Você está na página 1de 37

See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.

net/publication/286779061

Tipologia das Estacas

Research · December 2015


DOI: 10.13140/RG.2.1.2727.3042

CITATIONS READS

0 2,871

1 author:

Jorge de Brito
University of Lisbon
1,599 PUBLICATIONS   31,929 CITATIONS   

SEE PROFILE

Some of the authors of this publication are also working on these related projects:

Special Issue in Polymers (Impact Factor 3.426) "Application of Natural Fibers in New Materials" View project

MAEC - Portuguese Method for Buildings Condition Assessment View project

All content following this page was uploaded by Jorge de Brito on 13 December 2015.

The user has requested enhancement of the downloaded file.


CURSO

EXECUÇÃO DE ESTACAS

1ª SESSÃO

TIPOLOGIA DAS ESTACAS

Jorge de Brito
ÍNDICE

1. Introdução 1
2. Classificação 3
2.1. Quanto ao seu comportamento e modo de funcionamento 3
2.2. Quanto ao processo de execução 5
2.2.1. Estacas cravadas 6
2.2.2. Estacas moldadas executadas com tubo moldador 7
2.2.3. Estacas moldadas executadas sem tubo moldador 9
2.3. Quanto ao efeito que provocam no solo envolvente 9
3. Processo construtivo 12
3.1. Estacas de betão pré-fabricadas (cravadas) 12
3.2. Estacas executadas com trado contínuo 13
3.3. Estacas executadas com tubo moldador recuperável 14
3.4. Estacas executadas com lamas bentoníticas 16
3.5. Estacas executadas com trado curto sem tubo moldador 17
3.6. Estacas executadas com tubo moldador perdido 18
3.7. Estacas executadas sem extracção do terreno 19
4. Campo de aplicação e critérios de selecção 26
4.1. Estacas cravadas versus moldadas no terreno 26
4.2. Selecção do tipo de estacas moldadas no terreno 28
4.2.1. Vantagens e desvantagens das estacas executadas com trado contínuo 28
4.2.2. Vantagens e desvantagens das estacas executadas com tubo moldador
recuperável 29
4.2.3. Vantagens e desvantagens das estacas executadas com trado curto sem
tubo moldador 30
4.2.4. Vantagens e desvantagens das estacas executadas com lamas bentoníticas 31
4.2.5. Métodos mais frequentes 31
4.2.6. Métodos menos frequentes 32
4.3. Considerações finais 33
5. Bibliografia 34
EXECUÇÃO DE ESTACAS

TIPOLOGIA DAS ESTACAS

1. INTRODUÇÃO

O objectivo principal desta secção é o de contribuir para clarificar a tipologia utilizada quando
se referem estacas, por forma a que o domínio das restantes secções deste curso seja mais
evidente.

As soluções de fundações podem ser classificadas em superficiais, semi-profundas e


profundas, consoante a relação entre a sua profundidade e a sua largura ou diâmetro, é inferior
a 4, se situa entre 4 e 10 ou é superior a 10, respectivamente [1]. Estas designações são em
muitos casos substituídas por fundações directas, semi-directas e indirectas, respectivamente.
No primeiro grupo incluem-se as sapatas e os ensoleiramentos, no segundo os pegões e no
terceiro as estacas, elementos que se caracterizam portanto pela sua elevada esbelteza, com
valores desde 6 a 7 até 50 sem problemas de encurvadura (ainda que um limite muitas vezes
referido no pré-dimensionamento, sobretudo de estacas moldadas, seja de 25).

De entre as soluções de fundações profundas, adequadas às situações em que o solo não tem
numa profundidade relativamente grande as características para suportar as cargas que lhe vão
ser impostas pela superestrutura e/ou para limitar os assentamentos previsíveis a valores
aceitáveis, as estacas constituem a solução mais correntemente utilizada. Estacas são
elementos de secção geralmente circular, que transmitem ao solo as cargas vindas da
superestrutura através da sua ponta e/ou por atrito lateral, podendo ser moldadas no terreno ou
cravadas. Entende-se por estacas moldadas aquelas que, de uma forma directa ou indirecta,
vêm a sua configuração conferida pelo próprio terreno de fundação, tendo ainda como
característica comum o facto de serem em betão e executadas in-situ. Pelo contrário, as
estacas cravadas são pré-fabricadas, sendo depois levadas para estaleiro e inseridas no terreno.
Não devem portanto estas últimas ser confundidas com as estacas moldadas executadas sem
extracção do terreno, geralmente por cravação de um rolhão ou do tubo moldador, solução
que será referida um pouco mais adiante.

TIPOLOGIA DAS ESTACAS por Jorge de Brito 1


EXECUÇÃO DE ESTACAS

Em Portugal, as estacas cravadas têm sido relativamente pouco utilizadas, fundamentalmente


devido aos seus inconvenientes mais “visíveis”, o ruído e as vibrações acentuados que
provocam, que inviabilizam a sua utilização em muitas circunstâncias. No entanto, a evolução
da técnica (através de camadas de espuma absorventes de ruído e barreiras exteriores em
metal e/ou borracha) tem permitido reduzir drasticamente os níveis de ruído e vibrações na
execução destas estacas, potenciando as suas vantagens mais importantes, a rapidez de
execução e o elevado nível do controlo de qualidade conseguido em relação aos materiais, às
dimensões e ao posicionamento. Daí que seja possível num futuro próximo um aumento
significativo da quota deste tipo de estacas no cômputo geral das fundações indirectas.

Confinada até há relativamente pouco tempo a firmas da especialidade, pode-se dizer que,
hoje em dia, a execução de estacas se encontra vulgarizada ao ponto de poder ser classificada
como uma técnica (ou conjunto de técnicas) corrente. À excepção do equipamento pesado que
normalmente envolve e, em determinadas situações, do recurso a lamas bentoníticas de
estabilização do furo durante a escavação, todo o restante envolvimento do processo de
execução destas estacas recorre somente a materiais e técnicas tradicionais. Isto não obsta, no
entanto, a que se registem com frequência problemas no processo construtivo ou na qualidade
final do produto, fundamentalmente devidos à presença do solo e a todas as contingências que
isso mesmo provoca.

TIPOLOGIA DAS ESTACAS por Jorge de Brito 2


EXECUÇÃO DE ESTACAS

2. CLASSIFICAÇÃO

A grande diversidade de tipos de estacas existentes permite classificá-las de diferentes formas,


consoante o ponto de vista em análise. De facto, cada tipo de estacas resulta da combinação
de múltiplas características e de processos de concepção distintos.

2.1. QUANTO AO SEU COMPORTAMENTO E MODO DE FUNCIONAMENTO

Dentro da classe das fundações com estacas, é possível diferenciar dois tipos distintos: a
fundação rígida (que pode ser de primeira ou de segunda ordem) e a fundação flutuante.

