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Crimes previstos no

Estatuto da Pessoa
com Deficiência
(Lei 13.146/2015)

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LIVRO I
PARTE GERAL

TÍTULO I
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 1º É instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), destinada a
assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com
deficiência, visando à sua INCLUSÃO social e cidadania.
Parágrafo único. Esta Lei tem como base a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo
Facultativo, ratificados pelo Congresso Nacional por meio do Decreto Legislativo nº 186, de 9 de julho de 2008 , em
conformidade com o procedimento previsto no § 3º do art. 5º da Constituição da República Federativa do Brasil *, em vigor
para o Brasil, no plano jurídico externo, desde 31 de agosto de 2008, e promulgados pelo Decreto nº 6.949, de 25 de agosto de
2009 , data de início de sua vigência no plano interno.

1. Objeto da lei o EPCD visa assegurar e promover a igualdade de condições da PCD no tocante aos direitos relativos à vida,
habilitação e reabilitação, saúde, educação, moradia, trabalho, assistência social, previdência social, cultura, esporte, turismo,
lazer, transporte e mobilidade.

2. Não alteração da Lei 7.853/1989 o EPCD não alterou a redação da Lei 7.853/89, que trata dos crimes praticados contra as
PCD’s.

EPCD, Art. 2º Considera-se PESSOA COM DEFICIÊNCIA aquela que tem IMPEDIMENTO DE LONGO PRAZO de natureza física,
mental, intelectual ou sensorial, o qual, EM INTERAÇÃO COM UMA OU MAIS BARREIRAS, pode obstruir sua participação plena
e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.

1. Norma explicativa o art.2º é uma norma explicativa, que traz o conceito de “pessoa com deficiência”, o qual pode ser
usado para complementação de outros dispositivos da mesma lei, inclusive os tipos penais.

EPCD, Art. 4º Toda pessoa com deficiência tem direito à igualdade de oportunidades com as demais pessoas e não sofrerá
nenhuma espécie de discriminação.
§1º Considera-se DISCRIMINAÇÃO EM RAZÃO DA DEFICIÊNCIA toda forma de distinção, restrição ou exclusão, por ação ou
omissão, que tenha o propósito ou o efeito de prejudicar, impedir ou anular o reconhecimento ou o exercício dos direitos e das
liberdades fundamentais de pessoa com deficiência, incluindo a recusa de adaptações razoáveis e de fornecimento de
tecnologias assistivas.

1. Direito à igualdade de oportunidades o direito à igualdade de oportunidades está presente em todo o EPCD.

2. §1º. Discriminação em razão da deficiência o conceito de “discriminação em razão da deficiência” deve ser utilizado para
fins de complementar os dispositivos do EPCD, incluindo seus tipos penais.

TÍTULO II
DOS CRIMES E DAS INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS

Art. 88. PRATICAR, INDUZIR ou INCITAR discriminação de pessoa EM RAZÃO DE SUA DEFICIÊNCIA:
Pena - reclusão, de 1 a 3 anos, e multa.
§1º AUMENTA-SE a pena em 1/3 se a vítima encontrar-se sob cuidado e responsabilidade do agente.
§2º Se qualquer dos crimes previstos no caput deste artigo é cometido por intermédio de meios de comunicação social ou de
publicação de qualquer natureza:
Pena - reclusão, de 2 a 5 anos, e multa.
§3º Na hipótese do §2º deste artigo, o juiz poderá determinar, ouvido o Ministério Público ou a pedido deste, ainda antes do
inquérito policial, sob pena de desobediência:

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I - RECOLHIMENTO ou BUSCA E APREENSÃO dos exemplares do material discriminatório;
II - INTERDIÇÃO das respectivas mensagens ou páginas de informação na internet.
§4º Na hipótese do §2º deste artigo, CONSTITUI EFEITO DA CONDENAÇÃO, após o trânsito em julgado da decisão, a
DESTRUIÇÃO DO MATERIAL APREENDIDO.
1. Bem jurídico tutelado a dignidade da pessoa humana, a proteção e a igualdade de condições em relação à PCD.

2. Sujeito ativo qualquer pessoa (crime comum).

3. Sujeito passivo a PCD.

4. Praticar, induzir ou incitar praticar = executar, realizar; induzir = fazer a ideia nascer; incitar = instigar. Neste crime, o
agente pratica a discriminação ou faz com que o outrem a pratique.

5. Especial fim de agir “em razão de sua deficiência”.

6. Discriminação da pessoa em razão de sua deficiência vide art.4º, §1º, do EPCD.

7. Delito de livre execução o crime pode ser praticado de qualquer forma, como por palavras, gestos, etc.

8. Norma penal em branco “em razão da sua deficiência” precisa ser complementado pelo art.4º, §1º, da mesma lei.

9. Tipo misto alternativo a prática de duas ou mais condutas em um mesmo contexto fático não gera concurso de crimes,
respondendo o agente por um único delito.

10. Princípio da especialidade este tipo é especial em relação ao crime do art.20 da Lei 7.716/89 (lei dos crimes de
preconceito).

