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PROVA 2002: Expectativa de formação da primeira "megalópolis" brasileira não se confirmou.

Esclareça os
motivos que levaram a frustração das previsões feitas em 70.

Bases: Deseconomia de aglomeração, Crise do desenvolvimentismo, cidades médias, desconcentração,


diminuição natalidade
PROVA 2002: Das "três províncias demográficas", segundo La Blache (China, Índia e Europa). 1 se
caracterizou pela mobilidade e as outras duas ficaram atadas ao solo. Justifique relacionando fatores
ambientais e históricos.

Bases: Geografia: Terras férteis + Rios (China e Índia) vs Fragmentação Europa. Isolacionismo e centralização
Chinês e Indiano. Competição europeia (Mercantilismo)
PROVA 2005: Na Amazônia brasileira, chama a atenção o elevado índice de população “urbana” presente na
região. Como se pode explicar tal fenômeno?

Segundo Bertha Becker, analisando geopoliticamente a Amazônia na atualidade, a floresta amazônica pode ser
considerada uma “floresta urbanizada”, uma vez que cerca de 61% da população da região amazônica vive em
cidades. As causas deste elevado índice de população urbana são diversas.

Em primeiro lugar, atente-se para a estrutura fundiária da região amazônica. Essa estrutura apresenta-se
bastante concentrada, o que acaba por “expulsar” para as cidades os migrantes e as populações ribeirinhas que
vivem da agricultura familiar de subsistência. Uma das causas da concentração fundiária na Amazônia é o fato
de a agricultura da região ser cada vez mais mecanizada, por exemplo em relação à soja e à exploração de
madeira. Estas duas atividades, bem como a pecuária, estão provocando o deslocamento da população
amazônica para a parte norte da região. Não por acaso as regiões Sul e Nordeste da Amazônia correspondem
ao chamado “Arco do Desflorestamento”, que compreende os estados de Rondônia, Mato Grosso, Tocantins
(parte oriental), sul do Pará e parte ocidental do Maranhão.

Em segundo lugar, como decorrência da estrutura fundiária concentrada, estão as intensas disputas por terras
na região amazônica, que fizeram como vítima a missionária americana Doroty Stang recentemente.
Fazendeiros, grileiros, posseiros e seringueiros ganham espaço e força, em detrimento das populações de
agricultura familiar, aumentando a concentração fundiária e a população urbana.

As terras da Amazônia estão distribuídas da seguinte forma: 22% de terras indígenas, 6% de Unidades de
Conservação (mais que a média nacional de 2%), reservas extrativistas, áreas privadas e ainda quantidade
considerável de terras públicas e devolutas, o que facilita a atuação de posseiros e grileiros e o uso político das
terras. Muitas propriedades que pertenciam aos estados foram tomadas pela União. O estado que mais perdeu
foi o Pará.

Em terceiro lugar estão as iniciativas governamentais (ou a falta delas), que durante anos não atenderam às
demandas da população amazônica por projetos endógenos que levassem em conta as particularidades locais e
a participação efetiva da população. Os projetos governamentais foram, em sua maioria, executados “top-down”,
o que de certo modo ajudou na urbanização da floresta amazônica. Mas essa realidade enfrenta novas
perspectivas em projetos recentes como o PAS, Programa Amazônia Sustentável, que prevê novas formas de
financiamento para a infra-estrutura regional, inclusão social, contando com a participação de quinze ministérios.

A criação da Zona Franca de Manaus na década de 1960 pode ser considerada outro importante fator para a
urbanização da população amazônica, ao atrair mão-de-obra para as indústrias então instaladas na região
manauense ou manauara. Atualmente, entretanto, verifica-se certa perda de hegemonia econômica das cidades
de Manaus e Belém, dando lugar à importância crescente de cidades como Santarém e Marabá.

Devido a todos esses fatores, a região amazônica brasileira enfrenta os dois tipos de exclusão social: a de tipo
antigo, mais característica das regiões Norte e Nordeste, e a de tipo recente, característica das regiões Sul e
Sudeste, onde a urbanização acelerada e desordenada produz desníveis acentuados de renda e aumento
vertiginoso da marginalidade.

Portanto, é preciso que se realize um melhor planejamento da urbanização das cidades amazônicas, evitando o
“inchaço” das mesmas. Outrossim, é preciso atentar para a concentrada estrutura fundiária da região
amazônica, tornando-a mais democrática, incentivando projetos endógenos e de agricultura familiar, bem como
fiscalizar a derrubada da floresta, o chamado “Mercado Verde”, e estabelecer um rigoroso sistema de patentes.
PROVA 2007: Alterando o sentido decrescente de uma curva secular, a população rural européia e norte-
americana começou a registrar crescimento nas últimas décadas, fato já visível também nos indicadores
demográficos brasileiros. Identifique e comente os fatores explicativos desse movimento, discutindo os limites de
tal tendência em cada contexto geográfico mencionado.

A população rural européia e norte-americana tem registrado crescimento, nas últimas décadas, em decorrência
de três fatores que definem tendências no mundo desenvolvido: a suburbanização, a flexibilização das relações
trabalhistas e o advento de tecnologias da informação que permitem o trabalho à distância. Estas
transformações se inserem no quadro da chamada “quaternização” da economia, caracterizada pelo advento e
pela preponderância de atividades do setor de serviços, como altas finanças, tecnologia da informação,
consultorias, serviços de saúde, turismo, entre outros. Percebe-se, desta feita, que a população rural que vem
crescendo nos países desenvolvidos não é agrícola – concentra as suas atividades no quaternário, não no setor
primário.

As tecnologias da informação e a flexibilização do trabalho, com a adoção de novos arranjos produtivos – como
o just-in-time – e o pagamento do empregado por serviço prestado, criaram a figura do trabalhador doméstico:
aquele que executa as tarefas requeridas de casa e comunica-se com o escritório por meios eletrônicos. Como
resultado da facilidade de o profissional trabalhar em casa, houve reforço a outra tendência: a suburbanização.

A suburbanização diferencia-se da periferização (mais comum em países subdesenvolvidos) por se tratar de


movimento da classe média em direção ao campo, geralmente motivada por preocupações com segurança e
com o contato com a natureza. O processo de suburbanização leva à criação de condomínios fechados,
espaços sem relações com seus entornos. Trata-se, portanto, de reforços às verticalidades em oposição às
horizontalidades

Recentemente, uma tendência nova tem sido verificada: a de “commuters” (residentes nos subúrbios) voltarem
para os centros urbanos, principalmente às áreas históricas. Isto vem ocasionando a valorização e a
revitalização dessas áreas, bem como a expulsão da população pobre para regiões menos valorizadas
(periferização).

No Brasil, os fenômenos da suburbanização e do crescimento da população rural nãoagrícola também podem


ser observados. Em todo o interior do Estado de São Paulo crescem as atividades destinadas à população
urbana, como hotéis-fazenda, pousadas, feiras e exposições, parques de diversão e empreendimentos
turísticos. Verifica-se facilmente o parcelamento de propriedades rurais para a constituição de condomínios
fechados e loteamentos para casas de veraneio.

