
“não se escreve, ninguém sabe escrevê-lo”, nem mesmo ela.
Estamos tratando da alienação fundamental proposta por Lacan,
que se faz necessária à estruturação da realidade, bem como constitui a
imagem refletida de si, na relação com o outro, na forma de eu-ideal.3
No caso dessa menina, a roupa tecida durante a gestação – seu nome,
entre outras coisas – não lhe coube; talvez a mãe já não soubesse como
lhe chamar, por não saber “como” a criança nasceria a partir do aciden-
te. Recorrendo a uma revista no hospital e ao médico, pôde oferecer
uma suplência ao significante que ficara suspenso. O nome da síndrome,
dado pela ciência, alude à incidência paterna como responsável geneti-
camente pelo comprometimento da filha. Podemos supor que essa reve-
lação médica tenha permitido à mãe reconhecer a filiação da criança a
partir do referencial paterno, e à criança a possibilidade de ocupar um
lugar na cadeia significante, identificando-se à sua insuficiência herdada
da insuficiência do pai. Entretanto, a referência ao significante paterno
possibilita à criança avançar sobre sua doença, não correspondendo ao
prognóstico de não andar e não falar, estabelecido pela medicina, na
3 Cf. LACAN, 1979, p. 148.
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CASO III
O atraso no nascimento de David tem como conseqüência
anóxia neonatal, que o leva à internação imediata por alguns dias; as-
sim, passa a ter cuidados especiais, pelo receio dos pais de que algo lhe
acontecesse. Aos dois anos, a mãe começa a notar o atraso no seu de-
senvolvimento motor e cognitivo; é encaminhado a vários médicos e
especialistas para se saber a causa de seu problema. Aos três anos co-
meça a falar; a primeira palavra que pronuncia é caminhão, quando
tem início sua primeira fixação – quer saber o que contêm os cami-
nhões que vê na rua. Até os cinco anos não fala eu, referindo-se a si
usando seu nome próprio, e manifesta-se basicamente através de per-
guntas. Os pais permaneceram na busca de especialistas que justificas-
sem as manifestações de David, sem contudo aceitar nenhuma delas,
declarando a insuficiência dos profissionais, ao mesmo tempo que não
sabiam o que fazer com seu filho.
David chega para tratar-se comigo aos onze anos e meio. Sua fala
resume-se a perguntar se é amado, sobre cenas de filmes e sobre fitas
de vídeo, as quais coleciona. Mas não pode contar sequer uma cena de
algum filme que tenha assistido, tampouco relacioná-los de acordo
com sua preferência, pois parece não possuir nenhuma. A mãe relata
que ele mal acaba de ganhar uma fita, já começa a pedir outra e que
não fica satisfeito quando ganha a fita que pediu.
