CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS - DEPARTAMENTO DE DIREITO PÚBLICO
CURSO DE DIREITO - DIREITO PENAL II PROFESSOR MS. ANDREO ALEKSANDRO NOBRE MARQUES
Atividade para realização na aula do dia 25/04/2018
“PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE - COMARCA
DE ASSU - VARA CRIMINAL - Ref. Processo nº 100.06.000153-2 - Ação Penal Pública - Autor: MINISTÉRIO PÚBLICO - Acusado: MALAQUIAS DA SILVA – SENTENÇA - Vistos... I – RELATÓRIO - O MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL, com base em inquérito policial acostado a estes autos, ofereceu denúncia contra MALAQUIAS DA SILVA, nascido em 21 de junho de 1987, conforme certidão de nascimento acostada na fl. 12, por entender que incorreu nas sanções do art. 129, § 1º, I, do Código Penal. Historiou que, no dia 7 de janeiro de 2008, aproximadamente à meia-noite, no Distrito de Pataxó, o denunciado, fazendo uso de uma foice, produziu na vítima, VIRIATO VIDIGAL, com 62 anos na data do fato, de acordo com certidão de casamento anexada na fl. 14, os ferimentos descritos no laudo de exame de corpo de delito acostado ao inquérito, que ficou impossibilitada de exercer suas ocupações habituais por mais de 30 (trinta) dias. Narrou ainda que o delito teve por motivo o fato de, pouco tempo antes, o denunciado ter convidado a vítima para praticar sexo anal e, como esta não consentiu, ocorrido um pequeno atrito entre ambos, tendo o ofendido voltado para o bar, enquanto o denunciado teria ido até sua residência, se armado com uma foice, retornado ao bar e desferido os golpes na vítima. Apresentou rol de pessoas a serem ouvidas na fl. 5, protestou, além dos requerimentos de estilo, juntada dos antecedentes criminais do denunciado e encaminhamento da vítima para realização de exame complementar. A denúncia foi recebida em 10 de fevereiro de 2008, quando foi aprazado interrogatório para 23 de fevereiro de 2008 (fl. 3). Através do despacho exarado na fl. 27v, justificou-se a não realização do interrogatório pela falta de exame de corpo de delito complementar, tendo sido determinado que a autoridade policial providenciasse o encaminhamento da vítima para realização de perícia. Por meio do ofício albergado na fl. 29, a autoridade policial informou que providenciou a diligência determinada. O acusado foi interrogado em 20 de abril de 2008 (fl. 32-33). A defesa prévia do réu foi juntada na fl. 36, sem rol de testemunhas. A instrução criminal ocorreu em 4 de junho de 2008, quando foram ouvidas 2 (duas) testemunhas, sendo dispensada a oitiva das demais pessoas, ocasião em que, também, as partes declararam que não tinham diligências a requerer, nos termos do art. 499, CPP. O MINISTÉRIO PÚBLICO ofereceu alegações finais nas fls. 43-45, sustentando que a prova coligida aos autos evidencia a autoria e a materialidade do delito de lesão corporal de natureza grave, pugnando pela condenação do réu nos termos do que foi requerido na denúncia. Após sucessivas nomeações e recusas ao encargo de defensor dativo, aceitou o múnus o Dr. Carl Schmitt Montenegro, apresentando alegações finais pelo acusado nas fls. 63- 68, onde pugnou pela desclassificação para o crime de lesão corporal leve, na ausência de exame complementar e de prova testemunhal capaz de suprir a ausência do exame. Juntou-se, na fl. 69, certidão informando que o acusado fora condenado definitivamente, em 17 de outubro de 2007, pela prática de roubo, na cidade de Mossoró. II – FUNDAMENTAÇÃO - Sob a rubrica de lesão corporal, o art. 129, caput, Código Penal, tipifica a conduta de ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem. Entretanto, a lei penal chama de lesão corporal de natureza grave quando da ofensa resulta alguma das situações descritas nos §§ 1º e 2º do dispositivo mencionado, dentre as quais, incapacidade para as ocupações habituais, por mais de 30 (trinta) dias, que é a conduta imputada pela acusação ao réu nestes autos. O acusado (fl. 32), apesar de ter dito que a imputação contra si formulada não era verdadeira, admitiu que “[...] pegou uma foice e voltou para se encontrar com a vítima e botar tudo em pratos limpos[...] encontrou a vítima no bar de Capal e meteu o cacete para cima[...]”