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Módulo 01

Anestesia Local

Curso EAD de Cirurgia


e Traumatologia
Bucomaxilofacial
SUMÁRIO
ANESTÉSICOS LOCAIS E VASOCONSTRITORES ...........................................4
ANESTÉSICOS LOCAIS ..................................................................................4
VASOCONSTRITORES ................................................................................10
ANESTESIA LOCAL E SUAS INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS ............12
ANESTÉSICOS LOCAIS ..................................................................................12
CONTRAINDICAÇÕES ................................................................................12
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS ..........................................................13
VASOCONSTRITORES ...................................................................................17
CONTRAINDICAÇÕES ................................................................................17
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS ..........................................................20
ESCOLHA DO ANESTÉSICO E CÁLCULO DE DOSE ANESTÉSICA .........23

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ANESTÉSICOS LOCAIS E VASOCONSTRITORES

ANESTÉSICOS LOCAIS

A anestesia local é um procedimento indispensável a qualquer intervenção cirúrgica


odontológica. Os anestésicos locais são substâncias químicas que bloqueiam os
potenciais de ação que transmitem os estímulos dolorosos temporariamente e,
por isso, são tão essenciais durante a abordagem cirúrgica.

Além de provocarem a anestesia no local desejado, estas substâncias possuem


alguns efeitos colaterais que devem ser considerados. A Figura 1 apresenta alguns
desses efeitos em diferentes sistemas.

Figura 1. Efeitos adversos frente ao uso de anestésicos locais em diferentes


sistemas.

SISTEMA NERVOSO CENTRAL: podem cau-


sar depressão desse sistema. Na presença de
superdosagem, a primeira manifestação clínica
é a convulsão e, por isso, o controle da dose é
tão importante.
MIOCÁRDIO E VASODILATAÇÃO PERIFÉ-
RICA: diminuem a excitabilidade elétrica do
miocárdio, a velocidade de condução e a força
de contração, além de produzirem vasodila-
tação periférica pelo relaxamento da muscu-
latura lisa das paredes dos vasos sanguíneos.

SISTEMA RESPIRATÓRIO: exercem um efeito


duplo sobre a respiração. Em níveis normais,
eles têm ação relaxante direta sobre o múscu-
lo liso brônquico, enquanto em níveis de super-
dosagem podem produzir parada respiratória.

Fonte: Elaborado pelos autores

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TIPOS DE ANESTÉSICOS LOCAIS:

Os anestésicos locais podem ser classificados de acordo com a sua função


orgânica em ésteres do ácido benzoico, ésteres do ácido paraminobenzoico e
amidas. Abaixo (Figura 2), podemos observar a divisão dos anestésicos conforme
sua função orgânica.

Figura 2. Tipos de anestésicos segundo função orgânica.

ÉSTERES DO ÁCIDO ÉSTERES DO ÁCIDO


AMIDAS
BENZOICO PARAMINOBENZOICO

Butacaína Articaína
Cloroprocaína
Bupivacaína
Cocaína
Procaína Dibucaína
Benzocaína
Etidocaína
Propoxicaína
Hexilcaína Lidocaína
Mepivacaína
Piperocaína
Prilocaína
Tetracaína
Ropivacaína

Fonte: Elaborado pelos autores

Os anestésicos do tipo éster deixaram de ser utilizados na prática odontológica de


forma abrangente, pois, durante sua degradação, acabam gerando um metabólito
com alto potencial alergênico: o ácido paraminobenzoico (PABA).

Por este motivo, os anestésicos locais mais utilizados em odontologia são:


lidocaína, mepivacaína, articaína, prilocaína e bupivacaína. O único éster que

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segue sendo usado é a benzocaína, que é aplicada de forma tópica.

Abaixo, organizamos um quadro que relaciona os principais anestésicos locais


com suas respectivas características, potências e toxicidade. Os que estiverem
destacados com um asterisco (*) são aqueles listados na RENAME (Relação
Nacional de Medicamentos Essenciais), ou seja, disponíveis para uso em todo
território nacional pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Benzocaína e mepivacaína,
normalmente, também estão disponíveis; entretanto, seguem a normatização da
REMUNE (Relação Municipal de Medicamentos Essenciais) e, por isso, terão sua
distribuição conforme pactuação de cada município.

Quadro 1. Principais anestésicos locais e sua relação de potência e toxicidade.

