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PROJETO DE PESQUISA

Não nos preocupávamos e amávamos bomba : Arma do Juízo Final e Guerra Fria na Era
Atômica

Discente : Maria Clara Fonseca Russo


Orientador : Prof. Dr. Luis Ferla
UC : Monografia I - Prof. Dra. Maria Luisa Oliveira

GUARULHOS/2020
2

Sumário

Resumo..............................................................................................................................................

Introdução e Justificativa..................................................................................................................

Hipóteses e Objetivos.......................................................................................................................

Fontes e Metodologia ......................................................................................................

Cronograma ...........................................................................................................................

Anexos...............................................................................................................................................

Referências Bibliográficas.................................................................................................................
3

Resumo
O filme "Dr Strangelove or How I Stop Worryng and love the bomb " nos traz evidências
importantes do que foi o período da Modernidade, mais especificamente com em relação a Era
Atômica e sua implicações na Guerra Fria, e nele , temos alguns artifícios do que é o uso da
tecnologia, e quais são os caminhos no mundo pós II Guerra, pois cada vez mais a capacidade de
auto destruição se fez presente.
Temos então um mundo instrumentalizado nas formas racionalizadas de resolver seus
problemas e questões uma burocracia que continua incrustada nas relações sociais, políticas e
econômicas e o que a primeira vista pode parecer absurdo, na realidade fez parte de algumas
especificidades da Era Atômica.
O filme é dirigido pelo visionário diretor de cinema Stanley Kubrick, lançado em 1964
pela Paramount Pictures, tendo no elenco as atuações principais de Peter Sellers e George S.
Scott. Kubrick foi um diretor único na História do cinema, pois conseguia traduzir em seus
filmes muito do tempo em que foi produzido , assim nos revelando algumas faces daquele
passado.
O cinema como alicerce para estudarmos a História dá a oportunidade para nós no
historiadores, de olharmos por outro ângulo e desta forma será possível analisar os paralelos
com a realidade e o que esse filme em especial nos revela sobre a Modernidade, Tecnologia e
Era Atômica.
Introdução e Justificativa
O Período da Era Atômica começou no tempo em que a Humanidade descobriu a
tecnologia da fissão e fusão do átomo nuclear e chegou ao seu ápice em construção de
armamentos a partir desta tecnologia.
Como bem colocou Einstein, o inventor da equação E = mc² a bomba atômica mudou
tudo, exceto a natureza do Homem.1 E a natureza do Homem muito nos interessa neste projeto,
pois o estudo da Era Atômica se dá justamente a partir do que a cultura e a sociedade daquela
época, principalmente a década de 1960, produziu com tamanha mudança na realidade.
Nosso objeto em questão é o filme de 1964, “Dr Strangelove or How I Stopped Worryng
and Love the Bomb”, do visionário diretor de cinema, o estadunidense e nova-iorquino, Stanley

1HENRIKENSEN, Margot . “A Dr. Strangelove’s America: society and culture in the atomic age , copyright 1997,
by the Regents of the University of Califórnia.
4

Kubrick. Kubrick marcou a História do Cinema, traduzindo em suas obras de muitas maneiras
diferentes o espírito de seu tempo, de seu tempo vivido.
É o caso de Dr. Strangelove ser uma dessas obras que assimilam o tempo em que foi
feita, pois a partir do livro “Red Alert” de Peter Bryant, Kubrick escreveu o roteiro juntamente
com Terry Southern e filmou um longa metragem em preto e branco que captou a Era Atômica .
O filme ainda consegue ser especial por diversos aspectos, entre eles, a comédia. Rir da realidade
parecia ser o único caminho de se contar aquela história macabra de um possível holocausto
atômico.
De acordo com Kubrick :
O filme mantém o mesmo clima de suspense. Mas, por mais
que eu trabalhasse nele, mais me intrigava os aspectos
cômicos...a comédia pode ser mais realista que o drama porque
ela leva em conta o bizarro. 2
Segundo o outro diretor igualmente visionário, Martin Scorsese coloca que: “artistas do
calibre de Kubrick tem mentes brilhantes e dinâmicas para imaginar o mundo em movimento,
para compreender não apenas de onde ele vem, mas para onde ele vai.”3
Ainda sobre Kubrick ter o talento de captar seu tempo muito bem, o crítico francês
Michel Ciment aponta que :
Mas o que 2001 e Dr. Fantástico também demonstram é que a
pura racionalidade pode culminar no irracional. Tanto o
cientista alemão como o computador HAL 9000 mergulham na
loucura e no delírio. Mais uma vez, paixão e razão se entregam
a uma luta implacável, luta fecunda para o artista se
acreditarmos em Freud, para quem “há na loucura não apenas
um método, mas também um fragmento de verdade histórica”.4

E é mais no sentido de entender essa camada histórica do filme que estamos em busca
neste projeto. A narrativa de Dr. Strangelove discorre em torno de um General, o General Ripper,
que decide acionar o Plano R de sua base militar (figura 1, anexos) por conta de uma suposta
invasão dos comunistas. Os comunistas teriam infectado a água e assim causando impotência
sexual no homens. Logo, Ripper decide começar uma Guerra Nuclear contra a União Soviética.

