Você está na página 1de 13

1

UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA


CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO

EDU 210
Prof. Eduardo Simonini Lopes

HUMANISMO
"Na ética humanista, o bem é a afirmação da vida, o desenvolvimento das capacidades do
homem. A virtude consiste em assumir-se a responsabilidade por sua própria existência".

Erich Fromm

CARL ROGERS (1902-1987)

Pequena Biografia
Rogers foi um dos principais articuladores do movimento humanista. Ele passou
a sua infância em um ambiente de orientação protestante, ambiente este que influenciou
em muito o seu modo de ser por toda a sua infância e parte de sua juventude. Sua
família fechava-se em torno de si mesma, e considerava que as pessoas que não
participavam daquele círculo fechado eram suspeitas e pecadoras. Curiosamente então,
um dos grandes expoentes do Humanismo passou uma juventude difícil, com muitas
dificuldade de manter contato com as outras pessoas. Era um solitário à maior parte de
seu tempo.

Sua visão de mundo começou a mudar depois de ele Ter feito uma viagem à
China com um grupo de jovens. Foi o contato que Rogers travou com um novo modelo
cultural que abriu os olhos dele para o fato de que se pode viver sem se estar atrelado
em modelos prontos de comportamento. O modo chinês de viver era tão válido quanto o
dele. A partir dessa viagem, Rogers rompeu com a rigidez familiar e começou um
caminho de busca de auto-atualizar-se e a fim de se tornar o senhor de seu próprio
destino.

Em suas próprias palavras, Rogers se apresenta a nós da seguinte maneira: "Eu


sou americano, fruto de uma tradição democrática e influenciado pela visão de mundo
judaico-cristã-protestante. Fui exposto às visões de Freud, Adler, Rank, e
particularmente à visão behaviorista-positivista, e experimentei vários níveis de atração
e repulsão a todas essas teorias. Tive a sorte de viajar por vários lugares e Ter algum
contato com formas culturais de ver a realidade diferentes da minha. Mas o mais
importante na minha formação, acredito, é a influência de Ter sido psicólogo e
psicoterapeuta por mais de 30 anos, lidando com uma ampla e variada gama de
problemas".
2

Breve relação entre Rogers e Sigmund Freud


Da mesma forma que aconteceu com Freud, a teoria de Rogers a respeito do ser
humano surge em sua própria experiência clínica. Outro ponto em comum entre esses
dois autores reside no fato de que tanto o sistema freudiano quanto rogeriano se
fundamentarem em noções e hipóteses psicológicas e não fisiológicas (como por
exemplo foi a base do Behaviorismo).

Mas é interessante de se perceber que, enquanto em sua obra Rogers consagrou


o termo "tendência", esse termos encontra-se em Freud com bem maior fluidez, ora
derivando para "princípio", ora caracterizando-se em "pulsão" e em outros termos
correlatos a este.

Freud transportou as leis físicas das ciências exatas para a sua teoria do
psiquismo. O princípio da inércia daquelas ciências leva Freud a identificar no
organismo uma tendência a manter baixa e constante a excitação existente, formulando
o princípio do constância , ao qual ele submete o princípio de prazer.
Conseqüentemente, "a meta da vida é a morte". Antes de o organismo viver, era morte
(inércia), e depois de ser vida, caminha para a morte (inércia). O que o organismo
verdadeiramente intenta (noção de tendência) é caminhar para o repouso de onde saiu.
Para Freud, a aparente luta do organismo pela sua conservação, responde apenas a um
impulso parcial de conservação, no qual lhe está assegurado o seu peculiar caminho
para a morte, já que o organismo procura a morte como último objetivo.

Para Freud a vida parece um acontecimento fugaz. Para Rogers, tudo é vida,
vida em evolução e em constante progresso, aspecto este posto em dúvida por Freud.

Entende-se então porque a perspectiva de Rogers aparece como progressista,


com vista a uma vida mais ampla e plena. E entende-se também a aparência regressiva
da perspectiva freudiana, pois o organismo está sempre querendo (tendendo) a caminhar
para um estado original de repouso e inércia.

