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Grupo de pesquisa sobre Idade Média, Medievalismos e Estudos Narrativos.

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Longa idade média ou apropriações do medievo?


Uma reflexão para se descolonizar a idade média
através do medievalismo

NOTÍCIAS PUBLICAÇÕES 18 DE AGOSTO DE 20201 DE SETEMBRO DE 2020


Os pesquisadores Clínio Amaral e Maria Eugênia Bertarelli publicaram um artigo na Revista História
da Historiografia sobre a tese francesa da longa idade média e o medievalismo. No texto, os
pesquisadores, além de fazer críticas à historiografia francesa e à brasileira, por sua postura
colonizada, que adotou a premissa da longa idade média sem a devida reflexão crítica, fizeram um
balanço sobre as possíveis contribuições do medievalismo para os estudos de idade média no Brasil.
Como o texto foi publicado em inglês (para acessar o texto original, clique aqui
(h ps://www.historiadahistoriografia.com.br/revista/article/view/1555)), os autores
disponibilizaram uma versão em português. A versão segue abaixo.

1 – Introdução

A idade média europeia parece ter entrado de moda no Brasil. Busca-se exaltar um passado visto
como branco, patriarcal e cristão e, além disso, que não distinguia a esfera religiosa da esfera política.
Essa apropriação da idade média no Brasil pode ser entendida como o desdobramento de um
fenômeno mundial relacionado a certos grupos políticos, com especial repercussão nos Estados
Unidos e na Europa Ocidental.

O medievalista Paulo Pachá, em artigo publicado no site VioMundo, debruça-se sobre o tema,
relacionando os interesses da nova direita brasileira ao amor pelo medievo (PACHA, 2019). Ele
discute como o termo Deus Vult, expressão latina que podemos traduzir como Deus deseja, um grito
de guerra associado à primeira cruzada, está reaparecendo no Brasil do século XXI ligado a
movimentos da direita nacional. O autor faz uma análise do interesse em difundir uma idade média
associada à cultura hegemônica judaico-cristã e, predominantemente, branca e patriarcal, enfatizando
a continuidade histórica do Brasil com a Europa ocidental.

Assim, o fenômeno diagnosticado por Pachá faz-nos refletir como rememorar a idade média é, na
verdade, uma forma de dar sentido a uma certa interpretação sobre o contexto atual. Leituras e
releituras da idade média foram recorrentes ao longo da história ocidental. A própria criação do
termo durante o século XIV surge de um esforço em reler um passado próximo e identificá-lo com
um período de decadência intelectual através do interesse de exaltar uma modernidade que renasce
depois de séculos de escuridão.

Teria sido o humanista italiano Francesco Petrarca um dos primeiros a se referir à idade média ao
mesmo tempo que ajudava a criá-la. A respeito da consciência histórica de Petrarca, Theodore
Mommsen ressalta que ele pode ser considerado pioneiro de uma visão tripartida da história
(MOMMSEN, 1942, p. 241). De fato, segundo Mommsen, Petrarca exalta a antiguidade e a
contrapõem a um período do meio. Esse intervalo, referido por ele como de decadência, inicia-se após o
declínio do império romano e finda com um tempo moderno que se iniciava justamente durante os
anos que ele escreve. A idade média nasce como um tempo de degradação visto por Petrarca através
de um olhar profundamente pessimista. Contudo, afirma Mommsen, no final de Africa o autor
pretende que o poema sirva para aqueles que viverão depois dele como uma esperança de tempos
melhores. As tenebrae iriam desaparecer e, assim, seus descendentes retornariam a era do antigo
“brilho puro”.

Criava-se uma possível identidade desse momento novo ao qual Petrarca entendia pertencer em
oposição à época de trevas que se seguiu à decadência do império romano. A idade média, em uma
de suas primeiras leituras da história ocidental, surge precisamente como um tempo do meio, entre
uma antiguidade exaltada e um renascer intelectual que já se desgarrava das trevas, mas que Petrarca
não o define, ainda que o vislumbre. Funda-se a idade média a fim de sublinhar um renascer
humanista no século XIV.

Hilário Franco Júnior, na introdução de seu livro sobre o nascimento do Ocidente, discute as leituras
e apropriações do medievo ao longo da história. Nessa parte do livro, intitulada O (pré) conceito da
Idade Média, o medievalista analisa as distintas recepções desse período ao longo da história,
demonstrando como de uma época de declínio, durante o renascimento e o iluminismo, passou a ser
exaltada com o romantismo no século XIX. Em um contexto de discussão sobre a identidade nacional
na Europa, a idade média surgia como o berço das nacionalidades. Portanto, a verdade e o raciocínio
lógico do período iluminista cediam espaço para a valorização dos sentidos, do instinto e dos sonhos.
Franco Júnior identifica no período do romantismo obras de ambientação, inspiração ou temática
medieval como Fausto (1808 e 1832) de Goethe, O corcunda de Notre Dame (1831) de Victor Hugo, os
romances históricos de Walter Sco (1771-1832) e as composições de Wagner como Tristão e Isolda
(1859) e Persival (1882).

Observamos que as leituras e releituras sobre a idade média iniciaram-se a partir do ponto em que o
próprio período histórico se encerra, ao mesmo tempo em que está sendo construído. A partir de
então, distintos contextos históricos buscaram criar e recriar a idade média com base nos seus
interesses contemporâneos.

Se consideramos as apropriações discursivas pelas quais esse período já passou, é possível concluir
que existiram muitas idades médias, ou ainda que a idade média é uma construção discursiva e,
portanto, não existe (AMALVI, 2002, p. 537), contudo não paramos de falar e escrever sobre ela ou,
melhor, sobre a sua projeção que mais se adéqua ao presente. Dito isso, fica a questão, sobre qual
idade média devemos pensar: a de ontem ou a de hoje, aquela que nos liga ao “berço da civilização
ocidental”, tal como a historiografia europeia propala, ou aquela que a utiliza como pretexto para se
pensar o aqui e o agora, tal como proposto por Francis Gentry e Ulrich Müller (GENTRY e MÜLLER,
1991).

Neste artigo, problematizaremos estas duas formas de se pensar a idade média e, ao mesmo tempo,
defenderemos a sua descolonização, ou seja, apresentar a teoria do medievalism[1] como uma forma
de analisar estas constantes apropriações do medievo, questionando a tese francesa da existência de
uma longa idade média. Como alternativa a essa tese, buscamos pensar a utilização da teoria, nascida
nos EUA da década de 70 do século XX, chamada de medievalismo, assim, enfatizamos as relações
temporais entre a contemporaneidade e as apropriações discursivas acerca do medievo em períodos
pós-medievais.

O termo é pouco conhecido do meio acadêmico brasileiro e, neste sentido, acreditamos na


importância de compreender sua definição e seu percurso historiográfico, tanto nos estudos norte-
americano e europeu quanto nas ainda incipientes pesquisas no Brasil. Para tanto, dividiremos o
artigo em duas partes, inicialmente, apresentaremos a noção francesa de longa idade média e, em
seguida, exporemos a teoria do medievalismo e suas implicações para a descolonização da idade
média e da historiografia como uma forma de autonomização das historiografias tradicionalmente
colonizadas como a brasileira.

