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12º Português ........................................................................................................................................................................... 1
Antero de Quental ................................................................................................................................................................... 2
Biografia ............................................................................................................................................................................... 2
Contradições de Antero ...................................................................................................................................................... 2
A um poeta ...................................................................................................................................................................... 3
Álvaro de Campos .................................................................................................................................................................... 4
Ode triunfal...................................................................................................................................................................... 4
Fase Intimista/Pessimista.................................................................................................................................................... 4
Aniversário....................................................................................................................................................................... 4
Poema em linha reta ..................................................................................................................................................... 4
Lisbon Revisited (1923) ................................................................................................................................................... 4
Tabacaria ......................................................................................................................................................................... 5
Ricardo Reis .............................................................................................................................................................................. 8
Não tenhas nada nas mãos ............................................................................................................................................ 8
Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio ................................................................................................................... 8
A última ode .................................................................................................................................................................... 8
Mestre, são placidas ....................................................................................................................................................... 8
Alberto Caeiro.........................................................................................................................................................................11
Eu nunca guardei rebanhos ..........................................................................................................................................11
Tudo o que vejo está nítido como girassóis.................................................................................................................11
Sou um guardador de rebanhos ..................................................................................................................................11
X - «Olá, guardador de rebanhos, ................................................................................................................................ 11
Síntese ................................................................................................................................................................................11
Ideias da sua poesia: .....................................................................................................................................................11
Estilo da sua poesia .......................................................................................................................................................12
Contradições..................................................................................................................................................................12
Gramática ...............................................................................................................................................................................14
Principais processos de variaçãofonológica .....................................................................................................................14
Processos irregulares de formação de palavras ..............................................................................................................15
Semântica...........................................................................................................................................................................15
Valor temporal .............................................................................................................................................................. 15
Valor aspetual................................................................................................................................................................ 15
Valor modal ...................................................................................................................................................................15
Antero de Quental
Biografia
Lido e estudado como um poeta filosofo ou um filosofo poeta, celebrado como um mentor espiritual e
personagem emblemática da Geração de 70 canonizado em vida pelos seus companheiros e depois da morte pelas
duas ou três gerações que lhe sucederam e nele viram, alias com justiça, o mais perfeito símbolo do seu tempo,
Antero de Quental corre hoje o risco de ser colocado num pedestal demasiado histórico ou imponente para atrair a
atenção de uma época aparentemente pouco interessada em decifrar enigmas como os que a sua figura
inevitavelmente convoca e suscitados tanto pela vida como pela sua escrita.
Tendo decorrido entre 1842 e 1891, as quase 5 décadas da sua existência situam-no num período
literariamente marcado pela crise do romantismo e pelo surgimento da escola realista, sendo habitual identificá-lo
com o grupo que a partir das conferências do casino se tornou, conhecido como a Geração de 70. Mas, basta ler os
seus poemas com alguma atenção para verificar que essa arrumação no chamado realismo só se justifica, em função
da mensagem legível, por exemplo, à superfície das odes modernas - o cântico de uma humanidade cujo percurso
histórico pretensamente regenerador havia de libertá-la e conduzi-la a um futuro de verdade e de justiça universais.
No entanto o estremecimento que assalta não apenas esses poemas como a restante obra de Antero inscreve-se
ainda numa conceção de poesia de matriz essencialmente romântica (de um romantismo grave e austero, nas linhas
de um Alexandre Herculano), de que a poesia portuguesa só mais tarde virá a afastar-se, com "o real e a analise" de
Cesário Verde e, pouco depois, com o aparecimento dos simbolistas.
Contradições de Antero
Os sonetos de Antero de Quental oferecem-nos um espetáculo de luz e sombra na curva evolutiva da sua
biografia poética, transitando de uma exigente elevação espiritual para um pessimismo decrescente, onde os ideais
gradualmente, perdem força face a uma realidade limitadora e imperfeita. Passando de um Antero otimista e
apolíneo, no qual o poeta é demostrado como sendo um revolucionário e lutador, para um Antero pessimista, que
quase se identifica com o ideal budista do nirvana.