A proposta positiva do Humanismo


No Humanismo, o ser humano é visto por uma ótica positiva e otimista. Em uma
referência racionalista, a proposta do Humanismo supõe que existe uma essência
homem e que a mesma é boa, confiável e sempre tende ao crescimento, à realização, à
autonomia. O ser humano possui uma capacidade natural de se auto-compreender e
resolver os seus problemas. É uma proposta bastante diversa da apresentada pelo
Behaviorismo que considera que a autonomia humana é uma utopia, sendo que para esta
última teoria, todos os comportamentos humanos estão bem mais aptos a responderem a
exigências orgânicas, genéticas e/ou ambientais. Nesse ponto, Humanismo e
Behaviorismo se contrastam, porque se no Humanismo a liberdade e a auto-realização
são as finalidades básicas da vida, para o Behaviorismo tais fatores não são mais do que
ficções para se explicar comportamentos cujas variáveis não se encontram totalmente
visíveis.

O Humanismo vê o homem como potencialmente bom, desenvolvendo suas


capacidades quando o ambiente é propício. Tudo no universo tende ao crescimento;
3

tudo tende a uma positividade que se realiza sempre que encontra um ambiente
satisfatório. Rogers entende que há um processo interacional envolvendo uma tendência
inerente ao organismo de se desenvolver, e o meio ambiente que o circunda. Se o
ambiente não oferece suficiente suporte, a tendência ao crescimento será bloqueada ou
se produzirá um tipo distorcido de desenvolvimento.

"Um pinheiro tem sempre um ramo líder que o conduz a crescer. Quando esse
ramo é cortado ele cessará com seu crescimento. Todavia, na próxima primavera, outro
ramo horizontal toma o seu lugar. A árvore mostrou então sua qualidade direcional
como organismo. Em minha experiência na psicoterapia essa fé na tendência direcional
do crescimento do todo é uma das mais importantes sobre o homem. A psicoterapia só é
efetiva não quando quer produzir um tipo de homem, mas quando promove as
condições que potencializam o crescimento. Então, tendência direcionais produtivas,
trazem à tona resultados construtivos". (Carl Rogers)

E quando a pessoa é genuína em seus contatos com os outros, não trazendo


nenhuma falsidade escondida; havendo também congruência entre a experiência, a
percepção e sua comunicação..., a pessoa então se torna unificada e real no
relacionamento. Há um entendimento empático do outro, uma aceitação incondicional
da outra pessoa.

Principais Conceitos:
1) Campo de Experiência: cada indivíduo possui um campo de experiência
único e esse campo corresponde a tudo o que se passa no organismo em
qualquer momento. Tal campo corresponde a uma realidade individual,
subjetiva.

2) Self: constitui-se em uma Gestalt organizada e consistente, passando por um


processo constante de formar-se e reformar-se à medida que as situações se
modificam. O Self não corresponde a um conceito estático..., é sim algo em
constante movimento, em processo de vir a ser contínuo. O self é
constituído por percepções, símbolos, pensamentos, configurações.

3) Self Ideal: corresponde a um conjunto de características que o indivíduo


mais gostaria de reclamar como descritivas de si mesmo. O Self Ideal pode
ajudar com que a pessoa persiga objetivos na vida, como também pode fazer
com que o indivíduo se decepcione consigo mesmo por não conseguir atingir
uma imagem ideal de si mesmo e desista da tarefa que estava realizando. A
nível do self ideal que podemos colocar nossas ambições, nossas
expectativas futuras, pois ele não fala de um realizar-se aqui-agora... a
realização está sempre mais além, em um mundo supostamente mais
adequado. Pessoas por demais presas ao self ideal estão sempre deixando de
viver a intensidade do presente e esperando uma vida plena apenas para o
futuro quando, supostamente, esperam realizar os seus sonhos. Enquanto o
Self é um processo contínuo de transformação, o Self Ideal se mostra como
uma realidade estática a ser alcançada.
4

4) Congruência: é a expressão cristalina de seus sentimentos e sensações. É


como diz um ditado Zen-Budista: "Quando estou com fome, como. Quando
estou cansado, sento-me. Quando estou com sono, durmo". "Tive de
aprender a duras penas que nunca devia dizer que estava concedendo um
certo grau de liberdade ou de confiança que não estivesse disposto a
sustentar com todo o meu ser. Quando concedi uma certa liberdade e senti
depois que tinha que cerceá-la, o ressentimento foi incrível. É melhor não
conceber liberdade alguma, aprendi eu, do que estendê-la e depois tentar
fazê-la voltar às próprias mãos . Onde a liberdade e a confiança foram de
certa maneira limitadas, descobri ser melhor que esses limites sejam
explícitos." (Rogers). Ser congruente é se expressar da forma que se é e
como se sente. Congruência não apenas com o que se quer dizer, mas
também como se coloca no mundo.

