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Sentimentos do mundo.

Lutum
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Copyright 2022 by lutum.

Grafia atualizada segundo o acordo


ortográfico da língua portuguesa de 1990, que
entrou em
vigo no Brasil em 2009.

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Obra registrada e protegida por direitos.

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Prefacio:

“Sentimentos do mundo é uma obra pensada e


absorvida de uma série de sentimentos confusos e
anárquicos, que nasceu a partir de um período um
tanto caótico e crítico do autor, além disso, a obra tem
como maior característica o movimento literário do
romantismo, movimento esse que surgiu na Europa no
final do século XVIII e se caracteriza basicamente pela
ênfase nas emoções, no individualismo e na exaltação
da natureza. Trazer o modernismo ao exercício dessa
obra reflete em como as críticas sociais e a valorização
dos sentimentos precisam ser mais discutidos em
grupo, principalmente no meio artístico. Autores
como, Carlos Drummond, Fernando Pessoa, Dante e
Leminski são poetas contemporâneos representantes de
uma literatura mergulhada na liberdade formal e
temática sociopolítica, além disso, seus textos são
marcados, principalmente, por temas do cotidiano,
assumindo assim, um caráter universal. Foi através da
leitura e releitura dos livros desses grandes gênios que
Lutum se inspirou para a composição de Sentimentos
do mundo.”
— Lorena (escritora).

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Sumário
Prefacio:..................................................................................................................................................................................5
Dedicatória:.............................................................................................................................................................................7
ANJOS....................................................................................................................................................................................9
Se acomodar..........................................................................................................................................................................10
Corpos frios...........................................................................................................................................................................11
ANJOS..................................................................................................................................................................................12
Campo de centeio..................................................................................................................................................................12
Inferno...................................................................................................................................................................................13
PRAZERES TOMADOS......................................................................................................................................................14
PRISÃO................................................................................................................................................................................15
Silêncio.................................................................................................................................................................................16
Enfermo................................................................................................................................................................................17
Borboletas.............................................................................................................................................................................18
Sentimentos do mundo..........................................................................................................................................................19
Jarro......................................................................................................................................................................................20
Escuridão..............................................................................................................................................................................21
Acordar.................................................................................................................................................................................22
O espetáculo estreia com......................................................................................................................................................22
Vida.......................................................................................................................................................................................23
Pesadelos...............................................................................................................................................................................24
Domingo...............................................................................................................................................................................25
O alarme toca;.......................................................................................................................................................................25
Reflexo..................................................................................................................................................................................26
Brilho....................................................................................................................................................................................27
Deserto..................................................................................................................................................................................28
Escrita...................................................................................................................................................................................29
Sala cheia..............................................................................................................................................................................30
Ponha amor...........................................................................................................................................................................31
PurgATÓRIO........................................................................................................................................................................32
PULMÃO..............................................................................................................................................................................33
Vícios....................................................................................................................................................................................34
Cacos.....................................................................................................................................................................................35
Chamas..................................................................................................................................................................................36
Por que escreves?..................................................................................................................................................................37
Gritar.....................................................................................................................................................................................38
Eternidade.............................................................................................................................................................................39
Sereia....................................................................................................................................................................................40
Voar......................................................................................................................................................................................41
Vazio.....................................................................................................................................................................................42
Trágica existência.................................................................................................................................................................43
Passado..................................................................................................................................................................................44
Brisa......................................................................................................................................................................................45
Falar......................................................................................................................................................................................46
Purgante................................................................................................................................................................................47
Mineracão.............................................................................................................................................................................48
Multidão................................................................................................................................................................................49
Escravo..................................................................................................................................................................................50
Relógio..................................................................................................................................................................................51
Rugas....................................................................................................................................................................................52
Mula......................................................................................................................................................................................53
Papável..................................................................................................................................................................................54
Cinza.....................................................................................................................................................................................55
Sirenes...................................................................................................................................................................................56
Estrelas..................................................................................................................................................................................57
Última letra...........................................................................................................................................................................58

9
Dedicatória:

Dedico este livro a Anne, minha psicologa,


que tem me ajudado a entender esse
emaranhado de sentimentos que há em mim.