ANESTÉSICO PRINCIPAL CARACTERÍSTICA POTÊNCIA TOXICIDADE

Por ser um éster,


Utilizada em anestésicos
Benzocaína - apresenta maior risco
tópicos
de reação alérgica

Lidocaína* Anestésico local mais seguro 2 2

Quando não associada ao


vasoconstritor, apresenta
Mepivacaína 2 2
menor vasodilatação que a
lidocaína
Utilizada nos casos onde
Prilocaína* vasoconstritores adrenérgicos 2 1
estão contraindicados
Alternativa ao uso de lidocaína
Articaína 1,5 2
e mepivacaína

Anestésico local com maior Quatro vezes Quatro vezes menor


Bupivacaína*
tempo de duração a da lidocaína que a lidocaína

Fonte: Adaptado de Ferreira (2007) e Malamed (2013b).

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EXPLICANDO O QUADRO...

• A potência refere-se à quantidade de medicamento necessária para


produzir um efeito (neste caso, anestesia). Maior potência não significa
necessariamente que uma droga é melhor que a outra, mas sim que
precisamos utilizar doses maiores do medicamento menos potente para
alcançar o mesmo resultado que o mais potente. O parâmetro para avaliar
a potência dos anestésicos locais é feito através da comparação com o
cloridrato de procaína (primeiro anestésico local sintético injetável). Ou
seja, a potência da procaína é 1 e os demais são comparados a este valor.
Se tiverem valores maiores, significa que precisam de doses menores para
alcançar o mesmo efeito anestésico que a prilocaína.

E esta é uma característica extremamente importante para


o foco desse curso: entender a relação de potência de
cada anestésico local é essencial durante o planejamento
pré-operatório. Pois, dependendo da extensão da cirurgia,
anestésicos mais potentes podem ser utilizados, reduzindo
assim a quantidade de substância administrada no paciente.

• A toxicidade mede o quão nociva uma substância poderá ser para um


organismo e, assim como a potência, todos anestésicos são comparados à
prilocaína. Portanto, quanto maior o valor de toxicidade, menor é a quantidade
de substância que precisamos para atingirmos um nível nocivo ao organismo.

Além de características de propriedades, indicações, contraindicações e segurança


do anestésico local, a escolha do agente também se baseia no tempo de ação, ou
seja, quanto tempo desejamos ter efeito anestésico. Abaixo, temos a Tabela 1 que
mostra os efeitos anestésicos na polpa dentária e nos tecidos moles.

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Tabela 1. Principais anestésicos e seus respectivos tempos de ação

POLPA TECIDOS
SOLUÇÃO ANESTÉSICA
DENTÁRIA MOLES

Lidocaína 2% 5-10 minutos 40-120 minutos

Lidocaína 2% + epinefrina 1:50.000 ou 1:100.000 60-90 minutos 170-300 minutos

Mepivacaína 3% 20-40 minutos 90-180 minutos

Mepivacaína 2% + levonordefrina 1:20.000 60-90 minutos 130-300 minutos

Mepivacaína 2% + epinefrina 1:100.000 ou 1:200.000 45-60 minutos 120-400 minutos

Prilocaína 10-60 minutos 90-240 minutos

Prilocaína 4% + epinefrina 1:200.000 30-90 minutos 140-480 minutos

Prilocaína 3% + felipressina 0,03UI 60-90 minutos 180-300 minutos

Articaína 4% + epinefrina 1:100.000 60-75 minutos 170-360 minutos

Articaína 4% + epinefrina 1:200.000 45-60 minutos 120-300 minutos

Bupivacaína 0,5% + epinefrina 1:200.000 90-180 minutos 240-600 minutos

Fonte: Adaptado de Ferreira (2007) e Malamed (2013b).

Por fim, uma característica que precisamos estar atentos durante a escolha do
nosso anestésico é a de que todos os anestésicos locais injetáveis clinicamente
eficazes são vasodilatadores. O grau de vasodilatação pode variar de significativo

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(como é o caso da procaína) a mínimo (prilocaína e mepivacaína), além de ser
modificado de acordo com o local de injeção da solução e a resposta individual
do paciente. Após a introdução de um anestésico local nos tecidos, os vasos
sanguíneos (principalmente arteríolas e capilares) da área dilatam-se, resultando
em um aumento da perfusão/fluxo sanguíneo no local.