5) Incongruência: é a não expressão do que se está realmente sentindo. Pode


ser vivenciada como uma tensão, uma ansiedade, confusão interna. A pessoa
não reconhece o que sente. Promovendo assim situações conflitantes. Rogers
considera que os mecanismos que promovem a incongruência são
conseqüências da cultura, sobretudo a ocidental, e não da natureza humana
como tal. Quando as pessoas têm realizar atos que não são espontâneos a sua
expressão, tendem a se sentir tolhidas e reprimidas. Todavia, tal repressão
muitas vezes não é sentida de forma explícita e o indivíduo nem se dá conta
de seu processo de incongruência e embotamento de sentimentos.

6) Tendência à auto- atualização: é um impulso inerente ao ser humano que o


faz progredir, crescer, amadurecer, ser apto e competente. Como uma
semente tem dentro de si um impulso para tornar-se árvore, assim também o
ser humano tem um impulso, uma potencialidade, para tornar-se um ser total.
Para o Humanismo, as forças positivas em direção à saúde e ao crescimento
são naturais e inerentes ao organismo. E nisso também não se pode
desconsiderar o universo sócio-familiar da formação de Carl Rogers, pois a
teoria da necessidade de auto-realização tem suas origens na ética
protestante, que enfatiza o esforço do indivíduo e a importância e o
compromisso com os resultados de seu próprio trabalho. Pela ética
protestante o indivíduo se realiza naquilo que faz e não pelas supostas
recompensas ou efeitos decorrentes do trabalho realizado. Passam a
estabelecer um nível de excelência e buscam ser consistentes. A tendência à
auto-atualização, além de básica, é também geral do organismo, o qual reage
como um todo organizado ao campo fenomenal (o meio ambiente coo
percebido).

7) Necessidade de consideração positiva: o ser humano tem necessidade


universal de amor e de consideração positiva. Segundo Rogers, em suas
atitudes a criança acaba por ser guiada não pelo caráter agradável ou
desagradável de suas experiências e comportamentos, mas pela promessa de
afeição que elas encerram. Todos têm necessidade de amor e
aprovação.Todavia, à medida que vive, o ser humano vai construindo
condições de valor que tendem a inibir a congruência das ações e dos
sentimentos e a acentuar a incongruência. De uma forma extrema, as
condições de valor são caracterizadas pela crença de que "preciso ser
respeitado e amado por todos aqueles com quem travo contato". Para
5

manter uma condição de valor, temos que negar determinados aspectos de


nós mesmos... e nisso nos alienamos de nós mesmos. Começam então a
surgir discrepâncias entre o comportamento do indivíduo e suas crenças e
valores..., e quando a pessoa não toma consciência disso, pode ocorrer várias
manifestações de ansiedade.

Para o Humanismo a vida plena é um processo, não um estado de ser. Viver


plenamente não consiste em se chegar a algum destino específico, mas sim se colocar
em uma direção, em um movimento... A vida plena é uma direção, não um destino. A
vida plena consiste em satisfazer as necessidades do organismo em cada momento e
situação. A vida plena não é um estado de redução de impulsos e tensões, ou um estado
de homeostase ou de equilíbrio, mas um processo inacabado de homeostase, de
transformação contínua... um deixar-se fluir. É um soltar-se das amarras e lançar-se no
desconhecido, com coragem.

Na década de 70, Raul Seixas escreveu a seguinte canção:


"Não sei onde estou indo,
Só sei que estou no meu caminho.
Enquanto você me critica
Eu estou no meu caminho.

Eu sou o que sou


Porque vivo da minha maneira.
Só sei que eu sinto
Que foi sempre assim minha vida inteira.

Desde aquele tempo


Enquanto o resto da turma se juntava
Pra bater uma bola,
Eu pulava o mundo com Zezinho
No fundo do quintal da escola.