11. Consumação com a prática dos verbos núcleos do tipo. Trata-se de CRIME FORMAL.

12. Classificação crime comum; crime formal; crime doloso; crime comissivo; crime instantâneo; crime de dano; crime
plurissubsistente (admite tentativa).

13. Suspensão condicional do processo cabível, pois a pena mínima não ultrapassa 1 ano.

14. §1º. Causa de aumento de pena a pena é aumentada em 1/3 se a vítima estiver sob o cuidado e responsabilidade do
agente.

15. §2º. Qualificadora. Meios de comunicação social ou de publicação de qualquer natureza se o meio utilizado para a
prática do crime for algum meio de comunicação social ou de publicação, o crime é qualificado (pena de 2 a 5 anos de reclusão).

16. Suspensão condicional do processo no caso do crime qualificado, é incabível o sursis processual, pois a pena mínima
ultrapassa 1 ano.

17. Medidas judiciais no caso da prática do crime qualificado, o juiz poderá determinar, ouvido o MP ou a requerimento
deste:
a) o recolhimento ou a busca e apreensão dos exemplares do material discriminatório;
b) a interdição das respectivas mensagens ou páginas de informação na internet.
Obs: para Gabriel Habib, estas medidas podem ser tomadas de ofício pela autoridade judicial.

18. §4º. Efeitos da condenação no caso de crime qualificado, após o trânsito em julgado da sentença condenatória, é efeito
da condenação a destruição do material apreendido.

19. Efeitos automáticos a destruição do material apreendido é EFEITO AUTOMÁTICO.

EPCD, Art. 89. APROPRIAR-SE de ou DESVIAR bens, proventos, pensão, benefícios, remuneração ou QUALQUER OUTRO
RENDIMENTO de pessoa com deficiência:
Pena - reclusão, de 1 a 4 anos, e multa.
Parágrafo único. AUMENTA-SE a pena em 1/3 se o crime é cometido:
I - por tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante, testamenteiro ou depositário judicial; ou
II - por aquele que se APROPRIOU em razão de OFÍCIO ou de PROFISSÃO.

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1. Bem jurídico tutelado a dignidade da pessoa humana e o patrimônio da PCD.

2. Sujeito ativo qualquer pessoa (crime comum).

3. Sujeito passivo a PCD.

4. Apropriar-se ou desviar apropriar-se = apoderar-se, ficar com a coisa para si, com a intenção de ser seu dono; esta
conduta pode ser praticada de forma comissiva ou omissiva (ex: quando o agente se nega a restituir a coisa à PCD). Desviar = dar
à coisa destinação diversa da que realmente deveria ter sido dada; aqui a conduta só pode ser praticada de forma comissiva.

5. Bens, proventos, pensão, benefícios, remuneração ou qualquer outro rendimento de pessoa com deficiência para
Gabriel Habib, os “bens” de que trata o tipo penal são os bens móveis, pois apenas estes podem ser objeto de apropriação ou
desvio. Provento e pensão = formas de rendimentos. Benefício = qualquer vantagem, financeira ou não. Remuneração = forma
de rendimento. “Qualquer outro rendimento” = interpretação analógica.

6. Posse ou detenção a despeito de o tipo penal não falar isso expressamente, para Gabriel Habib, a prática deste crime
pressupõe a posse ou a detenção anterior da coisa.

7. Norma penal em branco “pessoa com deficiência” precisa ser complementado pelo art.2º do EPCD.

8. Tipo misto alternativo a prática de duas ou mais condutas em um mesmo contexto fático não gera concurso de crimes,
respondendo o agente por um único delito.

9. Princípio da especialidade este tipo penal é especial em relação ao crime de apropriação indébita previsto no art.168 do
CP, bem como ao crime previsto no art.102 do Estatuto do Idoso.

10. Não incidência das imunidades descritas nos arts.181 e 182 do CP as imunidades previstas nos arts.181 e 182 do CP não
são aplicáveis a este tipo penal.

11. Consumação dá-se com a apropriação ou com o desvio dos bens, proventos, pensão, benefício, rendimento, com a
intenção de se tornar proprietário da coisa.

12. Classificação crime comum; crime material; crime doloso; crime comissivo ou omissivo próprio (na conduta de desviar);
crime instantâneo; crime de dano; crime plurissubsistente (admite tentativa) nas condutas de apropriar-se (praticada de forma
comissiva) e desviar.

13. Suspensão condicional do processo cabível, pois a pena mínima não ultrapassa 1 ano.

14. Parágrafo único. Causa de aumento de pena a pena é aumentada em 1/3 se o crime é cometido:
a) por tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante, testamenteiro ou depositário judicial; ou
b) por aquele que se APROPRIOU em razão de OFÍCIO ou de PROFISSÃO.

EPCD, Art. 90. ABANDONAR pessoa com deficiência em hospitais, casas de saúde, entidades de abrigamento ou congêneres:
Pena - reclusão, de 6 meses a 3 anos, e multa.
Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem NÃO PROVER AS NECESSIDADES BÁSICAS de pessoa com deficiência QUANDO
OBRIGADO POR LEI OU MANDADO.

