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Martelos desfibradores e facas picadoras no setor sucroalcooleiro

Almerindo Soares Silva Junior RA: 189566

RESUMO

Apesar de ter perdido força nos últimos anos, o setor sucroalcooleiro ainda apresenta

razoável crescimento no Brasil, em função da estabilidade do mercado mundial do açúcar e do

aumento de consumo do etanol. Entretanto, a perda de materiais metálicos por mecanismos de

desgaste representa um custo significativo para a operação de usinas, onde a deterioração das

ferramentas é grande e a vida em serviço dos componentes é curta. Este trabalho deve como

objetivo realizar revisão da literatura para caracterizar os mecanismos de desgaste que atuam nessas

ferramentas.

Palavras Chave: mecanismo de desgaste, sucroalcooleiro, sistema tribológico.

INTRODUÇÃO

Os martelos desfibradores e facas picadoras utilizadas nas moendas, confeccionados com

aço-carbono ASTM A 36 e revestidos, em suas áreas de trabalho, com eletrodos de metal duro para

reduzir o desgaste. A manutenção e/ou a substituição desses componentes é realizada

aproximadamente a cada 30 dias, e implica a parada da produção daquela unidade moedora por 8

horas, com o restante da usina em funcionamento.

O dano apresentado por martelos e facas é resultado da exposição das mesmas a um sistema

tribológico relativamente complexo, pois envolve desgaste por abrasão, impacto e corrosão. As

peças desgastadas durante a operação de moagem, normalmente são recondicionadas por soldagem,

recebendo a aplicação de um novo revestimento duro, na própria usina ou por terceiros e voltam a

ser usadas.

1
Trabalho a ser apresentado para disciplina IM 578: Microestrutura e desgaste. 1° semestre de 2017.

Desgaste á maior ênfase à apresentação e discussão do

Para Zum Gahr1, desgaste é a perda desgaste abrasivo.

progressiva de substância de uma superfície Desgaste abrasivo

de um corpo em decorrência do movimento Segundo Gates4, o desgaste abrasivo é

relativo com a superfície e, de acordo com o de maior ocorrência e pode ser definido

Ribas2, desgaste é a perda progressiva de como aquele que ocorre quando partículas

matéria da superfície de um corpo sólido duras e angulares ou asperidades duras

devido ao contato e movimento relativo com penetram na superfície do metal ou substrato,

um outro corpo sólido, líquido ou gasoso. em relação à qual estão em movimento e,

Budinski3 faz a seguinte classificação subsequentemente, removem metal na forma

dos tipos de desgaste: desgaste por abrasão, de lascas alongadas, por meio de vários

erosão, adesão ou fricção e fadiga térmica. mecanismos que dependem da natureza do

Em geral, pode-se dizer também que os sistema.

metais em serviço estarão expostos a algum Classificação do desgaste abrasivo

grau de corrosão como consequência das O desgaste abrasivo é tipicamente

condições ambientais, de maneira que classificado de acordo com o tipo de contato e

películas ou produtos de corrosão, com o ambiente de contato. Tipos de contato

invariavelmente, modificarão o processo de incluem desgaste de “2-corpos” e “3-corpos”.

desgaste. De acordo com essa definição, o “primeiro

Apesar dos vários tipos de desgaste, o corpo” é a amostra, o “segundo corpo” é o

abrasivo é o maior responsável por danos em contracorpo e o “terceiro corpo” é o abrasivo,

equipamentos do setor sucroalcooleiro, em como ilustrado esquematicamente pela Figura

especial, nos de preparo da cana, assunto de 1.

interesse deste trabalho. Na sequência, dar-se-

2
tensão”, “abrasão de alta tensão” e “abrasão

por arranque (extrema)”, como descrito a

seguir. 6

Abrasão de baixa tensão (suave)

