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Ródão: A mais fantástica viagem de um grão de areia. Associação de Estudos


do Alto Tejo, 21p. (com versão em Braille).

Book · January 2009

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1 author:

Carlos Neto De Carvalho


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Ródão
A mais fantástica viagem
de um grão de areia
Ficha técnica da obra
Ródão - A mais fantástica viagem de um grão de
areia

Autor
Carlos Neto de Carvalho

Ilustrações
Alunos do 2º Ciclo, do
Agrupamento de Escolas de Vila Velha de Ródão

Edição
Associação de Estudos do Alto Tejo
www.altotejo.org
altotejo@gmail.com

Impressão e acabamento
Gráfica do Tortosendo…

ISBN
978-989-95004-3-3

Depósito Legal
…(coloca a gráfica)

Vila Velha de Ródão, 2009


Ródão A mais fantástica viagem
de um grão de areia

F inalmente cheguei! Que imenso e plano é o


Oceano! Está fresquinho à beira-mar mas, pelo
menos, não há neve. Brrrr! Passaram-se milhares
de dias desde que me soltei, com uma ajudinha da
chuva, da Mãe-Granito. E com muitos dos meus
irmãos, fui transportado pelo Grande Rio,
saltitando e rolando na agitação das suas águas,
até conseguir chegar aqui.

1 À minha mãe
Carlos Neto de Carvalho
Ah! Ainda não nos apresentámos: sou o Ródão, o
grão de areia. Mas não sou um qualquer entre os
milhões que se podem encontrar nesta praia. Sou o
maior, o mais transparente e roladinho grão de
quartzo das redondezas. Não pensem que eu tenho
a mania: são poucos os minerais que conseguem
fazer uma viagem tão longa até ao mar. Sou um
campeão da resistência! E muito rápido, por ser
mais redondinho do que a maioria dos meus

2
irmãos. Daí o nome que me deram. E não gosto de
ficar quieto como uma pedra…
Agora que cheguei ao mar é que vi como é gira esta
coisa das marés: aquele astro que brilha na noite,
chamado Lua, está sempre a tentar atrair as águas
do Oceano. Quando a maré sobe, gosto de surfar
nas ondas. Mas quando a maré baixa, sabe bem
ficar de papo para o ar a sentir a luz do Sol a
aquecer-me a estrutura cristalina.

3
Eh pá, está a ficar escuro! À velocidade com que
aquelas nuvens negras se estão a juntar e o vento a
aumentar, é certinho que vamos ter tempestade. E
se ela é forte por estas paragens! As ondas estão a
aumentar assustadoramente de tamanho
empurradas pelo vento que não pára de assobiar.
Não quero apanhar com tanta água em cima…

4
Bolas! Mas o que é isto? Um tremor-de-terra: bela
altura para o Oceano decidir crescer! Oh, não! O
movimento do fundo marinho está a criar uma
onda enorme que vai entrar pela praia dentro,
arrastando-nos a todos. Ahhh! Em segundos, estou
no meio do mar, entre ondas e remoinhos. Tanta
agitação está a deixar-me agoniado: ainda vomito
as inclusões fluidas!

5
O que vale é que, depois da tempestade, vem o
bom tempo. Após alguns dias, vim parar no fundo
do mar. O mais chato é que não vejo nada pois,
sendo o maior e mais pesado grão de areia,
também fui o primeiro a chegar. Agora tenho
milhares de grãos de quartzo e micas por cima de
mim, eu que gosto tanto de olhar a paisagem e
aprender com o que vejo!

6
Quanto tempo mais terei que ficar na escuridão do
fundo marinho? Hei! Algo está a fazer mexer os
meus vizinhos…é uma Trilobite! Chamam-lhe
animal porque tem olhos para ver o mundo e patas
para viajar em busca de alimento. Pfff, grande
coisa! De certeza que uma Trilobite não consegue
viver fora do Oceano. Além disso, para ver e se
proteger ou andar precisa de uma armadura, um
esqueleto feito de um mineral chamado calcite.