O único anestésico local que apresenta característica vasoconstritora é a


cocaína (entretanto, sua injeção é contraindicada pois temos disponibilidade de
anestésicos locais mais eficazes e menos tóxicos).

Para tanto, substâncias vasoconstritoras passaram a ser adicionadas aos tubetes


anestésicos, como forma de compensar o prejuízo da vasodilatação e os mesmos
serão descritos a partir de agora.

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VASOCONSTRITORES

Os vasoconstritores são fármacos adicionados aos tubetes para contrabalançar


o efeito vasodilatador dos anestésicos. Através dessa contração dos vasos, eles
controlam a perfusão tecidual/fluxo sanguíneo, ou seja, reduzem o sangramento
no local da administração, favorecendo assim a hemostasia transoperatória.

Além disso, como os vasoconstritores diminuem o fluxo sanguíneo para o local


de administração do anestésico, a absorção do anestésico local para o sistema
cardiovascular torna-se mais lenta, resultando em níveis sanguíneos menores
dessa substância. Por culpa desta absorção sistêmica reduzida, podemos observar
dois fatores muito relevantes da associação dos vasoconstritores ao tubete
anestésico:

1) Aumento no tempo de ação da anestesia local;

2) Diminuição do risco de toxicidade do anestésico.

Com a redução da absorção sanguínea do anestésico local, o anestésico


permanecerá no local desejado por mais tempo, aumentando diretamente o tempo
de ação destas substâncias e, indiretamente, reduzindo o risco de toxicidade, pois
como o anestésico não se dissolverá tão rápido, não há necessidade de aplicação
de maior quantidade da substância, evitando a superdosagem.

O conhecimento das características de cada anestésico local e vasoconstritor,


das suas potências, toxicidades e tempos de ação são extremamente importantes
para a nossa prática clínica. No decorrer da apostila, mais informações (como
doses máximas e interações medicamentosas de cada substância) serão descritas,
para que, ao unirmos todos estes dados, possamos realizar a escolha correta da
substância para cada caso.

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Ainda, no Material Complementar “Atuação dos Vasoconstritores”, podemos
observar de forma detalhada as ações dos mesmos em diferentes órgãos e
sistemas.

A seguir, falaremos sobre interações medicamentosas e implicações desses


diferentes fármacos.

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ANESTESIA LOCAL E SUAS INTERAÇÕES
MEDICAMENTOSAS
Uma das maiores preocupações do cirurgião-dentista é identificar as situações
em que alguma comorbidade ou condição específica (gravidez, por exemplo)
tornam o uso de anestésicos locais contraindicado. Abaixo, apresentamos as
contraindicações e interações medicamentosas mais relevantes.

ANESTÉSICOS LOCAIS

CONTRAINDICAÇÕES

A única contraindicação absoluta é a alergia comprovada ao anestésico local.

As demais contraindicações para o uso de anestésicos locais são relativas,


conforme descritas no quadro abaixo (Quadro 2).

Quadro 2. Descrição das principais contraindicações relativas do uso de


anestésicos locais

CONDIÇÃO CLÍNICA ORIENTAÇÕES

Não utilizar anestésicos ésteres, pois as enzimas


responsáveis pela sua metabolização estão afetadas,
Colinesterase podendo causar efeito de superdosagem do
plasmática atípica anestésico.

Fazer uso de amidas (lidocaína, bupivacaína,


prilocaína, mepivacaína ou articaína).

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Não utilizar prilocaína, pois doses excessivas deste
anestésico poderão gerar algum sintoma clínico de
Metahemoglobinemia
metahemoglobinemia. Portanto, a prilocaína pode ser
idiopática ou congênita
utilizada somente se for absolutamente necessário e
com dose mínima.

Utilizar os anestésicos de forma cautelosa (ou


Disfunção hepática seja, utilizar a menor quantidade possível de
significativa (ASA 3–4) tubetes), visto que o órgão não poderá fazer sua
metabolização de forma adequada.

Utilizar os anestésicos de forma cautelosa (ou


Disfunção renal seja, utilizar a menor quantidade possível de
significativa (ASA 3–4) tubetes), visto que o órgão não poderá fazer sua
metabolização de forma adequada.

Não utilizar prilocaína ou articaína para evitar o


Gravidez risco de desenvolvimento de metahemoglobinemia.
Nestes casos, a lidocaína deve ser utilizada.