Um caso exemplar de espaço verticalizado são os condomínios fechados Alphaville, presentes hoje em várias
capitais: São Paulo, Salvador, Goiânia e Recife. Este empreendimento cria um ambiente em que o residente não
convive com a pobreza: todo o comércio, o atendimento médico e, em alguns casos, até o trabalho é feito dentro
da área do condomínio

A suburbanização, no Brasil, ainda é um fenômeno limitado, em decorrência do tamanho menor da classe média
brasileira em comparação com a de países ricos. Entretanto, os altos índices de violência nos centros urbanos
do Brasil têm reforçado esta tendência. É um fato a se lamentar, pois, de acordo com o geógrafo e filósofo
francês Henri Lefebvre, os espaços fechados – com suas faltas de interação democrática entre pessoas e
classes – representam o “fim da cidade”.
PROVA 2009: Em 2007, o IBGE elaborou estudo acerca das regiões de influência das cidades, em que se
configurou uma hierarquia formada por uma grande metrópole nacional e centros metropolitanos secundários.
Descreva o processo econômico-social que tem condicionado a evolução da rede urbana brasileira.

O processo de urbanização brasileiro, devido à especificidade de formação de uma Região Concentrada, tem
que ser dividido, pois diferentes partes do território sofrem processos diversos. Dessa forma, na Região
Concentrada, nota-se a formação de uma Grande Metrópole Nacional, São Paulo, duas metrópoles nacionais,
Rio de Janeiro e Brasília, e, de forma geral, uma tendência à desmetropolização, com formação de cidades
médias. Fora da Região Concentrada, há duas outras formas de urbanização, a que caracteriza o Centro Oeste
brasileiro e a que acarreta o processo de metropolização no Norte e no Nordeste do país.

A Região Concentrada corresponde à área de desenvolvimento tradicional da indústria, motivada por razões
como proximidade do maior mercado consumidor. Essa industrialização foi capitaneada pela região
metropolitana de São Paulo e do Rio de Janeiro, gerando rápido processo de urbanização e metropolização. No
entanto, recentemente, houve um processo de desconcentração concentrada das indústrias, que, por razões
como incentivos fiscais, terrenos mais baratos, sem distanciamento em demasia do mercado consumidor,
adentraram o interior e passaram para os estados mais diretamente influenciados pelo Sudeste, qual seja, os do
Sul. São exemplos dessa desconcentração concentrada as fábricas automobilísticas da Renault e da Nissan
que optaram por Curitiba, da Fiat em Betim e da Toyota em Indaiatuba, respectivamente no Paraná, em Minas
Gerais e no interior de São Paulo. Essa desconcentração somada a uma opção por maior qualidade de vida
gerou o crescimento de cidades médias na Região Concentrada, que unem benefícios da urbanização, sem as
externalidades negativas das metrópoles.

O crescimento das metrópoles, em especial de São Paulo, que se distanciou das demais, deve-se a
concentração de valor dos serviços e, portanto, ao processo de terceirização. No Rio de Janeiro, a concentração
de valor liga-se aos serviços relacionados ao petróleo, e, em Brasília, aos serviços públicos e aos voltados para
o consumo, com destaque para a homogênea classe de bem-remunerados funcionários públicos que trabalham
no Distrito Federal.

A urbanização do Centro Oeste, por outro lado, explica-se pela expansão da fronteira agrícola sob domínio do
complexo agroindustrial, em que se destacam as indústrias à jusante e os serviços para a agroindústria, como
os financeiros. Nesse sentido, houve um crescimento de cidades médias que concentram esses serviços e
indústrias de processamento, bem como servem de residência para aqueles que trabalham no campo,
caracterizando o meio técnicocientífico-informacional no campo, pois devido aos fluxos de informações permite-
se a separação entre o local de residência e o de trabalho.

No Norte e Nordeste do país, por seu turno, o Estado capitaneou o processo de urbanização dos estados, e as
indústrias surgiram por meio de pólos, como a Zona Franca em Manaus e o pólo petrolífero de Camaçari na
Bahia. Outros incentivos como o Projeto Grande Carajás, os portos de Pecém, no Ceará, e Suape, em
Pernambuco, bem como a refinaria de Abreu e Lima auxiliam a intensificar a importância desses pólos e das
grandes cidades que estão perto deles. Dessa forma, ao contrário da tendência nacional de desmetropolização,
há nessas regiões um processo de metropolização, com destaque para Manaus e Belém, no Norte, e para
Fortaleza, Recife e Salvador, no Nordeste.
PROVA 2011: De acordo com os dados do Censo do IBGE de 2010, a população brasileira está passando por
significativas alterações no que concerne à estrutura etária, consequência do intenso processo de transição
demográfica verificado no país. Identifique o início desse processo e analise suas implicações para o
desenvolvimento econômico-social do Brasil.

A estrutura etária brasileira sofreu inúmeras alterações no decorrer do século passado, refletindo a superação
da transição demográfica. Hoje, o Brasil apresenta uma pirâmide etária que se aproxima do padrão etário dos
países do centro capitalista, embora a população seja considerada jovem. As mudanças observadas impõem
novos desafios à gestão dos bens públicos e suas causas estão fortemente ligadas ao avanço da urbanização.

Tendo em vista o modelo de Warren Thompson, de 1929, pode-se avaliar o avanço do fenômeno demográfico
no Brasil. Esse país sofreu imensas transformações desde o primeiro censo demográfico (1872). Nessa época,
contava com uma população majoritariamente rural e com uma população de mais de 9 milhões de habitantes.
Hoje, 84,4% da população brasileira é urbana e a população total já ultrapassa 190 milhões de pessoas.

Pode-se dizer que, entre 1872 e 1930, o Brasil apresentava altas taxas de natalidade e altas taxas de
mortalidade, com baixo crescimento vegetativo. A população era marcadamente jovem e os incrementos
demográficos ficaram por conta de grande influxo de imigrantes entre 1890 e 1920. Ocorre que o processo de
urbanização ganha novo impulso a partir da década de 1930, observando-se, a partir desse ponto, queda
acentuada da taxa de mortalidade. Dado que o meio urbano oferece melhores condições de alimentação e de
vida, permitindo o incremento da renda familiar, o número de mortes prematuras cai. A taxa de natalidade, por
sua vez, permanece alta durante maior tempo.

