Explorar E-books
Categorias
Explorar Audiolivros
Categorias
Explorar Revistas
Categorias
Explorar Documentos
Categorias
Resumo
Este artigo tem por objetivo apresentar os resultados obtidos em uma pesquisa de iniciação
cientifica e que tornou-se um trabalho de conclusão de curso, realizada na Universidade
Estadual do Paraná- Campus Paranaguá. Nossa intenção foi realizar um estudo com os
professores da educação infantil do município de Paranaguá- litoral do Paraná. A proposta
inicial foi de compreender qual a representação do conceito de infância, criança e Educação
Infantil presente nas concepções dos professores de alguns Centros Municipais de Educação
Infantil, nesse momento da pesquisa, utilizou o conceito de representação em Bourdieu
(1996). Entendemos que para compreender o significado atribuído à infância, devemos nos
situar historicamente, para isso fizemos uma espécie de história da infância, ou seja,
buscamos entender como as crianças eram representadas em diferentes períodos históricos,
deste modo, percebemos que a infância é fruto dessas realidades sociais. O significado de
criança é dado pela representação que o adulto tem sobre ela, em seus aspectos sociais,
culturais, psicológicos e biológicos. No entanto, entendemos que os professores que fizeram
parte de nossa pesquisa, tem em suas concepções uma criança biológica ou psicológica,
negando seus outros aspectos. A Educação Infantil passa a ser um espaço de cuidado e
educação, muitas das concepções apresentadas, nos remetem a uma escola para pequenos e
outras um local de cuidados básicos, sendo negada a função da Educação Infantil que é de
educar e cuidar concomitantemente. Nesse sentido que nossa pesquisa, buscou compreender,
nas concepções sobre a infância, criança e Educação Infantil dos professores do município de
Paranaguá-Pr, como são pensadas e redimensionadas as práticas no interior dos centros de
educação infantil.
1
Doutora e Mestre em Educação pela PUCPR. Especialista em Pedagogia Escolar, Graduada em Pedagogia e
graduanda em Letras Português-Espanhol. Professora adjunta do curso de pedagogia da Universidade Estadual
do Paraná – Campus Paranaguá. E-mail:danielle.marafon@fafipar.br
2
Pós-Graduanda em Educação: Gestão e Organização do Trabalho Pedagógico na Educação infantil e Anos
Iniciais do Ensino Fundamental da Universidade Estadual do Paraná – Campus Paranaguá. E-mail:
tamyniwa@gmail.com
24375
Introdução
Nossa pesquisa teve inicio durante o projeto de iniciação científica 2011, financiado
pela Fundação Araucária e do grupo de estudos sobre infância e história da infância, em meio
as leituras feitas em documentos oficiais e literatura especifica da área, nos levou a buscar o
entendimento sobre a questão da infância, criança e Educação Infantil, não mas no contexto
nacional, mas sim no contexto local, ou seja, em Paranaguá.
Entender essa concepção nos proporciona compreender as práticas realizadas no
interior dos centros municipais de educação infantil, como bem sabemos, segundo a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação, 9394/96 em seu artigo 29 que:
A criança não escreve sua própria história. A história da criança é uma história sobre
a criança. Ao procurar levar em conta essa fase da vida, caracterizando-a como
realidade distinta do adulto, não podemos esquecer que continuamos adultos
pesquisando e escrevendo sobre elas. (2010, p. 30)
Entendemos que a infância vem se modificando através dos tempos e dos diferentes
contextos sociais, e para interpretar o significado atribuído à infância, deve-se compreender
sua trajetória dentro da história e quais os tratamentos e a relação das crianças com a
sociedade para assim entender o conceito de infância, criança e educação infantil.
Nossa pesquisa se sustenta, em compreender qual a concepção de infância, criança e
Educação Infantil presente no entendimento dos professores de Educação Infantil do
município de Paranaguá, nosso objeto de estudo neste trabalho.
Em Paranaguá litoral do Paraná, os professores da rede municipal de ensino, tem
como base para o trabalho no interior dos Centros de Educação Infantil, um documento
intitulado “Manual da Educação Infantil” que foi elaborado pela Secretaria de Educação do
município.
Esse manual é apresentado às professoras como uma lista de conteúdos a serem
trabalhados, porém não se tem uma concepção pedagógica alicerçada. Os conteúdos são
apresentados de forma breve e genérica, nos parecendo algo que cada professora pode
entender da forma e conhecimento que possuir.