Você esperando resposta


Olhando pro espaço...
E eu tão ocupado vivendo,
Eu não me pergunto,Eu faço!

E se você quiser contar comigo


É melhor não me chamar
Prá jogar bola
Pois estou pulando o muro com Zezinho
No fundo do quintal da escola."

A primeira estrofe é de profundo significado pois quando se escolhe trilhar seu


próprio caminho, arriscar-se a se lançar na vida e buscar maior congruência, não se sabe
mais para onde se está indo pois o seu próprio caminho só pode ser trilhado e
descoberto por você mesmo. Todavia trilhar seu próprio caminho é também estar
exposto a críticas, pois o caminho de cada um é sempre estranho ao outro. O novo quase
sempre nos aparece como feio, pois não nos reconhecemos nele. Um caminho cujo
traçado é conhecido é um caminho já feito por outro, não sendo um caminho próprio.
Diante disso, lançar-se no processo de auto-realização é também lançar-se em um
processo de fé e desconhecimento. Seria algo semelhante ao que Erich Fromm fala do
amor em seu livro "A arte de amar".
6

"Amar é dar-se sem garantias, na esperança de que o nosso amor produzirá


amor na pessoa amada. Amar é um ato de fé e quem tiver mesquinha fé, terá
também mesquinho amor."

A fé no potencial do outro, na capacidade construtiva do outro é uma das bases


do Humanismo. Viver, para o Humanismo, também está vinculado a confiar em suas
próprias potencialidades e se aventurar a conhecer-se.

Do ponto de vista humanista, as pessoas estão em melhor situação decidindo o


que fazer por si mesmas, com o apoio dos outros, do que fazendo o que os outros
decidem por elas.

Nisso temos que o Humanismo se diferencia do Behaviorismo por este último


não considerar um potencial inato humano para se conhecer, realizar-se, auto-atualizar-
se. Por sua vez , o Humanismo se diferencia também da Psicanálise no tocante ao fato
de que Freud concebe o homem como auto-destrutivo, regido pela Pulsão de Morte,
sendo que a agressividade humana é freada pelo Superego (através das normas impostas
pela Cultura e pelas Tradições).

CONDIÇÕES NECESSÁRIAS AO CRESCIMENTO E


DESENVOLVIMENTO POTENCIAL

Seriam estas abaixo citadas as condições necessárias para o crescimento


direcional de um indivíduo:

 Congruência

 Empatia: é a capacidade de conseguir se colocar no lugar do outro; de


conseguir vivenciar os sentimentos do outro e os pontos de vista da outra
pessoa como se fossem seus.

 Aceitação incondicional: é respeitar a pessoa pelo que ela é; é aceitar o


outro como ele é. A aceitação incondicional é considerada por Rogers como
o tipo de amor que mais promove o crescimento, pois a pessoa se torna feliz
pelo que ela é, e não pelo que ela deveria ser. "Eu te respeito quando você se
comporta da maneira como eu quero, mas não quando você se comporta de
outra forma"... isso não é uma aceitação incondicional do outro. No
momento em que você confia ao outro o direito e a responsabilidade e o
valor da própria existência, sem impor à outra pessoa sua própria visão da
vida, Rogers acredita que o outro encontrará seu própria caminho pessoal e
único no trajeto da auto-realização.

Há uma grande valorização da realidade subjetiva, sendo que a realidade


objetiva é o campo em que o indivíduo testa suas concepções de mundo. O próprio ato
de aceitar incondicionalmente o outro coloca a concepção rogeriana das relações dentro
7

de uma perspectiva subjetivista, sendo que o ato do outro não responderia a uma
realidade objetiva completamente mapeada, mas também a uma realidade subjetiva.
Considerando que todos possuímos uma forma particular de vivenciar o real, temos que
no Humanismo as pessoas são estimuladas a procurarem "sair" um pouco de si mesmas
e entenderem a perspectiva do outro. Compreender o ponto de vista do outro não
significa necessariamente concordar com tal visão, todavia é um ato de respeito à
expressão do outro no mundo.