2Encarte. “Dr Strangelove: Or How I Stopped Worrying and Love the Bomb”. Direção : Stanley Kubrick .
Columbia Pictures. 2012, 1 DVD.
3 CIMENT, Michel. “Kubrick”. São Paulo, Ubu Editora, 2017.
4 Idem. Pág 49
5

Enquanto isso há outros dois núcleos na história, o do avião B-52 (figura 2, anexos) que recebe a
ordem do Plano R de ataque, e os homens na sala de guerra (figura 3, anexos) tentando
descobrir o que fazer para o mundo não acabar. Só havia um detalhe qu todos não sabiam: a
U.R.S.S tinha uma arma do juízo final (the doomsday machine) a ser acionada automaticamente
caso fossem atacados pelos Yankees.
O filme possui atuações memoráveis que não seria o mesmo sem esses atores. Peter
Sellers interpreta três personagens, o Presdiente Merkin Muffley (figura 4, anexos), O Lionel
Mandrake (figura 5, anexos) e o Dr. Strangelove (figura 6, anexos). George C. Scott interpreta o
super caricato General Turgidson (figura 7, anexos), e é muito interessante o quanto esse
personagem fala sem ao menos dizer algo, suas feições entre algumas cenas e cortes de câmera
dizem tudo. Sterling Hayden interpreta o General Ripper(figura 8, anexos), que possui uma
feição mais dura, como um homem robusto militar. E Peter Bull interpreta o super estereotipado
embaixador soviético, Alexei de Sadesky (figura 9, anexos). Em uma das sequências finais do
filme é possível ver Peter Bull rindo da atuação de Peter Sellers como Dr. Fantástico, e Kubrick
não corta este detalhe do filme. E no avião B-52, Slim Pickens interpreta o Major Kong.
Dr Strangelove or How I Stopped Worryng and Love the Bomb foi lançado em 1964
depois que Kubrick comprou os direitos do livro Red Alert de Peter Bryant e percebeu como era
insano fazer um filmes daquele com um tom mais sério, por isso preferiu a comédia. Após o
filme ser lançado, para as pessoas que o viram, ficou difícil levar a sério o Comando Aéreo
Estratégico dos E.U.A de maneira tão caricata e escrachada que são as personagens do filme. 5
Segundo o documentarista Paul Lashman, depois de 30 anos do lançamento do filme, ele
junto com uma equipe da BBC, investigaram por dois anos as personagens do filme, como eram
na realidade o Comando Aéreo Estratégico dos E.U.A nos anos 50 e 60. Vários dos elementos do
filme, como a ideia de que os militares se rebelariam e fariam um ataque nuclear pareciam ser
muitos próximos da realidade. Segundo Lashman, essas ideias causaram espanto quando o filme
foi lançado, mas depois de um tempo muitas elas faziam sentido e estavam certas. 6
Curtis LeMay, que foi General da Força Aérea dos Estados Unidos, segundo Lashman,
também chegou a fazer um teste para ver se era possível provocar uma guerra com os russos. Os
oficiais que trabalhavam com o sucessor de LeMay, o General Tommy Power, disseram que ele

5 Stanley Kubrick : A Life in Pictures , 2001, Jan Harlan , Warner Bros Pictures.
6 Ibidem.
6

era um psicopata. E tudo isso para o documentarista, todo esse tom da Força Aérea dos E.U.A já
estava posto em questão no filme de Kubrick. 7
Eric Hobsbawm em “A Era dos Extremos” traz todas essas nuances que fizeram parte
tanto da Era Atômica quanto do conflito da Guerra Fria em si. É interessante que o historiador
use de um pensamento de Hobbes do que é a guerra para começar a introduzir o assunto : “a
guerra consiste não só na batalha, ou no ato de lutar : mas num período de tempo em que a
vontade de disputar é suficientemente conhecida.”8 Essa era atmosfera da Guerra Fria, a vontade
era suficientemente conhecida, e não apenas a vontade mas como os instrumentos para, os
armamentos nucleares . O ápice dessa atmosfera foi na Crise dos Mísseis de Cuba, em 1962,
quando o fim do mundo estava a beira de explodir.
A crise dos mísseis cubanos de 1962, um exercício de força
desse tipo inteiramente supérfluo, por alguns dias deixou o
mundo à beira de uma guerra desnecessária, e na verdade o
susto trouxe à razão por algum tempo até mesmo aos mais altos
formuladores de decisões.9
O mesmo mundo da Guerra Fria e da Era Atômica trazia consigo essa realidade, de
corrida armamentista, o nascer da MAD ( mutually assured destruction), corrida espacial, medo
do apocalipse nuclear e da aniquilação da vida na Terra. Os dois lados, E.U.A e U.R.S.S.,
segundo Hobsbawm, viram se em uma corrida armamentista insana para a destruição mútua, e os
envolvidos precisavam justamente não perceber aquela insanidade.10
Todas essas nuances estão colocadas em Dr. Strangelove, tanto nas falas das personagens,
quanto em seus atos, na maneira a qual é filmada e montada a história e toda a sua narrativa
específica de um filme totalmente imerso neste momento histórico. Esse momento então nos leva
a procurar entender mais a respeito da Modernidade.
Dr Strangelove também é um filme de que captura de maneira muito pertinente o que foi
a relação das forças armadas e a crise nuclear e como um Estado e seu aparelho lidam com os
problemas em suas mãos, e mais a fundo podemos perceber como elementos da Modernidade,
que o sociólogo Zygmunt Bauman aponta, estão presentes no longa metragem : a burocracia

