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Agravo de Instrumento-Cv Nº 1.0000.21.

237921-8/001

<CABBCAADDAABCCBCBAADCCABBADACBDAABCAADDADAAAD>
EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA
GRATUITA. PESSOA JURÍDICA. HIPOSSUFICIÊNCIA DE RECURSOS.
NÃO COMPROVAÇÃO. A concessão do benefício pleiteado por pessoa
jurídica fica condicionada à comprovação, de modo satisfatório, da
impossibilidade da empresa arcar com os encargos processuais, sem
comprometer a existência da entidade.
AGRAVO DE INSTRUMENTO-CV Nº 1.0000.21.237921-8/001 - COMARCA DE BELO HORIZONTE - AGRAVANTE(S):
EMBRAFRALDAS COMERCIO LTDA - AGRAVADO(A)(S): ITAU UNIBANCO S.A.

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 14ª CÂMARA CÍVEL do


Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da
ata dos julgamentos, em NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO.

DESA. CLÁUDIA MAIA


RELATORA

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Agravo de Instrumento-Cv Nº 1.0000.21.237921-8/001

DESA. CLÁUDIA MAIA (RELATORA)

VOTO

Trata-se de agravo de instrumento interposto por


EMBRAFRALDAS COMÉRCIO LTDA contra decisão de ordem 31,
proferida nos autos dos embargos à execução propostos em desfavor
de ITAÚ UNIBANCO S/A, por meio da qual a Juíza de Direito Gislene
Rodrigues Mansur, da 17ª Vara Cível da Comarca de Belo Horizonte,
indeferiu o pedido de concessão dos benefícios da assistência
judiciária gratuita e fixou o prazo de quinze dias para o recolhimento
das custas processuais, sob pena de cancelamento da distribuição e
indeferimento da inicial.
Sustenta a agravante, em breve síntese, que é uma
microempresa. Afirma que está passando por dificuldades financeiras,
já que suas atividades foram paralisadas por mais de um ano em
virtude da pandemia de COVID-19. Aduz que possui diversas dívidas
com seus fornecedores, sendo que os valores bloqueados em sua
conta bancária refletem no agravamento da sua situação financeira.
Assegura que acostou todos os documentos comprobatórios de sua
hipossuficiência. Pugna pela antecipação dos efeitos da tutela recursal
e, no mérito, o provimento do recurso.
Recebi o recurso apenas no efeito devolutivo e dispensei a
prestação de informações pelo magistrado a quo (doc. ordem 37).
Apesar de devidamente intimado, o agravado não apresentou
contraminuta.
É o relatório.
Conheço do recurso por estarem presentes os pressupostos de
admissibilidade.

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Como cediço, as pessoas jurídicas também podem se favorecer


dos benefícios da gratuidade de justiça, desde que comprovem a sua
situação de precariedade.
Destarte, a concessão do benefício fica condicionada à
comprovação, de modo satisfatório, da impossibilidade de a empresa
arcar com os encargos processuais, sem comprometer sua existência.
A demonstração da miserabilidade jurídica pode ser feita por
documentos públicos ou particulares, desde que retratem de forma
inconteste a atual situação financeira da sociedade.
Neste sentido, é o teor da Súmula 481, editada pelo Superior
Tribunal de Justiça, in verbis:

Faz jus ao benefício da justiça gratuita a pessoa


jurídica com ou sem fins lucrativos que
demonstrar sua impossibilidade de arcar com os
encargos processuais. (destaquei)

A propósito, sobre o tema, é o entendimento exarado pelo


Superior Tribunal de Justiça:

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO


ESPECIAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO.
BENEFÍCIO DA JUSTIÇA GRATUITA. REQUISITOS
NÃO COMPROVADOS. MATÉRIA QUE DEMANDA
REEXAME DE FATOS E PROVAS. SUMULA 7 DO
STJ. AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO. 1. Não se
viabiliza o recurso especial pela indicada violação dos
arts. 1.022 e 489 do CPC/2015. Isso porque, embora
rejeitados os embargos de declaração, todas as
matérias foram devidamente enfrentada pelo Tribunal
de origem, que emitiu pronunciamento de forma
fundamentada, ainda que em sentido contrário à
pretensão da parte recorrente. 2. Nos termos da
reiterada jurisprudência deste Tribunal, embora milite
em favor do declarante a presunção acerca do estado
de hipossuficiência, esta não é absoluta, não sendo
defeso ao juiz a análise do conjunto fático-probatório
que circunda as alegações da parte. Precedentes. 3.
A concessão da gratuidade da justiça às pessoas
jurídicas está condicionada à prova da
hipossuficiência, conforme o preceito do