. As testemunhas ARNALDO BARBALHO DE SOUZA (fl. 41) e JOSÉ EDSON ALVES DA SILVA (fl. 42), por sua vez, afirmaram ter presenciado o réu golpeando a vítima com uma foice. Além disso, o laudo de exame de corpo de delito acostado nas fls. 23-24 dá conta das diversas lesões que teriam sido praticadas pelo acusado contra a vítima, estando comprovada a prática do delito de lesão corporal, pelo menos em sua forma simples. Resta desvendar se ficou comprovada a prática de lesão corporal de natureza grave, por ter resultado incapacidade para as ocupações habituais, por mais de 30 (trinta) dias. Note-se que o crime foi cometido em 7 de janeiro de 2008 e que o acusado foi examinado pelos peritos oficiais em 8 de março de 2008, quando atestaram que da ofensa resultou incapacidade para as ocupações habituais por mais de 30 (trinta) dias (fl. 24). Acrescente-se que as lesões foram descritas minuciosamente no laudo do referido exame, tendo sido necessário, inclusive, que a vítima fosse submetida a tratamento cirúrgico de emergência, em razão de “[...] fratura exposta dos 1º, 2º, 3º 4º e 5º metacarpianos direitos[...]”, restando constatado, também um “[...] déficit funcional da flexão palmar dos 2º, 3º, 4º e 5º quirodáctilos direito, em grau máximo[...]”. Ora, se em 60 (sessenta) dias depois da ofensa ainda restou constatado a incapacidade para as ocupações habituais, que diria se o exame tivesse sido realizado 30 (trinta) dias após as ofensas. Perceba-se que a vítima era, pelo menos na época do fato, pescador. Forçoso é concluir, então, que, até no que diz respeito à realização de seu ofício, restou o ofendido impossibilitado de trabalhar, em razão das ofensas corporais praticadas pelo réu. Seria realmente impossível para alguém pescar com apenas uma das mãos, já que a outra, mesmo 60 (sessenta) dias após o fato, apresentava déficit funcional em grau máximo. Acresça-se, por derradeiro, que a testemunha JOSÉ EDSON ALVES DA SILVA (fl. 42) afirmou que a vítima “[...] ficou mais de trinta dias sem poder trabalhar[...]”. Assim, deve ser refutada a tese defensiva de que para o reconhecimento do crime qualificado em discussão é necessário que o exame complementar seja realizado logo depois de decorridos 30 (trinta) dias, já que o que a lei penal exige é a configuração de incapacidade por mais de 30 (trinta) dias e não incapacidade até logo depois de 30 (trinta) dias. Na verdade, o dispositivo citado pela defesa (art. 168, § 2º, Código de Processo Penal), ao determinar que o exame complementar seja feito logo que decorra o prazo de 30 (trinta) dias, contado da data do crime, visa tão-somente coibir a ausência da perícia complementar ou a sua realização antes de decorrido o referido prazo, o que impediria o reconhecimento da qualificadora. Inadmissível aceitar que a lei processual penal seja capaz de restringir o alcance da lei penal, já que aquela tem por objetivo apenas disciplinar as formas dos atos processuais, sendo o processo mero instrumento para aplicação do direito material. De todo modo, mesmo que se considerasse inválido o exame albergado nos autos para a comprovação da qualificadora, teria sido suprida a suposta falta do exame pelo depoimento da testemunha JOSÉ EDSON ALVES DA SILVA, nos termos do § 3º, do art. 168, Código de Processo Penal, não sendo verdadeira, portanto, a afirmação da defesa de que a prova testemunhal não proclamou nenhum esclarecimento a respeito da qualificadora. Assim, MALAQUIAS DA SILVA está incurso nas sanções do art. 129, § 1º, I, e § 7º, Código Penal.” Agora, proceda à aplicação da pena, não se esquecendo de fundamentar a presença ou ausência de circunstâncias agravantes e atenuantes.
III – DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA - Passo a dosar a pena, com fundamento
nos art. 387, do CPP, e 68, CP, atendendo-se, inicialmente, às diretrizes emanadas do art. 59, CP: