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para o cibelemoncorvo1982@gmail.com
“Google Classroom”.
O Homem Trocado
(Luís Fernando Veríssimo)
O homem acorda da anestesia e olha em volta. Ainda está na sala de recuperação. Há uma
enfermeira do seu lado. Ele pergunta se foi tudo bem.
– Tudo perfeito – diz a enfermeira, sorrindo.
– Eu estava com medo desta operação…
– Por quê? Não havia risco nenhum.
– Comigo, sempre há risco. Minha vida tem sido uma série de enganos…
E conta que os enganos começaram com seu nascimento. Houve uma troca
de bebês no berçário e ele foi criado até os dez anos por um casal de orientais, que nunca
entenderam o fato de terem um filho claro com olhos redondos. Descoberto o erro, ele fora
viver com seus verdadeiros pais. Ou com sua verdadeira mãe, pois o pai abandonara a
mulher depois que esta não soubera explicar o nascimento de um bebê chinês.
– E o meu nome? Outro engano.
– Seu nome não é Lírio?
– Era para ser Lauro. Se enganaram no cartório e…
Os enganos se sucediam. Na escola, vivia recebendo castigo pelo que não fazia. Fizera o
vestibular com sucesso, mas não conseguira entrar na universidade. O computador se
enganara, seu nome não apareceu na lista.
– Há anos que a minha conta do telefone vem com cifras incríveis. No mês passado tive que
pagar mais de R$ 3 mil.
– O senhor não faz chamadas interurbanas?
– Eu não tenho telefone!
Conhecera sua mulher por engano. Ela o confundira com outro. Não foram felizes.
– Por quê?
– Ela me enganava.
Fora preso por engano. Várias vezes. Recebia intimações para pagar dívidas que não fazia.
Até tivera uma breve, louca alegria, quando ouvira o médico dizer:
– O senhor está desenganado.
Mas também fora um engano do médico. Não era tão grave assim. Uma simples apendicite.
– Se você diz que a operação foi bem…
A enfermeira parou de sorrir.
– Apendicite? – perguntou, hesitante.
– É. A operação era para tirar o apêndice.
– Não era para trocar de sexo?
a) Troca na maternidade
b) A ida de outro bebê para sua mãe
c) Engano do cartório.
d) Engano do computador
e) Engano da companhia telefônica
f) Engano do médico
1) Estruturar as ideias
OBS: O ponto de partida pode ser o próprio fato, mas também podemos chegar a ele
no decorrer da crônica, isso vai do estilo (que deve ser cultivado, com a prática) de
cada um. Lembre-se de que é uma HISTÓRIA, você deve CONTAR um fato cotidiano.
IMPORTANTE!!!!!!!!!
Pode abusar dos adjetivos,
Descreva os lugares, para o leitor se
sentir imerso na história
Leia vários tipos de crônica para se
familiarizar com o gênero
Não esqueça do ponto de vista pessoal,
COMPLEXO DE VIRA-LATAS
Nelson Rodrigues
“Hoje vou fazer do escrete o meu numeroso personagem da semana. Os jogadores já
partiram e o Brasil vacila entre o pessimismo mais obtuso e a esperança mais frenética. Nas
esquinas, nos botecos, por toda parte, há quem esbraveje: “O Brasil não vai nem se
classificar!”. E, aqui, eu pergunto:
— Não será esta atitude negativa o disfarce de um otimismo inconfesso e envergonhado?
Eis a verdade, amigos: — desde 50 que o nosso futebol tem pudor de acreditar em si
mesmo. A derrota frente aos uruguaios, na última batalha, ainda faz sofrer, na cara e na
alma, qualquer brasileiro. Foi uma humilhação nacional que nada, absolutamente nada, pode
curar. Dizem que tudo passa, mas eu vos digo: menos a dor-de-cotovelo que nos ficou dos 2
x 1. E custa crer que um escore tão pequeno possa causar uma dor tão grande. O tempo
passou em vão sobre a derrota. Dir-se-ia que foi ontem, e não há oito anos, que, aos berros,
Obdulio arrancou, de nós, o título. Eu disse “arrancou” como poderia dizer: “extraiu” de nós
o título como se fosse um dente.