Sonetos transmissores da suprema missão do poeta, como “Soldado do Futuro”, no combate reformador de
um novo mundo, tutelado pela “Razão, irmã do Amor e da Justiça”, e visando lutar, sobretudo, pela liberdade, vão
dando lugar à expressão do naufrágio das ilusões, sem “cantos de luz” que possam verdadeiramente povoar a solidão
e desvanecer o negrume da sua infelicidade. Os sonetos “Palácio de Ventura” e “Acordando” revelam a oposição entre
sonho e realidade, bem como a catástrofe da busca do ideal. Efetivamente, o cavaleiro, que procurou a felicidade,
reconheceu que o amor e o seu papel de benéficas transformações no mundo pessoal e coletivo, reaparece da sua
maravilhosa aventura destroçado e com o frio na alma.
Assim, Antero tornou-se convivente assíduo da dor, possuído pela inapagável angústia existencial e,
consequentemente, tomado de desejo de paz e serenidade, onde a atração pela morte configurou uma saída
possível do seu desassossego de viver.
A um poeta
O sujeito poético caracteriza um poeta que dorme, em serenidade, nas suas crenças seculares, indiferente à
realidade, onde ocorrem lutas e agitações, não sentido necessidade de agir, sendo isto semelhante à evasão da
realidade por parte dos românticos. Em seguida este pede ao poeta que acorde para guiar o povo para um mundo
novo, melhor do que aquele que estão habituados a viver.
Devendo cantá-lo e celebrá-lo através de um estilo novo, tendo que afastar o que é velho convencional e
egocêntrico.
Álvaro de Campos
Ode triunfal
A dolorosa luz das grandes lâmpadas elétricas da fábrica Tenho febre e escrevo. rodar férreo e cosmopolita
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto, Para a beleza disto Dos comboios estrénuos,
totalmente desconhecida dos antigos. Da faina transportadora-de-cargas dos navios, Do giro lúbrico e lento dos
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno! guindastes,
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria! Em fúria fora e dentro de mim, Do tumulto disciplinado das fábricas,
Por todos os meus nervos dissecados fora, E do quase-silêncio ciciante e monótono das correias de transmissão!
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto! Tenho os lábios secos, ó Horas europeias, produtoras, entaladas Entre maquinismos e afazeres úteis!
grandes ruídos modernos, De vos ouvir demasiadamente de perto, Grandes cidades paradas nos cafés,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso De expressão de Nos cafés — oásis de inutilidades ruidosas Onde se cristalizam e se precipitam
todas as minhas sensações, Os rumores e os gestos do Útil
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas! E as rodas, e as rodas-dentadas e as chumaceiras doProgressivo! Nova Minerva
sem-alma dos cais e das gares!
Em febre e olhando os motores como a uma Natureza tropical — Grandes Novos entusiasmos de estatura do Momento!
trópicos humanos de ferro e fogo e força — Quilhas de chapas de ferro sorrindo encostadas às docas, Ou a seco, erguidas, nos
Canto, e canto o presente, e também o passado e o futuro, Porque o presente é planos-inclinados dos portos! Atividade internacional, transatlântica, Canadian-
todo o passado e todo o futuro Pacific! Luzes e febris perdas de tempo nos bares, nos hotéis, Nos Longchamps e
E há Platão e Virgílio dentro das máquinas e das luzes elétricas Só porque houve nos Derbies e nos Ascots,
outrora e foram humanos Virgílio e Platão, E Piccadillies e Avenues de l'Opéra que entram Pela minh'alma dentro! […]
E pedaços do Alexandre Magno do século talvez cinquenta, Como eu vos amo a todos, a todos, a todos, Como eu vos amo de todas as
Átomos que hão de ir ter febre para o cérebro do Ésquilo do século cem, Andam maneiras,
por estas correias de transmissão e por estes êmbolos e por estes volantes, Com os olhos e com os ouvidos e com o olfato
Rugindo, rangendo, ciciando, estrugindo, ferreando, E com o tato (o que palpar-vos representa para mim!)
Fazendo-me um excesso de carícias ao corpo numa só carícia à alma. E com a inteligência como uma antena que fazeis vibrar! Ah, como todos os
meus sentidos têm cio de vós! […]
Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime! Ser completo como Amo-vos a todos, a tudo, como uma fera. Amo-vos carnivoramente,
uma máquina! Pervertidamente e enroscando a minha vista Em vós, ó coisas grandes, banais,
Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo! úteis, inúteis, Ó coisas todas modernas,
Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto, Ó minhas contemporâneas, forma atual e próxima
Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento A todos os Do sistema imediato do Universo!
perfumes de óleos e calores e carvões Nova Revelação metálica e dinâmica de Deus!
Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável! Ó fábricas, ó laboratórios, ó music-halls, ó Luna-Parks, Ó couraçados, ó pontes, ó
docas flutuantes —
Fraternidade com todas as dinâmicas! Promíscua fúria de ser parte-agente Do Na minha mente turbulenta e incandescida Possuo-vos como a uma mulher bela,
Fase Intimista/Pessimista
Aniversário
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos, Eu era feliz e ninguém estava O que fui de serões de meia-província,
morto. O que fui de amarem-me e eu ser menino,
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos, O que fui, ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui... A que distância!...
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer. (Nem o echo...)
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos, O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma, De ser inteligente para O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa, Pondo grelado
entre a família, nas paredes...
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim. Quando vim a ter O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas
esperanças, já não sabia ter esperanças. Quando vim a olhar para a vida, perdera lágrimas),
o sentido da vida. O que eu sou hoje é terem vendido a casa, É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...
Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo, O que fui de coração e parentesco,
Tabacaria
Não sou nada. Nunca serei nada. Ainda que não more nela; E o que podia fazer de mim não o fiz. O dominó
Não posso querer ser nada. Serei sempre o que não nasceu para isso; Serei que vesti era errado.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do sempre só o que tinha qualidades; Conheceram-me logo por quem não era e não
mundo. Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a desmenti, e perdi-me.
Janelas do meu quarto, porta ao pé de uma parede sem porta Quando quis tirar a máscara,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira, Estava pegada à cara.
que ninguém sabe quem é E ouviu a voz de Deus num poço tapado. Crer Quando a tirei e me vi ao espelho, Já tinha
(E se soubessem quem é, o que saberiam?), em mim? Não, nem em nada. envelhecido.
Dais para o mistério de uma rua cruzada Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que
constantemente por gente, O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o não tinha tirado.
Para uma rua inacessível a todos os cabelo, Deitei fora a máscara e dormi no vestiário Como
pensamentos, E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou um cão tolerado pela gerência
Real, impossivelmente real, certa, não venha. Por ser inofensivo
desconhecidamente certa, Escravos cardíacos das estrelas, E vou escrever esta história para provar que sou
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e Conquistámos todo o mundo antes de nos sublime.
dos seres, levantar da cama; Essência musical dos meus versos inúteis, Quem
Com a morte a pôr humidade nas paredes e Mas acordámos e ele é opaco, Levantámo-nos e me dera encontrar-te como coisa que eu fizesse,
cabelos brancos nos homens, ele é alheio, Saímos de casa e ele é a terra E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela inteira, defronte,
estrada de nada. Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Calcando aos pés a consciência de estar
Indefinido. existindo,
Estou hoje vencido, como se soubesse a Como um tapete em que um bêbado tropeça
verdade. Estou hoje lúcido, como se estivesse (Come chocolates, pequena; Come chocolates! Ou um capacho que os ciganos roubaram e não
para morrer, Olha que não há mais metafísica no mundo valia nada.
E não tivesse mais irmandade com as coisas senão chocolates. Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e Olha que as religiões todas não ensinam mais à porta.
este lado da rua que a confeitaria. Olhou-o com o desconforto da cabeça mal
A fileira de carruagens de um comboio, e uma Come, pequena suja, come! voltada
partida apitada Pudesse eu comer chocolates com a mesma E com o desconforto da alma mal-entendendo.
De dentro da minha cabeça, verdade com que comes! Ele morrerá e eu morrerei.
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é Ele deixará a tabuleta, e eu deixarei versos.
de ossos na ida. de folhas de estanho, A certa altura morrerá a tabuleta também, e os
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a versos também.
Estou hoje perplexo como quem pensou e vida.) Depois de certa altura morrerá a rua onde
achou e esqueceu. Mas ao menos fica da amargura do que nunca esteve
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo serei a tabuleta,
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa A caligrafia rápida destes versos, Pórtico partido E a língua em que foram escritos os versos.
real por fora, para o Impossível. Morrerá depois o planeta girante em que tudo
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa Mas ao menos consagro a mim mesmo um isto se deu.