Nas fundação rígidas de primeira ordem (Fig. 1), a ponta das estacas penetra numa camada de
terreno firme, abaixo do qual não existem mais estratos de terreno brando ou flexível, ao
contrário do que se passa ao longo do fuste. Este tipo de fundação é o melhor e mais seguro
de entre todos os tipos de fundações sobre estacas. As forças de sustentação actuam
principalmente na ponta da estaca, e com muito menor intensidade sobre a superfície lateral
desta, através da mobilização do atrito estaca / solo, que é normalmente desprezado no
dimensionamento. Este tipo de funcionamento das estacas é designado como de ponta.

Fig. 1 [2] - Estacas de ponta

TIPOLOGIA DAS ESTACAS por Jorge de Brito 3


EXECUÇÃO DE ESTACAS

Se, abaixo da camada de solo firme, existir um solo brando ou flexível e, a maior
profundidade, outra camada de terreno firme de grande espessura, a fundação denomina-se
rígida de segunda ordem (Fig. 2). De facto, se a ponta da estaca perfura a camada de solo
firme, situação que não acontece nas fundações rígidas de primeira ordem, podem dar-se
assentamentos importantes, pondo em risco o bom comportamento da estrutura. Exclui-se
essa eventualidade perfurando-se a camada de terreno firme de pequena espessura, bem como
o estrato de solo brando subjacente, prolongando-se a estaca até à camada firme de grande
espessura. Também aqui a maior parte da carga é suportada pela ponta da estaca (pelo que a
limpeza do fundo do furo durante a execução é fundamental), sendo a restante transmitida
pelo atrito lateral desta com o solo, pelo que se contabiliza ambos os efeitos no
dimensionamento. Este tipo de funcionamento das estacas é designado como de ponta e atrito
lateral ou misto.

Fig. 2 [2] - Estacas de ponta e atrito lateral

Denomina-se fundação flutuante quando as estacas estão totalmente submersas numa camada
de solo brando e não se apoiam em nenhuma outra de terreno firme por esta se situar a uma
profundidade excessivamente profunda para ser economicamente viável atingi-la, sendo toda
a carga resistida pelo atrito lateral da estaca com o solo (Fig. 3). Neste tipo de fundações
sobre estacas, há que contar sempre com a ocorrência de assentamentos não desprezáveis. Por

TIPOLOGIA DAS ESTACAS por Jorge de Brito 4


EXECUÇÃO DE ESTACAS

conseguinte, procura-se evitar, tanto quanto possível, o emprego de fundações deste tipo,
adoptando-se outro tipo de solução para a obra. Como as estacas flutuantes suportam a carga
exclusivamente graças ao atrito lateral, há que procurar introduzi-las o mais profundamente
possível no terreno o que, por outro lado, permite o seu funcionamento à tracção com certas
limitações.

Fig. 3 [2] - Estacas flutuantes

2.2. QUANTO AO PROCESSO DE EXECUÇÃO

Sob este ponto de vista (Fig. 4), existem fundamentalmente dois tipos de estacas: as cravadas
no terreno (tipo 1) e as moldadas no terreno (tipos 2 a 6). Por sua vez, nas estacas moldadas
no terreno, sempre em betão, distinguem-se dois tipos fundamentais: as estacas executadas
com recurso a tubo moldador (tipos 2 a 5) e as estacas sem utilização desse mesmo tubo (tipo
6). O tubo moldador pode ser recuperável (tipos 2 e 3) ou não recuperável ou perdido (tipos 4
e 5) Finalmente, tanto as estacas executadas com recurso a tubo moldador recuperável como
as executadas com esse tubo perdido podem sê-lo com ou sem extracção do terreno
(respectivamente tipos 2 e 4 e 3 e 5).

TIPOLOGIA DAS ESTACAS por Jorge de Brito 5


EXECUÇÃO DE ESTACAS

 Cravadas − tipo 1

    Com extracç~a o do terreno − tipo 2
   
   Re cuperável
    Sem extracç~
a o do terreno − tipo 3
 
 

Estacas   Com tubo moldador
 Moldadas 
    Com extracç~ a o do terreno − tipo 4
 ~ 
  N a o recuperável
    Sem extracç~
    a o do terreno − tipo 5
 
  Sem tubo moldador − tipo 6
Fig. 4 - Classificação das estacas quanto ao processo de execução

2.2.1. Estacas cravadas

As estacas cravadas caracterizam-se por serem pré-fabricadas e introduzidas posteriormente


no terreno por percussão (o método mais antigo e simples, consistindo na queda livre de um
peso actuando na cabeça da estaca), prensagem ou vibração. Em termos do efeito que
provocam no solo envolvente (ver 2.3), as estacas cravadas incluem-se num dos dois
seguintes grupos [1]:

• de grande perturbação / deslocação do terreno, se forem maciças ou ocas mas obturadas na


ponta durante a cravação;
• de pequena perturbação do terreno, se forem ocas e sem a ponta obturada durante a
cravação ou se se tratar de estacas de perfis de aço.

Em termos de materiais estruturais utilizados no seu fabrico, as principais soluções: são em


madeira (Fig. 5), metálicas (Fig. 6) ou em betão armado, tendendo esta última a monopolizar
o mercado (em termos de estacas usadas como sistemas de fundações independentes),
nomeadamente em Portugal. Existem também soluções em que dois elementos estruturais, do
mesmo ou de diferentes materiais, são associados, resultando em estacas mistas [3].

As estacas cravadas são geralmente dimensionadas como estacas de ponta, pelo facto de o
processo de cravação fazer diminuir drasticamente a resistência lateral mobilizável, que, por
isso mesmo, não é contabilizada. Esta forma de encarar o problema não é consensual,
nomeadamente para os projectistas e fabricantes.

TIPOLOGIA DAS ESTACAS por Jorge de Brito 6


EXECUÇÃO DE ESTACAS

Fig. 5 [3] - Pormenores da constituição das estacas de madeira

Fig. 6 [4] - Perfis metálicos utilizados em estacas metálicas

2.2.2. Estacas moldadas executadas com tubo moldador

Existem dois tipos principais [5]: o tubo moldador é cravado com remoção do terreno interior
ou o tubo moldador, usando um qualquer artifício, é obturado permitindo a sua cravação sem
qualquer extracção do terreno interior.

Quer num caso quer no outro, há ainda duas alternativas [5]: o tubo moldador ficar como
elemento perdido a servir também de revestimento ao betão que constitui propriamente o
núcleo resistente da secção; o tubo moldador ser retirado por lanços, conforme a betonagem
da estaca progride, evidentemente havendo sempre desfasagem de posição, de forma a que o
extremo inferior do tubo moldador esteja abaixo do troço já betonado. Dentro das estacas
executadas com tubo moldador, resultam assim quatro modalidades fundamentais [5].

