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SEMINÁRIO EVANGÉLICO DA IGREJA DE DEUS

Instituição: Seminário Evangélico da Igreja de Deus


Curso: Mestrado Livre em Ministério
Disciplina: Teologia Bíblica do Antigo e Novo Testamento
Docente: Dr. Carlos A. Vailatti
Discente: Leonardo Teixeira Dias1

O CONCEITO DE REINO DE DEUS NOS EVANGELHOS

RESUMO
Este artigo tem o objetivo de apresentar, a partir de referenciais teóricos e breve
análise de textos bíblicos a temática acerca do conceito de Reino de Deus no Novo
Testamento, mais precisamente nos Evangelhos. O conceito já é apresentado no
Antigo Testamento, no relacionamento entre Deus e o povo de Israel, passando pela
monarquia, despertando o surgimento da chamada expectativa Messiânica, até sua
realização em Jesus. O método utilizado foram os de pesquisa bibliográfica e análise
de textos bíblicos.
PALAVRAS-CHAVE
Bíblia, Reino de Deus, Jesus, Evangelho.
ABSTRACT
This article aims to present, from theoretical references and brief analysis of biblical
texts, the theme about the concept of Kingdom of God in the New Testament, more
precisely in the Gospels. The concept is already presented in the Old Testament, in
the relationship between God and the people of Israel, passing through the
monarchy, awakening the emergence of the so-called Messianic expectation, until its
realization in Jesus. The method used were bibliographic research and analysis of
biblical texts.
KEYWORDS
Bible, Kingdom of God, Jesus, Gospel.

1Mestrando em Ministério pelo SEID – GO. Pós-graduado em Psicopedagogia Clínica e institucional


e Gestão Escolar pela FABEC – GO. Graduado em Pedagogia pela UFG. Ministro da Igreja de Deus
no Brasil.
INTRODUÇÃO
O Reino de Deus é um tema muito extenso, com várias nuances no decorrer
da história bíblica. A compreensão acerca do Governo e da soberania de Deus
sobre Israel e também as nações acontece de forma progressiva nas Escrituras.
Desde o Êxodo até as promessas sobre a segunda vinda de Cristo, o Reino é a
questão predominante.

Neste artigo serão postas algumas questões que irão despertar o leitor na
busca por uma compreensão mais profunda acerca desta temática. Para melhor
orientação o texto está dividido em três partes, sendo que em cada parágrafo pode-
se observar o desenvolvimento do assunto, desde o Antigo Testamento até o Novo
Testamento. Também a relação entre o Reino de Deus e a Igreja é fundamental
para a leitura deste trabalho.

É afirmado também que a maneira como Jesus e os evangelhos tratam da


questão é absolutamente algo original no ensino de Cristo, mesmo um tema tão
abordado em toda a Bíblia, da forma como é apresentado nos evangelhos não se
encontra paralelos no período contemporâneo de Jesus e os apóstolos.

Mais adiante, trata-se da relação entre o reino de Deus e a pregação sobre a


necessidade de arrependimento, pois segundo Jesus e João Batista, somente
entram no Reino aqueles que se arrependem de suas atitudes para com Deus. A
partir da conversão, segue-se uma vida de discipulado e renúncia, sempre buscando
os valores do Reino, sendo a passagem das bem-aventuranças fundamental para
uma correta compreensão, ou seja, a vida no Reino.

Enfim, abordamos questão da Igreja como aquela comunidade que anuncia e


vive na realidade do Reino, em sua manifestação na vida dos cristãos. A partir da
missão da Igreja caminhamos para o aspecto escatológico do Reino, isto é a sua
consumação definitiva entre os homens.
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE O REINO DE DEUS
Segundo Jeremias (1984, p. 151), esse é o tema principal da pregação de
Jesus. O termo para Reino nos sinóticos é βασιλεία (Basiléia), e possui um
significado mais amplo. De acordo com Jeremias, trata da soberania real de Deus.
Tanto Mateus, assim como Marcos e Lucas apresentam o início do ministério de
Jesus com a proclamação do Reino de Deus.

