Você está na página 1de 7

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

São Gabriel
NPJ – Núcleo de Prática Jurídica
Prática Simulada IV – Ações Constitucionais
Prof. Sérgio Timo Alves

Relatório de Audiência

Nome: GILIARDI COSTA SILVA RODRIGUES


Matrícula: 681 330
Período Letivo: 10º NOITE
Disciplina: DIREITO – Estágio supervisionado IV – Prática simulada
Professor-Orientador: Sérgio Timo Alves

DADOS DO PROCESSO

Ação/Recurso: Ação Direta de inconstitucionalidade


Processo nº: ADI5874 REF. DECRETO Nº 9.246 DE 21 DE DEZEMBRO DE 2017
Partes: Presidente da República Michel Temer representado pela Procuradora Geral
da República Raquel Dodge, MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA
– MJSP.

Relator: Min. Luiz Roberto Barroso


Data do julgamento: 22/11/2018
Data da assistência do julgamento: 09/05/2019

Relatório:

I - Motivos para a escolha do processo assistido:

Indulto Natalino: É um tema polêmico, fruto de muita discordância por parte de


população e um assunto pouco abordado em debates. Escolhi este tema justamente
por conta que estamos aproximando do fim de mais um ano, e sem dúvida uma
matéria que poderá estar em evidência.

O indulto natalino consiste em um perdão de pena coletivo concedido


exclusivamente pelo presidente da República para pessoas condenadas que se
enquadrem nas condições expressas na lei. É uma espécie de perdão que impõe
extinção da pena para indivíduos que foram beneficiados por este direito (Conforme
Art.107 do CP) – é de competência exclusiva do chefe do Executivo por Decreto
Presidencial.
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS
São Gabriel
NPJ – Núcleo de Prática Jurídica
Prática Simulada IV – Ações Constitucionais
Prof. Sérgio Timo Alves

II - Qual o dispositivo constitucional foi objeto da ação/recurso? Explique a


questão constitucional a ser decidida.

ADI 5.874 - DISTRITO FEDERAL. Trata-se de Ação Direta de Inconstitucionalidade,


proposta pela Procuradora-Geral da República, em face do art. 1º, I, art. 2º, § 1º, I e
dos artigos 8º, 10 e 11 do Decreto nº 9.246, de 21 de dezembro de 2017.

A questão constitucional a ser decidida é sobre o Art.84, inciso XII da CF88. Que
prevê o indulto como ato discricionário e privativo do Presidente da República. O
chefe do Executivo pode conceder segundo critérios de conveniência e de
oportunidade sob a premissa inafastável. O ponto central é se o indulto anula ou não
a atuação do Judiciário. Podendo através deste instituto descredenciar de forma
ampla a justiça e gerar mais impunidade na sociedade.

Argumenta que, “em se tratando de um exercício excepcional de função, o indulto


deve fundar-se em critérios compatíveis com a Constituição. O Decreto impugnado,
no entanto, não o faz. Sem razão específica, expandiu os benefícios
desproporcionalmente e criou um cenário de impunidade no país: reduziu o tempo
de cumprimento de pena que ignora a pena aplicada; extinguiu as multas aplicadas;
extinguiu o dever de reparar o dano; extinguiu penas restritivas de direito, sem
razões humanitárias que justifiquem tais medidas e tamanha extinção da
punibilidade”.

Aponta, ainda, “que o Decreto nº 9246/17, especificamente no artigo 1º -I, § 1º – I e


nos artigos 2º, 8º, 10 e 11, é inconstitucional por violar, dentre outros, os princípios
da individualização da pena, da separação dos poderes e da proteção jurídica
suficiente dos bens jurídicos constitucionalmente tutelados”. Entende que “o Chefe
do Poder Executivo não se desincumbiu do ônus de dar concretude ao processo de
individualização da pena, devidamente disciplinado na Lei de Execuções Penais, e,
em vez de criar meios para o adequado cumprimento das sentenças, de acordo com
as características individuais dos apenados, optou por simplesmente extinguir a
sanção penal aplicada a crimes extremamente graves como a corrupção, o peculato,
a corrupção eleitoral, a associação, entre outros, mediante o cumprimento de
apenas um quinto da pena, às vezes, até menos”.
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS
São Gabriel
NPJ – Núcleo de Prática Jurídica
Prática Simulada IV – Ações Constitucionais
Prof. Sérgio Timo Alves

III - Resumo da sessão de julgamento:

(Como votou o relator?