O período de transição demográfica (fases 2 e 3 do modelo Warren Thompson) é marcado por queda acentuada
da taxa de mortalidade, seguida por queda tardia da taxa de natalidade. No Brasil, observam-se fortes quedas
da taxa de mortalidade nos anos 1950 e 1960. Tal fenômeno, mais uma vez, pode ser associado ao avanço da
urbanização. Entre 1960 e 1970, o Brasil torna-se um país majoritariamente urbano. Se, no campo, uma prole
extensa significa mais braços para trabalhar na lavoura, na cidade, muitos filhos levam ao aumento acentuado
de custos da família em um meio em que o custo de vida é mais elevado. Soma-se a isso a mudança de hábitos
com a introdução da mulher no mercado de trabalho, principalmente durante o Regime Militar. Com isso, os
casais decidem ter filhos mais tarde e cada vez em número menor. Assim, cai a taxa de fecundidade também.

O estágio de transição demográfica estende-se até o fim do século XX, tendo suas fases mais acentuadas entre
1930 e 1970. O fato de a queda na taxa de natalidade ser mais lenta que a queda da taxa de mortalidade leva
ao fenômeno da “explosão demográfica”. Essa fase pode ser considerada praticamente superada no Brasil. A
taxa de fecundidade contemporânea está em torno de 2,1, muito próxima da taxa de reposição. Alguns
geógrafos chegam a afirmar que o Brasil, a partir de 2010, ingressou na fase 4 do modelo Warren Thompson,
com baixa taxa de natalidade e baixa taxa de mortalidade, mas estando esta ainda abaixo da primeira. Como
consequência, constata-se que a população acima de 60 anos tem crescido muito e crescerá ainda mais nos
próximos anos. Tal realidade impõe a necessidade de criar um sistema previdenciário que seja sustentável no
longo prazo, associado a iniciativas de planos privados de previdência. Não obstante tais preocupações, o Brasil
afigura-se ainda um país relativamente jovem, com a população concentrada entre 20 e 40 anos. Ademais, o
país tem se mostrado aberto ao influxo migratório de países vizinhos. Tais aspectos permitem considerar que o
Brasil possui uma expressiva população economicamente ativa e jovem, o que é elemento de dinamismo
econômico.

Por fim, diga-se que o Brasil enfrenta uma demanda educacional que tende a se expandir pouco no nível básico
e fundamental. Esse contexto é propício para o aprimoramento das redes públicas de ensino básico e
fundamental, historicamente negligenciadas em benefício do ensino superior. Comparado a países como a
França, o Brasil tem maior tempo para pensar os desafios previdenciários futuros e grandes vantagens no
presente.

PROVA 2014: Depois de décadas em declínio, a população rural de alguns países começa a se estabilizar e até
a apresentar leve crescimento. Explique os motivos atribuídos pelos demógrafos a tal comportamento dessa
variável populacional e discorra sobre suas potencialidades nos próximos anos.

Estima-se que, em 2008, mais de 50% da população mundial tornou-se urbana. Tal número agregado, contudo,
dissimula variabilidades complexas na relação de concentração populacional urbano-rural no mundo. Em certas
localidades, diversos fenômenos contribuem para a estabilização do processo de aumento relativo da
concentração populacional no meio rural, mas, em outros, prossegue acelerada urbanização.

Uma das variáveis contemporâneas é o esgotamento do potencial de êxodo rural. Esse fenômeno é claro na
América Latina, a região mais urbanizada do mundo, com mais de 80% da população vivendo em cidades. O
Brasil, cuja urbanização atinge 84,4% da população, tem concentrações urbanas que dependem do meio rural
para seu abastecimento. Essa rede de interdependência urbano-rural cria novos incentivos, estimulados
inclusive pelo Estado, para manter os agricultores em suas terras. São exemplo o PRONAF e o Plano Safra da
Agricultura Familiar. Na França, a Política Agrícola Comum também tem esse efeito estabilizador.

Em segundo lugar, o processo de urbanização foi, tanto em países desenvolvidos quanto em desenvolvimento,
acompanhado pela formação progressiva de deseconomias de aglomeração e de ocupações periferizadas. As
metrópoles, tradicionalmente grandes centros de atração populacional, tiveram seu potencial atrativo reduzido.
Conforme outrora disposto por Ernst Ravenstein na obra “Leis da migração”, questões econômicas são fator
central de atração e de repulsão de população. Na medida em que a especulação imobiliária, a
desconcentração de indústrias, a terciarização precarizada e a favelização avançam, os centros urbanos
tornam-se menos atrativos, a ponto de repelirem contingentes populacionais rumo a cidades médias ou para o
meio rural.

A nova ênfase no meio rural tem grande vinculação com a íntima e crescente vinculação entre meios urbano e
rural no seio da formação de Complexos Agroindustriais. A implementação do meio técnico-científico-
informacional no meio rural, sendo a produção agrícola vinculadas a atividades industriais tipicamente urbanas à
montante - máquinas, equipamentos, insumos - e à jusante - beneficiamento da produção agrícola - gera fator
de atração populacional relevante para o meio rural. Em regiões com CAI desenvolvido, os incentivos
econômicos implicam a estabilização e até mesmo a reversão.

Deve-se citar, ainda, o fato de que a população mundial continua em expansão. Essa dimensão cria crescentes
necessidades nutricionais e bioenergéticas. A demanda por biocombustíveis e o aumento no preço mundial dos
alimentos gera vantagens relativas para o meio rural em comparação com o urbano.

Não se pode, contudo, afastar a causalidade do crescimento demográfico. Nas cidades, devido ao melhor
acesso a meios contraceptivos, à consideração dos altos custos para criar filhos, entre outras, a taxa de
fecundidade média encontra-se abaixo da taxa de reposição. Por trás dessa estatística, há o fato de que, no
meio rural, a taxa é superior a 2,1 filhos por mulher, sendo próxima a 1,5 filho nos centros urbanos. No mundo,
essa tendência implica crescimento vegetativo maior no meio rural que no meio urbano, fato que tem peso
primordial no reequilíbrio das concentrações populacionais relativas.

Insta afirmar que o fenômeno da estabilização é presente, fundamentalmente, em áreas do mundo já


predominantemente urbanizadas, e que a pequena reversão relativa em favor do meio rural é fenômeno
demográfico quase que exclusivo em países desenvolvidos que tenham tradição agrícola, como Suíça e França.
Na África e Ásia, ainda predominantemente rurais, o fenômeno de urbanização segue em larga escala,
agravando redes urbanas macrocefálicas, como Lagos e Cairo.

As tendências para o futuro, assim vinculam-se às especificidades regionais. Na América Latina, o processo já
se encontra em vias de estabilização, e pode haver aumento na população rural, tanto devido ao apoio à
agricultura familiar por governos progressistas da região quanto pela atratividade do paradigma “rurbano”
ensejado pelo CAI. A mesma tendência é possível na Europa e América do Norte, ambos em processo de
renovação da PAC para o período 2014-2019 e da “Farm Bill”. Na África e na Ásia, contudo, o processo de
urbanização de matiz periferizada deve prosseguir. Na África subsaariana, estima-se que a população urbana
dobrará nos próximos 40 anos, e a China mantém seu engajamento na política oficial de realocação de
camponeses em cidades projetadas.