TIPOLOGIA DAS ESTACAS por Jorge de Brito 7


EXECUÇÃO DE ESTACAS

Estacas com extracção de terreno e tubo moldador perdido

Atingida a profundidade desejada, é limpo o fundo do furo com uma limpadeira ou qualquer
outro método apropriado (por exemplo, jacto de água) e procede-se à betonagem com betão
fluido. O uso destes betões na construção de estacas é imperativo, apesar dos inconvenientes
para a resistência, para evitar a segregação do betão no tubo. Os segmentos a betonar devem
ser relativamente curtos e compactados por apiloamento ou vibração. Mesmo que as cargas a
absorver possam ser suportadas por betão simples, dever-se-á colocar sempre uma armadura
nominal, mesmo ligeira, para conferir menor fragilidade à peça.

Estacas sem extracção de terreno e tubo moldador perdido

O tubo é levado até à profundidade desejada e convenientemente obturado, por vezes através
de uma peça metálica de forma cónica que é perdida na cravação. O apiloamento pode incidir
directamente no extremo inferior do tubo moldador, que também pode ser fechado com um
rolhão de betão. Atingida a profundidade pré-determinada, procede-se à betonagem como
referido na modalidade anterior, sendo válidas as considerações feitas a respeito da
betonagem e do uso de armaduras.

Estacas com extracção de terreno e tubo moldador recuperado

Atingida a profundidade desejada, sempre extraindo o terreno, limpa-se o fundo do furo,


coloca-se a armadura e procede-se à betonagem por lanços. O sucesso desta técnica está
dependente de uma precaução fundamental: nunca subir o tubo moldador excessivamente,
garantindo-se sempre que a altura do betão dentro do tubo seja suficiente para evitar, pelo seu
peso, o refluimento do terreno exterior para dentro do tubo (tecnologia do betão submerso),
dando assim origem a uma estaca com intercalações de solo no fuste. O uso de armaduras,
mesmo que nominais, além da missão já apontada de tirar fragilidade à peça, desempenha
neste caso outro papel de grande importância: o controlo da posição do extremo superior da
armadura durante a betonagem permite com relativa facilidade detectar um acidente do tipo
acima mencionado.

TIPOLOGIA DAS ESTACAS por Jorge de Brito 8


EXECUÇÃO DE ESTACAS

Estacas sem extracção de terreno e tubo moldador recuperado

Atingida a profundidade desejada como referido para a outra modalidade sem extracção do
terreno, expulsa-se o rolhão ou o cone metálico (prende-se o tubo moldador à máquina e
percute-se fortemente o rolhão) e efectua-se depois a betonagem como na modalidade
imediatamente anterior.

2.2.3. Estacas moldadas executadas sem tubo moldador

Neste tipo de estacas, recorre-se à perfuração por percussão, rotação ou por outro método
qualquer. A contenção das paredes do furo é assegurada por lamas bentoníticas, no caso de
aquelas não se auto-sustentarem. A perfuração à rotação pode ser efectuada de modo
contínuo, assegurando o próprio trado (contínuo) a contenção das paredes do furo. Em solos
auto-sustentáveis, pode-se prescindir tanto do tubo moldador, como das lamas bentoníticas,
como até do trado contínuo, recorrendo-se meramente ao trado normal (ou curto). O betão
deve ser colocado o mais cedo possível, após a abertura do furo, para evitar o
enfraquecimento do terreno.

Esta descrição dos tipos fundamentais de estacas moldadas é genérica, caracterizando só os


aspectos mais relevantes do seu funcionamento e concepção. Cada um destes tipos comporta
numerosas variantes, as mais importantes das quais serão referidas no presente documento.

2.3. QUANTO AO EFEITO QUE PROVOCAM NO SOLO ENVOLVENTE

Sob este ponto de vista, as estacas podem ser classificadas em três categorias [1] [6]:

• de grande perturbação / deslocamento do terreno (sem extracção do terreno durante a


escavação) - inclui as estacas moldadas com tubo moldador obturado, recuperável ou não,
sendo o furo posteriormente preenchido com betão; inclui também as estacas cravadas
maciças ou ocas se forem obturadas na ponta durante a cravação;
• de pequena perturbação / deslocamento do terreno (com extracção do terreno) - alguns
autores [1] incluem nesta categoria as estacas moldadas com tubo moldador não obturado,
recuperável ou não, e as sem tubo moldador em que a escavação é executada com trado

TIPOLOGIA DAS ESTACAS por Jorge de Brito 9


EXECUÇÃO DE ESTACAS

(ou parafuso), curto ou contínuo; inclui também as estacas cravadas se forem ocas e sem a
ponta obturada durante a cravação ou se se tratar de estacas de perfis de aço;
• sem perturbação / deslocamento do terreno (com extracção do terreno) - inclui as estacas
moldadas com tubo moldador não obturado, recuperável ou não, com lamas bentoníticas
ou não, e as sem tubo moldador em que a escavação é executada com trado (ou parafuso),
curto ou contínuo.

As estacas classificadas no primeiro grupo apresentam as seguintes vantagens [1]:

 podem ser cravadas até à nega prevista;


 podem formar-se bases alargadas (ainda que não muito), aumentando a compacidade
relativa da camada de apoio da ponta das estacas o que, no caso de ser arenosa, permite
muito maior capacidade de carga de ponta;
 são cravadas com ponteira obturada, evitando-se assim os efeitos nocivos da água do solo;
 o ruído e a vibração podem ser reduzidos em alguns tipos, cravando, por exemplo, em
rolhão no fundo do tubo moldador;

e as seguintes desvantagens [1]:

 levantamento do terreno vizinho que pode afectar estruturas adjacentes ou serviços ou a


reconsolidação daquele e desenvolvimento de atrito negativo nas estacas;
 subida (expulsão) de estacas anteriormente cravadas, quando a penetração da ponteira
destas estacas, na camada de apoio, não for suficiente para mobilizar a necessária
resistência às forças de levantamento; um afastamento entre estacas da ordem dos três
diâmetros permite, em condições normais, obstar a este efeito;
 danificação por tracção de estacas anteriormente cravadas ou de betão ainda fresco,
quando a amarração na ponteira for suficiente para as forças de levantamento;
 as insuficientes secções do tubo de aço podem ser danificadas por sobrecravação;
 limitação no comprimento (até cerca de 25 m) devido à força necessária para a extracção
do tubo moldador;
 o ruído, a vibração e os deslocamentos de terreno podem causar perturbações ou prejuízos
em estruturas adjacentes, nomeadamente muros de suporte;
 não podem ser cravadas com diâmetros muito grandes (capacidade de carga até 1500 kN
são usuais), nem formar grandes alargamentos de ponteira;

TIPOLOGIA DAS ESTACAS por Jorge de Brito 10


EXECUÇÃO DE ESTACAS

 não podem ser cravadas em zonas de pé direito muito limitado devido ao equipamento
(bate-estacas) utilizado;
 em solos com blocos de rocha dispersos, pode ter-se que repetir a cravação ao lado do
local inicialmente previsto, com grandes custos adicionais e necessidade de adaptar o
projecto de fundações, pelo que, nessas condições, é preferível não utilizar estas estacas.

