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Barroco (XVI - XVIII)

⤳Características
○ As principais características do Barroco, também chamado de seiscentismo, são
o dualismo, a riqueza de detalhes e o exagero.
○ Na literatura barroca, os textos refletem elementos rebuscados e quase sempre
extravagantes, onde são valorizados os detalhes em um jogo de contrastes.
○ A linguagem desse movimento tentou unir os valores medievais aos da cultura
grega e latina, os quais foram evidenciados com o Renascimento.
○ De modo geral, o barroco na literatura é marcado por características que
evidenciam o jogo de palavras e de ideias. Além disso, é marcante o uso das
figuras de linguagem como a metáfora, inversões, hipérbole, paradoxo e antítese.

⤳Estilos literários
○ Cultismo: caracterizado pelo "jogo de palavras'' nesse estilo a linguagem é
rebuscada e culta, chegando a ser extravagante. Nele, há a valorização de
detalhes e dos pormenores.
○ Conceptismo: identificado pelo "jogo de ideias", o estilo conceptista trabalha com
a imposição de conceitos e a definição de um raciocínio lógico. Portanto, tem
como características o racionalismo e a retórica aprimorada.

⤳ Gregório de Matos

○ Sua   crítica  se  fez   de   modo   cômico,   jocoso,   usando   uma  linguagem 
 popular que   não   coincidiu  com  a  linguagem    polida  dos  documentos   e 
 textos   oficiais  do   século   XVII.
○ Gregório traz em sua poética elementos do classicismo e tem forte influência
petrarquiana (rimas interpoladas e rimas intercaladas ABBA, CDE).
○ Sua obra é dividida em três vertentes: poesia satírica, poesia lírica (amorosa e
erótica) e poesia sacra (religiosa).
○ No soneto abaixo, o eu poético lamenta o fato de que houve uma degeneração na
cidade, transformação que o atingiu também. Essa decadência ocorreu em razão
da “máquina mercante”. Essa sátira investe contra as oportunistas operações dos
mercadores da época. Caetano Veloso recriou o poema na canção “Triste Bahia”. 
⤳Sátira:

À cidade da Bahia

Triste Bahia! ó quão dessemelhante (A)


Estás e estou do nosso antigo estado! (B)
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado, (B)
Rica te vi eu já, tu a mi abundante. (A)

A ti trocou-te a máquina mercante, (A)


Que em tua larga barra tem entrado, (B)
A mim foi-me trocando, e tem trocado, (B)
Tanto negócio e tanto negociante. (A)

Oeste em dar tanto açúcar excelente (C)


Pelas drogas inúteis, que abelhuda (D)
Simples aceitas do sagaz Brichote. (E)

Oh se quisera Deus, que de repente (C)


Um dia amanheceras tão sisuda (D)
Que fora de algodão o teu capote! (E)

○ O poema satírico de Gregório é marcado por uma briga entre uma sociedade
“normal” (a do homem bem nascido, culto e correto)  e uma outra sociedade
“absurda” (composta por pessoas oportunistas instaladas no poder).

○ Neste caso a “sociedade absurda” é real porque é a Bahia onde ele vive e a
“sociedade normal” é absurda se comparada à realidade baiana. Assim, ambas são
consideradas absurdas uma pela outra e esse impasse é reflexo do seu contexto
histórico.

○ As críticas são expostas de maneira vulgar, rude, ácida e sem nenhum pudor. 
Justamente por isso,  a poesia satírica é a mais conhecida   de sua produção. O
poeta não hesitava em reprovar a sociedade e o comportamento de pessoas
importantes, citando, inclusive, nomes de políticos.

○ Como todo bom Barroco tem o resgate do formalismo estético,  este soneto 


satírico é composto por versos decassílabos em esquema de rimas ABBA, ABBA,
CDE, CDE.
○ No poema, há uma dramática lamentação sobre a situação da Bahia, utilizando
por exemplo a palavra “dessemelhante” para   expor a desigualdade econômica 
do lugar, causada por  “Brichote”, ou seja, “gringo, estrangeiro”.

Descreve o que era naquele tempo a cidade da Bahia

 
A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar cabana e vinha;
Não sabem governar sua cozinha,
E podem governar o mundo inteiro.

Em cada porta um bem frequente olheiro,


Que a vida do vizinho e da vizinha
Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha,
Para o levar à praça e ao terreiro. 

Muitos mulatos desavergonhados,


Trazidos sob os pés os homens nobres,
Posta nas palmas toda a picardia,

Estupendas usuras nos mercados,


Todos os que não furtam muito pobres:
E eis aqui a cidade da Bahia.

○ A Bahia de outrora aparece com um tom nostálgico, e o poeta critica a


degradação moral e econômica no qual a cidade se encontra no momento. Os
ladrões e oportunistas (comerciantes, etc) são os detentores do poder político e
econômico, enquanto os trabalhadores honestos encontram-se na pobreza.

○ O soneto tem o objetivo de mostrar a realidade da cidade da Bahia.

○ Trazidos sob os pés os homens nobres: na visão do poeta, os mulatos em


ascensão subjugam com esperteza os “homens nobres”.

○ É apresentado um quadro da degradação da cidade. Tipos perniciosos são


mencionados: “grandes conselheiros" que, incapazes de dirigirem suas próprias
vidas, têm a pretensão de orientar a alheia; “olheiros”, que espalham
maledicências; “mulatos desavergonhados”, cuja malandragem é socialmente
exaltada, e os que obtêm lucro exorbitante em negociações inescrupulosas.

