Você está na página 1de 5

Erro na declaração artigo 247º e 248º Erro sobre os motivos artigo 252º

O declarante diz uma coisa diferente do que O erro recai só sobre a vontade (elemento
realmente queria dizer ou atribui às suas interno), não há divergência entre a vontade
palavras um sentido diferente do que ele e a declaração. A declaração está em
tem, sem se aperceber. consonância com a vontade, contudo esta
O erro incide sobre o elemento externo da última está viciada.
vontade (na sua manifestação). Estamos perante um chamado erro-vício.

FALTA DE VONTADE VÍCIO DA VONTADE

JURISPRUDÊNCIA ERRO DE ESCRITA

Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa; Proc.: 493/09.0TCFUN.L1-1; Relator: Rui Vouga Data do Ac.: 15-01-2013
Descritores: interposição de recurso efeitos erro de escrita rectificação lapso manifesto erro material citius justo
impedimento Decisão: IMPROCEDÊNCIA
Sumário do Relator:

1. Segundo uma orientação jurisprudencial praticamente pacífica, mercê do disposto no art.


295º do mesmo diploma, o princípio contido no art. 249º do Cód. Civil - rectificação de lapso
manifesto - é aplicável a todos os actos processuais e das partes.

2. Consequentemente, como o requerimento de interposição de recurso constitui uma


autêntica declaração de vontade da parte visando produzir determinados efeitos processuais,
é-lhe aplicável o princípio contido no artigo 249º do Código Civil, segundo o qual o simples erro
de cálculo ou de escrita, revelado no próprio contexto da declaração ou através das
circunstâncias em que a declaração é feita, dá direito à rectificação desta.

3. De qualquer modo tal erro só pode ser rectificado (ao abrigo do cit. art. 249º do Código Civil)
se for ostensivo, evidente e devido a lapso manifesto: é preciso que, ao ler o texto logo se veja
que há erro e logo se entenda o que o interessado queria dizer.

4. Por isso, os lapsos materiais cometidos nos articulados que a lei permite corrigir devem
resultar do teor dos próprios articulados, não se podendo alegar a existência de lapso quando
se pretende provar o mesmo através de elementos de prova que nem sequer constavam do
processo.

5. A esta luz, os lapsos materiais cometidos nos articulados que a lei permite corrigir devem
resultar do teor dos próprios articulados, não se podendo alegar a existência de lapso quando
se pretende provar o mesmo através de elementos de prova que nem sequer constavam do
processo.

6. Por outro lado, a faculdade de correcção dos erros materiais manifestos verificados nas peças
processuais destina-se, tão só, à correcção de erros pontuais em que seja manifesta ou ostensiva
a divergência entre a vontade expressa e a que se quis declarar e, como tal, não consente que,
ao abrigo dela, se possa substituir integralmente (ou quase integralmente) uma peça processual
já apresentada nos autos por outra totalmente distinta, para além do prazo peremptório que a
lei adjectiva fixa para a prática do acto em questão, por forma a que a segunda peça processual
seja considerada como apresentada na data em que a primeira deu entrada em juízo.

7. Se fosse admitido que, ao abrigo da possibilidade de correcção de erros materiais, se pudesse


substituir uma peça processual por outra totalmente distinta, para além do prazo peremptório
que a lei adjectiva fixa para a prática do acto, estar-se-ia a subverter completamente a
tramitação processual, abrindo-se a porta para que, mediante a utilização ardilosa de um
procedimento deliberadamente assumido com vista à ulterior alegação de erro material, não
mais fossem respeitados os prazos peremptórios legalmente fixados para a prática dos actos
processuais.

8. A alegação, pelo mandatário da parte recorrente, de que ocorreu um deficiente


manuseamento informático do programa CITIUS, em consequência do qual foram enviadas
(embora dentro do prazo de recurso) peças processuais (alegações de recurso) que nada tinham
a ver com o processo a que se destinavam, não corresponde a qualquer situação totalmente
imprevisível e completamente obstaculizadora da prática correcta do envio das alegações de
recurso pertinentes, pelo que não configura uma hipótese de justo impedimento, nos termos e
para os efeitos previstos no art. 146º do CPC.