Naturalmente, as vantagens das estacas executadas sem perturbação do terreno serão as


desvantagens das atrás referidas e vice-versa. Vale, no entanto, a pena referir ainda as
seguintes vantagens adicionais [1]:

 o terreno é recolhido durante a perfuração e pode ser inspeccionado e comparado com os


dados do projecto;
 podem ser executadas com grandes comprimentos, grandes diâmetros e alargamentos da
base (ponteira) de duas a três vezes o diâmetro, se executadas em terrenos coesivos ou em
rocha branda mas não em terrenos sem coesão;
 em terrenos com coesão, podem dispensar qualquer revestimento ou protecção com lamas
bentoníticas, excepto junto à boca do furo.

assim como a seguinte desvantagem adicional [1]:


 os métodos de perfuração podem descomprimir os solos arenosos ou com seixos ou criar
lamas nos terrenos argilosos ou rochas brandas.

Refira-se que as vantagens das estacas executadas sem ou com pequena perturbação do
terreno se sobrepõem largamente às suas desvantagens, pelo que serão em circunstâncias
normais sempre preferidas às executadas com grande perturbação do terreno, aliás cada vez
menos utilizadas em Portugal.

TIPOLOGIA DAS ESTACAS por Jorge de Brito 11


EXECUÇÃO DE ESTACAS

3. PROCESSO CONSTRUTIVO

Neste capítulo, será fornecida de uma forma quase telegráfica a sequência do processo
construtivo das soluções de estacas utilizadas em Portugal, deixando-se o desenvolvimento da
mesma às secções especificamente destinadas às mesmas no âmbito deste curso. De uma
forma também deliberada, o processo não será visualizado senão de uma forma esquemática.
Também não serão descritos o material e equipamento necessários. São referidos en passant
diversos sistemas variantes, mais desenvolvidos em [7]. São as seguintes as técnicas
mencionadas:

• estacas de betão pré-fabricadas (cravadas) - tipo 1 da Fig. 4;


• estacas executadas com trado contínuo - tipo 6;
• estacas executadas com tubo moldador recuperável - tipo 2;
• estacas executadas com lamas bentoníticas - tipo 6;
• estacas executadas com trado curto sem tubo moldador - tipo 6;
• estacas executadas com tubo moldador perdido - tipo 4;
• estacas executadas sem extracção do terreno - tipos 3 e 5.

3.1. ESTACAS DE BETÃO PRÉ-FABRICADAS (CRAVADAS)

1) pré-fabricação das estacas (elevada resistência, controlo de qualidade e durabilidade);


transporte e depósito em obra (esforços secundários);
2) selecção do equipamento de cravação das estacas (por prensagem ou reacção, por vibração
(Fig. 7, à esquerda), por percussão (Fig. 7, à direita) ou “lançage”);
3) posicionamento da estaca (piquetagem e eventual furação; içamento e verticalização);
4) cravação (energia de cravação de molde a não danificar a estaca ou o solo resistente;
emendas; eventual acerto do comprimento; nega extemporânea);
5) estimativa da capacidade de carga (teste de carga estática, determinação da nega, ficha de
cravação, ricochete elástico, ensaio de carregamento dinâmico com equipamento portátil e
transdutores e acelerómetros na estaca ⇒ estimativa imediata da capacidade de carga da
estaca);
6) escavação para o maciço de fundação e demolição da cabeça da estaca;
7) cofragem, colocação da armadura e betonagem do maciço de fundação;

TIPOLOGIA DAS ESTACAS por Jorge de Brito 12


EXECUÇÃO DE ESTACAS

8) controlo de qualidade na execução (análise da integridade, profundidades atingidas,


levantamento do solo ou das estacas).

Martelo

Bate-estacas
Estaca a cravar

Fig. 7 - À esquerda, princípio de funcionamento da cravação por vibração [3] e, à direita,


representação esquemática da cravação por percussão

3.2. ESTACAS EXECUTADAS COM TRADO CONTÍNUO (Fig. 8)

1) selecção do equipamento de furação;


2) furação com o trado contínuo (comprimento máx. 20 m, contrapeso na máquina);
profundidade de furação controlada pelo comprimento da haste do trado;
3) betonagem da estaca em simultâneo com a subida do trado (subido 50 cm no início do
processo); compactação do betão nos 3 m superiores; abastecimento de betão
superabundante em relação ao volume liberto pelo trado;
4) remoção da terra e inserção da armadura; funcionamento discutível dos espaçadores;
estacas por vezes executadas com um diâmetro um pouco superior ao de projecto;
introdução da armadura é um processo difícil, sobretudo a partir dos 8 m de profundidade;
recuperação do equipamento utilizado para facilitar a sua entrada no betão;
5) saneamento da cabeça da estaca com martelos pneumáticos;
6) execução do maciço de fundação.

TIPOLOGIA DAS ESTACAS por Jorge de Brito 13


EXECUÇÃO DE ESTACAS

Fig. 8 - Representação esquemática da execução de estacas por trado contínuo

3.3. ESTACAS EXECUTADAS COM TUBO MOLDADOR RECUPERÁVEL (Fig. 9)

1) selecção do equipamento de introdução do tubo moldador e furação;


2) furação prévia (3-4 m de profundidade) para posicionar e verticalizar o 1º troço do tubo
moldador;
3) introdução do tubo moldador e furação simultânea, geralmente com trado curto de
diâmetro inferior ao usado anteriormente, terra removida de quando em quando; acoplar
os diversos troços de tubo moldador, com parafusos ou um pequeno cabo de aço; massa
consistente na ligação;
4) limpeza do fundo do furo com limpadeira e alargamento da base da estaca, se pretendido,
com ferramenta adequada;
5) no furo limpo e confinado pelo tubo moldador, é introduzida a armadura;
6) betonagem com trémie com subida simultânea do tubo moldador, até a estaca ficar
concluída; fase mais crítica da execução; se a subida for demasiado lenta, o betão já seco
agarra-se às paredes do tubo diminuindo a secção da estaca e, se for rápida demais, o
betão não tem auto-sustentação e dá-se o corte da estaca; tanto a trémie como o tubo
moldador são desmontados por troços à medida que o nível de betonagem vai subindo;
compactação do betão nos 3 m superiores;
7) saneamento da cabeça das estacas e execução do maciço de fundação.