10
Palavras, podem ser a salvação
de algo ou a sua destruição.
Não as guardo em mim, não há espaço,
mesmo se houvesse, não devem ser
mantidas...

11
ANJOS
Um breve olhar ao inferno revela um mundo
complexo e distorcido de seus valores éticos e
morais. Mas vejam só; há anjos em meio aos
impuros, suas mãos contêm tanto sangue
quanto.

12
Se acomodar

A fumaça intensa do cigarro ofusca um pouco


minha visão;
Afasto-a um pouco com as mãos.
Pigarreio e Sinto um leve desconforto no
corpo;
Ou seria na alma?
Pouco importa.

Por que há tantas garrafas;


Tantas cinza;
E vejam só, minhas páginas misturadas ao
café.
Um longo suspiro é dado, talvez tenha sido o
fim da alma.
Pouco importa.

Sempre falo que vou mudar;


Que isso tudo vai acabar!
Mas a quem quero enganar?
13
Já me acomodei a esse mal-estar

14
Corpos frios

Observo o corpo nu que jaz em minha cama;


Sinto o sabor de sua pele na ponta da língua,
Pouco importa a cor, à noite fomos fauna e
flora;
Mas durante o dia fomos deserto.
Dai percebi o quanto isso nos consumia.

O rum queima minha garganta;


Mas sinto frio
Por que ainda tento me aquecer com todos
Esses malditos corpos frios?
Para transformar em poesia?

Um breve sorriso surge em minha fase:


— Muita ironia.

15
ANJOS

Um breve olhar ao inferno revela um mundo


complexo e distorcido de seus valores éticos e
morais.
Mas vejam só;
há anjos em meio aos impuros, suas mãos
contêm tanto sangue quanto.

16
Campo de centeio

Você sempre intensa como os girassóis de


Van Gogh;
Enquanto essa intensidade reinar;
saberei que ao contrário dele;
não iremos morrer em um campo
de centeio.

17
Inferno

Vago por dias na escuridão, meus olhos se


fecham com o cansaço extremo;
Mas algo me desperta, a presença de três
seres: a pantera, um leão e um lobo.
Seus dentes rangem e suas salivas se espalham
entre a relva da floresta;

O coração pulsa com o medo agonizante,


Fecho meus olhos e me entrego;
Mas algo me faz retornar,
Virgílio me lembra que devo continuar.

Queimo em um inferno gélido,


A esperança fora abandonada ainda no portão,
Tenho vivido angustiado desde então.

Sigo vagando por um inferno circular,


Ansiando ao seu final chegar.

18
19
PRAZERES TOMADOS

Até que ponto iríamos para satisfazer nossas


vontades?
Sejam elas da mente ou da carne.
A mente se contenta com o conhecimento,
A carne é insaciável, fora de controle.
Alguns se contentam com a chegada do gozo.
Outros vão além, tomam-lhe o prazer,
a vida e deixam em suas vítimas um abismo
de uma dor
silenciada com um ato forçado.

20
PRISÃO
É necessário renascer para sobreviver.
É das cinzas que compõe minha essência;
Preciso me libertar do que me compõe;
Do que me prende.
Só assim serei verdadeiramente livre.

21
Silêncio

Tomo um gole profundo e demorado;


Minha garganta queima com a entrada do
álcool.
Olho ao redor, não há resquício de vida.
Escrevo mil poemas entre esses malditos
corpos.
Te dedique todos eles, mas você só passou os
olhos entre
as páginas;
Sempre me pergunto como vou amá-la.
Minha alma foi lentamente consumida pelas
traças;
Olho para meus pulsos e só vejo amarras.
O coração há estacas.

22
Enfermo
Tu me declaras enfermo durante o dia, se é na
noite que
você me devora e tira de mim coração que
pulsa em meu
Peito;
E afirma que tudo ficará bem
ao anoitecer, como se mil noites
conseguissem sustentar
um único dia.

23
Borboletas

As borboletas em meu estômago não tiveram


sol o
suficiente para voarem.

24
Sentimentos do mundo

Sentimentos indescritíveis de um mundo


abstrato;
tento decifrar essa prisão de carne,
Definho-me por inteiro e não encontro
resposta;
A carne agora morta, morta à resposta.

