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A Inflexibilidade do

Reino Unido à integração


Europeia

Trabalho realizado pelo Grupo III: Cláudia Sousa (a91044); Cristiana Oliveira (a91058); Mª Inês
Silva (a91049)
Janeiro de 2021

Desde o começo do processo de integração europeu, que o Reino Unido demonstrou resistência
à cooperação e aderência ao projeto europeu.
O trabalho apresentado, aborda a atitude do Reino Unido perante a evolução da integração
europeia, analisando a sua postura e as possíveis consequências externas e internas do seu colapso
final – Brexit.
As conclusões sugerem que, a curto prazo, o Reino Unido e os Estados-membros irão sair
prejudicados com o Brexit devido aos efeitos já sentidos após o anúncio do referendo de 23 de junho
de 2016 que decidia sobre a permanência do Reino Unido na União Europeia.

Palavras-chave: Reino Unido; Integração Europeia; Estados-Membros; União Europeia; Referendo;


Inflexibilidade
JEL: E60; F17; F47
INTRODUÇÃO

O Reino Unido, durante o seu percurso na União Europeia, foi um dos Estados-Membros com maior
protagonismo, efetuando diversas ações importantes para o espaço europeu. Contudo, o seu
relacionamento com a União Europeia não foi sempre fácil, acabando mesmo com um “divórcio” entre as
duas atuantes – Brexit.

Ao longo do trabalho irá, assim, ser feita uma visão da inflexibilidade do Reino Unido perante o projeto
europeu geral, denotando possíveis ideias justificativas da sua saída da União Europeia. Com a exploração de
políticas efetuadas, observação da história, tratados realizados, análise de gráficos e medidas definidas pós-
Brexit, configuramos uma análise ao comportamento do Reino Unido na Europa, bem como definimos
possíveis consequências internas (Reino Unido) e externas (União Europeia e Portugal) do Brexit.

A atualidade desta temática e o seu impacto no espaço europeu foram aspetos que levaram à escolha
deste tema. De facto, o que nos motivou a selecionar este assunto foi o facto de nos encontrarmos “em cima
do acontecimento” e pretendermos obter mais conhecimentos acerca da saída deste grande atuante
europeu e demonstrar como a relação britânica-europeia nem sempre foi estável.

Deste modo, este trabalho irá se dividir em 3 pontos: Reino Unido- o seu percurso na União Europeia;
Colapso Final- Brexit e consequências internas para o Estado britânico; Efeitos para a Europa e países-
membros.

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1. REINO UNIDO – O SEU PERCURSO NA UNIÃO EUROPEIA
O Reino Unido teve uma oportunidade de fazer parte na criação do projeto europeu, mas
recusou aderir ao Plano de Schuman, também conhecido por CECA. Na altura do pós-guerra, a
principal figura política britânica, Winston Churchill, líder do Partido Conservador, demonstrava ser
um grande defensor da unificação da Europa – ele discursava sobre os “Estados Unidos da Europa”,
uma família europeia de justiça e liberdade, e até falou na criação de um conselho europeu para
governar o continente no futuro. Churchill manifestava-se altamente pro-europeu, tornou-se numa
força motriz e num lutador pelo propósito europeu. Havia, assim, esperanças elevadas de que o
Reino Unido seria uma parte fundamental na emergência do projeto europeu. Porém, tais foram
abandonadas quando o governo de Churchill rejeitou entrar no Plano de Schuman em 1957, na
assinatura do Tratado de Roma (que o transformava em CEE), descartando qualquer tipo de ação
(ou influência) na emergência de instituições supranacionais europeias (Young, 1985). Jean Monnet,
um dos principais arquitetos do projeto europeu, veio afirmar, mais tarde, o seguinte: “Nunca
percebi por que não quiseram. Talvez fosse o preço da vitória, a ilusão de que era possível manter
o que tinham sem qualquer mudança” (Gouveia, 2016). Talvez o erro prematuro do Reino Unido foi
se focar maioritariamente no aspeto político desta unificação de países europeus, ignorando os
propósitos económicos e sociais que moviam a mesma – e que eram os mais importantes.
Assim, aqui vemos que o Reino Unido teve uma oportunidade clara de pertencer desde logo no
projeto europeu, uma oportunidade de liderar (até) a Europa. Mas perdeu-a.