real por dentro. desprezo sem lágrimas, Em outros satélites de outros sistemas qualquer
Falhei em tudo. Nobre ao menos no gesto largo com que atiro coisa como gente
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo A roupa suja que sou, sem rol, pra o decurso das Continuará fazendo coisas como versos e
fosse nada. coisas, vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
A aprendizagem que me deram, E fico em casa sem camisa. Sempre uma coisa defronte da outra, Sempre
Desci dela pela janela das traseiras da casa, Fui uma coisa tão inútil como a outra,
até ao campo com grandes propósitos. Mas lá (Tu, que consolas, que não existes e por isso Sempre o impossível tão estúpido como o real,
encontrei só ervas e árvores, consolas, Sempre o mistério do fundo tão certo como o
E quando havia gente era igual à outra. Ou deusa grega, concebida como estátua que sono de mistério da superfície,
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que fosse viva, Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma
hei-de pensar? Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e coisa nem outra.
nefasta,
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que Ou princesa de trovadores, gentilíssima e Mas um homem entrou na Tabacaria (para
sou? colorida, comprar tabaco?),
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa! Ou marquesa do século dezoito, decotada e E a realidade plausível cai de repente em cima
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que longínqua, de mim.
não pode haver tantos! Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais, Semiergo-me enérgico, convencido, humano, E
Génio? Neste momento Ou não sei quê moderno — não concebo bem o vou tencionar escrever estes versos em que digo
Cem mil cérebros se concebem em sonho quê —, o contrário.
génios como eu, Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode
E a história não marcará, quem sabe?, nem um, inspirar que inspire! Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los E
Nem haverá senão estrume de tantas Meu coração é um balde despejado. Como os saboreio no cigarro a libertação de todos os
conquistas futuras. que invocam espíritos invocam espíritos invoco pensamentos.
Não, não creio em mim. A mim mesmo e não encontro nada. Sigo o fumo como uma rota própria,
Em todos os manicómios há doidos malucos Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez E gozo, num momento sensitivo e competente,
com tantas certezas! absoluta. A libertação de todas as especulações
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que E a consciência de que a metafísica é uma
certo ou menos certo? passam, consequência de estar mal disposto.
Não, nem em mim... Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam, Vejo
Em quantas mansardas e não-mansardas do os cães que também existem, Depois deito-me para trás na cadeira E continuo
mundo E tudo isto me pesa como uma condenação ao fumando.
Não estão nesta hora génios-para-si-mesmos degredo, Enquanto o Destino mo conceder, continuarei
sonhando? E tudo isto é estrangeiro, como tudo.) fumando.
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas — Vivi, estudei, amei, e até cri, (Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas E hoje não há mendigo que eu não inveje só por Talvez fosse feliz.)
—, não ser eu. Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
E quem sabe se realizáveis, Olho a cada um os andrajos e as chagas e a O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na
Nunca verão a luz do sol real nem acharão mentira, algibeira das calças?).
ouvidos de gente? E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses Ah, conheço-o: é o Esteves sem metafísica. (O
O mundo é para quem nasce para o conquistar nem amasses nem cresses Dono da Tabacaria chegou à porta.)
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, (Porque é possível fazer a realidade de tudo isso Como por um instinto divino o Esteves voltou-
ainda que tenha razão. sem fazer nada disso); se e viu-me.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez. Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto Acenou-me adeus gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e
Tenho apertado ao peito hipotético mais a quem cortam o rabo o universo
humanidades do que Cristo, E que é rabo para aquém do lagarto Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum remexidamente. o Dono da Tabacaria sorriu.
Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda, Fiz de mim o que não soube,
Síntese
Ideias da sua poesia:
• Álvaro de Campos evolui ao longo de três fases: a de influência decadentista a que pertence o Opiário, a
futurista e sensacionista, de inspiração whitmaniana, onde encontramos, por exemplo, a Ode Triunfal e a
Ode Marítima; e a intimista ou independente, marcada pela abulia e o tédio, pela angústia e o cansaço, com
poemas como O que há em mim é sobretudo cansaço, Esta velha angústia, Apontamento, ou os de Lisbon
revisited:
o Na primeira fase, encontra-se o tédio de viver, a morbidez, o decadentismo, a sonolência, o torpor e a
necessidade de novas sensações;
o Na segunda fase, há um excesso de sensações, a tentativa de totalização de todas as possibilidades
sensoriais e afetivas (unanimismo), a inquietude, a exaltação da energia, de todas as dinâmicas, da
velocidade e da força até situações de paroxismo;
o Na terceira fase, perante a incapacidade das realizações, volta o abatimento, a abulia, a revolta e o
inconformismo, a dispersão e a angústia, o sono e o cansaço
Fase sensacionista
• Reflete a insubmissão e rebeldia dos movimentos vanguardistas da segunda década do século XX, olha o
mundo contemporâneo e canta o futuro.