25
Jarro

Esbarro no jarro da sala de estar;


Seus pedaços se espalham em uma dança
desgovernada.
Juntos e observo seus entalhes,
Girassóis o estampa por inteiro.

Sento-me e tento os encaixar;


Pego alguns de seus cacos na esperança que
fiquem encaixadas.
Mas não há como, a vida termina nos detalhes.
E eu queimo junto ao isqueiro.

26
Escuridão
A luz do dia entrava receosa
pela fresta dajanela, salpicando meus dedos de
dourado.
Estoucansado desta luz cinza que recai sobre
meu rosto!
Mas me sinto estranhamente
acolhido a essa escuridão
de uma vida mórbida.
Ouço sons vindo de fora, parecem risos, não
consigo
distinguir. Há anos anda tudo tão
fragmentado.
Mas sinto que a vida se esvai
entre meus dedos...
Como se o mundo se acabasse calado.

27
Acordar

Amo te ver acordar,


Amo o modo como o
sol é refletido por seus olhos.
O espetáculo estreia com
a chegada do sorriso
.E o amor renasce com
mais um bom dia!

28
Vida

Aproveitei a vida como se a morte batesse à


porta, e
De fato, ela batia.
Preparei-me para abri-la, mas a vida chora
desesperada,
não posso abrir sem antes tê-la acalentado.

29
Pesadelos

Mais uma vez fui desperto por um pesadelo;


Por aquele aperto constante no peito;

Os edifícios em mim, estão em chamas,


extinguindo qualquer resquício de vida.
Meus olhos marejam na esperança de uma
salvação.

30
Domingo

O domingo escorria entre meus dedos em um


vermelho
escarlate.
O banheiro estava trancado, a madrugada
continuava silenciosa, como diariamente,
porém, todo o barulho habitava em mim:
gritos, sirenes e choros.
A vida manchava o piso, a pia, a mim..
O alarme toca;
o sol nascia receoso e tímido.
A última gota de consciência tentava me
despertar, mas...

31
Reflexo

Paro em frente ao espelho;


Tento ver minha face;
Mas nada refletia ali;
Tentei sentir a carne;
Mas nada pulsava ali;
Nada habitava em mim, e por fim, em que
momento sumir?

32
Brilho

Vejo-te admirar o céu noturno ao me


despertar. Sua voz doce me dizendo que logo
voltaria a se deitar. Como pode algo expelir
tanta beleza estando morto? Chega a ser
doloroso saber que logo seu brilho deixaria de
existir. Ainda te vejo admirando o céu. Quem
me dera! Antes fossem as estrelas a deixar de
existir.

33
Deserto

Deserto: Sair de casa com sede de mundo e


descobrir que o mesmo era um deserto.

34
Escrita

Alguns, a consideram uma maldição, e de


fato, ela é. Afinal, de que modo explicaremos
a insuportável dor de decifrar a angústia do
mundo e a da nossa alma, e ainda assim, a
transformar em arte.

35
Sala cheia
Um brilho branco se recai sobre a minha face;
tentando dissipar a escuridão. No que estou
pensando? Bem, isso é um pouco complicado;
Pois, um turbilhão se passa em minha mente.
A melancolia ecoa pela sala; A espera pela
saída me consome; Tudo que há em volta
consome os últimos resquícios de vida. A sala
está cheia, mas não há vida.

36
Ponha amor

Não importa os poemas, o amor acaba na


ponta da caneta, E no início de cada letra.
"Ponha mais amor nelas!"
Como poderia?
O refil jorra dores;
Tinge sentimentos amargos.

Uma vida de fracassos


. O amor?
Bem, ele entra para aqueles que o sentem, ou
em sua maioria, o inventam.
A poesia é nua,
É crua,
. Expõe a carne, Pulsa o coração que anseia
em parar.

37
PurgATÓRIO
O purgatório se inicia Com o choro, o
rompimento Da escuridão.
O inferno é a passagem Pelos noves círculos
O paraíso é nada mais Que o fim da luz E a
chegada da escuridão Seria o céu a maneira
Que encontramos de consolar A morte? O
inferno nasce do medo. A vida anseia pela
calma. Ansiamos pelo caos.