2 – A longa idade média e a centralidade europeia

A fim de refletir acerca do medievalismo e apresentar a discussão historiográfica dentro desse campo


de estudos, devemos, antes de tudo, distingui-lo das abordagens da escola francesa inaugurada por
Jacques Le Goff (LE GOFF 2006). Embora algumas pesquisas em medievalismo e aquelas herdeiras da
reflexão de Le Goff sobre a longa idade média possam confundir-se em certos textos acadêmicos, é
fundamental demostrar que são tradições e abordagens diferentes com visões historiográficas
bastante distintas.

Pouco conhecido do público acadêmico brasileiro, o medievalismo foi tratado em um artigo


intitulado As expressões do medievalismo no século XXI (PORTO JÚNIOR, 2018) que tem o mérito de ser
um dos primeiros a apresentar a discussão no país. Esse estudo, publicado nos Anais do XVIII
Encontro da Anpuh-Rio, faz um levantamento historiográfico das teorias sobre medievalismo (e
neomedievalismo), examinando as pesquisas desenvolvidas nesses campos. O autor analisa “o
empenho acadêmico nessa área”, especialmente a partir da década de 1970, apresentando a tradição
historiográfica norte-americana, que se inicia com Leslie J. Workman ao lado da tradição inaugurada
pelo medievalista Jacques Le Goff, na França. “A partir do final da década de 1970, a ideia de uma
idade média que se faz presente, também começou a ser abordada pelo famoso historiador e
medievalista francês Jacques Le Goff (1924 – 2014) …” (PORTO JÚNIOR, 2018, p. 3). Explorando essa
idade média “que se faz presente”, o autor busca entender o medievalismo, o neomedievalismo, a
“medievalidade”[2] e aqueles estudos que abordam as reminiscências do período medieval.

É possível identificar no artigo de Porto Júnior uma mescla de teorias que aparecem indistintamente
sob a vaga denominação de estudos sobre uma idade média que se faz presente. Uma imprecisão por
meio da qual aparecem lado a lado campos de investigação que conhecem discussões teóricas e
percursos historiográficos diferentes. Com efeito, ao tratar da recepção da cultura medieval em
tempos pós-medievais, encontramos referência a termos como: rememorações, recriações,
reconstruções, representações, reapropriações, releituras, permanências, reminiscências, resíduos ou
até sobrevivências. É comum a utilização desses vocábulos para abordar a presença da idade média
após o seu término. Contudo, no intuito de compreender as teorias sobre o medievalismo, é preciso
distinguir a utilização desses termos. As palavras recriar, reconstruir ou representar a idade média
referem-se a abordagens diferentes do que àquelas que investigam as permanências, reminiscências
ou sobrevivências do mundo medieval na modernidade ou mesmo na contemporaneidade. Não se
trata apenas de uma nuance entre palavras mais apropriadas para trabalhar a recepção da cultura
medieval, se é que podemos falar de uma “cultura medieval”, como abordaremos mais à frente. É
preciso distinguir entre dois campos de pesquisas que abordam a idade média para além de seus
limites cronológicos.

Aqueles que buscam compreender as permanências, reminiscências ou sobrevivências da idade


média estariam ligados à tradição da historiografia medieval francesa que se dedicou a trilhar o
caminho aberto por Jacques Le Goff. Em seguida, examinaremos esta tradição para entendermos
precisamente como se construiu seu campo de preocupações e, deste modo, desfazer uma das
maiores dificuldades na compreensão das teorias sobre medievalismo que é a confusão com os
estudos a respeito das permanências medievais.

2.1 – A longa idade média de Jacques Le Goff e dos seus herdeiros

Essa perspectiva foi lançada de forma embrionária por Jacques Le Goff no prefácio do livro intitulado
Pour un autre Moyen Âge (1977), no qual afirma que a idade média teria durado dos séculos II ou III
até se extinguir sob os golpes da revolução industrial a partir do século XVIII. Desta forma, o
medievalista definia, pela primeira vez, a concepção de um medievo que não se encerrava nos marcos
cronológicos tradicionais; entre 476, com a queda de Roma, e 1453, com a tomada de Constantinopla,
ou mesmo 1492, com a “reconquista” de Granada e a chegada do europeu à América. A longa idade
média não apenas se iniciaria um pouco antes do século V, mas terminaria bem depois dos séculos
XIV e XV, segundo esta nova periodização.

Em A la recherche du Moyen Age, um livro de entrevistas dadas a Jean Maurice de Montremy e lançado
na França em 2003, encontramos um capítulo intitulado Uma longa Idade Média, em que Le Goff
discute as principais características desse conceito e seus desdobramentos ao longo da sua carreira.
Ele inicia com a apresentação do desconforto com os marcos cronológicos tradicionais que encontrou
no início de seus estudos na década de 50: “Como historiador, herdo uma periodização modelada
pelo passado – mas devo também me interrogar sobre esses cortes artificiais do tempo, às vezes
nocivos à boa percepção dos fenômenos” (LE GOFF, 2003, p. 39-40). Para ele, a história “transcorre de
modo contínuo” e somente quando uma série de mudanças afetam os domínios da economia, dos
costumes, da política ou das ciências interagindo mutuamente de modo a formar um novo sistema,
então sim seria possível falar em mudança de período. Um único acontecimento, data ou referência
não é suficiente para criar uma ruptura decisiva na periodização histórica.

Com base nestes princípios, Le Goff discorda que o renascimento seja um momento de ruptura com a
idade média. O medievalista atribuiu a Jackob Burckhardt o trabalho de ter imposto, através de seu
clássico estudo intitulado A civilização do Renascimento na Itália (1860), uma noção de ruptura em
relação ao medievo, considerada, por Le Goff, como artificial. Na perspectiva de Burckhardt, durante
o renascimento, surge um espírito que valoriza as artes e a antiguidade, criando um contexto único na
cultura da Europa, capaz de o diferenciar do período precedente. Entretanto, Le Goff, herdeiro dos
trabalhos de Erwin Panofsky, observa que não se deve falar de um renascimento, mas em
renascimentos, posto que a própria lógica de renascimento é indissociável da história medieval. No
texto Outono da Idade Média ou primavera dos tempos novos? (LE GOFF, 2007, p. 220), sustenta que o
renascimento dos séculos XIV e XV teria sido mais um renascimento dentre outros que ocorreram ao
longo da idade média como o renascimento carolíngio e o renascimento do século XII. Isto é, sem
deixar de constituir um período singular na história do Ocidente, ele não marcaria uma ruptura com
a idade média.

Segundo o medievalista, apenas com as inovações do século XVIII, e. g., as teorias de Adam Smith, a
invenção da máquina a vapor, as teorias de progresso, a industrialização da Europa e a afirmação do
racionalismo e cientificismo da Encyclopédie foi possível falar em final da idade média.

