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Universidade Metodista de São Paulo

Faculdade de Teologia da Igreja Metodista

Fernando Ferreira Rocha

POLÊMICA EM TORNO DA DOUTRINA DA


PREDESTINAÇÃO

São Bernardo do Campo


Novembro de 2015
Sumário

1. A vida de João Calvino........................................................................................................... 2


2. A condição humana ................................................................................................................ 5
3. Redenção e Justificação .......................................................................................................... 6
4. Predestinação ou Eleição Condicional? .................................................................................. 7
Bibliografia ............................................................................................................................... 11
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1. A vida de João Calvino

João Calvino, da segunda geração de reformadores, sendo a primeira com Lutero e


Zwinglio, foi um reformador formado na crise experimental e vivencial, assim como Lutero.
Num contexto regido pelo Cesário Papismo, onde o poder do Imperador e o poder Papal
dominavam e nesse tempo as pessoas não podiam escolher sua confessionalidade, religião,
denominação. Desde Constantino até o século XVI com esses reformadores. Calvino fala muito
pouco de si mesmo.
Nascido em 10 de Julho de 1509, em Nyon na França, João Calvino filho de Gerald
Cauvin logo aos doze anos recebeu benefícios de certos cargos eclesiásticos por desfrutar da
amizade principal família nobre de Hangest. Em agosto de 1523 Calvino ingressou na
Universidade em Paris. Estudou primeiramente no College De La Marche, onde foi instruído
latim por Maturino Cordier, e teve suas bases literárias inspiradas. Prosseguiu para o curso de
artes no semi-monastico College em Montaigu, onde foi educado na filosofia aristotélica e na
logica nominalista, possivelmente pelo teólogo escocês João Major, e graduou-se como mestre
em artes em 1528. Enquanto estudou solidificou amizades com Guilherme Cop Farel, com
quem iniciará uma reforma em genebra a partir de 1536.
Seu pai Geraldo encontrou problemas com o cardeal da catedral de Nyon e resolveu que
seu filho estudaria direito. Em 1529, foi para a universidade de Bourges, a fim de ouvir André
Alciari. Com grande interesse pelo humanismo ele começou a estudar grego com o alemão
Melquior Wolmar. Calvino obteve sua licenciatura em direito, mas a morte de seu pai em 1531
deixou-o livre para decidir o que queria, e ele então continuou seus estudos do grego e iniciou
hebraico no College de France. Nessa época, Calvino trabalhou com afinco em seu primeiro
livro, o Comentário ao Tratado de Sêneca Sobre a Clemencia, publicado em 1532, muito
marcado por um profundo senso dos valores morais. Entretanto, nessa obra Calvino não
demonstrou nenhum interesse pelas questões religiosas da época. Era simplesmente um
humanista entusiasta e profundamente culto.
Em algum momento entre a primeira parte de 1532, época da publicação do seu primeiro
livro, e o início de 1534. Calvino passou por aquilo que mais tarde chamaria de uma “súbita
conversão”. Nessa experiência adquiriu a convicção de que Deus, em sua providencia secreta,
dera uma nova direção a vida de Calvino e estava subjugando e tornando maleável seu coração
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empedernido. Desta forma a religião passou a ocupar o primeiro lugar em seus pensamentos
mesmo ainda participante do círculo humanista em Paris.
Calvino publicou em março de 1536 a Instituição da Religião Cristã, prefaciando-a com
uma carta ao rei francês. Esta carta é uma das principais obras literárias da era da Reforma. É
uma apresentação vigorosa da posição protestante e uma defesa de seus aderentes contra as
calunias do rei. Com ela, seu autor passou a ser o líder do protestantismo francês aos vinte seis
anos de idade.
A Instituição em 1536 já era a apresentação popular mais ordenada e sistemática da
doutrina e da vida cristã que a Reforma produziu. Eram noções básicas para quem aderisse à fé
cristã. Calvino reconheceu a ajuda de Lutero nessa obra. Do reformador alemão ele se
apropriara dos conceitos de justificação pela fé e dos sacramentos como selos das promessas de
Deus. Também extraiu muito de Martin Bucer um teólogo alemão, sobre as ênfases na glória