Fonte: Adaptado de Ferreira (2007) e Malamed (2013a).

INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS

Alguns medicamentos não contraindicam o uso do anestésico local; mas ao


realizarmos anestesia local em um paciente que utiliza um fármaco específico,
podemos observar algumas reações. Estas alterações podem variar desde uma
leve hipotensão até uma parada cardiorrespiratória, dependendo da substância
e da dose. Para tanto, no Quadro 3, descrevemos as principais e mais relevantes
interações que os anestésicos locais apresentam.

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Quadro 3. Principais interações frente ao uso concomitante de anestésicos locais com outros fármacos

FÁRMACO EXEMPLO REAÇÃO

ANTAGONISTAS
β-ADRENÉRGICOS NÃO Propanolol O metabolismo hepático dos anestésicos locais do tipo amida pode ser ↓.
SELETIVOS
Depressão aditiva do SNC e SCV.
Orientação: usar anestésico local com cautela, ou seja, utilizar a menor
ANTIARRÍTMICOS Mexiletina e tocainida
quantidade possível de tubetes e realizar monitorização constante do
paciente.

Possível depressão aditiva do SNC e depressão respiratória. Podem


também ↑ a velocidade de metabolismo do anestésico local.
BARBITÚRICOS Fenobarbital (gardenal) Orientação: usar anestésico local com cautela, ou seja, utilizar a menor
quantidade possível de tubetes e realizar monitorização constante do
paciente.

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↓ neurotoxicidade, mas ↑ efeito cardiodepressor dos anestésicos locais.
Midazolam, diazepam, Possível depressão aditiva do SNC e depressão respiratória.
BENZODIAZEPÍNICOS alprazolam, lorazepam e Orientação: usar anestésico local com cautela, ou seja, utilizar a menor
oxazepan quantidade possível de tubetes e realizar monitorização constante do
paciente.

↑ ação dos bloqueadores.


BLOQUEADORES Orientação: usar anestésico local com cautela, ou seja, utilizar a menor
Succinilcolina
NEUROMUSCULARES quantidade possível de tubetes e realizar monitorização constante do
paciente.

Álcool, antidepressivos, anti-


histamínicos, antipsicóticos,
anti-hipertensivos de Possível depressão aditiva do SNC e depressão respiratória.
ação central, relaxantes Orientação: usar anestésico local com cautela, ou seja, utilizar a menor
DEPRESSORES DO SNC
musculares, outros quantidade possível de tubetes e realizar monitorização constante do
anestésicos locais, paciente.
substâncias ansiolíticas,
fenotiazinas

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↑ risco de bradicardia e hipotensão.
INIBIDORES DA
Orientação: usar anestésico local com cautela, ou seja, utilizar a menor
ENZIMA CONVERSORA Captopril e enalapril
quantidade possível de tubetes e realizar monitorização constante do
DE ANGIOTENSINA
paciente.
↑ risco de desenvolvimento de superdosagem dos anestésicos locais,
principalmente em crianças. Possível depressão aditiva do SNC e
depressão respiratória.
OPIÓIDES Codeína e morfina
Orientação: usar anestésico local com cautela, ou seja, utilizar a menor
quantidade possível de tubetes e realizar monitorização constante do
paciente.
Sulfanilamida,
sulfadiazina, sulfadimidina,
Os anestésicos locais do tipo éster não devem ser administrados em
SULFONAMIDAS sulfassalazinauso,
pacientes que estejam usando de sulfonamidas.
sulfametoxazol e
sulfacetamida
↓: significa “diminui”, “reduzido” ou “menor” / ↑: significa “aumenta”, “aumentado” ou “maior”
SNC: sistema nervoso central; SCV: sistema cardiovascular

Fonte: Adaptado de Ferreira (2007) e Malamed (2013a).

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VASOCONSTRITORES

Assim como os anestésicos locais, os vasoconstritores também são substâncias


capazes de gerarem efeitos adversos. E, por isso, a importância do conhecimento
destas relações.

Em comparação com as situações descritas para os anestésicos locais, podemos


observar abaixo um número aumentado de condições que contraindicam o uso
de vasoconstritores e, portanto, nosso olhar e planejamento deve ser ainda mais
atento.