Em 1960, o Reino Unido, juntamente com Portugal, Áustria, Dinamarca, Noruega, Suécia e
Suíça, funda a EFTA (Associação Europeia de Comércio Livre). Estes estados que não pertenciam à
CEE juntaram-se para defender os seus interesses económicos através da criação de uma área de
comércio livre com a abolição de barreiras aduaneiras na importação de produtos dos estados-
membros, servindo para fomentar as trocas internacionais destes países. É importante referir que
neste período também a CEE se tornava numa União Aduaneira, alicerçada nos mesmos princípios.
Vemos, desta maneira, que na Europa se desenrolavam dois projetos de integração distintos.
De facto, a EFTA constituía-se como um projeto alternativo à Comunidade Económica Europeia,
liderado sobretudo pelo Reino Unido: os seus países-membros desejavam uma maior autonomia
em relação às políticas da CEE (Veillard, 2020), advogando a formação de um simples espaço livre
de comércio e não a formação de um processo de integração económico-político-social, como era
o caso da comunidade europeia (Relações Bilateriais/Países/Associação Europeia do Comércio Livre,
s.d.). Porém, o sucesso da CEE contribuiu para o esvaziamento da EFTA: a poucos anos da criação
da Comunidade Económica Europeia, a França, Alemanha e os países do BENELUX apresentavam
crescimentos económicos muito positivos e a um ritmo superior ao dos Estados Unidos da América
(EUA). Enquanto na EFTA, a economia britânica desacelerava. Isto levou o Reino Unido a apresentar
a sua primeira candidatura à CEE, em 1961, enfrentando, porém, o veto de Charles De Gaulle (então
presidente da comunidade) que recusou a integração do país britânico. Em 1967, o Reino Unido
tentaria mais uma vez a sua adesão que voltaria a ser vetada por De Gaulle (Rollo, 2016). A atitude
do presidente francês não deixa de despertar curiosidade, porquê tanta negação? Aqui deixamos a
resposta de Charles De Gaulle quando indagado nesta questão: “as Ilhas Britânicas eram apenas
ilhas, e cada um dos Ingleses, uma ilha em si mesmo” dizendo ainda que “percebia o Reino Unido
como um apêndice norte-americano, sem uma vocação europeia clara” (Rodriguez, 2016).
Após um ano da fundação da EFTA, já o Reino Unido mostrava-se disposto a abandoná-la para
ingressar na CEE, movido pelo desejo de maior crescimento económico. Se os britânicos agiam deste
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modo em relação a um projeto de sua criação, que garantias tinham os europeus de que não fariam
o mesmo na comunidade europeia? Ou seja, quais eram as suas garantias de que eles teriam
compromisso total? São questões que deixam a pensar…
Porém, se queríamos uma Europa unida, não podíamos continuar a discriminar e a excluir
países europeus com base nos seus interesses. Assim, o Reino Unido consegue finalmente a sua
aceitação à Comunidade Económica Europeia, em 1973, sob a alçada de George Pompidou, o
presidente que sucedeu a De Gaulle. E com a sua entrada na CEE, deixa a EFTA.

A aventura do Reino Unido na Europa não acaba aqui. Mal que entrou na comunidade, já estava
a pensar em sair: em 1975, os britânicos realizam um referendo sobre a sua permanência na CEE,
na base estava o euroceticismo dos britânicos que recusavam uma união política. Todas as
campanhas a favor da saída advogavam a perda de soberania nacional e o direito a uma governação
autónoma, mais afirmavam que a integração do Reino Unido era para ser somente económica
(Anexo 1), pelo que se sentiam “traídos”. Porém, na verdade, desde 1967, que os governos
britânicos discursavam sobre uma integração não apenas económica – Anexo 1. Assim, parecia que,
mais uma vez, o orgulho nacional falava mais alto. O referendo culminou com 67% dos eleitores a
dizer sim à permanência do Reino Unido e foi marcado com uma interessante campanha de
Margaret Thatcher, forte defensora do “Sim” (anexo 1). A líder do Partido Conservador britânico
discursou o seguinte: “Não é surpreendente que eu, como líder do Partido Conservador, deseje dar
todo o meu apoio a esta campanha, pois o Partido Conservador tem vindo a perseguir a visão
europeia há quase tanto tempo quanto a sua existência como Partido”, acrescentando,
posteriormente, em 1988, “O nosso destino está na Europa, como parte da Comunidade” (Danzig,
2018). No entanto, quando eleita primeira-ministra em 1979, já demonstrava algum euroceticismo;
a causa resumia-se à Política Agrícola Comum (absorvente de 70% do orçamento comunitário): os
britânicos estavam prestes a tornarem-se nos maiores contribuintes da comunidade, mas como o
país tinha uma aposta reduzida na agricultura, recebiam pouco desse fundo estrutural. E assim, em
1984, Thatcher conseguiu negociar a redução das contribuições do Reino Unido, sendo-lhes
devolvido parte do dinheiro. (Gouveia, 2016)

Em 1985, dá-se o Acordo de Schengen que instaurou a livre circulação de pessoas na Europa,
sem a necessidade de burocracia e apresentação de documentos nas fronteiras – foi a etapa que
concluiu o Mercado Único, pelo que foi um marcante acontecimento para a União e fez da Europa
mais coesa, unida e aberta. Porém, o Reino Unido foi o único país membro da comunidade europeia
que não assinou este tratado, manifestando assim a negação de deixar europeus entrar livremente
no seu país.

Em 1993, aquando do nascimento da União Europeia (UE) após a assinatura do Tratado de


Maastricht (em 1992), que lança as bases para a criação da moeda única, o Reino Unido recusou
avançar na integração e adotar o euro, optando por manter a libra esterlina como sua moeda. Na
sua decisão, esteve o desejo de manter a independência financeira do país, para que o Banco da
Inglaterra pudesse manter a sua autonomia, no que respeita as desvalorizações da moeda e taxas
de juro; e, para eles, o euro não se mostrava vantajoso nas trocas comerciais com os EUA (seu
suposto principal parceiro económico), devido ao dólar. Por outro lado, também estavam
subjacentes aspetos motivados pelas características culturais dos britânicos: perder um símbolo

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nacional como a libra não era algo bem visto entre o povo inglês – “Os britânicos não viam com bons
olhos a perda da soberania ou o fim de um de seus símbolos nacionais, a libra” (Coutelle, 2018).
Mas 1993 não foi apenas marcado pela não adesão do Reino Unido à Zona Euro. Nesse mesmo
ano, nascia o Partido de Independência do Reino Unido (UKIP), um partido político totalmente
eurocético e euro-pessimista que apoiou fortemente as campanhas a favor da saída britânica da UE,
no referendo de 2016 (que acabou por ditar o fim da permanência do Reino Unido no espaço
europeu).