• Poeta, que, numa linguagem impetuosa, excessiva, canta o mundo contemporâneo, celebra o triunfo da
máquina, da força mecânica e da velocidade. Dentro do espírito das vanguardas, exalta a sociedade e a
civilização modernas com os seus valores e a sua "embriaguez" (ex.: Ode Triunfal...).
• Diferente de Caeiro, que considera a sensação de forma saudável e tranquila, mas rejeita o pensamento, ou
de Ricardo Reis, que advoga a indiferença olímpica, Campos procura a totalização das sensações, conforme as
sente ou pensa, o que lhe causa tensões profundas.
• Como sensacionista, é o poeta que melhor expressa as sensações da energia e do movimento, bem como as
sensações de "sentir tudo de todas as maneiras". Para ele a única realidade é a sensação.
• Em Campos há a vontade de ultrapassar os limites das próprias sensações, numa vertigem insaciável, que o
leva a querer "ser toda a gente e toda a parte". Numa atitude unanimista, procura unir em si toda a
complexidade das sensações.
Fase pessimista
• Mas, passada a fase eufórica, o desassossego de Campos leva-o a revelar uma face disfórica, a ponto de
desejar a própria destruição. Há aí a abulia e a experiência do tédio, a deceção, o caminho do absurdo.
• Incorporando todas as possibilidades sensoriais e emotivas, apresenta-se entre o paroxismo da dinâmica em
fúria e o abatimento sincero, mas quase absurdo.
• Depois de exaltar a beleza da força e da máquina por oposição à beleza tradicionalmente concebida, a poesia
de Campos revela um pessimismo agónico, a dissolução do "eu", a angústia existencial e uma nostalgia da
infância irremediavelmente perdida.
• Na fase intimista de abulia, observa-se a disforia do "eu", vencido e dividido entre o real objetivo e o real
subjetivo que o leva à sensação do sonho e da perplexidade (ex.: Tabacaria). Verifica-se, também, a presença
do niilismo em relação a si próprio, embora reconheça ter "todos os sonhos do mundo".
A última ode
Só o ter flores pela vista fora E as rápidas carícias
Nas áleas largas dos jardins exatos Dos instantes volúveis.
Basta para podermos
Achar a vida leve Pouco tão pouco pesarei nos braços
Com que, exilados das supernas luzes,
De todo o esforço seguremos quedas Escolhermos do que fomos
As mãos, brincando, pra que nos não tome O melhor pra lembrar
Do pulso, e nos arraste.
E vivamos assim. Quando, acabados pelas Parcas, formos,
Vultos solenes de repente antigos,
Buscando o mínimo de dor ou gozo, E cada vez mais sombras,
Bebendo a goles os instantes frescos, Ao encontro fatal
Translúcidos como água
Em taças detalhadas, Do barco escuro no soturno rio,
E os nove abraços do horror estígio, E o regaço insaciável
Da vida pálida levando apenas Da pátria de Plutão.
As rosas breves, os sorrisos vagos,
Síntese
Ideias da sua poesia:
• Latinista e helenista (Interesse pela cultura Clássica, Romana e Grega).
• Ricardo Reis, poeta clássico, da serenidade epicurista, que aceita, com calma lucidez, a relatividade e a
fugacidade de todas as coisas.
• Aceita a antiga crença nos deuses, enquanto disciplinadora das nossas emoções e sentimentos
• Defende a busca de uma felicidade relativa alcançada pela indiferença à perturbação.
• Defende o prazer do momento, o “carpe diem”, como caminho da felicidade, mas sem ceder aos impulsos
dos instintos - epicurismo.
• Considera que nunca se consegue a verdadeira calma e tranquilidade – ataraxia
• Propõe, uma filosofia moral de acordo com os princípios do epicurismo e uma filosofia estoica:
o - “Carpe diem” (aproveitai o dia), ou seja, aproveitai a vida em cada dia, como caminho da felicidade;
o - Buscar a felicidade com tranquilidade (ataraxia);
o - Não ceder aos impulsos dos instintos (estoicismo);
o - Procurar a calma, ou pelo menos, a sua ilusão;
o - Seguir o ideal ético da apatia que permite a ausência da paixão e a liberdade (sobre esta apenas
pesa o Fado).
