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ARTIGOS ORIGINAIS

«Não é o que não sabemos que nos causa mais problemas, «Quando se mede alguma coisa,
mas sim o que julgávamos saber». inicia-se o conhecimento sobre ela»
Josh Billings Lord Kelvin
(Everybody’Friend, 1874)
«Nada existe de permanente a não ser a mudança».
Heráclito

A definição de febre deve basear-se no conhecimento e não na tradição


Fever definition must be based on knowledge, not tradition Manuel Salgado 1

Resumo Summary

A febre é uma resposta adaptativa, auto controlável e benéfica do or- Fever is a regulated raise of body temperature. It is a beneficial and
ganismo perante a agressão por agentes infeciosos, processos infla- adaptive response against the body invasion by infectious agents, in-
matórios ou outras situações clínicas com destruição celular. flammation, or others clinical disorders with cell destruction.
Não obstante a orientação dos doentes com febre ser uma prática diária Despite the diagnosis and treatment of patients with fever is a daily
duma larga percentagem de profissionais de saúde, muitos têm conheci- practice of almost all health professionals, but several only a superficial
mentos apenas superficiais nas definições de febre, nas noções de ter- knowledge about fever concepts, pathophysiological manifestations
mometria e sobre as manifestações fisiopatológicas associadas à febre. and clinical thermometry.
São arbitrárias muitas das definições de febre utilizadas no dia-a-dia, Many of fever definitions are arbitrary and based on traditional concepts
mais baseadas na tradição do que nos conhecimentos. Existem três rather than scientific knowledge. There are three different fever definitions:
definições diferentes de febre: 1) the classic definition, which represents the temperatures of a popu-

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1ª) A definição tradicional que atribui febre a um valor fixo de tempera- lation on-site of assessment (axilla, mouth, rectum, tympanum, fore-
tura em função do local de avaliação (axila, boca, reto, tímpano, fronte, head, temporal) and does not take into account the individual tempera-
temporal) a partir do qual todo e qualquer indivíduo terá febre; dado ture; they are obtained from cross-sectional population studies, and
que são obtidas a partir de estudos populacionais transversais com represents the temperatures +2SD above the average temperatures of

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indivíduos saudáveis, na realidade representam temperaturas superi- healthy populations and not the individual’s temperatures.
ores ao +2DP acima das temperaturas médias das populações e não 2) the individual concept of fever (and the most correct) which is de-
as temperaturas dos indivíduos. fined as temperature above the normal individual range of temperature,
2ª) Temperatura acima do normal da amplitude térmica dum indivíduo, on-site of assessment these is the most appropriate definition, but as
no local de avaliação; esta será a definição mais correta, mas em regra a rule is unavailable.
está indisponível. 3) temperature ≥ than 1,0°C above the average of the individual tem-
3ª) Temperatura ≥ 1,0ºC acima da média dum indivíduo, no local de aval- perature, on-site of assessment; this definition takes into account a

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iação. Esta definição tem em conta um novo conceito, o do diferencial new concept, the individual differential temperature amplitude range of
da amplitude térmica individual, presumível de 2,0ºC (-1ºC/+1ºC), que 2,0°C (-1,0°C / +1,0°C) in healthy state.
é a amplitude térmica individual máxima em estado de saúde. If the traditional definition will be appropriate for most situations, not in-
Se a definição tradicional servirá para a maioria dos casos, não raras frequently this definition undervalues clinically significant temperatures.
vezes subvaloriza temperaturas clinicamente significativas. In many situations, it is important to consider the individual basal tem-
O valor da temperatura basal individual, a idade do doente, o local de perature range, the age of the patient, the location of measurement of
medição da temperatura e o momento da medição da temperatura (de temperature and the moment of the temperature evaluation (day or night)
dia ou de noite) deverão ser tidos em conta numa avaliação racional e for a scientific and rational evaluation of fever in a patient.
científica dum doente presumivelmente com febre. It will be discussed a Gaussian distribution as the result of the difference
O reconhecimento da distribuição gaussiana da diferença retal-axilar, ao between rectal and axillary temperatures. We also discuss the different
invés de um valor fixo referido em livros de texto, as razões dos falsos neg- temperature methods of evaluation, comparing them to rectal tempera-
ativos da temperatura axilar, são também abordados. São também anali- ture, the standard method.
sadas compartivamente a fiabilidade dos diferentes métodos de avaliação Keywords: Fever, definition, variability, transversal study, longitudinal
de temperatura comparativamente ao método padrão, a temperatura retal. study, circadian rhythms, rectal-axillary difference, fever’s upper limit,
Palavras-chave: Febre, temperatura, definição, variabilidade, estudo temperature range differential.
transversal, estudo longitudinal, ritmo circadiano, diferença retal axilar,
temperatura máxima, diferencial da amplitude térmica.
Acrónimos RIV – raios infravermelhos
CIG – correção para a idade gestacional RIVC – raios infravermelhos de contacto
DP – desvio padrão RIVNC – raios infravermelhos não de contacto
DTRA – diferença das temperaturas retal e axilar SD – standard deviation
EFs – episódios febris TAx – temperatura axilar
P95 – P99 – percentil 95 / 99 TAT – temperatura da artéria temporal
PF – pico febril TF – temperatura frontal
PS – profissional(ais) de saúde TO – temperatura oral
RN – recém-nascido TR – temperatura retal
TT – temperatura timpânica
1. Hospital Pediátrico de Coimbra – Centro Hospitalar Universitário de Coimbra (CHUC)
Correspondência: Manuel Salgado - mbsalgado27@gmail.com

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A definição de febre deve basear-se no conhecimento e não na tradição