Esse documento se fundamenta no Referencial Curricular da Educação Nacional
Infantil (RCNEI), o qual é objeto de discussão por vários autores, pois no primeiro volume, a
concepção de infância está relacionada à condição social, quer dizer, considera que existem
diferentes infâncias, dependendo da sua classe social, considera também as diferenças
econômicas, culturais, religiosas e as diferenças individuais que estão presentes no universo
infantil. No entanto no segundo e terceiro volume, não enfatizam a concepção apresentada no
primeiro volume, apresentando apenas um caráter descritivo e quase inflexível em que acaba
desconsiderando as especificidades das crianças pequenas.
Assim, chegamos ao tema em questão, pois, como os professores do município de
Paranaguá, entendem o que é infância, criança e Educação Infantil, como tratam das
especificidades locais, as características das crianças e do contexto social a qual estão
inseridas.
Nessa perspectiva, se deu nossa pesquisa, ou seja, analisar quais as concepções de
infância, criança e Educação Infantil dos professores do município, realizando entrevistas em
24377
cinco Centros Municipais de Educação Infantil em cada extremo da cidade, para verificar e
analisar quais as concepções presentes nas diferentes realidades pesquisadas.
Infância, Criança e Educação infantil, a concepção dos professores do município de
Paranaguá
Aqui nosso objeto de estudo é a criança pequena, sujeito histórico, cultural, social,
que se insere na Educação Infantil, ou seja, crianças de 0 a 5 anos. Segundo KUHLMANN
JR,
É preciso considerar a infância como uma condição da criança. O conjunto de
experiências vividas por elas em diferentes lugares históricos, geográficos e sociais é
muito mais que uma representação dos adultos sobre essa fase da vida. É preciso
conhecer as representações da infância e considerar as crianças concretas, localizá-
las nas relações sociais, etc., reconhecê-las produtoras da história. (2010, p.30)
Para tanto, a história da infância, nos proporciona entender a criança como sujeito
que está na história e que faz parte dessa história, como salienta KUHLMANN JR,
3
Pierre Bourdieu nasceu em Denguim, França em 1º de agosto de 1930 e morreu em Paris, França em 23 de
janeiro de 2002, foi um importante sociólogo francês.
24378
Esses fatos prepararam o ambiente para a aprovação da nova LDB, Lei 9394/96, que
estabelece a educação infantil como etapa inicial da educação básica, conquista
histórica que tira crianças pequenas pobres de seu confinamento em instituições
vinculadas a órgãos de assistência social. (OLIVEIRA, 2002, p.117).
de estar construindo múltiplos olhares sobre a criança e a infância. Pois, quando falamos de
criança muitas vezes nos deparamos com concepções que desconsideram que os significados
que damos a ela dependem do contexto no qual surge e se desenvolve e também das relações
sociais nos seus aspectos históricos, econômicos, cultural, político, entre outros, que
colaboram para a construção de tais significados e concepções. Como define o Referencial
Curricular Nacional da Educação Infantil:
Creche e pré-escola, em geral, distinguidas ora pela idade das crianças incluídas nos
programas – a creche se definiria por incluir crianças de 0 a 3 anos e pré-escola de 4
a 6 -, ora pelo seu tipo de funcionamento e pela sua extensão em termos sociais – a
creche se caracteriza por uma atuação diária em (horário integral) e a pré-escola, por
um funcionamento semelhante a escola, em (meio período). Há ainda uma terceira
classificação que diz respeito à vinculação administrativa: a creche se subordinaria,
24380
respeito das diversas dimensões pelas quais o homem e o mundo podem ser
conhecidos. (OLIVEIRA, 2002, p. 24)
Nesse sentido, analisamos a fala dos docentes que estão atuando na Educação Infantil
no município de Paranaguá.Essa etapa da nossa pesquisa teve como intuito, perceber em suas
respostas quais as representações das concepções de infância, criança e Educação Infantil.
Primeiramente para entender a ideia de representação social, devemos compreender o
que significa, assim, faremos na perspectiva de Bourdieu, para esse autor, as representações
sempre são determinadas por quem as elabora, partindo de seus próprios interesses, deixando
de ser um discurso neutro e que tende a impor determinadas visões de mundo.
Nas palavras de BOURDIEU:
[...] o poder de impor uma visão de mundo social através dos princípios de di-visão
que, tão logo se impõem ao conjunto de um grupo, estabelecem o sentido e o
consenso sobre o sentido, em particular sobre a identidade e a unidade do grupo, que
está na raiz da realidade da unidade e da identidade do grupo. (1996, p.108)
E ainda,
24382
Nossa análise teve inicio a partir de analise amiúde, da forma como o documento
intitulado “Manual da Educação Infantil” da Prefeitura Municipal de Paranaguá apresenta a
concepção de infância, percebemos uma ênfase a orientação e a utilização do Referencial
Curricular da Educação Infantil (RCNEI) para a construção do documento analisado.
