TRANSFORMAÇÕES DO CORPO NA LITERATURA DE FICÇÃO CIENTÍFICA
DO SÉCULO XIX
Marvin Kenji Nakagawa e Silva (UNESP/M/CNPq)
marvin.silva@unesp.br
PALAVRAS-CHAVE: Profano. Literatura Gótica. Artificialidade.
RESUMO: O presente trabalho busca evidenciar perspectivas relacionadas as
transformações e transfigurações da artificialidade tendo como corpus as obras: Frankenstein: or the modern Prometheus (1818; 1831) e “Der Sandmann” (“O homem de areia”, 1816) conto de Ernst Theodor Amadeus Hoffmann. Desse modo, mais especificamente, buscamos por vias da literatura comparada evidenciar a transfiguração dos seres antropomórficos artificial na literatura romântica da primeira metade do século XIX. Para tal, faz-se necessário estabelecer uma breve trajetória da temática, particularmente em relação as primeiras expressões na mitologia grega, até a eventual a expressão na ciência da época (séculos XVIII-XVI). Desse modo, entende-se que há uma mudança na perspectiva na expressão dos seres artificiais, isto é, se o mecânico e o artificial eram ligados a um ideal divino nas estórias mitológicas clássicas, no século XIX tais criaturas são conectadas ao oposto, o profano. No entanto, tal qual objetos, tais criaturas não possuem voz no ato de criação, sendo assim, a transgressão surge na perspectiva do criador, em “O homem de areia” Nathanael observa o criador dos olhos de Olímpia — considerado por Freud como um de seus pais — como uma representação de uma entidade mítica demoníaca, que rouba os olhos de crianças. Em Frankenstein, o estudante universitário percebendo que a loucura e a busca pela glória criaram um grotesco monstro, foge aterrorizado e tenta esquecer de sua transgressão, nesse sentido, entende-se que a criação de uma vida é um ato divino, Viktor ao tentar replicar tal ato por meio da ciência cria efetivamente um ser inteligente, isto é, obtém sucesso parcial, mas falha em dar ao corpo uma forma “divina” nos preceitos clássicos e/ou bíblicos. Desse modo, percebemos que a expressão artificial em ambos os personagens, Olímpia e o Monstro, é oposta e complementar, nesse sentido, enquanto Olímpia possui a externalidade “divina”, o Monstro de Frankenstein possui a inteligência, ambos são “obras” incompletos e fragmentados, e por isso, profanas.