Desconhecimentos sobre febre e termometria por Definições arbitrárias de febre, frequentemente


muitos profissionais de saúde não concordantes, utilizadas em livros de texto

A orientação de doentes com febre é uma prática diária duma larga Só à primeira vista será surpreendente a ausência de uniformidade na
percentagem de profissionais de saúde. Surpreendentemente, nos definição de febre utilizada nos 30 livros de texto incluídos aleatoria-
poucos estudos em que foram avaliados os conhecimentos dos pro- mente na Tabela I.
fissionais de saúde (PS) sobre febre (definição, utilidade biológica, Da análise da Tabela I conclui-se que apenas 6 (20%) incluem a defi-
mecanismos fisiopatológicos, termometria corporal) a maioria revelou nição de febre por TAx, 9 (30%) por TO, 3 (10%) por TT, 21 (70%) por
não ter conhecimentos bem fundamentados sobre estas temáticas 1-7. TR, sendo esta exclusiva em 12 (40%). Três livros (10%) são omissos
Essas constatações justificaram as críticas de Philip Mackowiak, o mé- em relação ao local avaliação da temperatura 29-31. Outros 3 (10%) op-
dico editor do livro Fever Basic Mechanisms and Management (1997) taram pela definição de febre dirigida aos indivíduos: «temperatura
3
: «O clínico médio tem pouco mais do que conhecimentos rudimenta- superior ao normal de cada indivíduo no local de avaliação» 35-37.
res dos conceitos modernos da febre» 2. Nos 25 livros pediátricos desta série, a TR foi a definição utilizada em
Em 2014 foi realizado em Portugal um inquérito anónimo com pergun- 23 (92%) sendo exclusiva em 13 (52%), incluindo nos dois livros por-
tas fechadas a 426 PS do Serviço Nacional de Saúde (55% pediatras tugueses 11,22, em oposição à prática do dia-a-dia. A TR é muito pouco
ou internos de pediatria, 16% médicos de outras especialidades, 29% utilizada em Portugal e em variados outros países 6,7.
enfermeiros maioritariamente de serviços de pediatria): 91% desco-
nhecia como foi criada a definição de «temperatura normal» (médicos Para que serve a definição de febre por avaliação retal, se depois é pra-
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ticamente ignorada?
88%; enfermeiros 94%); 88% apenas conhecia a definição tradicional Ou, pior ainda, será a definição por TR (≥38,0°C) a adotada para os
de febre (médicos 84%; 98% enfermeiros), 80% definia febre sem ter outros métodos?
em conta o local de avaliação (79% médicos, 85% enfermeiros), 62%
não sabia o significado de hipertermia (56% médicos; 88% enfermeiros), Surpreendente são as diversas definições adotadas, que culmina na
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apenas 36% definia corretamente «temperatura central» (46% médicos, definição de Tasker RC e colaboradores 14, que consideram febre só
18% enfermeiros; pelo menos 75% acreditavam no «subfebril» (médicos a partir de 39,0ºC nas idades superiores a 3 meses. A ausência de
70%; enfermeiros 80%); 34% não sabia qual o local mais fidedigno de concordância nos 27 livros que adotaram uma definição numérica é
medição da temperatura (médicos 31%, enfermeiros 41%) 4. igualmente surpreendente.
Os resultados deste inquérito confirmam, também em Portugal, em 2014, da Foi considerado «não concordância» entre as definições de febre se
adequação das críticas de Mackowiak e col. mas extensível a todos os PS 2. as referidas temperaturas diferiam de autor para autor em ≥0,2ºC em
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Tabela I • Diferentes definições de febre (ºC) em 30 livros de texto de escolha aleatória mas de autores diferentes, e os locais mais aconselhados para a avaliação
da temperatura
1º Autor; (ano publicação) Axilar retal oral Timpânica não Esp.do Local aconselhado
Definição neste texto >37,3 >37,9 >37,7 >37,7 -