A abrasão de baixa tensão não é


Figura 1: Tipos de desgaste abrasivo. 5

acompanhada de impacto significante. O dano


Conforme Gates , ocorre o desgaste a
4

é resultado da remoção de material por


dois corpos quando as partículas ou
riscamento ou microusinagem. Para este caso,
asperidades estão rigidamente presas no
materiais com dureza mais alta são usados
contracorpo, possibilitando, assim, riscos
para minimizar a penetração e,
mais profundos no primeiro corpo (amostra).
consequentemente, a taxa de desgaste. 7
Um exemplo de abrasão a dois corpos é o
Esse é o tipo de desgaste que mais
desgaste provocado no sistema amostra-lixa.
ocorre nos equipamentos e peças das
No desgaste a três corpos, as partículas
indústrias, sendo o responsável por mais de
abrasivas estão livres, o que permite o
50% dos fenômenos de desgaste ocasionados.
rolamento destas entre a amostra e o
Na indústria sucroalcooleira, por exemplo,
contracorpo que, consequentemente, gastam
esse tipo de desgaste é o que mais propicia a
apenas parte do tempo atuando no riscamento
deterioração de peças e equipamentos.8 A
da superfície. A literatura mostra que testes de
Figura 2a ilustra o desgaste abrasivo de baixa
desgaste abrasivo a dois corpos produzem
tensão.
taxas de desgaste de uma a três ordens de
Abrasão de alta tensão (severa)
grandeza maiores que a abrasão a três corpos,
Ocorre quando os materiais abrasivos,
quando estão sob condições de carga
ao serem forçados a passar entre duas
comparáveis. 6
Outra classificação muito
superfícies sob tensão, são aprisionados pelas
encontrada na literatura subdivide o desgaste
mesmas. As cargas são suficientes para
abrasivo em três categorias: “abrasão de baixa
causar, além da penetração da partícula nas

3
superfícies de tensão, a fragmentação do arranque. 5

material abrasivo. Esse desgaste é comum em Micromecanismos de desgaste por

equipamentos das moendas de cana-de- abrasão

açúcar, onde as superfícies ficam sujeitas a Segundo Eyre8, os micromecanismos

altas tensões de compressão. O dano de desgaste abrasivo podem ser dúcteis

superficial é devido à combinação de (microssulcamento e microcorte) ou frágeis

riscamento e deformação plástica, comumente (microtrincamento ou lascamento), como

resultante de fadiga. A Figura 2b ilustra o descritos a seguir e ilustrados pela Fig. 3.

desgaste abrasivo de alta tensão. Este dano a) Microssulcamento

pode ser minimizado pela seleção de Segundo Stachowiak apud Lima 6


no

materiais com alta dureza e alta resistência ao microssulcamento (Figuras 3a e 3b) ocorre a

escoamento. 8 interação entre a partícula e o abrasivo em

Abrasão por arranque (extrema) condições dúcteis, provocando o

A abrasão por arranque envolve a deslocamento total do volume de material (ou

remoção de material da superfície de um fase), deformando plasticamente para as

componente, submetido a altas tensões e laterais do sulco e formando saliências.

impacto localizado pela ação cortante de Durante a primeira etapa do

grandes partículas abrasivas. O corte causado microssulcamento, não há perda de material

pelo abrasivo produz grandes sulcos e efetivo, entretanto pela interação simultânea e

ranhuras na superfície desgastada, conforme sucessiva de várias partículas, as condições de

ilustra a Figura 2c.8 desgaste (carga, tipo de material e abrasivo)

podem levar à perda de material.

Figura 2: Mecanismos de desgaste por


abrasão: a) abrasão de baixa tensão; b)
abrasão de alta tensão e c) abrasão por
4
ilustrado pela Figura 3d. Nesse mecanismo,

típico de condições frágeis de desgaste, a

interação entre a partícula e o material leva ao

destacamento de grandes fragmentos, os quais

podem ser maiores que a dimensão do próprio

risco devido à formação e a propagação de

Figura 3: Ilustração esquemática dos trincas durante o evento.


principais micromecanismos de desgaste
abrasivo: microssulcamento (a e b); A transição da abrasão suave para a
microcorte (c) e microtrincamento (d). 6
severa está sempre associada à transição dos
b) Microcorte
mecanismos de desgaste, como a mudança do
De acordo com Stachowiak apud Lima
microssulcamento para o microcorte e/ou
6
, se as condições de desgaste não permitem
microtrincamento.6
grandes níveis de deformação plástica do
Segundo Gates4, se estiver ocorrendo o
material, ocorrerá o mecanismo chamado
microcorte, por exemplo, para diminuir a
microcorte ou microrriscamento, como
severidade do sistema, têm-se duas soluções:
ilustrado pela Figura 3c. Nesse tipo de
mudar as condições de contato (carga,
mecanismo, a perda de massa ocorre devido
velocidade, etc.) ou simplesmente aumentar a
ao corte do material pelo abrasivo. Se as
dureza da superfície para diminuir a
condições favorecem o microcorte puro, o
profundidade de penetração. Fisher apud
volume de material perdido é igual ao volume
Lima6 afirma que, em materiais contendo
do risco produzido.
fases duras, o desgaste ocorre
c) Microtrincamento
predominantemente por indentação ou
Conforme Stachowiak apud Lima6,
rolamento de partículas (abrasão a três-
quando altos níveis de concentrações de
corpos), pela dificuldade das partículas
tensão são impostas ao material pelas
abrasivas riscarem o metal. Os processos de
partículas, particularmente na superfície de
desgaste podem ser simulados em laboratório;
materiais duros ocorrerá o microtrincamento,
5
para isso, diversos equipamentos são riscamento. A borracha cede de tal forma que