A estabilização da relação populacional rural-urbana deriva de transformações que ensejam a repulsão nas
cidades e a atração no meio rural. Não é um fenômeno homogêneo no mundo, contudo. O mundo prosseguirá
predominantemente urbano, muito devido ao fato de que a fronteira entre urbano e rural, cada vez mais, se
desfaz.
PROVA 2015: • cidades de fronteira e seu papel estratégico nas políticas de integração sul-americana; •
funções, oportunidades e possibilidades no desenvolvimento das cidades/aglomerações transfronteiriças; •
papel das infraestruturas de transporte na condição de centralidade das cidades de fronteira.

Recente estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mapeou os arranjos populacionais
brasileiros, aglomerações que foram definidas com base em dois critérios, quais sejam: a ocorrência de
conurbação entre as cidades ou um fluxo pendular de dez mil pessoas por dia entre elas. Entre esses arranjos,
podem-se destacar as aglomerações transfronteiriças, cujo papel na hierarquia urbana nacional se pode avaliar
pela sua importância para que o espaço brasileiro se conecte não apenas com os vizinhos sul-americanos, mas
também com outros países.

Na rede sul-americana, destacam-se as cidades de fronteira. Antes do rodoviarismo promovido pelo governo de
Juscelino Kubitschek, sabe-se que era quase inexistente a integração entre os municípios brasileiros, numa
lógica de ilhas econômicas. A existência, nos dias atuais, de fluxos de pessoas, de mercadorias e de serviços
entre cidades brasileiras e cidades dos países vizinhos atesta o quanto se avançou em termos de fluidez do
espaço geográfico brasileiro. Como exemplo de aglomeração transfronteiriça relevante, pode-se citar aquela
formada por Foz do Iguaçu, Puerto Iguazú e Cidade do Leste, no Brasil, na Argentina e no Paraguai,
respectivamente, a chamada região da Tríplice Fronteira.

No começo dos anos 2000, reconhecendo as dificuldades em expandir sua área de influência até a América
Central e o Caribe, o governo brasileiro substituiu, em suas prioridades, a noção de América Latina pela de
América do Sul. De fato, América Central e Caribe ligavam-se, tradicionalmente, aos Estados Unidos, de modo
que era mais fácil, para o Brasil, investir na consolidação de um espaço sul-americano, o que se buscou fazer
por meio da IIRSA, inciativa voltada para a formação de uma infraestrutura regional sul-americana. A partir daí,
o desenvolvimento da infraestrutura de energia e de transportes impulsionaria a integração entre as populações,
processo que se evidencia nas cidades de fronteiras, sobretudo.

Quando se analisa um arranjo transfronteiriço como o formado por Foz do Iguaçu e Puerto Iguazú, fica evidente
o conceito de cidades gêmeas. Trata-se, em linhas gerais, de aglomerações urbanas que, separadas por um
divisor natural, estão indissoluvelmente ligadas, econômica e socialmente, com fluxos dinâmicos entre si.
Exemplo histórico é o das cidades de Buda e Peste, cujo vínculo era tão profundo, que resultou na fusão de
ambas, formando Budapeste. Mesmo quando não se chega a esse ponto, cidades gêmeas dividem
possibilidades e desafios. O desafio evidente, conforme se verifica nas cidades brasileira e argentina, é a
necessidade de combater a criminalidade transfronteiriça, o que exige coordenação entre as respectivas forças
policiais. As oportunidades, porém, também são inquestionáveis, como se percebe com o dinamismo
econômico, caracterizado pelo fluxo não apenas de bens, mas também de mão de obra. Mais do que isso, a
Tríplice Fronteira foi a base de cooperação dos três países com os Estados Unidos, quando, na esteira do 11 de
setembro, o terrorismo determinou a agenda de segurança internacional.

Nas cidades de fronteira, o desenvolvimento da infraestrutura de transportes é fundamental, se se quer que


essas aglomerações sirvam de base para a integração de todo o espaço sul-americano. Sem integrar os
transportes, é impossível fazer que os benefícios da integração nas fronteiras cheguem ao litoral do Atlântico e
ao litoral do Pacífico. Foi essa a razão de a IIRSA ter sido sempre prioritária, e seu êxito é atestado, por
exemplo, pela existência da chamada rodovia do Pacífico, que liga os portos brasileiros aos portos do Pacífico,
como o porto de Antofagasta. No modal hidroviário, pode-se destacar a hidrovia do Tietê-Paraná, a chamada
hidrovia do Mercosul. Trata-se de inciativas que vêm ao encontro do que afirmou Milton Santos, para quem não
basta produzir, sendo necessário pôr em circulação – ou, em outras palavras, a circulação preside a produção.

A integração do Atlântico ao Pacífico, passando pelas cidades de fronteira, ganha ainda mais importância
quando se observa que o Pacífico vai consolidando-se como espaço privilegiado das trocas comerciais
internacionais, e a Ásia, como o continente mais dinâmico em termos de comércio. Geopoliticamente, inclusive,
a união de ambas as costas marítimas da América do Sul atende aos interesses brasileiros, pois o país tem uma
imensa massa continental e um litoral extenso, o que o coloca em posição destacada, seja com base numa
hipótese geoestratégica terrestre, seja com base numa hipótese geoestratégica marítima.

As cidades de fronteira são essenciais ao desenvolvimento da economia brasileira. Considerando-se a


relevância do agronegócio para a geração de saldos em conta corrente e que essa produção, atualmente, se
destaca na região Centro-Oeste do país, não se pode ignorar a importância de tornar mais fluidos os fluxos com
os países vizinhos a essa região. A atualidade dessa preocupação fica evidente quando se observa o interesse
do governo brasileiro em projetos como o da ferrovia cortando a região, a desenvolver-se com a participação de
capital chinês. O objetivo, destaque-se, é chegar ao Pacífico.

As aglomerações transfronteiriças são os centros a partir dos quais se tem viabilizado a integração sul-
americana, seja a integração dos mercados, seja a dos transportes, seja a da produção energética. Mais do que
importância econômica, essas aglomerações têm importância social e política. Não é outra a razão de a Tríplice
Fronteira, por exemplo, estar indissoluvelmente associada ao Mercosul. Não se trata de comércio e de Itaipu
apenas, mas da consolidação de uma verdadeira identidade mercosulina.
PROVA 2016: 1 Mencione e discuta as principais transformações da urbanização em escala global. 2 Discorra
a respeito do impacto da urbanização sobre o sistema urbano brasileiro. 3 Discorra sobre o impacto dessas
transformações sobre a configuração e organização dos espaços intraurbanos.

A urbanização, contemporaneamente, caracteriza-se como fenômeno de abrangência global. Impulsionado


pelas novas formas de reprodução do capital e pelas necessidades e imperativos impostos pela globalização, o
aumento percentual da quantia da população global vivendo em cidades ocasiona impactos e novas dinâmicas a
nível global, regional e local, impactando não somente a vida cotidiana de cidadãos, mas também impactando
de modo relevante os sistemas socioeconômicos vigentes.