Até à última aventura do Reino Unido na União Europeia, ainda ocorreu mais um evento que
veio reforçar ou clarificar a inflexibilidade britânica perante uma união política europeia mais
profunda: em 2007, para a aprovação do Tratado de Lisboa, o seu primeiro-ministro, Gordon Brown,
falhou a assinatura do documento que reformulava as instituições e a Constituição europeias e que
entregava mais poderes a Bruxelas (Gouveia, 2016). Depois de muitos momentos em que o orgulho
nacional e a recusa de perda de soberania do povo britânico eram muitas vezes as razões para uma
atitude “rebelde” para com a Europa, pensamos que este comportamento não foi uma surpresa e
que antecipou, até, o futuro do Reino Unido na União Europeia.

Deste modo, ao longo desta primeira parte, conseguimos ver um percurso europeu da Grã-
Bretanha preenchido de contrariedades, impasses, incertezas sobre o que realmente o país queria,
um percurso em que se dava um passo à frente para se dar dois para trás. Vimos falta de
compromisso para com dois projetos europeus e, durante 47 anos de pertença, o Reino Unido
recusou-se a flexibilizar os seus interesses em prol do interesse europeu. Atribuímos-lhe, portanto,
um carácter de rebeldia, formalizado através dos constantes avisos de saída corporizados nos vários
referendos realizados. Em 2016, a ”ameaça” tornou-se real e o Reino Unido estipulou a sua saída
definitiva da União Europeia (Brexit). Também este processo não escapou às suas contrariedades:
Theresa May que, no início da campanha a favor da permanência, afirmou ser claro o “interesse
nacional [britânico em] continuar a ser membro da União Europeia”, veio posteriormente afirmar
que “o Reino Unido nunca se sentiu totalmente em casa enquanto membro da União Europeia”.
(Danzig, 2018)

É inquestionável o nível de incertezas que o Brexit veio trazer para o futuro da União Europeia,
para não falar dos impactos socioeconómicos que já se fizeram sentir e se continuarão a fazer sentir,
tanto no Reino Unido como no espaço europeu e seus países-membros. De seguida, iremos analisar
algumas dessas consequências do Brexit.

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2. COLAPSO FINAL – O BREXIT . CONSEQUÊNCIAS INTERNAS PARA O ESTADO BRITÂNICO
Passados 47 anos de adesão à União Europeia, o Reino Unido anuncia a sua saída a 31 de janeiro
de 2020 com a celebração do Acordo de Saída, sendo considerado um país terceiro a 1 de fevereiro
de 2020, pelo que já não faz parte do processo de tomada de decisão da União Europeia.
No entanto, a União Europeia e o Reino Unido decidiram estabelecer um período de transição,
que terminou com o início deste ano, ficando estipulado que nada se altera para os cidadãos,
consumidores, empresas, investidores e os investigadores, tanto na União Europeia como no Reino
Unido. Deste modo, a partir de 2021, o Reino Unido não participará como Estado-Membro no
próximo quadro plurianual 2021-2027, nem no orçamento de longo prazo da União Europeia.

Desde que o Reino Unido, que corresponde à união entre a Irlanda do Norte, Grã-Bretanha,
Países de Gales e Inglaterra, manifestou a sua vontade de sair da União Europeia, isto é, desde o
anúncio do Brexit, constata-se um período de incerteza tanto para este estado soberano como para
a União Europeia.
Assim, várias são as investigações que se realizaram para determinar as suas consequências
positivas e negativas tanto a nível económico como político e social.

❖ Consequências Positivas

As consequências positivas do Brexit para o Reino Unido, no fundo são os motivos que o levou
a querer sair da União Europeia. Pertencer à União Europeia pressuponha uma livre circulação de
bens, serviços, pessoas e capital, o designado mercado único.
Assim, o Reino Unido viu na sua saída o aumento da autonomia no controlo da circulação de pessoas
nas suas fronteiras, a redução do número de imigrantes e a recuperação da sua soberania ao
controlar as suas fronteiras e gerir o seu capital de forma independente.
Acrescentando-se ainda o facto de puder fechar novos acordos comerciais com países não
pertencentes à UE e a desregulamentar a sua economia (Booth, Howarth, Persson, Ruparel, and
Swidlicki, 2015).

❖ Consequências Negativas

1. Desvalorização da moeda
A grande maioria das projeções económicas sugere que o Brexit prejudicará o crescimento
económico do Reino Unido. De facto, após o referendo de 23 de junho de 2016, verificou-se uma
queda do valor da libra esterlina em relação a outras moedas importantes.
A 1 de janeiro de 2018, 1,00 £ valia menos que 1,20 € e 1,25 $. Enquanto que, antes do
referendo, valia 1,30 € e 1,47 $. Como resultado do declínio do valor da libra, as empresas que
exportam para o Reino Unido viram os seus preços encarecer no território britânico.
Um exemplo do impacto desta desvalorização da moeda é a Unilever cujos preços da Marmite
(produto alimentar) ficaram mais caros, causando disputas entre o fabricante e alguns
revendedores. (Rita de Sousa Costa e Tiago Sérgio Cabral, 2018)

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A 1 de dezembro de 2020 (data desta pesquisa), 1,00 £ vale 1,11€ e 1,34 $ (dados de moeda
fornecidos pela Morningstar e de criptomoeda fornecidos pela Coinbase), ou seja, continua a
verificar-se a queda do valor da libra relativamente ao momento antes da elaboração do referendo
– 1,00 £ valia 1,30 € e 1,47 $.