CONTRAINDICAÇÕES

Absolutas

• Doenças cardiovasculares: angina instável, infarto do miocárdio recente


(há menos de 6 meses), cirurgia de revascularização miocárdica recente (há
menos de 6 meses), acidente vascular cerebral recente (há menos de 6 meses),
arritmias refratárias, hipertensão arterial sistêmica grave não-tratada ou não-
controlada (pressão arterial sistólica ↑180 mmHg e diastólica ↑110 mmHg) ,
insuficiência cardíaca congestiva intratável ou não-controlada.

• Hipertireoidismo não-controlado. Além disso, a adrenalina é contraindicada


para pacientes que apresentem evidência clínica de hipertireoidismo.

• Diabetes melito não-controlado

• Feocromocitoma (tumor raro que acomete glândulas). Este tumor causa um


aumento nos níveis circulantes de adrenalina e noradrenalina e, para evitar,
uma intoxicação sistêmica por estas substâncias, o uso de anestésicos locais
com vasoconstritores está contraindicado.

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• Hipersensibilidade a sulfitos. Os sulfitos são encontrados em todos
anestubes que contenham vasoconstritores, pois ele atua como antioxidante
para esta substância. Portanto, pacientes que apresentam hipersensibilidade
ou alergia aos sulfitos não poderão receber anestesia local associada ao uso
de vasoconstritores.

Relativas

• Doença cardiovascular significativa (ASA III–IV): não utilizar altas


concentrações de vasoconstritores (como a adrenalina em fios retratores ou
grandes quantidades de tubetes anestésicos, seguindo a orientação do quadro
abaixo).

• Diabetes: a adrenalina deve ser evitada, mesmo que utilizada em pacientes


com a doença compensada. A adrenalina provoca a quebra de glicogênio em
glicose, podendo resultar em hiperglicemia. Por isso, tende-se a escolher a
prilocaína com felipressina ou mepivacaína sem vasoconstritor.

• Gravidez: a administração de felipressina está absolutamente


contraindicada devido às ações ocitócicas (aumento das contrações uterinas)
deste vasoconstritor. Também, deve-se evitar o uso de noradrenalina, pois a
mesma possui um risco de diminuição da irrigação placentária. A adrenalina
apresenta os mesmos efeitos que a noradrenalina, mas apenas se usada em
altas doses. Em função disso, recomenda-se seguir a orientação do quadro a
seguir.

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DICA

Nas contraindicações relativas descritas acima e nas interações medicamentosas


que serão relatadas abaixo, indica-se o uso cauteloso do vasoconstritor.

MAS AFINAL DE CONTAS, COMO POSSO UTILIZAR UMA DOSE CAUTELOSA


DE VASOCONSTRITOR?

A recomendação é sempre utilizar a menor dose possível.

Além disso, podemos seguir a seguinte referência de quantidade de


vasoconstritor por consulta:

• Doses inferiores a 0,04mg de epinefrina (aproximadamente 4 tubetes com


solução 1:200.000/ 2,2 tubetes de adrenalina 1:100.000/ 1 tubete de
adrenalina 1:50.000)

• Doses inferiores a 0,2mg de levonordefrina (aproximadamente 2 tubetes


com solução 1:20.000).

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INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS

Da mesma forma que o Quadro 3 exemplifica a interação dos anestésicos locais com as medicações mais usuais, o quadro
abaixo (Quadro 4) relaciona estas interações com os vasoconstritores.

Quadro 4. Principais reações adversas frente ao uso concomitante de vasoconstritores com outros fármacos.

FÁRMACO EXEMPLO REAÇÃO

Poderá ↑ PA, acompanhada por bradicardia reflexa.

ANTAGONISTAS Propanolol, nadolol, timolol, Esses pacientes devem receber dose mínima inicial de epinefrina (1 tubete
β-ADRENÉRGICOS pindolol, alprenolol, labetalol, contendo solução 1:200.000) e, então, devem ser monitorados para
NÃO SELETIVOS oxprenolol e sotalol verificação de efeitos sistêmicos por 5 minutos (PA, frequência e ritmo
cardíaco). Após, dose adicional cuidadosa pode ser injetada.
Amitriptilina, nortriptilina,
ANTIDEPRESSIVOS clomipramina, imipramina,
Podem potencializar as ações cardiovasculares.
TRICÍCLICOS doxepina, amoxapina,
desipramina, protriptilina