El-Radhi AS 2009 8,9 >37,3 >37,9 >37,5 >37,5 TR, TT, TO ◊


MCGee S 2012 10 >37,0 >37,8 >37,7 >37,8 TR, TT, TO, TAx,
Carrilho EM 2003 11 >37,5 >37,9 Omisso Omisso TR, TT
Melero RP 2010 12 >37,0 >38,5 Omisso Omisso TR, TAx
Díaz Ollero B 2001 13 >36,7 >37,2 >36,8 Omisso TR, TAx; TO ◊
Tasker RC 2008 14 >38,0 # >38,9 # Omisso Omisso >38,0 # >38,9 # TAx, TT
Mackowiac PA 2015 1 Omisso Omisso >37,7 D >37,2 M Omisso Omisso
Dinarelo CA 2010 15 Omisso Omisso >37,7 Omisso Omisso
Fisher RG 2005 16 Omisso >38,4 >38,0 Omisso Omisso
Ward MA 2014 17 Omisso Omisso > 37,7 Omisso TR, TO ◊
García O 1994 18 Omisso >37,5 Omisso Omisso TR, TO, TAx (> 5 anos)
Balamuth F 2013 19 Δ Omisso >38,4ᶲ > 38,4ᶲ Omisso TR, TO ◊
van der Jagt EW, 1997 20 Omisso >38,0 Omisso Omisso TR, TO ◊
Alpern ER 2010 21 Omisso >38,0 Omisso Omisso TR, TT > 3 meses
Leça A 2008 22 Omisso >38,0 Omisso Omisso Omisso
Neto G 2000 23 Omisso >38,0 Omisso Omisso Omisso
Brayden RM 2007 24 Omisso >38,0 Omisso Omisso Omisso
Wols M 1999 25 Omisso >37,9 Omisso Omisso TR, TO ◊
Jaffe DM 1997 26 Omisso >38,0 Omisso Omisso Omisso
Jaffe DJ 1990 27 Omisso >38,0 Omisso Omisso Omisso
Lorin MI 1982 28 Omisso >37,8 > 37,3 Omisso TR, TO ◊
Plipat N 2004 29 Omisso >38,0 Omisso Omisso Omisso
McPhee SJ 2002 30 Omisso >38,0 Omisso Omisso TR, TO ◊
Chércoles ER 2001 31 Omisso >38,0 Omisso Omisso TR
Ducla Soares JL 2007 32 Omisso Omisso Omisso Omisso >37,7 D >37,2 M Omisso
Shah SS 2004 33 Δ Omisso Omisso Omisso Omisso >38,5 Omisso
Tunnessen WW 1983 34 Omisso Omisso Omisso Omisso >38,5 Omisso
Grom AA 2008 35 Superior ao normal de cada indivíduo no local de avaliação Omisso
Behrman RE 2001 36 Superior ao normal de cada indivíduo no local de avaliação Omisso
Powell KR 2007 37 Superior ao normal de cada indivíduo no local de avaliação Omisso
El-Radhi AS 2009 8* ≥1,0ºC acima da média individual no local de avaliação TR, TT, TO ◊
#
Considera febre: < 3 meses de idade >38,0 ºC 13 ; >3 meses >38,9 ºC 13. Δ
Para RN considerado febre temperaturas > 38,0 ºC 16,32
ᶲ Considera em separado crianças > 1 mês versus recém-nascidos versus e imunodeprimidos (nestes últimos será febre se >37,9ºC nas TR e TO 16.
Oral ◊ – crianças com mais de 5 anos; D – de dia; M – madrugada / manhã – início // * Livro repetido (único), com duas definições diferentes: 1ª populacional; 2ª individual 8

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A definição de febre deve basear-se no conhecimento e não na tradição

relação à definição deste texto que foram consideradas padrão 38. São Estas constatações são surpreendentes, tendo em conta que a TAx e
definições «não concordantes» 5 das 6 (83%) definições por TAx, 5 a TO serão das avaliações da temperatura mais utilizadas em variados
das 20 (25%) por TR, 4 das 8 por TO (50%) e 2 das 3 (67%) das TT países 1-3,15,17,51.
(Tabela I). Apenas em 15 dos livros consta (ou subentende-se) o local É também surpreendente que não existam estudos noturnos de temperaturas
mais aconselhado para avaliação da temperatura: 13 retal (87%); 9 basais (normais) semelhantes aos estudos diurnos, não obstante serem co-
oral (60%) em crianças com idades superiores a 5 anos; 4 timpâni- muns os telefonemas dos pais durante a madrugada pela constatação de tem-
ca (27%); 5 axilar (33%). Ora 2 dos 5 autores que defendem a TAx peraturas «muito baixas», em especial na sequência de episódios febris (EFs).
assumem definições de febre, por TAx, que são das mais discutíveis
Na definição tradicional de febre, ainda hoje são utilizados os conceitos
13,14
. Dos 10 livros pediátricos após 2004, apenas 2 (20%) defendem a
publicados por Wunderlich, há quase 150 anos (1869), resultantes de
avaliação da TT 9,14.(Tabela I).
mais de 1 milhão de avaliações da TAx, em mais de 25.000 indivídu-
Esta falta de uniformidade na definição de febre justifica a opção de
os adultos, mas alguns deles doentes 1,17,20,43. Wunderlich considerou
Kayman, que opta por definir febre como a «temperatura acima do
«normal» TAx entre 36,2°C e 37,0ºC e «provável» febre TAx >38,0ºC
normal de cada indivíduo» 39. Reflete os conhecimentos gerais de 1-4,15,17,20,40,52,53
.
muitos pediatras e outros PS, que mostram terem diferentes definições
Mas este valor de temperatura tradicionalmente aceite como “febre”
e conceitos na abordagem da febre, comprovado pelas respostas im-
não reflete a grande variabilidade individual 1-3,15,17,20,40,52,53. Assumir-se
precisas a inquéritos anónimos de perguntas fechadas 1-7.
que um único valor de temperatura reflete toda a complexidade do
equilíbrio térmico corporal, não tendo em conta a grande variabilida-

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A excessiva simplificação da definição de febre de individual, será uma excessiva simplificação da definição de febre
1-3,5,15,17,20,21,28,39-44,52-58
.
Embora sejam incontáveis os artigos publicados sobre febre, são escas-
sos os estudos sobre temperaturas basais em estado de saúde 40-50, com

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a maioria a englobarem poucos indivíduos por estudo 40,41. Na literatura Os estudos sobre a temperatura normal são
internacional, de estudos em idade pediátrica, apenas foi encontrado um estudos populacionais transversais
sobre temperatura axilar (TAx) normal 40,41,43, dois estudos sobre tempe-
raturas timpânicas (TT) 45,48 e um sobre a temperatura na área da artéria Todos os estudos publicados sobre temperaturas basais de indiví-
temporal (TAT) por raios infravermelhos (RIV) de contacto 46. Não foram duos saudáveis (de onde resulta naturalmente a definição de febre)
encontrados estudos pediátricos sobre a temperatura oral (TO) normal. são transversais (Figura 1). São estudos populacionais que, na sua

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Tendo em conta a variação circadiana da temperatura, apenas existem maioria, incluem um único registo da temperatura por indivíduo 41, 42,44-
publicados dois pequenos estudos (com 64 e 15 lactentes de 1,5 a 4 50
. Isto é, os valores que utilizamos no dia-a-dia na definição de tem-
meses) o que permite presumir a temperatura retal (TR) noturna 49,50. peratura normal e de febre, não representam a temperatura de um in-

Figura 1 • Esquema dos resultados de 15 estudos em idade pediátrica sobre temperaturas normais a nível da axila
(4), oral (1)timpânio/auricular (2), temporal (1), frontal (1) e retal (6), com médias, +1DP, -1DP; +2DP; -2DP e
temperaturas extremas. A criança com temperatura axilar de, 34,5ºC é a mesma que tinha 35,4ºC retal 47; não
está discriminado a valor inferior da temperatura timpânica do estudo nº645 e nº 748 nem os limites extremos
do estudo nº 9 46.