Para Rogers, quando a pessoa se permite confiar em si mesma, em suas


tendências e intuições, ela demonstra possuir ações e reações mais significativas do que
as intelectualizadas. Uma "reação total" da pessoa, mais do que apenas uma reação
mental, tem muito a fazer pelo processo criativo de cada um. Quando o indivíduo está
atento a si mesmo, ele está mais livre para viver subjetivamente os seus sentimentos,
sejam eles de raiva, amor, rancor, felicidade, medo... e não fica a calar e a represar tais
sentimentos interiormente; ou considerar que os mesmos não lhe pertencem. Distorções
na percepção e na atenção a seus próprios sentimentos (o que caracteriza as posturas de
vida incongruentes), conduz os indivíduos a neuroses, paranóias, extremos de crueldade,
extremos de ilusão e de sentimentalismo.

Outra tendência humana salientada por Rogers, é que todo organismo está
faminto por relacionamentos nos quais ele possa ser ele mesmo. E esse relacionamento
genuíno é simplesmente uma profunda experiência mútua de ser verdadeiro um com o
outro como pessoa, como somos, como nos sentimos. A experiência de um encontro
genuíno entre duas ou mais pessoas (encontro com alguém em quem confiamos e que
confia em nós; alguém que nos ame e que amemos com a mesma certeza) é um prazer
imprescindível a nossa sobrevivência emocional.

Auto-Realização
"Auto-realização se refere à tendência de desenvolvimento que está intrínseca ao
organismo, ou mais acuradamente, ao que o organismo é."

Os princípios básicos de auto-realização seriam:

a) A personalidade normal é caracterizada por unidade, integração, consistência


e coerência

b) O organismo pode ser estudado diferenciando suas partes, porém nenhuma


parte pode ser estudada isoladamente...

c) O organismo possui um impulso para se auto-realizar que é inerente ao


mesmo.

d) Tendo condições apropriadas o organismo tenderá a desenvolver a totalidade


de suas potencialidades.

e) Os seres humanos devem ser considerados em termos de seus valores, de sua


ética, do sentido que ele dá à vida. Só sobrevivemos e crescemos se o
universo que nos envolve tem sentido para nós e se faz sentido nossa
interferência nele.
8

f) O homem é basicamente bom e não mau. Embora seja necessário que se


tenha precauções a respeito da condição de afirmar a "bondade" da natureza
humana, é todavia, possível rejeitar firmemente a crença desesperadora que
a natureza humana é basicamente depravada e doente.

Oito maneiras de agir a fim de entrar em processo de auto-realização:

- experienciar as situações de maneira total. Envolver-se por inteiro nas


experiências e deixar que a totalidade te absorva;

- a vida é um processo contínuo de escolha entre a segurança e risco: faça a


escolha pelo crescimento sempre que for possível;

- permita-se falar o que está realmente sentindo diante das situações...,


reconheça seus sentimentos e não tenha tantos temores ou culpas em
expressá-los;

- quando em dúvida, seja honesto. Ser honesto com os outros é também ser
honesto consigo mesmo. Assuma a responsabilidade pelos seus atos;

- ouça e dê valor a seus próprios gostos..., todavia, prepare-se para ser


impopular;

- use de sua inteligência..., busque fazer da melhor forma possível as coisas


que quer fazer..., não importa o quão insignificante elas pareçam ser.

- livre-se das ilusões e noções falsas... assuma suas capacidades e fraquezas...,


suas potencialidades e limites;

- descubra quem você é, o que você é, do que gosta e do que não gosta, o que
é bom e o que é ruim para você, para onde você está indo e qual é sua missão
nesta vida. Abrir-se a si mesmo dessa forma significa encontrar defesas,
medos, terrores... diante de si mesmo, encontre a coragem necessária para
superar-se.

Os 9 princípios da aprendizagem para Rogers

1 - Seres humanos possuem um potencial natural para aprender


2 - Aprendizagem significativa ocorre quando o material a ser estudado é percebido
pelo estudante como tendo relevância para seus próprios propósitos
3 - Aprendizagem que envolve a mudança na percepção de si mesmo tende a sofrer
maiores resistências
4 - A maior parte da aprendizagem significativa se dá no fazer, no estar envolvido em
uma atividade concreta.
9

5 - A aprendizagem é facilitada quando o estudante participa com responsabilidade do


processo de aprendizagem.
6 - Aprendizagens que envolvam o indivíduo como um todo, tanto a nível dos
sentimentos quanto a nível do intelecto, são as mais duradouras e significativas.
7 - A independência e a criatividade são facilitadas quando a autocrítica e a auto-
avaliação estão em primeiro plano, sendo que a avaliação e crítica dos outros é colocada
em um nível secundário de importância.

