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15 citações do livro “Deus na era secular” que você não pode

deixar de ler

Tim Keller é, sem dúvidas, um dos grandes pensadores do cristianismo de nossos dias.
Autor prolífico, suas obras têm sido publicadas no Brasil por Edições Vida Nova, a qual
acaba de disponibilizar Deus na era secular: como céticos podem encontrar sentido no
cristianismo. Nessa obra, Keller enfrenta as complexidades de nossa época, bem como
os questionamentos suscitados à fé cristã de uma maneira primorosa, apresentando
respostas robustas que são informadas por uma vasta pesquisa acadêmica. Confira
alguns insights extraídos da obra:

Secularismo prático

“Indivíduos podem professar uma fé religiosa e se dizer não seculares. Todavia, na


prática, a existência de Deus pode não ter impacto perceptível algum em suas decisões e
conduta de vida. Isso acontece porque em uma era secular, até mesmo as pessoas
religiosas tendem a escolher namorados e cônjuges, profissões e amizades e a tomar
decisões financeiras sem ter outro objetivo maior do que a própria felicidade pessoal no
presente. Sacrificar a paz e a riqueza pessoal em favor de causas transcendentes se torna
algo raro, mesmo entre quem afirma crer em valores absolutos e na eternidade. Mesmo
que você não seja uma pessoa secular, a era secular consegue ‘esgarçar’ (secularizar) a
fé até ela ser vista como apenas mais uma opção na vida — ao lado do emprego, da
diversão, dos hobbies, da política — e não como uma estrutura abrangente que
determina todas as escolhas da vida.” (p. 13).
Blindagem contra a transcendência

“Se você se sente tomado por alegria e maravilhamento diante de uma obra de arte,
haverá de se sentir empobrecido ao ser lembrado de que esse sentimento nada mais é do
que a mera reação química que ajudava seus ancestrais a encontrarem alimento e
fugirem dos predadores. Nesse caso, você terá de se blindar contra a própria visão
secular das coisas, a fim de tirar o máximo proveito da experiência. É difícil extrair
‘verdadeiro prazer da música se você sabe e se lembra de que seus ares de importância
não passam de pura ilusão’”. (p. 33).

“Às vezes a pessoa experimenta uma plenitude em que o mundo de repente parece
carregado de significado, coerência e beleza que irrompem em meio ao nosso senso
comum de estar no mundo. […] Frank Bruni escreveu no New York Times sobre
experiências como essas, que deixam as pessoas se sentindo a meio caminho entre a
‘devoção a Deus e a descrença em Deus’, pois parecem levar à conclusão de que existe
algo além do mundo material, visível. Um exemplo clássico disso é o que aconteceu
com o lorde Kenneth Clark, um dos mais ilustres escritores e historiadores de arte da
Grã-Bretanha, produtor da série televisiva Civilization da BBC. Em um relato
autobiográfico, Clark escreve que viveu um episódio curioso, quando morou em uma
vila na França: ‘Tive uma experiência religiosa. Deu-se na igreja de San Lorenzo, mas
não pareceu estar ligada à beleza harmoniosa da arquitetura. Só posso dizer que, por
poucos minutos, meu ser inteiro foi inundado por uma espécie de júbilo celestial, muito
mais intenso do que qualquer coisa que eu jamais experimentara. Esse estado mental
durou vários minutos […] mas por mais que tenha sido maravilhoso, representou um
estranho problema em relação a como agir. Minha vida estava longe de ser
irrepreensível. Teria de me corrigir. Minha família acharia que eu enlouquecera e, talvez
aquilo não passasse de um delírio; afinal de contas, em todos os sentidos, eu era indigno
de tamanha torrente de graça. Pouco a pouco, o efeito foi passando e não fiz o menor
esforço para retê-lo. Acho que agi com razão. Estava enterrado fundo demais no mundo
para mudar de curso. Mas “senti a mão de Deus”, tenho certeza, e embora a lembrança
dessa experiência tenha desaparecido, ela ainda me ajuda a entender as alegrias dos
santos.’” (p. 33-34).

“Mark Lilla, um estudioso do gênero humano, escreveu: ‘Para a maior parte dos
humanos, a curiosidade em relação às coisas mais elevadas acontece com naturalidade;
é a indiferença para com elas que precisa ser aprendida’. O secularismo estrito sustenta
que pessoas são apenas entidades físicas sem alma, que os entes deixam de existir
quando morrem, que as sensações de amor e beleza não passam de fatos
neurológicos/químicos, que não existe certo ou errado fora do que nós, em nossa mente,
determinamos e escolhemos. Essas posições são no mínimo profundamente
contraintuitivas para quase todo mundo, e grandes faixas de humanidade continuarão a
rejeitá-las como algo impossível de se crer.” (p. 39).