Que falta nesta cidade?................Verdade


Que mais por sua desonra?...........Honra
Falta mais que se lhe ponha..........Vergonha.
O demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta,
numa cidade, onde falta
Verdade, Honra, Vergonha.
Quem a pôs neste socrócio?..........Negócio
Quem causa tal perdição?.............Ambição
E o maior desta loucura?...............Usura.
Notável desventura
de um povo néscio, e sandeu,
que não sabe, que o perdeu
Negócio, Ambição, Usura.
Quais são os seus doces objetos?....Pretos
Tem outros bens mais maciços?.....Mestiços
Quais destes lhe são mais gratos?...Mulatos.
Dou ao demo os insensatos,
dou ao demo a gente asnal,
que estima por cabedal
Pretos, Mestiços, Mulatos.
Quem faz os círios mesquinhos?...Meirinhos
Quem faz as farinhas tardas?.........Guardas
Quem as tem nos aposentos?.........Sargentos.
Os círios lá vêm aos centos,
e a terra fica esfaimado,
porque os vão atravessando
Meirinhos, Guardas, Sargentos.
E que justiça a resguarda?.............Bastarda
É grátis distribuída?......................Vendida
Que tem, que a todos assusta?.......Injusta.
Valha-nos Deus, o que custa,
o que El-Rei nos dá de graça,
que anda a justiça na praça
Bastarda, Vendida, Injusta.
Que vai pela clerezia?..................Simonia
E pelos membros da Igreja?..........Inveja
Cuidei, que mais se lhe punha?.....Unha.
Sazonada caramunha!
enfim que na Santa Sé
o que se pratica, é
Simonia, Inveja, Unha.
E nos frades há manqueiras?.........Freiras
Em que ocupam os serões?............Sermões
Não se ocupam em disputas?.........Putas.
Com palavras dissolutas
me concluís na verdade,
que as lidas todas de um Frade
São Freiras, Sermões, e Putas.
O açúcar já se acabou?..................Baixou
E o dinheiro se extinguiu?.............Subiu
Logo já convalescer?.....................Morreu.
À Bahia aconteceu
o que a um doente acontece,
cai na cama, o mal lhe cresce,
Baixou, Subiu, e Morreu.
A Câmara não acode?...................Não pode
Pois não tem todo o poder?...........Não quer
É que o governo a convence?........Não vence.
Que haverá que tal pense,
que uma Câmara tão nobre
por ver-se mísera, e pobre
Não pode, não quer, não vence.

○ Neste poema Gregório retrata de forma irônica mostrando a paisagem moral ou


“imoral” na verdade de Salvador, Bahia, nossa capital na época colonial; e assim
abriu espaço para a língua do povo e as manifestações nativistas de nossa
literatura com autores que passaram a criar uma consciência crítica nacional, a
qual ainda demorou um século para concretizar-se realmente. Criticava não só
os “poderosos” como toda população. Sua poesia era generalizada.

⤳Lírico-amorosa

⤳Lírico-erótica

Necessidades forçosas da natureza humana

Descarto-me da tronga, que me chupa,


Corro por um conchego todo o mapa,
O ar da feia me arrebata a capa,
O gadanho da limpa até a garupa.

Busco uma freira, que me desentupa


A via, que o desuso às vezes tapa,
Topo-a, topando-a todo o bolo rapa,
Que as cartas lhe dão sempre com chalupa.
Que hei de fazer, se sou de boa cepa,
E na hora de ver repleta a tripa,
Darei por quem mo vase toda Europa?

Amigo, quem se alimpa da carepa,


Ou sofre uma muchacha, que o dissipa,
Ou faz da sua mão sua cachopa.

⤳Lírica Sacra

A Jesus Cristo Nosso Senhor

Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado,

Da vossa alta clemência me despido;

Antes, quanto mais tenho delinquido,

Vos tenho a perdoar mais empenhado.

Se basta a vos irar tanto pecado,

A abrandar-vos sobeja um só gemido:

Que a mesma culpa, que vos há ofendido,

Vos tem para o perdão lisonjeado.

Se uma ovelha perdida já cobrada,

Glória tal e prazer tão repentino

Vos deu, como afirmais na Sacra História:

Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,

Cobrai-a; e não queirais, Pastor Divino,

Perder na vossa ovelha a vossa glória.


A Nosso Senhor Jesus Christo com actos de arrependimento e suspiros de amor

Ofendi-vos, Meu Deus, bem é verdade,

É verdade, meu Deus, que hei delinquido,

Delinquido vos tenho, e ofendido,

Ofendido vos tem minha maldade.

Maldade, que encaminha à vaidade,

Vaidade, que todo me há vencido;

Vencido quero ver-me, e arrependido,

Arrependido a tanta enormidade.

Arrependido estou de coração,

De coração vos busco, dai-me os braços,

Abraços, que me rendem vossa luz.

Luz, que claro me mostra a salvação,

A salvação pretendo em tais abraços,

Misericórdia, Amor, Jesus, Jesus.


⤳ As principais características que estabelecem uma relação entre Gregório de
Matos e Camões, utilização de sonetos (dois quartetos e dois tercetos) com versos
decassílabos e rimas interpoladas nos quartetos (ABBA) e intercaladas nos tercetos
(CDE).

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