“Em resumo, (…) as mudanças não se dão jamais de golpe, simultaneamente em todos os setores e
em todos os lugares. Eis porque falei de uma longa Idade Média, uma Idade Média que – em certos
aspectos de nossa civilização – perdura ainda e, às vezes desabrocha bem depois das datas oficiais. O
mesmo se pode dizer me relação à economia, não se pode falar em mercado antes do século XVIII. A
economia rural só consegue fazer desaparecer a fome no século XIX. O vocabulário da política e da
economia só muda definitivamente – sinal de mudança das instituições, dos modos de produção e
das mentalidades que correspondem a essas alterações – com a Revolução Francesa e a Revolução
Industrial. É também o momento que se chega à construção de uma nova ciência que já não é
medieval (Galileu, Harvey, Newton etc…)”. (LE GOFF, 2008, p. 66-67)

Dentre os destacados herdeiros da tradição francesa inaugurada por Jacques Le Goff, encontramos o
medievalista francês Alain Guerreau. Ele analisou os elementos que poriam fim ao mundo medieval
na perspectiva da longa idade média. De acordo com Guerreau, durante os séculos XVIII/ XIX, ocorre
o que ele chamou de uma dupla fratura. Por um lado, a partir da reflexão de autores do iluminismo
surge uma estrutura denominada religião, “ao mesmo tempo elemento de representação de uma
forma de prática social e conjunto específico de instituições e de atividades, cuja articulação ao todo
social não tinha precedente” (GUERREAU, 2002, p. 438). O próprio termo religião não faria sentido se
aplicado ao contexto medieval. Neste sentido, com o surgimento da noção de religião, rompia-se a
estrutura medieval de ecclesia que unia em um mesmo termo o próprio campo do sagrado, a
instituição da Igreja e o conjunto de homens que dela participam.

Por outro lado, Guerreau observa que no período iluminista as teorias econômicas de Adam Smith
instauram a noção de liberdade econômica. Assim, criava-se a perspectiva de uma mão-de-obra sem
vínculo ou proteção, ao mesmo tempo que surgia a perspectiva da terra transferível e livremente
explorável. Segundo Guerreau, para Adam Smith, o enriquecimento supõe que a terra agrícola e os
contratos de trabalho possam ser objeto de transações comerciais. Os entraves eram considerados
como obstáculos medievais que deviam ser superados. Essas teorias valorizavam o liberalismo e
assumem “o mercado como instituição dominante no sentido em que os ‘mecanismos do mercado’
são tidos como a base da organização social” (GUERREAU, 2002, p. 440). Rompia-se, de acordo com
Guerreau, a estrutura do dominium medieval, na qual os camponeses estavam ligados à terra, aos
laços de servidão e à fidelidade para com os seus senhores.

“A dupla fratura do século XIX implodiu a ecclesia e o dominium. A religião e a Economia impuseram-
se e tornaram quase impensável a Idade Média em termos diferentes dos de anarquia (e noções
semelhantes) e/ou gestação lenta e conflituosa da Europa contemporânea: incoerência e/ou
teleologia”. (GUERREAU, 2002, p. 441).

De fato, observamos que, para Guerreau, o mundo medieval perde o sentido a partir do século XIX,
entretanto, até esse período, é possível pensar a sociedade do Ocidente europeu com base nas
estruturas medievais da ecclesia e do dominium. Inclusive, para ele é sobre essas estruturas que se teria
organizado a empresa colonial na América.

Outro importante discípulo da tradição francesa foi Jérôme Baschet, sobre quem o mestre Le Goff
escreveu:

“Evidentemente, sinto-me feliz por ver que Jérôme Baschet justifica, melhor do que eu havia podido
sugerir, a concepção de uma longa Idade Média que supera, ou melhor, apaga a falsa ruptura de um
século XVI, de um Renascimento que seria sua negação e que a remeteria às trevas do
obscurantismo”. (LE GOFF In: BASCHET, 2006, p. 17)

Com base na sua experiência de vida em terras mexicanas, o historiador Jérôme Baschet estudou a
conquista e colonização do novo mundo na perspectiva da longa idade média. A expansão da Europa
para fora do continente deve ser entendida, de acordo com Baschet, dentro da lógica do dinamismo
próprio do sistema feudal, que, longe de ser um sistema em estagnação e decadência no século XV,
estava expandindo suas fronteiras em direção aos novos mundos.

Baschet toma a data de 1492 como um marco de referência para discutir os laços entre o fim da
reconquista na península Ibérica e o início da aventura marítima, que conduz à Conquista. “…
Reconquista e Conquista revestem-se de uma profunda unidade e participam de um mesmo processo
de unificação e de expansão da cristandade” (BASCHET, 2006, p. 27). O ano de 1492 não seria visto
como uma linha divisória entre duas épocas estranhas uma à outra. Ao contrário, seria um ponto de
união de “dois momentos históricos dotados de uma profunda unidade” (BASCHET, 2006, p. 27). Os
primeiros colonizadores exploram as terras americanas na esperança de materializar a geografia
medieval, como, por exemplo, Cristóvão Colombo que buscava o Paraíso terrestre na embocadura do
Orenoco.

Em virtude disso, Baschet observa como o mundo medieval estabeleceu-se do outro lado do Atlântico
durante o processo de expansão marítima. Assim, reconhece o peso de uma dominação colonial
surgida da dinâmica ocidental, “que conduz à transferência e à reprodução de instituições e de
mentalidades europeias, mas sem ignorar uma realidade original, irredutível a uma repetição
idêntica, toma forma nas colônias do Novo Mundo” (BASCHET, 2006, p. 32).

Le Goff, no prefácio do livro A civilização feudal: Do ano mil à colonização da América, define a
perspectiva de Baschet com as seguintes palavras:

“Jérôme Baschet estima que, sejam quais forem as diferenças entre a Europa medieval e a América
colonial do século XVI, o essencial do feudalismo medieval volta a ser encontrado na América: o
papel dominante e estruturante da Igreja; o equilíbrio da tensão entre monarquia e aristocracia
modifica-se, sem que se rompa, no entanto, a lógica feudal; as atividades cada vez mais importantes
dos homens de negócios, comprometidos com o comércio atlântico ou com a exploração dos recursos
minerais e agrícolas do mundo colonial, permanecem dentro dos marcos corporativos e monopolistas
tradicionais, e estes homens seguem orientando seus ganhos para a propriedade da terra e a
aquisição do estatuto de nobre. No entanto, Baschet aceitaria sem emendas a expressão “feudalismo
tardio e dependente”, dado que se trata de um mundo cuja lógica é completamente alheia à nossa”.
(LE GOFF In: BASCHET, 2006, p. 18)

É importante observar que Baschet foi profundamente influenciado pelos estudos do intelectual
mexicano Luis Weckmann, que escreveu duas importantes obras dentro da perspectiva de
continuidade entre uma Europa feudal e uma América colonial; La herencia medieval de México,
publicado em 1984 e La herencia medieval del Brasil, de 1993. Weckmann busca demonstrar que o
feudalismo foi transplantado para a América, especificamente nos casos do México e do Brasil
estudados por ele, analisando como esse processo permeia a cultura colonial em todos os níveis.
Weckmann situa-se de modo original na discussão que existia na historiografia sobre o período
colonial. A discussão girava em torno da passagem do modo de produção feudal para o modo de
produção capitalista. No Brasil, o debate pautava-se por uma análise das características desse modo
de produção baseado na escravidão, particularmente pelos estudos de Jacob Gorender. Além disso,
os historiadores buscavam analisar o tema das instituições jurídicas e políticas feudais e senhorias
que caracterizavam a colonização na América portuguesa.