2. Produtividade
Gráfico 1: Produto Interno bruto do
Produto Interno Bruto Reino Unido, em triliões de dólares.
4 2,6943 Fonte: Dados de Banco Mundial;
3,1009 2,8553
Triliões de dolares

2,6662 última atualização: 8 de abril de


3
2020
2 Acedido a : 01/12/2020
1 0,192538
0
Reino Unido

1960 1970 1971 1972 1973 1975 1980 2000 2001


2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018

Com base no gráfico apresentado, constata-se que o Produto Interno Bruto (PIB) do Reino Unido
aumentou continuamente desde a sua entrada na União Europeia (1973), atingindo os 3,1009
triliões de dólares em 2007.
Posteriormente a 2006, verifica-se uma queda do PIB, possivelmente devido à crise económica
e financeira.
No entanto, a partir de 2016, data em que ocorre o primeiro referendo com a proposta de saída
do Reino Unido da União Europeia, verifica-se uma certa instabilidade do produto interno bruto,
registando-se uma descida relativamente ao ano de 2015 e atingindo em 2017, os 2,6662 triliões de
dólares.
Vários estudos do impacto do Brexit sugerem que a economia do Reino Unido crescerá mais
lentamente após o Brexit do que aconteceria se permanecesse membro da União Europeia, essas
previsões variam de um custo insignificante a uma redução de 18% na produção em 2030 (Gema
Tetlow and Alex Stojanovic, 2018).
A saída da União Europeia implica também a saída do mercado único, isto é, da livre circulação
de bens, serviços, pessoas e capital, pelo que o Reino Unido deixará de usufruir dos benefícios a ele
inerente e ainda poderá contrair consequências negativas.
A questão que se coloca é: De que forma o Brexit afetará estas quatro dimensões para o Reino
Unido?
O Reino Unido já anunciou a saída da União Europeia, contudo encontrou-se em processo de
transição até dia 31 de dezembro de 2020, sendo apenas um país terceiro onde já não fazia parte
do processo de tomada de decisão. Posto isto, não há dados certos acerca do impacto que este tem
para o país, apenas estudos e suposições.

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3. Comércio Internacional
Principais destinos (por 2016 2019
Balança comercial em % do PIB % de exportações)
35 31,6 32 32,7
31,5
Estados Unidos da 15% 15,70%
30,1 30,4 30,6
30 27,7
29 28,5 América
Alemanha 10,60% 9,90%
25
França 6,40% 6,70%
20
Holanda 6,20% 6,50%
15 Irlanda 5,60% 5,90%
10 Suiça 4,80% 3,30%
5 China 4,40% 6,40%
0 Bélgica 3,80% 3,50%
2015
-1,4 2016
-1,6
2017
-1,2 2018
-1,4 2019
-1,2 Itália 3,20% 2,70%
-5
Espanha 3,20% 2,90%
Exportações/ Recebimentos Importações/ Pagamentos
Tabela 1: Principais destinos (por % de exportações)
Saldo da Balança Comercial
Fonte: Santander Trade

Gráfico 2: Balança comercial em % do PIB Fontes de Dados:


Eurostat | BCE | Entidades Nacionais Eurostat | Institutos
Nacionais de Estatística - Contas Nacionais Anuais
Fonte: PORDATA Última atualização: 2020-09-11
Acedido a: 26/12/2020

O comércio Internacional é das vertentes mais importantes a ter em conta nas negociações. Com
o Brexit, a saída eminente da CEE, do mercado comum (que permitiu que investidores estrangeiros
utilizassem o Reino Unido como plataforma de exportação para servir os mercados da União
Europeia), bem como a não atuação do reconhecimento mútuo, será inevitável a perda de parceiros
comerciais do Reino Unido, muitos destes parceiros sendo países membros da União Europeia.
Tendo em conta a Tabela 1, comparativamente a 2016 (ano em que se anunciou em referendo
o Brexit), em 2019, o Reino Unido diminuiu as exportações para a Alemanha, Suíça, Bélgica, Itália e
Espanha. No entanto, verificam-se um aumento das exportações para os Estados Unidos da
América, França, Holanda, Irlanda e para a China.
Devido às alterações das políticas alfandegárias, os custos comerciais serão maiores, a atuação
de empresas comerciais, sediadas no espaço europeu, no Reino Unido será menor, ou seja, a
procura deste parceiro comercial vai reduzir.
A partir da análise do gráfico 2, constata-se que tanto as exportações como as importações
aumentaram desde 2015, destacando-se um aumento significativo nas exportações entre 2016 e
2017 com 1,9 pontos percentuais de diferença, também pode ter sido devido à desvalorização da
moeda após o referendo, aumentando, assim, as exportações.

A balança comercial do Reino Unido é negativa (deficit), o que significa que há um maior
número de importações do que exportações. Em 2019, as importações do Reino Unido
correspondem a 32,7% do PIB e as exportações a 31,5% do PIB, apresentando um défice comercial
de 1,2% do PIB, dos défices mais baixos desde 2015.