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divíduo mas sim as temperaturas das populações estudadas 3,40-50,52-54. 1 e 2, em que se verifica uma diferença entre as temperaturas médias da
A aplicação ao indivíduo desses limites máximos, superiores ao se- TAx e da TR de 1,1°C, ressalta a absoluta necessidade de se conhecer o
gundo desvio padrão positivo (+2DP) acima da temperatura basal método de avaliação para se interpretar uma temperatura corporal.
média das populações estudadas, assumindo que todos os indivíduos
são iguais na temperatura basal, é claramente uma generalizada e
excessiva simplificação teórica e prática 1-3,17,20,28,40-43,52-58. Estudos sobre a temperatura normal tendo em
conta a idade da criança
A Figura 1 foi elaborada com os resultados de 15 estudos populacio-
nais pediátricos de temperaturas basais em estado de saúde 42,44-50. A grande variabilidade dos grupos etários pediátricos não é contem-
Foram calculadas as médias, os primeiros desvios padrão positivo e plada nos diferentes estudos publicados, em especial na variabilidade
negativo (+1DP; -1DP), os segundos desvios padrão positivo e negati- das temperaturas basais normais constatadas no primeiro mês de vida.
vo (+2DP; -2DP) e as temperaturas basais extremas.
Às 1.164 crianças com idades entre os 0 e os 10 anos de idade, incluídas
Da análise da Figura 1, pode-se comprovar que as temperaturas no estudo atrás referido foram realizados um total 2.275 registos da TAx e
basais médias das TR são mais elevadas comparativamente às ava- da TR (1 a 9 registos, em idades diferentes, por criança). Por cada subgru-
liadas pelos restantes métodos, como é bem conhecido, sendo mais po etário, apenas foi analisada uma única determinação da TAx e TR por
baixas em RN. No 15º estudo, obtido por TR noturnas, constata-se que criança. Foi utilizada a mesma metodologia (repetição das temperaturas
a temperatura média é de 1,0ºC inferior às TR dos estudos diurnos nº com valores limites) referida no estudo da Figura 2. Automaticamente (por
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11 e nº 12. Esta constatação reforça a necessidade da valorização da registo informático) foi feita correção para a idade gestacional (CIG) 47.
variabilidade das temperaturas em função do ritmo circadiano e/ou do Verificam-se algumas diferenças nas temperaturas médias nos diver-
sono noturno 49,50,52,53,59,60 (Figura 1). sos grupos etários tanto na TAx como na TR, em especial em recém-
A Figura 2 foi construída com base num estudo prospetivo iniciado em -nascidos (RN). Tendo em conta a correção para a IG, os 333 RNs
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2007, numa consulta individual privada de cuidados primários. Entre foram divididos em <40 semanas de gestação (exemplo os RN de 34 a
as 16 e as 21 horas, foram realizadas avaliações das temperaturas ob- 38 semanas de gestação que foram observados nos primeiros dias de
tidas por TAx imediatamente seguidas de TR a 1.113 crianças saudá- vida antes de completar as 40 semanas), de 0 a 14 dias (após CIG) e
veis com idades compreendidas entre os 29 dias de vida e os 10 anos de 15 a 28 dias (após CIG) (Figuras 3 e 4) 47.
de idade. As TAx <35,5ºC ou >37,0ºC e as TR <36,0ºC ou >37,8ºC Em relação às temperaturas dos RNs, na Figura 3 é evidente que, nos
foram todas repetidas sendo adotado a temperatura mais elevada 47. primeiros 15 dias de vida, a TAx normal não ultrapassou os 37,0ºC. Já
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Podemos comprovar a esperada distribuição gaussiana de ambas as cur- a TR não ultrapassou os 37,5ºC nos primeiros 15 dias de vida, e rara-
vas 1-4,52,53, em oposto ao valor único (37,0°C) da temperatura basal tradi- mente o fez nos segundos 15 dias de vida (Figura 4).
cionalmente assumida como «normal»1-4,40-43. Da interpretação das Figuras Estes valores mais baixos da TR em RN deverão ser interpretados

Figura 2 • Estudo prospetivo sobre a determinação das temperaturas axilar e retal em 1.113 crianças sau-
dáveis entre 1 mês e 10 anos de idade, das 16 às 21 horas 47. Notar a repetição da curva da TAx,
em gráfico de barras, à esquerda.

