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Rei Édipo, Sófocles

17 de setembro de 2022 14:25

Sófocles

Biografia
• Nasceu perto de Atenas, teve uma vida muito longa;
• Assistiu à guerra contra os persas;
• No ano 480 a.C., quando se celebra a vitoria em Salamina contra aos persas é ele que é
pedido que se encarregue dessa vitória, ou sejam era uma figura relevante;
• A sua grande vitória foi no festival das Grandes Dionísias, em 468, derrota Ésquilo.

Obra
• 130 peças, 7 das quais consideradas espúrias (são-lhe atribuídas mas há motivos para
acreditar que não foram escritas por si);
• Ganha 24 competições dramáticas com trilogias;
• Sete tragédias restantes;
• Fragmento de drama satírico, sobre o roubo de gado de Apolo por Hermes logo que
nasce;
• Tratado em prosa.

Inovações, caraterísticas
• Adiciona um ator aos dois, pintura de cena, coro 12» 15. Trama, diálogos e relação
entre personagens podem ser mais complexas;
• Deixa de escrever trilogias sobre acontecimentos que se relaciona entre si (como fazia
Ésquilo): cada peça tem trama autossuficiente;
• Estatura dos heróis perante ações inevitáveis que têm consequências terríveis;
• Famoso por ironia dramática;
• Tematização de piedade (deuses).

Rei Édipo

Contexto e caraterísticas
• Representada por volta de 427-426;
• Não ganhou, o vencedor foi Fílocles, sobrinho de Ésquilo. A peça que consideramos
mais extraordinária não ganhou no seu ano. Isto mostra que aquilo que era melhor nesta
época não é o que consideramos melhor hoje em dia;
• Há quem considere que nesta obra Sófocles faz referência, subtilmente, à situação da
peste em Atenas, porque Édipo passa todo o livro à procura de um criminoso que é ele
próprio, assim como Péricles ordenou a concentração dentro das muralhas de Atenas
que iniciou a peste da qual ele próprio foi vítima (430-429; Péricles, vítima da peste em
Atenas);
• Problemática do conhecimento/epistemológico: aparência e realidade, e qual é o limite
do conhecimento humano. Na tragédia há uma constante reflexão sobre o que é ser
humano, neste ângulo o protagonista está novamente em situações impossíveis, mas o
tema mais importante é a ignorância e o conhecimento humano, as consequências destes
limites.

História
• Laio e Jocasta tomam conhecimento de um oráculo que lhes transmite que, se tiverem
um filho, este causará a ruína do pai e casará com a mãe. Decidem ter na mesma um
filho, mas pensam puder contornar o oráculo ao expor a criança e atar os seus pés (daí o
nome de Édipo, dos pés inchados). Numa versão, o escravo não conseguiu expor a
criança e deu-a a uns pastores, e noutra diz-se que foi realmente exposto e os pastores o
recolheram e criaram;

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recolheram e criaram;
• Édipo cresce sem saber que não é filho do casal com que cresce, e quando adulto tem
conhecimento do oráculo. A sua solução é fugir o mais possível do "pai e da mãe" para
que o oráculo não se concretize, mas ao decidir-se pela fuga, está a admitir a
possibilidade que o oráculo não se possa concretizar;
• Na sua viagem de fuga, atravessa-se numa encruzilhada com uns estrangeiros, e acaba
por matar um deles, que é o pai verdadeiro, sem o saber. O próprio movimento de fuga
é o que o leva ao cumprimento do oráculo, do mesmo modo que depois de matar o
pai sem o saber continua a viagem e cruza-se com a cidade de Tebas;
• Ao aproximar-se confronta-se com a Esfinge, que andava a destruir a cidade de Tebas
pois matava todos aqueles que não respondessem corretamente ao seu enigma. Édipo é
o primeiro a decifrar o enigma, há duas versões: a Esfinge não aguentou, ficou louca, e
atirou-se dum penhasco, e outra que diz que Édipo matou a Esfinge;
• Édipo libertou a cidade de Tebas e, como recompensa, os habitantes oferecem-lhe o
trono da cidade porque o rei Laio foi morto há dias. Édipo aceita também a mão da
rainha de Tebas, Jocasta, e concretiza-se o destino: casa com a mãe, da qual terá filhos;
• O destino apenas se concretizou quando Édipo tentou fugir, será o seu crime fugir ao
destino?