de Deus como sendo o objeto para o qual todas as coisas são criadas, na predestinação como
doutrina da confiança cristã e nas consequências da eleição divina como um esforço vigoroso
de conformidade com a vontade de Deus. Na perspectiva de Calvino, a predestinação é absoluta,
que não tem fim; Particular, pessoal e dupla, tanto para a salvação como para a perdição.
Para Calvino o conhecimento humano mais elevado é o de Deus e de nós mesmo. A natureza
nos dá conhecimento suficiente por meio do testemunho da consciência. Porém, apenas as
escrituras podem fornecer conhecimento salvífico adequado, que o testemunho do espirito no
coração do leitor crente atesta como a própria voz de Deus. Estes oráculos divinos ensinam que
Deus é bom e a fonte de toda bondade. A obediência à vontade de Deus é o dever primeiro do
ser humano. Quando criado, o homem era bom e capaz de obedecer a Deus, com a queda do
homem isso se perdeu. Por isso, nenhuma obra humana é meritória diante de Deus, e todos os
seres humanos encontram-se em estado de ruina, merecendo somente condenação. Calvino se
coloca entre Lutero e Zwinglio em sua forma de pensar.
Tudo o que Cristo fez é inútil até que se torne posse pessoal do indivíduo. Essa
apropriação é efetuada pelo Espirito Santo que atua criando arrependimento e fé, uma união
entre o crente e Cristo. Essa nova vida de fé é a salvação, mas salvação para a justiça. O fato de
que agora os crentes realizam obras agradáveis a Deus prova de que entraram em união viva
com Cristo. “Não somos justificados sem obras, também não somos justificados por elas.” O
padrão estabelecido diante do Cristão é a lei de Deus, confirma contida nas escrituras, não como
base de sua salvação, mas como expressão daquela vontade de Deus que o cristão, como
individuo já salvo, se esforçará para cumprir. Esta ênfase na lei como o guia da vida cristã faz
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o calvinismo sempre insistir no caráter, ainda que na concepção de Calvino a pessoa seja salva
para o caráter e não pelo caráter. A vida cristã é nutrida, sobretudo, pela oração. Uma vez que
todo o bem provém de Deus, e os pecadores são incapazes de iniciar ou resistir a sua conversão,
conclui-se que a razão por que alguns são salvos e outros não, é a escolha divina – eleição e
condenação. A eleição (predestinação) sempre foi uma doutrina de conforto cristão.
Para a manutenção da vida cristã, três instituições foram divinamente estabelecidas: a
igreja, os sacramentos e o governo civil. A igreja consiste de “todos os eleitos por Deus”.
Calvino reconhecia apenas dois sacramentos – batismo e ceia do Senhor. Na questão da
presença de Cristo, ele se colocava, como Bucer, entre Lutero e Zwinglio – negava qualquer
presença física de Cristo; no entanto, afirmava uma presença real, ainda que espiritual recebida
pela fé. “Cristo, a partir da substancia de sua carne, infunde vida em nossas almas, de fato,
difunde sua própria vida em nós, ainda que a carne real de Cristo não ingresse em nós”.
Calvino dedicou-se ao pastoreio, ao ensino, e a escrever – atividades que preferia - em
Estraburgo. Os perigos da guerra levaram-no a desviar para Genebra e com ardente apelo do
amigo Farel ficou na cidade. Lá atuou com preletor da Bíblia, logo ministro da cidade. Com
influência e poder sobre a cidade, buscou torna-la uma comunidade modelo, afirmando a
independência da igreja. O êxito de Calvino foi logo ameaçado. Calvino a convite de Bucer foi
refugiar-se em Estraburgo. Os três anos que viveu ali foram os mais felizes de sua vida. Ali
pastoreou uma igreja de refugiados franceses e foi preletor de teologia, a cidade lhe concedeu
honrarias e o fez um de seus representantes. Em 1540 casou-se com Idolete de Bure, fiel
companheira por 9 anos, quando faleceu. Também em Estraburgo encontrou tempo para
escrever comentários sobre Romanos, que foi o início de uma serie que o colocou como
principais exegetas reformadores, e sua brilhante replica à Sadoleto, uma defesa magistral dos
princípios protestantes. Seu sistema preparava pessoas fortes, certos de que foram eleitos para
serem colaboradores de Deus na execução da sua vontade, corajosos na luta, exigentes quanto
ao caráter, confiantes de que Deus dera nas escrituras a norma de toda conduta humano correto
e culto apropriado. Essa foi a obra de Calvino, o domínio da mente sobre a mente. João Calvino
morreu em Genebra, em 27 de maio de 1564.
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2. A condição humana