Os geógrafos Roberto Lobato Correa, em O Espaço Urbano, e Rogério Haesbaert, em Globalização e


fragmentação no mundo contemporâneo, consideram o atual impeto urbano do mundo como decorrência
histórica do desenvolvimento e expansão do sistema capitalista em âmbito global. De maneira sintética,
argumentamos acadêmicos que a urbanização ocorrida nos países centrais adveio dos processos
socioeconômicos desencadeados pela 1ª e 2ª revoluções industriais, ocorridas no final do século XVIII e a partir
da década de 1840, aproximadamente. Esse fenômeno mundial, ainda que localizado, teria culminado na
divisão internacional clássica do trabalho, que pressupunha áreas periféricas como fornecedoras de matéria
primas e produtos primários. De maneira análoga, todavia, sustentam ambos os geógrafos que a relativa
superação do paradigma fordista, com o posterior advento da flexibilização produtiva do capital (“Toyotismo just
in time”), na 2ª metade do século XX, contribuiu sobremaneira para o advento de uma nova divisão internacional
do trabalho que, explorando menores passivos trabalhistas e ambientais nos países periféricos, impulsionou a
alocação de cadeias produtivas no “sul global”, imiscuindo-se e potencializand processos urbanos pelos quais
essas nações já passavam.

Confirmando essa tendência de aceleração da urbanização em Estados periféricos ao longo do século XX,
documento publicado pelas agências funcionais da ONU (Organização das Nações Unidas) entitulado World
Population Prospect confirma que, pela primeira vez na história, a humanidade mostra-se predominantemente
urbana. No entando, conforme demonstra o professor Milton Santos, ao tratdo do tema em A urbanização
brasileira, o processo de desenvolvimento das cidades mostra-se extremamente iníquo e desigual entre as
nações ricas e as em desenvolvimento. Ao passo que os países do “Norte geopolítico” contaram com um
desenvolvimento contínuo, que pode ser dirigido e cujos problemas puderam ser mitigados, ao longo de dois
séculos, os Estados periféricos, impulsionados pelos requisitos dos mercados globais e dotadas de bases
estruturais voltadas a demandas externas, completaram caminho de urbanização análogo, mas percorrido ao
longo de poucas décadas, ocasionando o desenvolvimento de metrópoles com relevantes desafios e problemas
estruturais e, mais recentemente, levando ao que o próprio professor Milton Santos classificou como uma
“involução metropolitana”.

O exemplo brasileiro ilustra, de maneira consistente, as peculiaridades do processo de urbanização pelo qual
tem passado o munod em desenvolvimento. O primeiro censo brasileiro, imperial, de 1872, indicava que
somente 7% da população brasileira, então, vivia em cidades. Confirmando a aceleração do crescimento das
cidades experimentado ao longo do século XX, é relevante que o 1º censo do IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e de Estatística) que mostra o predomínio da população urbana do país, o censo de 1970, tenha dado
lugar a dados do censo de 2010, que revela, de modo importante, que mais de 84% da população brasileira,
atualmente, resida em cidades. Esse processo, mais do que mera referência numérica, evidencia decorrências
importantes da urbanização no país: ao passo que houve o decréscimo da natalidade (atualmente em 1,9 filhos
por mulher), corolários da vida urbana, a exemplo da diminuição de famílias e da inserção da mulher no
mercado de trabalho acarretaram a desaceleração do crescimento populacional brasileiro (atualmente, em
1,17% ao ano).

Maria Laura da Silveira, assim como Milton Santos, em Brasil: território e sociedade no início do século XXI,
identificam diversas tendências e impactos da urbanização no sistema urbano brasileiro. De maneira específica,
os acadêmicos lançam luz acerca da rapidez com qe o processo se deu e nos problemas e desafios estruturais
ocasionados pelo processo em questão. O aumento da participaçãode atividades terciárias no PIB brasileiro,
assim comoo desenvolvimento de novas metrópoles (como Brasília, Goiânia e Manaus, que não constavam
inicialmente nos estudos do IBGE ednominados “REGIC”). Porém, conforme explicam ambos os autores, o
desorganizado crescimento metropolitano, no Brasil, ocasionou o advento de deseconomias de escalas, que,
cominadas com incentivos fiscais de áreas não tão centrais à economia nacional (a “guerra dos lugares”) e à
implantação do que José Graziano da Silva (A nova dinâmica da Agricultura Brasileira) designou como
Complexo Agroindustrial, levou a relativa “involução metropolitana” e ganho de importância das cidades médias,
a partir dos anos 1980.

Essas novas dinâmicas, entretanto, acarretam mudanças significativas à organização dos espaços intraurbanos
e à vida cotidiana dos habitantes de cidades. David Harvey, em Social Justice and the city, elucida que, por
conta da lógica muitas vezes excludentes da globalização e da reprodução de capital, é cada vez mais comum
que o espaço urbano seja colocado a serviço de interesses corporativos e/ou de grupos internacionais. O
acadêmico menciona, como exemplo, dessa dinâmica, a coexistência, em Londres, na “City’ financeira, assim
como na Costa Oeste dos EUA (o “vale do silício”), entre megacorporações tecnológicas e financeiras com uma
parcela cada vez maior de sem-tetos e demais pessoas em situação de vulnerabilidade. Esse peocesso, no
entanto, repete-se na periferia do capitalismo, na qual, de modo frequente, movimentos sociais e organizações
não governamentais opõem-se a projetos de reestruturação ou de renovação urbanas que, segundo seus
critérios, concentram-se em áreas mais ricas, já integradas ao fluxo financeiro internacional ou priorizam a
valorização de áreas visadas por empreendimentos imobiliários.

A globalização, assim como a urbanização e acontemporânea reprodução do capital interligam-se, nos âmbitos
global, regional e local. O crescimento do número de habitantes de cidades, fenômeno marcante acelerou-se ao
longo do século XX, ocasionando novas dinâmicas complexas e, muitas vezes, contraditórias, refletindo, desse
modo, as características diversas e multifacetadas dos processos que o estimularam.
PROVA 2017: Considerando que o fragmento de texto acima tem caráter unicamente motivador, disserte acerca
do declínio da política do filho único na China. Ao elaborar seu texto, aborde os seguintes aspectos: 1 -
consequências da política do filho único durante o período de vigência da lei que a instituiu; 2 - transformações
na estrutura socioeconômica chinesa que explicam a diminuição do crescimento da população; 3 - atual
dinâmica demográfica na China e seus impactos no território e na economia nacional.