8 - A aprendizagem mais útil no mundo moderno é aprender sobre o processo de


aprender, estando-se aberto continuamente à experiência e à incorporação do processo
de mudança.
9 - Muito mais do que formação de Gestalts ou reforçamentos, a aprendizagem está
intrinsecamente vinculada à relação professor/alunos e à congruência, empatia, e
consideração incondicional envolvidos nessa relação.

O "espírito" da teoria rogeriana da não-diretividade pode ser resumida, de certa


forma, nas palavras do taoísta Lao Tsé, uma das referências filosóficas da teoria
rogeriana:

"Se eu deixar de interferir nas pessoas, elas se encarregarão de si mesmas.


Se eu deixar de comandar as pessoas, elas se comportam por si mesmas.
Se eu deixar de pregar às pessoas, elas se aperfeiçoam por si mesmas.
Se eu deixar de me impor às pessoas, elas se tornam elas mesmas."
10

Abraham Maslow (1908 - 1970)


"O estado de viver sem um sistema de valores é psicopatogênico. Os seres humanos necessitam de
uma referência de valores, uma filosofia de vida.., do mesmo modo que necessita da luz do sol e do cálcio e de
amor. A ausência de valores e de sentido pode ser chamado de apatia, desesperança, cinismo e pode também
vir a se somatizar em forma de uma doença física." (Abraham Maslow)

Abraham Maslow nasceu na cidade de Nova Iorque em 1908, filho de pais


judeus, imigrantes. Recebeu o título de Doutor em Psicologia no ano de 1934. Maslow
estudou o comportamento dos primatas e teve orientações no enfoque Behaviorista e no
Psicanalista. Graças à Segunda Guerra Mundial, muitos eminentes pensadores deste
século fugiram para os Estados Unidos, e Nova Iorque tornou-se um eminente polo de
saber de várias ciências, entre elas a Psicologia. Sendo assim, Maslow teve a
oportunidade de travar contatos com pessoas como Erich Fromm, Alfred Adler, Karen
Horney.

As contribuições de Maslow influenciaram muitos pensadores da Psicologia,


principalmente aqueles que começaram estudar um novo ramos chamado "Psicologia
Transpessoal". Os interesses de Maslow pelos negócios e pela aplicação prática da
Psicologia resultou em uma publicação chamada "Eupsychian Management", uma
compilação de pensamentos e artigos relacionados à Psicologia Industrial e
Administrativa, escrita durante um Verão em que Maslow estava na Califórnia como
"membro visitante" de uma pequena fábrica. Embora Maslow seja considerado um dos
fundadores da Psicologia Humanista, desagradavam-lhe as limitações dos rótulos:

"Nós não deveríamos Ter que dizer 'Psicologia Humanista'. O adjetivo deveria
ser desnecessário. Eu sou antidoutrinário... Eu sou contra qualquer coisa que
feche portas e corte possibilidades."

Hierarquia das Necessidades

Maslow estabeleceu o que veio a se chamar de uma hierarquia de necessidades


básicas humanas, que aqui está apresentada no sentido de uma facilidade em suprir e
realizar essa necessidade:

1) Necessidades fisiológicas : são necessidades que mantêm o equilíbrio do


organismo, correspondendo a fome, sede, repouso, atividade, apetites que
mantêm a homeostase

2) Necessidade de segurança (estabilidade, ordem, previsibilidade): manifesta-


se com maior clareza nas crianças, pois o adulto possui defesas estruturadas
que a disfarça. Mudanças bruscas tanto no organismo quanto no ambiente
geram inseguranças. Sua expressão ocorre na necessidade de rotina, de
organização, ritmo constante da vida, ordenação da realidade.

3) Necessidade de amor e pertinência: a esse respeito, Maslow assinala - "Ele


terá fome por relações afetivas com pessoas em geral, a saber, por um lugar
no seu grupo, e buscará com grande intensidade realizar esse objetivo. (...)
Em nossa sociedade a frustração dessa necessidade é comumente
encontrada no cerne de casos de desajustamentos e patologia mais severa".
11

4) Necessidade de estima: desejo de força, realização, domínio e competência,


de confiança frente ao mundo, independência e liberdade. Reconhecimento,
reputação, prestígio, consideração das outras pessoas.