construídos com essa finalidade. Dentre os o abrasivo não é fragmentado e, com isso, as

mais conhecidos tipos de equipamentos para condições para baixa tensão são mantidas.

este tipo de estudo, pode-se citar: tribômetro Neste ensaio, o corpo de prova é pressionado,

tipo pino-contra-disco (pin-on-disc), por meio de um braço de alavanca com um

abrasômetro tipo roda de borracha entre peso especificado, contra a roda de borracha

outros. Neste trabalho, será utilizado um rotativa, enquanto um fluxo controlado de

equipamento de ensaio de desgaste tipo roda areia esmerilha a superfície. Os corpos de

de borracha. prova são pesados antes e depois do ensaio, e

Abrasômetro tipo Roda de a perda de massa é determinada. O desgaste é

Borracha quantificado via perda de massa pela pesagem

O teste de abrasão com roda de dos corpos de prova antes e após o ensaio.

borracha é o teste mais largamente usado para Devido à grande diferença entre a densidade

classificar materiais que estão sujeitos à dos materiais, para possibilitar a comparação

abrasão à baixa tensão em serviço como, por entre esses, torna-se necessário converter a

exemplo, equipamentos do setor perda de massa para perda de volume, em

sucroalcooleiro.9 Há uma boa correlação entre milímetros cúbicos. A Figura 4 ilustra a

os resultados destes testes e experiências de configuração do equipamento.

campo.

Esse teste tem seu procedimento

estabelecido pela norma ASTM G65- 00,

200010 e consiste em riscar um corpo de prova

retangular com areia de tamanho de grão e

composição controlados. O abrasivo é

introduzido entre o corpo de prova e a roda de


Figura 4: Esquema simplificado do
borracha de dureza especificada, provocando
equipamento para ensaio de desgaste abrasivo
6
de baixa tensão descrito na norma ASTM combinações possíveis. Os aspectos a serem
G65-00, 20005,10
considerados na seleção são as condições de
Classificações das ligas de
serviço (tipo de desgaste), método de
revestimentos duros
aplicação do revestimento e relação
Operação de revestimento pode ser
custo/benefício da liga de revestimento.
definida como a aplicação de uma camada de
A maioria das ligas para resistir ao
material resistente ao desgaste em superfícies
desgaste é produzida por consumíveis
desgastadas (ou vulneráveis ao desgaste) de
depositados por soldagem. A faixa de dureza
um componente por um processo de soldagem
se encontra normalmente entre 40 e 60
predominantemente. Os materiais utilizados
HRC.11
na operação de revestimento por soldagem
De acordo com Buchely apud Lima 6,
podem ser classificados em dois grupos: ligas
eletrodos ricos em cromo são grandemente
de revestimento duro (ligas de desgaste metal
usados para a aplicação com revestimentos
com metal e ligas de abrasão metal com terra)
duros, devido ao seu baixo custo e
e de construção (fabricação). 5

disponibilidade. Entretanto, ligas ricas em


Conforme Menon apud Corrêa , a 5

vanádio e tungstênio, apesar de mais caras,


seleção de uma liga de revestimento duro
oferecem melhor desempenho devido à boa
depende muito da natureza do processo de
combinação entre dureza e tenacidade.
desgaste encontrado, o qual pode ser causado
Eletrodos ricos em carbonetos complexos
por inúmeros fatores, tais como abrasão,
diferentes dos CrC também são usados,
impacto, erosão, alta temperatura e corrosão,
especialmente quando o desgaste abrasivo é
atuando exclusivamente ou em combinação.
acompanhado por outros mecanismos de
Nesse sentido, várias propriedades diferentes
desgaste.
são requeridas das ligas de revestimento para
Conforme Buchanan, Shipway e
que estas possam resistir a esses diferentes
McCartney apud Lima6, ao escolher uma liga
mecanismos de desgaste e todas as
para revestimento duro, deve-se levar em

