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1 Acesso A Justica e Historico Da Assistencia Juridica Gratuita 19
1 Acesso A Justica e Historico Da Assistencia Juridica Gratuita 19
da
Defensoria pública
SUMÁRIO
1. Acesso à justiça............................................................................................................................................3
1.1. Ondas renovatórias de acesso à justiça.....................................................................................................4
1.2. Modelos de assistência jurídica gratuita....................................................................................................8
2. Histórico da gratuidade de justiça e da assistência jurídica gratuita no Brasil............................................11
DISPOSITIVOS PARA CICLOS DE LEGISLAÇÃO..................................................................................................19
BIBLIOGRAFIA UTILIZADA...............................................................................................................................19
ATUALIZADO EM 19/08/20201
1. Acesso à justiça
O acesso à justiça constitui fundamento de um sistema jurídico que pretenda garantir, de forma justa
e igualitária, o direito de todos. É por meio do acesso à justiça que diversos direitos fundamentais são
concretizados e, por isso, constitui ele mesmo um direito fundamental autônomo:
Art. 5º, XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;
Lembre-se que o reconhecimento formal de direitos não garante a sua efetividade e, assim, aquele
que não consegue acesso ao sistema de justiça é impedido de exercer os próprios direitos que lhe são
atribuídos pelo ordenamento jurídico.
A temática do acesso à justiça há muito vem ganhando importância, dada sua relevância para a
conquista de todos os outros direitos em que haja omissão ou violação por parte dos Estados ou demais
particulares que possuem o dever de respeito aos mesmos.
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As FUCS são constantemente atualizadas e aperfeiçoadas pela nossa equipe. Por isso, mantemos um canal aberto de
diálogo (setordematerialciclos@gmail.com) com os alunos da #famíliaciclos, onde críticas, sugestões e equívocos,
porventura identificados no material, são muito bem-vindos. Obs1. Solicitamos que o e-mail enviado contenha o título do
material e o número da página para melhor identificação do assunto tratado. Obs2. O canal não se destina a tirar dúvidas
jurídicas acerca do conteúdo abordado nos materiais, mas tão somente para que o aluno reporte à equipe quaisquer dos
eventos anteriormente citados.
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Por Fernanda Pereira Barboza.
Como garantir o acesso à justiça aos hipossuficientes econômicos? Como o Estado pode assegurar
que aqueles que não possuem recursos financeiros possam buscar a defesa de seus direitos, de forma efetiva,
com garantia de ampla defesa e contraditório?
Na década de 1970, o jurista italiano Mauro Cappelletti pesquisou a questão do acesso à justiça, na
pesquisa denominada de “Projeto Florença”. Como resultado de seu estudo, publicou a sua obra clássica
“Acesso à Justiça”, em coautoria com Bryant Garth. Nas palavras de Diogo Esteves e Franklyn Roger 3:
#SELIGA: “O denominado “Projeto Florença de Acesso à Justiça” (Florence Access-to-Justice Project) teve
como objetivo principal a análise dos obstáculos jurídicos, econômicos, político-sociais, culturais e
psicológicos, que tornavam difícil ou impossível, para muitos, o acesso e o uso do sistema jurídico; outrossim,
tinha como propósito realizar o levantamento de informações e críticas sobre esforços empreendidos em
vários países para superar e atenuar os referidos obstáculos.
Mauro Cappelletti e Bryant Garth dividiram em três ondas os principais movimentos renovatórios do
acesso à justiça. Vejamos:
1ª ONDA A primeira onda renovatória guarda referência com a assistência jurídica aos pobres,
RENOVATÓRIA revelando a necessidade de órgãos encarregados de prestar assistência aos menos
3
Diogo, E., Alves, S. R. (2018). Princípios Institucionais da Defensoria Pública, 3ª edição, p. 22.
afortunados, patrocinando os direitos desta parcela humilde da população.
Relaciona-se com a superação dos problemas inerentes à representação e defesa
dos direitos “difusos” em juízo, especialmente nas áreas da proteção ambiental e do
2ª ONDA
consumidor. Há o estabelecimento de legitimados para a tutela dos direitos
RENOVATÓRIA
transindividuais, com o objetivo de garantir o direito de acesso e propiciar a
repressão de condutas lesivas aos mencionados direitos.