O contexto permite considerar a hipótese de que não há para
David uma articulação significante que lhe confira um lugar. As con-
dições especiais de seu nascimento talvez tenham contribuído para o
modo como o laço com os pais fora estabelecido. A declaração dos
pais de “não saber” o que se passa com o filho na procura incessante
por diversos especialistas, sem contudo reconhecer ou autorizar o co-
nhecimento científico desses especialistas, leva-nos a supor que a fun-
ção que deveria ser ocupada pelos pais – a de saber sobre o filho, an-
tecipando-lhe, através do período especular, a crença de que ele “é” –
não lhes foi instituída, e que talvez a busca pelo saber científico esti-
vesse muito mais relacionada à possibilidade de encontrar alguém que
lhes instituísse esse saber, do que a saber sobre o déficit do filho. Ma-
nifestando-se, da mesma maneira que os pais, a partir unicamente de
perguntas, David atualiza as perguntas dos pais, que não sabem quem
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CONCLUSÃO
É importante considerar que mesmo o infans (que não fala, cuja
fala não tem estatuto) está submetido a uma linguagem que vem da al-
teridade, linguagem esta que reside na pré-história familiar e dos an-
tepassados, e que constitui mitos e antecipações à criança mesmo antes
de nascer.6 Na concepção de Lacan, a criança só pode aceder à lin-
guagem através do desejo do Outro, que lhe confere uma posição no
discurso por meio do significante, tornando-lhe possível a identifica-
ção a essa posição, a de eu-ideal. Para poder contextualizar enquanto
articulação significante as manifestações infantis, é imprescindível a es-
5 MANNONI, 1995, p. 101.
6 Cf. RODULFO, 1990.
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Fordismo e Toyotismo:
Mudanças no Mundo
do Trabalho
Ford and Toyota Systems:
changes in the world of work
RESUMO – As mudanças introduzidas no mundo do trabalho pelos modelos for-
dista e toyotista de produção geraram situações em que se alternaram a rigidez e
a flexibilidade. Ao primeiro associa-se o pleno emprego e, ao segundo, a redução
de postos de trabalho. A tecnologia, atuando tanto a favor como contra a socie-
dade, gerou um clima de instabilidade geral que, embora não poupe os países cen-
trais, é mais acentuada nos periféricos. Nesse contexto, em que a responsabilidade
maior compete às empresas, o discurso controvertido da empregabilidade, apre- ANA MARIA ROMANO CARRÃO
senta-se como alternativa para a recuperação dos empregos perdidos. Enquanto Mestre em Administração pela PUC-SP e
doutoranda em Ciências Sociais
para alguns tornar-se empregável é responsabilidade do próprio trabalhador, ou- (PUC-SP). Professora da Faculdade de
tros vêem como única saída o preparo da força de trabalho através de uma ação Gestão e Negócios e coordenadora do
Centro de Estudos e Pesquisa em
conjunta das partes interessadas: empresas, governo e sindicatos. O crescimento Administração-CEPA, ambos da UNIMEP.
da economia informal e a precarização das condições de trabalho são um alerta do carrao@merconet.com.br
ABSTRACT – The changes introduced by the Ford and Toyota systems of pro-
duction created alternating situations of rigidity and flexibility. The first is associ-
ated with full employment and the second with the reduction of job posts. Tech-
nology, working both for and against society, produced a climate of general ins-
tability, which although present in wealthy nations, is more accentuated in the pe-
ripheral countries. In a context in which the main responsibility belongs to the
firms, the controversial discourse of employability is presented as an alternative for
the recuperation of lost jobs. Although some consider employment the responsi-
bility of the worker, others consider the preparation of the work force through the
joint action of interested parties (firms, government and unions) as the best solu-
tion to the problem. The growth of the informal economy and the precarious
working conditions are proof of the fragility of the present system.