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ANTIPSICÓTICOS Haloperidol e tioridazina
Podem produzir hipotensão significativa caso ocorra a injeção de altas
ou
doses de vasoconstritores.
OUTROS
As drogas vasoconstritoras devem ser utilizadas com cautela.
BLOQUEADORES Fenoxibenzamina e prazosin

BLOQUEADORES
O efeito colateral envolve o sistema cardiovascular e a hipotensão postural.
NEURONAIS Prometazina e fenergam
Vasoconstritor deve ser usado cautelosamente.
ADRENÉRGICOS

Sempre que possível, não se deve administrar vasoconstritores em


pacientes que usaram cocaína no dia de sua consulta.

Níveis sanguíneos de cocaína alcançam seu pico em 30 minutos e,


usualmente, retornam ao normal em 2 horas. No entanto, por via
COCAÍNA intranasal, o efeito pode durar por 4 a 6 horas.

Por isso, os procedimentos odontológicos eletivos devem ser adiados por


pelo menos 24 horas após a última exposição à droga.

O uso de fio de retração gengival impregnado com adrenalina está


absolutamente contraindicado nestes pacientes.

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COMPOSTOS Clorpromazina, fluefenazina e
Atentar para injeções intravasculares que podem causar hipotensão.
FENOTIAZÍNICOS levomepromazina

ESTIMULANTES Efeitos estimulantes podem ocorrer.


Anfetamina, metilfenidato
DO SNC Usar vasoconstritor com cautela, utilizando a menor dose possível.

DERIVADOS DO Efeitos estimulantes podem ocorrer.


Di-hidroergotamina e metisergida
ERGOT Usar vasoconstritor com cautela, utilizando a menor dose possível.

GLICOSÍDEOS
Digoxina e digitoxina Risco de arritmias cardíacas. Consultar com médico do paciente.
DIGITÁLICOS
Vasoconstritor deve ser usado com precaução quando os sinais e
HORMÔNIO
Tiroxina sintomas clínicos indicam a presença de hipertireoidismo.
TIREOIDIANO
Doses altas podem acarretar um risco de toxicidade cardíaca.
Fluoxetina, clorgilina,
INIBIDORES DA isocarboxazida, moclobemida, Podem potencializar as ações dos vasoconstritores.
MONOAMINO pargilina, fenelzina, selegilina, Quando associados ao vasoconstritor fenilefrina, pode causar crise
OXIDASE/IMAO tranilcipromina, brofaromina, hipertensiva, não sendo indicada essa associação.
iproniazida, isoniazida
↑: significa “aumentar”

Fonte: Adaptado de Wannmacher (2007) e Malamed (2013c).

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ESCOLHA DO ANESTÉSICO E CÁLCULO DE
DOSE ANESTÉSICA
Após todas estas colocações, afinal:

COMO SELECIONAR O ANESTÉSICO LOCAL?

Considerar 6 fatores:

1 – Duração do controle da dor necessária;

2 – Necessidade de controle analgésico pós-operatório;

3 – Possibilidade de automutilação pós-operatória;

4 – Necessidade de hemostasia;

5 – Contraindicação relativa a alguma droga;

6 – Condição clínica do paciente.

RESUMO PARA AUXÍLIO NA SELEÇÃO DO ANESTÉSICO LOCAL

PACIENTE HÍGIDO

Procedimentos clínicos e cirúrgicos:

- Lidocaína 2% com adrenalina 1:100.000 ou 1:200.000

- Mepivacaína 2% com adrenalina 1:100.00 ou 1:200.000

- Articaína 4% com adrenalina 1:200.000

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PACIENTE COM CONTRAINDICAÇÃO RELATIVA ou QUE FAÇA USO DE ALGUMA
MEDICAÇÃO QUE NECESSITE DE DOSE CONTROLADA DE VASOCONSTRITOR

Procedimentos clínicos: Nestes casos, lembrar sempre

- Prilocaína 3% com felipressina 0,03UI de aferir a PA após 5 minutos da


aplicação anestésica, utilizar a menor
- Mepivacaína 3%
quantidade possível de tubetes e
estar atento às doses máximas.

Procedimentos cirúrgicos:

- Lidocaína 2% com adrenalina 1:100.000 ou 1:200.000

- Mepivacaína 2% com adrenalina 1:100.00 ou 1:200.000

→ Lembrando que algumas condições contraindicam a administração de uma


substância específica e, por isso, a importância dos quadros descritos nesta apostila.