⟶ Este texto joga com o conhecimento semântico do que é ver e do que é saber, e é por isso
que no final, quando sabe a verdade, Édipo toma a decisão de se cegar. Ele é o homem que
não se conhece a si mesmo mas que tem conhecimento da resposta do enigma da Esfinge.

O enigma
“O que é, o que é? De manhã tem quatro patas; de tarde, tem duas; e de
noite, tem três?”

 Simbolicamente, a resposta a este enigma é o homem nas três fases da sua vida
(quando criança e gatinha, quando adulto e anda com as duas pernas, e quando
idoso ao andar com a ajuda de uma bengala), quando o que esta peça nos mostra
são os limites do conhecimento do próprio homem.

Hipóteses de interpretação
• Valor das profecias divinas: menos prezadas no seu tempo? Acredita-se que os deuses
estavam a ser postos em causa;
• Consiste numa lição, aquela de que é impossível fugir ao poder dos deuses e ao destino,
o que leva a que Jocasta diga que os seres humanos estão sujeitos unicamente à lei do
acaso, não são as suas ações que determinam o que acontece;
• Aparência vs. realidade objetiva, a problematização do conhecimento, limites do
conhecimento humano;
• A culpa
 Édipo não era culpado perante a lei ateniense, porque matou Laio devido a atitude
de insolência, e saiu de Corinto para não matar os pais;
 Destino: envolvido em tragédia sem saber.
• Cegueira humana, insegurança da condição humana.

Análise
Versos 25 e seguintes
• Os cidadãos de Tebas acham que Édipo é um ser humano excelente, que tem uma
relação com os deuses porque só assim poderia decifrar o enigma da Esfinge, e assim
poderá ajudá-los a vencer a peste. É um homem inteligente que está paradoxalmente à
procura de si mesmo.

Versos 60 e seguintes
• Ilustração de que Édipo é o rei excelente pois diz que cada um dos habitantes da cidade
carrega a sua própria dor, mas ele, rei de Tebas, tem aos ombros as dores de todos eles,

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carrega a sua própria dor, mas ele, rei de Tebas, tem aos ombros as dores de todos eles,
preocupado com o bem-estar da sua cidade;
• Pede a Creonte que consulte um oráculo para ver o que pode fazer para que a peste
deixe de destruir Tebas.

Versos 95 e seguintes
• A resposta é que a peste assola a cidade porque há uma "mancha" (tradução da palavra
grega miasma) na cidade.

Verso 138
• Exemplo de ironia dramática.

Verso 255 e seguintes


• Edito (lei).

Verso 316 e seguintes


• Tirésias (insolência), um adivinho, que é uma criatura sagrada, simbolicamente é cego.

Verso 345 e seguintes


• Édipo acusa Tirésias de ser ele o assassino, não percebe porque não quer falar.

Verso 443 e seguintes


• Ironia dramática.

Verso 639 e seguintes


• Comportamento (conspiração de Creonte).

Verso 708 e seguintes


• Jocasta, descrédito dos oráculos;
• Verso 745: descoberta.

Verso 980 e seguintes


• Arbitrariedade dos desígnios dos deuses.

Verso 1080 e seguintes


• Equívoco: origens (Jocasta: descoberto).

Verso 1180 e seguintes


• Confirmação da descoberta. A verdade é identificada como a Luz (associada ao
conhecimento).

Verso 1515-fim
• Nobreza.

⟶ Édipo procura a verdade até ao fim e quando no final percebe que terá de ser ele a
abandonar a cidade, cumpre-o. Mostra a fragilidade da condição humana.

Laio
• Apaixona-se por Crisipo e o seu pai, Pélops, não fica satisfeito quando este rapta
Crisipo e amaldiçoa Laio;
• Podemos aplicar esta maldição ao oráculo que lhe diz que vai ser morto pelo próprio
filho, ou seja, Édipo já vem na sequência de uma família amaldiçoada;
• Será que estes comportamentos, uma vez mais, se relacionam em si como indivíduo ou
com a maldição hereditária?

⟶ Uma coisa é o mito, outra é o que o autor decide explorar na sua obra. Sófocles trabalha o

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⟶ Uma coisa é o mito, outra é o que o autor decide explorar na sua obra. Sófocles trabalha o
mito na forma que o quer representar na sua reflexão.

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