A partir disso, perguntamos às professoras de diferentes Centros Municipais de
Educação Infantil (CMEI): “O que você entende por Infância? O que você entende por
criança? E o que você entende por Educação Infantil?”.
Quando perguntamos “O que você entende por infância?”, a maioria dos professores
entrevistados mostra a mesma concepção de infância e criança. Os depoimentos deixam
evidente que a infância e a criança são tratadas como seres em desenvolvimento biológico e
psicológico, que prioriza o desenvolvimento físico e psicológico da criança,
“Infância é a melhor fase da criança é um período que ela aproveita a vida sem
precisar se preocupar. Deveria ser a fase da diversão e do lazer com a família, mas
também da educação, socialização, construção e do desenvolvimento de suas
potencialidades.” (professora A)
“Infância é a fase mais linda da vida onde a criança vive o mundo imaginário,
tentando compreender o mundo real. É um período em que se faz necessário a
criança ser ensinada, acompanhada e trabalhada com muito amor.” (professora B)
“Infância é uma fase que costumo chamar de “sem preocupação", ou seja um ser
puro, sem maldades em qualquer atitude vivenciada.”(professora C)
junção das muitas e diversas concepções e afirmações, possibilitam construir uma visão
histórica da criança.
“Criança é um ser que desde o nascer precisa de amor e compreensão para o seu
desenvolvimento sadio e para formar a sua personalidade.” (professora A)
“Criança é um ser vivo que nasce e precisa ser adequada a um ambiente que lhe
propicie condições básicas e necessárias para sobrevivência. É um ser puro,
inocente, que não tem noção do certo e errado. Aprende pela imitação do ambiente
em que está inserido.” (professora B)
Essa imagem da criança pura, inocente que precisa de amor e compreensão encontrada
nas falas das professoras, pode ser explicada no viés sociológico e funda-se no mito
romântico, define-se como a idade da pureza, inocência e bondade. Como afirma
SARMENTO “a ideia das crianças como o ‘futuro do mundo’ está frequentemente associada
a uma concepção salvífica que entronca numa crença romântica de bondade infantil” (2007, p.
31), destacamos aqui a criança pré-sociológica.
Quando a professora fala “Aprende pela imitação do ambiente em que está inserido”,
nos remete à concepção de Piaget, em que a criança aprender por meio de modelos já
conhecido.
“Criança no meu ver se resume no brincar, pois é através do brincar que elas
aprendem a se socializar, conviver em grupo, dividir, ganhar e perder, valores esses
que terão um papel central para sua constituição enquanto indivíduo pertencente a
um grupo social.” (professora c)
Pudemos constatar que a Lei 9394/96 esta presente na maioria das falas das
professoras. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação que define a educação infantil como
primeira etapa da educação básica e atribui a ela “como finalidade o desenvolvimento integral
da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social
complementando a ação da família e da comunidade,” (art. 29).
A Educação Infantil como um local que propicie o desenvolvimento social,
favorecendo no processo de interação social aparece no discurso dos documentos que falam
sobre a Educação Infantil, contudo, aparece como um discurso permeado de representações
visto o tamanho distanciamento do que está escrito no papel, com a realidade nos Centros de
Educação Infantil. O professor (a) sem saber, incorpora esse discurso, um exemplo disso,
estão as respostas analisadas acima.
Nas creches e pré-escolas, não acontece o processo de escolarização, aí está o grande
debate em torno da Educação Infantil, nas palavras de KUHLMANN JR., “Olhávamos para o
24385
cotidiano das creches e ali víamos – como ainda hoje podemos ver em muitas delas – que elas
funcionavam como um depósito de crianças.” (2010, p.180).
Ao analisarmos estas questões, podemos concluir que essas professoras não veem a
criança em sua totalidade, mas como um ser fragmentado, e nos faz refletir sobre qual
infância temos e qual queremos ter, pois não levar em consideração suas especificidades e ter
em mente que as crianças são todas iguais, aponta que só existe uma única infância, quando
na verdade existem várias infâncias.
Devemos ser democráticos e éticos com a educação da criança pequena, levando em
consideração a especificidade familiar, cultural e local, bem como a importância dessa etapa
de ensino e estar atentos às concepções que nossos educadores têm a esse respeito.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
DEL PRIORE, M. História das Crianças no Brasil. São Paulo: Contexto, 2004.
SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho Científico. 23. ed. São Paulo: Cortez, 2007.
24387