Variantes (Figs. 10 a 12)

Variantes às estacas Franki (ver mais adiante) entre as quais as estacas Forum

TIPOLOGIA DAS ESTACAS por Jorge de Brito 14


EXECUÇÃO DE ESTACAS

Fig. 9 - Representação esquemática da execução de estacas com tubo moldador recuperável

Fig. 10 [2] - Sequência de execução de estacas pelo sistema Michaelis Mas

Fig. 11 [2] - Sequência de execução de estacas pelo sistema Wolfsholtz

TIPOLOGIA DAS ESTACAS por Jorge de Brito 15


EXECUÇÃO DE ESTACAS

Fig. 12 [2] - Sequência de execução de estacas pelo sistema Brechtel

3.4. ESTACAS EXECUTADAS COM LAMAS BENTONÍTICAS (Fig. 13)

1) montagem da central de fabrico e reciclagem das lamas bentoníticas;


2) selecção do equipamento de furação;
3) furação prévia com trado curto para melhor posicionar e verticalizar a furação e permitir o
posicionamento do tubo-guia, que permite guiar o equipamento de furação;
4) continuação da furação, geralmente com limpadeira, numa primeira fase sem lamas e,
quando o solo o exige, recorrendo a essas mesmas lamas; alternativa: polímeros
estabilizadores;
5) introdução da armadura no furo preenchido com lamas bentoníticas, com empalmes se
necessário;
6) betonagem da estaca do camião - betoneira para o funil da trémie; à medida que o sobe, as
lamas são recolhidas para reciclagem e a trémie, inserida por troços, é desmontada
também por troços;
7) saneamento da cabeça das estacas e execução do maciço de fundação.

Variantes

Recurso a polímeros estabilizadores

TIPOLOGIA DAS ESTACAS por Jorge de Brito 16


EXECUÇÃO DE ESTACAS

Fig. 13 - Representação esquemática da execução de estacas com lamas bentoníticas

3.5. ESTACAS EXECUTADAS COM TRADO CURTO SEM TUBO MOLDADOR (Fig. 14)

1) selecção do equipamento de furação à rotação (diâmetro do trado e necessidade de


utilização de trépano; a limpadeira só é utilizada para limpeza do fundo do furo);
2) verticalização da haste motora do trado e início da furação com o trado; o terreno tem de
ter coesão, que permite que as paredes do furo se mantenham sem qualquer confinamento
e que adira à hélice do trado quando este é puxado acima; a terra é liberta ao lado do furo,
por centrifugação;
3) atingido e limpo o fundo do furo, é colocada a armadura, pré-fabricada em estaleiro com
cintas helicoidais e espaçadores, através do próprio equipamento de furação;
4) antes de ser colocada no furo, a trémie é lavada por dentro e por fora;

Fig. 14 - Representação esquemática da execução de estacas com trado curto sem tubo
moldador (sem lamas bentoníticas)

TIPOLOGIA DAS ESTACAS por Jorge de Brito 17


EXECUÇÃO DE ESTACAS

5) a betonagem é efectuada do camião - betoneira para o funil da trémie; a extremidade


inferior da trémie é mantida sempre 2 m abaixo do nível do betão; a sua retirada é feita
por troços à medida que a betonagem prossegue; os últimos 3 m da estaca devem ser
compactados;
6) saneamento da cabeça da estaca com martelos pneumáticos (pode ser substituído pela
remoção dos 50 cm superiores de betão com este ainda fluido) e execução do maciço de
fundação.

3.6. ESTACAS EXECUTADAS COM TUBO MOLDADOR PERDIDO

1) selecção do equipamento de furação e movimentação de material;


2) verticalização do equipamento e introdução de um tubo de maior diâmetro do que o da
estaca; em obras executadas dentro de água, dá melhores condições para a cravação do
tubo moldador;
3) cravação do tubo moldador, pelo seu peso e pressão que o equipamento introduz e por
vibração (motor vibrador suspenso por cabos); tubo cravado 1.0-1.5 m no terreno com
boas características;
4) a furação é feita com limpadeira (baixa consistência do subsolo); esta traz o terreno
misturado com muita água no seu interior e despeja-o ao lado do furo por abertura da sua
face inferior; no firme, recorre-se ao trado ou mesmo ao trépano; o fundo do furo é limpo
de detritos, com a limpadeira;
5) a armadura, pré-fabricada com o seu comprimento total (com empalmes e espaçadores), é
transportada para o interior do furo com uma grua; a betonagem é feita através de uma
trémie;
6) betonagem feita por bombagem de um camião - betoneira com betão pronto com uma
mangueira; a água, menos densa que o betão, é empurrada para fora do tubo moldador; a
extremidade inferior da trémie mantém-se no interior do betão cerca de 2 m; a operação de
recuperação dos troços da trémie é repetida até preencher com betão e na sua totalidade o
interior do tubo moldador;
7) presa do betão (dentro do tubo, em face da existência de água no exterior, o que
inviabiliza a sua recuperação) e saneamento da cabeça da estaca acima do tubo moldador
(martelos pneumáticos); tubo exterior, não aderente ao moldador, recuperado; ligação da
estaca à superestrutura (geralmente através de maciço de fundação).

TIPOLOGIA DAS ESTACAS por Jorge de Brito 18


EXECUÇÃO DE ESTACAS

Variantes (Figs. 15 a 17)

Estacas West

Fig. 15 [4] - Variante às estacas Franki com duplo tubo moldador, o segundo dos quais perdido

3.7. ESTACAS EXECUTADAS SEM EXTRACÇÃO DO TERRENO (Fig. 18)

1) selecção do equipamento de cravação (misto de percussão, rotação e vibração, com pilão


para percussão do rolhão) e movimentação de material (grua);
2) formação da obturação (rolhão: pequena quantidade de betão com um slump muito baixo,
muito seco e fortemente compactado, pré-fabricado em betão; ponta cónica metálica);

TIPOLOGIA DAS ESTACAS por Jorge de Brito 19


EXECUÇÃO DE ESTACAS

Fig. 16 [4] - Variante às estacas Franki com tubo perdido apenas em parte da estaca

3) cravação do tubo com a obturação a impedir o acesso do terreno ao interior do tubo


moldador; percussão directa do rolhão com um pilão, percussão (com martelo automático
ou de queda livre) do tubo moldador de cabeça protegida por um capacete em madeira ou
motor vibrador;
4) atingida a cota pretendida, expulsa-se o rolhão; se este tiver aderente ao tubo moldador, o
que se faz é percutir fortemente o rolhão conseguindo que este esboroe, ao mesmo tempo
que se prende o tubo moldador à máquina, impedindo-o de acompanhar o rolhão; a
introdução de um movimento do tubo para cima desliga a obturação metálica cónica
imediatamente;
5) a armadura pré-fabricada é colocada com os espaçadores respectivos;