Weckmann posiciona-se no interior destes debates através da análise das heranças culturais e
ideológicas, observando a ciência, a geografia medieval, as experiências místicas e religiosas. Deste
modo, deslocava a antiga discussão, assentada sobre bases econômicas, políticas e jurídicas, para um
novo campo, o da história das ideias. Para ele, o Atlântico foi um “espelho deformante” através do
qual o novo mundo passou a refletir o velho continente sem, contudo, reproduzi-lo fielmente.

“No hubo em la península ibérica el otoño de la Edad Media que con tanta maestría ha sabido
Huizinga describir em relación con al Europa central; por ello, los españoles principalmente, pero
también los portugueses, pudieron transmitir al Nuevo Mundo instituciones y valores arquetípicos
de la Edad Media todavía em plena vigencia”. (WECKMANN, 1993, p. 18)

Com a ressalva de que a reprodução do mundo medieval não teria sido totalmente fiel, pois “El
océano que dio su nombre a la Civilización Atlántica no fue nunca, en el proceso histórico, un simple
espejo que reflejara el Mediterráneo…” (WECKMANN, 1993, p. 19), o autor argumenta que o período
colonial, tanto na América espanhola quanto na América portuguesa foram conduzidos por
instituições e privilégios feudais (muitas vezes já caducos no velho mundo, mas, aqui, foram capazes
de recuperar certo vigor) e uma cultura medieval ainda viva. Afirma, também, que a vida religiosa
durante os primeiros séculos coloniais era uma “cópia fiel” da estrutura medieval. Para o historiador
mexicano, os primeiros colonizadores contemplaram o novo mundo com lentes medievais e levaram
na bagagem ideias e lendas do medievo.

A respeito da longa idade média brasileira, encontramos o artigo de Hilário Franco Júnior intitulado
Raízes medievais do Brasil, publicado na revista da USP, em 2008. Neste texto, o historiador faz um
levantamento das heranças medievais que se encontram na formação do Brasil, não apenas no
período colonial, mas até os dias de hoje. A referência ao nome do clássico livro escrito por Sérgio
Buarque de Holanda não parece casual. Hilário Franco encontra raízes medievais no personalismo que
domina as relações sociais no Brasil, na fragilidade das instituições e na dificuldade de fazer valer
normas impessoais. O personalismo das relações teria gerado a sociabilidade que Sérgio Buarque
definiu como sendo a do homem cordial.

Hilário Franco também observa como os engenhos do período colonial lembravam os senhorios
medievais, sendo organismos quase autossuficientes com capelas, hortas, criação de animais etc. O
historiador segue elencando exemplos das raízes medievais no Brasil e afirma que o coronelismo
conhecido por aqui é “nada mais que a versão nacional do clientelismo e do patronato que existiu na
Europa medieval.” (FRANCO JÚNIOR, 2008, p. 87). Ele analisa os aspectos culturais integrados à
vida brasileira, mas que possuem origens na sociedade medieval. O primeiro deles seria o idioma,
que no Brasil encontrar-se-ia mais próximo das características da idade média do que no próprio
Portugal do XV ao XVIII, seguido da música e da tradição do carnaval. Ele chega a analisar a
religiosidade, a devoção aos santos e o messianismo milenarista em território americano como tendo
profundas origens na cultura medieval europeia. Por fim, Hilário Franco comenta: “A frustração no
transplante de instituições, idéias, hábitos, para outra realidade física levou ao sentimento difuso,
bem percebido por Sérgio Buarque, de que ‘somos ainda hoje desterrados em nossa terra’” (HILÁRIO
FRANCO, 2008, p. 103).

Observamos que os estudos produzidos com base na noção de longa idade média podem acentuar
uma percepção de que as sociedades na América são inevitavelmente herdeiras do continente
europeu. Com efeito, ao analisar as permanências e reminiscências da sociedade feudal na
perspectiva da longa idade média considera-se no centro da questão a realidade europeia e suas
sobrevivências ao longo do tempo.

A idade média surge aqui como uma referência que tende a enfatizar o caráter de dependência em
relação à experiência europeia, posto que toma a sociedade medieval como o modelo que estava
sendo transplantado para colônia. A referência a idade média com base nessa perspectiva
historiográfica pode contribuir para sublinhar uma leitura colonialista da história dos territórios do
novo mundo, bem como uma perspectiva eurocêntrica, uma vez que, o referencial para se pensar a
história do novo mundo, teve, no passado, uma vinculação com a idade média e, no presente e no
futuro, mantem esse grilhão, devido à sua reminiscência medieval, assim cria-se uma teleologia da
história ocidental cujo centro é a historiografia europeia.

Ora, se a Europa é o centro, torna-se tentador vincular a descoberta da América à idade média.
Entretanto, essa forma de ver a conquista desconsidera a ruptura histórica causada pela própria
conquista, bem como o subjacente processo de colonização.

“Sans doute que, si l’on regarde depuis le côté européen, il existe toujours la possibilité de projeter
son histoire, son système de valeurs etc. pour établir l’idée d’un processus dans lequel, par exemple,
la conquête aurait eu un passé, c’est-à-dire, une histoire liée à la guerre contre les Maures. Ainsi, les
combats qui ont eu lieu en Amérique étaient, eux aussi, dirigés contre les infidèles, de la « même »
façon que ceux de la reconquête.

En outre, du point de vue européen, les Maures, les Indiens, les juifs étaient classés, grosso modo,
comme des « infidèles ». De ce e façon, la conquête, comme la reconquête, fait partie de la même
guerre « sainte », qui, à travers tout le Moyen Âge, s’est manifestée par une série de guerres contre les
« infidèles ». Si on adopte la perspective européenne, la conquête ne représente qu’une continuation
dans un nouveau monde et, ainsi, il n’est pas possible de mesurer la rupture qu’elle a provoquée pour
les Indiens.
Néanmoins, les habitants de la Mésoamérique avaient-ils la même possibilité de chercher dans leur
passé ce e situation pour la comprendre comme une sorte de déjà-vu ? Non. Si on change la place de
l’observateur pour prendre le point de vue des Indiens, on est obligé d’adme re une totale rupture
avec leur histoire. Une telle expérience doit être associée au sentiment, vécu par les Indiens pendant
les premiers contacts entre les Européens et les habitants de la Mésoamérique, d’une totale étrangeté.