• Adquiriu a lição do paganismo espontâneo de Caeiro, cultiva um neoclassicismo neopagão (crê nos deuses e
nas presenças quase divinas que habitam todas as coisas), recorrendo à mitologia greco-latina,
• Considera a brevidade, a fugacidade e a transitoriedade da vida, pois sabe que o tempo passa e tudo é
efémero. Daí fazer a apologia da indiferença solene diante o poder dos teus e do destino inelutável.
• Considera que a verdadeira sabedoria de vida é viver de forma equilibrada e serena, ( “sem desassossegos
grandes”).
Síntese
Ideias da sua poesia:
• Defende o sensacionismo, corrente que apresenta três princípios: os objetos são resultados de uma sensação
nossa, todo e qualquer tipo de arte provém igualmente de uma sensação e a arte é uma transformação de
uma sensação noutra. Por conseguinte, Alberto Caeiro, afirma que ver e sentir é conhecer e compreender a
realidade, não sendo necessário usar o pensamento para fazê-lo.
• Dá mais valor aos sentidos e às emoções do que ao pensamento. Sendo caracterizado como um poeta não
do pensamento, mas sim da natureza, um «guardador de rebanhos», que observa e sente a realidade de
forma objetiva e natural.
• Verifica-se uma negação ao misticismo, ou seja, não concorda em ver mistérios nos objetos senão aquilo que
observa, pois, segundo ele, «pensar é estar doente dos olhos». Defendendo que não é necessário o
pensamento para observar e compreender o mundo, os conceitos reduzem-se àquilo que observamos.
• Ele exprime o desejo de acabar com a consciência das suas próprias sensações, isto é, o «vício de pensar»,
porque, de acordo com este heterónimo "as coisas não têm significação: têm existência, a qual é o seu
próprio significado" (Pessoa, 2006, p. 79).
• Tenta ver as coisas como elas são, sem refletir sobre elas e sem atribuir-lhes significados (“Que é vento, e que
passa, / E que já passou antes, /E que passará depois. “).
• Advoga a comunhão do Homem com a Natureza, aproximando-se assim do paganismo. Sentindo um
deslumbramento perante a sua diversidade.
• Considera que só o presente existe e deve ser vivido
• Afirma ser o poeta do real objetivo, um poeta (falsamente) ingênuo
Concluindo, o programa sensacionista de Alberto Caeiro afirma recusar o pensamento, a filosofia e a existência
de uma metafísica, tendo em conta apenas as emoções, o que pode ser conferido através deste poema.
• a presença de versos sem rima e com métrica coordenadas copulativas “ E que já passou antes,/
irregular, que são usados de modo a eliminar da E que passará depois./E a ti o que te diz?»”.
sua poesia os mecanismos rítmicos e a • Frases simples em que domina a coordenação
musicalidade artificialmente orquestrados. • Domínio do campo lexical de “natureza”
• uso reduzido de metáforas, palavras com duplo • Marcas de discurso de oralidade e da prosa
sentidos, conotações de linguagem ou de tropos • Adjetivação objetiva
que dizem uma coisa por meio de outra; • Predomínio do presente do indicativo
• uso de vocabulário simples e reduzido; • Simplicidade dos recursos retóricos
• uso de tautologias “Que é vento, e que passa,”; • Irregularidade a nível da estrutura estrófica, usada
• uso de uma sintaxe enumerativa, onde para expressar o imediatismo das suas sensações
predominam o polissíndeto e orações
Em suma, Alberto Caeiro tenta eliminar qualquer elemento conotativo, artificial ou trabalhado da sua poesia, o
que empresta à composição um certo tom de falsa simplicidade, utilizando-se destes métodos para intensificar a
ideia de que é o poeta da simplicidade e da ingenuidade.
Contradições
Alberto Caeiro descreve-se a si próprio como sendo o poeta da simplicidade e ingenuidade que possui uma
visão sensacionista e antifilosofias, acreditando que as coisas são como elas são, colocando a realidade ao nível das
sensações, não havendo nada para além desta, vendo a realidade com um olhar nítido.