TIPOLOGIA DAS ESTACAS por Jorge de Brito 20


EXECUÇÃO DE ESTACAS

Fig. 17 - À esquerda, sequência de execução de estacas Raymond e, à direita, pormenores das


mesmas estacas: A - estaca Raymond standard; B - estaca Raymond de troços de diâmetro
decrescente; C - mandril de condução do tubo moldador

6) se o tubo for recuperado, o processo de betonagem recorre a uma trémie, cuja extremidade
inferior permanece mergulhada no betão durante todo o processo, ao mesmo tempo que o
tubo moldador é subido e, sempre que necessário, desmontado por troços;
7) se o tubo for perdido, o processo de betonagem é com a trémie mas sem os problemas
associados à recuperação do tubo;

Fig. 19 - Representação esquemática da execução de estacas com trado curto sem tubo

TIPOLOGIA DAS ESTACAS por Jorge de Brito 21


EXECUÇÃO DE ESTACAS

8) em ambas as hipóteses, é necessário vibrar o betão nos 3 m superiores da estaca, sanear a


respectiva cabeça (cerca de 50 cm) e executar o maciço de fundação.

Variantes (Figs. 19 a 23)

Fig. 19 - Sequência de execução de estacas moldadas em rosca

Fig. 20 [2] - Fases de execução do sistema Simplex

TIPOLOGIA DAS ESTACAS por Jorge de Brito 22


EXECUÇÃO DE ESTACAS

Fig. 21 [2] - Fases de execução do sistema Franki

TIPOLOGIA DAS ESTACAS por Jorge de Brito 23


EXECUÇÃO DE ESTACAS

Fig. 22 [2] - Variante às estacas Franki com perfuração prévia à introdução do tubo moldador

TIPOLOGIA DAS ESTACAS por Jorge de Brito 24


EXECUÇÃO DE ESTACAS

Fig. 23 [1] - Acção de apiloamento do betão no sistema Vibro

TIPOLOGIA DAS ESTACAS por Jorge de Brito 25


EXECUÇÃO DE ESTACAS

4. CAMPO DE APLICAÇÃO E CRITÉRIOS DE SELECÇÃO

Entre os tipos básicos mencionados, cada um apresentará vantagens e desvantagens relativas.


Assim, terá o seu campo específico de aplicação, sendo para um determinado caso a solução
mais adequada. Seria, no entanto, irrealista ignorar a questão económica, que determina que,
na maioria dos casos e em face de várias soluções tecnicamente possíveis e cumprindo os
requisitos fundamentais mínimos, se opte pela menos onerosa.

A propósito de custos, devem ser tecidas as seguintes considerações: o menor custo da


solução de estacas não é necessariamente o da estaca mais barata por metro linear; atrasos na
execução por falta de experiência ou falha na apreciação do problema real pelo Construtor
agravam consideravelmente o custo total do empreendimento; deve ser considerado o custo de
ensaios de estacas se o Construtor não revelou experiência suficiente e fiabilidade na fixação
das profundidades e diâmetros das estacas; custos adicionais pesados podem advir se houver
estacas com resultados de ensaios insatisfatórios; é vantajoso recorrer a um Construtor de
renome conceituado e com boa experiência em trabalhos realizados no local; deve ser
enfatizado que muitos atrasos e dificuldades em contratos de obras com estacas podem ser
evitados realizando, o mais cedo possível, aprofundado reconhecimento geotécnico.

4.1. ESTACAS CRAVADAS VERSUS MOLDADAS NO TERRENO

A primeira opção em termos de selecção do tipo de estaca é entre estacas pré-fabricadas


cravadas e moldadas no terreno por um dos diversos métodos descritos no capítulo anterior. O
campo de aplicação das primeiras é, naturalmente, quase coincidente com o das segundas, ou
seja, as situações em que o estrato resistente susceptível de resistir às cargas vindas da
superestrutura se situa a uma profundidade média a grande e os terrenos desde a superfície a
esse mesmo estrato são de características mecânicas inferiores.

Neste aspecto, as estacas cravadas apresentam alguma vantagem já que, ao contrário das
estacas moldadas em que, consoante o tipo de terreno e a existência ou não de água, é
necessário seleccionar o método tecnicamente exequível mais económico, não dependem
excessivamente das condições in-situ, ou seja, a técnica de cravação e o equipamento a
utilizar podem ser mantidos.

TIPOLOGIA DAS ESTACAS por Jorge de Brito 26


EXECUÇÃO DE ESTACAS

Em contrapartida, para além do aspecto económico e das questões associadas ao ruído e às


vibrações, o recurso a estacas cravadas não é recomendado em determinadas circunstâncias:
quando existirem construções vizinhas muito sensíveis às vibrações ou ao levantamento do
terreno; quando os terrenos contiverem elementos ou blocos duros; quando o firme é rocha sã
ou muito dura, a difícil adaptação dos comprimentos às necessidades pode levar à demolição
de grandes troços das estacas já cravadas; finalmente, quando do dimensionamento resulta a
necessidade de estacas de grande secção.

São as seguintes as vantagens das estacas cravadas relativamente às moldadas no terreno [1]:

 rapidez de execução e limpeza da obra;


 podem ser cravadas até à nega prevista e o terreno na ponta da estaca fica sempre
compactado e em contacto com esta;
 são estáveis em terrenos sem auto-sustentação, como argilas moles, siltes e lodos;
 podem ser cravadas mesmo se tiverem sido afectadas por levantamento do terreno;
 permitem um melhor controle de qualidade da estaca em termos dimensionais e o material
da estaca pode ser inspeccionado antes da sua cravação; é mais difícil a corrosão das
armaduras face às condições de fabrico que permitem melhor garantir os recobrimentos;
 podem ser cravadas com grandes comprimentos (até cerca de 50 m, função do sistema
empregue), ainda que para tal seja necessária uma grande potência de cravação;
 podem ser instaladas até uma cota acima do terreno ou através da água em estruturas
marítimas (o processo de construção não é afectado pelo nível de água);
 podem mesmo aumentar a compacidade relativa da camada granular de fundação.