Ainsi, l’écriture de l’histoire de la conquête peut, en même temps, montrer une « continuité », pour
les espagnols, ou une totale rupture, pour les Indiens, avec le passé. Pour ce e raison, au lieu
d’affirmer que le Moyen Âge « a continué en Amérique », il serait préférable de voir comment les
Indiens ont dû apprendre plusieurs éléments de la pensée médiévale et, ensuite, comment ils ont fait
pour les maîtriser. Par ailleurs, on croit que les auteurs soutenant l’idée d’un long Moyen Âge aux
Amériques n’ont pas bien compris les détails et les nuances liées soit à la reconquête, soit à la
conquête. L’une et l’autre font partie d’un contexte précis (évidemment, il y a plusieurs intersections
entre elles), c’est-à-dire que le passé de la conquête est né dans le contexte politique qui a opposé les
royaumes de Castille et de Portugal, surtout depuis la fin du XIVe siècle jusqu’à 1411″. (AMARAL,
ALMEIDA e BERRIEL, 2014, p. 10-11)

Assim, questionar a perspectiva da longa idade média seria um esforço no sentido de pensar as
apropriações da idade média, como algo original e fruto de um processo histórico autônomo, não
necessariamente vinculado aos paradigmas historiográficos europeus. Vejamos a resposta que
Baschet fez às críticas realizada pelos autores do texto citado acima.

“Il y a sans doute une part de malentendu (ou d’incompréhension) dans notre débat. Mon propos se
situe à un fort niveau de généralisation, mes interlocuteurs me répondent sur le plan des spécificités
(ibériques et surtout portugaises). Nous ne nous plaçons pas à la même échelle de modélisation. Non
que l’une soit plus pertinente que l’autre. Elles sont toutes deux nécessaires. Pour ma part, j’admets
volontiers le caractère préliminaire de mon travail et le fait qu’un modèle aussi général doive être
affiné pour tenir compte d’une multiplicité de situations particulières. En revanche, je me demande si
mes interlocuteurs ne tendent pas à récuser le registre de la généralité ou s’ils ne s’emploient pas à
rejeter un modèle général au motif qu’il n’aurait pas pris en compte certaines particularités (ce qui me
semblerait relever d’une confusion des échelles). La question est bien plutôt de savoir si ces
particularités peuvent s’articuler au modèle général, qui e éventuellement à le modifier, sans pour
autant le faire imploser. Rappelons au passage ce que Braudel disait des modèles historiques : ils sont
strictement indispensables ; mais leur plus grande utilité survient au moment où ils font naufrage…

L’enjeu serait de parvenir à travailler conjointement aux différentes échelles, pour articuler les
spécificités des organisations sociales locales ou nationales aux traits les plus généraux d’un système
global”. (BASCHET, 2014)

Em sua argumentação, insiste na questão da escala, referenciando o trabalho de Braudel, ou seja, a


América deve ser vista em uma escala global, articulada à Europa, tal como o fez Braudel. Além
disso, destaca que ele estabeleceu um modelo que tomou como referência o ocidente europeu. Em sua
resposta, observamos a forma como ele pensa a história, vinculada aos grandes modelos, segundo os
Annales e, ao fazer, está a defender um estatuto de cientificidade, o qual traz em si uma
“neutralidade” para dizer que a idade média veio para América, portanto, não considerou a proposta
dos autores que era descolar o ponto de vista do observador, fazendo isso através da visão do
indígena e do negro; enfim, eu seu texto, encontramos alguns elementos que a teoria do
medievalismo questiona há algum tempo, o excessivo recurso à autoridade científica e, ao mesmo
tempo, a centralidade dos modelos analíticos europeus.

Apesar dos autores de Le Moyen âge est-il arrivé aux Amériques? terem algum mérito no sentido de
mudar o ponto de vista de observação, não foram capazes de levar a discussão sobre a idade média
até sua relação com o presente, um dos pontos centrais deste artigo.
Com efeito, propomos que ela seja vista através do hic et nunc. Evitando cair no presentocentrismo
criticado por Baschet como a tendência em pensar a idade média conforme categorias e
representações do tempo presente, intencionamos refletir, outrossim, sobre as inúmeras apropriações
realizadas pelo cinema, pela religião, pelos jogos de video games, buscando uma “idade média viva”,
porque vive o presente e se projeta para o futuro, sempre se ressignificando, à luz de questões
contemporâneas. Neste sentido, a relação entre passado, presente e futuro, seria uma forma de
pensar uma idade média nas Américas, considerando que esta idade média foi e está sendo
reelaborada aqui e agora.

3 – As trincheiras abertas pela teoria do(s) medievalismo(s)

A teoria do medievalismo que apresentaremos doravante, originada em um debate que se desenvolve


assentado na realidade americana, propõem uma nova percepção sobre a idade média que se faz
presente. Trata-se de um campo de estudos acerca da recepção da idade média em períodos
posteriores a ela, conforme definição de Leslie Workman, um dos fundadores desse campo de
estudos nos EUA. Não se trata, portanto, de analisar as reminiscências ou permanências do período,
mas estudar o contínuo processo de recriar, reviver, rememorar ou se reapropriar do passado
medieval, considerando o processo sempre através da relação com o presente.

Embora a historiografia medieval brasileira dialogue muito pouco com a norte-americana,


destacamos que foi na esfera anglófona que se verificou uma renovação epistemológica neste campo.
Hoje, o medievalismo encontra-se como um campo do conhecimento histórico independente e
autônomo, sobretudo, entre os historiadores ingleses e norte-americanos. Como efeito do seu
crescimento no âmbito acadêmico, citamos a difusão de periódicos, grupos de pesquisas muito ativos
em publicações, e.g.: The year’s work in medievalism, The New Medievalism, The past and Future of
Medieval Studies, Medievalism and Modernist Temper, Medievalism in the Modern World e Studies in
Medievalism, International Society for the study of Medievalism. Além dos tradicionais centros de
investigação e periódicos acadêmicos, sublinhamos a existência de um blog, coordenado por Richard
U , um dos nomes contemporâneos mais respeitados nesta área[3].

O termo medievalism, em inglês, surgiu, pela primeira vez, em 1844, no Oxford English Dictionary
(EMERY e UTZ, 2017, p. 2). No século XIX, o termo estava vinculado à maneira comprometida como
o período histórico chamado de idade média foi percebido como parte da história nacional. Todavia,
esta discussão volta à tona, de modo mais incisivo, apenas no século XX, por meio do livro de
coletânea de artigos de Alice Chandler A Dream of Order (CHANDLER, 1970). Até então,
medievalismo não havia adentrado o ambiente acadêmico. No entanto, os artigos de Chandler, para
além de ir ao encontro de várias formulações de Workman, já traziam uma série definições, que
passariam a fazer parte da investigação do campo que começa a se formar.