Diz ser o poeta da simplicidade e da ingenuidade porem estrutura os seus poemas de forma pensada e
trabalhada, de modo a transmitir uma ingenuidade disfarçada
• Diz ser o poeta da simplicidade e da • Diz desvalorizar e recusar o pensamento, mas
ingenuidade porem expressa nos seus os seus poemas são reflexões e não tanto
poemas uma intensa complexidade filosófica descrições da natureza
• Diz recusar o pensamento, mas ao tentar • Afirma-se contra a filosofia, mas expõe a sua
representar poeticamente a diversidade e a «doutrina» nos seus poemas
variedade do mundo acaba por ter que fazer • Analisa e reflete sobre as sensações, não se
uso da racionalidade limitando a captar impressões
Existe uma contradição entre o poeta ingénuo que Alberto Caeiro diz ser e o pensador que ele recusa ser, mas
que afinal é, sendo, assim, possível identificar dois Caeiros, o poeta ingênuo e o pensador, sendo o primeiro que em
teoria se desdobra no segundo.
Gramática
Principais processos de variação fonológica
Processos de variação fonológica
Assimilação Alteração de fonema, que se torna igual ou semelhante a Ipsu > Isso
um som vizinho
Dissimilação Alteração de fonema, que setorna diferente dos sons Rodondo > Redondo
vizinhos
Sonorização Transformação de consoantes surdas em posição Focu > Fogo / Totu > Todo
intervocálica em consoantes sonoras
Empréstimo – palavras de outras línguas que entraram numa outra sendo recorrentemente usada pelos falantes.
Ex: Árabe – xeque/ alface/ açúcar; japonesa – harakiri/ biombo/ sushi
Amálgama – processo de criação de novas palavras que resulta da fusão dos vocábulos, ambos sofrendo amputações.
Ex: informática – informação + náutica; franglês – francês + inglês;
Sigla – vocábulo que resulta da redução das palavras de uma expressão às suas iniciais. Lê-se soletrando.
Ex: OMS – organização mundial de saúde; PJ – polícia judiciaria;
Acronímia – semelhante à sigla, porem em vês de se ler a soletrar, lê-se como uma palavra
Ex: SIDA – síndrome da imunodeficiência adquirida; TAC – tomografia axial computorizada;
Semântica
Valor temporal
Valor aspetual
O valor aspectual traduz o modo como a ação se realiza ou desenvolve-se. Os valores aspectuais são os
seguintes:
• Valor perfetivo – a ação é apresentada como concluída. Ex: Ontem comi feijão
• Valor imperfectivo – a ação é apresentada como não concluída. Ex: Naquela época ia ao cinema.
• Valor iterativo – a ação realiza-se regular ou repetidamente. Ex: Vou ao cinema regularmente; Temos ido ao
cinema.
• Valor habitual – a ação é um hábito, um costume. Ex: Eu costumo lavar os dentes; Íamos sempre de férias.
• Valor genérico – apresenta um facto como permanentemente válido. Ex: A Terra é redonda; Os peixes vivem
na água.
Valor modal
O valor modal exprime a atitude do interlocutor perante aquilo que enuncia. Distinguem-se as seguintes
modalidades:
• Epistémica
o valor de certeza – A caneta está estragada
o valor de probabilidade – A caneta pode estar estragada
• Deôntica
o Valor de obrigação – Tens de entrar
o Valor de permissão – Podes entrar
• Apreciativa
o (Avaliação positiva) – Felizmente, chegaste.
o (Avaliação negativa) – Lamento a demora.
Orações
Orações coordenadas
Subclasses Exemplos
Assindética Sinto-me quente, devo estar doente.
Copulativa Sai do trabalho e fui para casa.
Adversativa O telemóvel tem bateria, mas não funciona.
Sindéticas Disjuntiva Chovia ou nevava.
Conclusiva Estudei bastante, logo vou ter boa nota.
Explicativa Liga o aquecedor, pois está frio.
Orações subordinadas
Substantivas Completivas Ele pediu que lhe fizéssemos um favor.
Relativas Quem espera sempre alcança.
Adjetivas Relativas restritivas Gosto da camisola que compraste.
Relativas explicativas A Ana, que chegou cedo, está a dormir.
Adverbiais Temporais Assim que cheguei, fui dormir.
Causais O carro parou porque ficou sem gasolina.
Finais Amanhã encontramo-nos para falar.
Condicionais Se fores ao supermercado, traz leite.
Concessivas Apesar de não ter muita fomes, podemos jantar.
Comparativas O teu irmão é mais alto do que tu
Consecutivas Estava tanto frio que tremiamos