INTRODUÇÃO
1 TOFFLER, 1998.
2 ANTUNES, 1998.
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FORDISMO, DESENVOLVIMENTO
INDUSTRIAL E GERAÇÃO DE EMPREGOS
O fordismo firmou-se como um modelo baseado no conceito de
produção de massa, concebido e adotado por Ford em sua fábrica de
veículos no início deste século. Perseguia a obtenção de ganhos cres-
centes de produtividade através de economia de escala, de forma a re-
duzir os custos unitários de produção e permitir a definição de preços
de venda sempre mais atraentes. Ford incorporou ao seu trabalho as
idéias desenvolvidas por Taylor, conhecidas como administração
científica, baseadas na divisão do trabalho, especialização do operário,
separação entre as atividades de planejamento e de produção, em bus-
ca de padronização de produção. A metodologia de Ford transfor-
mou-se em um modelo amplamente difundido, cujas características
básicas são: produtos mais homogêneos gerados através de produção
de massa e linhas de montagem; unidades fabris concentradas e ver-
ticalizadas; e constituição e consolidação do trabalhador coletivo fa-
bril.4 Eliminando tempos ociosos, a linha de montagem indiretamente
aumentava o tempo produtivo do operário e prolongava a duração da
jornada efetiva do trabalho. Paralelamente, a complexidade do traba-
lho era reduzida mediante a fragmentação dos processos produtivos,
resultado da subdivisão do trabalho.5
Esse sistema provocou mudanças na reprodução da força de tra-
balho, gerando nova política de controle e gerência do trabalho, nova
estética e nova psicologia, caracterizando “um novo tipo de sociedade
democrática, racionalizada e populista”.6
Difundindo-se rapidamente, a produção de massa tornou-se a
metodologia dominante na indústria manufatureira dos países desen-
volvidos. Com a produção padronizada, a competitividade das em-
presas transferiu-se para os preços, o que exigia ganhos crescentes de
4 ANTUNES, 1998.
5 VELAZQUEZ, s/d.
6 HARVEY, 1992, p.121.
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O DISCURSO DA EMPREGABILIDADE
A crise do mercado de trabalho no Brasil pode ser medida pela
participação da economia na absorção da força de trabalho, que, se-
gundo Pastore,35 retém 57% da PEA. Uma grande parcela desses tra-
balhadores é fruto da reestruturação do mercado de trabalho que pro-
vocou o deslocamento dessa massa de trabalhadores do setor formal
para a economia informal. Se a recolocação no mercado formal é di-
fícil, dentro do mesmo setor é uma luta ainda mais árdua. Apesar da
indisponibilidade de dados sobre a recolocação dos desempregados no
mesmo setor de onde saíram, sabe-se que esse índice é muito baixo,
34 CASTRO, 1993, p. 40.
35 PASTORE, 1998, p. 251.
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CONCLUSÃO
O papel das empresas está diretamente ligado ao desenvolvimen-
to da sociedade; deve-se admitir, entretanto, que nas últimas décadas
elas vêm abandonando um dos pilares de sustentação de seu compro-
misso social (a geração de empregos), em defesa de interesses próprios,
em detrimento dos legítimos direitos da sociedade. Ao condicionarem
os empregos à qualificação dos trabalhadores, as empresas demons-
tram uma posição contraditória, visto que a redução das oportunida-
des de trabalho resulta de suas próprias estratégias. Desenvolveram
modelos de produção ao longo deste século que evoluíram da rigidez
para a flexibilidade.
41 IZQUIERDO, in CASALI, 1997.
42 FRIGOTTO, in CASALI, 1997.
43 CASALI, 1997.
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VELAZQUEZ, A.G. Nuevas Formas de Organización Frente a la Reestructuración
Productiva. Edición Internet, <http://www-azc.uam.mx/gestion/num5/
doc03.htm>, s/d.
WALSH, J. Will the jobs ever come back? Time, New York, 7/02/1994, pp. 37-32.
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Ensino de Administração e
o Perfil do Administrador:
Contexto Nacional e o
Curso de Administração
da UNIMEP
The Teaching of Administration
and the Manager’s Profile:
national context and
the Administration Course
at UNIMEP
NÁDIA KASSOUF PIZZINATTO
RESUMO – Qual o perfil ideal de um administrador? Como definir os objetivos de Doutora em Administração, área
um curso de forma que reflitam as diretrizes da Política Acadêmica da instituição de Marketing, professora da UNIMEP
que o oferece? Notadamente, como fazer isso e ainda garantir a formação de um e consultora do Ministério da
Educação na área de Administração.
profissional competente? Eis a abordagem deste ensaio, que resgata inicialmente nkp@merconet.com.br
a história do ensino da administração no Brasil, dos primórdios às mais recentes
inovações promovidas pelo Ministério da Educação, como o Exame Nacional de
Cursos (ENC), tentando identificar o perfil do profissional. Nesse contexto histó-
rico, expõe a evolução do Curso de Administração da Universidade Metodista de
Piracicaba (UNIMEP), apresentando a interação de seus agentes, em particular li-
deranças acadêmicas, alunos e professores, no processo de atualização do curso,
e adaptação do perfil do futuro profissional às exigências da sociedade, em con-
formidade com a política acadêmica da UNIMEP. Tratando a realidade presente,
analisa ainda as alterações na atual estrutura do curso e o acúmulo de discussão
que se tem até esse momento com relação ao papel do administrador e de seu per-
fil para atuação diante das inovações históricas nacionais.