Depois de João ter sido preso, foi Jesus para a Galileia, pregando o
evangelho de Deus, dizendo: O tempo está cumprido, e o reino de Deus está
próximo; arrependei-vos e crede no evangelho. 2
Daí por diante, passou Jesus a pregar e a dizer: Arrependei-vos, porque está
próximo o reino dos céus. 3
Ele, porém, lhes disse: É necessário que eu anuncie o evangelho do reino de
Deus também às outras cidades, pois para isso é que fui enviado 4.

Segundo o dicionário léxico de Strong (2005, termo 932), esta palavra


significa o poder real, realeza, domínio, governo. Não se deve confundir com um
reino que existe na atualidade. É uma referência ao direito ou autoridade para
governar sobre um reino, do poder real de Jesus como o Messias triunfante.

Jeremias afirma que o termo surge com muita frequência nos sinóticos, em
contraste com o número relativamente pequeno de referências no judaísmo
contemporâneo e no resto do Novo Testamento. Isto indica a importância do ensino
para Jesus e para os escritores dos evangelhos sinóticos. A maneira como a
temática é abordada não encontra paralelos na literatura do meio ambiente de
Jesus.

São muitas parábolas e ditos apocalípticos sobre o termo “Reino de Deus” ou


“Reino dos Céus”, nos sinóticos.

Porém, existem algumas passagens no Antigo Testamento que podem


introduzir a questão do Reino de Deus. Passaremos a apresentar alguns exemplos
do que seria o início do pensamento acerca desta temática.

De acordo com Bray G. (2018),

2 Almeida Revista e Atualizada. (1993). (Mc 1.14–15). Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil.
3 Almeida Revista e Atualizada. (1993). (Mt 4.17). Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil.
4 Almeida Revista e Atualizada. (1993). (Lc 4.43). Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil.
“Reino de Deus é um tema que pode ser rastreado até ao início do Antigo
Testamento. Aparece primeiramente em Gênesis 14, onde encontramos
Abraão oferecendo o dízimo dos despojos de guerra a Melquisedeque, um
misterioso rei que mais tarde recebeu um status semidivino (Sl 110) e a
quem Jesus foi comparado (Hb 5:6). O saltério contém vários salmos “reais”
nos quais o rei é retratado em termos escatológicos que vão além de
qualquer coisa normalmente associado a um governante humano”5.

Existem alguns textos no Antigo Testamento que apontam para o Reino de


Deus. Alguns Salmos que expressam esta ideia de soberania do Senhor sobre as
nações. Vejamos alguns exemplos:

“Reina o SENHOR. Revestiu-se de majestade; de poder se revestiu o SENHOR


e se cingiu. Firmou o mundo, que não vacila”. 6

“Dizei entre as nações: Reina o SENHOR. Ele firmou o mundo para que não se
abale e julga os povos com equidade”. 7
“Reina o SENHOR. Regozije-se a terra, alegrem-se as muitas ilhas”. 8
Percebe-se que nos Salmos correspondentes, o pensamento de Reinado do
Senhor Deus está relacionado com o fato de ser o Criador e sustentador de todas as
coisas que existem. Podemos resumir a questão afirmando que o Senhor fez uma
aliança com Israel e este pacto deveria ser visto como uma relação entre o Rei, o
Senhor Deus e seu povo, que seria um reino de sacerdotes, isto é, aqueles que
iriam glorificá-lo e servi-lo nesta terra.
“Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha
aliança, então, sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos;
porque toda a terra é minha; vós me sereis reino de sacerdotes e nação
santa. São estas as palavras que falarás aos filhos de Israel” 9.

