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ANO 28 ● N. º 1 ● janeiro-abril 2018 ● : JORGE DE FIGUEIREDO DIAS
Periodicidade quadrimestral • Preço desta edição: Euros 20,00 (IVA incluído)
30 ANOS
DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL
SEPARATA
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O ATUAL REGIME
DE RECURSOS EM PROCESSO PENAL ∗
I. Introdução
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Acórdão nº 324/2013 que decide “julgar inconstitucional a interpre-
tação normativa resultante da conjugação das normas da alínea c) do n.º 1 do
artigo 432.º e da alínea e) do n.º 1 do artigo 400.º do Código de Processo Penal,
na redação da Lei n.º 48/2007, de 29 de agosto, segundo a qual é irrecorrível
o acórdão proferido pelas relações, em recurso, que aplique pena privativa da
liberdade inferior a cinco anos, quando o tribunal de primeira instância tenha
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cluindo, o de recurso), segundo critérios abstratos (i. e., de acordo com critérios
objetivos, não dependentes de um ato decisório concreto “externo”, ou “interno”
da Administração da Justiça), visa garantir a controlabilidade e a determinabilida-
de do acesso aos graus de jurisdição (aos Tribunais) e também prevenir qualquer
abuso em matéria de acesso ao tribunal.
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Jurisprudência, a nosso ver, errada, desde logo porque só com a de-
terminação da pena conjunta é que ocorre o verdadeiro trânsito em julgado com
efeito executivo (sobre a matéria, cf. Jorge de Figueiredo Dias, Consequências
Jurídicas do Crime, Lisboa, 1993, § 1154: “A prescrição da execução da pena
conta-se a partir do trânsito em julgado da sentença condenatória. Tratando-se
de pena conjunta, em virtude de concurso de crimes, decisivo é o trânsito em
julgado da pena conjunta, não de cada uma das penas parcelares”. De resto, a
execução da sentença e da pena só se dá com o trânsito em julgado.
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Assim, o art. 419º, nº 2 do CPP. De facto, o coletivo da conferência é
constituído por três juízes, mas a decisão pode bastar-se nominalmente com os
votos concordantes.
Relembremos que, na versão originária do CPP, a conferência era constituí-
da por 4 juízes e a rejeição do recurso carecia da unanimidade. As audiências no
STJ tinham uma composição também mais alargada.
(7)
Sobre esta questão, cf., embora com outras vertentes do problema, Ma-
ria João Antunes/Nuno Brandão/Sónia Fidalgo/ Ana Pais, “Garantia cons-
titucional de julgamento pelo júri e recurso de apelação”, RLJ, ano 145, nº 3999,
julho-agosto 2016, p. 316 ss.
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regras do justo processo estabelecidas pelo TEDH em ligação com a CEDH para
esse efeito.
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Necessidade que se afigura imperativa nas penas não privativas de
liberdade, em que o momento da condenação é que é decisivo para determinar a
espécie e medida da pena; maxime, na pena de multa, cujo quantitativo diário se
determina no momento da (última) condenação ( e não no de uma qualquer ab-
solvição), exigindo pois sempre produção de prova no momento da condenação.
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Para uma leitura das alterações, em geral, introduzidas, cf. Sandra Tava-
res, “A consagração formal da vítima no processo penal português”, Revista da Fa-
culdade de Direito e Ciência Política da Universidade Lusófona, nº 9, 2017, p. 225 ss.
(11)
Criticando a solução por contraditória com o pressuposto da “partici-
pação constitutiva do direito do caso”, cf. Maria João Antunes, Direito Proces-
sual Penal, Coimbra, 2017, p. 51-52.
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(12)
“Sobre os sujeitos processuais no novo Código de Processo Penal”,
in: Jornadas de direito processual — o novo Código de Processo Penal, Coimbra,
1988, p. 10 ss.
(13)
E ainda ”para uma autêntica proteção da vítima, mais decisivo… é o
conferir-lhe voz autónoma logo ao nível de processo penal…”.
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347º). Pelo menos, esta nova alínea podia ter sido redigida segun-
do um princípio de subsidiariedade (p. ex., quando, sem culpa sua,
não tenha podido constituir-se assistente ou formular pedido de
indemnização civil)…
Estranha-se de resto esta solução legal, quando é o mesmo legis-
lador que consagra que a vítima tem direito à informação, à assistência
e à participação ativa no processo; logo, pressupõe implicitamente a
assunção da qualidade de “parte/sujeito processual”, em virtude de
prévia informação e conhecimento sobre tal faculdade (16).
Em qualquer caso, a solução adotada não deixa naturalmente de
constituir-se como sistematicamente “irritante”, pois não se percebe
como é que uma decisão pode ser entendida como proferida contra
“assistente, parte civil”, não havendo nenhum destinatário constituí-
do nessa qualidade (o assistente pode recorrer de decisões contra ele
proferidas; agora: o interessado pode constituir-se assistente para
que a decisão proferida possa ser considerada proferida contra ele).
Por outro lado, o grau de legitimidade e de interesse em agir/
recorrer (pelo menos no âmbito da invalidade dos atos) está de-
pendente da prévia intervenção processual (ou seja, eventuais nu-
lidades ou irregularidades têm de ser previamente arguidas) — o
que se nos afigura altamente problemático neste caso.
Esta solução torna-se ainda inexplicável, pois parece admitir
uma válida alternativa entre constituir-se atempadamente assisten-
te ou então constituir-se como tal mais tarde. De facto, e uma vez
que nada é dito em abono da introdução desta nova última alínea
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Supomos que o legislador pressupõe que este direito de arbitramento
já existiria antes destas alterações de 2015. Ora, tal não é verdade. Além disso,
seria necessário garantir expressamente o princípio do contraditório, incluindo
para o responsável civil (cf. arts. 77º, nº 4, e 78º do CPP).
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Fica-se em dúvida sobre se o legislador terá pensado neste caso ou
o terá utilizado para efeito de resolver uma má interpretação do sentido da Di-
retiva. Com efeito, o legislador refere: “A definição de um estatuto homogéneo
para as vítimas de crimes tem enfrentado a dificuldade assente na existência de
vários enquadramentos legais, pois as vítimas podem ser sujeitos processuais se
assumirem as vestes de assistentes ou demandantes civis, em ordem a sustentar
uma acusação ou formular um pedido de indemnização civil, respetivamente, ou
podem ter apenas intervenção no processo, neste caso como denunciantes e teste-
munhas”. Em Portugal, há só um enquadramento legal: o de assistente ou lesado,
mas enquanto parte no procedimento.
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Cremos que esta solução se impõe face ao disposto no art. 16º, nº2
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