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Um dos grandes motivos para a saída do Reino Unido da União Europeia foi a possibilidade de
estabelecer novos acordos comerciais com outros países.
De facto, o Reino Unido já estabeleceu um Acordo de Parceria Económica Abrangente com o
Japão, assinado pela secretária de Comércio Internacional, Liz Truss, e pelo Ministro das Relações
Exteriores do Japão Motegi Toshimitsu, a 23 de outubro de 2020, sendo o seu primeiro acordo como
nação independente.
O acordo reúne duas das nações mais avançadas tecnologicamente, colocando, assim, o Reino
Unido na frente de formação de novos padrões globais no comércio digital. O aumento estimado
para o comércio entre o Japão é de mais de 15 biliões de libras, com benefícios económicos de longo
prazo que são imprescindíveis para remodelar a economia do Reino Unido.
O acordo também inclui um compromisso de o Japão apoiar a adesão do Reino Unido à “Trans-
Pacific-Partnership” (TPP), que se carateriza como sendo uma das maiores áreas de comércio livre,
cobrindo 13% da economia global e 110 biliões de libras do comércio em 2019. O que irá não só
fortalecer os laços comerciais entre o Reino Unido e os 11 países do pacifico como também
possibilitar a definição de novos padrões para o comércio global, segundo o governo britânico.
Segundo Elizabeth Truss (fevereiro,2020), o objetivo do Reino Unido é garantir acordos de livre
comércio com países que cobrem 80% do comércio do Reino Unido nos próximos três anos, sendo
uma das grandes prioridades aprofundar as relações comerciais e de investimento com ideias
semelhantes, começando com os EUA, Japão, Austrália e Nova Zelândia.

A diminuição do comércio devido à redução da integração com os países da União Europeia custará
muito mais ao Reino Unido do que o que se ganharia com a redução das contribuições para o
orçamento da União Europeia.
Segundo estudos de Swati Dhingra, Gianmarco Ottaviano, Thomas Sampson and John Van Reenen,
mesmo não incluindo o investimento estrangeiro, a migração e as consequências dinâmicas da
redução do comércio, estimam-se que os efeitos do Brexit sobre o comércio e a contribuição do
Reino Unido para o Orçamento da UE seria equivalente a uma queda do Rendimento entre 1,3% e
2,6% (£850 a £1.700 por família por ano). E quando incluídos os efeitos de longo prazo do Brexit na
produtividade, o declínio do rendimento aumenta para 6,3% e 9,5% (cerca de £4.200 a £6.400 por
família por ano).
4. População

Taxa de desemprego, em % Gráfico 3: Taxa de desemprego, dos 15


aos 74 anos
6 5,3
4,8 Fontes de Dados: Eurostat | Institutos
5 4,3 Nacionais de Estatística - Inquérito ao
4
3,7 Emprego
4
Fonte: PORDATA Última atualização:
3
2020-04-23
2 Acedido a 26/12/2020
1
0
2015 2016 2017 2018 2019

Taxa de desemprego

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A partir da análise do gráfico constata-se que nos últimos anos tem ocorrido uma diminuição
da taxa de desemprego do Reino Unido, apresentando em 2019, uma das taxas de desemprego mais
baixas dos últimos anos fixada nos 3,7%.
No entanto, alguns economistas sugerem que devido à incerteza relacionada com o Brexit e à
desaceleração global, as empresas estão a contratar trabalhadores, que podem ser demitidos
posteriormente, o designado contrato a prazo que confere flexibilidade ao mercado de trabalho,
em vez de fazerem investimentos de longo prazo.

Fluxos migratórios internacionais


1000000
631452 588993 644209 603953
500000 299183 340440 359665 344347

0
2015 2016 2017 2018

Imigração Emigração

Gráfico 4: Fluxos migratórios internacionais Fluxos migratórios internacionais


Fontes de Dados: Eurostat | NU | OIT | Entidades Nacionais - Questionário Conjunto sobre Dados Anuais de Migrações
Fonte: PORDATA Última atualização: 2020-03-05. Acedido a: 26/12/2020

Um dos grandes objetivos do Reino Unido com a saída da União Europeia era a redução do
número de imigrantes e a recuperação da sua soberania ao controlar as suas fronteiras e gerir o seu
capital de forma independente, uma vez que o seu grande medo era que a população crescesse
demasiado, criando a falta de postos de trabalho e uma maior taxa de desemprego no país.
Contudo, o que irá acontecer na realidade, segundo pesquisas, é que esta desconexão entre
União Europeia e Reino Unido resultará em consequências contrárias aos motivos do Brexit: a
descida do movimento migratório para o Reino Unido acabará por provocar uma descida da
população ativa, havendo, portanto, vagas de emprego a não serem ocupadas que, por sua vez,
resultará numa queda da produtividade do país, variando negativamente o seu Produto Interno
Bruto (PIB).
Acrescenta-se ainda que, esta difícil deslocação de pessoas derivado de um maior controlo das
fronteiras, encontra-se associada ao aumento de custos para o país (estas condicionantes de
controlo de fronteiras já eram sentidas antes do Brexit devido à não assinatura do tratado de
Schengen, mas só agravam com a saída da União Europeia).

No entanto, após a assinatura do referendo (23 de junho de 2016), o que se verifica a partir do
gráfico 4 apresentado é que o número de imigrantes e emigrantes aumenta relativamente a 2016 e
diminui significativamente em 2018, constatando-se uma redução de 40 256 imigrantes
relativamente a 2017.
De acordo com o governo britânico, a partir de 1 de janeiro de 2021, os cidadãos da UE e dos
outros países serão tratados de igual forma, reduzirão os níveis gerais de migração e darão

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prioridade àqueles com mais habilidades e talentos: engenheiros, cientistas, acadêmicos e outros
trabalhadores altamente qualificados.