5) Necessidade de auto-atualização: só pode emergir se e quando as outras se


encontram satisfeitas em grau aceitável pelo sujeito. Pode ser expressa em
um desejo do ser humano de plenificação do eu..., tendência para tornar
atualizado aquilo que é potencial.

Para Maslow as primeiras necessidades são as mais preponderantes no dia-a-dia.

O nível da necessidade de um grupo pode ser demonstrada a partir do tipo de


reclamação presente: se reclamam por comida ou por melhores condições de
desenvolvimento intelectual. As reclamações é que serão os guias para se tentar
localizar quais as motivações que podem vir a estar alimentando determinados
comportamentos. De acordo com o próprio Maslow:

"No desenvolvimento normal de uma criança já é sabido que, na maioria das


vezes, quando lhe é oferecida uma verdadeira livre escolha, ela irá escolher o que é
bom para o seu crescimento. (...) A criança sabe, melhor que qualquer pessoa, o que é
bom ou ruim para ela. Um regime permissivo não significa que os adultos é que irão
gratificá-la e suprir suas necessidades, mas sim que se crie condições para que a
própria criança gratifique-se e supra suas necessidades e faça suas próprias escolhas,
ou seja, que deixem a ela ser. É necessário, para que as crianças cresçam bem, que os
adultos tenham suficiente confiança nelas e em seu processo natural de crescimento.,
não interferindo demais, não apressando o crescimento, não forçando-as dentro de
determinados modelos, mas sim deixá-las crescer e ajudá-las a crescer mais em um
sentimento taoísta do que em um sentido autoritário. Mas sabemos também que a
completa ausência de frustração é perigosa. Para ser forte, uma pessoa deve adquirir
certa tolerância à frustração. (...) Nós aprendemos também a respeito de nossa própria
força e limites, através das dificuldades que temos que superar, lidando com desafios
ou mesmo falhando. (...)

O processo de crescer é o processo de tornar-se pessoa. (...) O crescimento não


possui apenas recompensas, mas também muitas dores intrínsecas, e sempre será
assim. Cada passo para frente é um passo no desconhecido, sendo assim possivelmente
perigoso. Significa também abandonar o que nos é familiar, o que nos dá segurança,
abandonar o que é bom e satisfatório. Crescer freqüentemente significa uma partida,
uma separação, o que gera conseqüente nostalgia, solidão, medo. Crescer também
muitas vezes significa desistir do que é uma vida simples e sem muitos esforços, em
troca de uma vida mais dificultosa e com mais obstáculos. Crescer, apesar de todas
essas perdas, requer coragem e força, assim como proteção e encorajamento vindos do
meio. (...) O crescimento possui tanto vantagens quanto desvantagens, assim como
também o não-crescimento.

(...) Para pessoas em processo a auto-realização, trabalhar tende a ser o mesmo


que brincar. Quando a tarefa torna-se prazerosa, trabalho e diversão fundem-se. (...)
Pessoas saudáveis tornam-se mais integradas. O que uma pessoa em processo de auto-
realização quer e gosta está apto para ser aquilo que irá fazer bem para ela. Suas
atitudes espontâneas passam a ser tão capazes, eficientes e certas, como se elas
tivessem sido pensadas com antecedência. (...)
12

a) a criatividade tem suas raízes nos processos irracionais;

b) a linguagem é e sempre será inadequada para descrever a totalidade do real

c) o que chamamos de "conhecimento" (o que geralmente é altamente abstrato)


freqüentemente serve para nos cegar para aquelas porções da realidade não
mapeadas por tais abstrações. Ou seja, nosso "conhecimento" nos faz mais
capazes de ver algumas coisas, mas menos capazes de ver outras coisas. O
conhecimento abstrato tem seus perigos, assim como sua utilidade.

(...) A habilidade das pessoas saudáveis de mergulhar nos domínios


inconscientes, a fim de usar e valorizar esses processos primários em vez de temê-los,
de aceitar seus impulsos em vez de sempre controlá-los, de ser capaz de regredir
voluntariamente sem medo... é uma das principais condições para o surgimento da
criatividade. (...) Pessoas psicologicamente saudáveis são mais capazes de se alegrar,
de amar, de rir, de serem tolas, de serem prazerosamente "loucas", e, no geral, de se
permitirem, valorizarem e apreciarem as experiências emocionais.