Durante o período da Monarquia em Israel, pode-se inferir que o Senhor


buscou a Davi, aquele que realmente iria representar o ideal de Rei perante o povo,
ou seja, um homem que buscaria estar debaixo do governo do Senhor. Deus faz
uma aliança com Davi e promete perpetuar sua descendência no trono de Israel.
“Há de ser que, quando teus dias se cumprirem, e tiveres de ir para junto de
teus pais, então, farei levantar depois de ti o teu descendente, que será dos
teus filhos, e estabelecerei o seu reino. Esse me edificará casa; e eu

5Bray, G. (2018). O Reino de Deus. In B. Ellis, M. Ward, & J. Parks (Orgs.), Sumário de Teologia
Lexham. Bellingham, WA: Lexham Press.
6 Almeida Revista e Atualizada. (1993). (Sl 93.1). Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil.
7 Almeida Revista e Atualizada. (1993). (Sl 96.10). Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil.
8 Almeida Revista e Atualizada. (1993). (Sl 97.1). Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil.
9 Almeida Revista e Atualizada. (1993). (Êx 19.5–6). Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil.
estabelecerei o seu trono para sempre. Eu lhe serei por pai, e ele me será
por filho; a minha misericórdia não apartarei dele, como a retirei daquele
que foi antes de ti. Mas o confirmarei na minha casa e no meu reino para
sempre, e o seu trono será estabelecido para sempre”. 10

A partir da esperança de um verdadeiro Rei descendente de Davi, Israel vive


muitos anos à espera daquele que iria estabelecer um Reino de justiça entre os
homens, ou seja, aquele que poderia realizar as promessas de libertação e glória,
prometidas ao povo. Jesus é o cumprimento da promessa.

“Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre
os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte,
Pai da Eternidade, Príncipe da Paz; para que se aumente o seu governo, e
venha paz sem fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, para o
estabelecer e o firmar mediante o juízo e a justiça, desde agora e para
sempre. O zelo do SENHOR dos Exércitos fará isto” 11.

2 O REINO DE DEUS NOS EVANGELHOS


Sabemos que existe uma busca por Jesus dentro do judaísmo daquele
período. Segundo Skarsaune (2001, p.139 e 140), os estudiosos buscam relacionar
Jesus com o judaísmo, mais precisamente com o movimento farisaico. Seria Jesus
um verdadeiro revolucionário dentro do partido religioso que iria se tornar o
Verdadeiro judaísmo após a destruição do templo em 70 D.C.?

Porém, conforme o autor acima referido, relacionar Jesus com um


determinado partido religioso judeu não seria importante, mas sim a mensagem e o
propósito de Jesus diante das aspirações nacionais dos judeus. De acordo com esta
obra, a “Restauração de Israel” seria a estrutura dentro da qual todas as palavras e
ações de Jesus ganham sentido mais completo. A restauração ocorreria através da
salvação anunciada e da chegada do Reino de Deus, como podemos perceber nas
leituras dos sinóticos.

Se pensarmos em restauração do povo e na libertação do poder das trevas, a


primeira exigência apresentada por João Batista, Jesus e os apóstolos é o
arrependimento.

Segundo Hendriksen:

10 Almeida Revista e Atualizada. (1993). (1Cr 17.11–14). Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil.
11 Almeida Revista e Atualizada. (1993). (Is 9.6–7). Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil.
A palavra usada no original olha tanto para trás como para adiante.
Portanto, a tradução “convertei-vos” é provavelmente melhor que
“arrependei-vos”. Além disso, a conversão afeta não só as emoções, mas
também a mente e a vontade. No original, o termo usado por João Batista
indica uma mudança radical de mente e de coração, que conduz a uma
mudança completa de vida12

O termo para arrependei-vos é μετανοεω (metanoeo) que significa mudar a


mente, isto é, arrepender-se mudar a mente para melhor, com emendar de coração
e com pesar os pecados passados13.

Arrependimento é a atitude necessária para que as pessoas recebam o Reino


dos céus e entrem nele. Uma mudança interior, uma reversão de propósito para com
Deus, isto é, uma volta para estar debaixo do governo de Deus. Jesus mantém essa
mesma proclamação em seu ministério.
No texto do Evangelho de João, capítulo 3, versos 2 a 7, pode-se notar que o
cerne da questão no diálogo entre Jesus e Nicodemus é o novo nascimento, isto é, a
conversão:

Este, de noite, foi ter com Jesus e lhe disse: Rabi, sabemos que és Mestre
vindo da parte de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu
fazes, se Deus não estiver com ele. A isto, respondeu Jesus: Em verdade,
em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o
reino de Deus. Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer,
sendo velho? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e nascer segunda
vez? Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer
da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da
carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te admires de
eu te dizer: importa-vos nascer de novo14.