5. Investimento
Balança financeira: investimento directo Gráfico 5:
(Euro - milhões) Balança financeira:
investimento direto
Investimento do país no exterior Investimento do exterior no país Saldo (Euro), em milhões
de euros
400000
300000 Fontes de Dados:
200000 Eurostat | BCE |
100000
0 Entidades Nacionais
-100000 Fonte: PORDATA
-200000
-300000 Última atualização:
2015 2016 2017 2018 2019
2020-04-22
Investimento do país no Acedido a:
-53684 29067 121371 48564 -22
exterior
26/12/2020
Investimento do exterior no
40268 295052 107436 69012 24167
país
Saldo -93952 -265985 13935 -20447 -24189

O Reino Unido é bem sucedido no que respeita à atração de investimento direto estrangeiro,
este não só contribui para a difusão de práticas de gestão de fronteiras, como também aumenta a
concorrência e fortalece a inovação tecnológica de forma resiliente.
Em 2016, o investimento externo no país foi de 295 052 milhões de euros, no entanto, a partir
desse ano, o investimento externo tem vindo a diminuir, apresentando em 2019 (data mais recente)
apenas 24 167 milhões de euros de investimento do exterior no país, o que significa que após o
referendo já se denota a queda do investimento estrangeiro no país.

A questão que se coloca é: Como seriam as entradas líquidas de Investimento Estrangeiro Direto
(IED) do Reino Unido se o Reino Unido tivesse optado por não participar no mercado único em 1986?

Gráfico 6: Entradas líquidas de IED do Reino Unido

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Fonte: Campos and Coricelli (2015), onde os autores estimaram os dados com base no Banco Mundial
Nota: IED é medido em US $ nominais. Os fluxos reais de IED para o Reino Unido (linha preta sólida) são comparados a
um contrafatual (linha tracejada) de um "Reino Unido sintético". A linha vertical é quando o Programa para o Mercado
Único da UE é estabelecido.

O Reino Unido é um dos principais recetores de investimento estrangeiro na Europa. A partir do


gráfico 6, constata-se que os investimentos líquidos de IED para o Reino Unido foram baixos nos
meados da década de 1990, no entanto, verificam-se dois períodos de grande expansão – um na
segunda metade da década de 1990 e outro antes da crise financeira.

O gráfico 6, apresenta estimativas dos efeitos que o Mercado Único teve em 1986 nas entradas
líquidas de Investimento Estrangeiro Direto (IED) do Reino Unido.
As linhas vermelhas representam estimativas para o que teria sido as entradas líquidas de IED após
1986 se o Reino Unido tivesse optado por não participar no Mercado Único.
Deste modo, verifica-se que o mercado único desempenhou um papel imprescindível na
mobilização de IED de e para o Reino Unido.
É ainda importante destacar que a partir de 2009, tal como mostra o gráfico, o mercado único
deixou de ser tao poderoso e exercer tanta influência.
Deste modo, a integração europeia bem como a adesão ao mercado único impulsionaram os
fluxos internacionais de IED (Investimento Estrangeiro Direto).

Randolpf Bruno, Nauro Campos, Saul Estrin, Meng Tian, descobriram que a adesão à União
Europeia aumentou os fluxos de IED em média de 28%, o que é de esperar que com o Brexit terá
efeitos negativos sobre os fluxos de investimento estrangeiro, com uma redução dos fluxos em cerca
de 22% para o Reino Unido.

3- EFEITOS PARA A EUROPA E PAÍSES -MEMBROS


Sendo o Reino Unido um dos países fundadores da União Europeia, e dada a solidez do espaço
europeu, nunca seria espectável a decisão da sua saída e a assinatura do tratado que se viria a
chamar Brexit.
A saída do Reino Unido da organização europeia levantou uma enorme inquietação e incerteza
relativamente ao relacionamento entre estes dois atuantes, levando a diversas questões no espaço
europeu: Quais as consequências desta saída para a própria União Europeia e para os estados-
membros? Como Portugal será afetado pelo Brexit?
Ao analisar os diversos efeitos desta decisão, irá ser feita uma análise a vertentes como o
comércio (exportações e importações), mercado de trabalho, aspeto bancário e financeiro, entre
outros.

Efeitos do Brexit a nível europeu


Como analisado nos tópicos acima, o Reino Unido não foi, deveras, um país aberto às decisões
europeias, no que consta, como exemplo, no Tratado de Schengen (não assinado pelo Reino Unido).
No entanto, é necessário compreender que a saída deste país fundador causará consequências,
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quer no próprio país, como também nos países membros e própria União Europeia geral. Desta
maneira, qualquer decisão tomada nas negociações entre estas duas entidades irá ser
extremamente marcante para o destino da União Europeia, em diferentes níveis, e dependerá dos
acordos comerciais fixados pós-Brexit.
Mas a que nível poderão ocorrer estas alterações e mudanças?

Aspetos políticos e sociopolíticos


A saída do Reino Unido da comunidade europeia causa um ambiente de instabilidade política,
quer nos territórios da Europa, quer no próprio território britânico. O Brexit levou a uma discussão
na Escócia, no qual a maioria da sua população votou “não” à decisão de sair do espaço europeu.
Esta situação leva a uma separação dos ideais do Reino Unido, ocorrendo, uma grande discussão
política, no qual não é certo se a Escócia decide se juntar aos restantes países e se “liberta” da União
Europeia, ou se decide se tornar independente do Reino Unido e continuar no território europeu
(se o acordo entre Reino Unido e Escócia não for alcançado). Este processo longo de discussão e
negociação acaba por causar instabilidade na União Europeia.
Algo, neste contexto, que também acaba por determinar consequência a nível sociopolítico é a
crise de legitimidade e identidade sentida na União Europeia, derivada da saída deste país-membro.
Ocorrendo um desequilíbrio e enfraquecimento de economias dentro do bloco europeu, é normal
que se tema a saída de mais países e daí se siga uma quebra de todos os projetos e uma decadência
da própria União Europeia no longo prazo. Questões como a seguinte se levantam: “Terá sido a
saída do Reino Unido o começo de uma decadência geral da Comunidade Europeia? Terá sido o
Reino Unido a primeira peça do dominó a cair, levando à queda de todas as outras?”. Todas estas
previsões não são, de todo, certas, e irão ser determinadas pelas decisões e negociações efetuadas
pela União Europeia e Reino Unido.