7
Eu tenho orgulho em ser quartzo, um mineral: não
sou um ser vivo e, por isso, não posso ter filhos
parecidos comigo, mas ficarei na Terra por muito,
muito mais tempo!
Hei, que fazes? Não me leves à tua boca que não
sou comida. Arghhh, que nojo! Tens olhos, mas não
sabes separar a areia dos minúsculos restos de
animais com que te alimentas. Acabei de ganhar
uma viagem pelo intestino deste artrópode cheio de
patas e pêlos…os teus filhos hão-de sofrer de gases
fedorentos!

8
Ora, tudo o que entra nestas fábricas de produção
genética acaba por sair…sob a forma de cocó! Cá
estou eu, de novo no fundo marinho, unido a outros
companheiros de azar por muco pegajoso, num
comboio de fezes que só sairá do sítio se outro
animal decompositor as comer. Isto é que é vida?
Milhões e milhões de dias se passaram. Eu e os
meus colegas de digestão por aqui ficámos a ver
chegar companheiros com o mesmo destino ou

9
livres…como os grãos de areia devem ser!
Estávamos cada vez mais próximos uns dos outros
pelo peso de biliões de grãos que se acumulavam
em camadas depositadas, progressivamente, umas
sobre as outras. Mas, ultimamente, a convivência
com os meus irmãos tornou-se insuportável. A
pressão é tanta que quase me esmaga. Estamos tão
apertados que o calor nos derrete as extremidades,
tão juntinhos que ficamos colados uns nos outros! Já
não sou o Ródão, um livre grão de quartzo. Agora
sou um dos minerais que formam a rocha a quem

10
chamam Quartzito, dobrada pelos movimentos e
pelo calor vindo do interior da Terra. Quando serei
livre de novo e verei o Sol?
Muitos mais milhões de dias terão passado
certamente pois que, no interior desta camada de
rocha sólida chamada Litosfera, continuamos às
escuras e sem ver o tempo passar. O que passou foi
a pressão que nos obrigou ao destino de ser rocha.
Há quem diga que o vento e a chuva estão a ajudar-
nos faz muito tempo tirando, pouco a pouco,
pedacinhos de rocha.

11
Até que um dia, de novo os raios de Sol me
encheram de um brilho mais forte que o do cristal.
Altamente! Para onde foi o Oceano? Eh, pá!
Estamos no cimo de uma Montanha! O Oceano
deixara de crescer. Os movimentos da Litosfera
apertaram e elevaram o fundo marinho na direcção
do céu.

12
Do alto daquela Montanha, as paisagens eram
infinitas, tanto para ver e aprender! Eu e os meus
colegas de rocha nem queríamos acreditar: um
manto verde cobria a Terra, quase sem deixar ver
outras rochas. Nunca tinha visto uma árvore e, no
entanto, simpatizava com aquele ser vivo quieto,
que nos acarinhava com as suas raízes e nos
transformava com o seu oxigénio. Mas a minha
grande descoberta estava para acontecer.

13
Uma noite, a água que se acumulou numa fractura
congelou e separou o quartzito onde me encontrava
da Montanha. Rolámos felizes, em liberdade, pela
sua encosta abaixo até mergulharmos nas águas
agitadas do Rio Tejo. Preparem-se pessoal, que
vamos ser sacudidos até a nossa rocha se
transformar num seixo rolado. Temos que nos
manter unidos, sacrifiquem-se as arestas!

14
Chegámos sãos e salvos (mas com um novo
polimento) à margem. Ainda não estávamos
recuperados do susto quando alguém nos levantou
no ar. Sem ter tempo para dizer ”Ai!”, outro
quartzito fora atirado contra nós, numa pancada
forte e bem colocada. Aquele Humano partia-nos
em gume afiado, de uma forma estudada e nada
podíamos fazer. Num instante estávamos unidos a
um cabo de madeira.

15
Bem! Nunca tinha voado e, num segundo,
cortávamos o ar com um som agudo. Quem disse
que um grão de areia não se pode dedicar a provas
de velocidade? No mesmo instante, caía por terra o
maior mamífero terrestre que já aqui viveu: um
magnífico elefante! Que cruel! Foi a única vez que
participei numa caçada e, desde logo, decidi
retirar-me da alta competição…

16
Naquela margem ficámos esquecidos, como um
qualquer objecto. Não nos importámos: estes
humanos são loucos! O importante é que nós,
grãos de quartzo, estávamos mais unidos do que
nunca naquela simples ponta de lança. Ao pôr-do-
sol, olhávamos maravilhados para aquela
montanha, monumentais Portas por onde se escapa
o Rio Tejo, que nos uniu. Aquele era agora o nosso
santuário, para onde, todas as noites estreladas,
dirigíamos as lembranças de um passado tão
antigo e os sonhos de um futuro sem final à vista. O
Ródão já não era um grão de quartzo rolado e
polidinho, era uma rocha, uma montanha: somos
todos nós e a nossa natureza…voltarei a ver o meu
Oceano!

17
Uma dessas
noites duas
estrelas
negras, mas

mais brilhantes do que quaisquer outras, olharam-


me por momentos. De repente, uma mão de
menino pegou-me com jeito e comigo gravou uma
estrela numa rocha polida do Rio. E ali ficámos, a
apreciar a sua Arte, acariciando-me com os seus
dedos fortes. Uma ideia electrizante fazia-me
cócegas na imaginação: pela primeira vez em toda
esta viagem, senti o poder de comunicar!
Aquele momento mágico só foi quebrado pelo mais
doce dos sons da Natureza: “- Ruper, vem comer!”
“- Vou já, mamã”…

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Só para quem quer saber tudo…

Animal - Ser vivo que possui órgãos para sentir, para se


deslocar e se alimentar. Nunca te esqueças que, antes de
tudo, és um Animal!

Comunicar - É transmitir conhecimentos e ideias através das


emoções, gestos, sons ou imagens.

Fezes - Um nome mais bonito para o cocó…

Granito - Rocha formada nas profundezas do planeta. É


constituída por minerais como o feldspato, o Quartzo e as
Micas.

Humano - Enquanto Homem (menino ou menina), tu és


diferente de outros Primatas, como o chimpanzé, o gorila ou
o macaco, porque andas apenas sobre duas patas (as tuas
pernas), tens um dedo polegar que te permite segurar na
caneta e com ela fazer desenhos e contas de somar ou
dividir.

Imaginação - Forma de utilizares o teu cérebro para tornar o


Mundo ainda mais bonito.

Intestino - Parte do teu corpo onde se dá a separação de tudo


o que comes, entre aquilo que é importante para tu viveres e
aquilo que é mau e que deverá sair do teu corpo da próxima
vez que fores à casa-de-banho.

Liberdade - Bonita condição a de poderes dizer e fazer tudo o


que quiseres, por tua decisão.

Mamífero - Como mamífero que és: mamaste nos primeiros


tempos de vida, manténs a tua temperatura corporal
(quando não estás doente!) e terás o teu corpo coberto de
pêlos, o que é mais chato para as meninas…

Micas - Minerais com a forma de folhas, de cor prateada ou


negra que, com o Quartzo e os feldspatos, formam o
Granito.

Milhões de dias - Pois é, um ano tem 365 dias. Quantos


milhares de dias tens? Milhões de dias são muitos, muitos
anos…milhares ou milhões de anos. Muito tempo? Sim, mas
não tanto para uma rocha. Da próxima vez que pisares uma
pedra lembra-te que ela pode ter milhões de anos. E tudo o
que é antigo merece respeito, não é?

Mineral - Tal como o teu corpo é formado por células, os


minerais são os elementos que formam as rochas.

Oceano - Grande massa de água salgada que ocupa


grande parte da superfície terrestre. Os principais oceanos
são o Pacífico, o Atlântico e o Índico.
Portas de Ródão - É um verdadeiro Monumento Natural! As
serras de Ródão são formadas por uma rocha muito dura, o
Quartzito. Para conseguir atravessá-las, o Rio Tejo
aproveitou uma zona fraca nos quartzitos para conseguir
escavar, muito devagarinho, o seu vale. Já os nossos avós
diziam: “água mole em pedra dura, tanto bate até que
fura!”. A vitória da água sobre a rocha resultou na fantástica
abertura da montanha, com mais de 200 m de altura, a que
se deu o nome de “Portas de Ródão”.