E hoje, se negamos o escrete de 58, não tenhamos dúvida: — é ainda a frustração de 50 que
funciona. Gostaríamos talvez de acreditar na seleção. Mas o que nos trava é o seguinte: — o
pânico de uma nova e irremediável desilusão. E guardamos, para nós mesmos, qualquer
esperança. Só imagino uma coisa: — se o Brasil vence na Suécia, se volta campeão do
mundo! Ah, a fé que escondemos, a fé que negamos, rebentaria todas as comportas e 60
milhões de brasileiros iam acabar no hospício.
Mas vejamos: — o escrete brasileiro tem, realmente, possibilidades concretas? Eu poderia
responder, simplesmente, “não”. Mas eis a verdade:
— eu acredito no brasileiro, e pior do que isso: — sou de um patriotismo inatual e agressivo,
digno de um granadeiro bigodudo. Tenho visto jogadores de outros países, inclusive os ex-
fabulosos húngaros, que apanharam, aqui, do aspirante-enxertado do Flamengo. Pois bem:
— não vi ninguém que se comparasse aos nossos. Fala-se num Puskas. Eu contra-argumento
com um Ademir, um Didi, um Leônidas, um Jair, um Zizinho.
A pura, a santa verdade é a seguinte: — qualquer jogador brasileiro, quando se desamarra
de suas inibições e se põe em estado de graça, é algo de único em matéria de fantasia, de
improvisação, de invenção. Em suma:
— temos dons em excesso. E só uma coisa nos atrapalha e, por vezes, invalida as nossas
qualidades. Quero aludir ao que eu poderia chamar de “complexo de vira-latas”. Estou a
imaginar o espanto do leitor: — “O que vem a ser isso?” Eu explico.
Por “complexo de vira-latas” entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca,
voluntariamente, em face do resto do mundo. Isto em todos os setores e, sobretudo, no
futebol. Dizer que nós nos julgamos “os maiores” é uma cínica inverdade. Em Wembley, por
que perdemos? Porque, diante do quadro inglês, louro e sardento, a equipe brasileira ganiu
de humildade. Jamais foi tão evidente e, eu diria mesmo, espetacular o nosso vira-latismo.
Na já citada vergonha de 50, éramos superiores aos adversários. Além disso, levávamos a
vantagem do empate. Pois bem: — e perdemos da maneira mais abjeta. Por um motivo
muito simples: — porque Obdulio nos tratou a pontapés, como se vira-latas fôssemos.
Eu vos digo: — o problema do escrete não é mais de
futebol, nem de técnica, nem de tática. Absolutamente. É um problema de fé em si mesmo.
O brasileiro precisa se convencer de que não é um vira-latas e que tem futebol para dar e
vender, lá na Suécia. Uma vez que ele se convença disso, ponham-no para correr em campo
e ele precisará de dez para segurar, como o chinês da anedota.
Insisto: — para o escrete, ser ou não ser vira-latas, eis a questão. “
a) Uma introdução
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... Tanta coisa para cuidar, Deus me livre de ainda inventar uma amolação dessas.
O menino tentou enxugar uma lágrima, não havia lágrima. Voltou para o quarto emburrado:
a gente também não tem nenhum direito nessa casa – pensava. Um dia ainda faço um
estrago louco. Meu único amigo, enxotado dessa maneira!
– Que diabo também, nessa casa tudo é proibido! – gritou lá do quarto, e ficou esperando a
reação da mãe.
– Dez minutos! – repetiu ela, com firmeza.
– Todo mundo tem cachorro, só eu que não tenho.
– Você não é todo mundo.
– Também, de hoje em diante eu não estudo mais, não vou mais ao colégio, não faço mais
nada.
– Veremos – limitou-se a mãe, de novo distraída com a costura.