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Figura 3 • Temperaturas axilares por idades: 2.275 registos em 1.164 crian-
ças; apenas um registo por criança em cada grupo etário; entre () Figura 4 • Temperaturas retais por idades: 2.275 registos em 1.164 crianças;
o número de crianças por grupo etário; SG = semanas de gestação. apenas um registo por criança em cada grupo etário; entre () o núme-

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ro de crianças por grupo etário; SG = semanas de gestação.

comparativamente a estudos em RN realizados em ambiente hospita- interpretativas entre o que é normal e o que é febre 1-3,40-48,52-55.
lar, nos primeiros dias de vida: máximos de TAx de 37,5ºC 61 a >37,8ºC Por exemplo, como interpretar temperaturas basais mantidas por TAx
61-63
e máximo da TR de 37,6ºC 61-62. Não encontrei outros estudos rea- que rondam os 35,5ºC axilares? Para estes indivíduos, para se con-
lizados com RNs já em ambulatório. siderar febre nas TAx (>37,4ºC) é necessária uma subida térmica de

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Independentemente das populações estudadas e dos respetivos grupos etá- quase 2,0ºC, enquanto que, para os que já têm 37,4ºC, por definição
rios, para as temperaturas individuais basais que se situam entre o +1DP e já têm «febre» apesar de estarem em pleno estado de saúde (Figuras
o -1DP (que engloba 66% da população) em regra não se colocarão dificul- 1 a 5). De referir que, em adultos saudáveis, as temperaturas basais
dades na definição de febre. Contudo, perante indivíduos com temperaturas poderão ser tão baixas quanto 33,2ºC, em especial em idosos 54.
basais próximas dos -2DP/+2DP, poderão colocar-se algumas dificuldades
Tendo em conta o local de avaliação, também o desvio máximo acima

Figura 5 • Estudo longitudinal da tem-


peratura axilar em 27 crian-
ças, com uma média de 55
avaliações. notar: o limite
máximo normal da tempera-
tura da criança nº 1 (36,1ºC,
à esquerda) é o limite mínimo
do normal da criança nº 27,
com 1,4ºC de diferença en-
tre as temperaturas médias.
Conclui-se que o que é febre
para umas é normal para a
outras 47.

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Figura 6 • Estudo longitudinal da temperatura retal em


27 crianças, com uma média de 55 avaliações
por criança. Reparar: o limite máximo normal
da temperatura da criança nº 1 (37,4ºC, à es-
querda) está significativamente abaixo dos
38,0ºC considerado tradicionalmente como
febre e que as temperaturas médias das crian-
ças extremo (nº 1 e nº 27) têm uma diferença
1,3ºC47.
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da temperatura média populacional a partir do qual se considera febre Ritmo circadiano e o diferencial das amplitudes
não é igual de autor para autor. Uns adotaram o percentil 95 (P95) 48, térmicas populacionais e individuais
outros o +2DP 41,44,46,54, outros o P99 1,2,5,10,15,45,58, isto é, temperaturas
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superiores ao +3DP. Mas estas diferentes metodologias só parcial- É do conhecimento geral que existe um ritmo circadiano da tempera-
mente ajudam a explicar a falta de concordância das definições de tura corporal em todos os indivíduos, com o diferencial das amplitudes
febre discriminadas na Tabela I. diárias variável entre 0,1ºC e 1,7ºC 1-3,9,28, 49,52,56,58,64.
Nas crianças, o diferencial das amplitudes circadianas diárias são sobre-
Estudos longitudinais da temperatura corporal poníveis aos dos adultos, em regra entre 0,5ºC a 1,0ºC 18,49,50, com as
individual temperaturas basais retais e axilares mais baixas a verificarem-se respe-
SAÚDE INFANTIL

tivamente das 03 às 06 e das 05 às 08 horas da madrugada e as mais


Não obstante alguns autores definam febre como a «temperatura su-
elevadas entre as 16 e as 21 horas 28,52,59,60. Este ritmo circadiano fisiológi-
perior ao normal de cada indivíduo, no local de avaliação» 5,35-37,39,40,57,58,
co mantém-se durante os EFs5,64 o que justifica os frequentes picos febris
isto é, temperaturas superiores ao +2DP acima da média de cada in-
vespertinos.
divíduo 41 ou superior ao P99 1,2 não existem publicados, na literatura
internacional, estudos longitudinais de temperaturas basais normais Se o diferencial da amplitude circadiana diária tende a não ultrapassar
com um número significativo de medições por indivíduo. 1,0ºC 28,49,52,60, já o diferencial da amplitude térmica individual ao longo
dos meses varia entre 0,5ºC a 2,2ºC (axilar) e 0,5ºC e 2,3ºC retal, mas
Nas Figuras 5 e 6 são descriminadas as temperaturas basais de 27
em regra é inferior a 2,0ºC (Figuras 1,3,4,6 e Tabela II)
crianças, nas quais foram realizadas uma média de 55 avaliações se-
quenciais das temperaturas axilares e retais (uma vez por semana).
As medições foram realizadas pelos familiares, sempre em estado de Tabela II • Diferencial das amplitudes térmicas máximas dos estudos
saúde, entre as 19 e as 21 horas antes do banho. Os pais foram pre- populacionais (Figura 1) e individuais (Figura 5 e 6)
viamente ensinados a colocar corretamente a ponta do termómetro Tipo estudo Tª. Retal Tª. Axilar Em regra
digital no cavado axilar. Para a avaliação da TR, foi-lhes ensinado a Populacional (Fig. 1) 1,5 a 3,0ºC 1,8 a 3,1ºC < 2,0ºC
técnica da avaliação com a criança deitada em decúbito dorsal, e a Populacional (Fig. 3) 1,2 a 2,7 < 2,0ºC
orientar o termómetro paralelo ao dorso da criança e a ultrapassar a Populacional (Fig. 4) 1,2 a 2,8ºC < 2,0ºC
linha anal com a ponta do termómetro (de ponta flexível) de ≥ 3 cm. Individual (Fig. 5) 0,5 a 2,2ºC < 2,0ºC
Perante resultados de TAx <35,8ºC ou >37,0ºC e/ou de TR <36,0ºC
Individual (Fig. 6) 0,5 a 2,3ºC < 2,0ºC
ou >37,8ºC foi-lhes pedido que repetissem a respetiva avaliação e que
assumissem a maior temperatura.
Estes dois últimos estudos (Figuras 5 e 6) vêm corroborar da necessida- Esta noção do diferncial da amplitude térmica populacional e individual
de da definição de febre ser virada para o indivíduo e não para a popu- de 2,0ºC (-1,0ºC / +1,0ºC) irá ajudar a compreendere a aplicar a 3ª
lação: «temperatura acima do normal do indivíduo no local de avaliação definição de febre deste texto e a mais prática: temperatura ≥ a 1°C
(axilar, retal, oral, timpânica) 1,5,35-37,39,57,58. acima da média dum indivíduo, no local de avaliação 8.
E mostram igualmente que a amplitude térmica individual máxima é vari-
ável de indivíduo para indivíduo, sendo em regra inferior a 2,0°C.