7
conta a sua soldabilidade, os custos e a resistência ao desgaste abrasivo

compatibilidade metalúrgica. Dentre as A dureza, o tamanho e a forma do

diversas ligas desenvolvidas, os revestimentos abrasivo são fatores importantes no processo

à base de ferro são os mais populares na de desgaste, bem como as características do

indústria sucroalcooleira, devido ao seu custo projeto (tipo de estrutura, distribuição de

relativamente baixo e à fácil aplicação. A sua cargas, solicitações, lubrificação, temperatura,

composição é frequentemente de uma meio ambiente, etc.), as condições

estrutura hipoeutética ou hipereutética e a operacionais (área de contato, pressão de

resistência ao desgaste, atribuída a uma contato e condições superficiais). Além

microestrutura de carbonetos duros dispersos desses, a composição química, a

em uma matriz relativamente macia. As ligas microestrutura e as propriedades do material,

com alto Fe-Cr-C são particularmente como dureza, módulo de elasticidade,

atrativas porque os carbonetos podem formar propriedade de escoamento (encruamento),

uma grande variedade de microconstituintes, propriedade de fratura (tenacidade) são

provendo um aumento da resistência à igualmente importantes. A resistência ao

abrasão. desgaste é fortemente influenciada pelas

As ligas Fe-Cr-C são suscetíveis às propriedades dos revestimentos duros, como a

trincas de solidificação, as quais aliviam as microestrutura, a morfologia dos carbonetos,

tensões de soldagem, mas, no caso de a dureza e a diluição, este assunto será

aplicações onde o componente está sujeito à abordado a seguir.9

vibração ou impacto, podem levar à Efeito da microestrutura e

fragmentação do revestimento. Em função resistência ao desgaste

disso, busca-se incessantemente a obtenção de Kotecki e Ogborn apud Lima6 os

ligas que apresentem um bom desempenho de revestimentos duros à base de ferro formam

resistência ao desgaste e tenacidade.5 um grande número de microestruturas e

Propriedades do revestimento e composições que proveem diferentes graus de

8
resistência à abrasão. ricos em Mo (M2C) e ricos em tungstênio

O aumento dos teores de C e Cr reduz (WC), como mostra a Figura 5b.

a possibilidade de formação de austenita

primária e favorecem o aumento da formação

de microestrutura composta de carboneto

primário do tipo M7C3 e eutético austenita- Figura 5: Microestrutura de revestimentos


duros: a) rico em W e b) rico em carbonetos
carboneto (M7C3), a microestrutura que complexos.6

apresenta maior resistência à abrasão de baixa A Figura 6 compara a resistência ao

tensão. 12
Segundo Buchely et al. apud Lima6, desgaste abrasivo em ensaio Roda de

diferentemente dos revestimentos ricos em Borracha dos revestimentos estudados por

Cr, o revestimento rico em W pode Buchely et al. apud Lima6, onde se observa a

proporcionar uma muito boa resistência ao superioridade dos carbonetos complexos na

desgaste abrasivo na primeira camada pela terceira camada, seguido do revestimento rico

formação de microestrutura composta por em cromo (segunda camada). Nos

carbonetos duros do tipo M6C (1600 HV) e revestimentos em primeira camada, o melhor

carbonetos massivos MC (2500 HV) em uma resultado foi da liga rica em W, seguido da

matriz eutética (Figura 5a) e na presença de liga rica em Cr e, por fim, da liga rica em

alguma martensita. Outro tipo de carbonetos complexos (NbC M7C3, Mo2C). As

revestimento trata de depósitos efetuados com primeiras camadas apresentaram resistência

eletrodos revestidos ricos em carbonetos ao desgaste inferior às camadas posteriores.

complexos. Na primeira camada, observou-se

uma matriz eutética com partículas duras ricas

em Nb e Mo, finamente dispersas. Na

segunda e terceira camadas, a microestrutura

foi similar à primeira, incluindo carbonetos

ricos em cromo (M7C3) ricos em Nb (MC), Figura 6: Resistência ao desgaste abrasivo

9
em multicamadas.6 microestruturas de revestimentos com dureza

Segundo Wang apud Lima6, com similar podem apresentar diferentes

relação ao reforço do revestimento duro com resistências ao desgaste.