Expõe o problema dos procedimentos judiciais, seus custos e seu tempo de duração,
sendo formuladas propostas alternativas, como a prevalência da oralidade e a
concentração dos ritos processuais; a redução dos custos do processo, seja pela
3ª ONDA
supressão das custas processuais e da taxa judiciária ou pela instituição de órgãos
RENOVATÓRIA
jurisdicionais autônomos que possam solucionar questões de pequenas causas de
modo gratuito; a adoção de métodos alternativos de solução de conflitos como a
arbitragem, a conciliação e a mediação.
#SELIGA: Em qual onda renovatória está situada a criação da Defensoria Pública? Na PRIMEIRA onda
renovatória! É nessa onda que há o surgimento da assistência jurídica/judiciária aos pobres, com a superação
de óbices econômicos e culturais do acesso à justiça.
Diogo Esteves e Franlyn Roger apontam que o desenvolvimento da assistência jurídica se deu de
forma gradativa, com o surgimento de diversos movimentos (ou submovimentos): 4
#OLHAOGANCHO:
Quarta Onda Renovatória: A dimensão ética e política do direito. Elaborada pelo professor KIM ECONOMIDES.
Para ele, os problemas de acesso à Justiça vão desde a capacitação dos atores jurídicos (sistema educacional)
até os valores éticos, morais e políticos que embasam os operadores do Direito.
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#OLHAOGANCHO: Esse submovimento não tem tudo a ver com o momento de pandemia em que estamos vivendo?
Várias Defensorias Públicas suspenderam o atendimento presencial, mas mantiveram a prestação da assistência jurídica
utilizando da tecnologia!
Quinta Onda Renovatória: A internacionalização da proteção dos Direitos Humanos. Está relacionado ao
papel da Defensoria Pública no plano internacional.
A Constituição Federal assegura em seu artigo 5º, inciso LXXIV, que “o Estado prestará assistência
jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos”. #PISANOFREIO: Você, futur@
Defens@r Públic@, sabe o que é a assistência jurídica integral e gratuita?
#SAIBADIFERENCIAR:
Quatro modelos de prestação de assistência judiciária gratuita são vislumbrados. Vejamos suas
principais características:
#NÃOCAIDESPENCA
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É inconstitucional lei estadual que preveja que o serviço de “assistência jurídica gratuita” será feito primordialmente por
advogados dativos e não pela Defensoria Pública. É possível a realização de convênio com a OAB para que esta
desenvolva serviço de assistência jurídica gratuita por meio de defensoria dativa, desde que como forma de suplementar
a Defensoria Pública ou de suprir eventuais carências desta. STF. Plenário. ADI 3892/SC, ADI 4270/SC, Rel. Min. Joaquim
Barbosa, 14/3/2012 (Info 658).
estruturação de uma carreira pública para prestar o serviço de assistência jurídica
gratuita às pessoas necessitadas, quanto o pagamento para advogados atuarem em
determinadas causas.
Mas, como o ordenamento jurídico brasileiro chegou ao sistema que vigora hoje, com a garantia
constitucional de assistência jurídica integral e gratuita? É o que vamos estudar agora!
#TABELALOVERS:
Podem ser identificadas 4 (quatro) inovações trazidas pela aprovação da Emenda Constitucional nº
80/14, a saber:
Uma segunda alteração de relevância advinda da Emenda Constitucional nº 80/14 foi o incremento
da regulamentação constitucional da Defensoria Pública. O caput do art. 134, da Constituição Federal passou a
viger com a seguinte redação: “A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função
jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do regime democrático,
fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus,
judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados, na
forma do inciso LXXIV do art. 5º desta Constituição Federal.”
Referida alteração foi responsável pela inclusão no texto constitucional das chamadas atribuições
atípicas da Defensoria Pública. Destaque-se a elevação ao status de instituição permanente (o que denota sua
obrigatoriedade – modelo público) incumbida do dever de prestar orientação jurídica, promoção de direitos
humanos e defesa, judicial e extrajudicial de direitos individuais e coletivos da população submetida a
condições de vulnerabilidade.
É bem verdade que grande parte dessas atribuições já constava na legislação desde a edição da Lei
Complementar nº 132/09, porém, houve a constitucionalização da matéria, o que colaborou com o
recrudescimento da Instituição.