38
PULMÃO

Sufocamos o pulmão; sujamos a água;


Queimamos e enchemos a vida com suas
fuligens. Não estacamos o sangue; Não
cicatrizamos as feridas. Mutilamos cada
centímetro de vida; Onde isso nos levará? O
que te faz gozar da vida, irá te fazer respirar.

39
Vícios

Uma sombra paira sobre mim.


Mãos gélidas apertam meu pescoço.
Arrancam de mim a vida!
Porém, não matam o corpo
. A face negra devora-me;
Faz o que os meus vícios não fizeram.

40
Cacos

A vida é o lugar onde Se misturam luzes e


cores;
Músicas e choros;
Na sua forma brutal. A face contorcida, o
coração aos cacos; O amor aos pedaços.
Se juntam em um canto melancólico e
agonizante;
Em uma dança esvoaçante.

41
Chamas
A casa queima intensamente, o calor é
insuportável dentro. As chamas consomem
meus livros, o tornam negros, até se
desfazerem. Meus quadros, só restaram as
moldaras, porém, logo não restará nada. A
casa gradualmente foi se desfazendo; De
mim? Bem, eu já fui há muito tempo.

42
Por que escreves?
Tento decifrar o indecifrável:
O coração, a alma;
Cada sentimento;
Cada batimento;
Cada sofrimento!
"Por que escreves?"
Ainda busco nas palavras a resposta.

43
Gritar

No fundo da xícara encontrei todas as


respostas; mas continuava sem entender.
Encontrei o amparo; Mas havia solidão. O
doce me levou ao amargor. As respostas só
me deram dúvidas. O que há no peito? Um
coração? Mas por que há essa coisa? Por que
ela anseia tanto em gritar.

44
Eternidade

O “jazz ” ecoava pelos quatro cantos da sala;


Teu corpo na palma da mão; É o auge da
excitação. A alma se completa com dois
corpos; Ambos entrelaçados da mente Ao
coração.

45
Sereia
Teu canto ecoa por todo o mar; Hipnotiza-me
e me leva a mergulhar. Teus olhos cinzentos
vão de encontro aos meus; Teus lábios tocam
os meus. O sentimento esmaga o coração; A
ilusão ameniza, mas a mente fica em erupção.
Teu canto melancólico me hipnotiza; Leva-me
ao fundo do mar; Sem ar; não há como cantar.
O que era belo, acabou; O que era doce,
amargou. A vida que pulsava se apagou; um
sentimento tão ilusivo o matou.

46
Voar

Saí voando pela janela; O peito ofegante; A


brisa gélida suaviza o sol.
O mundo parece ser de concreto.
Há pessoas metálicas
Arrancam as asas dos que são feitos de carne.
Não há sentimento;
Há aço e fuligens;
Agonia e morte.

47
Vazio

Sou feito de palavras;


Carne e agonia
. Sou escravo de cada palavra que transcrevo.
Sou ruína, mas também sou reino.
Reino de palavras não ditas.
Tenho medo da vida;
Ela mata até as minhas poesias.
Aprisiona-me em uma cela de agonias.
Arrancou do meu peito o coração que só
desejava alegria.

48
Trágica existência
A trágica existência sem arte;
Sentimento;
E consentimento.
Quem dera eu tivesse escolhido viver;
Mas escolhi viver na arte;
Em meus quadros.
Olhar para o espelho me releva o mau
presságio de não me reconhecer.
De não viver.

49
Passado

O passado anda lado à (lado) com o presente.


Ele me funga o pescoço;
Sinto cheiro de sangue;
De uma vida sem existência.
Ele me mostra que não há o que viver.
Um sorriso lhe brota da face.
Mas lhe digo que ainda há muito o que viver.

50
Brisa

Escrevo diante da janela aberta.


O sol inunda todo o mundo;
Meus livros e poesias.
Uma brisa leve tira-me um cacho de cabelo da
face, respiro; Por um instante, o vazio foi
preenchido.
O amargor do fundo da xícara;
Tira o doce da vida; um doce sem sabor;
Mas o sabor está na ponta dos dedos.

51
Falar

O peito aperta; Falta ar para falar.


Mas o que há para falar?
Meu olhar já transmite todas as palavras;
O desejo de amar.
Meus gestos secos;
Mas inundados de sentimentos
incompreensíveis.