Aspetos económicos/ socioeconómicos/ financeiros


Como já referido no tópico acima das consequências internas, existem diversos países que terão
em causa o seu comércio com o Reino Unido. Tendo em conta que o comércio é feito
reciprocamente entre estes dois atuantes, vendo se privada a concretização de exportações para o
Reino Unido, é natural que haja uma descida nas trocas entre Estados-membros europeus e o país
britânico. Isto levará a uma redução no Produto Interno Produto, causado pela redução da Balança
comercial dos países. Dada as fortes relações comerciais existentes, é possível determinar que os
países mais afetados pelo Brexit serão a Irlanda (proximidade geográfica), Luxemburgo e Malta.

A nível financeiro, já foi possível sentir algumas alterações relativamente ao pré-Brexit, mais
especificamente no território britânico (como referida anteriormente, a desvalorização da libra em
relação ao euro).
Dentro dos limites da comunidade europeia surge a inquietação relativamente ao setor
financeiro, devido ao facto de Londres ser a capital financeira da União Europeia e, portanto, o
centro de atividades bancárias conduzidas pelos maiores bancos europeus (o Brexit irá afetar “os
serviços bancários de investimento e a compreensão de ativos denominados em euros.”). É de
referir que a capital de Inglaterra é também um importante ponto de entrada de capitais não
europeus. Esta será uma grande perda a nível europeu, dada a importância destes financiamentos.
Sendo que diversos bancos ingleses votaram na permanência do Reino Unido no espaço europeu,
estes criaram, aliás, planos de contingência se o tratado não garantisse a permanência da política
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de Mercado Único. Mas porque Londres era considerada a maior capital de investimento?
Principalmente devido a 3 fatores chave: o fácil acesso a mão de obra, os baixos custos de envio de
mercadoria e ambiente de proteção de propriedade intelectual. Contudo, com o Brexit, o que
poderá acontecer é: devido às alterações no Reino Unido e a não aquisição dos fatores acima
referidos, outro país/capital da UE com as caraterísticas necessárias poderá ocupar o seu local e
obter os financiamentos externos (como, por exemplo, Paris) - Desvio de comércio de capitais
favorável à União Europeia.
Contudo, na visão referente ao financiamento e investimentos efetuados, é possível determinar
que os países europeus mais afetados serão o Chipre, Holanda, Eslováquia e Bélgica.
Esta analogia irá causar um impacto tremendo no território britânico, pelo que as decisões
tratadas no Brexit terão de ser cuidadosas referentemente a este tópico.

Outros Aspetos
1. O inglês continuará a ser a língua oficial?
Devido à sua usualidade e ao facto de ser uma das línguas mais faladas, o Inglês continuará
a ser a língua oficial, utilizada nos parlamentos e nas discussões políticas da UE.
2. Projetos como ERASMUS poderão ser efetuados no Reino Unido?
Dado o Reino Unido estar em processos de separação da União Europeia, e dado o programa
ERASMUS e outros projetos serem projetos europeus de desenvolvimento intelectual e
tecnológico meramente no espaço europeu, está estipulado, neste momento, que o Reino
Unido não terá acesso a estes programas.

3. A prática Turística no Reino Unido será menos acessível?


Depende das negociações efetuadas, mas, em previsão, será mais complicado e menos
prático devido, essencialmente, às limitações acima referidas relativamente ao controlo de
fronteiras e à necessidade de documentos na chegada ao país (o VISA-Free Travel estará
válido no prazo máximo de 90 dias).

Fazendo uma conclusão a este tópico, é essencial que haja uma reformulação da União
Europeia num só, de maneira a restaurar confiança nos restantes países membros e construir uma
maior coesão, evitando que outros membros sigam o exemplo do Reino Unido. Apesar de todos os
dados nos referirem consequências negativas mais presentes no território britânico e uma menor
afetação na economia europeia, é indispensável a negociação saudável entre estes dois atuantes,
criando assim um plano que seja favorável a ambos. O relacionamento entre Reino Unido e Europa
precisa de se manter firme, apesar da sua separação.

