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EXCELENTÍSSIMO JUÍZO DA VARA DE FAMÍLIA DA COMARCA DE

ITURAMA/MG.

Enzo Gabriel Silva, menor impúbere, neste ato representado por sua genitora, Joana
Silva, brasileira, solteira, auxiliar geral, inscrita sob o CPF n. 369.544.328-00,
residentes e domiciliados na Rua da Esperança, nº. 111, Bairro Centro, Iturama/MG,
38210-000, telefones nº (34) 8988-7452, por seus procuradores e advogados, com
escritório profissional situado à Avenida da Justiça, n. 585, Centro, em Iturama/MG,
conforme instrumento de mandato em anexo, vem, respeitosamente, à elevada presença
de Vossa Excelência, propor a presente

AÇÃO DE RECONHECIMENTO DE PATERNIDADE C/C ALIMENTOS COM


PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA

Em face de João da Silva, brasileiro, solteiro, ajudante de pedreiro, inscrito sob o CPF
n. 888.666.333—85, domiciliado na Rua da Boa Saudade, n. 878, Centro, Iturama/MG,
pelos fatos e fundamentos a seguir expostos:

I. DA JUSTIÇA GRATUITA

Preambularmente, cumpre salientar que o autor não possui condições financeiras de


arcar com custas processuais e honorários advocatícios sem prejuízo de seu sustento e
de sua família, eis que seu sustento advém dos proventos auferido por sua genitora, que
atualmente labora como auxiliar de serviços gerais e recebe um salário mínimo mensal.
Desde já, saliento que a acepção jurídica considera como pobre aquele que não possui
recursos pecuniários suficientes para litigar mediante o pagamento de custas processuais
sem afetar seu sustento básico, e neste caso, faz-se prova da miserabilidade do autor por
meio da juntada dos três últimos holerites de sua genitora e a comprovação da ausência
de declaração de impostos de renda, amparo na Lei 1.060/50 e consoante ao artigo 98,
caput, do novo CPC/2015, in verbis:

Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com


insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas processuais e os
honorários advocatícios tem direito à gratuidade da justiça, na forma da lei.
II - DOS FATOS

A genitora do autor e o réu se conheceram em meados de 2020 e desde então iniciaram


um relacionamento que findou-se no início do ano de 2021, sendo o autor fruto da breve
relação entre sua genitora e demandado.
Entretanto, o autor foi concebido após o término do relacionamento de seus genitores,
tendo sua genitora comunicado o réu acerca da gravidez e suplicado por assistência
pecuniária durante o período gestacional, tendo o réu se escusado de prestar alimentos
gravídios e alimentos ao autor quando já nascido, sobre o argumento de não ser o pai
biológico do autor.
Ora excelência, é latente que o requerido deve cumprir com sua obrigação registrando
sua filha e contribuindo para manutenção do mínimo necessário para que a requerente
tenha uma qualidade de vida dentro de padrões aceitáveis, levando em consideração que
durante toda a vida da menor, nunca contribuiu de forma afetiva nem financeira.
Incontestável é o dever do Requerido em prestar alimentos ao filho menor, levando-se
em consideração a tenra idade do autor, que necessita atualmente do valor mínimo de
50% (cinquenta por cento) do salário mínimo, a título de alimentos provisórios,
devendo ser depositado na conta bancária de titularidade da genitora do autor (Agência
566, Conta 56878X), até o dia 10 (dez) de cada mês e que ao final convertam-se em
definitivos.
Segundo a genitora da menor, o requerido ganha em média R$ 2.000,00 (dois mil reais)
por mês, possuindo desta forma, condições de arcar com o valor requisitado. Além
disso, o réu goza de boa saúde e é apto ao trabalho, uma vez que ainda que
desempregado, a mera alegação de ausência de renda não afasta o dever de prestar
alimentos.
Assim, a prometida regularização não se concretizou e até o momento, o autor vem
sendo sustentado único e exclusivamente por sua genitora. Infrutíferas as tentativas da
composição amigável ao reconhecimento da paternidade, não resta outra alternativa o
autor, senão a vinda ao Judiciário.