7 Ibidem.
8HOBSBAWM, Eric. “Era dos Extremos: o breve século XX 1914-1991”. São Paulo : Companhia das Letras,
1995.Pg 224
9 Ibidem. Pág 227
10 Ibidem. Pag 233
7

estatal , a obediência e a racionalização de todo o processo. Toda aquela engrenagem articulada


em um contexto de um mundo que já viveu o Holocausto como experiência e agora tem em suas
mãos armas em quantidade e de altíssima tecnologia, como a bomba atômica.
E no entanto o Holocausto é tão crucial para nossa
compreensão do mundo moderno burocrático de racionalização
não apenas, nem basicamente, porque nos lembra(como se
precisássemos de lembrete) até que ponto é formal e
eticamente cega a busca burocrática de eficiência. 11
A Guerra Fria teve em sua história algumas tensões da Modernidade, um período de
medo do quase fim do mundo só poderia ser fruto desse tempo altamente racionalizado. A fonte
deste projeto, o longa de Kubrick, coloca de maneira muito oportuna e curiosa a polarização dos
E.U.A e da U.R.S.S e transpõe nas personagens, no roteiro, nas instalações, na fotografia e na
direção as ações de um tempo específico.
...também sugiro que foi o espírito da racionalidade
instrumental e sua forma moderna, burocrática de
institucionalização que tornaram as soluções tipo Holocausto
não apenas possíveis mas eminentemente "razoáveis"- e
aumentaram sua probabilidade de opção. Este aumento de
probabilidade está mais do que casualmente ligado à
capacidade da burocracia moderna de coordenar a ação de
grande número de indivíduos morais na busca de quaisquer
finalidades, também imorais.12
No filme, temos alguns exemplos do que é um país não ter pleno alcance por exemplo da
própria tecnologia. Dr Strangelove, um cinetista alemão, claramente ex nazista, surge em cena
justamente quando é consultado sobre o tipo de tecnologia que os Estados Unidos e a U.R.S.S
estão lidando, até o próprio presidente e os generais ali presentes na sala de guerra não possuem
muito conhecimento do que é a tecnologia nuclear e o que é a arma do juízo final.
Os criminosos foram pessoas educadas de sua época. Esta é a
questão crucial sempre que indagamos o significado de
Auschwitz. Nossa evolução foi além da nossa compreensão; já
não podemos fingir que temos pleno alcance de nossas
instituições sociais, estruturas burocráticas e tecnologia.13

11 BAUMAM, Zygmunt. “Modernidade e Holocausto”. São Paulo, Ed Zahar, 1991.


12 Ibidem. Pág 26
13 Ibidem. Pág 73
8

Essa insanidade é justamente exigida em contexto da Modernidade, Guerra Fria, Era