Palavras-chave: administração – ensino – curso – perfil profissional – currículo.
ABSTRACT – What is the ideal profile of a manager? How are the course objectives
defined in order to reflect the Academic Policy of its Institution? Primarily, how
can this be done while still guaranteeing the formation of a competent professio-
nal? This essay first discusses the history of the teaching of Administration in Bra-
zil, from the beginning to the most recent innovations promoted by the Education
Ministry, such the National Examination of Courses (ENC), in an attempt to iden-
tify the manager’s profile. In this historical context, the evolution of the course
INTRODUÇÃO
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22 TAYAR, 1988.
23 Ibid., 1990a.
24 Ibid., 1990.
25 HENRIQUE, 1993.
26 PIZZINATTO, 1995.
27 UNIMEP, 1992.
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CONCLUSÕES
Toda a evolução ocorrida no ensino da administração no país
mostra as preocupações com a necessidade de um aperfeiçoamento
constante, na busca de uma adequação a uma sociedade em contínua
mutação, devendo, ainda, envolver-se com a ideologia e filosofia de
educação da IES que oferece o curso. O currículo deve não só adequar-
se às necessidades do mercado de trabalho, mas também constituir-se
em “agente transformador” e “promotor de novas relações produtivas
e sociais”.33
Refletidas no Curso de Administração da UNIMEP, tais preocupa-
ções materializaram-se com apoio nas diretrizes da Política Acadêmica
da instituição, que definiu sua preocupação em dar ao formando a du-
pla competência: a técnica e a do administrador enquanto cidadão e
agente de mudanças para uma sociedade mais justa. Tais diretrizes nor-
tearam as discussões sobre perfil do profissional pretendido, a reforma
curricular realizada e o projeto pedagógico definido.
Na reforma curricular implantada em 1995, novas disciplinas fo-
ram incluídas no sentido de atender a tais preocupações. Refletem
também algumas das características do perfil do administrador e de
suas habilidades, identificadas na pesquisa PHAD/96. Dessa forma, en-
tre outras alterações curriculares, foram incluídas:
a) criação de novos negócios: buscando desenvolver no aluno o
espírito empreendedor;
b) ética profissional: contemplando não só as diretrizes da Polí-
tica Acadêmica da UNIMEP, como também as características
do perfil citado na pesquisa PHAD;
c) seminários em administração: nessa disciplina, uma ementa
flexível permite a atualização permanente do currículo, con-
dizente com as alterações nos cenários nacional e internacio-
31 UNIMEP, 1992, pp. 75-76.
32 Ibid., p. 77.
33 ANDRADE, 1997, p. 25
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANGRAD – Associação Nacional dos Cursos de Graduação em Administração –
Pesquisa PHAD/96.
ANDRADE, R.O.B. História e perspectivas dos Cursos de Administração do Bra-
sil. Anais do II Seminário Nacional sobre Qualidade e Avaliação dos Cursos
de Administração. Vitória: 27-29/08/97, pp. 10-49.
CONSELHO DE COORDENAÇÃO DO ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO-
UNIMEP. A Inovação Curricular como uma Metodologia para Orientar os
Cursos e suas Práticas Acadêmicas. Jun./94, p. 14.
CONSELHO FEDERAL DE ADMINISTRAÇÃO. Parecer 433/93. Documenta
(391) Brasília, ago./93, p. 289.
CORREA, D.A. Proposta de Revisão do Estágio Supervisionado do Curso de
Administração de Empresas da UNIMEP. Anais do III ENANGRAD, 1992, pp.
111-118.