Por fim, a Emenda Constitucional nº 80/14 incluiu o art. 98, no Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias, norma programática que consubstancia o ousado objetivo de interiorizar a Defensoria Pública
em todo país, no prazo de 8 (oito) anos – que se finda em 2022 – por meio de comando normativo que
determina a instalação de Defensoria Pública em todas as unidades jurisdicionais, com prioridade às regiões
com maiores índices de exclusão social e adensamento populacional, compatibilizando-se, por fim, a
quantidade de Defensores Públicos e a demanda pelo serviço.
Na democracia o direito de participação é da essência do regime, restando inadmissível que parte dos
membros do corpo social seja alijada dos processos de construção dos sistemas que consubstanciam a
sociedade.
Cada integrante do grupo tem o direito inalienável de ser reconhecido como partícipe no processo de
concretização dos objetivos comuns, independentemente de sua condição social, cultural ou econômico-
financeira, o que se dá somente e na medida em que conhece e exerce seus direitos.
Daí a imprescindibilidade de uma Defensoria Pública estruturada e eficiente, que se desincumba de suas
funções institucionais, dentre as quais, a de “promover a difusão e a conscientização dos direitos humanos, da
cidadania e do ordenamento jurídico”, nos termos do art. 4º, III, de sua Lei Orgânica.
Por “expressão e instrumento da democracia” deve-se entender que a Defensoria Pública é, em muitos casos,
o meio pelo qual se alcançam os resultados pretendidos.
Um instrumento é, em regra, utilizado quando não se pode ou se mostra significativamente mais difícil obter
um resultado com esforço próprio, como ocorre com uma pessoa em situação de vulnerabilidade.
O acesso aos direitos fundamentais, nesses casos, somente é garantido quando se propicia a educação em
direitos e, em um segundo momento, se disponibiliza ao hipossuficiente a assistência, em todos os graus, de
forma integral e gratuita, necessária para a satisfação destes.
Com isso, se promovem os direitos humanos, na acepção mais ampla do termo, ou seja, não somente como
materialização de um limite ao poder estatal, mas também como instrumento consubstanciador do princípio
da dignidade humana.
Com efeito, a primazia da dignidade da pessoa humana e a redução das desigualdades sociais, a afirmação
do Estado Democrático de Direito, bem como a prevalência e efetividade dos direitos humanos, integram o
rol de objetivos da Defensoria Pública, nos termos da art. 3º-A de sua Lei Orgânica, com a redação dada pela
Lei Complementar nº 132, de 2009.
O Estado de Direito pressupõe a observância e o respeito à lei, lato sensu, por todos os integrantes do corpo
social. Ser “de Direito” dá ao Estado o caráter de ordem. Ser “democrático” implica a atribuição do caráter de
“garantidor de Direitos”.
O fortalecimento da Defensoria Pública, ente concebido para a garantia dos direitos de ampla parcela da
população, é, portanto, condição para a efetivação de um verdadeiro Estado Democrático de Direito no Brasil.
A este respeito, vislumbra-se que mesmo antes da alteração da redação do artigo 134, a Defensoria Pública já
possuía um papel essencial na concretização do regime democrático, ao garantir o acesso universal dos
necessitados à Justiça e, portanto o exercício, tutela e efetividade dos direitos dos vulneráveis
economicamente e socialmente.
Assim, a EC 80/14 apenas expressou o papel precípuo da Defensoria de instrumento do regime democrático
e buscou garantir a ampliação da atuação institucional, ao inserir em nosso ordenamento jurídico o artigo 98
do ADCT, determinando a que a União, Estados e DF possuam, no prazo de oito anos, defensores públicos em
todas as unidades jurisdicionais.
#OLHAOGANCHO #RESUMINHOESPERTO: 8
Não se aplica.
BIBLIOGRAFIA UTILIZADA
- Paiva, Caio. Fensterseifer, Tiago. COMENTÁRIOS À LEI NACIONAL DA DEFENSORIA PÚBLICA, 2019.
- Esteves, Diogo. Silva, Franklyn Roger Alves. PRINCÍPIOS INSTITUCIONAIS DA DEFENSORIA PÚBLICA, 3ª edição.