Elizabeth Emery e Richard U destacaram a dívida que esse campo do conhecimento tem em relação
a Leslie Workman e à Kathleen Verduin, afinal trabalharam entre fins da década de 1970 e os anos
1990 para promover, junto à academia, o interesse pelo medievalismo, muitas vezes, visto com
desconfiança por muitos acadêmicos americanos e europeus, entre essas décadas iniciais. Em 1979,
saiu a primeira publicação, sob coordenação de Workman, da revista Studies in Medievalism, periódico
que continua sendo publicado até dias de hoje, sendo uma referência no campo. Workman foi editor
da revista até 1999, quando passou a ser editada por Tom Shippey da St. Louis University e,
posteriormente, por Karl Fugelso da Towson University.

Em 1981, Workman iniciou a sua parceria com Kathleen Verduin, professora de literatura americana
na universidade de Michigan. Dela nasceram, em 1986, as conferências internacionais através da série
The year’s work in medievalism. Tal publicação foi concebida por Workman como espaço de difusão do
medievalismo e acabou se tornando um canal de divulgação de artigos baseados nas apresentações
das conferências anuais do International Conference on Medievalism. Como legado dessas décadas de
trabalho, juntos conseguiram estabelecer um nexo entre o campo do medievalismo e a academia.
(EMERY e UTZ, 2017, p. 1).

Um aspecto interessante deste movimento diz respeito à forma como Workman via a relação com o
passado medieval, possivelmente, isso explica as muitas críticas que o medievalismo recebeu. Afinal,
a historiografia do século XX e ainda uma porção significativa dos historiadores do século XXI, ainda
se pautam nos postulados da nova história sustentada no status de “ciência”. Para Workman, o
medievalismo está mais relacionado ao campo emocional, que lhe é intrínseco. A elaboração
intelectual veio apenas nas primeiras décadas do século XXI, mas sem a reinvindicação cientificista
da nova história, na verdade, desta relação entre subjetividade e construção de objeto, surge uma
série de questões que foram trabalhadas por Workman e estão a ser desenvolvidas pela geração que
lhe sucedeu.

Inicialmente, o medievalismo estava relacionado à percepção do presente, vinculado à vida


quotidiana, ou seja, o foco estava (e ainda está) no presente, o que traz uma discussão sobre a própria
construção da história, das ciências sociais, da ação dos leigos e a forma como essa construção, que
não é monopólio do meio acadêmico, delimita a realidade em nossa sociedade, ao mesmo tempo em
que é construída por esta elaboração social. Assim, por meio dos trabalhos de Workman, o
medievalismo interessou-se pelas redescobertas de materiais medievais por parte dos estudiosos e
dos leigos, e, principalmente, pela forma como essas descobertas/reconstruções eram e são usadas,
reelaboradas, inclusive politicamente, a fim de construir um discurso de autodefinição identitária.
(GENTRY e MÜLLER, 1991).

A contribuição do medievalismo, segundo Workman, está associada à forma como a idade média foi
e continua sendo escrita, inventada, construída, interpretada, inclusive pelas ciências sociais e pelos
não acadêmicos, após o período medieval, ou seja, a reflexão sobre a aplicação de modelos medievais
às necessidades contemporâneas e a forma como a idade média inspira diversas formas da arte e do
pensamento. Nos anos 90 do século XX, isto é, ao final da sua vida, Workman estava propenso a
estabelecer uma delimitação do campo do medievalismo, isso, entretanto, não foi adiante devido ao
seu falecimento em 2001. Esse projeto ganharia uma nova forma, em 2017, não em formato de
enciclopédica como havia idealizado Workman, mas como um dicionário, elaborado e organizado
por Emery e U intitulado Medievalism: key critical terms, no qual os termos e conceitos que outrora
eram questionados pelos críticos receberam uma formulação teórica para justificar a sua utilização.
Destacamos que os próprios autores fizeram alusão ao fato de que a existência deste livro se deve ao
trabalho de Workman e Verduin.

Nesse sentido, no século XXI, muitos dos debates e mesmo dos combates levados à cabo por
Workman e Verduin já se encontram “resolvidos”, como, por exemplo, as tensões entre “passadistas”
e os “presentistas”, entre memória e subjetividade, desconstrução de conceitos de autoridade,
autenticidade e a relação deles com instituições que os difundem, inclusive, a própria historiografia.
Portanto, segundo Emery e U , podemos dizer que Workman forneceu o fundamental da noção de
medievalismo praticada hoje, ou seja, os processos de recriação, de reinvenção e de reencenação da
cultura medieval em períodos pós-medievais. Contudo, há uma série de questões que se colocam em
relação ao legado de Workman e Verduin.

“But what is ‘medieval culture’? If by medieval culture we mean the cultural productions (art,
literature, music, architecture, treaties, memoirs, etc.) produced during the period from the fall of the
Roman Empire (476) to the fall of Constantinople (1453), the historical period roughly considered
‘medieval’ by historians today, then medieval culture has always been ‘received’: people of the sixth
century discussed earlier events, texts, and works of art just as did people from the fifteenth century.
The concept of a uniform period known as the ‘Middle Ages’ is itself a construct, invented int the
fifteenth century by humanists seeking to glorify own time as superior ‘Renaissance’”. (EMERY e
UTZ, 2017, p. 2)
Um dos debates contemporâneos sobre o medievalismo é o foco na forma como a idade média ou a
“cultura medieval” foi e é recebida na atualidade e sobre a própria noção da existência de uma
“cultura medieval”. Para além deste debate, chamamos a atenção para o fato de que o medievalismo
contempla também a pesquisa sobre a criação das identidades nacionais europeias e a relação da
história medieval dita “científica” e o medievalismo e o usos leigos da idade média, do século XIX aos
nossos dias. (ROSA, 2017, p. 161).

Dentre as várias correntes que formaram/formam o medievalismo, destacaríamos a sua relação com
os estudos pós-colonais. Uma reflexão, com base nesses estudos, sobre a idade média ajuda a pensar
a respeito do lugar de uma historiografia que vende(u) uma bandeira de cientificidade e
neutralidade, sobretudo, construída através de uma profissão de fé na antropologia. Inicialmente,
destacamos que a contribuição dos estudos pós-coloniais através de sua vinculação com o
medievalismo é a de ressaltar o caráter ideológico com o qual a história medieval foi e continua sendo
escrita, quer seja pelos colonizadores europeus, quer seja pelos próprios historiadores colonizados,
ou seja, a idade média é campo que foi e continua a ser colonizado.