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Resenhas
impulso 191 nº26
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não ter sido escritos. Seja tal descrição aplicável ou não à Crítica..., o
certo é que sua publicação em português se reveste de um valor ines-
timável. O primeiro argumento para justificar a afirmação anterior é
o de que, no que se refere à questão epistemológica, a psicologia per-
manece na mesma posição descrita por Politzer em 1928, ou seja, sob
tutela. Quer seduzida pela eficácia das ciências naturais no plano me-
todológico, quer engajada eticamente à atitude crítica das ciências so-
ciais face a uma realidade socioeconômica caótica, ela continua inca-
paz de “estudar fatos irredutíveis aos objetos de outras ciências” (Crí-
tica..., p. 182). Poder-se-ia mesmo dizer que a situação se agravou, na
medida em que a revolução farmacológica tem oferecido novos argu-
mentos ao reducionismo orgânico enquanto a globalização da econo-
mia, com suas seqüelas, realimenta a crença de que o consultório do
psicólogo não passa de uma “ilha da fantasia” escapista em meio ao
turbulento mar dos conflitos sociais.
Por outro lado, se a inquirição preconizada por Politzer encon-
trou eco na subversão lacaniana que na década de 50 pôs de manifesto
as insuficiências epistemológicas da psicanálise, propondo uma discus-
são extremamente fecunda, a partir dos anos 70 as teses revolucionárias
foram adquirindo progressivamente um caráter dogmático ao mesmo
tempo em que a aliança com a lingüística e a antropologia estrutural era
abandonada em detrimento de uma aproximação com a lógica, a mate-
mática e a topologia. Esse movimento teórico derivou numa espécie de
sistema filosófico (que já foi chamado de “teologia negativa”), cuja re-
lação com a psicanálise é sobretudo enigmática, permanecendo even-
tualmente caucionada pela trajetória anterior de Lacan.
A Crítica... já propunha a discussão epistemológica no fim da dé-
cada de 20 e concretizava essa preconização pela análise de um outro
clássico, A Interpretação dos Sonhos, publicado no penúltimo mês do
último ano do século xix. Salvo engano, Politzer inaugura um tipo de
leitura crítica em relação à obra de Freud caracterizada pelo exame da
coerência interna do texto freudiano, enfatizando como inovação fun-
damental do fundador da psicanálise o que podemos chamar hoje em
dia de teoria do sujeito. A releitura do livro em seu septuagésimo ano
mostra-o absolutamente atual. Como assinala Osmyr Gabbi Faria Jr.
no prefácio da edição brasileira, boa parte da temática e das propostas
lacanianas encontra aí a sua fonte. Para dar alguns exemplos, lembre-
mos as invectivas dirigidas ao pseudocientificismo das correntes psico-
lógicas (p. 38), a denúncia da redução da psicanálise ao campo da afe-
tividade (p. 50), a crítica ao organicismo (p. 59), a distinção entre o je
e o moi (p. 68), o assinalamento da dilaceração imposta ao pensamen-
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A Inocência e o Vício:
Estudos Sobre o
Homoerotismo
J. FREIRE COSTA
1Ordem Médica e Norma Familiar. Rio de Janeiro: Graal, 1979; Violência e Psicanálise. Rio de Janeiro:
Graal, 1984; Psicanálise e Contexto Cultural. Rio de Janeiro: Campus, 1989; entre outros.
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A Realidade Onírica
Dream Reality
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Periodismo Honesto
Honest Journalism
* Nasceu em La Paz, Bolívia, onde trabalhou nos jornais El Diario, Presencia e La Tarde e nas rádios
Amauta e Fides. Por quase um quarto de século foi correspondente das agências Ansa, EFE e United Press
International em diversas cidades de América Latina e nos Estados Unidos, país em que reside atualmente.
Sua página na Internet é http://members.tripod.com/˜Bolivia_TL/
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tivo, el filón que hace vender más a los periódicos y que tiene mayores
patrocinadores en radio y televisión.
Por eso asistimos al florecimiento de los equipos periodísticos al
servicio de clubs con dudoso apego a la imparcialidad. El mercado, se-
gún aquellos expertos, demuestra que el hincha enfrenta diariamente
sus propias tragedias como para restregarle también en las narices el
más reciente fracaso de su equipo favorito.
Entonces lo que hay que hacer, según esos mismos expertos, es
sembrar nuevas ilusiones, abrir nuevas esperanzas. La derrota del úl-
timo domingo es apenas un traspié. Hay otro encuentro a la vista, una
nueva Copa Libertadores, Mercosur, Comebol, Supercopa etc.