Atômica, e o auge da tecnologia desenvolvida, porque as pessoas deixam de ser visíveis para
virar dados, estatísticas , vítimas e inimigos :
É portanto possível ser o piloto que lança bombas em
Hiroshima ou Dresden, destacar-se no cumprimento do dever
em uma base de mísseis teleguiados, projetar ogivas nucleares
ainda mais devastadoras e tudo isso sem comprometer a
própria integridade moral ou de alguma forma se diminuir
moralmente.14
Em uma das falas emblemáticas do General Turgidson, ele calcula mais ou menos
quantas pessoas irão morrer caso a missão do Plano R seja concluída, e diz para o presidente que
terão que fazer uma escolha, entre ter 20 milhões de mortos ou 150 milhões de mortos.15 O
General Turgidson está inserido nesta lógica a qual Bauman aponta.
O que Bauman nos mostra é que na Modernidade, que tem dentro de seu escopo aqui
específico para a pesquisa, a Era Atômica e a Guerra Fria, trouxe não só as estratégias de guerra
que fizeram parte do conjunto, como estão dentro de uma ordem e obediência pré estabelecida .
Uma lógica que a guerra total impôs na humanidade , e com a bomba atômica ela atingiu outros
degraus.
Outra questão que o filme evidencia é como a partir da tecnologia da máquina do juízo
final, o país tem em mãos algo que se auto regula . A tecnologia que outrora foi descoberta, se
lutou em uma corrida insana para se ter mais em quantidade, no filme de Kubrick, ela escapa das
mãos e do poder dos Homens.
Paul Virilio, filósofo e estudioso do cinema, discute a guerra através dos filmes de guerra,
tanto os feitos pelas próprias forças armadas como os de ficção, e trás contribuições importantes
de como os filmes abordam o tema, e em especial a repercussão da bomba atômica e a técnica
envolvida :
“Trata-se de uma corrida armamentista em que a doutrina
de produção e seus delírios tem progressivamente
substituído a doutrina da utilidade militar no campo de
batalha, pois agora -como na guerra das Malvinas de
1982- a surpresa se destina aos dois adversários

14 Ibidem. Pág 31
15Dr Strangelove : or How I Stopped Worrying and Love the Bomb, Stanley Kubrick, 1964, Columbia Pictures , em
00:33:01 min.
9

simultaneamente, já que não parte mais de políticos, de


comandamos militares ou do exército, mas da técnica.” 16
O que a figura do Dr Strangelove faz no filme é justamente tentar explicar essa técnica,
como as coisas escaparam tanto da visão e do controle, e se tornou independente, tanto do
General Ripper que acionou o plano R e deu a ordem para os aviões B-52 atacarem a União
Soviética, quanto do presidente dos E.U.A e do Embaixador Soviético. A máquina do Juízo Final
é disparada sozinha, o embaixador da União Soviética diz no filme que “não é coisa que um
Homem sano possa fazer, a arma do juízo final é desenhada para disparar automaticamente”17,
ou seja a técnica atingiu realmente seu ápice de independência da humanidade.
Kubrick decide encerrar o filme com o final do mundo mesmo, sem que alguém possa
fazer algo ou tenha tempo de alguma alternativa, e apesar de Dr. Strangelove sugerir uma saída
como se esconder em minas durante 90 anos, logo o General Turgidson sugere que o Presidente
faça algo logo, se não eles terão de entrar em uma “corrida pelas minas” e enquanto isso, o
embaixador soviético tira foto do quadro de mapas da sala de Guerra (figura 10, anexos), e o
Presidente está com um olhar longíquo (figura 11, anexos), parecendo ser o único que tem
verdadeira noção do que está para acontecer, em seguida, já há um corte para a sequência do
“ballet” de cogumelos (figura 12, anexos) atômicos ao som de Vera Lynn com a letra da música :
“ um dia vamos nos encontra de novo , não sei onde , mas eu sei que iremos nos encontrar de
novo”.
O crítico francês Ciment nos da uma boa visão do papel do trabalho de Kubrick :
“ Kubrick nos dá a visão de um pesadelo da História que
se encerra no holocausto atômico, no térreo cotidiano, na
repressão das legiões romanas, nos fuzilamentos
exemplares , na sociedade americana corrupta e brutal. O
Dr Fantástico, como Turgidson ou Ripper, estão
literalmente apaixonados pela morte . O erotismo
deslocou-se da mulher para a morte, essa morte que a
sociedade americana tende a ocultar, mas que , através da
v i o l ê n c i a d o p o d e r, e s t á n o c e n t r o d e s e u
funcionamento.”18

16 VIRILIO , Paul . “Guerra e Cinema : a logística da percepção”. São Paulo : Boitempo , 2005.
17Dr Strangelove : or How I Stopped Worrying and Love the Bomb, Stanley Kubrick, 1964, Columbia Pictures , em
00:50:12 min.
18 CIMENT, Michel . “Kubrick” . São Paulo , Ubu Editora , 2017.
10