carboneto de titânio (TiC), a composição do

fluxo do eletrodo é o fator-chave que afeta a

estrutura, a quantidade de TiC e as

propriedades do revestimento. Com o Figura 7: Distribuição de partículas de TiC


na camada de revestimento duro. a)
aumento da quantidade de FeTi e TiO 2, a micrografia óptica e b) morfologia MEV6.

formação de reações metalúrgicas de TiC Morfologia de carbonetos e

aumenta no revestimento. Como resultado do resistência ao desgaste abrasivo

reforço do revestimento com carbonetos de Conde11 ressalta que o tamanho e a

titânio, a dureza também é aumentada, distribuição dos carbonetos na matriz

levando a um significativo aumento da sua apresentam um aspecto fundamental e que a

resistência ao desgaste. Entretanto, devido à maior quantidade e homogeneidade, aliada ao

difusão de partículas de TiC, a sua quantidade menor tamanho desses, resultam em maior

aumenta na escória sobre o cordão de solda. A resistência ao desgaste.

microestrutura do revestimento duro é Para uma determinada fração

composta por partículas de TiC volumétrica de carbonetos, a resistência ao

irregularmente esféricas, uniformemente desgaste abrasivo é aumentada para

distribuídas e separadas pela matriz carbonetos finamente distribuídos com um

martensítica e austenita retidas, como pequeno espaço entre partículas. Materiais

ilustrado na Figura 7. para trabalhar e resistir ao desgaste abrasivo

Segundo Kotecki e Ogborn apud possuem fases duras dentro de uma matriz

Lima6, a microestrutura é um fator mais macia. O desempenho desses materiais

primordial que a dureza na resistência ao depende do tamanho da região de fase dura

desgaste, tendo em vista que diferentes em comparação com a escala de deformação

10
causada por partículas individuais abrasivas Embora se espere que revestimentos com

(área de penetração da partícula sobre o maior dureza tenham, consequentemente,

metal).13 maior resistência ao desgaste, observam-se

Bálsamo14 afirma que a composição algumas contradições na literatura corrente,

química dos eletrodos é altamente como apresentado em sequência.

correlacionada com os parâmetros A taxa de desgaste depende do grau de

microestruturais dos cordões de solda, penetração do abrasivo na superfície, e é,

representados pela porcentagem volumétrica portanto, função da dureza do mesmo. Se a

de carbonetos, quando o carbono é mais dureza do abrasivo é muito superior à dureza

importante que o cromo (liga FeCrC, com C da superfície, o desgaste é severo. Caso

variando de 2% a 6% e Cr de 25% a 35%) no contrário, a taxa de desgaste é pequena. Em

aumento da porcentagem volumétrica de relação à dureza do material, é comum

carbonetos totais e carbonetos primários. pensar-se que maiores durezas fornecerão

Para Bálsamo14, o aporte de energia sempre menores taxas de desgaste, mas há

tem grande influência na morfologia da controvérsias quanto a essa questão, quando

microestrutura dos revestimentos duros, em diversos autores afirmam que a dureza do

particular no tamanho médio da mesma, material não está, necessariamente,

quando o menor aporte térmico e, relacionada com a sua resistência ao desgaste.

consequentemente, a maior velocidade de Isso é verdadeiro em condições de abrasão à

solidificação levam ao refinamento da baixa tensão, tal como areia deslizando numa

microestrutura. superfície, onde a maior resistência ao

Dureza e resistência ao desgaste desgaste é obtida com o emprego de ligas de

Segundo Scotti e Rosa15, a dureza dos elevada dureza. Entretanto, materiais com

revestimentos é mais influenciada pela valores de dureza iguais podem ter resistência

microestrutura, a qual, por sua vez, depende ao desgaste diferente, como consequência de

do calor imposto e da composição química. diferenças microestruturais.16 Paranhos12

11
afirmam que a macrodureza tem sido ataque, de martelos e facas, tem um alto nível

relacionada equivocadamente com a de complexidade devido ser um sistema

resistência ao desgaste abrasivo, pois os tribológico, com isto, se faz necessários

ensaios de dureza realizados são quase estudos complementares na busca de

estáticos, e as durezas obtidas não se substituir as regiões dos martelos e facas

correlacionam muito bem com o desgaste sob recobertas por solda dura, visando reduzir o

condições em que a superfície metálica é desgaste dos componentes e, desta maneira,

atingida por partículas em velocidades espaçar mais o tempo entre as manutenções

relativamente elevadas. corretivas.