Algumas indagações sobre as relações entre a idade média e colonialismo foram apresentadas por
Dagenais e Greer, retomemo-las

“Is it possible to colonize a region of history, as it is to colonize a region of geography? There are
many reasons to believe so. The history of “The Middle Ages” begins at the precise moment when
European imperial and colonial expansion begins. The Middle Ages is Europe’s Dark Continent of
History, even as Africa is its Dark Ages of Geography. Colonization of the past is an indispensable
companion of empire. The very moves by which European nation-based empires establish
themselves across vast reaches of geography space, constituting themselves by a simultaneous
assimilation and othering of this space and the people who inhabit them, involves them at the same
time in the invention of a complementary past other to themselves, a past which belongs to, but
which can never be granted full citizenship in, the nation of Modernity. A full exploration of the
varying ways in which “The Middle Ages” and “medieval” have served the interest of empire over
the past six hundred years (and continue to do so today) is beyond the scope of this introduction, or,
indeed, of this special issue of the Journal of Medieval and Early Modern Studies. I want simply to
begin to follow some leads among the early discourses which establish The Middle Ages not as a
period in history, but as a vastness of time ripe for colonial exploration”. (DAGENAIS e GREER,
2000, p. 431)

Esse tipo de indagação tornou possível, as reflexões de autores como Nadia Altschul e Kathleen
Davis acerca da idade média não como uma temporalidade, mas, concebida à luz da teoria do
medievalismo, como um conceito, uma ideia, ou seja, como uma categoria móvel, que pode ser usada
em qualquer espaço e sociedade (DAVIS, 2008, p. 7).

Nadia R. Altschul, em artigo em que discute a temporalidade medieval na América espanhola e no


Brasil, argumenta que “Medievalism Studies has carefully distinguished itself from places that were
“medieval” instead of ‘post-medieval’” (ALTSCHUL, 2017, p. 3). Segundo ela, o medievalismo se
refere a uma idade média que chegou ao fim e está encerrada. Portanto, em acordo com a definição
de Workman, o medievalismo pressupõe a percepção não apenas que a idade média acabou, mas que
é algo que ficou no passado e, então, que se deseja reviver ou imitar.

Neste sentido, Richard U acredita que existem diversas motivações para recriar a idade média após
o seu fim. Ele se dedicou a estudar uma construção, o Rhodes Hall, erguido pela família Rhodes em
1904, em uma área nobre da cidade de Atlanta (UTZ, 2017). U se questionou acerca dos sentidos de
recriar um castelo aos moldes da Alemanha medieval em Atlanta no início do século XX. Suas
pesquisas buscam compreender como um castelo medieval evoca a realeza, a nobreza de reis, rainhas
e seu estilo de vida. Com efeito, U está preocupado em como ao longo da história elaboram-se
“novas idades médias” conforme a própria imagem e sentido do criador.

Sobre o caso do Brasil quase não encontramos pesquisas feitas através desta associação entre estudos
pós-coloniais e medievalismo. Podemos citar basicamente dois trabalhos realizados por Altschul.
Primeiro o estudo intitulado Gilberto Freyre e al-andalus publicado como capítulo de seu livro Politics of
Temporalization (ALTSCHUL, 2020) no qual ela discute o medievalismo de Freyre baseado no passado
miscigenado e culturalmente híbrido que ele identifica no Portugal medieval. Encontramos um
segundo estudo de Altschul intitulado Medievalism and the Contemporaneity of the Medieval in
Postcolonial Brazil, no qual a autora problematiza a persistência do “medieval” no Brasil depois da
independência. Para isso, usou, de um lado, a teoria do medievalismo e, de outro, a crítica literária
para analisar a obra Os sertões, de Euclides de Cunha, como um texto de fundação da nação brasileira
tal como as nações europeias.

No caso da América espanhola, Nadia Altschul (2019), em uma aula na Universidade de Glasgow,
fez uma análise sobre Domingo Faustino Sarmiento e sua construção de uma temporalidade
medieval na Argentina do século XIX. Segundo ela, em seu livro Facundo, Sarmiento dividiu a
Argentina em duas temporalidades: a do século XIX contemporânea do autor e a do século doze,
representado pelo interior do país. A divisão de temporalidades em Facundo é simbolicamente
representada por duas cidades; a parte contemporânea era representada por Buenos Aires e a parte
do interior medieval pela cidade de Córdoba. Em linhas gerais, Altschul argumenta que, para
Sarmiento, as terras do interior, que eram ocupadas por selvagens ameríndios ou pelas forças
medievais e rurais, representantes para ele do atraso, deviam ser conquistadas e sua cultura
erradicada da nação. A idade média é apresentada nesta obra através de uma apropriação do autor
que se origina em suas referências políticas contemporâneas.

Em resumo, ao se descolonizar a idade média, queremos descolonizar as pesquisas nessa área em


busca de uma idade média relida ou reapropriada nos trópicos, compreendemos que ainda assim a
relação conhecimento/poder é intrínseca ao fazer “científico”. Portanto, apesar de estudarmos a idade
média que se faz presente, o medievalismo centra a abordagem em um período que terminou e, a
partir de então, pode ser evocado ou reconstruído partindo dos interesses contemporâneos ao
contexto analisado, em suma, à luz de nossa brasilidade. Mas, para fazermos isso, é preciso que
repensemos uma série de postulados da historiografia contemporânea, ainda vinculada ao
cientificismo e as suas reelaborações no século XX, a escola dos Annales, nova história etc.

4 – Medievalistas, não sejam esnobes[4]

Segundo Richard U , os medievalistas tiveram uma trajetória de ascensão acadêmica entre o século
XIX e XX. Concordamos com esse autor quando ele diz que isso ocorreu, tanto do ponto de vista
numérico, quanto do simbólico e do prestígio devido à capacidade que a historiografia medieval teve
de demonstrar que o seu objeto e as suas práticas eram “científicos”. Mas como estamos hoje,
praticamente, no fim da segunda década do século XXI?

De um lado, temos muitos medievalistas, completamente isolados de qualquer debate


contemporâneo, ainda literalmente pregando a defesa de uma história científica, em construção,
antropológica e seja lá qual for o verniz de cientificidade defendido; isso é feito como uma forma de
tentar manter ou recuperar o prestígio de outrora. Temos, do outro lado, os nossos alunos, cujo
interesse, em sua maioria, está voltado para uma idade média encantada presente em Game of
Thrones, Harry Po er, jogos de video game ligado às temáticas medievais. Entre a academia brasileira e
a realidade dos nossos alunos, sobretudo, daqueles em início de graduação, temos um abismo. Além
disso, está cada vez mais difícil sustentar a nossa legitimidade, como campo do saber, através da
noção da herança medieval ou da longa duração, como destacou U . “We are no longer protected by
our involvement in preserving European heritages, an involvement often joined up with
primordialist, jingoist, and colonialist mentalities discredited in the Western world by the 1970s”.
(UTZ, 2015).

Portanto, qualquer tipo de narrativa acadêmica que se sustente na noção de herança medieval, acaba
por evidenciar um lado, diríamos, obscuro da historiografia medieval brasileira, que é a sua condição
de colonizada e o seu envolvimento com a reprodução de discursos já há muito desacreditados na
Europa e nos EUA devido ao seu caráter nacionalista.