Ministro Roberto Barroso, votou pela procedência parcial da ação. Ele se pronunciou
no sentido de excluir do âmbito de incidência do indulto natalino os crimes de
peculato, concussão, corrupção passiva, corrupção ativa, tráfico de influência, os
praticados contra o sistema financeiro nacional, os previstos na Lei de Licitações e
os crimes de lavagem de dinheiro. O ministro também entendeu ser inconstitucional
o dispositivo que estende o perdão à pena de multa, por clara ausência de finalidade
constitucional, salvo em casos em que ficar demonstrada a extrema insuficiência de
recursos do condenado.

Como foram encaminhados os debates?

Nos debates, a divergência que acabou vitoriosa no julgamento foi implantada pelo
ministro Alexandre de Moraes, que votou pela improcedência da ADI e lembrou que
o indulto é uma tradição no Brasil. Segundo ele, a concessão de indulto, prevista no
artigo 84, inciso XII, da Constituição Federal, é ato privativo do presidente da
República e não fere o princípio da separação de Poderes. O ministro aclarou que
existem limites à discricionariedade do chefe do Poder Executivo.

Segundo o ministro Alexandre, se o presidente da República editou o decreto dentro


das hipóteses legais e legítimas, mesmo que não se concorde com ele, não se pode
adentrar o mérito dessa concessão. Acompanharam a divergência, naquela sessão,
a ministra Rosa Weber e os ministros Ricardo Lewandowski, Marco Aurélio, Gilmar
Mendes e Celso de Mello.

O julgamento havia sido suspenso por pedido de vista do ministro Luiz Fux, que
apresentou seu voto na sessão no sentido da procedência parcial da ação,
acompanhando o relator, por entender que cabe ao Judiciário adaptar a sanção ao
caso concreto, de forma que ela não seja excessiva ou insuficiente. Segundo seu
entendimento, a redução indiscriminada e arbitrária da pena por obra de decreto
concessivo de caráter geral é atentatória ao princípio democrático e da separação
de Poderes, por usurpar o poder do Judiciário de definir a reprimenda penal.
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS
São Gabriel
NPJ – Núcleo de Prática Jurídica
Prática Simulada IV – Ações Constitucionais
Prof. Sérgio Timo Alves

Na sequência, votaram a ministra Cármen Lúcia, acompanhando o relator, e o


presidente, ministro Dias Toffoli, que se alinhou à corrente majoritária

Quais os principais fundamentos da decisão?

O presidente não pode, por exemplo, assinar ato de clemência em favor de


extraditando, por exemplo, uma vez que o objeto do instituto alcança apenas delitos
sob a competência jurisdicional do Estado brasileiro, ou conceder indulto no caso de
crimes hediondos, como tortura, terrorismo e tráfico de entorpecentes. “O ato está
vinculado aos ditames constitucionais, mas não pode o subjetivismo do chefe do
Poder Executivo ser trocado pelo subjetivismo do Poder Judiciário”,

Houve divergências de entendimento? Explique as divergências.

O Plenário do Supremo Tribunal Federal reconheceu na sessão a


constitucionalidade do decreto de indulto natalino de 2017, assinado pelo então
presidente da República Michel Temer, e o direito de o chefe do Poder Executivo
Federal, dentro das hipóteses legais, editar decreto concedendo o benefício do
indulto natalino.

Votaram a favor do indulto os ministros: Alexandre de Moraes, Rosa Weber,


Lewandowski, Marco Aurélio, Gilmar Mendes e Celso de Mello. O relator, ministro
Luís Roberto Barroso, e o ministro Edson Fachin votaram pela suspensão de parte
do decreto editado pelo Presidente Temer. Carmen Lucia acompanhou o relator.

Segundo Fachin, o poder do presidente da República não é ilimitado. Ele defendeu


que o indulto tem o objetivo de diminuir iniquidades do sistema penal para evitar o
sofrimento do cárcere. No entanto, Fachin disse que o indulto não pode ter
incidência sobre as condenações ainda não transitadas em julgado.

Assim como Alexandre de Moraes, a ministra Rosa Weber votou pela validade do
decreto. Para a ministra, o poder de perdão presidencial é uma das prerrogativas
importantes do Poder Executivo. “Gostemos ou não do indulto, ele é um mecanismo
do sistema de freios e contrapesos e que nada afronta o princípio da separação dos
Poderes”, disse. Caso exceda seus limites, o Presidente “poderá sofrer inclusive a
cassação política”.
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS
São Gabriel
NPJ – Núcleo de Prática Jurídica
Prática Simulada IV – Ações Constitucionais
Prof. Sérgio Timo Alves

O ministro Ricardo Lewandowski também votou contra a ação da PGR. Segundo o


ministro, o ato político de governo de conceder o indulto é de “amplíssima
discricionariedade” e, segundo ele, imune ao controle jurisdicional. Para
Lewandowski, o indulto editado por Temer foi concedido de maneira tal que não se
pode afirmar que ele teve exclusivo objetivo de beneficiar determinada classe de
condenados. Ainda, segundo o ministro, as regras não podem ser revistas pelo
Judiciário. “O ato político ou de governo não é vindicável pelo Judiciário,
diferentemente do ato administrativo de caráter vinculado”.