Quase toda a sabedoria humana consiste no conhecimento de Deus e de nos mesmos


segue-se que uma porção significativa da teologia cristã ser devota da antropologia. João
Calvino nos diz que os filósofos ao falarem da condição humana estavam procurando respostas,
com as perguntas erradas eles procuravam entender a que perguntando sobre dignidade e
virtude enquanto Calvino diz que eles deveriam procurar sobre indignidade e depravação. O
grande erro de Adão não foi simplesmente desobedecer a Deus, mas a incredulidade dele no
que Deus havia lhe falado antes o levou a inclinar seus ouvidos a serpente, o levando a ambição,
orgulho e ingratidão, o que nos leva a uma depravação que não atinge a humanidade por
transmissão ou de pai para filho mas sim por ser uma herança ou seja todos os homens depois
de Adão herdaram a corrupção de sua natureza e se tornaram suscetíveis a ira de Deus, o que
as escrituras chamam de “obra da carne”. Isto significa que o pecado original embora seja algo
hereditário e já exista no ventre, a razão para sua transmissão não está no fato da sensualidade
em que somos concebidos e sim por sermos filhos de Adão, além disso o pecado também gera
mais pecado em nos, dividindo a culpa com Adão.
João Calvino também vai dizer que a natureza do ser humano em si é boa, o que é mal
é a corrupção dessa natureza pelo pecado, o pecado corrompeu os dons naturais de Adão e seus
dons sobrenaturais foram perdidos, os dons naturais são a o intelecto e a vontade quanto que os
sobrenaturais são a fé e a integridade. Apesar disso o intelecto do homem não é totalmente
destruído mas ainda sente um desejo pela verdade, mas constantemente tem que lutar contra
vaidade e orgulho, mesmo assim Deus continua a nos abençoar pois todas as coisas são dadivas
do Espirito Santo, e é esse espirito que pode capacitar o homem a ouvir e entender coisas sobre
Deus, existem também a lei natural que nos faz ter algum conhecimento sobre Deus, no texto o
autor Justos L. Gonzales fala que Paulo afirma a existência dessa tal lei, mas que ele por si só
é incapaz de nos levar a conhecer a vontade de Deus e que essa lei é insuficiente para
conhecermos o bem.
Nossa vontade também é corrompida, nos sozinhos não temos vontade própria de
conhecer a Deus pois nossa vontade está presa ao pecado, somos incapazes de se mover para o
bem por nossa própria volição, quando essa vontade começa a se manifestar isso é dado início
a conversão pós só a graça de Deus pode mover o homem a querer conhece-lo por vontade
própria, somente a graça de Deus pode favorecer o homem para estar caminhando a um
conhecimento sobre Deus e sua vontade
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3. Redenção e Justificação

Calvino apresenta inicialmente que a morte de Cristo preenche a satisfação da justiça e


do amor de Deus, resultando, portanto no perdão dos pecados dos homens, pois Cristo torna
possível a salvação para a humanidade. Os benefícios interiores e exteriores da nova realidade
a partir de Cristo só são possíveis através da manifestação do Espirito Santo. Segundo Calvino
a principal obra do Espírito Santo é levar os homens até Cristo. Esta aproximação de Cristo não
se dá por ações humanas, acontece pela fé, que é manifestada como uma dádiva de Deus. O
Espírito Santo torna possível o homem entender todas as promessas que existem em Cristo
revelando na mente e selando no coração. Para Calvino a fé é imperfeita, porque o homem
ainda vive na imperfeição, ele faz parte desse mundo corrompido pelo pecado, porém a
verdadeira fé implica em “um conhecimento firme e certo”, levando este individuo ao
verdadeiro conhecimento do amor de Deus, o que nos induz a entender que a fé é algo que
apenas os crentes verdadeiros e eleitos podem ter.
Calvino agora tratará da Justificação pela fé e em oposição ao pensamento de Lutero,
Calvino não acreditava que Deus encontre algo bom dentro do homem que o possa declarar
justo, sendo assim a justificação em Calvino é a declaração da parte de Deus, que o homem é
justificado não por suas obras e sim pela fé que a ele foi dada e pela justiça de Cristo que o
reveste, fazendo com que mesmo culpado, ele seja encontrado justificado pois está revestido e
é isso que aparece diante de Deus, a justiça de Cristo revestindo a injustiça do homem. Como
Calvino cita: [...]“O papel da fé é o de unir o crente com Cristo, de tal forma que a justiça de
Cristo é imputada ao crente, apesar do pecado”.
A doutrina da justificação foi defendida por Calvino com mais veemência quando ele
sofreu ataques de Osiander, que alegava que a justificação não se tratava de um decreto
arbitrário, o que na verdade acontecia é que a essência de Cristo está presente na humanidade
por isso alguém pode ser justificado por ele. Para Calvino era inconcebível o pensamento da
mistura de substancia e da justificação que descartava o sofrimento de Jesus na cruz, pois se
Deus justifica o homem pela divindade de Cristo, logo ele não precisa morrer para justificar o
homem. A justificação pela fé e a redenção através do sofrimento de Cristo, é tão importante
no ponto de vista de Calvino, que ele vai dizer que sem ela não existe religião.
O homem na justificação não deixa de ser pecador mesmo tendo suas transgressões
cobertas pela justiça de Cristo, através de sua morte. Ele continuará sendo pecador durante toda
a sua vida terrena, no entanto ele manifestará os frutos da justificação. Neste ponto fica evidente
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que Deus é o autor da regeneração no indivíduo e a função da regeneração faz com que aquele
que recebeu a fé, viva em concordância com a justiça e a obediência a Deus, manifestando uma
vida cristã que abunda em boas obras. A regeneração trata-se de um processo progressivo, que
restaura a imagem divina no crente que foi deformada pelo pecado. Um dos pontos restaurados
no homem é a compreensão de que ele não pertence a si mesmo e isso significa autonegação
que reconstrói valores quanto a Deus e ao próximo, porquanto estabelece uma relação de servo
em todas as esferas, ao ponto de carregar a cruz de Cristo. Calvino coloca o carregar a cruz,
como sinal necessário para vida cristã, pois isso significa afastamento do autocontrole da vida
e total aproximação de Deus admitindo as próprias fraquezas. Este entendimento se dá, pois, o
homem não consegue usar a vida presente e seus benefícios sem se afastar de Deus, mesmo que
ele compreenda a vida que está por vir. Tendo em vista a incapacidade de usar e desfrutar das
coisas desse mundo, Calvino propõe quatro regras básicas para o cristão: [...] “primeira, ver o
Cristo em todas as coisas e ser agradecido. Segundo, usar o mundo como se não
necessitássemos dele. Terceiro, tudo o que temos deve ser visto como uma confiança de Deus,
pelo qual nós vamos ser cobrados. Quarto, devemos levar em conta nosso próprio chamado,
isto é, a função em que Deus nos colocou na vida, pois o uso das coisas depende de nossa
função”.
Os pontos aqui abordados e os que seguirão nos levaram a compreender as diferenças
entre o entendimento de Calvino que produz maior ênfase no tipo da vida cristã do que o
discurso de Lutero, gerando grandes diferenças nas tradições luteranas e reformadas.