62
A definição de febre deve basear-se no conhecimento e não na tradição

Figura 7 • As três fases da curva térmica e as manifestações fisiológicas (vasoconstrição + consumo energético) na
subida térmica e a vasodilatação, sudação e descida térmica com as manifestações clínicas associadas

SETEMBRO
39,64-66
.

As três fases do pico febril Diferença das temperaturas retal axilar e retal e

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oral e os falsos negativos da temperatura axilar
Para assegurar a subida térmica, o organismo tem necessidade de
produzir calor (por consumo energético com ou sem a produção de A diferença das temperaturas retal-axilar (DTRA) não tem um valor
calafrios) e de conservar calor. fixo como tantas vezes é referido em livros de texto 25,34,35, nem uma
A curva térmica tem 3 fases. Na fase ascensional, para conservar ca- amplitude estreita como é assumido noutras publicações 18,21,28,33. Tem
lor, ocorre uma vasoconstrição periférica associada a comportamentos sim uma distribuição gaussiana, como foi constatado num velho estu-

SAÚDE INFANTIL
para aquecer. O doente tem frio, procura de agasalhos. A pele fica do realizado com adultos com avaliação da diferença nas TR-TO 73.
marmoreada, com ereção dos pêlos. Nalguns EFs surge acrocianose Neste estudo de 1950, a diferença TR-TO teve uma média de 0,6ºC
e, por vezes, calafrios 1,15,39,64-66 (Figura 7). A vasoconstrição periférica com extremos de -0,1ºC e de 1,4ºC 73.
transitória justifica os frequentes falsos negativos da TAx 67. Na Figura 8 são comparadas as DTRA avaliadas sequencialmente, em
Consequentemente, neste curto período (até 30 a 60 minutos), as menos de 3 minutos, em estado de saúde a 1.113 crianças diferentes,
temperaturas periféricas – TAx, TF, TAT, virilha, anal (nas frequentes com registo únicos para cada criança e em 509 episódios febris (EFs)
situações de incompleta introdução do termómetro no reto) – serão diferentes. Verificou-se uma distribuição gaussiana nas DTRA, com
significativamente mais baixas comparativamente às temperaturas médias de 1,1ºC em ambos os estudos, com extremos que vão de
centrais (retal ou outra).
-0,3ºC (TAx superior à TR) a +3,0ºC nos EFs e de 0ºC a +2,3ºC em
Em pico febril, os doentes sofrerão em geral uma subida da tempe- estado de saúde (Figura 8) 47.
ratura basal de 1,0 a 2,0ºC 15. Por vezes esse aumento será de 2,0
Esta grande variabilidade da DTRA, até 3,0ºC foi também referida
a 4,0ºC 68,69, mas nunca será superior a 5,0ºC acima da temperatura
noutras publicações 9,20,44. Logicamente a DTRA será maior no início
basal individual 69.
da subida térmica, justificando que os falsos negativos da TAx sejam
Pela definição tradicional, os indivíduos com temperaturas basais
quase exclusivos da fase ascensional 67.
muito baixas só terão «febre» se tiverem um aumento da temperatura
basal >2,0ºC. O +2SD da DTRA nos EFs do estudo da Figura 8 foi de 2,1ºC. Tinham
pneumonia 3 das 4 crianças com febre com TAx > 37,0ºC com DTRA
Pela definição tradicional de febre os indivíduos com temperaturas ba- >2,1ºC (respetivamente TAx e TR de 37,0 - 40,0ºC; 37,0 - 39,5ºC; 37,3
sais muito baixas só terão febre se tiverem um aumento da temperatura - 39,7ºC) 47. Também num caso pediátrico de infeção grave (sépsis) a
basal > 2,0° C.
diferença entre a TR e a temperatura timpânica (TT) foi de 5,0ºC 72.
Os EFs com temperaturas >41,1ºC (106,0º Fahrenheit) são excecio- Nos escassos estudos em que foram comparadas as TR com a tem-
nais 56,68. Em 4.310 EFs obervados em ambulatório não hospitalar foi peratura cutânea (plantar) em RN, diferenças >3,5ºC em RN de termo
de 41,5ºC a TAx máxima e apenas 0,1% dos casos tiveram pelo me- 74
e >2,3ºC em prematuros 75, aumentaram significativamente a proba-
nos um pico febril > 41,1ºC 70. Nas doenças graves, apenas 1,0% dos bilidade de sépsis. Essas diferenças entre a temperatura central (retal)
702 doentes tiveram TAx >41,1ºC, sendo de 42,0ºC a TAx máxima e a periférica (cutânea) é especialmente útil perante TR «normais».
constatada 70.