Por sua vez, as desvantagens relativas das estacas cravadas são [1]:

 são relativamente caras quando comparadas com as soluções mais económicas de estacas
moldadas apropriadas ao caso específico em causa (ainda que se tenham vindo a tornar
mais competitivas: para estacas de secção maciça quadrada com 300 mm de aresta, o
custo directo ronda ao 10 000$ por metro linear);
 o levantamento e a perturbação do terreno envolvente pode causar dificuldades e ter
repercussões nos edifícios vizinhos;
 não podem facilmente variar de comprimento (devem ser cortadas ou emendadas, com
custos acrescidos), em face das medidas estandardizadas da pré-fabricação;

TIPOLOGIA DAS ESTACAS por Jorge de Brito 27


EXECUÇÃO DE ESTACAS

 podem ser danificadas por excessiva energia de cravação;


 exigem um tempo de espera entre a betonagem e a cravação para ganharem resistência;
 não devem ser utilizadas em terrenos contendo elementos ou blocos duros (tal situação, a
ocorrer durante a cravação, obriga à suspensão da operação e à cravação da estaca ao lado
da posição inicial);
 a armadura é condicionada mais pelas necessidades de movimentação e cravação do que
pela resistência à carga actuante em serviço, o que encarece a solução;
 ocupam espaço em estaleiro antes da cravação;
 não podem ser cravadas com grande diâmetro ou em condições de limitação do pé direito;
 provocam ruído e vibrações nas imediações durante a operação de cravação assim como
deformação do terreno.

Como se referiu na introdução a este documento, as estacas moldadas são muito mais
utilizadas na prática do que as cravadas, cujos inconvenientes (e em particular o último da
lista) se revelam na maioria das circunstâncias demasiado limitativos.

4.2. SELECÇÃO DO TIPO DE ESTACAS MOLDADAS NO TERRENO

São inicialmente discutidos os campos de aplicação na prática das quatro técnicas de


execução de estacas moldadas mais utilizadas em Portugal: com extracção do terreno e tubo
moldador recuperável, sem percolação de água, e sem tubo moldador para três modalidades
(com trado curto, em solos auto-sustentáveis, com trado contínuo, sem presença de água, e
com lamas bentoníticas).

4.2.1. Vantagens e desvantagens das estacas executadas com trado contínuo

Este processo é, para solos adequados, o mais económico e de mais fácil e rápida execução,
para além de que não dá origem a vibrações e os níveis de ruído são baixos. Daí que seja o
método preferido pelas empresas da especialidade. No entanto, suscita algumas questões
técnicas relacionadas com a qualidade e o controlo de qualidade, nomeadamente:

 a qualidade de execução da estaca está muito dependente do operador e necessita de uma


monitorização adequada de circulação de cimento (o volume total de betão gasto deve ser
superior ao volume teórico, para garantir que a estaca não está cortada, apesar de

TIPOLOGIA DAS ESTACAS por Jorge de Brito 28


EXECUÇÃO DE ESTACAS

apresentar alargamentos localizados do seu diâmetro), pressão e momento torsor (única


indicação da resistência do solo mas, por ser uma medição total, não permitindo a
determinação da profundidade de furação), bem como da velocidade de introdução do
trado (uma velocidade excessiva pode levar à obturação da cabeça do trado e uma
velocidade insuficiente pode provocar uma descompressão dos solos vizinhos por haver
um excesso de solo removido; por outro lado, a velocidade de perfuração deve ser inferior
à rotação da hélice para descomprimir o solo no fundo do furo e permitir a introdução do
trado);
 em solos arenosos e abaixo do nível freático, há uma redução da resistência na vizinhança
da estaca devido à perfuração; como tal, a relação carga / deformação nestas estacas é
inferior à das estacas cravadas;
 os detritos que vão caindo para o interior do furo contaminam o betão;
 estas estacas têm de ser betonadas até ao nível inicial;
 a altura máxima do trado está limitada a entre 17 a 22 m pela lança do equipamento de
furação; a necessidade de colocar as armaduras apenas após a betonagem leva na prática
este limite para os 12 m;
 não se consegue precisar o diâmetro e as características da estaca;
 não se garante o posicionamento exacto das armaduras nem o recobrimento destas.

Estas duas últimas questões são ainda mais prementes para este do que para os restantes
métodos de execução de estacas moldadas, já de si algo imprecisos. Daí que este processo
apenas deva ser usado para estacas com diâmetro até 600 mm e em contenções com pouco
risco (não muito altas e com solos algo coerentes).

4.2.2. Vantagens e desvantagens das estacas executadas com tubo moldador recuperável

Sendo um método mais moroso e oneroso do que o anterior é, no entanto, por comparação
com o mesmo, mais aconselhável em contenções com estacas com grandes diâmetros e em
solos menos coerentes. Apresenta ainda as seguintes vantagens:

 custos baixos de instalação do equipamento;


 o equipamento pode funcionar em espaços limitados e de difícil acesso;
 as estacas têm boa capacidade de carga;

TIPOLOGIA DAS ESTACAS por Jorge de Brito 29


EXECUÇÃO DE ESTACAS

 em alternativa à base dilatada, pode ser criada uma ficha no bed-rock, (procedimento mais
fácil e rápido e, por isso mesmo, preferido hoje em dia em relação aos bolbos).

Este método tem, no entanto, as seguintes desvantagens:

 custo elevado por metro de estaca;


 baixas taxas de produção;
 este método não é adequado para solos sem coesão e situados abaixo do nível freático;
 a variedade de dimensões das estacas está muito limitada aos tubos moldadores
disponíveis;
 a profundidade máxima das estacas é cerca de 12 m, dependendo da constituição dos
solos;
 os níveis de ruído e vibração, apesar de não serem elevados, podem apresentar problemas.

4.2.3. Vantagens e desvantagens das estacas executadas com trado curto sem tubo
moldador

Em solos auto-sustentáveis e em que não aflui água ao furo, é possível executar as estacas
pelo processo anterior mas sem ter de recorrer ao tubo moldador, com ganhos importantes de
economia e rapidez. A questão da ocorrência de afluxo de água ao furo, extremamente
comum, é aliás um dos factores mais importantes na decisão sobre a forma de actuar em obra.

A água aparece pela parede do furo e a decisão sobre como fazer a betonagem da estaca
depende da quantidade de água que chega ao fundo do furo. Se for uma quantidade pequena,
então uma bomba retirá-la-á do poço durante a operação de limpeza. Quando acabar a fase de
limpeza, começa a betonagem da estaca até ao betão chegar a uma cota superior de onde é
oriunda a água. Seguidamente, é colocada a armadura no furo mergulhando-a no betão.
Betona-se então o restante da estaca. Se, durante o tempo em que se tira a bomba e se começa
a betonagem, aparece alguma água no furo, esta não vai alterar o betão da estaca, uma vez que
a betonagem é feita pelo centro e por isso concentra-se muito betão no centro e a água vai
para os bordos. Alguma da água que chega ao poço vai misturar-se com o betão durante a
betonagem, podendo isto ser compensado usando uma quantidade adicional de cimento. Se a
quantidade de água que chega ao poço é grande, é necessário betonar a estaca debaixo de
água. Para isso, é necessário usar um tubo moldador, tal como descrito acima, o que impedirá

TIPOLOGIA DAS ESTACAS por Jorge de Brito 30


EXECUÇÃO DE ESTACAS

o colapso da estaca. Outra alternativa é o uso de estacas moldadas em que se utilizam as


lamas bentoníticas.