1. Bem jurídico tutelado a dignidade da pessoa humana e a proteção do deficiente.

2. Sujeito ativo somente a pessoa que esteja obrigada a amparar a pessoa com deficiência (CRIME PRÓPRIO).

3. Sujeito passivo a PCD (art.2º do EPCD).

4. Abandonar desamparar, deixar de dar assistência. Esta conduta pode ser praticada de forma comissiva (o agente leva a
PCD a um dos locais previstos no tipo penal) ou omissiva própria (o agente não busca a PCD em algum desses locais).
ATENÇÃO! O abandono pode ser temporário ou permanente, desde que fique caracterizado o desamparo à PCD.

5. Hospitais, casas de saúde, entidades de abrigamento ou congêneres o abandono deve se dar em algum desses locais.

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6. Norma penal em branco “pessoa com deficiência” precisa ser complementado pelo art.2º do EPCD.

7. Princípio da especialidade este tipo é especial em relação ao crime previsto no art.133 do CP (abandono de incapaz) e no
art.98 do Estatuto do Idoso.

8. Consumação com o abandono da PCD (CRIME FORMAL).


9. Classificação crime próprio; crime formal; crime doloso; crime comissivo ou omissivo; crime instantâneo; crime de
perigo abstrato; crime que admite tentativa apenas na forma comissiva.

10. Suspensão condicional do processo cabível, pois a pena mínima não ultrapassa 1 ano.

11. Parágrafo único. Conduta equiparada. Não prover as necessidades da pessoa com deficiência quando obrigado por LEI ou
MANDADO.

11.1. Sujeito ativo a pessoa que esteja obrigada a prover as necessidades básicas da PCD, por LEI ou por MANDADO.

11.2. Sujeito passivo a PCD (art.2º do EPCD).

11.3. Não prover as necessidades básicas da pessoa com deficiência deixar de prestar à PCD os meios mínimos que lhe
garantam o mínimo exigido para uma vida digna. Trata-se de CRIME OMISSIVO PRÓPRIO.

11.4. Norma penal em branco “pessoa com deficiência” precisa ser complementado pelo art.2º do EPCD.

11.5. Princípio da especialidade este tipo penal é especial em relação ao crime previsto no art.244 do CP (abandono
material) e no art.98 do Estatuto do Idoso.

11.6. Consumação com o não provimento das necessidades básicas da PCD.

11.7. Classificação crime próprio; crime de mera conduta; crime doloso; crime omissivo próprio; crime instantâneo; crime
de perigo abstrato; crime que não admite tentativa (pois é crime omissivo próprio).

11.8. Suspensão condicional do processo cabível, pois a pena mínima não ultrapassa 1 ano.

EPCD, Art. 91. RETER ou UTILIZAR cartão magnético, qualquer meio eletrônico ou documento de pessoa com deficiência
destinados ao recebimento de benefícios, proventos, pensões ou remuneração ou à realização de operações financeiras, COM
O FIM DE obter vantagem indevida para si ou para outrem:
Pena - detenção, de 6 meses a 2 anos, e multa.
Parágrafo único. AUMENTA-SE a pena em 1/3 se o crime é cometido por TUTOR ou CURADOR.

1. Bem jurídico tutelado a dignidade da pessoa humana, a proteção e o patrimônio da PCD.

2. Sujeito ativo qualquer pessoa (crime comum).

3. Sujeito passivo a PCD (art.2º do EPCD).

4. Reter ou utilizar reter = manter em sua posse indevidamente; esta conduta pode ser praticada de forma comissiva ou
omissiva. Utilizar = usar; apenas pode ser praticado de forma comissiva.

5. Cartão magnético, qualquer meio eletrônico ou documento.

6. Destinação específica do cartão magnético, qualquer meio eletrônico ou documento estes documentos devem ser
utilizados para que a PCD consiga receber benefícios, proventos, pensões, remunerações ou realizar operações financeiras. Caso
não tenha essa destinação específica, não há que se falar neste crime.

7. Benefícios, proventos, pensões, remuneração e operações financeiras.

8. Especial fim de agir “com o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem”.

9. Norma penal em branco “pessoa com deficiência” precisa ser complementado pelo art.2º do EPCD.

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10. Princípio da especialidade este tipo penal é especial em relação ao crime previsto no art.168 do CP (apropriação
indébita) e no art.14 do Estatuto do Idoso.

11. Não incidência das imunidades descritas nos arts.181 e 182 do CP para Gabriel Habib, não se aplicam tais imunidades a
este crime do EPCD.

12. Consumação com a simples retenção ou uso do cartão magnético, qualquer meio eletrônico ou documento,
independentemente de o agente conseguir obter qualquer vantagem, pois trata-se de CRIME FORMAL.

13. Classificação crime commum; crime formal; crime doloso; crime comissivo (na conduta de usar) ou omissivo próprio (na
conduta de reter); crime instantâneo; crime de perigo abstrato; crime que admite tentativa na forma comissiva, não a
admitindo na forma omissiva própria.

14. Suspensão condicional do processo cabível, pois a pena mínima não ultrapassa 1 ano.

15. Parágrafo único. Causa de aumento de pena se o crime for cometido por CURADOR ou TUTOR, a pena é aumentada em
1/3.

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