É provocativo o modo o qual Kubrick coloca essa paixão pela morte na história de seu
filme. Pois desde a sequência de abertura temos aviões literalmente se acoplando uns aos outros
como uma imagem de sugestão sexual. O General Turgidson tem que abandonar sua secretária
em um cenário de romance e de sexo também, para ir fazer parte dessa resolução apocalíptica. E
claro o motivo de impotência sexual por conta do General Ripper. Todas essas cenas e
sequências se articulam demostrando essa paixão pela morte e poder maior desses homens, e
Kubrick vai colocando na tela de maneira subliminar e entrelinhas.
Segundo Hobsbawm, James Forrestal, Secretário de Defesa dos Estados Unidos na
administração Truman, foi louco o suficiente para suicidar-se porque via a chegada dos russos na
janela do seu hospital, tamanha a paranoia.19 Essa realidade rima muito com o General Ripper
que não aguenta todo o peso que ele mesmo cria em seus ombros e se suicida no banheiro de sua
sala na base militar (figura14, anexos), sem ao menos dizer o código para impedir a missão dos
aviões B-52. Antes de entrar no banheiro Ripper diz para Mandrake : “Eu acredito em uma vida
depois dessa, e eu sei que terei que responder por o que eu fiz, e eu acho que eu posso.”20 . Esse
é o tom da despedida de Ripper, super punitiva perante a alguma figura de Deus.
A historiadora Margot Henriksenfez um trabalho muito contundente estudando a Era
Atômica em sua obra : “Dr. Strabgelove’s America: Society and Culture in the Atomic Age” ,
onde temos um diagnóstico desse momento na sociedade estadunidense.
Dentre os vários pontos que Henriksen aborda, é muito enriquecedor para essa pesquisa o
modo como ela coloca o filme neste universo da Era Atômica , e não só o longa de Kubrick, mas
também diversas produções culturais daquela sociedade. A autora fala de uma “culture of
dissent” da época :
The culture of dissent suggested that living comfortably with
the bomb carried a disruptive and dehumanizing cost. Seeking
consensus and conformity for the purposes of security
threatened to destroy any sense of democratic community, and
deadening emotions informer to enjoy the safety provided by
atomic defenses menaced the human capacity to feel anything
at all. The culture of dissent, by braking convention and relying
on nontraditional forms of expression and bizarre characters,

19HOBSBAWM, Eric. “A Era dos Extremos : o Breve Século XX 1914-1991”- São Paulo : Companhia das Letras,
1995. Pág 232.
20Dr Strangelove : or How I Stopped Worrying and Love the Bomb, Stanley Kubrick, 1964, Columbia Pictures , em
01:01:00 min .
11

urge Americans to recognize danger to react, Allen Ginsberg’s


confrontation “go fuck yourself with your atom bomb”and his
unconventional free verse aimed to stir controversy and rage,
and Jerry Lee Lewis’s absorption of the language of anxiety
and atomic fireballing into his sexually suggestive lyrics cut
through the emotional serenity of the age. The culture of
dissent counseled Americans to feel and therefore to retain
their humanity, even if staying human entailed pain and
panic.21
Essa cultura é a qual Kubrick está inserido e a qual foi possível criar , produzir, escrever e
filmar Dr. Strangelove , uma cultura em que as pessoas tiverem que aprender a viver com o peso
ou não da bomba atômica. E essa pesquisa busca justamente entender mais a fundo as condições
que essa produção se deu, a partir da fonte em si, o filme , mas também do seu entorno, do tempo
da Era Atômica , que mudou tudo.
Hipóteses e Objetivos
O projeto tem por objetivo geral entender como a Modernidade, especificamente, Guerra
Fria e Era Atômica, e o auge do uso da tecnologia a partir do longa metragem de Stanley Kubrick
de 1964 : “ Dr Strangelove or How I Stopped Worryng and Love The Bomb”, e o que essa fonte
pode nos evidenciar a respeito deste passado. Em relação a alguma hipóteses já sabemos que s o
filme é produzido em 1964 e carrega consigo muito das marcas dessa década. Sabemos também
que Stanley Kubrick é um diretor que se preocupa com a forma que irá contar a história , logo
sendo uma pessoa de 1964 que fez esse filme, o que ele queria nos alertar e mostrar a respeito da
Era Atômica.
Em um entrevista com o crítico Michel Ciment em 1985, para edição francesa de seu
livro , Kubrick coloca que :
“Com certeza, o maior perigo que o mundo corre hoje é o da
guerra nuclear, mas acredito que a única maneira de ela
explodir , em um futuro previsível, seria devido a uma falada
de cuidado provocada por um acidente, por um erro de cálculo
ou por uma loucura. Eu gostaria que a opinião pública se
interessasse mais pelos problemas da comunicação e do
controle em tempos de crise. Isso poderia ser mais importante
do que a redução dos arsenais nucleares. A situação do tipo Dr.
Fantástico é sempre uma ameaça e , a se julgar pela destruição
do jumbo coreano e pela aterrissagem do jovem alemão na