Razão e fé

“O cristão usa a razão e a fé para chegar a suas crenças do mesmo modo que seu
semelhante secular usa a razão e a fé para chegar às dele. Os dois olham para as mesmas
realidades, presentes na natureza e na vida humana, e buscam um modo de explicá-las
por meio de um processo que seja racional, pessoal, intuitivo e social. A razão não opera
sozinha nem pode. A secularidade contemporânea, portanto, não é ausência de fé, mas
em vez disso se baseia em todo um conjunto de crenças, entre as quais há diversas
hipóteses altamente contestáveis, acerca da natureza da prova e da própria
racionalidade.” (p. 61).

A origem do conceito de igualdade e direitos humanos

“O cristianismo não forneceu somente uma ideia genérica de igualdade, mas também os
recursos para uma visão de direitos humanos ‘naturais’. Quem teve a ideia de que o ser
humano tinha “direitos” não conferidos pelo Estado, aos quais se podia apelar contra o
Estado? De onde veio o pensamento de que algumas coisas são devidas a todas as
pessoas, independentemente de seu status social, seus dons ou suas habilidades, apenas
em razão de serem humanas? Conquanto popularmente se pense que os direitos
humanos foram criação do secularismo moderno contra a opressão da religião, a
realidade é que esse conceito surgiu não no Oriente, mas no Ocidente, e não após o
Iluminismo, mas durante a cristandade medieval. Como reconheceram Horkheimer na
década de 1940 e Martin Luther King Jr. na de 1960, a ideia de direitos humanos foi
baseada na ideia bíblica de que todos foram criados à imagem de Deus.” (p. 65).

“A Bíblia nos fornece o fundamento mais forte possível para a noção de direitos
humanos. Seu próximo se coloca em sua presença com um valor intrínseco, uma
dignidade inviolável (Gn 9.6). Martin Luther King Jr. não pediu à América branca que
libertasse os afro-americanos para que buscassem seus próprios interesses dentro de
parâmetros racionais, suas definições próprias e individuais de uma vida gratificante.
Antes, citando Amós 5.24, ele chamou a nação a não se dar por satisfeita até que ‘corra
a justiça como as águas, e a retidão, como o ribeiro impetuoso’.” (p. 254).

O salto de fé do humanismo

“As crenças humanistas das pessoas mais seculares deveriam ser reconhecidas
exatamente pelo que são: crenças. Não se pode deduzi-las de forma lógica ou empírica
apenas a partir do mundo natural, material. Se não existe uma realidade transcendente
além desta vida, então não existe valor nem sentido em nada. Sustentar que os seres
humanos não passam de produto de um processo evolutivo no qual o forte devora o
fraco, mas em seguida insistir em que, mesmo assim, toda pessoa tem uma dignidade
humana a ser honrada — é um enorme salto de fé contra todas as evidências em
contrário.” (p. 71).

Se Deus não existe, a vida não tem sentido

“Se tudo o que existe for esta vida, e não houver um Deus ou uma vida além deste
mundo material, então, em última análise, não importará se você é um maníaco
genocida ou um altruísta; não fará diferença se você luta contra a fome na África ou é
incrivelmente cruel e ganancioso e mata os pobres de fome. No fim, o que você fizer
não fará a menor diferença, em absoluto. Poderá deixar algumas pessoas mais felizes ou
mais tristes pelo breve período em que estiverem neste planeta, mas além disso, é
provável que sua influência — boa ou má — seja insignificante quando considerada em
maior escala. Tudo o que você fez, e todos com quem e para quem fez coisas,
desaparecerão para sempre. No fim, tudo o que fazemos é de uma insignificância
radical. Nada conta para sempre.” (p. 94).
Ativismo social e egocentrismo

“Muitos têm chamado a atenção para os problemas que surgem quando as pessoas se
voltam para a benevolência e o ativismo social como um modo de encontrarem mais
satisfação para si mesmas. Essa abordagem é, em última análise e ironicamente, de
extremo egocentrismo. Sua suposta generosidade na verdade só está fortalecendo a
própria pessoa. Seu mais famoso crítico, Nietzsche, argumentava que as pessoas da
modernidade ajudam os necessitados por um senso de superioridade moral. Sentem-se
superiores ao seu ‘eu’ anterior, não iluminado, bem como às épocas e sociedades
passadas que não estavam comprometidas com a igualdade como elas hoje estão.
Resumindo, servem mais a si mesmas do que aos outros. Usam o pobre e o necessitado
para alcançar a autoestima de que precisam. Isso pode não só levar ao paternalismo, mas
também pode se transformar em desdém e desprezo, se seus esforços altruísticos não
forem recebidos com respeito e gratidão. Ajudar os outros em razão de uma insatisfação
pessoal não dará certo no longo prazo nem para os outros nem para você.” (p. 117).

