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CENTRO UNIVERSITÁRIO CELSO LISBOA

NEUROCIÊNCIA E COGNIÇÃO II

MARCELA MOURA
MARIA MANUELA GUEDES
RAISSA ROCHA
RODRIGO OLIVEIRA
VITOR MANOEL

MEMÓRIA DE CURTO PRAZO

RIO DE JANEIRO
2021
MARCELA MOURA
MARIA MANUELA GUEDES
RAISSA ROCHA
RODRIGO OLIVEIRA
VITOR MANOEL

MEMÓRIA DE CURTO PRAZO

Neurociência e cognição II
Professora: Solange Araújo Lourenço Jorge

RIO DE JANEIRO
2021
Introdução

Nesse projeto iremos analisar a memória de curto prazo, como acontece a


aprendizagem e a retenção da informação temporária na memória trabalho. Vamos
observar também a função da memória trabalho no dia a dia, em qual área do
cérebro ela se localiza, o que pode vir acontecer se ocorrer alguma lesão e os danos
que um funcionamento ruim da memória de curto prazo pode causar.
A memória é considerada um processo de codificação, armazenamento e
recuperação de informação. Na memória de curto prazo a informação fica retida em
um período de 15 a 25 segundos e ela é armazenada de acordo com o seu
significado. Para ser considerada uma memória de curto prazo, é necessário que
antes tenha tido uma memória sensorial, ela é desencadeada por algum estímulo
como visão ou audição. A memória sensorial é considerada uma forma bruta, pois
ela é esquecida de forma quase instantânea mais ou menos no período de 1
segundo. Sendo assim quando ocorre o armazenamento da informação na
memória sensorial ela é chamada de memória de curto prazo. Nessa segunda etapa
é o local onde a informação adquire seu primeiro significado, mas a duração máxima
de retenção da informação ainda é considerada pequena. (Hamilton e Martin, 2007)
Ocorre uma divergência de como é feita essa armazenagem, em qual momento
deixa de ser uma memória sensorial e passa a ser uma memória de curto prazo.
Existe a teoria de que a informação é traduzida antes em modelos gráficos ou em
imagens, mas também é levado em hipótese que a transferência acontece quando
os estímulos sensoriais são convertidos em palavras. (Baddeley e Wilson,1995)
Normalmente a memória de curto prazo é chamada de agrupamento, pois
somente uma quantidade específica de informação consegue ser mantida, acredita-
se que é uma média de 7 itens por informação, um exemplo de agrupamento são
números de telefone ou letras. A memória de curto prazo também é conhecida como
memória de trabalho, onde um aglomerado de armazenamentos de curto tempo
acaba por manipular e ensaiar as informações de maneira ativa. (Baylin et
al,2005a,2005b,Unsworth e Engle,2005,Vandierendonck e Szmalec,2011)
A memória trabalho nos ajuda a manter uma informação forma breve até saber o
que vamos fazer com ela, um exemplo disso é quando se tem uma resposta de um
cálculo e você consegue lembrar dessa informação para passar para próxima etapa.
Então basicamente a memória trabalho está ligada ao raciocínio e a tomada de
decisão.
A questão é que quando utilizamos essa recordação de curto prazo da memória
de trabalho acabamos por não ficar totalmente alerta e isso nos leva a ter menos
percepção ao ambiente. Por isso não é seguro dirigir e falar ao celular, no processo
de utilizar o celular a pessoa terá que pensar e usar a memória trabalho, com isso
ficará menos atento ao externo podendo causar um acidente. (Carey,2004, Beilock e
Carr,2005, Schweizer e Dalgleish,2011)
Podemos perceber a importância da memória de trabalho no processo da
aprendizagem, pois ela tem a capacidade de processar as informações, acompanhar
as instruções e atividades que são fornecidas. Utiliza-se muito essa função quando é
necessário raciocinar cálculos, interpretar textos ou fazer leituras. De acordo com
Robert Feldman no processo de aprendizagem ocorre a alteração de um
comportamento. Essa alteração pode ser de forma permanente e duradoura, a forma
como essa alteração é feita pode ser por treino, exercício ou estudo. (Feldman,2015)
Como a memória de trabalho está muito ligada com a aprendizagem vemos que é
de extrema importância o seu bom funcionamento, principalmente quando nos
referimos a vida acadêmica. Um funcionamento ruim da memória de trabalho, pode
causar grandes problemas para o aluno, um exemplo é a leitura que pode acabar
não se desenvolvendo de forma fluida e com isso o aluno não consegue
compreender de forma satisfatória a atividade.
Segundo Alloway (2009) uma memória de trabalho limitada varia de pessoa para
pessoa e está relacionada diretamente com as habilidades de aprendizagem durante
a infância e habilidades na compreensão da leitura. A memória e a atenção são os
grandes envolvidos quando se fala de aprendizagem.
Baddeley (1986) diz que a memória trabalho é composta por quatro
componentes; executivo central, a alça fonoarticulatória, o esboço viso espacial e o
buffer episódico. Por isso ela é considerada uma parte do sistema cerebral que