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enunciado Sumular n. 481 deste Superior Tribunal,


in verbis: "Faz jus ao benefício da justiça gratuita
a pessoa jurídica com ou sem fins lucrativos que
demonstrar sua impossibilidade de arcar com os
encargos processuais".
4."Não socorre as empresas falidas a presunção de
miserabilidade, devendo ser demonstrada a
necessidade para concessão do benefício da justiça
gratuita." (AgRg nos EDcl no Ag 1121694/SP, Relator
Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO,
TERCEIRA TURMA, julgado em 04/11/2010, DJe
18/11/2010). 5. Na hipótese, a recorrente não
comprovou a alegada impossibilidade financeira para
arcar com custas e despesas processuais e tampouco
há elementos objetivos que indiquem o estado de
hipossuficiência. Incidência da Súmula 7 do STJ. 6.
Agravo interno não provido. (AgInt no AREsp
1187010/RJ, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,
QUARTA TURMA, julgado em 26/06/2018, DJe
29/06/2018) (destaquei)

In casu, em que pese toda a argumentação expendida pela


agravante, verifico que os documentos juntados não demostraram
nenhum indício de dificuldade financeira que a impossibilite de arcar
com as custas processuais.
Isso porque, pela Declaração de Informações Socioeconômicas
e Fiscais (DEFIS), referente aos meses de setembro a dezembro de
2020 (doc. ordem 7), vejo que a diferença entre o total de entradas e o
total de despesas foi de cerca de R$ 26.000,00 (vinte e seis mil reais),
o que corresponde a um lucro mensal de, aproximadamente, R$
8.600,00 (oito mil e seiscentos reais).
Noutro giro, pelos extratos referentes aos meses de setembro e
outubro de 2021 (doc. ordem 10), constato que a agravante realiza
movimentações frequentes de alta monta, sendo que, ao final dos
meses, seu saldo permanece positivo.
Ressalto, por fim, que causa estranheza a alegação de que teve
suas atividades paralisadas por mais de um ano, sendo que tem pouco
mais que esse tempo de existência. Também não procede a alegação

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de que a pandemia agravou a situação financeira da agravante, vez


que foi constituída em setembro/2020, quando o país já vivenciava a
situação de crise causada pelo coronavírus.
Em casos análogos ao dos autos, já se manifestou esta Colenda
Câmara:

AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE DESPEJO


C/C COBRANÇA - PEDIDO DE JUSTIÇA GRATUITA
- PESSOA JURÍDICA - INDEFERIMENTO.
- A concessão da justiça gratuita é admitida às
pessoas jurídicas, com ou sem fins lucrativos,
desde que comprovem de modo satisfatório a
impossibilidade de arcar com os encargos
processuais, sem comprometer a sua existência.
(TJMG - Agravo de Instrumento-Cv
1.0000.21.022163-6/001, Relator(a): Des.(a) Valdez
Leite Machado , 14ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em
16/09/2021, publicação da súmula em 16/09/2021)
(destaquei)

AGRAVO DE INSTRUMENTO - INTIMAÇÃO DO


AGRAVADO - ART. 1.019, II DO CPC - DISPENSA -
JUSTIÇA GRATUITA - PESSOA JURÍDICA -
OBRIGATORIEDADE DE COMPROVAÇÃO.
(...)
2. Para a concessão dos benefícios da justiça
gratuita às pessoas jurídicas, cabe a elas
comprovar, cabalmente, a sua hipossuficiência.
Se a requerente não traz ao processo provas
idôneas que demonstrem a sua incapacidade,
mormente através de documentos contábeis, deve
ser indeferido o benefício. (Agravo de Instrumento-
Cv 1.0000.19.154997-1/001, Relator(a): Des.(a)
Estevão Lucchesi, 14ª CÂMARA CÍVEL, julgamento
em 09/07/2020, publicação da súmula em
09/07/2020) (destaquei)

Assim, não tendo a pessoa jurídica requerente demonstrado, de


forma satisfatória, sua insuficiência de recursos, deve ser mantido o
indeferimento do benefício pretendido.
Diante do exposto, NEGO PROVIMENTO AO RECURSO.

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Custas recursais pela agravante, a serem recolhidas, ao final, na


instância de origem.

DES. ESTEVÃO LUCCHESI - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. MARCO AURELIO FERENZINI - De acordo com o(a) Relator(a).

SÚMULA: "NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO"

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