Está ocurriendo que esos “periodistas” toman tan a pecho su tra-
bajo para satisfacer al “marketing” que de pronto ni ellos mismos se
dan cuenta que se han puesto la camiseta del club al que representan.
Y ni qué decir cuando en los compromisos internacionales se envuel-
ven con la bandera de su país exacerbando ese nacionalismo malsano
que ha traido consigo a lo largo y ancho del mundo esa cadena de
muertos y heridos.
En Estados Unidos es común que los equipos de football, balon-
cesto, béisbol y fútbol tengan sus propios equipos de radio y televisión
sin que, en términos generales, la imparcialidad haya sufrido menos-
cabo, algo que no está ocurriendo en América Latina donde se exti-
ende cada vez más la moda.
En casos extremos se está llegando al “periodismo taurino” en la
que empresarios inescrupulosos quieren que “su” periodista hable “só-
lo” lo que conviene a sus intereses.
Anecdótico es el caso del empresario Rafito Cedeño que en los
años 70 manejaba casi todo el negocio boxístico en Venezuela. Según
Cedeño, el venezolano Luis “Lumumba” Estaba debía reinar entre los
campeones mundiales del peso minimosca por siempre jamás y por
tanto “sus” periodistas debían ensalzar los grandes merecimientos del
púgil, a pesar de las limitaciones que le imponían sus 38 años a cuestas.
Tan ridículo resultó todo esto que una noche en que Estaba ex-
ponía su cetro ante el mexicano Miguel Canto, sonaba a risa que el re-
lator de Cedeño se esforzara en hacernos ver una pelea que no se daba
en la realidad: “Izquierda de Lumumba, derecha de Lumumba. Lu-
mumba está entero. Lumumba domina la pelea... ¡Epa!; ¿Qué pasó?
¡Se cayó Lumumba! Noqueado Lumumba...” terminó el hombre su
relato.
Y no solamente los empresarios están contratanto cada vez más
a “sus” periodistas, sino los dirigentes en lo que parece una onda epi-
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REVISTA IMPULSO
Normas para Publicação
PRINCÍPIOS GERAIS
1 A Revista IMPULSO publica artigos de pesquisa e reflexão acadêmicas, estudos analíticos e re-
senhas nas áreas de ciências sociais e humanas, e cultura em geral, dedicando parte central do
espaço de cada edição a um tema principal.
2 Os temas podem ser desenvolvidos através dos seguintes tipos de artigo:
• ENSAIO (12 a 30 laudas) – reflexão a partir de pesquisa bibliográfica ou de campo sobre de-
terminado tema;
• COMUNICAÇÃO (10 a 18) – relato de pesquisa de campo, concluída ou em andamento;
• REVISÃO DE LITERATURA (8 a 12 laudas) – levantamento crítico de um tema, a partir da bi-
bliografia disponível;
• COMENTÁRIO (4 a 6 laudas) – nota sobre determinado tópico;
• RESENHA (2 a 4 laudas) – comentário crítico de livros e/ou teses.
3 Os artigos devem ser inéditos, vedado o seu encaminhamento simultâneo a outras revistas.
4 Na análise para a aceitação de um artigo serão observados os seguintes critérios, sendo o autor
informado do andamento do processo de seleção:
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por pares (peer review), com consultores não remunerados, especialmente convidados,
cujos nomes são divulgados anualmente, como forma de reconhecimento;
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5 Uma vez aprovado e aceito o artigo, cabe à revista a exclusividade em sua publicação.
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maticais, adequações estilísticas e editoriais).
7 Não há remuneração pelos trabalhos. O autor de cada artigo recebe gratuitamente 03 (três)
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co) exemplares. O(s) autor(es) pode(m) ainda comprar outros exemplares com desconto de
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a Editora UNIMEP.
8 Os artigos devem ser encaminhados ao editor da Impulso, acompanhados de ofício, do qual
constem:
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• concordância com as presentes normatizações;
• informações sobre o autor: titulação acadêmica, unidade e instituição em que atua, ende-
reço para correspondência, telefone e e-mail.