mantém de forma temporária as informações necessárias para realizar tarefas
cognitivas um pouco mais elaboradas.
Um estudo feito com crianças que tinham dificuldade de compreensão, identificou
que elas tinham um resultado inferior no teste de memória e de inibição, apontando
que a relação da compreensão da leitura e a memória de trabalho pode depender da
habilidade de inibir informações irrelevantes. Também foi identificado que crianças
com dificuldade de armazenar informação tinham algumas dificuldades em realizar
certas atividades em sala de aula, como começar a fazer uma tarefa e logo esquecer
o era para ser feito, também esquecer palavras e letras quando desenvolvia uma
frase. (Abusamra,2008)
Uma outra pesquisa ( Primi,2002) também foi feita para saber a capacidade de
aprendizagem de crianças com TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e
Hiperatividade) e como atuava a memória de trabalho nelas. Foi visto que de modo
geral crianças TDAH tiveram um menor desempenho na memória de trabalho do
que as outras crianças. Aponta-se que a dificuldade de reter a informação na
memória de trabalho está associada a dificuldade da criança em manter a atenção.
Foi identificado também que as crianças com TDAH tiveram maior dificuldade em
matemática e em aprender novos idiomas, ainda assim as características cognitivas
e de aprendizagem das crianças com TDAH e das que não tem são relativamente
próximas, o que nos mostra que associação da informação pode ser identificada de
forma diferente e sendo assim novos métodos de ensino podem facilitar o processo
de aprendizagem.
Conforme nosso corpo vai envelhecendo a memória trabalho vai apresentando
dificuldades em recuperar certas informações. Um dos fatos disso acontecer além
da genética, ambiente e vivência, é a degeneração dos neurônios que acabam por
afetar o processo de memorização.
Segundo Marcos Pivetta(2003) um estudo identificou que o estudo de
escolaridade em idosos influência o sistema cognitivo, ou seja, quanto menor for o
tempo gasto com estudos maior será o dano na cognição.
Vivemos em uma sociedade em que cada vez mais a expectativa de vida
aumenta e por conta disso está se levando em consideração a qualidade de vida na
terceira idade. A forma como os idosos estão sendo visto mudou muito de uns anos
para cá. Antes a terceira idade não era vista como uma parte muito ativa na
sociedade, mas devido aos avanços da área de saúde podemos buscar cada vez
mais por qualidade de vida no corpo e mente. O objetivo é cada vez mais incluir a
terceira idade como uma parte ativa e por esse motivo produtos acabam sendo
pensado justamente para beneficiar essa geração, dessa forma o setor de
tecnologia começou a se aprimorar nesse quesito. A proposta é produzir jogos que
melhore o sistema cognitivo, uma forma de fazer isso é misturar atividades lúdicas,
coordenadas por um computador onde vão sendo enviadas informações para o
jogador tomar uma decisão. (Lucchese,2009)
Segundo Ramos(2013) além dos novos jogos desenvolvidos para esse perfil, tem
também os jogos de tabuleiros que agora podem ser encontrados no formato digital.
Os jogos para a terceira idade podem ser abordados como uma forma de
complementar o bem-estar e melhorar os processos cognitivos. Santos e
Mendonza(2017) nos informa que os jogos exercitam uma parte cognitiva específica,
tendo como objetivo a manutenção e melhoria da memória.
Os jogos de memória em idosos tem como objetivo evitar problemas na cognição
e além de melhorar essa parte, também é capaz de motivar o idoso a ter mais
autonomia. Estudos mostraram que atualmente os idosos tem se beneficiado
bastante com a junção da tecnologia aliada com os jogos, podendo provocar uma
mudança satisfatória na memória dos idosos. ( Chan,2014)
Um outro estudo desenvolvido por Flack avaliou a eficácia do programa de
computador junto com a memória trabalho. Para isso ele selecionou 90 idosos em
dois grupos ambos usaram um programa, mas um grupo a tarefa mudava a
dificuldade. O tempo para os dois grupos eram de 30 a 40 minutos por dia, cinco
vezes por semana, durante cinco semanas. Os resultados apontaram que o grupo
com maior dificuldade de fases teve uma mudança positiva na memória trabalho.
( Flack,2014)
Como podemos reparar cada vez mais o mercado está lançando produtos e
fazendo pesquisas de como pode aumentar a qualidade de vida dos idosos. Dessa
vez uma empresa de Tablet quis testar os benefícios do uso do Ipad nos idosos.
Para isso foram chamados 54 idosos em idades de 60 até 90 anos, foram divididos
em três grupos, sendo dois grupos controle e um grupo usando o Ipad. Um grupo
realizou tarefas que que não exigia uma nova aprendizagem, o outro teve uma
interação social regular, mas sem aquisição de habilidades ativas e o grupo do Ipad