Liberdade para fazer o que bem quisermos?

“Como vimos no filme Calvary, a filha do sacerdote tentou o suicídio e justificou-o


alegando autonomia: ‘Pertenço a mim mesma e a mais ninguém’. Ao que ele retruca
‘Verdade […] mentira’, pois a alegação dela é injusta. ‘Esse é um argumento velho e
gasto, creio eu’, diz ele com toda calma, ‘mas e quanto às pessoas que você deixa para
trás?’. Apesar de os ocidentais gostarem de pensar em si mesmos, acima de tudo, como
produtos das próprias decisões e escolhas, não é esse o caso. Você é produto de uma
família e de uma comunidade de pessoas que investiram quantidades enormes de tempo,
esforço e amor em sua vida; grande parte disso tudo ocorreu antes mesmo que você
pudesse falar e antes mesmo que fosse capaz de se lembrar. Cometer suicídio, o
sacerdote diz com acerto, é atacar e infligir dor em muitos que jamais serão curados. A
pergunta é: que direito você tem de obscurecer para sempre a vida dessas pessoas?” (p.
139).

As limitações do amor terreno

“Apesar de todos nós já termos sentido extraordinária alegria no amor, Jonathan


Edwards caracteriza todos os relacionamentos terrenos como altamente ‘entupidos’.
Imagine um cano de água quase inteiramente entupido por barro e lama, de modo que só
uma quantidade mínima de água poluída o atravessa. Assim é toda a experiência
humana de amor. Até os melhores relacionamentos humanos nesta vida, por causa de
nossas fraquezas, deixam fluir tão pouco amor quanto um cano entupido permite a
passagem da água. Mas no céu o amor flui de modo indescritivelmente mais puro e
pleno. Assim, quando refletimos sobre os fatores que maculam e enfraquecem todo
amor aqui neste mundo, ou que o tornam doloroso, e em como seria se eles fossem
eliminados, podemos ter uma ínfima noção da alegria do céu.” (p. 213).

O fracasso do pós-modernismo

“[Edward] Docx explica por que ele tem perdido força nas artes. No início ‘parecia que
a melhor forma de desafiar a supremacia do capitalismo ocidental era empregando-se as
táticas irônicas do pós-modernismo’. Mas ‘como o pós-modernismo ataca tudo’, não há
maneira de estabelecer quaisquer critérios estéticos — ninguém tem o direito de dizer
que essa arte é boa ou que aquela é ruim. Isso queria dizer que o único modo de avaliar
obras de artes era pelo dinheiro que geravam. Por mais irônico que pareça, ‘removendo
todos os critérios, nada mais nos resta a não ser o mercado, o oposto do que o pós-
modernismo pretendia na origem’.” (p. 257-258).

A fé ateísta

“A descrença em Deus é um ato de fé, pois não há como provar que o mundo e tudo o
que há dentro dele e sua profunda ordenação matemática e a própria matéria, que tudo
isso simplesmente existe por si mesmo como fatos brutos sem fonte alguma que lhes
seja exterior. Se a teoria de que Deus existe nos leva a esperar o que encontramos, ao
passo que a crença de que Deus não existe não o faz, por que não seguir em frente, ao
menos a título de experiência, adotando a teoria de que Deus existe?” (p. 285).

A singularidade de Cristo

“Buda foi enfático ao dizer que não era um deus, e Maomé, claro, jamais se declararia
Alá, nem Confúcio se identificou com o céu. [Há] aqueles que diziam ser Deus, mas
nunca foram capazes de convencer ninguém, a não ser um pequeno número de pessoas.
Por quê? Porque é quase impossível viver uma vida assim tão extraordinária a ponto de
a maioria das pessoas ser levada a concluir que você não é um mero ser humano. Em
toda a história do mundo, só existe uma pessoa que não só afirmou ser o próprio Deus,
mas também conseguiu que um número enorme de pessoas cresse nisso. Só Jesus
combina a afirmação de divindade com a mais bela vida humana.” (p. 297).

Citações extraídas da obra “Deus na era secular: como céticos podem encontrar sentido
no cristianismo“, de Timothy Keller, publicada por Vida Nova: São Paulo, 2018.
Traduzido por Jurandy Bravo. Publicado no site Tuporém com permissão.

http://tuporem.org.br/15-citacoes-do-livro-deus-na-era-secular-que-voce-nao-pode-deixar-de-
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