63
A definição de febre deve basear-se no conhecimento e não na tradição
SETEMBRO

Figura 8 • Estudo prospetivo das diferenças entre as temperaturas retal e axilar em estado de saúde e em
pico febril. Todas as diferenças muito baixas ou muito elevadas, justificaram novas determina-
ções da temperatura, tendo sido adotadas a temperaturas mais elevadas 47.
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Todos estes fatores ajudam a explicar as razões da má correlação entre Métodos de Avaliação da Temperatura
a TR e a TAx e vice-versa. Consequentemente, será impossível obter-se
uma regra exata para converter a TAx em TR e vice-versa 20,44,76. A elevada percentagem de falsos negativos da TAx, da Temperatura
frontal (TF) e da temperatura temporal na zona da artéria temporal
Também na interpretação e na valorização da DTRA existe uma exces- (TAT), superiores a 25% 31,47,51,70 associada à elevada percentagem de
SAÚDE INFANTIL

siva simplificação. De amplas diferenças, significativas e informativas falsos positivos da TF e TAT 70, tem justificado as numerosas recomen-
entre uma temperatura central (retal) e uma temperatura periférica dações para se evitarem estes métodos de avaliação da temperatura
(axilar, oral, temporal, frontal), são referidos apenas os valores médios, 9,55,56,77,78. E optar-se preferivelmente pelas avaliações das TR ou TT
perdendo-se dados clínicos potencialmente importantes. (teoricamente equivalentes em adultos) ou TO após os 5 anos de ida-
de 9,17,20,39,56,77,78.

Tabela III • Tipos de termómetros (local de avaliação, sensibilidade e taxa de falsos negativos e sua fiabilidade) e a deteção subjetiva das mães por palpação
comparativamente ao método padrão (retal), o mais fiável:

oral oral por Auricular


Axilar Frontal Temporal Palpação pelas
(mucosa sublin- chupeta (membrana
(pele axilar) (Pele frontal) (artéria temporal) mães
gual) com termómetro timpânica)

Definição de Febre ≥37,4 ≥37,8 ≥37,8 ≥37,8 ≥37,8 ≥38,0 -

Sensibilidade 75% 44,47,51


≈80% 51
≈60% 80
≈70% 81,82
≈60 47,82
≈75% 51,80,83,84
≈85% 80,85,86

Falsos negativos ≈ 25% 44,45,51 ≈20% 51 ≈40% 80 ≈30% 81,82 >40% 47,82 ≈25% 51,80,83,84 >15% 80,85,86

Falsos positivos Não Raro Raro Por vezes Por vezes >50% 80,83 ≈30% 80,85,86

Razoável Fraca Boa em adultos;


Boa a partir dos
Boa se 2ª avalia- para valores Razoável
5 anos
Fiabilidade ção 60 ≈ minutos 9,56,78,79
normais; >3 A; Fraca Fraca Razoável
depois # boa para valores Má <3A 78
elevados
Tipo de termómetro Digital Digital Digital RIVNC* RIVNC * RIVC * ou RIVNC -
* RIVNC – raios infravermelhos não de contacto; RIVC - raios infravermelhos de contacto.
# A vasoconstrição periférica no início da subida térmica justificará os falsos negativos da TAx. Daí que, uma segunda avaliação da TAx cerca de 60 depois da inicial, minimi-
zará em muitos falsos negativos, o que provavelmente não acontecerá tanto com outros métodos.
A indevida inclinação dos feixes de raios infravermelhos (RIV), não dirigidos à membrana do tímpano e as outras interferências no seu trajeto são das principais razões para
a ocorrência de frequentes falsos negativos na TT 87.

64
A definição de febre deve basear-se no conhecimento e não na tradição

Na Tabela III são comparados os diferentes métodos de avaliação da Neste grupo de doentes, na avaliação inicial da temperatura, será
temperatura, comparativamente ao método padrão, a TR e à deteção prudente a determinação retal 39,78.
subjetiva das mães por palpação.
Mas os ≈30% de falsos negativos da TT, vem questionar a precisão
das TT, especialmente em idade pediátrica 39,77, podendo estas servir
como rastreio e não como diagnóstico preciso de febre 77. Definição de febre com base no conhecimento e
A principal razão da imprecisão da TT em idade pediátrica (sobretudo não na tradição
antes 3 anos de idade) resulta da indevida inclinação nos feixes dos
Os conhecimentos sobre a variabilidade individual da temperatura
RIV. O menor calibre do canal auditivo impede a introdução adequada
corporal, as manifestações fisiopatológicas e as noções corretas de
(padronizada) da sonda e na consequente correta orientação dos RIV
termometria na quantificação da temperatura corporal periférica (axi-
para a membrana timpânica 40,87,88. Outras interferências na orienta-
lar, cutânea, oral) ou central (retal) devem preponderar em relação ao
ção adequada dos RIV, desviando-os da membrana timpânica, são
dogmatismo duma definição assente na tradição 58.
as variantes anatómicas da curvatura do canal auditivo e a presença
de cerúmen, pêlos ou exsudato 39,40,87,88. Por todos estes motivos, está Na realidade não existe uma definição de febre universalmente aceite
indicado uma escolha criteriosa dos termómetros de RIV de avaliação
1-3,21,28,39,58
, existindo uma zona de difícil interpretação, que será febre
da TT, devendo escolher-se termómetros com sondas de tamanho para uns doentes e normal para outros. É necessário rever o conceito
adequado às idades alvo 39,88. Quando se adota a TT, devem ser reali- tradicional de febre, tendo em conta:

SETEMBRO
zadas 3 avaliações consecutivas, devendo adotar-se a mais elevada 39. – O valor da temperatura basal individual;
No St. Luke’s-Roosevelt Hospital Center of Columbia University, um – O local de avaliação da temperatura
centro universitário de referência com um dos mais prestigiados hospi- – A idade do doente
tais americanos, sempre que é preciso rigor na temperatura corporal,

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– O ritmo circadiano, isto é, a hora do dia ou da noite no momento
a TR é o método utlizado em qualquer idade, dos 0 aos 100 anos …51.
dessa avaliação, com uma variabilidade entre 0,5 a 1,0ºC mais
Mas mais importante do que o grau exato da temperatura, é o re-
baixa entre as 03 e as 08 horas da madrugada.
conhecimento de que o doente tem ou não febre 28,79. Efetivamente,
a presença de sintomas é muito mais importante do que um valor
Mas não é apenas a febre que é importante reconhecer. A hipotermia
numérico da temperatura 28,79. Na realidade são poucas as situações
e a incapacidade em aumentar a temperatura corporal («normoter-

SAÚDE INFANTIL
clínicas que exigem um absoluto rigor na determinação da tempera-
mia») em situações muito graves, por exemplo sépsis e/ou meningites,
tura (Quadro I) 39,78.
é ainda mais preocupante 64,70,89. Neste contexto, a mortalidade é mais
significativa com baixas temperaturas ou normais, especialmente nos
3 primeiros meses de vida 64,70,89,90. Considera-se hipotermia tempera-
Quadro I • Situações clínicas que exigem muito rigor na avaliação
turas <35,0ºC (por qualquer método de avaliação) 90.
da temperatura 39,78
Esta mitigada resposta febril pelas crianças com menos de 3 meses,
• Idade inferior a 3 meses mesmo perante infeções graves 39,64,70, justificam a necessidade de
• Hipotermia grande prudência na abordagem dos doentes deste grupo etário. Al-
• Taquicardia sem causa evidente guns autores cheguem mesmo a recomendar a abolição da definição
• Polipneia sem causa evidente precisa de febre para idades inferiores a 3 meses: «remove the de-
• Hipotensão sem causa evidente finition of fever that states exact temperatures for infants less than 3
• Cardiopatias instáveis ou descompensadas months old (for exemples, 38ºC)» 39.
• Doentes críticos com baixas reservas energéticas
• Convulsões febris (prévias ou concomitantes) Isto é, também para Kayman 39, o «subfebril» não existirá. Será antes
uma mentira contada inúmeras vezes, que se transformou numa ver-
• Doenças metabólicas
dade 70. Existem sim febres baixas ou temperaturas normais que, em
• Meningites / encefalites
certos contextos, podem ter pior prognóstico que febres altas 89.
• Sépsis
• Síndromes de dificuldade respiratória (SDRs)
• Imunodeficiências primárias ou secundárias
• Drepanocitose
• Asplenia congénita ou esplenectomia
• Traumatismo crânio-encefálicos

65
A definição de febre deve basear-se no conhecimento e não na tradição

As três definições de febre 2ª Definição que tem em conta a variabilidade individual:


«Temperatura acima do normal da amplitude térmica dum indivíduo,
Existem três definições de febre: no local de avaliação». Isto é, temperaturas superiores ao +2DP
1ª: A definição tradicional, que assenta nos limiares superiores ao P97,5 acima da média do indivíduo.
ou ao P99 da temperatura da população saudável, obtidos em es- Esta é a definição mais adequada. Contudo, e em regra, esta defini-
tudos populacionais transversais durante o dia e que não têm em ção está indisponível, pois requer o conhecimento prévio da tempe-
conta a variabilidade individual. ratura basal.
O ritmo cardiano da temperatura individual justifica a necessidade de
se reduzir o limiar da temperatura normal, entre as 03 e as 08 horas 3ª Definição: Temperatura ≥1ºC acima da temperatura média do in-
da madrugada, pelo menos 0,5ºC à temperatura basal diurna para divíduo no local de avaliação.
se considerar febre. Isto é, justifica-se uma definição da temperatura Em qualquer local de avaliação, o diferencial da amplitude tér-
diurna e outra durante a madrugada. Na tabela IV são descriminadas mica individual não varia muito para além de 2,0ºC (-1ºC; +1ºC
as temperaturas a partir das quais se considera febre, tendo em con- acima ou abaixo da temperatura média individual).
ta o local de avaliação e nos recém-nascidos. Se o indivíduo tem conhecimento de algumas temperaturas basais,
bastará adicionar 1,0ºC à temperatura basal média conhecida para
se definir a temperatura a partir da qual se deverá considerar febre.
Tabela IV • Definição tradicional de febre tendo conta o local de avaliação, e as
diferenças para a madrugada e nos recém-nascidos. Temperaturas
SETEMBRO

iguais ou superiores a: Esta definição terá grande utilidade nos indivíduos com temperatu-
ras basais persistentemente baixas.
Timpânico

Temporal
Frontal
Axilar

Retal
Oral

≥37,4 ≥37,8 ≥37,8 ≥37,8 ≥38,0 ≥38,0


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Diurna e vespertina
«A verdadeira viagem da descoberta consiste,
Madrugada
não em procurar novas paisagens,
(03 - 08 horas) ≥37,0 ≥37,3 ≥37,3 ≥37,3 ≥37,5 ≥37,5 mas em ver com novos olhos».
Recém-nascido ≥37,3 ≥37,5 Marcel Proust
SAÚDE INFANTIL

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