O novo nascimento neste texto significa a regeneração que é operada pelo


Espírito de Deus e pela ação da Sua palavra em nossas vidas. Assim como os
cristãos hoje em dia tem conhecimento de que só verão o retorno do Senhor em
glória e estarão com Ele se purificarem seus corações, assim também aqueles
judeus deveriam saber que a verdadeira transformação do interior e da mente é que
os colocariam diante do cumprimento das promessas do Senhor relacionadas ao
Reino.

12Hendriksen, W. (2010). Mateus. (V. G. Martins, Trad.) (2a edição em português, Vol. 1, p. 245).
Cambuci; São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã.
13 Strong, J. (2002). Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong. Sociedade Bíblica do Brasil.
14 Almeida Revista e Atualizada. (1993). (Jo 3.2–7). Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil.
Ou seja, o início da manifestação do reino de Deus entre os homens seria
através das vidas transformadas e submissas ao governo de Deus em seus
corações. A partir do testemunho dessas vidas redimidas, então o Senhor começa a
estabelecer o seu reinado, seu governo e seu propósito. Tudo começa a partir do
arrependimento para com Deus e a fé na proclamação do Evangelho do Reino, que
anuncia o fim do domínio do pecado e de satanás entre o povo.

O Sermão da Montanha é um exemplo claro acerca da ética do Reino de


Deus. No texto de Mateus, capítulo cinco, versos um a onze, Jesus ensina acerca do
caráter do cidadão do Reino:

“Vendo Jesus as multidões, subiu ao monte, e, como se assentasse,


aproximaram-se os seus discípulos; e ele passou a ensiná-los, dizendo:
Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus.
Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem-
aventurados os mansos, porque herdarão a terra. Bem-aventurados os que
têm fome e sede de justiça, porque serão fartos. Bem-aventurados os
misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os
limpos de coração, porque verão a Deus. Bem-aventurados os
pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os
perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. Bem-
aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos
perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e
exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim
perseguiram aos profetas que viveram antes de vós” 15.

Segundo John Stott (1986, p. 18 a 20) apresenta este texto neste sentido. A
simplicidade das palavras e a profundidade das ideias encantam todas as pessoas
que se dedicam à leitura desta passagem da Bíblia. As Bem-aventuranças
descrevem o caráter equilibrado e diversificado do cristão. Trata-se de oito
qualidades do mesmo grupo de pessoas e não características separadas. Ou seja,
de acordo com o autor, os valores deste texto são especificações dadas pelo próprio
Cristo quanto ao que cada Cristão deve ser.

Ao viver buscando o Reino de Deus, todo homem se depara com tais


exigências, que revelam verdadeiramente o governo de Deus e Sua soberania sobre
as vidas dos que demonstram tais valores. Existem bênçãos, tanto presentes quanto
futuras para aqueles que são identificados com a exposição de Cristo, ou seja,
receberão o galardão da parte de Deus Pai.

15 Almeida Revista e Atualizada. (1993). (Mt 5.1–12). Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil.
O que pode ser destacado nas Bem-aventuranças é que os humildes em
espírito, os quebrantados de coração, aqueles que buscam a justiça de Deus, são
pacificadores e puros de coração, entre outras características, é que de fato são os
que nasceram no Espírito e vivem para Deus.

3 O REINO DE DEUS E A IGREJA


Em seguida será apresentada uma questão que interfere diretamente na
prática da Igreja na terra, o aspecto escatológico do reino de Deus. Segundo Bray
G. (2018):

O Reino de Deus era um tema favorito na pregação de Jesus, mas o


escopo completo de seu significado e implicações tem sido objeto de muita
discussão. No nível mais básico, podemos dizer que o reino de Deus está
presente onde quer que o rei seja encontrado. Jesus está presente por seu
Espírito tanto na igreja quanto no mundo. Alguns identificaram
completamente o reino com a igreja, mas embora a igreja esteja certamente
incluída e seja representante do reino, a maioria dos teólogos diria que o
reino é um conceito mais amplo em seu sentido pleno e final. A igreja é uma
organização missionária, ao passo que o reino é mais frequentemente
concebido como o resultado desse cumprimento da missão16.