52
Purgante

Em minha palma direita está pousado todos os


meus anseios; A vontade de entender;
O que me ajuda a viver?
O gosto é amargo;
Purgante.
A mente se acalma por um instante;
mas há algo em mim que não pode ser
suprimido por comprimidos.

53
Mineracão
As lembranças escorrem com a mineração da
mente;
A lapidação dos sentimentos.
O baú da alma está fechado
; Sem o cadeado;
O coração interditado;
Mas não engarrafado.
O meu fúnebre estado;
Melancólico;
Nem um pouco simpático.
Sei que deveria sorrir mais;
Porém, o machucar constante me deixou
inerte, absorto. Mas ainda possuo os
sentimentos do mundo na palma da mão...

54
Multidão

Uma multidão me rodeia;


Como poderia a descrever?
Não enxergo nada;
Só há carne; Onde está a vida?
Seria eu o gauche na vida?
Em que momento deixamos de viver?
Por onde anda a vida?
O que há por trás dessas faces metálicas;
Vazias?
Os que ainda vivem;
Apagam a centelha de fogo que os iluminam.
Ficam na escuridão do eterno;
por julgar que nada mais exista.

55
Escravo

Acordo-me para mais um dia;


Mas há um sussurro me dizendo fica.
Estou cheio de escravos;
Cheio de vida;
Há algo mágico no fundo da xícara.
Há algo mágico quando ela me fita.
O céu da sua boca acaba com todos os
escárnios do dia.

56
Relógio

O relógio toca o seu maldito "TIC TAC" sem


parar; um barulho incessante; Agonizante. Me
fazendo lembrar o quanto me consome.

57
Rugas

As rugas marcam minha face;


Tão profundas;
Tão alarmantes.
Sento-me na poltrona;
Tudo o que há em mim, começa a evaporar
junto da fumaça do cigarro.
Meus dedos tamborilam os braços da poltrona;
Algo me preocupa;
Talvez seja o pouco tempo que há agora.

58
Mula

O homem monta em sua mula;


A chicoteia;
Faz ela avançar aos solavancos.
Como recompensa pelas torturas;
Recebe feno e cubos de açúcar.
O que recebemos daqueles que montam a
mula do Brasil?

59
Papável

Buscamos o amor entre pílulas e cédulas;


Buscamos preencher a todo custo o vazio
insuportável com o que é palpável;
Nos decepcionamos quando não acalenta, não
satisfaz.
Nos matamos por álcool, tabaco e mulheres.
Criamos uma redoma de vidro para seguirmos
em uma estrada de cascalho e caos.

60
Cinza

Meu mundo é terrivelmente cinza, as cores


foram roubadas; Mas tenho algo para
encontra-las.
No final do corredor algo se mantém estático,
esperando que o peguem.
Enxergo as cores em suas páginas, perco
minha visão ao amassá-las.
Um mundo lúgubre paira sobre o outro lado;
Carros com suas sirenes e fuligens reinam:
Em um amontoado de concreto e sonhos
perdidos.
Os motoristas sempre são insensíveis.
Tudo é gélido;
Aqui, a paz é inquietante;
O caos se torna reconfortante.

61
Sirenes

O alarme toca incessantemente, meus olhos


petrificados na escuridão, se desmorona.
Na cabeceira da cama se pousa o véu da carne.
Visto-me e me preparo para mais um dia.
O café borbulha e solta sua fumaça áspera.
O cansaço me consome lentamente;
Sento-me à beira da janela;
Observo o mundo; há tanto caos lá fora;
Um barulho incessante;
Um sofrimento constante.
Respiro lentamente, deixo a fumaça entrar em
meus pulmões, o gosto que inunda minha
boca:
Lembra-me de vida;
E a vida me lembra que devo sair.

62
Estrelas

O céu está amontoado de estrelas;


De vida;
Mas também é um cemitério infinito;
Seja de estrelas ou de amores que morreram
como uma promessa não cumprida.

63
Última letra

Talvez essa seja a minha última letra;


Meu último poema;
O meu último suspiro;
Mas nunca será a minha última vida.
O que há em mim, floresce;
Talvez seja o primeiro passo para sair do
inferno circula
O coração deseja pulsar.

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