Wainer17 afirmam que o desgaste de

materiais puros é diretamente proporcional à REFERÊNCIAS

sua dureza, enquanto nas ligas, essa 1- ZUM GAHR, K. H. Microstructure and

proporcionalidade pode ser considerada até Wear of Materials. Tribology Series, v. 10,

um determinado valor de dureza, a partir do Elsevier Science Publishers, Amsterdan,

qual a resistência ao desgaste cresce com 1987, 560p.

menor intensidade, podendo até mesmo 2- RIBAS, P.R.F. Fatores que afetam a

diminuir. Bálsamo14, em seu trabalho, resistência ao desgaste de aços e ferros

justificou que o aumento da porcentagem fundidos utilizados em componentes

volumétrica de carbonetos primários leva a mecânicos que trabalham em mineração.

um aumento da dureza do depósito e a uma São Paulo: Anais 570. ABM, 2002. p.1810-

melhora do desempenho em abrasão de baixa 1819.

tensão. 3- BUDINSKI, K. G. Hardfacing V –

Choosing a Process. Welding Design &

CONCLUSÂO Fabrication. USA: Editora Prentice Hall,

Esta revisão demonstrou que a 1987, p.75- 78.

avaliação do efeito do desgaste dos bordos de 4- GATES, J. D. Two-body and three-body

12
abrasion: A critical discussion. Wear. v. 214, 26 p..

1998, p. 139 –146. 10- NORMA ASTM G65-00, 2000.

5- CORRÊA, E. O. Avaliação de Resistência 11- CONDE, R.H. Recubrimientos resistentes

ao Desgaste de Ligas Desenvolvidas para a al desgaste. Boletín Técnico Conarco, n. 85,

Solda de Revestimento Duro para Uso Sob p. 2-20, dec. 1986.

Condições Altamente Abrasivas. 2005. 139. 12- PARANHOS, R. P. R.; MELLO, R. S. T.;

(Tese de Doutorado)-Universidade Federal de PAYÃO FILHO, J. C. Influência dos

São Carlos, São Paulo, 2005. Parâmetros de Soldagem com Arco

6- LIMA, Aldemi Coelho. Estudo da Submerso Empregando Fluxo Ligado e

Aplicação de Revestimento Duro por Arame de Aço-C nas Características de

Soldagem com Arames Tubulares Quanto Revestimento de Ligas Fe-Cr-C Resistentes

à Resistência ao Desgaste de Facas ao Desgaste Abrasivo. XXIV Encontro

Picadoras de Cana-de-Açúcar. 2008. 232. Nacional de Tecnologia da Soldagem, XI

(Tese de Doutorado)-Universidade Federal de Congresso Latino-Americano e V Ibero-

Uberlândia, Minas Gerais, 2008. Americano de Soldagem. Fortaleza – Ceara.

7- DAVIES, V.H.; BOLTON, L.A. The 20 - 23 de set. 1998.

mechanism of wear. Weld Surfacing and 13- HUTCHINGS, I. M. Tribology: Friction

Hardfacing. The Welding Institute, and wear of engineering materials. CRC Press

Cambridge, U.K, 1980, p. 4-10. Inc., Boca Raton, USA, 1992, 273 p.

8- EYRE, T. S. Friction and Wear 14- BÁLSAMO, P. S. S. Influência dos

Mechanisms. Revista ABM. II Seminário Teores de Carbono, Cromo e Energia de

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Uberlândia–Minas Gerais. dez. 1991. de Ligas Soldadas da Classe Fe-Cr-C. 1995.

9- NOBLE, D. N. Factors Wich affect 138. (Dissertação de Mestrado em Engenharia

Abrasive Wear Resistance of Hardfacing Mecânica)-Universidade Federal de

Weld Deposits. The Welding Institute, 1984, Uberlândia, Minas Gerais, 1995.

13
15- SCOTTI, A.; ROSA, L. A. A. Influence

of Oscillation Parameters on Crack Formation

in Automatic Fe-B Hardfacing. Journal of

Materials Processing Technology,

Amsterdam, jun. de 1997.

16- HERNÁNDEZ, O. J. S. Otimização do

Consumível na Solda de Revestimento

Aplicada na Indústria Sucroalcooleira.

1997. 102. (Dissertação de Mestrado)-

Universidade Federal de São Carlos, São

Paulo, 1997.

17- WAINER, E.; BRANDI, S. D.; MELLO,

F. D. H. de. Soldagem: processos e

metalurgia. 2. ed. São Paulo: Edgard Blucher,

1992.

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