1 A norma, criada nos anos 1970, limitava a maioria das famílias chinesas a ter apenas um filho, apesar de
haver exceções. A política do filho único teria impedido cerca de 400 milhões de nascimentos desde que teve
início, segundo estatísticas do governo chinês. Este número, no entanto, é contestado por outros especialistas.
Em 2007, a China afirmou que apenas 36% de seus cidadãos estavam limitados a apenas um filho, por causa
de diversas mudanças na política feitas com o passar do tempo. Na medida em que a população chinesa se
aproximava de 1 bilhão de pessoas, no final dos anos 1970, o governo começou a se preocupar com o efeito
que isso teria em seus ambiciosos planos de crescimento econômico. Apesar de outros programas de
planejamento familiar – que ajudaram a reduzir a taxa de nascimentos – já terem sido implementados, o líder
chinês Deng Xiaoping decidiu tomar medidas mais drásticas. De um modo geral, o governo oferece incentivos
financeiros e profissionais para os que se adequam à política, além de disponibilizar contraceptivos e multar
quem descumpre as regras. Mas, em alguns momentos, medidas coercivas, como abortos forçados e
esterilizações em massa, também foram usadas. A política foi implementada de maneira mais rígida em áreas
urbanas. Ativistas na China e no Ocidente afirmaram que a política era uma séria violação dos direitos humanos
e das liberdades reprodutivas. A preferência tradicional por filhos homens na cultura local combinada à política
do filho único levou ao alto índice de abandono de meninas em orfanatos, a abortos seletivos de acordo com o
sexo do feto e até mesmo casos de infanticídio feminino. Por causa disso, o equilíbrio de gênero do país pende
para o masculino.

2 Mas a China mudou nestes 40 anos e, com ela, mudaram as pessoas que hoje estão em idade reprodutiva.
Por mais que os costumes ainda prevaleçam e o casamento continue sendo valorizado, homens e, sobretudo,
mulheres têm optado pelas suas carreiras profissionais. Temem por sua segurança no mercado de trabalho.
Além disso, ficou caro ter filhos na China, ainda mais para quem já tinha um. Escolas e saúde não são gratuitas
e podem custar muito dependendo da cidade e do tipo de instituição escolhida pelos pais. A manutenção de
crianças pesa no orçamento das famílias, que têm preferido continuar investindo mais e melhor em um único
filho. Dezenas de milhares de filhos da chamada nova classe média vão estudar no exterior, principalmente nos
Estados Unidos, onde vão aprender inglês e se preparar para um mercado de trabalho cada vez mais
competitivo. No ano letivo 2015-2016, 328.547 chineses frequentavam faculdades e universidades americanas
(reconhecidamente caras), um recorde histórico, segundo dados do Instituto de Educação Internacional. Nas
áreas rurais, é comum os pais terem de deixar as suas cidades natais em busca de melhores empregos nos
grandes centros urbanos para proporcionar uma vida melhor aos filhos. Estima-se que o fluxo migratório chegue
a 100 milhões de pessoas. A partir dos anos 80, com a abertura da economia chinesa ao capitalismo e a
crescente participação deste país na economia mundial, a China passou por um processo acelerado de
migração do campo para a cidade. Apesar de ainda ter uma enorme população no campo, o país se urbanizou e
uma crescente classe média se consolidou no país. Com o aumento do padrão de renda no país, a quantidade
de filhos por casal diminuiu ainda mais.

3 A previsão da Academia Chinesa de Ciências Sociais é de que a população chinesa atinja o seu ápice em
2025, com 1,41 bilhão de pessoas, para começar a cair e voltar a 1,3 bilhão em 2050. Para o Partido Comunista,
isso deve ter impacto direto sobre o desenvolvimento do país. E essa teria sido a principal razão para flexibilizar
a política do filho único instituída na década de 1980. Com o envelhecimento da população, aumentará também
a pressão sobre as pessoas que vão precisar trabalhar para sustentar o exército de chineses que estarão
aposentados. O governo pensa em adotar outras reformas capazes de contornar a questão demográfica dos
próximos anos e estimular o aumento da população. Enquanto isso, a mídia chinesa já registra cidades em que
a política das administrações regionais passou a ser a de incentivar os pais a procriarem. A agência estatal
Xinhua afirmou ainda, no ano passado, que vários governos locais tinham recebido a tarefa de criar estímulos
para as mulheres engravidarem. Ao longo do ano passado, várias cidades, inclusive as maiores, adotaram leis
para ampliar, por exemplo, a licença-maternidade. Especialistas alertam que a China será a primeira economia a
envelhecer antes de tornar-se mais rica, principalmente por causa da política do filho único. Até 2050, mais de
um quarto da população terá mais de 65 anos. A taxa de fertilidade do país é uma das mais baixas no mundo e
fica bem abaixo do índice de 2,1 crianças por mulher – necessário para substituir a população a cada geração.
O envelhecimento da população chinesa irá desacelerar a economia, à medida que o número de pessoas em
idade ativa diminui e a proporção entre contribuintes e pensionistas continua a cair. Em 2013, as regras haviam
sido modificadas para permitir que casais tivessem um segundo filho se um dos pais fosse filho único, mas
menos casais do que o governo esperavam aderiram ao novo sistema. Outro relaxamento das regras nos anos
1980 permitiu que famílias da zona rural tivessem outro filho se seu primeiro filho fosse uma menina. Minorias
étnicas chinesas também não eram submetidas à política do filho único. O êxodo rural acelerado faria crescer
ainda mais as cidades, muitas das quais já ultrapassam os cinco milhões de habitantes, aumentariam os
problemas sociais e a poluição atmosférica que já atinge níveis preocupantes. O excesso de força de trabalho
sem qualificação ameaça o equilíbrio social nas cidades", advertia já, há uma década, um diário suíço liberal,
sempre favorável às reformas desta orientação. Embora haja um aumento geral do nível de vida, essas
pressões só vêm a agravar as desigualdades sociais já bem pouco compatíveis com o ideal "socialista", ainda
que seja "socialista de mercado". Segundo dados oficiais, o coeficiente Gini teria aumentado de 0,21, em 1978,
para cerca de 0,45, atualmente. Entre a cidade de Xangai e a província mais pobre de Guizhou no sul do país, a
diferença de renda per capita é de 10 para 1, e entre províncias "ricas" e "pobres" a disparidade geral ultrapassa
a relação de 3 para 1. A região costeira, com cerca de 37% da população, aumentou, entre 1987 e 1994, sua
participação de 51 para 60% na renda nacional, de 60 para 67% na produção industrial e de nada menos que de
60 para 85% nas exportações. Estes aumentos concentraram-se no período entre 1990-94, portanto, nos anos
de rápido aumento dos IED. Houve, de fato, uma ligeira diminuição entre 1987 e 1990, salvo o caso das
exportações, o que se deduz que se acentuaram fortemente os aspectos desequilibrantes do crescimento na
fase mais recente. As diferenças de renda entre os 20% mais ricos e os 20% mais pobres da população foram
estimadas recentemente pelas Nações Unidas a uma relação de 6,5 para 1, semelhantes às de outros países
asiáticos, porém maiores que na Coreia do Sul, na Índia e na Indonésia, ainda que muito inferiores às dos
países latino-americanos. Tais diferenças teriam diminuído no período entre 1978-85 e logo aumentado
significativamente. Os desequilíbrios entre as regiões costeiras e os interiores são semelhantes àqueles
existentes entre a agricultura e a indústria. Alguns observadores pensam que estes desequilíbrios entre as
regiões do Sul costeiro, sede das novas atividades industriais impulsionadas pelas reformas liberais e o pelo
capital estrangeiro, e as do interior, relativamente estagnadas e mais agrícolas, ameaçam seriamente a unidade
nacional. Por isso, no Ocidente supõe-se que essa unidade seja muito frágil. O sinólogo alemão Oskar Weggel
salienta, por outro lado, as diferenças históricas entre ambas macro-regiões, caracterizadas por profundas
distâncias (cultura "amarela" e cultura "azul"), sendo a costeira por tradição muito mais aberta às influências do
exterior e aos intercâmbios comerciais com outros países. Este contexto explica, também, conjuntamente com
outros fatores, o dinamismo de Hong Kong e de Taiwan, hoje imitados pelas regiões vizinhas das "zonas
econômicas especiais" da China meridional. Uma das grandes preocupações chinesas, salientadas também no
testamento de Deng Xiaoping, é o futuro dos grupos étnicos minoritários que representam pouco mais de 5% da
população total, mas que ocupam a metade ocidental do país, em particular Tibet e Xinjiang.