ESTRUTURA
9 Cada artigo deve conter os seguintes elementos, em folhas separadas:
a) IDENTIFICAÇÃO
• TÍTULO (e subtítulo, se for o caso), em português e inglês: conciso e indicando claramente
o conteúdo do texto;
• nome do AUTOR, titulação, área acadêmica em que atua e e-mail;
• SUBVENÇÃO: menção de apoio e financiamento recebidos;
• AGRADECIMENTO, se absolutamente indispensável.
b) RESUMO E PALAVRAS-CHAVE
• Resumo indicativo e informativo, em português (intitulado RESUMO) e inglês (denomi-
nado ABSTRACT), com cerca de 150 palavras cada um;
• para fins de indexação, o autor deve indicar os termos-chave (mínimo de três e máximo de
seis) do artigo, em português (palavras-chave) e inglês (keywords).
c) TEXTO
• texto deve ter uma INTRODUÇÃO, um DESENVOLVIMENTO e uma CONCLUSÃO. Cabe ao au-
tor criar os entretítulos para o seu trabalho. Esses entretítulos, em letras maiúsculas, não são
numerados;
• no caso de RESENHAS, o texto deve conter todas as informações para a identificação do livro
comentado (autor; título; tradutor, se houver; edição, se não for a primeira; local, editora;
ano; total de páginas; título original, se houver). No caso de TESES, segue-se o mesmo prin-
cípio, no que for aplicável, acrescido de informações sobre a instituição na qual foi pro-
duzida.
d) ANEXOS
• Ilustrações (tabelas, gráficos, desenhos, mapas e fotografias).
e) DOCUMENTAÇÃO
NOTAS EXPLICATIVAS:1 serão dispostas no rodapé, remetidas por números sobrescritos no cor-
po do texto.
CITAÇÃO com até três linhas: deve vir no bojo do parágrafo, destacada por aspas (e não em
itálico), após as quais um número sobrescrito remeterá à nota de rodapé com as indicações do SO-
BRENOME do autor, ano da publicação e página em que se encontra a citação.2
CITAÇÃO igual ou maior a quatro linhas: destacada em parágrafo próprio com recuo de qua-
tro centímetros da margem esquerda do texto (sem aspas) e separado dos parágrafos anterior e
1 Essa numeração será disposta após a pontuação, quando esta ocorrer, sem que se deixe espaço entre ela e o número sobrescrito da nota. Como o
empregado nas Referências Bibliográficas, nas notas de rodapé o SOBRENOME dos autores, caso necessário, deve ser grafado em maiúscula,
seguido do ano da publicação da obra correspondente a esta citação. Ex.: CASTRO, 1989.
2 FARACO & GIL, 1997, pp. 74-75.
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posterior por uma linha a mais. Ao fim da citação, um número sobrescrito remeterá à nota de ro-
dapé, indicando o SOBRENOME do autor, ano da publicação e a página em que se encontra esta
citação.3
Os demais complementos (nome completo do autor, nome da obra, cidade, editora, ano de
publicação etc.) constarão das REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS, ao fim de cada artigo, seguindo o pa-
drão abaixo.
A lista de fontes (livros, artigos etc.) que compõe as Referências Bibliográficas deve aparecer
no fim do artigo, em ordem alfabética pelo sobrenome do autor e sem numeração, aplicando-se
o seguinte padrão:
LIVROS
SOBRENOME, N.A. (nomes do autor abreviados, sem espaçamento entre eles; nomes de
até dois autores, separar por “&”, quando houver mais de dois, registrar o primeiro de-
les seguido da expressão “et al.”). Título: subtítulo. Cidade: Editora, ano completo, vo-
lume (ex.: v. 2). [Não deve constar o número total de páginas]. Ex.:
FARACO, C.E. & MOURA, F.M. Língua Portuguesa e Literatura. São Paulo: Ática, 1997,
v. 3.