4. Predestinação ou Eleição Condicional?

“Antes da fundação do mundo, e de acordo com o seu eterno e imutável propósito, de


seu secreto conselho e do bom prazer de sua vontade- movido por sua só livre graça e sem
qualquer outra razão que, na criatura, servisse de condição para movê-lo a agir assim-, Deus
predestinou para a vida Aqueles que escolheram em Cristo para a glória eterna”.
“Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que o amam a Deus,
daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Porquanto aos que de antemão conheceu,
também os predestinou...” (Rm 8.28-29).
Por mais importante que seja a doutrina da predestinação, não é a chave que abre a porta
para o restante da teologia de Calvino. Nem é a sua doutrina a predestinação. A razão para isto
é que a predestinação é, para Calvino, acima de tudo, uma doutrina prática, que reitera a
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justificação pela fé e que, simultaneamente, provê o fundamento para a eclesiologia. Além


disso, a separação da predestinação e da providencia de Deus mostra que Calvino não tentará
provar a predestinação fora da onipotência e onisciência divina. Calvino deixa claro que buscar
qualquer outra explicação sobre a predestinação que não venha de um coração temente a Deus
seria orgulho e impiedade da parte do que o faz, e somente buscar um conhecimento sobre a
predestinação que vá além do que já tem nas escrituras e como se propusesse andar num ermo
intransitável, ou tentar ver na escuridão.
Segundo o Dr. Alderi Souza de Matos, professor de História da Igreja no Centro
Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper (CPAJ), na Universidade Presbiteriana
Mackenzie (UPM) e historiador da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB), Calvino usou a palavra
“predestinação” pela primeira vez na edição de 1539 nas Institutas. Sua doutrina não tem nada
de original: nos pontos essenciais ele não difere de Lutero, Zuínglio ou Bucer, os quais
recorreram todos a Agostinho. A inovação de Calvino consistiu no lugar em que colocou a
doutrina em seu sistema teológico, não em conexão com a doutrina da providência (Livro I),
mas no final do Livro III, que trata da aplicação da obra da redenção. Calvino não começou com
a predestinação e depois foi para a expiação, regeneração, justificação e outras doutrinas. Ele a
introduziu como um problema resultante da pregação do evangelho. Por que, quando o
evangelho é proclamado, alguns respondem e outros não? Nessa diversidade, ele afirmou,
torna-se manifesta a maravilhosa profundidade do juízo de Deus. Trata-se, pois, de uma
preocupação pastoral.
A doutrina de Calvino sobre a predestinação pode ser resumida em três termos: (a)
absoluta: não é condicionada por quaisquer circunstâncias finitas, mas repousa exclusivamente
na vontade imutável de Deus; (b) particular: aplica-se a indivíduos e não a grupos de pessoas;
Cristo não morreu por todos indiscriminadamente, mas somente pelos eleitos; (c) dupla: Deus
em sua misericórdia ordenou alguns indivíduos para a vida eterna e em sua justiça ordenou
outros para a condenação eterna. Calvino cria que essa doutrina era claramente encontrada nas
Escrituras e não queria dizer nada sobre a predestinação que não pudesse ser tomado da Bíblia.
Ele também não permitiu que a doutrina fosse usada como desculpa para não proclamar o
evangelho a todos. De fato, na história da igreja, alguns dos maiores evangelistas e missionários
foram firmes defensores dessa doutrina.1
A Doutrina da predestinação e de fato difícil e perigosa. Nós chamamos de
predestinação o eterno decreto de Deus, pelo qual ele determinou consigo mesmo o que desejou