4.2.4. Vantagens e desvantagens das estacas executadas com lamas bentoníticas

Tratando-se de um método com custos fixos e variáveis significativos, é preterido em relação


aos anteriormente descritos excepto nas situações em que eles não são aplicáveis: estruturas
em solos com coesão muito baixa ou com nível freático elevado (ou com estratos saturados),
sobretudo se existir percolação de água subterrânea. O método apresenta algumas vantagens:

 solução económica para o domínio de aplicação acima referido;


 ruído reduzido;
 não há vibração associada;
 existe uma boa gama de diâmetros possíveis;
 permite estacas com grandes comprimentos.

Por outro lado, o método apresenta algumas desvantagens:

 a bentonite é uma matéria prima muito cara, o que encarece sobremaneira o método;
 é necessário um grande estaleiro para proceder à preparação e reciclagem das lamas
bentoníticas;
 só podem ser construídas estacas na vertical;
 problemas ambientais devido à perda das lamas; podem ser parcialmente resolvidos
recorrendo a lamas biodegradáveis.

4.2.5. Métodos mais frequentes

As soluções mais frequentes descritas podem ser ordenadas da seguinte forma por ordem
crescente de custos: com trado contínuo, com trado curto sem tubo moldador, com trado curto
com tubo moldador recuperável e com lamas bentoníticas, sendo estas duas últimas
claramente as mais onerosas. Como, por outro lado, a gama de aplicações geralmente
decresce com o custo, a opção é pela solução mais barata no seu domínio de aplicação, após o
que se passa para a menos onerosa das soluções restantes no domínio de aplicação desta não
comum ao da primeira solução, e assim sucessivamente.

TIPOLOGIA DAS ESTACAS por Jorge de Brito 31


EXECUÇÃO DE ESTACAS

Desta forma, nos solos coerentes e sem a presença de água (ou com uma presença residual /
acidental desta), opta-se pelas estacas executadas com trado contínuo. As estacas executadas
com trado curto e sem tubo moldador têm um domínio de aplicação pouco maior, aceitando
solos um pouco menos coerentes e uma presença de água mais acentuada. São por isso
preteridas em relação às primeiras, a não ser nas situações em que, em virtude do menor
controlo de qualidade associado à execução com trado contínuo, o caderno de encargos não
permite essa solução. Nos solos com alguma coesão mesmo que pequena (o que exclui por
exemplo os solos incoerentes ou os lodosos) e mesmo com presença do nível freático elevado
desde que não exista percolação de água, a solução das estacas com tubo moldador
recuperável é a preferida. Se existirem dúvidas sobre a garantia das condições atrás referidas
ou em solos capacidade de auto-sustentação muito reduzida, opta-se pelas estacas executadas
com o auxílio de lamas bentoníticas, sendo preciso garantir espaço de estaleiro para a estação
de tratamento das mesmas.

4.2.6. Métodos menos frequentes

Referem-se agora os critérios que, em circunstâncias normais, levam à rejeição das


modalidades menos utilizadas em Portugal.

A opção entre extrair ou não o terreno durante a escavação é quase sempre resolvida a favor
da primeira opção para não perturbar o terreno nem as estruturas e serviços adjacentes e
diminuir simultaneamente o ruído e as vibrações.

A opção entre recuperar ou não o tubo moldador é um pouco mais difícil. De facto, se a
recuperação do tubo moldador permite uma poupança muito significativa, ela também
representa um decréscimo de qualidade não desprezável do produto acabado, a estaca, a
vários níveis (contaminação do betão com água e terras, posicionamento e recobrimento da
armadura), um decréscimo de resistência (o próprio tubo) e de durabilidade (a protecção que o
tubo confere) e o aumento do risco de ocorrência de diversas patologias associadas à retirada
do tubo (perda de secção e arrastamento dos finos do betão). Por outro lado, em determinadas
situações (por exemplo, obras marítimas ou fluviais), não é pura e simplesmente possível
recuperar o tubo moldador. Por todas estas razões, ainda que na maioria das situações se opte

TIPOLOGIA DAS ESTACAS por Jorge de Brito 32


EXECUÇÃO DE ESTACAS

por recuperar o tubo, a decisão deverá ser tomada caso a caso, em função da obra e até mesmo
de forma individualizada estaca a estaca.

Quanto à opção de se recorrer ou não ao tubo moldador, ela é também amplamente discutida
em 4.2.3..

4.3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Não obstante as considerações agora feitas, a escolha do tipo de estacas deve ser ponderada,
tendo em conta um determinado conjunto de factores vitais [1]:

• a localização e o tipo de superestrutura, com influência nas cargas e, consequentemente,


no diâmetro das estacas;
• as condições do terreno, incluindo a posição do nível de água;
• profundidade de um estrato capaz de suportar as cargas transmitidas às estacas e, de um
modo geral, todos os conhecimentos sobre o local de fundação fornecidos por uma
prospecção geotécnica adequada;
• número de estacas necessárias;
• possibilidades de transporte e manuseamento das estacas;
• durabilidade a longo prazo, visto que as estacas de betão são sensíveis ao ataque químico
de sais ou ácidos do solo;
• tipo e estado de degradação das estruturas adjacentes ao projecto;
• tipo de equipamento disponível no mercado;
• custo para o Dono de Obra.

TIPOLOGIA DAS ESTACAS por Jorge de Brito 33


EXECUÇÃO DE ESTACAS

5. BIBLIOGRAFIA

[1] Coelho, Silvério, “Tecnologia de Fundações”, Edições E.P.G.E., Lisboa, 1996.


[2] Schmidt, H. “Tratado de Construcción”, 6ª Edição, Editorial Gustavo Gili, Barcelona,
1978.
[3] Hachich, W., et al., “Fundações - Teoria e Prática”, 1997.
[4] Caputo, Homero Pinto, “Mecânica dos Solos e Suas Aplicações - Volume 2”, 5ª Edição,
Livros Técnicos e Científicos Editora S.A., Rio de Janeiro, 1983.
[5] “Fundações em Terrenos Não Rochosos”, 3ª Edição, Seminário n.º 208, LNEC, Lisboa,
1995.
[6] Correia, António Gomes, et al. “Mecânica dos Solos e Fundações II. Elementos
Teóricos”, IST, Lisboa, 1996.
[7] Brito, Jorge de, “Estacas Moldadas no Terreno”, Cadeira de Processos de Construção,
Instituto Superior Técnico, Lisboa, 1999.

TIPOLOGIA DAS ESTACAS por Jorge de Brito 34

View publication stats

Você também pode gostar