Após selecionado o anestésico e vasoconstritor, devemos calcular qual é a dose


máxima permitida destas substâncias para cada paciente.

PASSO A PASSO DO CÁLCULO:

1 - Calcular a dose máxima de anestésico local (mg/kg) para o paciente;

2 - Observar a tabela de quantidade máxima de tubetes para o anestésico local;

3 - Observar a tabela de quantidade máxima de tubetes para o vasoconstritor;

O menor valor dos três itens será o valor máximo de tubetes para o paciente.

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DOSES MÁXIMAS PARA ANESTÉSICOS LOCAIS

DOSE MÁX. DOSE MÁX. EM


SOLUÇÃO ANESTÉSICA 1
EM MG/KG TOTAL (MG)
Lidocaína com vasoconstritor (epinefrina) 6,6-7,0 500

Lidocaína sem vasoconstritor 4,5 300

Mepivacaína com vasoconstritor (levonordefrina ou adrenalina) 6,6 400

Mepivacaína sem vasoconstritor 6,6 400

Prilocaína com vasoconstritor (epinefrina ou felipressina) 6,0-8,0 400-600

Prilocaína sem vasoconstritor 6,0-8,0 400-600

Articaína com vasoconstritor (epinefrina) 7,0 (5,0¹) 500

Articaína sem vasoconstritor 7,0 (5,0¹) 500

Bupivacaína com vasoconstritor (epinefrina) 1,3-3,0 (2,5¹) 90-225

Bupivacaína sem vasoconstritor 3,0 (2,5¹) 175-200

¹Dose máxima para crianças


Fonte: Adaptado de Malamed (2013) e Wannmacher e Ferreira (2007)

DOSES MÁXIMAS PARA ANESTÉSICOS LOCAIS 2


SOLUÇÃO QUANTIDADE DE
QUANTIDADE MÁXIMA DE TUBETES
ANESTÉSICA MG/TUBETE
8 tubetes (sem vasoconstritor)
Lidocaína 2% 36 mg
13 tubetes (com vasoconstritor)
Mepivacaína 2% 36 mg 11 tubetes (com vasoconstritor)

Mepivacaína 3% 54 mg 7 tubetes (sem vasoconstritor)

Prilocaína 3% 54 mg 7 tubetes (com vasoconstritor)

Articaína 4% 72 mg 7 tubetes (com vasoconstritor)

Bupivacaína 0,5% 9 mg 10 tubetes (com vasoconstritor)

Fonte: Adaptado de Malamed (2013) e Wannmacher e Ferreira (2007)

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DOSES MÁXIMAS PARA VASOCONSTRITORES

DOSE MÁX.
DOSE MÁX. DOSE MÁX.
VASOCONSTRITOR TOTAL PARA
EM MG/KG TOTAL (MG)
CARDIOPATAS (MG)
Adrenalina 1:50.000 3,0μg/kg 0,2 0,04

Adrenalina 1:100.000 3,0μg/kg 0,2 0,04

Adrenalina 1:200.000 3,0μg/kg 0,2 0,04

Noradrenalina 1:50.000 - 0,34 0,14

Noradrenalina 1:100.000 - 0,34 0,14

Levonordefrina 1:20.000 3,0μg/kg 1 0,2

Fenilefrina 1:2.500 - 4 1,6

Felipressina 0,03UI/ml - - 0,27 UI

Fonte: Adaptado de Malamed (2013) e Wannmacher e Ferreira (2007)

VALORES EM TUBETES 3

QUANT. MÁX. DE
QUANT. DE QUANT. MÁX.
VASOCONSTRITOR TUBETES PARA
MG/TUBETE DE TUBETES
CARDIOPATAS
Adrenalina 1:50.000 0,036 5,5 tubetes 1,1 tubetes

Adrenalina 1:100.000 0,018 11,1 tubetes 2,2 tubetes

Adrenalina 1:200.000 0,009 22,2 tubetes 4,4 tubetes

Noradrenalina 1:50.000 0,036 9,4 tubetes 3,8 tubetes

Noradrenalina 1:100.000 0,018 18,8 tubetes 7,7 tubetes

Levonordefrina 1:20.000 0,09 11,1 tubetes 2,2 tubetes

Fenilefrina 1:2.500 0,72 5,5 tubetes 2,2 tubetes

Felipressina 0,03UI/ml 0,054 - 5 tubetes

Fonte: Adaptado de Malamed (2013) e Wannmacher e Ferreira (2007)

