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PARTE UM UMA ORIENTACGAO ECOLOGICA 1. ProposiTo E PERSPECTIVA Neste volume, eu oferego uma nova perspectiva teérica par a pesquisa sobre 0 desenvolvimento hunmano. A perspectivaé nova em sua concepgao da pessoa em desen- volvimento, do ambiente e especialmente da interagdo desenvolvente entre ambos. As- sim, © desenvolvimento é definido neste trabalho como uma mudanga duradoura na ‘maneira pela qual uma pessoa percebe e lida com o seu ambiente, Por essa razio, é necessrio ji de inicio indicar © conceito pouco ortodoxo de anbiente apresentado neste volume. Em vez de comegar com uma exposigio formal, 2u inttoduzirei este ‘conceito através de alguns exemplos concretes. O ambiente ecol6gico € concebido como uma série de estruturas encaixadas, uuma dentro da outra, como um conjunto de bonecas russas. No nivel mais interno esti ‘ambiente imediato contendo a pessoa em desenvolvimento. Este pode ser acasa, a sala de aula, ou como frequentemente acontece por propésitos de pesquisa -0 laborat6- rio ou sala de testagem. Até agora parece que estamos em terrenoconhecido (embora cexista mais para ver do que até agora chegou aos olhos do investigador). O préximo ‘asso, entretanto, jé nes conduz_para fora do caminho conhecido, pois requer que ‘olhemos além dos ambientes simples e paraas relagdes entre eles, Eu argumentarei que essa interconexdes podem ser to decisivas para o desenvolvimento quanto os eventos «que ocorrem num determinado ambiente. A capacidade de uma crianga de aprender a ler nas séries elementares pode depender tanto de como ela € ensiaada quanto da exis- téncia e natureza de lagos entre a escola e a familia, O terceito nivel de ambiente ecolégico nos leva ainda mais longe ¢ invoca a hipétese de que 0 desenvolvimento da pessoa € profundamente afetado pelos eventos que ocorrem em ambientes nos quais a pessoa nem sequer est presente, Eu examinarei dados sugerindo que entre as influéncias mais poderosas afetande o desenvolvimento das criangas pequenas nas sociedades industrializadas modemnas estio as condigBes de trabalho dos pais. Finalmente, existe um fendmeno notivel pertencente aos ambientes em todos os {rs niveis do meio ambiente ecolégico delineado acima: dentro de qualquer cultura ou subcultura, ambientes de um determinado tipo - como as casas, asruas ou os escritéri- (5 tendem a ser muito semelhantes, ao passo que entre as culturas elas sio distinta- ‘mente diferentes. £ como se dentro de cada sociedade ou subcultura existisse uma Unie Bonfonrenner planta, um esquema, para a organizagio de cada tipo de ambiente, Além disso, este Esquerna pode ser modifcado, resultado em gue acs dos ambentes naa soci dade pode ser nitidamentealterada c produit madangas correspondentes no comport mento e desenvolvimento, Por exemplorestltados de pesquisa sgerem que uma = dana nas piticas das alas de materidade afetando a rela ene a ma eo tec naseido podem produzr efeitos ainda detectaveis cinco anos mas tarde, Num outro aso, uma severa cise econémica ocorrendo uma soiedade € vista como tendo a impacto postivo ou negativo sobre desenvolvimento sbseqiente ds cians por todo periodo de vids, dependendo da dade da erianga na epoca em que a familia soften dificldadesfinancetas, ‘A deteoco dessasnfluénciasdesenvolvimentas de amploalance 6 € possivel quando empregamos um modelo teica que permite a sua observasio, Alem disso, uma ver que esses achados tem implicages importants tanto para a ciencia quanto para a politica publica, €espectalmente importante que 0 modelo testo seja Inetodolosicamentergoroso,proporcionando comprovagio da valida epermitindo émergéncia de resultados conterios as bipotesesoriginas do invesigadot.O presente ‘olume representa uma tentativa de definirospardmetrosbiscos de um modelo tr o que satisfaga estas exigenciassubstantivase metodolégicas, Este trabalho também busca demonstra ulidadecientfica do model ecolgico para esclarecimento dos {chados de estidos anteriores paras formulagao de noves problemas eplanjamentos de pesquisa © ambiente, conforme conecbido no esquema propost, difere de frmulagdes anteriores ni apenas em aleane, como tamiem em conteudoeestutra, Numa pi tera consideragio, a orienta ecologic eva soe taduzem tems operacionais lma posigoteriengeralmenteelogiada na literatura sobre ciécia social mas rar mente colocada em pritca na pesquisa Ea ese, exposta por psicSlogosesacilogos, dd que aquilo que importa par o comportamento eo desenvolvimento €o ambiente onforme ele & percebido,e nao conforme ele podria exstr na ealidade “objetiva” Nas paginas seguimts, este principio €aplcado para expos fraquezas es forgas do laboratério © da sala de testagem como contextos para avaliar os processos ddesenvolvimentas, Existem evidencias de dferengas consistent no comportamento ‘de criangase adultos observa em laboratrio © nos ambientes coneretos de vida Estas diferenas, por sua vez esclarecem os vrs significados desestpos de ambi ees para os patteipants, em parte como una fungao de seu background expe cia social Diferenestipos de amblentes