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça; Processo: 3937/09.8TTLSB.L1.S1; Nº Convencional: 4ª SECÇÃO; Relator:


MÁRIO BELO MORGADO; Data do Acórdão: 03-06-2015 Descritores: caducidade do direito de ação erro de escrita
retificação Votação: UNANIMIDADE Decisão: CONCEDIDA

Sumário:
I - O NCPC, no seu art. 146.º, consagra um regime de suprimento de deficiências formais dos
atos das partes que, para além da retificação de erros de cálculo ou de escrita, revelados no
contexto da peça processual apresentada, admite, mais genérica e latamente, o suprimento ou
a correção de vícios ou omissões puramente formais de atos praticados, desde que a falta não
deva imputar-se a dolo ou culpa grave e o suprimento ou a correção não implique prejuízo
relevante para o regular andamento da causa.

II - O primeiro destes enunciados normativos já se extraía do disposto na lei substantiva


relativamente ao erro de cálculo ou de escrita, no mesmo sentido apontando também grandes
princípios enformadores do anterior CPC, como é o caso dos do processo equitativo, do direito
à tutela judicial efetiva, da boa-fé processual, da adequação formal e da prevalência do fundo
sobre a forma, para além, num plano mais concreto, do disposto nos arts. 666.º, n.º 3, e 667.º,
em matéria de correção de inexatidões e lapsos manifestos constantes de sentenças e
despachos, regime que traduz o afloramento de um princípio mais geral de aproveitamento dos
atos processuais que deve considerar-se aplicável aos atos das partes.

III – Instaurada a ação contra a “TAP, Transportes Aéreos Portugueses SGPS, SA”, e não contra a
“TAP, Transportes Aéreos Portugueses, SA”, se do contexto da petição inicial se extrai, com
clareza, que o sujeito da relação jurídica emergente do contrato de trabalho é esta última
sociedade (a quem a autora imputa os factos que constituem a causa petendi da ação),
encontramo-nos perante um mero erro de escrita, impondo-se, para todos os efeitos,
considerar a ação proposta na data em que a petição inicial, via citius, foi remetida ao tribunal.
IV – Notificada à autora a decisão do seu despedimento em 23.10.2008 e tendo a presente ação
sido instaurada em 23.09.2009, não se mostra excedido o prazo de um ano estipulado pelo art.
435.º, n.º 2, do Código do Trabalho de 2003.

Acórdão do Tribunal Central Administrativo Norte Processo: 01479/16.4BEPRT Secção: 2ª - Contencioso Tributário
Data do Acórdão: 07-12-2017 Tribunal: TAF do Porto Relator: Ana Patrocínio Descritores: reclamação garantia
bancária erro de escrita execução fiscal

Sumário do Relator:

I – Acolhe e exprime-se no artigo 249.º do Código Civil um princípio geral de direito que se
mostra aplicável a todos os erros de cálculo ou de escrita juridicamente relevantes.

II – Para o preenchimento legítimo do referido normativo importa que, como é entendimento


uniforme, se considerem apenas como lapsos de escrita os que sejam ostensivos, aqueles que
facilmente se detectem e se identifiquem como tais pelo e no seu contexto e que respeitem à
expressão material da vontade e já não os que possam ter influenciado a formação dessa
vontade.

III – Os erros dizem-se de escrita quando se escreve ou representa, por lapso, coisa diversa da
que se queria escrever ou representar, sendo que se consideram manifestos os erros quando
estes são de fácil detecção, isto é, quando a própria declaração ou as circunstâncias em que ela
é feita permitem a sua imediata identificação.

IV - O erro na declaração ou erro obstáculo existe quando, não intencionalmente –por


inadvertência, engano ou equívoco -, a vontade declarada não corresponde a uma vontade real
do autor, existente, mas de sentido diverso.

V – O simples erro mecânico, lapso evidente de escrita, é revelado através das circunstâncias
em que a declaração é feita.

VI – Se as circunstâncias em que a declaração é efectuada não revelam a evidência do erro e,


pelo contrário, permitem a dúvida, não há lugar a rectificação do mesmo.

VII - No contrato de garantia bancária vale apenas o que está escrito no documento que o titula,
pelo que será através da interpretação da declaração negocial contida no título, efectuada à luz
dos artigos 236.º e 238.º do Código Civil e, portanto, segundo a teoria da impressão do
destinatário, que se apurará a natureza da garantia prestada e os termos em que o foi.