26
EXEMPLO

Anestésico local: Lidocaína 2% + Adrenalina a 1:100.000

Paciente ASA 1 de 60 kg

ANESTÉSICO LOCAL

1 Dose máxima da solução anestésica (lidocaína): 7,0mg/kg = 7,0mg x 60kg = 420mg

Quantidade de mg em 1 tubete: 36mg

420mg/36mg = 11,6 tubetes

2 Dose máxima de tubetes de solução anestésica (lidocaína): 13 tubetes

VASOCONSTRITOR

3 Valores máximos para vasoconstritor.

Neste caso (adrenalina 1:100.00 em paciente ASA 1): 11,1 tubetes

{
Anestésico Local (máximo mg/kg): 11,6 tubetes

Anestésico Local (máximo de tubetes): 13 tubetes

Vasoconstritor (máximo de tubetes): 11,1 tubetes

____________

11,1 tubetes

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REFERÊNCIAS

FERREIRA, M. B. C. Anestésicos locais. In: WANNMACHER, L.; FERREIRA, M.


B. C. (org.). Farmacologia clínica para dentistas. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2007. Cap. 18, p. 154-178.

MALAMED, S. F. Ação clínica de substâncias específicas. In:______. (org.). Manual


de anestesia local. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013a. Cap. 4, p. 52-75.

MALAMED, S. F. Farmacologia dos anestésicos locais. In:______. (org.). Manual de


anestesia local. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013b. Cap. 2, p. 25-38.

MALAMED, S. F. Farmacologia dos vasoconstritores. In:______. (org.). Manual de


anestesia local. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013c. Cap. 3, p. 39-51.

PURICELLI, E. Princípios gerais aplicados ao tratamento cirúrgico-odontológico.


In: ______. (org.). Técnica anestésica, exodontia e cirurgia dentoalveolar. Porto
Alegre: Artes médicas, 2014. Cap. 1, p. 13-22.

WANNMACHER, L. Interações medicamentosas. In: WANNMACHER, L.;


FERREIRA, M. B. C. (org.). Farmacologia clínica para dentistas. 3. ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. Cap. 11, p. 89-93.

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EQUIPE RESPONSÁVEL

Coordenação Geral Gravação das etapas cirúrgicas


Roberto Nunes Umpierre Adriana Corsetti
Marcelo Rodrigues Gonçalves Carlos Eduardo Baraldi
Bruna Pires Porto
Gerência do projeto Camila Longoni
Ana Célia da Silva Siqueira Luiza Bastos Nozari
Taíse Simonetti

Coordenação Executiva
Revisores
Rodolfo Souza da Silva
Angelo Luiz Freddo
Carlos Eduardo Baraldi
Responsável Teleducação
Deise Ponzoni
Ana Paula Borngräber Corrêa
Vinicius Coelho Carrard

Gestão educacional
Revisão ortográfica
Ylana Elias Rodrigues
Ana Paula Borngräber Corrêa
Angélica Dias Pinheiro
Coordenação do curso
Adriana Corsetti
Normalização
Taíse Simonetti
Geise Ribeiro da Silva

Conteudistas
Projeto gráfico
Adriana Corsetti
Lorenzo Costa Kupstaitis
Taíse Simonetti
Diagramação e Ilustração
Elaboração de questionários e testes Davi Perin Adorna
Adriana Corsetti Lorena Bendati Bello
Lorenzo Costa Kupstaitis
Angelo Luiz Freddo
Michelle Iashmine Mauhs
Taíse Simonetti
Pedro Vinícius Santos Lima

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Filmagem/ Edição/Animação
Héctor Gonçalves Lacerda
Luís Gustavo Ruwer da Silva
Camila Alscher Kupac

Divulgação
Angélica Dias Pinheiro
Camila Hofstetter Camini
Carolina Zanette Dill
Laíse Andressa de Abreu Jergensen

Dúvidas e informações sobre o curso


Site: www.telessauders.ufrgs.br
E-mail: ead@telessauders.ufrgs.br
Telefone: 51 3308-2098 ou 51 3308-2093

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