III – DO DIREITO

III.I DO RECONHECIMENTO DE PATERNIDADE

Nos termos do artigo 1607 do Código Civil:

“Art. 1.607. O filho havido fora do casamento pode ser reconhecido pelos
pais, conjunta ou separadamente. ”
Conforme preceitua o artigo 1609 do mesmo diploma legal, o reconhecimento dos
filhos havidos fora do casamento é irrevogável e poderá ocorrer: no registro do
nascimento; por escritura pública ou escrito particular, devendo ser arquivado em
cartório; por testamento, ainda que incidentalmente manifestado; por manifestação
direta e expressa perante o juiz, ainda que o reconhecimento não haja sido o objeto
único e principal do ato que o contém.
Ainda, o Estatuto da Criança e Adolescente (Lei 8.069/90) expressa em seus artigos 26
e 27 a extensão ao direito de personalidade, in verbis:

“Art. 26. Os filhos havidos fora do casamento poderão ser reconhecidos


pelos pais, conjunta ou separadamente, no próprio termo de nascimento, por
testamento, mediante escritura ou outro documento público, qualquer que
seja a origem da filiação. ”

“Art. 27. O reconhecimento do estado de filiação é direito personalíssimo,


indisponível e imprescritível, podendo ser exercitado contra os pais ou seus
herdeiros, sem qualquer restrição, observado o segredo de justiça. ”

No que tange à prova da paternidade, merece destaque a norma do artigo 1605 do


Código Civil, segundo o qual “na falta, ou defeito, do termo de nascimento, poderá
provar-se a filiação por qualquer modo admissível em direito: I – quando houver
começo de prova por escrito, proveniente dos pais, conjunta ou separadamente; II –
quando existirem veementes presunções resultantes de fatos já certos”.
Sendo assim, a autora tem direito ao reconhecimento do vínculo de paternidade, visto
exame de DNA acostado aos autos.
Dispõe expressamente o artigo 1616 do Código Civil que a declaração de paternidade
decorrente da sentença tem os mesmos efeitos do reconhecimento da paternidade.
Desta forma, requer que seja reconhecida a paternidade do menor e seja expedido por
este Juízo, mandado de retificação ao cartório de registro civil para fazer constar todas
as qualificações pertinentes à filiação do autor.

III.2 DOS ALIMENTOS

Fundamenta-se na legislação vigente o pedido da requerente:

Art. 1.634. Compete aos pais, quanto à pessoa dos filhos menores:
I – dirigir-lhes a criação e educação;
II – tê-los em sua companhia e guarda; (...)
Consoante o sistema do Código Civil, os alimentos compreendem os recursos
necessários à sobrevivência, não só à alimentação propriamente dita, como a habitação,
vestuário, tratamento médico e dentário, assim como a instrução e educação, quando se
trata de menor. Nesse sentido, fez o Legislador pátrio consignar, no § 1º, do art. 1.694,
do Código Civil, que: “Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades e
dos recursos da pessoa obrigada”.
Da mesma forma, o fato do requerido não participar com a manutenção necessária da
requerente, comete o crime de abandono material previsto no artigo 244 do Código
Penal. In verbis:

Art. 244. Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou de


filho menor de 18 (dezoito) anos ou inapto para o trabalho, ou de ascendente
inválido ou maior de 60 (sessenta) anos, não lhes proporcionando os
recursos necessários ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia
judicialmente acordada, fixada ou majorada; deixar, sem justa causa, de
socorrer descendente ou ascendente, gravemente enfermo.
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa, de uma a dez vezes o
maior salário mínimo vigente no País.
Parágrafo único - Nas mesmas penas incide quem, sendo solvente, frustra ou
ilide, de qualquer modo, inclusive por abandono injustificado de emprego ou
função, o pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada
ou majorada.

Ademais, o dever de prestação de alimentos está previsto expressamente na


Constituição Federal, em seu artigo 229, sendo dever dos pais satisfazerem as
necessidades vitais das autoras, vez que estas não podem provê-las por si.
Segundo informações obtidas pela genitora da menor, o réu possui situação financeira
estável, trabalha na empresa Januário Construções LTDA, auferindo cerca de R$
2.000,00 (dois mil reais) mensais. Assim, plenamente comprovada a possibilidade do
réu.
Diante do que aqui ficou exposto, não resta outro meio a requerente senão buscar
através da ação de alimentos a prestação jurisdicional, a fim de proteger seus direitos.