21 HENRIKSEN, Margot. “Dr. Strangelove’s America: Society and Culture in the Atomic Age”- copyright 1997, by
the Regents of the University of California. Pág 86.
12

praça vermelha, em Moscou, os russos talvez estejam mais


sujeitos do que os ocidentais a erros de comando e de controle .
Espero que os dois campos divulguem todas informações sobre
os meios de comunicação em tempos de crise. Não há razão
nenhuma para os lados manterem segredo sobre esse
assunto.”22
Muito do que Kubrick observa em 1985, está posto em Dr Strangelove e pretendemos
conhecer ainda mais o que um filme pode contribuir para a história como fonte . É importante
também pesquisar a História do cinema, para localizarmos onde este filme se encaixa na
Indústria do Cinema.
Em relação aos objetivos específicos, são os seguintes :
1 - Realizar a pesquisa a respeito de como o tema central do longa metragem continuou
reverberando na Guerra Fria e seus ecos no tempo.
2- Encontrar paralelos, tensões, ambiguidades, das questões colocadas no filme em
relação a sociedade e cultura econômica , politica e social da época .
3- Entender o filme, Dr. Strangelove, como produto da Modernidade e como ele traduz
em imagem , som e narrativa as nuances da Era Atômica e da Guerra Fria.
4- Assimilar o cinema como fonte da História, respeitando os atributos que a tipologia da
fonte nos exige.
Fontes e Metodologias
O cinema como fonte para os historiadores e historiadoras é uma prática que vem se
desenvolvendo cada vez mais e atraindo os pesquisadores para essa mídia e o que ela pode nos
oferecer de vestígios do passado.
Morrettin coloca :
A partir da década de 1970, o cinema, elevado a(crase)
categoria de “novo objeto” é definitivamente incorporado ao
fazer histórico dentro dos domínios da chamada História
Nova . Um dos grandes responsáveis por essa incorporação foi
o historiador francês Marc Ferro.23

22 CIMENT, Michel. “Kubrick” . São Paulo, Ubu Editora, 2017.


23MORETTIN, Eduardo. “O Cinema como fonte histórica na obra de Marc Ferro.” In : CAPELATO, Maria Helena;
MORETTIN, Eduardo; NAPOLITANO, Marcos e SALIBA, Elias Thomé . “História e Cinema”, 2 ed , São Paulo,
Alameda, 2011. Pág 39 .
13

Há todo um debate historiográfico em relação os usos do Cinema para a História e o que


ele pode nos oferecer, e até que ponto o filme fala por si, até que ponto ele escapa dos domínios
de quem o fez e se torna algo próprio na indústria cultural .
Como já citado, Marc Ferro foi um dos historiadores percursores do cinema , e apesar de
hoje já existirem avanços em relação ao seu pensamento, algumas contribuições a cerca do oficio
do historiador em relação de como estudar o filme nos é importante nesta pesquisa . A respeito
de como o cinema pode ser uma boa via de olhar para a história, ele disse em um entrevista à
Cahiers du Cinéma em 1975 :
“A segunda tarefa consiste em confrontar os diferentes
discursos da História, a descobrir , graças a esse confronto,
uma realidade não visível. Felizmente os historiadores dos
Annales e Michel Foucault dedicaram-se a isso . Quanto a
mim, tento descobrir métodos de análise aplicáveis a História
contemporânea, mais difícil de se estudar devido à falta de
distanciamento. O filme foi a grande ajuda nesse caso, tanto os
filmes de ficção quanto cine-jornais. Na verdade, não acredito
na existência de fronteiras entre os diversos tipos de filmes ,
pelo menos para quem o imaginário é tanto história, quanto
História.”24
Estudar um filme exige do historiador que além do filme em si, ele se amplie para o
momento o qual foi produzido, e entender o mundo e contexto no qual ele está inserido, para
isso, é preciso :
“Nessas condições, não seria suficiente empreender a análise
de filmes , de trechos de filmes , de planos , de temas , levando
em conta, segundo a necessidade, o saber e a abordagem das
diferentes ciências humanas. É preciso aplicar esses métodos a
cada um dos substratos do filme ( imagens , sonorizadas , não-
sonorizadas) , as relações entre os componentes desses
substratos; analisar no filme tanto a narrativa quanto o cenário,
a escritura , as relações do filme com aquilo que não é filme : o
autor, a produção, o público, a crítica, o regime de governo. Só
assim se pode chegar a compreensão não apenas da obra , mas
também da realidade que ela representa”25
Em relação ao que Ferro escreveu, temos alguma ressalvas , pois o historiador, segundo
Morettin, não dava ao cinema a atenção de uma fonte em si, e sim estudava os filmes para uma