Como nos advertiu U apesar de ter se referido ao contexto norte-americano e europeu, é importante
que nós tenhamos consciência que vivemos um isolamento igual ou superior em relação à sociedade.
Afinal, paradoxalmente, é inegável que fomos capazes de criar um campo historiográfico nacional, e
produzirmos muito sobre a idade média no final do século XX e no século XXI (AMARAL e
RANGEL, 2019). Todavia, isso, em nossa avaliação, não resolveu ou melhorou a condição de
isolamento entre a produção acadêmica e a sociedade no que diz respeito à idade média.
Parafraseando U , se isso tivesse ocorrido, a nova direita brasileira não teria se apropriado medievo,
através da, já mencionada, ideia cruzadística Deus Vult, por trás da qual, cria-se uma continuidade
histórica entre a Europa e o Brasil.

Subjacente ao fenômeno da nova direita interessar-se pela idade média, o Brasil segue uma tendência
mundial através da qual a idade média encantada não para de criar entusiastas leigos, os quais, não
necessariamente têm algum posicionamento político como no caso da nossa nova direita, são apenas
entusiastas, porque por mais difícil que seja admitir, não podemos negar que:

“Instead of disdaining the broad public interest in medieval culture, we should acknowledge and
respect that many whom we brand as “amateurs” or “dile antes” (terms etymologically indicating
“love” and “delight”) invest as much or more time, energy, and money in engaging with the Middle
Ages than some of us professors do. Collaborating with these natural allies will strengthen, not
endanger, the discipline”. (UTZ, 2015)

A postura dos medievalistas brasileiros em nada se difere dos nossos colegas norte-americanos ou
europeus, somos, geralmente, refratários aos espaços não acadêmicos, embora nossos alunos
consumam uma idade média encantada cada vez mais em espaços não acadêmicos, cinema, série de
TV, jogos etc. A postura acadêmica tende a ser a mesma, cita-se o mantra do anacronismo, como se
existisse algum historiador neste planeta que não o cometesse quotidianamente, aliás, qual é o
problema do anacronismo; ele é anticientífico. Ora, e história é uma ciência!? Novamente, voltamos a
nos legitimar com paradigmas dos séculos XIX e XX. Contudo, usamos os trabalhos da sociedade
para o Anacronismo Criativo para ilustrar nossas aulas, pois:

“The Society for Creative Anachronism has added more to our knowledge of medieval culture by
practicing blacksmithing, re-enacting the Ba le of Hastings, and performing historical dance than
D.W. Robertson’s decision, albeit substantiated by learned footnotes, that all medieval art was created
and needs to be read according to the principles of patristic exegesis. Similarly, Michel Guyot’s
megaproject of rebuilding a medieval castle, Guédelon, from scratch over a 30-year period, based on
13th-century building plans and without modern technology, yields infinitely more information than
another 50 essays obsessing about the authorship of the anonymous Nibelungenlied or Cantar de Mio
Cid. Moreover, sites like medievalists.net and publicmedievalist.com communicate valuable information
more effectively to academic and nonacademic audiences than dozens of academic journals accessible
at subscribers-only sources like JSTOR or Project Muse“. (UTZ, 2015)

Como uma possível conclusão, seria importante voltarmos a algumas possibilidades que a teoria do
medievalismo nos trouxe, para além de apontar as nossas contradições como medievalistas. Como
ressalta U , deveríamos parar de pensar a temática medieval por intermédio de uma noção de
alteridade – a idade média é um “outro” – e de sustentar que a nossa legitimidade sustentar-se-ia em
criar formas, métodos e técnicas, para chegar a este “outro”, e, ao mesmo tempo, manter uma relação
de distanciamento e neutralidade. Não seria mais interessante pensarmos que todas as noções atuais
sobre a idade média não passam de camadas discursivas e imaginações prévias nascidas no
renascimento em constante e ininterrupto processo de reelaboração?

Além disso, seria interessante aceitar a noção, já desenvolvida no livro How Soon is Now? de Carolyn
Dinshaw, segundo a qual nós não somos observadores ou “intrusos oniscientes”, mas sim
colaboradores ativos em um contínuo processo de invenção da idade média, ou seja, pensar o próprio
lugar do medievalista neste constructo chamado idade média. E como se trata de uma elaboração
social, realizada em cada período da história, não podemos nos ver como os proprietários da história,
com direito de censor/inquisidor, os quais laçam mão de um cientificismo, construído ao longo dos
séculos XIX e XX, para chancelar o que é ou não idade média. Por fim, ficamos com a sugestão de U ,
deixemos de ser esnobes e adentremos as fileiras dos entusiastas leigos e, ao mesmo tempo, sejamos
capazes de estabelecer uma relação ética, pautada em um censo crítico, e, assim, talvez, consigamos
nos descolonizar e ao mesmo tempo, contribuir para a grande área das humanidades.

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Notas

[1] Doravante, usaremos o nome que começa a se impor em português, ou seja, medievalismo.

[2] Citando o trabalho de MACEDO e MONGELLI, ele distingue Reminiscências medievais de


Medievalidade na qual a idade média aparece apenas como referência. (PORTO JÚNIOR, 2018, p. 06)

[3] Para acessar ao blog, cf: h p://studiesinmedievalism.blogspot.com/


(h p://studiesinmedievalism.blogspot.com/), acesso em 02/10/2019.

[4] Este subitem é uma alusão deliberada ao texto de Richard U – Don’t Be Snobs, Medievalists! (UTZ,
2015). Além disso, cabe esclarecermos dois aspectos: inicialmente, o texto de U diz respeito à
realidade norte-americana, contudo, sustentamos que, em grande parte, aplica-se ao contexto
brasileiro. Além disso, a crítica que fazemos à historiografia medieval brasileira, a qual, aplica-se,
inclusive, aos trabalhos prévios dos autores deste artigo, é que, por um lado, ela ainda se mantém
muito vinculada a uma tradição francesa que pauta a sua reflexão em critérios de cientificidade, ao
nosso ver artificiais, pois todos esses critérios consideram implicitamente uma possibilidade de se
escrever a “verdadeira história da idade média”. Outrossim, em um recente livro A historiografia
medieval no Brasil, foi possível notar que um número significativo das produções nacionais, em nível
de pós-graduação, ainda reproduzem os modelos explicativos propostos pela historiografia medieval
francesa do século XX, replicando assim, a premissa de que seria possível chegar à “verdadeira”
idade média, desde que se aplique o método correto (AMARAL e RANGEL, 2019). Não há muitos
trabalhos sobre as releituras ou reapropriações do medievo e, quando são realizados, seguem, de um
lado, a perspectiva de demonstrar as reminiscências medievais, dialogando com a noção de longa
idade média, e, por outro lado, tendem a ressaltar como, apesar de serem apropriações, essas se
distanciam da “verdadeira” idade média.

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Publicado por Amaral

Professor de História Medieval da UFRRJ Ver todos os posts por Amaral

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