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Direito e Moral: distinções entre as explicações de Bentham, Du Pasquier e Jellinek.

Desde o início da vida humana em sociedade, os indivíduos são movidos e organizados


através de valores, convicções e preceitos morais imprescindíveis para o convívio harmônico
em conjunto.
Ao longo da história da humanidade, diversos pensadores, filósofos e cientistas sociais
procuraram explicar as relações interpessoais e como elas se estabelecem entre si. Dentro dos
estudos e pesquisas desses intelectuais, vale destacar a discussão da relação entre Direito e
Moral, que possui diversas interpretações distintas e complementares no ramo filosófico e
jurídico.
Na obra jurídica ‘Introdução ao Estudo do Direito’ do professor Paulo Nader, é possível
ver essa pauta ganhando espaço para discussão através da Teoria dos Círculos e do Mínimo
Ético, sendo esta a que defende que o Direito deve ter o mínimo de ética e moral para garantir
o bem-estar social e uma convivência harmônica em sociedade.
Vale destacar as distinções expostas que explicam que o Direito vive em constante
mudança de acordo com as necessidades do ser humano. Já a Moral se relaciona com os
princípios e valores que guiam cada pessoa nos pontos que o indivíduo se encontra com
outros. Nos textos, o autor busca trazer e explicar diferentes pontos de vista que expliquem a
relação entre Direito e Moral, citando as visões de filósofos e juristas, como Jeremy
Bentham, Claude Du Pasquier e Georg Jellinek.
Segundo o próprio Paulo Nader, “Direito e Moral são instrumentos de controle social que
não se excluem, antes, se completam e mutuamente se influenciam”. Ainda de acordo com o
autor “seria um grave erro, portanto, pretender-se a separação ou o isolamento de ambos,
como se fossem sistemas absolutamente autônomos, sem qualquer comunicação, estranhos
entre si”. (NADER, 1997).
O filósofo Jeremy Bentham era adepto ao pensamento utilitarista e sustentava a teoria de
que os indivíduos buscam mais prazer do que dor. Bentham também defendia a ideia de que o
Direito deveria se adaptar às circunstâncias para garantir a felicidade ao máximo de pessoas,
ou pelo menos a maioria delas. O utilitarismo rompia com pensamentos antigos que
afirmavam que o indivíduo deveria se afastar de seus prazeres e suas paixões. Na corrente
filosófica apoiada por Jeremy, o homem deveria fugir da dor e buscar o prazer, o qual deveria
beneficiar o maior número de pessoas possíveis e maximizar o bem-estar de todos. A partir
disso, seria possível avaliar se uma ação é justa ou não e como as pessoas deveriam agir.
Ainda dentro das análises de Bentham, é imprescindível citar a teoria dos Círculos
Concêntricos, que explica que um círculo estaria dentro do outro, enquanto o maior seria a
representação da Moral, e o menor seria a representação do Direito. Tal visão dá a entender
que o Direito utilizaria do mínimo que fosse necessário para que o homem pudesse ter uma
vida organizada socialmente. Então, as normas morais seriam muito maiores que as normas
jurídicas, pois o Direito só trataria do que fosse essencial e considerado relevante, enquanto a
Moral trataria de mais assuntos amplamente e nem todos eles seriam considerados
importantes para o Direito.
De acordo com a teoria dos Círculos Secantes defendida pelo jurista Claude Du Pasquier,
o Direito e a Moral estariam em círculos distintos que se encontrariam em determinado
ponto, compartilhariam pensamentos e ideias semelhantes, mas ainda assim existiriam com
pensamentos divergentes independentemente um do outro. Ou seja, um não iria interferir no
outro, pois existem questões do Direito que não dizem respeito à questão Moral. Como
exemplo, é possível citar que um indivíduo tem o dever de responder a uma intimação
jurídica em certo período de tempo, porém o ato de não cumprir com tal dever não afetaria
em nada a Moral pois não existem regras morais que regulam o caso, pelo fato de serem
exclusivamente questões jurídicas e processuais. Assim como o caso de filhos serem
desobedientes com os pais ou parentes, que é um ato malvisto pela ótica moral, mas que não
existem normas jurídicas que possam interferir legalmente, exceto em casos de violência e
semelhantes.
Para Georg Jellinek, o Direito é um campo concêntrico dentro da moral, sendo
compatível com a teoria de Jeremy Bentham. Ou seja, ele defende que o Direito regula parte
da moral, mas está sempre dentro dela. Como exemplo do pensamento de Jellinek, é possível
citar o adultério, que é uma prática tida como condenável pelo ponto de vista da moral, mas é
lida com outros olhos pelo Direito. Até 1940, o adultério era listado como crime pelo Código
Penal, mas com o avanço das perspectivas e dos pensamentos sobre o Direito, a prática não é
mais interpretada como algo tão grave a ponto de ser apenada. Em 2005, o adultério foi
retirado do Código Penal e, desde então, não é mais visto como crime, mas ainda é malvisto
pela ótica moral.
Além do adultério, também é possível citar como exemplo a prática da corrupção
política, que é primordialmente vista como errada pelos valores morais, mas que foi preciso
criar diferentes mecanismos e novas leis para que tal conduta fosse criminalizada de acordo
com as normas do Direito para assegurar o bem-estar social o máximo possível.
Partindo da análise desses diferentes pontos de vista, é possível perceber como Direito e
Moral coexistem até mesmo quando as semelhanças e concordâncias são mínimas, e que
ambas se complementam em determinado ponto.

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