– A senhora é ruim mesmo, não tem coração.
– Sua alma, sua palma.
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c) Um desfecho inesperado:
O lixo
Encontram-se na área de serviço. Cada um com seu pacote de lixo. É a primeira vez
que se falam.
- Bom dia...
- Bom dia.
- A senhora é do 610.
- E o senhor do 612
- É.
- Eu ainda não lhe conhecia pessoalmente...
- Pois é...
- Desculpe a minha indiscrição, mas tenho visto o seu lixo...
- O meu quê?
- O seu lixo.
- Ah...
- Reparei que nunca é muito. Sua família deve ser pequena...
- Na verdade sou só eu.
- Mmmm. Notei também que o senhor usa muito comida em lata.
- É que eu tenho que fazer minha própria comida. E como não sei cozinhar...
- Entendo.
- A senhora também...
- Me chame de você.
- Você também perdoe a minha indiscrição, mas tenho visto alguns restos de comida
em seu lixo. Champignons, coisas assim...
- É que eu gosto muito de cozinhar. Fazer pratos diferentes. Mas, como moro sozinha,
às vezes sobra...
- A senhora... Você não tem família?
- Tenho, mas não aqui.
- No Espírito Santo.
- Como é que você sabe?
- Vejo uns envelopes no seu lixo. Do Espírito Santo.
- É. Mamãe escreve todas as semanas.
- Ela é professora?
- Isso é incrível! Como foi que você adivinhou?
- Pela letra no envelope. Achei que era letra de professora.
- O senhor não recebe muitas cartas. A julgar pelo seu lixo.
- Pois é...
- No outro dia tin ha um envelope de telegrama amassado.
- É.
- Más notícias?
- Meu pai. Morreu.
- Sinto muito.
- Ele já estava bem velhinho. Lá no Sul. Há tempos não nos víamos.
- Foi por isso que você recomeçou a fumar?
- Como é que você sabe?
- De um dia para o outro começaram a aparecer carteiras de cigarro amassadas no seu
lixo.
- É verdade. Mas consegui parar outra vez.
- Eu, graças a Deus, nunca fumei.
- Eu sei. Mas tenho visto uns vidrinhos de comprimido no seu lixo...
- Tranqüilizantes. Foi uma fase. Já passou.
- Você brigou com o namorado, certo?
- Isso você também descobriu no lixo?
- Primeiro o buquê de flores, com o cartãozinho, jogado fora. Depois, muito lenço de
papel.
- É, chorei bastante, mas já passou.
- Mas hoje ainda tem uns lencinhos...
- É que eu estou com um pouco de coriza.
- Ah.
- Vejo muita revista de palavras cruzadas no seu lixo.
- É. Sim. Bem. Eu fico muito em casa. Não saio muito. Sabe como é.
- Namorada?
- Não.
- Mas há uns dias tinha uma fotografia de mulher no seu lixo. Até bonitinha.
- Eu estava limpando umas gavetas. Coisa antiga.
- Você não rasgou a fotografia. Isso significa que, no fundo, você quer que ela volte.
- Você já está analisando o meu lixo!
- Não posso negar que o seu lixo me interessou.
- Engraçado. Quando examinei o seu lixo, decidi que gostaria de conhecê-la. Acho que
foi a poesia.
- Não! Você viu meus poemas?
- Vi e gostei muito.
- Mas são muito ruins!
- Se você achasse eles ruins mesmo, teria rasgado. Eles só estavam dobrados.
- Se eu soubesse que você ia ler...
- Só não fiquei com eles porque, afinal, estaria roubando. Se bem que, não sei: o lixo
da pessoa ainda é propriedade dela?
- Acho que não. Lixo é domínio público.
- Você tem razão. Através do lixo, o particular se torna público. O que sobra da nossa
vida privada se integra com a sobra dos outros. O lixo é comunitário. É a nossa parte
mais social. Será isso?
- Bom, aí você já está indo fundo demais no lixo. Acho que...
- Ontem, no seu lixo...
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