24 FERRO , Marc . “Cinema e História” - Rio de Janeiro , Paz e Terá . 1992. Pág 77
25 Idem , pág 87 .
14

verdade histórica já dada, e neste projeto, analisaremos o filme para entender o que ele pode nos
dizer sobre o tempo estudado, e não para ilustrar uma ideia já pré concebida.
Se existe, portanto, uma contra-história possível por meio do
cinema, em Ferro ela parece se manifestar primeiramente no
seu trabalho com as fontes “tradicionais” para, então, deslocar-
se para o cinema. Como dissemos, o autor se preocupa com a
veracidade da fonte e com a busca do documento autêntico.
Idealiza o alcance de uma realidade, numa perspectivava que
tem como eixo o fato histórico, reinterpretado.”26
Então para nós que pretendemos estudar o cinema como nossa fonte, não podemos perder
de vista o caráter pioneiro do qual Ferro representou, mas também ter no horizonte que como
Morettin colocou, é necessário construir o cinema com a História, e só assim ele poderá ser
empregado como fonte. 27
“Para que possamos recuperar o significado de uma obra
cinematográfica, as questões que presidem o seu exame devem
emergir de sua própria análise. A indicação do que é relevante
para a resposta de nossas questões em relação ao chamado
contexto somente pode ser alcançado depois de feito o caminho
acima citado, o que significa aceitar todo e qualquer detalhe. O
relevante ou irrelevante não é um dado que a priori podemos
estabelecer na análise fílmica a partir de nossos conhecimentos
anteriores. Com este movimento, evitamos o emprego da
história como pano de fundo, na medida em que o filme não
está a iluminar a bibliografia selecionada, ao mesmo tempo em
que não isolamos a obra de seu contexto, pois partimos das
perguntas postas pela obra para interrogá-lo.”28
Michéle Lagny, historiadora também estudiosa do cinema nos dá a noção de como o
filme também pode nos contribuir como valor representativo de um tempo, no caso da nossa
pesquisa, ver como Dr Strangelove coloca uma maneira latente de se pensar a Guerra Fria, a
tecnologia nuclear, e como também expressa características da Modernidade.
“Podemos assim nos perguntar qual valor representativo real
podemos atribuir a um filme: em que medida os apetites de
poder, os fantasmas ou os medos de alguns não promovem uma

26MORETTIN ,Eduardo Victorio . “O cinema como fonte histórica na obra de Marc Ferro” . In: História:
Questões & Debates, Curitiba, n. 38, p. 11-42, 2003. Editora UFPR . P . 27
27 Idem , p 40 .
28 Idem , p 39 .
15

“mentalidade” ou “representações dominantes” partilhadas por


autores, mesmo se os filmes conseguem sucesso? ”29
Portanto, neste projeto, a metodologia é bem específica por consequência da fonte, e a
fonte é justamente o que pode nos dar mais acessos a aquele passado da Era Atômica, da Guerra
Fria e de uma Modernidade a beira de um colapso nuclear .
Ainda a respeito, Lagny aponta :
A utilização dos filmes permite conceber melhor todas as
discrepâncias no tempo que consistem os “tempo da história”,
ele faz aparecer a complexidade das representações nas quais
se embaraçam tentativas de sedução ou enquadramento
ideológico dos conscientes e inconscientes, desejos confusos,
fazendo do cinema um historiador do inconsciente social.30
Outro aspecto do filme a ser estudado é a sua emissão e recepção . Alexandre Busko
Valim destaca esse aspecto do cinema, e ainda propõe uma análise do filme que leve em
consideração o “circuito comunicacional” :
O estudo que denomino de “circuito comunicacional” requer,
assim, uma análise de produção e da economia política dos
textos, bem como da interpretação textual, assim como exame
da recepção por parte do público e do seu uso por diferentes
atores sociais. 31

Em relação a fonte especificamente, “Dr. Strangelove or How I Stopped Worryng and


Love the Bomb” foi um filme produzido e distribuído pela Paramount Pictures. Dirigido,
produzido e roteirizado por Stanley Kubrick , lançado em 29 de janeiro de 1964.
Stanley Kubrick quando ainda filmava o seu longa metragem Lolita, na Inglaterra, fez
uma visita ao Instituto para os Estudos Estratégicos de Londres, e o diretor do Instituto
mencionou o livro Red Alert para o diretor. 32
A ficha técnica do filme é a seguinte :
Duração : 95 minutos

29LAGNY , MICHÉLE . “O cinema como fonte de História” . In : NÓVOA , Jorge , FRESSATO , Soleni,
FEIGELSON , Kristian . “Cinematógrafo : um olhar sobre a História” - EDUFBA/Editora UNESP. - Salvador , São
Paulo , 2009.
30 Idem.
31VALIM, Alexandre Busko. “História e Cinema” . In : CARDOSO, Ciro Flamrion; VAINFAS , Ronaldo. “Novos
Domínios da História”- Rio de Janeiro : Elsevier, 2012.
32Encarte.
“Dr Strangelove: Or How I Stopped Worrying and Love the Bomb”. Direção : Stanley Kubrick .
Columbia Pictures. 2012, 1 DVD.
16

Ano de produção : 1964


Estreia: 20 de Julho de 1964
Distribuidora : Columbia Pictures do Brasil
Dirigido por : Stanley Kubrick
Orçamento : U$ 1,8 Milhão
Gênero: Comédia
País de Origem : EUA33
Para a pesquisa, estamos utilizando cópia original em DVD do filme, lançado em 2012
com áudio e vídeo masterizados pela Sony Pictures Home Entertaiment.
Cronograma
No plano conceitual, serão feitas as leituras de obras e artigos que abordam a Guerra
Fria, a Modernidade, o Cinema, o desenvolvimento da tecnologia , e sobre Stanley Kubrick,
com isso, espera-se reconhecer as contribuições de diversos autores para o tema e trazer uma
discussão com um referencial teórico.

Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro


2020 2020 2020 2020 2020 a Março
de 2021

Leitura e X X
fichamento
da
bibliografia
identificada
no projeto

Análise e X
descrição das
cenas e
sequencias
pontuais do
filme

Reuniões X X X X X
periódicas
com o
orientador

Confecção X X X X
dos capítulos
da
Monografia

33 Ficha Técnica Dr. Fantástico (1964). Entreteses, 24 de maio de 2019 . Disponível em https://entreterse.com.br/
ficha-tecnica-dr-fantastico-1964-27316/. Acesso em: 30 de jul. de 2020.
17

Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro


2020 2020 2020 2020 2020 a Março
de 2021

Revisão Final X
da
Monografia

Anexos

Base Militar - Figura 1


18

Avião B-52 - Figura 2

Sala de Guerra (Pentágono) - Figura 3


19

Presidente Merkin Muffley - Figura 4 Lionel Mandrake - Figura 5

General Turgidson- Figura 7


Dr. Strangelove- Figura 6

Embaixador Soviético- Figura 9

General Ripper- Figura 8


20

Embaixador Soviético tirando foto do quadro Presidente - Figura 11


da sala de Guerra, com uma câmera com
disfarce de relógio - Figura 10

Um dos Frames do ballet de cogumelos atômicos


General Ripper entra no banheiro de sua
- Figura 12
sala para se suicidar- Figura 13

Bibliografia
FERRO, Marc . “Cinema e História”. Rio de Janeiro , Paz e Terra , 1992
LINDLEY , Dan . “What I Learned Since I Stopped Worryng And Studied The Movie : A
Teaching Guide to Stanley Kubrick´s Dr. Strangelove” - September 2009 - PSOnline.
HOBSBAWM, Eric.“Era dos Extremos: o breve século XX 1914-1991”- São Paulo:
Companhia das Letras , 1995.
BAUMAN, Zigmunt. “Modernidade e Holocasuto”. Ed Zahar , 1991.
21

VIRILIO, Paul. “Guerra e Cinema : a logística da percepção”. São Paulo : Boitempo , 2005.
CIMENT, Michel . “Kubrick” . São Paulo , Ubu Editora , 2017.
MORETTIN ,Eduardo Victorio . “O cinema como fonte histórica na obra de Marc Ferro” .
In: História: Questões & Debates, Curitiba, n. 38, p. 11-42, 2003. Editora UFPR.
LAGNY, Michèle . “O cinema como fonte de História” . In : NÓVOA , Jorge , FRESSATO ,
Soleni, FEIGELSON , Kristian. “Cinematógrafo : um olhar sobre a História” - EDUFBA/Editora
UNESP. - Salvador , São Paulo , 2009.
VALIM, Alexandre Busko . “História e Cinema” . In: Novos Domínios da História,
organizadores : Ciro Flamarion Cardo e Ronaldo Vainfas ,Rio de Janeiro , Elsevier, 2012.
GADDIS, John Lewis. “História da Guerra Fria” Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006
HENRIKSEN, Margot. “Dr. Strangelove's America : society and culture in the atomic age” -
by Henriksen, Margot A - Berkeley : University of California Press , 1997
ANDERS, Gunther. “Teses para a Era Atômica”. Sopro 87, Panfleto Político Cultural, Abril/
2013.
ANDERS, Günther . “La obsolescência del Hombre - Sobre el alma en la época de la
segunda revolucion industrial”. Ed. Pré- Textos, 2011.
NYE, Joseph s. “Understanding International Conflicts - An Introduction to Theory and
History”- Pearson Longman, 2007.
XAVIER, Ismail. “A Experiência do Cinema”. Rio de Janeiro/São Paulo : Paz e Terra, 2018.
MALAND, Charles. “Dr. Strangelove (1964): Nightmare Comedy and the Ideology of
Liberal Consesus”. In: ROLLINS, Peter C. “Hollywood As Historian: American Film in a
Central Context” . Film and Media Studies, University Press of Kentucky.
RANCIERE, Jacques. “A Historicidade do Cinema”. Significação, São Paulo, v. 44, n 48, p
245-263-, jul-dez. 2017.
SORLIN, Pietra. “Historia del cine e historia de las sociedades”. Film-Historia, Vol I, No. 2,
(1991) : págs 73-87.
BORDWELL, David. “O cinema clássico hollywoodiano : normas e princípios
narrativos.”In : RAMOS, Fernão Pessoa. “Teoria Contemporânea do Cinema”. Vol II.
22
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