(...) A auto-realização não significa transcender os problemas humanos.


Conflitos, ansiedades, frustrações, tristezas, dores e culpas, podem sempre ser
encontrados em seres humanos saudáveis. (...) E no caminho da auto-realização o
indivíduo deve deixar de lado as técnicas que ele usava quando criança, sua fragilidade
e sua pequenês como uma forma de se adaptar ao mundo dos adultos. Ele deve
substituir as técnicas de fragilidade pelas técnicas de ser forte, independente, e de ser
um pai de si mesmo. O indivíduo deve aprender a gratificar a si mesmo, gratificar suas
próprias necessidades e desejos, ao invés de ficar a gratificar e a agir de acordo com o
desejo e a necessidade de seus pais. Deve aprender a deixar de ser bom por medo de
perder o amor dos pais, e sim ser bom porque deseja ser bom.

(...) Na medida em que falamos de 'bom' e 'mau'(...) o conceito de 'ajustamento'


surge em questão. Nós acabamos por nos perguntar: 'em que tipo de cultura ou
subcultura está a pessoa 'bem ajustada' , melhor ajustada?'. Ajustamento,
definitivamente, não é necessariamente sinônimo de saúde psicológica.
(tradução livre realizada por Eduardo Simonini Lopes, de parte do artigo "Some Basic
Propositions of a Growth and Self-Actualization Psychology" de Abraham Harold
Maslow)

A Educação para Maslow

1) A escola ideal deveria ser uma espécie de centro onde as pessoas pudessem
encontrar a si mesmas e àquilo de que gostam. Seu principal objetivo seria a
descoberta da identidade e, com ela a descoberta da vocação, realizando
aprendizagens do tipo intrínseco, capazes de realizar crescimento.
2) O modo de ensinar deveria trazer à consciência admiração pela vida,
mostrando aos alunos a beleza envolvida na matéria.
13

3) Um dos objetivos da educação seria mostrar o quão preciosa é a vida, pois


alegria de viver se transforma em um valor. Crianças são capazes de Ter
experiências culminantes e nelas uma profunda alegria pode ocorrer. Daí o
encorajamento de situações onde se sintam competentes, importantes e
capazes de auxiliar os menores, sendo também de fundamental importância o
encorajamento da criatividade.
4) Observar se as necessidades básicas dos alunos estão satisfeitas. Uma pessoa
não atinge a auto-realização se suas necessidades biológicas, suas
necessidades de segurança, amor e pertencer, dignidade, auto-estima,
respeito, não estiverem satisfeitas. Os indivíduos estão mais livres de
ansiedades quando se sentem amados, quando têm que os respeita e sabem
que pertencem ao mundo
5) Necessidade de controlar os impulsos, tendo consciência que controle não
significa repressão.
6) Lidar com problemas mais reais e imediatos e não com pseudo-problemas.
7) O professor deve ser mais receptivo do que intrusivo, condicionador,
acadêmico ou reforçador. Deve buscar aceitar os seus alunos, respeitando a
individualidade dos mesmos, sendo que é essa aceitação o veículo de
redução das ansiedades.
8) O professor, tanto no que se refere a si mesmo quanto aos alunos, deve
permitir a auto-expressão, a ação espontânea, a experiência e os erros .

BIBLIOGRAFIA
JOHNSON, D. W. - Contemporary Social Psychology
University of Minnesota, 1973, USA.

FRAGER, R. - Teorias da Personalidade


Editora Habra Ltda, 1986, São Paulo

ROGERS, C. - Liberdade de aprender em nossa época


Artes Médicas, 2ª edição, 1985, Porto Alegre

BERGAMINI, C. W. - Psicologia Aplicada à Administração de Empresas


Editora Atlas, 3ª edição, 1982, São Paulo

FROMM, E. - A Arte de Amar


Editora Itatiaia, 1991, Belo Horizonte

PASSOS, S. - Raul Seixas: uma antologia


Martin Claret, 9ª edição, 1997, São Paulo

Você também pode gostar