Ou seja, a Igreja foi estabelecida por Jesus a fim de viver em missão,


proclamando o Reino e vivendo a realidade do Governo de Deus no tempo pelo
Senhor para continuar a obra que Jesus iniciou e ao receber do batismo com o
espírito Santo, os apóstolos e outros discípulos saíram a testemunhar.
Em Atos dos Apóstolos capítulo um, verso oito está escrito: “mas recebereis
poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em
Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra”17.
Jesus também ensinou seus discípulos a orar e clamar pela vinda do Reino, o
que indica que o Reino em sua plenitude será manifesto num futuro próximo. A
essência do reino é espiritual e não política, sendo assim, a Igreja do Senhor deve
reconhecer sua natureza celestial e sua importância no projeto de Deus.

A igreja é chamada para batizar as nações e ensinar-lhes o caminho de


Cristo (Mat 28:19-20). Para alcançar esses objetivos, a igreja mantém um
ministério harmônico de pregação, ensino, e adoração e organiza várias
formas de alcance para o mundo em geral. Podem variar de capelanias em

16Bray, G. (2018). O Reino de Deus. In B. Ellis, M. Ward, & J. Parks (Orgs.), Sumário de Teologia
Lexham. Bellingham, WA: Lexham Press.
17 Almeida Revista e Atualizada. (1993). (At 1.8). Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil.
hospitais, prisões, e assim por diante, a agências missionárias ativas em
exercício em todo o mundo18.

John Stott (1986, p.35), afirma que a manifestação da vontade e da justiça de


Deus entre os homens possui três aspectos: o legal, que implica na doutrina da
justificação pela fé, ou seja, o fundamento para a salvação, o aspecto moral, que é a
justiça de caráter e de conduta e também o aspecto da justiça social, isto é o
cuidado com a pessoa e suas reais necessidades no mundo. Todo cristão é
chamado a viver segundo estes três parâmetros de justiça, sempre em submissão a
cristo e ao evangelho.

Ainda pensando na realidade acerca da Igreja e seu propósito na terra, outra


questão importante é a da comunhão dos santos:

A comunhão descreve a unidade e comunidade da igreja que pode existir


por causa do evangelho. Como tal, é importante notar que a comunhão com
outros cristãos pode existir porque Deus tomou a iniciativa de nos trazer a
um relacionamento correto com ele. Deus Pai, através de Jesus Cristo e
pelo Espírito, estabeleceu, por sua graça, uma relação pactual com a
humanidade. Aqueles que creem no evangelho estão unidos no Espírito
através do Filho ao Pai (João 15:1–17; 17:1–26; 1 João 1:3–7). Esse
relacionamento leva à realidade da comunhão entre o homem e Deus.
Aqueles que estão assim “em Cristo” estão em comunhão não só com
Jesus Cristo (e o Pai) no Espírito, mas também uns com os outros19.

Enfim, a comunhão da Igreja e sua unidade são fundamentais para que


cumpra seu propósito na terra. Refletindo nestas palavras, é possível perceber o
quanto o Senhor deseja que vivamos em comunhão uns com os outros, por meio do
espírito Santo que habita em nós.

Finalmente, devemos pensar na consumação do Reino. Jesus ensina seus


discípulos a orar pelo estabelecimento deste Reino, a proclamação do Evangelho
visa restaurar o homem e promover sua reconciliação com Deus, pois o Senhor
Jesus prometeu aos seus discípulos que irá retornar para de fato reinar sobre a terra
com os justos.