JURISPRUDÊNCIA ERRO SOBRE OS MOTIVOS

Acórdão do Tribunal da Relação do Porto Processo: 9410021 Nº Convencional: JTRP00014659 Relator: PAIVA
GONÇALVES Descritores: compra e venda erro sobre os motivos do Data do Acórdão: 15-05-1995 Votação:
UNANIMIDADE Decisão Revogada parcialmente

Sumário:

I - O n.2 do artigo 252 do Código Civil requer que para o erro sobre os motivos determinantes
da vontade de contratar ser relevante deve respeitar:

- à base negocial subjectiva, isto é, à decisão de contratar;


- afectar gravemente os princípios da boa-fé contratual; e

- não estar coberto pelos riscos próprios do negócio.

II - Existe tal erro quando uma Câmara Municipal consegue que os particulares lhe vendam
terrenos, criando-lhes a convicção de que os mesmos se destinavam a Parque de Campismo e
que, se não os negociassem, esta desencadearia o respectivo processo de expropriação,
obtendo-os por metade do preço corrente e vendendo-os posteriormente como terrenos para
construção por preço substancialmente superior.

III - Trata-se, pois, de erro sobre a base negocial que afecta gravemente os princípios da boa-fé,
além de não se encontrar coberta pelos riscos próprios dos contratos celebrados.

Acórdão do Tribunal da Relação do Porto Processo: 1603/11.3TBGDM.P1 Nº Convencional: JTRP000 Relator: VIEIRA
E CUNHA Descritores: negócio jurídico erro vício anulação do negócio redução parcial do contrato Nº do Documento:
RP201404081603/11.3TBGDM.P1 Data do Acórdão: 08-04-2014

Sumário:

I – O erro vício ou erro sobre os motivos ocorre quando o declarante tem uma representação
inexacta das circunstâncias que foram determinantes para a realização do negócio, em termos
de se poder afirmar que se o declarante tivesse conhecimento exacto da realidade não teria
celebrado o negócio, ou tê-lo-ia celebrado em termos diversos.

II - No seu quadro geral, o erro sobre os motivos determinantes da vontade só é causa de


anulação se as partes tiverem aceite e reconhecido a essencialidade – artº 252º nº1 CCiv.

III – O acordo das partes, a que se refere o artº 252º nº1 CCiv, não integra o negócio jurídico, e
pode ser expresso ou tácito.

IV - O erro sobre os motivos determinantes da vontade é directamente relevante nos casos do


artº 251º CCiv, isto é, quando se refira à pessoa do declaratário ou ao objecto do negócio.

V – O erro-vício ou erro-motivo distingue-se do erro sobre os motivos determinantes da vontade


(artº 252º nº2 CCiv) um erro sobre as circunstâncias que constituem o fundamento ou a base do
negócio, mas não integram o acordo, apesar de poderem ser do conhecimento de ambos os
contraentes.

VI – Distingue-se também da mera imprevisão de uma das partes, porque alheia ao negócio.

VII – Se as Autoras figuraram a utilização de um determinado prédio para G1… ou G2…, tal como
funcionava na data do negócio, quando, cerca de 15 dias depois do dito negócio, o citado prédio
veio a ser fechado para o referido fim, por determinação da Segurança Social, figuração que
influenciou decisivamente os critérios para a determinação do valor da transmissão de quotas
e, consequentemente, da utilização dos bens propriedade da sociedade, existe erro-vício das
Autores transmissárias, na formulação genérica do artº 252º nº1 CCiv, quanto a parte do preço
pago no negócio.

VIII – Tal erro foi determinado pelo dolo das Rés transmitentes (seja qual for a modalidade de
dolo que ocorra em concreto), por estas terem assegurado às Autoras que o processo de
licenciamento estava a decorrer, quando apenas no próprio dia do negócio deram início ao
processo de licenciamento (artºs 253º e 254º CCiv).

IX – O dolo dará direito à anulação ou redução parcial do contrato (artº 292º CCiv), na parte do
preço da transmissão de quotas que partiu do pressuposto da utilização de mais 12 utentes do
G….

Você também pode gostar