Quartzito - Rocha muito dura formada por muitos grãos de


areia de Quartzo. Existem muitas montanhas feitas de
quartzito, como as serras das Talhadas, Moradal,
S.Mamede, Penha Garcia, ou, mais longe, a Serra do
Marão.

Quartzo - O Mineral mais abundantes à superfície da Terra.


Com os feldspatos, as Micas e outros minerais, forma o
Granito, rocha tão abundante na região de Castelo Branco e
Idanha-a-Nova.

Rio Tejo - É o maior rio da Península Ibérica e, por isso, tão


importante. Tem 1010000 metros de comprimento (tu ainda
não medes 1 metro e meio!). Nasce na Serra de Albarracín,
em Espanha e encontra o Oceano Atlântico perto de Lisboa.

Tremor-de-terra - Se empurrares uma cadeira, ela acaba por


se mexer. Também as rochas estão sempre a empurrar
outras rochas. Quando uma destas se mexe pode fazer a
terra abanar debaixo dos teus pés como se estivesses num
barco no meio do mar! Sabes que Lisboa já foi destruída
diversas vezes por tremores-de-terra?

Trilobite - Grupo de artrópodes (o qual também inclui as


formigas, as aranhas ou os camarões) que viveu nos
oceanos há mais de 250000000 anos (se pensavas que o
teu avô era velho…). Hoje já não existem trilobites, podendo
ser encontradas como fósseis espectaculares em rochas
muito antigas, como as que podes encontrar em Vila Velha
de Ródão, em Mação ou em Penha Garcia.
Alunos participantes
5º A 6º B
André Filipe Martins Ribeiro Ana Rita dos Santos Afonso
Bruna Alexandra Fontelas de Matos Ana Rita Martins Castela Bexiga
Daniel José Cardoso Mendes André Nuno Mateus Pequito
Filipe André Fontelas Caetano Beatriz Mariana de Torgal Raposo Rodrigues
Francisco Pires Pinto da Fonseca Carla Alexandra Nizorro Alcobia
Hugo Miguel Gomes Tavares Daniela Brito Pires
Ilda Sofia Pinto Sabino Ribeiro Mendes João Miguel Dias Rodrigues Pinto
Ivo Renato Diogo de Campos Patrício José Pedro Valente Araújo
João Alexandre Domingues Oliveira Luís Miguel Ribeiro Mota
João Miguel de Jesus Pereira da Costa Mariana Rodrigues Morgado
João Ricardo Filipe Martins Gouveia Paulo Miguel Dias Solipa
Laura Carrilho Vicente Rodrigo António Oliveira Martins
Liliana Filipa Manso Vilela Vanessa Cristina Ramos Nunes
Mariana Ramos Semedo
Rita Ribeiro Galvão Professores responsáveis:
Ruben Filipe Ribeiro Lourenço Ana Margarida Santos
Rute Marlene Batista Carmona Cláudia Craveiro
Sérgio Rui Caetano Silvestre
Sofia Isabel Semedo Ribeiro
Tiago Manuel Mendes Mateus
Tiago Miguel Brás da Cruz

6º A
Adriana Filipa Ferreira Correia
Ana Catarina Marques Santos Aparício
Ana Rita Cardoso Nunes
Ana Rita Correia Belo
Bruno Filipe Campino Antunes
Carolina Filipa Rouas Gonçalves
Daniel Jorge Bento Calheiros Andrade
Gonçalo Alexandre Garcia Prates
João Miguel Isaías da Silva
José Manuel Dias Romão
Ophélie Rose de Sá Filipe
Patrícia Torres da Conceição Pereira
Pedro Miguel Fernandes Belo
Ricardo André Dias Farinha
Vasco Pequito Veríssimo
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