18Bray, G. (2018). A Missão da Igreja. In B. Ellis, M. Ward, & J. Parks (Orgs.), Sumário de Teologia
Lexham. Bellingham, WA: Lexham Press.
19Kimble, J. (2018). Comunhão na Vida da Igreja. In B. Ellis, M. Ward, & J. Parks (Orgs.), Sumário de
Teologia Lexham. Bellingham, WA: Lexham Press.
Toda a prática da Igreja deve refletir o Reino de Deus. Paulo afirma em
Romanos no capítulo 14 acerca desta questão:

“Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e
alegria no Espírito Santo. Aquele que deste modo serve a Cristo é
agradável a Deus e aprovado pelos homens. Assim, pois, seguimos as
coisas da paz e também as da edificação de uns para com os outros”.20

Quando aprendermos a viver na esfera do Reino, seremos submissos de fato


ao governo de Deus e Sua vontade prevalecerá em nossas escolhas e atitudes. O
verdadeiro testemunho da Igreja entre os homens é evidenciar seu compromisso
com a vontade de Deus, pois, agindo desta forma, estará anunciando avinda do
Reino.

“Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de
propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele
que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; vós, sim, que,
antes, não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus, que não tínheis
alcançado misericórdia, mas, agora, alcançastes misericórdia”21.

Que através de um testemunho relevante, que manifesta o amor de Deus


pelos homens e o amor do homem pelo seu próximo, assim como Jesus viveu e
ensinou, a Igreja possa pautar sua agenda neste tempo em que as pessoas cada
vez mais estão literalmente perdidas em relação ao propósito de suas vidas.
Anunciar as virtudes daquele que nos chamou, amar profundamente ao Senhor e
sua causa e clamar pela vinda do reino todos os dias.

20 Almeida Revista e Atualizada. (1993). (Rm 14.17–19). Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil.
21 Almeida Revista e Atualizada. (1993). (1Pe 2.9–10). Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil.
CONCLUSÃO
Desde o livro de Gênesis podemos observar o projeto de Deus para a
salvação do homem. Deus tem se manifestado aos homens mostrando seu poder e
sua soberania, pois a Bíblia é a própria história de Deus com os homens.

O Reino de Deus pode ser considerado a essência da mensagem bíblica,


refletindo todo o desígnio de Deus para a humanidade. Trata-se de uma revelação
que conduz o homem ao caminho, que oferece a realização de tudo o que o Senhor
nos prometeu em Sua Palavra. Desde o chamado de Israel a fim de ser uma nação
santa do Senhor, já é possível observar o início do estabelecimento do Reino de
Deus entre os homens. A própria monarquia em Israel e a aliança de Deus com Davi
demonstra esta proposição.

Jesus começou seu ministério anunciando a chegada do Reino de Deus, não


de forma localizada, com um teor político, mas com poder do Espírito Santo,
trazendo a libertação do pecado e de satanás, levando o homem a viver uma vida
plena, segundo o propósito do Pai.

A Igreja foi chamada para viver esta realidade e anunciar a mensagem do


Reino, até que o Senhor Jesus retorne para buscá-la. A vida em comunidade deve
acontecer de acordo com os valores do Reino e os cristãos devem viver sempre com
a expectativa da vinda de Cristo, o que irá proporcionar a consumação do Reino.

Esperamos que este trabalho tenha contribuído para iniciar uma reflexão
acerca da vida da Igreja como comunidade que anuncia e busca viver o Reino de
Deus entre os homens.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
A Bíblia. DE ALMEIDA, J. F. (Trad.). Nova Almeida Atualizada. São Paulo:
Sociedade Bíblica do Brasil, 3ª Edição, 2017.
BRAY, In B. Ellis, M. Ward, & J. Parks (Orgs.), Sumário de Teologia Lexham.
Bellingham, WA: Lexham Press, 2018.
HENDRIKSEN, W. (V. G. Martins, Trad.) Mateus. São Paulo, SP: Editora Cultura
Cristã. 2ª edição, 2010.
JEREMIAS, Joachim. Teologia do Novo Testamento, São Paulo. Paulinas, 1977.
LOHSE, Eduard. Contexto e Ambiente do Novo Testamento. São Paulo. Paulinas, 2ª
edição, 2004.
SKARSAUNE, Oscar. À Sombra do Templo. São Paulo, Editora Vida, 1ª Edição,
2001.
R. W. STOTT, John. A Mensagem do Sermão da Montanha. São Paulo, Editora
ABU, 1ª Edição, 1986.
STRONG, J. Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong. São Paulo: Sociedade
Bíblica do Brasil, 1ª Edição, 2002.

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