FARIA, J. A Tragédia da Consciência: ética, psicologia, identidade humana. Piracicaba: Edi-
tora Unimep, 1996.
GARCIA, E.E.C. et al. Embalagens Plásticas: propriedades de barreira. Campinas: CETES/
ITAL, 1984.
GIL, A.C. Técnicas de Pesquisa em Economia. São Paulo: Atlas, 1991.
• MAIS DE UMA CITAÇÃO DE UM MESMO AUTOR: após a primeira citação completa, introduzir
a nova obra da seguinte forma:
• _________. Empregabilidade e Educação. São Paulo: Educ, 1997.
• OBRAS SEM AUTOR DEFINIDO:
• Manual Geral de Redação. Folha de S.Paulo, 2ª ed. São Paulo, 1987.
PERIÓDICOS
NOME DO PERIÓDICO. Cidade. Órgão publicador. Entidade de apoio (se houver). Data.
Ex.:
REFLEXÃO. Campinas. Instituto de Filosofia e Teologia. PUC, 1975.
• ARTIGOS DE REVISTA:
SOBRENOME, N.A. Título do artigo. Título da revista, Cidade, volume (número/fas-
cículo): páginas incursivas, ano. Ex.:
FERRAZ, T.S. Curva de demanda, tautologia e lógica da ciência. Ciências Econômicas
e Sociais, Osasco, 6 (1): 97-105, 1971.
3 FARIA, 1996, p. 102.
• ARTIGOS DE JORNAL:
SOBRENOME, N.A. Título do artigo, Título do jornal, Cidade, data, seção, páginas,
coluna. Ex.:
PINTO, J.N. Programa explora tema raro na TV, O Estado de S.Paulo, 08/02/1975, p.
7, c. 2.
10 Os artigos devem ser escritos em português, podendo, contudo, a critério da Comissão Edi-
torial, serem aceitos trabalhos escritos em outros idiomas.
11 Os artigos devem ser digitados no EDITOR DE TEXTO WORD, em espaço dois, em papel branco,
não transparente e de um lado só da folha, com 30 linhas de 70 toques cada lauda (2.100 to-
ques).
12 As ILUSTRAÇÕES (tabelas, gráficos, desenhos, mapas e fotografias) necessárias à compreensão do
texto devem ser numeradas seqüencialmente com algarismos arábicos e apresentadas de modo
a garantir uma boa qualidade de impressão. Precisam ter título conciso, grafados em letras mi-
núsculas. As tabelas devem ser editadas na versão Word.6 ou 7, com formatação necessaria-
mente de acordo com as dimensões da revista. Devem vir inseridas nos pontos exatos de suas
apresentações ao longo do texto. As TABELAS não devem ser muito grandes e nem ter fios ver-
ticais para separar colunas. As FOTOGRAFIAS devem ser em preto e branco, sobre papel bri-
lhante, oferecendo bom contraste e foco bem nítido. GRÁFICOS e DESENHOS devem ser incluí-
dos nos locais exatos do texto. No caso de aprovação para publicação, eles precisarão ser en-
viados em disquete, e necessariamente em seus arquivos originais (p. ex., em Excel, CorelDraw,
PhotoShop, PaintBrush etc.) em separado. As figuras, gráficos e mapas, caso sejam enviados
para digitalização, devem ser preparados em tinta nanquim preta. As convenções precisam apa-
recer em sua área interna.
13 ETAPAS de encaminhamento dos artigos: ETAPA 1. Apresentação de três cópias impressas para
submissão à Comissão Editorial da Revista e aos consultores. Os pareceres, sigilosos, são en-
caminhados aos autores para as eventuais mudanças; ETAPA 2. Se aprovado para publicação,
o artigo deve ser reapresentado à Editora, já com as devidas alterações eventualmente sugeridas
pela Comissão Editorial, em uma via em papel e outra em disquete, com arquivo gravado no
formato Word. Devem acompanhar eventuais gráficos e desenhos suas respectivas cópias
eletrônicas em linguagem original. Após a editoração final, o autor recebe uma prova para aná-
lise e autorização de impressão.
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