IV - DA TUTELA DE URGÊNCIA ANTECIPATÓRIA

Em que pese a presente demanda para satisfazer o interesse do autor, convém salientar
que esta não pode esperar pelo provimento jurisdicional, tendo em vista que suas
necessidades são perenes e urgentes.
Com isso, a concessão da tutela de urgência para que o autor tenha sua satisfação
atendida é medida que se impõe, sob pena de ter sérios prejuízos, como material e
educacional. Nesse sentido, o art. 300 do Novo Código de Processo Civil, é expresso ao
afirmar que:
Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao
resultado útil do processo.
§ 1º Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode, conforme o caso,
exigir caução real ou fidejussória idônea para ressarcir os danos que a outra
parte possa vir a sofrer, podendo a caução ser dispensada se a parte
economicamente hipossuficiente não puder oferecê-la.

Desta forma, a requerente requer a tutela provisória de urgência sem a oitiva prévia da
parte contrária, conforme art. 9º, parágrafo único, inc. I, do CPC. In verbis:

Art. 9º Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja
previamente ouvida.
Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica:
I - à tutela provisória de urgência;

Assim, a concessão da tutela de urgência antecipatória, no sentido de definir


provisoriamente, alicerçados nos artigos supracitados, alimentos à autora no importe
50% (cinquenta por cento) do salário mínimo vigente, com vistas a salvaguardar os
interesses da requerente até a decisão final do presente feito.
Dessa maneira, está mais que demonstrado pela requerente, um fato concreto e objetivo,
configurando-se assim os dois requisitos da tutela provisória de urgência com relação
aos seus problemas enfrentados, como ora já descritos anteriormente.

V – DOS PEDIDOS

Diante de todo o exposto, requer-se:


a) o benefício da Assistência Judiciária, por serem juridicamente pobres, nos moldes
dos artigos 98 a 102, do CPC/2015;
b) a intimação do ilustre representante do Ministério Público, eis que presente uma das
hipóteses previstas no rol do art. 17 do Código de Processo Civil;
c) concessão da tutela de urgência antecipatória, para fixação de alimentos provisórios
no valor equivalente a 50% (cinquenta por cento) do salário mínimo, por mês, devendo
ser depositado na conta poupança da genitora da menor, até o dia 10 (dez) de cada mês e
a serem convertidos em definitivo no final do feito;
d) seja oficiado o empregador do réu para que realize desconto diretamente na folha de
pagamento, referente ao valor a título de pensão alimentícia, nos termos do artigo 734
do Código de Processo Civil, e que deverão ser pagos diretamente à genitora do menor
ou através de depósito bancário na conta acima informada;
e) a designação de audiência prévia de conciliação, nos termos do art. 319, VII, do
CPC/2015;
f) determinar a citação do requerido, nos termos do art. 246, incisos. I, II e V, do
CPC/2015;
g) seja concedida a guarda da menor a sua genitora, uma vez que, esta já se encontra sob
sua guarda e responsabilidade de fato;
h) seja deferida a regulamentação de visitas conforme termos acima expostos;
i) a procedência de todos os pedidos, declarando-se, por sentença, que a autora é filha
do réu, com as consequências decorrentes previstas em leis, como a consequente
expedição do mandado de retificação ao cartório de registro civil para fazer constar
todas as qualificações pertinentes à filiação da menor, bem como condenação do
Requerido ao pagamento de pensão alimentícia, com a devida conversão em caráter
definitivo, na mesma proporção dos alimentos provisórios;
j) a condenação do requerido às custas e honorários e sucumbenciais;
l) ao final, sejam julgados procedentes, totalmente, os pedidos veiculados nesta ação.
Protesta-se provar o alegado por todos os meios de prova permitidos em lei,
especialmente depoimento pessoal do réu; prova testemunhal e, principalmente, prova
documental (exame DNA anexo);
Dá-se a causa o valor de R$ 1.000,00, para efeitos meramente fiscais.
Nestes Termos,
Pede Deferimento.
Iturama/MG, 21 de outubro de 2022.

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