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George Whitefield, Jonathan Edwards. (http://www.mackenzie.br/historia).
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que cada homem se tornasse assim. O fato de a eleição ser um decreto soberano significa que
ela não depende de nenhuma ação humana, passada, presente ou futura. É uma decisão
independente da parte de Deus. O mesmo é verdade acerca do reprovado. Deus decide
ativamente não lhe conceder o ouvir a palavra, ou faze-lo ouvi-la de tal maneira que seus
corações são endurecidos por ela. De uma forma misteriosa, que ninguém pode perscrutar, ele
é justamente condenado, e em sua condenação a gloria de Deus é servida. O eleito, por outro
lado, pode estar certo de sua salvação. Isto significa que alguém deve confiar em sua própria
fé, e reivindicar que ela assegurará sua salvação. Isto significa que uma pessoa que tem a
verdadeira fé olha para a Escritura, e para Cristo nela, e nele encontra certeza de salvação. Sobre
refutações a essa doutrina, primeiro é que Deus poderia escolher sim alguns para a salvação
mais condenar a outros, essa questão era rejeitada por alguns. Calvino descarta tal possibilidade
como uma noção infantil, eleição não tem significado se não houver reprovação. Segunda
objeção é que Deus seria injusto com aqueles que seriam condenados. Em resposta Calvino
para isso é que a vontade de Deus é o critério da justiça, que esta é a sua própria lei, e que,
portanto, os decretos de Deus são necessariamente justos, não importa o que nós possamos
pensar deles.
A terceira objeção é que Deus então nos criaria para pecar, e então nos puniria por esses
pecados. Para isso não há resposta senão afirmar que a vontade de Deus é incompreensível e
misteriosa conquanto nós saibamos, por meio da revelação, que Deus é justo, que nós pecamos
e que o réprobo será condenado por seus pecados.
“... Segundo o poder de Deus que nos salvou e nos chamou com santa vocação; não
segundo nossas obras, mas conforme sua própria determinação e graça que nos foi dada em
menos Cristo Jesus dos antes dos tempos eternos” (2Tm 1.8,9).
“ninguém pode vir a mim se o pai, que me enviou, não o trouxer” (Jo 6.44).
Assim, em resumo, a doutrina de Calvino da predestinação está baseada ou pelo menos
reivindica estar não em especulação acerca da onipotência e onisciência de Deus, mas sim no
testemunho da Escritura. A predestinação das Escrituras é dupla- isto é, existe a predestinação
para eleição, bem como para a reprovação já citados no corpo do texto acima, vemos com isso
que esta doutrina não está afrente de toda obra teológica de Calvino e sim faz parte de um todo,
com isso vemos que o mau uso desta doutrina causa muitas objeções e discussões sem fim.
Denominamos predestinação o conselho eterno de Deus pelo qual ele determinou o que
desejava fazer com cada ser humano. Porque ele não criou todos em igual condição, mas
ordenou uns para a vida eterna e os demais para a condenação eterna. Assim, conforme a
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finalidade para a qual o homem foi criado, dizemos que foi predestinado para a vida ou para a
morte.
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Bibliografia

GONZÁLEZ, Justo L. Uma História do Pensamento Cristão. São Paulo: Cultura Cristã, 2004,
vol. III, Capítulo VI p. 133-176
WALKER, Williston. História da Igreja Cristã. São Paulo: Aste, 2006 (3ª edição), p. 633-637.
GALASSO, Eduardo Faria. João Calvino e o Calvinismo. São Paulo: Editora Pendão Real,
2013.
COSTA, Hermisten. Pensadores Cristãos: Calvino de A a Z. São Paulo: Editora Vida, 2006.
http://www.mackenzie.br/historia

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