também sao analisds em temos de sa strat ra, Aqui, a abordagem se asta dos modelos de pesquisa convencionsis anda mam outro aspect: os ambientes ni sio distinguidos por referencia a variveslineares, ‘asso analisados em trmos de sistemas. Comsecando no nivel mais intr do esq ‘ma ecolpico, uma das unidades bisicas de anise € a die, oo sistema de as pessoas. mboraaiteratura sobreapsiologia desenvolvimental aga frequents ree- ‘class diades come estutiras earaterizadas por elas reciprocas, nbs veremos «qe, na pritica este prinepio muitasvezes€ desconsiderado. De acordo com o foco tradicional do procedimento de laboratério num Gnicosujeito experimental, os dados costumam ser eoletaos acerca de uma pessoa por ver, porexemplo, oem ela "mie ou em relag &erianga, mas raramente para ax dis 20 mesmo tempo, Nos pou 0s casos em qe iss ocome, 0 quadro emergente revels possbilidadesnovas e mais sinamicas paraambas as partes. Porexempl, a partir de dados dios parece que se "um dos membros do par passa por um processo de desenvolvimento o outro também A Ecologia do Desenvolvimento onan passa, O reconhecimento desta relacio proporciona uma chave para a compreensio ‘das mudangas desenvolvimentais ndo apenas nas criangas, mas também nos adultos que servem como cuidadores primirios mies, puis, av6s, professores e assim por diate. A mesma consideragao se aplca a diades envolvendo marico e mulher, rmio.e ima, chefe e empregado, amigos ou colegas de trabalho. ‘Algm disso, um modelo sist’mico da situaco imediata vai elém da dfade e atri- ‘ui igual importincia aos chamados sistemas Nv + 2 - wiades, ttrades e estruturas interpessoais mais amplas. Virios achados indicam que a capacidede de uma diade de servir como um contexto efetivo para o desenvolvimento humano depende crucialmente ‘da presenga e participagio de uma terceira pessoa, tal como um eOnjuge, parentes, amigos e vizinhos, Se essas teceiras partes estio ausentes, ou se desempentiam um papel perturbador em vez de apoiador, o processo desenvolvimental, considerado como lm sistema, se interrompe; como um banco de és pés, ele éderrubado mais facilmente se um dos pés esté quebrado ou mais cuto do que os outros. (© mesmo principio trddico se aplica is relagdes entre os ambientes. Assim, 3 ccapacidade de um ambiente - tal como o lar, a escola ou 0 local de trabalho - de funci ‘onar efetivamente como um contexto para o desenvolvimento é visti como dependendo ‘daexisténcia e natureza das interconexdes Socias entre os ambientes,incluindoa par- ticipagio conjunta, a comunicagio ¢ a existéncia de informagBes em cada ambiente @ respeito do outro. Este prine(pio atribui importincia a perguntas como as seguints: ‘uma pessoa jovem entra numa nova situagio, tal como uma escola, acampamento Ou tuniversidade sozinha, ou na companhia de amigos ou adultos conhecidos? A pessoa ea familia recebem informagdes ou tém alguma experiéncia em relagio ao novo ambiente antes de entrar nele coneretamente? Como este conhecimento anterior afeta 0 curso subseqiente do comportamento e do desenvolvimento no nove ambiente? Perguntas como estas chamam aatencio para o significado desenvolvimental eo potencial inexplorado de pesquisa daquilo que chamamos de trarsicdes ecoldgicas ~ ‘muidangas de papel ou ambiente, que ocorrem durante toda.a vida. Exemplos de transi- ‘es ecolgicas incluem a chegada de um irmio mais jovem,a entrada na pré-escola ou ra escola, ser promovido, formar-se, encontrar umemprego, casa, ter um filho, mudar cde emprego, mudar de casa e aposentar-s. 'A importancia desenvolvimental das transigdes ecol6gicas deriva-se do fato de clas quase invariavelmente envolverem uma mudanca de papel, isto €, das expectativas {de comportamentos associados a determinadas posigdes na sociedade. Os papéis tém ‘um poder migico de alterar a maneira pela qual a pessoa 6 tratada, como ela age, 0 que cla faz, ¢ inclusive o que ela pensa e sente. O prinetpio se aplica ndo apenas & pessoa fem desenvolvimento, mas também a outras pessoas em seu mund. ‘Oseventos desenvalvimentais que sio mais imediatos e potentes como influén- cia no desenvolvimento de uma pessoa sio as atividades que outas pessoas realizam ‘com ela ow na sta presenga, O ative envolvimento ou a mera exposigdo aquilo que os ‘outros estio fazendo geralmente inspira a pessoa a realizar atividades semelhantes sozinha. E mais provavel que uma ctianga de trés anos aprenda a falar se as pessoas que a cercam falam, e especialmente se elas falam diretamente com ela. Quando a cerianga comoga a falar, isso constitui uma evidéncia de que o desenvolvimento real- ‘mente ocorreu, na forma de umaatividade molar recentemente adyuirida (numa oposi- ‘gio ao comportamento molecular, que & momentiine ¢tipicamente desprovido de sig- nificado ou intenglo). Finalmente, as atividades molares nas quai a pessoa se empe- rnha constituem ao mesmo tempo mecanismos internos © manifestagies externas de crescimento psicolégico, Unie Bronfonbrenner A seqiiéncia de estruturas ecol6gicas encaixadas uma na outrae seu significado

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