participou de um programa de 10 semanas e 15 horas por semana aprendendo
novas habilidades. No final foi visto que o grupo do Ipad demonstrou melhorias na
memória episódio na velocidade de processamento se comparado aos outros dois
grupos. A conclusão foi que o grupo do Ipad teve melhoria na cognição e o domínio
de uma nova tecnologia fornecendo mais qualidade de vida para os idosos.
( Chan,2014)
Estudo de Caso
Um senhor de 80 anos não estava mais conseguindo obter o mesmo
desempenho de antes, principalmente na parte da memória. A família reparou que
ele esquecia onde guardava os objetos, já não tinha facilidade em aprender coisas
novas e até mesmo a comunicação já não estava de forma fluida, onde por muitas
vezes ele esquecia as palavras e demorava para entender o que a pessoa estava
falando. Com isso, a família decidiu levá-lo em uma clínica de psicologia
especializada em geriatria chamada Mente e Saúde. Após a anamnese que a
psicóloga fez no senhor, foi identificado que pela idade avançada e o sedentarismo
dele estavam afetando a sua memória, ainda mais porque ele seguia sempre a
mesma rotina o que faz a mente não ser estimulada e passar a trabalhar no modo
automático. Para iniciar o tratamento a psicóloga resolveu fazer jogos dinâmicos
com o senhor duas vezes na semana. Esses jogos eram separados em terça com
jogos de tabuleiro e cartas, como xadrez, uno, dama, dominó, jogo da memória e na
quinta com jogos no computador como The Sims e jogos para procurar pistas como
detetive. O objetivo desses jogos é estimular a memória de curto prazo e a memória
trabalho, melhorando o raciocínio, atenção, melhora nas tarefas do dia-a-dia e aliado
com a tecnologia aumenta a capacidade de concentração para ter que aprender
uma nova habilidade e ajudar na perda do medo e inclusão no mundo virtual. A
família também agendou uma consulta com um médico geriátrico para realizar
exames de sangue, ecocardiograma e uma tomografia da cabeça, com o objetivo de
descartar possíveis doenças em consequência da idade avançada como Alzheimer.
Sendo descartadas as possibilidades de doenças, o médico recomendou para o
senhor fazer natação duas vezes na semana, pois além de ser um exercício de
baixo impacto, movimenta o corpo todo, melhora a oxigenação cerebral e estimula a
cognição sendo de grande auxílio para a memória de curto e longo prazo. O médico
também sugeriu uma mudança na rotina da casa, onde uma vez na semana algum
objeto deveria ser mudado de lugar e também incluir o senhor em algumas tarefas
básicas da casa, como por exemplo lavar a louça.
Com o passar de três meses o senhor relatou para a psicóloga que estava se
sentindo muito mais disposto, a qualidade do seu sono tinha melhorado, ele se
sentia mais atendo em seus afazeres e mais motivado para aprender novas coisas.
Já não sentia mais dificuldade em lembrar onde guardou os objetos e está muito
mais atento aos diálogos e interações sociais. Com a inclusão dele na tecnologia,
perdeu medo de explorar novos objetos e aprendeu a mexer no celular,
consequentemente nos aplicativos, onde pode interagir ainda ainda mais com
familiares e grupos da sua idade.
Podemos concluir que apesar da dificuldade apresentada no início do relato ser
um problema na memória de curto prazo, podemos observar um grande avanço na
vida desse senhor de uma forma geral. Algumas simples modificações na rotina e o
estímulos com jogos fizeram uma grande diferente na qualidade de vida, incluindo a
parte social que muitas vezes acaba por ser esquecida na terceira idade.
Conclusão

Podemos perceber que a memória de curto prazo/ memória trabalho está


conectada com a aprendizagem, onde um funcionamento ruim pode impactar de
forma negativa a vida acadêmica de uma criança, ainda mais se ela estiver no
processo de alfabetização, onde acaba por poder impactar a parte da leitura e
interpretação de texto. Além disso vimos que a memória trabalho também está
ligada ao raciocínio e a tomada de decisão, também está relacionada a diminuição
da atenção ao ambiente externo, pois quando se busca por uma informação não se
consegue manter a atenção total em duas funções.
Com isso nesse trabalho vimos a importância da memória de curto prazo/
memória trabalho em como impacta a aprendizagem em crianças, o processo de
retenção de informação na vida adulta e os problemas que a falta de estímulo pode
causar na terceira idade. Para manter o seu bom funcionamento uma mudança
simples na rotina já pode ajudar.
Bibliografia

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v. 1 n. 1 (2018): Revista da Semana Acadêmica do Curso de Medicina da UFFS - Campus
Chapecó: I Simpósio Urgências e Emergências e II Semana Acadêmica da Medicina da UFFS
(Acesso em 06 Novembro 2021)

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