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no Brasil em dois momentos: um os imigrantes ocuparam os postos de
ascendente, até 1850, denominado como trabalho disponíveis e os negros
“Escravismo Pleno”, outro descendente, passaram a compor o exército de
até 1888, chamado de “Escravismo reserva de mão-de-obra, permanecendo
Tardio”. É importante ressaltar a análise em uma situação desfavorável até os
que o autor faz da transição do dias atuais, apesar das ações
Escravismo Tardio para o Capitalismo, afirmativas. Por isso, justifica-se a tese
que se desenvolveu mantendo estruturas de Moura de que o racismo está na
arcaicas e construídas com base nas gênese do Capitalismo Brasileiro e não
riquezas acumuladas com o Escravismo será superado com o desenvolvimento
Moderno, tendo como protagonista a da sociedade capitalista.
mesma classe social (dos senhores) que
escravizou os africanos. A segunda parte do livro é intitulada
“População, Miscigenação, Identidade
No Escravismo Tardio, a Lei Eusébio Étnica e Racismo”. Aponta o
de Queirós – que proibiu o tráfico de colonialismo como um complicador
africanos escravizados para o Brasil –, étnico e mutilador e estrangulador
iniciou-se o processo de abolição cultural:
gradual, beneficiando muito mais os Complicador étnico porque
senhores de escravos do que os negros introduziu compulsoriamente nas
escravizados. Isto porque os primeiros áreas colonizadas [...] o
tiveram oportunidade e tempo para componente africano [...] que veio
substituir a mão-de-obra dos negros consolidar com o seu trabalho, o
escravizados pela dos imigrantes escravismo nessas colônias.
brancos europeus, enquanto aos Mutilador e estrangulador porque
segundos foi reservado o projeto de impôs pela violência, direta ou
segregação espacial e social, negando- indireta, os seus padrões culturais e
valores sociais usando para isto
lhes o direito à terra. Com a
desde a morte a tortura até a
promulgação da Lei da Terra, catequese refinada chamada de
exacerbou-se o tratamento evangelização para dominar os
segregacionista, porque ela transformou povos escravizados (p.175).
a posse em concessão privada e o
trabalho pesado repetitivo e desumano, O autor continua explicando como o
enfim, o trabalho que aliena, justificado colonizador português estabeleceu, com
ideologicamente pelas teorias do base em uma filosofia étnica, uma
racismo científico, estiolando-se a escala de valores no processo de
dignidade do trabalhador. miscigenação, que tipificou onze graus
de civilização para classificar e
A transição do Escravismo para o hierarquizar a nação brasileira: (i)
Capitalismo ocorreu de modo português nascido na Europa, (ii)
dependente, pois as elites de então, português nascido na Brasil, (iii)
associaram-se ao Capitalismo Global de mulato, (iv) mameluco, (v) índio puro,
maneira subalterna e não houve, como (vi) índio civilizado, (vii) índio
em outros países, a aliança entre a selvagem, (viii) negro da África, (ix)
burguesia e a classe proletária. Mudou- negro nascido no Brasil (crioulo), (x)
se o modo de produção – Escravismo bode (mestiço negro com mulato) e (xi)
para Capitalismo – mas, a exploração curiboca (mestiço negro com índio). Na
dos trabalhadores continuou. Mais escala apresentada, há uma
ainda: com a política de branqueamento, concordância entre o étnico e o social,
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justificando a escravização e a servidão vê, emerge e permanece uma posição
imposta aos negros e indígenas, tidos ambígua dos afrodescendentes, na qual
como inferiores aos “brancos” se busca a valorização do negro, mas a
portugueses nascidos na Europa ou no opressão racista impele-o a “ser o que
Brasil. não é”.
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