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Cenário pessimista Cenário Otimista Máximo de custos fiscais
UE27 29,56 13,49 14
Reino Unido 30,21 12,66 -14

Gráfico 7: Efeitos no Rendimento Bruto e Máximos Custos Fiscais, em mil milhões de euros. Fonte: Felbermayr, Fuest, et
al., 201

Gráfico 8: Perdas do PIB (%)


NOTA: quanto mais claro, maior as perdas
(valor negativo = perdas; valor positivo=ganho)
(Fonte: Bisciari, 2019)

Consequências do Brexit no território português


Tendo em avaliação as consequências referidas acima, analisaremos as mesmas numa vertente
mais centrada na economia portuguesa e o quão e em quais matérias este será afetado.
Não são muito elevadas as consequências presentes no nosso país relativamente ao processo do
Brexit, pelo que a maior parte destas são referentes a particularidades como:
• Aumento das responsabilidades para com a União Europeia (maiores contribuições
económicas causadas pela perda de um grande motor económico da Europa);
• Fixação de população emigrante no Reino Unido ( o Brexit poderá levar a que os
trabalhadores que se encontram no Reino Unido fixem a sua localidade em território inglês,
devido principalmente ao seu posto e condições de trabalho e à sua vida construída neste
país; não se acredita que grande número desta população ativa retorne a Portugal para
trabalhar e construir vida); (em 2019, o Reino Unido foi o 3º país com maior remessa de
emigrantes portugueses (cerca de 359,6 milhões) (dados do INE; fonte PORDATA)
• Complicações na área turística (sendo necessário o passaporte e existindo complicações e
custos associados à deslocação de habitantes ingleses para Portugal, a procura para o nosso
país poderá reduzir. Esta mesma situação foi muito referida devido à importância da Zona
Algarvia para o motor económico português, e sendo esta zona muito procurada por turistas
britânicos, principalmente na altura balnear).

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• As exportações para o Reino Unido irão diminuir (devido aos custos alfandegários e à
ausência da política de mercado comum, o comércio de bens, como o muito conhecido Vinho
do Porto, será mais complicado);
• As relações políticas entre os 2 países poderão ser afetadas (visto já não estarem presentes
no mesmo projeto europeu).

Contudo, observando uma visão pessimista do processo do Brexit, as consequências a nível


económico, como a redução do PIB, não serão muito sentidas.

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CONCLUSÃO
Desde o anúncio do Brexit que a União Europeia tem vivido períodos de grande incerteza,
contudo, as consequências económicas do Brexit irão depender das políticas implementadas pelo
Reino Unido após a sua saída da União Europeia.
Algumas já são conhecidas, como por exemplo a perda gradual e durante cinco anos de vinte e
cinco por cento das quotas de pesca dos pescadores europeus em águas britânicas, ficando
estipulado que após esse período, as possibilidades de captura vão ser negociadas ano a ano; o
desenvolvimento de acordos bilaterais ou multilaterais entre os países da União Europeia e o Reino
Unido em áreas que não estejam abrangidas - ou o estejam apenas em certas questões- pelos
acordos já assinados; o transporte de pessoas e mercadorias por terra, mar e ar poderá ser feito,
mas com alterações (por exemplo: o transporte aéreo de pessoas é possível a uma companhia aérea
britânica voar de um ponto do Reino Unido até um país da União Europeia, mas já não poderá fazer
escala num Estado-membro e viajar para outro e só depois regressar a um aeroporto do país de
origem); por fim, o Reino Unido saiu da maioria dos programas europeus (exemplo: Erasmus), mas
pretende manter uma certa cooperação com outras áreas (exemplo, o Programa de Inovação e
Investigação em Ciência), de facto, é possível que Estados terceiros participem em programas da
União Europeia desde que contribuam para o financiamento desse programa.
O Reino Unido teve um peso enorme na construção e fortalecimento da Europa que
conhecemos hoje, mas podia ter sido mais cooperativo ao projeto europeu e, dado o seu poder na
posição que ocupava na Europa, podia ter marcado a sua presença e influência em diversos
acontecimentos importantes da União Europeia, como é o caso do Espaço Schengen – um
acontecimento que uniu mais a Europa, a tornou mais coesa e aberta e do qual o Reino Unido
escolheu não fazer parte. Assim, concluímos acerca da tal inflexibilidade do país britânico que
constituiu o tema deste trabalho: foi de facto um dos países que mais fez pela Europa, pelos diversos
contactos com países de todo o mundo (exemplo: países da CommonWealth), pelos mercados que
abriu caminho à Europa e pelo capital, pessoas, crescimento e ajudas que trouxe à comunidade
europeia, mas, que de facto, careceu de maior flexibilidade dos seus interesses em prol do interesse
europeu, de maior espírito de cooperativismo e de maior comprometimento ao projeto europeu.
No início deste trabalho, partimos com duas ideias principais distintas: a ideia de que a curto
prazo o Reino Unido iria beneficiar muito mais da sua saída do que a União Europeia (que sofreria
quedas e dificuldades), mas que no longo-prazo o espaço europeu iria se fortalecer os seus projetos
de forma mais eficaz e que o Reino Unido sairia mais afetado. Por outro lado, existia o pensamento
pessimista de que o país britânico foi a primeira “peça do dominó europeu” a cair.
Ao realizar a nossa investigação e ao coletar dados relacionados com esta temática, concluímos
em consenso que, nesta fase prematura do acordo europeu com a Grã-Bretanha, de facto virão
ocorrer diversas variações devido às políticas precárias do pós-Brexit. A adaptabilidade no longo-
prazo é ainda um tópico sensível de previsão estando este dependente do relacionamento entre a
União Europeia e Reino Unido e de possíveis estratégias de recuperação económica e política dentro
do espaço europeu e britânico. A verdade é que, de momento, já se denotam impactos prejudiciais
– a Suécia que, nos últimos dias, tem vindo relatar aos media a sua graduável preocupação para
com a sua economia, que se caracteriza por uma forte dependência das exportações inglesas, e a
Escócia, cuja vontade era de permanência na Europa, mas que viu essa vontade descartada devido
ao voto inglês, tem estimulado discussões internas políticas e alguma tensão para com a Inglaterra,
sobre um referendo que ditaria a independência ou não dos escoceses do espaço britânico.

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ANEXO 1

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