RESPOSTA

Como já ressaltava George Kennan em meados do século XX, a China é um dos “monster countries”, sendo seu
histórico gigantismo demográfico uma das questões definidoras de sua economia, bem como de seu
ordenamento territorial. Após a “grande fome”, que marcou o início da China comunista e que matou milhões de
chineses, a taxa de natalidade do país passou por uma rápida aceleração, o que começou a pressionar a
capacidade do governo de prover a subsistência de sua população. Já entre o final dos anos de 1960 e o início
da década de 1970, a China instaurou a política do “Wan Xi Shao”, que visava a estimular a redução da
população pela via educativa e do planejamento familiar. Não tendo o sucesso esperado, já durante a fase de
Deng Xiao Ping, o país instituiu a política do filho único, ressalvadas exceções, como para províncias com baixa
densidade demográfica e para etnias específicas (os “Hui”, chineses muçulmanos, por exemplo). Essa política,
inegavelmente bem-sucedida em controlar (sem, porém, frear) o crescimento demográfico chinês, gerou,
todavia, transformações na estrutura socioeconômica do país, assim como foi impactada por ela. Ou seja, a
política do filho único e as mudanças econômicas que marcaram as 3 últimas décadas da china passaram por
processo de coconstituição.

Durante a vigência da lei, que foi sendo flexibilizada desde o início do governo de Xi Jinping até se transformar
em uma política de 2 filhos, as principais consequências, das quais derivam as demais consequências, da
política do filho único foram: o desvio de gênero, o envelhecimento populacional, a redução da velocidade do
processo de urbanização e a ampliação da capacidade de planejamento estratégico-econômico do Estado
chin6es. Em relação ao desvio de gênero, como cada família só poderia ter um filho e como, segundo a tradição
cultural chinesa, são os filhos homens que cuidam dos pais na velhice (já que, segundo essa visão tradicional,
as mulheres deveriam permanecer com as famílias de seus maridos), a população chinesa tornou-se uma das
poucas do mundo com maior percentual de homens (aproximadamente 102 homens para 98 mulheres). Deste
processo derivam ainda outras consequências como os assombrosos números de infanticídios femininos e a
busca de noivas estrangeiras em países vizinhos (por vezes, através da força, de sequestros e da “compra”).
Há, também, o envelhecimento populacional, já que a taxa de reposição (2,1 filhos por casal) não é atingida.

Há que perceber, contudo que a política não produziu apenas consequências nefastas. O Estado chinês, após
1949, inicia um processo de rápida industrialização, o que em um país essencialmente agrário, mas que já
contava com aproximadamente 600 milhões de habitantes, era preocupante. O avanço e a modernização
socioeconômica da china, especialmente antes da Era Deng Xiao Ping, não acompanhavam o ritmo de sua
urbanização e, assim, a política do filho único permitiu que o Estado reduzisse a velocidade do processo, já que
menos pessoas nasceriam nas cidades e que menos pessoas deixariam o campo rumo aos centros urbanos.
Outra consequência, ligada a essa ideia de planejamento e ordenamentos territorial-demográfico, foi a
ampliação da capacidade de controle de um Estado que, no contexto das “4 modernizações”, de Deng, iniciava
uma virada econômica para a “hiperindustrialização” e para o “socialismo de mercado”, como escreveu
Kissinger, em On China. A planificação estatal atingiu, na China, o ápice do controle do Estado sobre o
indivíduo.

Mesmo que o objetivo da política do filho único tenha sido esse controle da disparada demográfica, seu efeito foi
mais mitigador (ao menos em suas 2 primeiras décadas), pois a poulação chinesa atingiria, na virada do século
XX para o XXI, a marca de 1 bilhão de habitantes. Nesse sentido, como mencionado, é importante perceber
uma coconstituição entre as “4 modernizações” e a política demográfica, já que, a um só tempo, a China:
industrializou-se, controlou sua urbanização conforme um projeto preestabelecido e foi capaz de prover as
necessidades socioeconômicas de sua população (como saúde, educação e alimentação). Com a imposição de
famílias monofiliais, houve um aumento dos investimentos que cada núcleo familiar poderia fazer em seus
descendentes, o que, junto com as paulatinas flexibilizações do sistema socialista, tendeu a criar uma classe
média considerável que pudesse se educar e operar a evolução industrial do país, que fazia a transição
(décadas de 1990 e 2000) de uma economia de baixíssimo valor agregado para uma centrada na produção de
valor. Com o aumento da classe média chinesa, que hoje, já está próxima de se igualar à população
estadunidense, a China iniciou uma transição para a “4ª fase” do modelo de Thompson, onde a população tem
menos filhos devido a fatores como: maior participação feminina no mercado de trabalho e percepção negativa
dos custos advindos da criação de filhos (esses custos, junto a percepção de que a qualidade de vida depende
de mais dinheiro, influenciam poderosamente a diminuição do crescimento da população.

Além desse crescimento da classe média, cabe ressaltar que a China, embora em ritmo mais lento, não deixou
de se urbanizar. É justamente com a virada urbana, quando as pessoas vivendo em áreas urbanas superam o
número de pessoas vivendo em áreas rurais, que o abandono da política do filho único fez-se tão primordial.
Nesse contexto, junto com a instituição da política de 2 filhos, a China passou a ser mais de 50% urbana, em
2016.

A atual dinâmica demográfica chinesa pode ser sintetizada assim: população prevalentemente urbana,
envelhecida (em função da não reposição de 2,1 filhos por casal), masculina e em processo de passagem para
a classe média. Além disso, há uma considerável emigração de chineses para diversos países, em bsca de
melhores condições. Em termos de impactos territoriais, isso implica um aumento das manchas urbanas em
grandes centros e um paulatino esvaziamento de zonas já com baixa densidade (como as próximas ao deserto
de Gobi). O projeto “One belt, One Road” (Nova Rota da Seda), visa a interligar esses espaços vazios e a
direcionar o fluxo de mão de obra das cidades para os projetos de infraestrutura. Em termos de impactos
econômicos, é notável que, em 2014, pouco antes do abandono total da política do filho único, a China tenha
sofrido sua primeira perda absoluta de população economicamente ativa (- 2,44 milhões). Nesse sentido, a
dinâmica demográfica chinesa impõe impactos não só puramente econômicos, já que a queda da população
economicamente ativa reduz a mão de obra (basilar a uma economia cujo PIB aumenta a taxas
impressionantes) e a urbanização e o aumento da classe média força um aumento dos salários pagos (o que
encarece a produção), mas também previdenciários, já que há um envelhecimento populacional junto com uma
queda de população economicamente ativa, o que pressiona a razão de dependência da economia (população
ativa/população inativa).
PROVA 2017: Na América Latina, particularmente, tem-se observado um processo de transformação territorial
decorrente das novas dinâmicas econômicas, demográficas e urbanas, resultantes das novas lógicas advindas
da reestruturação produtiva tanto na indústria quanto na agricultura. Considerando esse contexto, disserte sobre
os principais processos, dinâmicas e variáveis responsáveis pelas mudanças que vêm ampliando a articulação,
interna e externa, dos países latinos. Em seu texto, aborde: 1 - a redefinição das dinâmicas territoriais
decorrentes dos processos do crescimento demográfico; 2 - a redefinição das novas dinâmicas territoriais:
industrial e agrícola, regional e urbana.

PADRÃO:

1 Aceleração/Desaceleração do crescimento demográfico (taxas de natalidade, fecundidade, mortalidade e


aumento da esperança de vida); heterogeneidade e desigualdade da distribuição demográfica regional na
América Latina. Concentração/desconcentração populacional e expansão espacial das cidades (cidades
dispersas/compactas/periferias). Concentração e expansão territorial: vantagem na construção de espaços
(cidades e regiões) para a produção – reestruturação produtiva da cidade e do campo. Desigualdades regionais
persistentes. Desterritorialização ou deslocalização (ou retorno) das migrações populacionais e das atividades
que ampliam o papel das cidades médias. Reorganização espacial (urbanas e rurais) das atividades de
comércio de bens e de serviços, também relacionados à modernização do setor agropecuário.
2 Atuação dos grandes conglomerados (grupos econômicos e empresas internacionais), que concentram
capital e tecnologia nas metrópoles. Ampliação dos papéis das metrópoles. Dissociação territorial entre o lugar
das decisões e da produção industrial e do agroindustrial. Grupos Econômicos (Mercosul e demais grupos);
crescimento demográfico das cidades médias ligado ao agronegócio (1 e 2). Conectividade (políticas de estado,
IIRSA e outros) e desarticulação na América Latina e nas cidades (tecido urbano); modernização e
diversificação das infraestruturas (de transportes, telecomunicações e tecnologias de telemáticas) difundidas no
território dos países.

RESPOSTA

A América Latina (AL) vem passando por profunda redefinição de suas dinâmicas territoriais, conforme
constatado no livro América Latina: continente em chamas. Esse processo decorre tanto do crescimento
geográfico quanto das transformações industrial e agrícola, regional e urbana. À medida que a globalização
difundiu o meio técnico-científicoinformacional pelo globo, nas últimas décadas do século XX, surgiram novas
relações de trabalho que não mais se enquadram na tradicional divisão centro-periferia gerada pelo fordismo. O
capital tornou-se mais dinâmico e promoveu a industrialização de áreas periféricas do capitalismo, como a AL, o
que redefiniu suas dinâmicas territoriais.

A AL passou por um processo de urbanização que Milton Santos denominou terciária, na medida em que, entre
as décadas de 1960 e 1970, quando houve o auge da urbanização na região, os empregos industriais não foram
capazes de absorver grande parte do contingente populacional advindo do campo, como ocorrera nos países
centrais entre meados do século XIX e começo do XX. Além de ter ocorrido de forma muito mais concentrada no
tempo e no espaço, na AL a urbanização atraiu as pessoas para o setor de serviços de baixa qualificação e
remuneração, muitas vezes informais. Isso gerou a involução metropolitana pois, a despeito de viverem nas
cidades, essas populações reproduziam modos de vida arcaicos.

Essa urbanização, ainda que baseada nos setores inferiores da economia, acelerou a transição demográfica no
continente. Se, em um primeiro momento, há aumento da natalidade devido a melhoria das condições básicas
de vida e dos sistemas sanitário e de saúde; posteriormente, as dinâmicas urbanas transformam as relações
familiares e, à medida que os filhos se tornam um custo crescente – devido à educação, saúde, alimentação –,
diminui a taxa de natalidade. Essa rápida mudança faz que, na atualidade, tenha-se cerca de 1,9 filho por
mulher na AL como um todo, variando entre países que tem taxa de fecundidade ainda mais baixas, como o
Brasil, e outros que a têm mais elevada, como a Bolívia e países do caribe.

Ao longo do século XX, muitos países da AL, como Brasil, Argentina e México, industrializaram-se com incentivo
do Estado, na lógica da industrialização por substituição de importações (ISI), como pregado pela CEPAL. Para
isso, criaram-se subsídios e proteções cambiais. A onda liberalizante da década de 1990, porém, reordenou
parte dessas estruturas produtivas. No México, por exemplo, apesar de décadas de investimentos
governamentais para industrializar o sul do país e reduzir as disparidades regionais, a criação do NAFTA e os
baixos salários e proximidade ao mercado consumidor norteamericano fizeram que muitas das plantas
industriais se transferissem para o Norte do país. Outras iniciativas governamentais foram suficientes, em
alguma medida, para tornarem-se uma espécie de determinismo das condições passadas, em alguns casos de
modo positivo, como a Zona Franca de Manaus que, ainda que com algum incentivo estatal, manteve-se como
importante polo industrial.

Entretanto, o “boom” das commodities, na primeira década do século XXI, sobretudo devido ao forte crescimento
da China (principal parceiro comercial, atualmente, de muitos países da AL), ocorreu certa tendência de
desindustrialização (“doença holandesa”) em favor da produção de minérios, hidrocarbonetos e produtos
agrícolas, notadamente a soja. A agricultura voltou a ganhar peso em muitas das economias regionais,
principalmente na maior delas, o Brasil. Porém, essa é uma agricultura moderna, que acentua a urbanização por
meio das “cidades do campo” (Denise Elias), as quais estão diretamente relacionadas às cadeias do
agronegócio, tanto à jusante quando à montante. Como se percebe, urbanização, industrialização e completo
agroindustrial são fatores fundamentais da contemporânea transformação territorial regional e urbana na AL.

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