O ministro Marco Aurélio disse que o decreto editado pelo presidente Michel Temer
“é peça que prima pela razoabilidade, já que estabelece distinção entre o primário e
o reincidente”. Segundo ele, “a República está assentada num tripé, ou seja, na
independência e na harmonia dos poderes”.

Gilmar Mendes também votou a favor da validade do decreto, pois, segundo ele, não
extrapola os limites constitucionais. Segundo o ministro, o decreto editado por Michel
Temer não terá grande impacto no trabalho de combate à corrupção. Disse também
que dos 22 envolvidos na Lava Jato, que seriam beneficiados pelo indulto, 14 são
delatores e já estão soltos. “Veja como se manipula com grande irresponsabilidade.
Já estão a salvo por ato do Ministério Público”.

O ministro Celso de Mello também foi contra o relator e votou pela


constitucionalidade do decreto editado por Temer. Segundo ele, o indulto, inclusive o
de caráter coletivo, é uma expressão soberana da clemência do Estado. Para o
ministro, a ideia de que o indulto de Temer foi o mais generoso da história é um
equívoco.

IV - Quais os efeitos da decisão proferida?

Ficou definido a confirmação dos termos da medida cautelar anteriormente


concedida, foi julgada parcialmente procedente o pedido formulado na ADI.No
sentido de:

1. Excluir do âmbito de incidência do Decreto nº 9.246/2017 os crimes de


peculato, concussão, corrupção passiva, corrupção ativa, tráfico de influência,
os praticados contra o sistema financeiro nacional, os previstos na Lei de
Licitações, os crimes de lavagem de dinheiro e ocultação de bens, os
previstos na Lei de Organizações Criminosas e a associação criminosa, nos
termos originalmente propostos pelo CNPCP, tendo em vista que o
elastecimento imotivado do indulto para abranger essas hipóteses viola de
maneira objetiva o princípio da moralidade, bem como descumpre os deveres
de proteção do Estado a valores e bens jurídicos constitucionais que
dependem da efetividade mínima do sistema penal.
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS
São Gabriel
NPJ – Núcleo de Prática Jurídica
Prática Simulada IV – Ações Constitucionais
Prof. Sérgio Timo Alves

2. determinar que, nas hipóteses previstas no inciso I do art. 1º do Decreto nº


9.246/2017, o indulto depende do cumprimento mínimo de 1/3 da pena e só
se aplica aos casos em que a condenação não for superior a oito anos, 32
balizas que condicionam a interpretação do inciso I do §1º do art. 2º do
Decreto nº 9.246/2017;
3. Declarar a inconstitucionalidade do art. 10 do Decreto nº 9.246/2017, que
trata do indulto da multa, por violação ao princípio da moralidade, ao princípio
da separação de poderes e desviar-se das finalidades do instituto do indulto,
ressalvadas as hipóteses de (a) extrema carência material do apenado (que
sequer tenha tido condições de firmar compromisso de parcelamento do
débito, na forma da legislação de regência); ou (b) valor da multa inferior ao
mínimo fixado em ato do Ministro da Fazenda para a inscrição de débitos em
Dívida Ativa da União (atualmente disposto inciso I do art. 1º da Portaria nº
75, de 22.03.2012, do Ministro da Fazenda);
4. Declarar a inconstitucionalidade do art. 8º, I e III do Decreto nº 9.246/2017,
em razão da incompatibilidade com os fins constitucionais do indulto e por
violação ao princípio da separação de Poderes, já que no caso de medida
restritiva de direito e de suspensão condiciona da pena, sequer houve
encarceramento;
5. Declarar a inconstitucionalidade do art. 11, II do Decreto nº 9.246/2017, por
conceder indulto na pendência de recurso da acusação e antes, portanto, da
fixação final da pena, em violação do princípio da razoabilidade e da
separação dos Poderes.

2. Observe-se uma vez mais, em desfecho, que, no tocante à exclusão do


âmbito de incidência do indulto dos crimes relacionados à corrupção, bem
como da
dispensa do pagamento da pena de multa, a solução aqui adotada
restabelece o texto
original da minuta de decreto, tal como aprovado pelo Conselho Nacional de
Política
Criminal e Penitenciária. No que diz respeito à exigência de cumprimento do
prazo
mínimo de 1/3 (um terço) da pena e do limite máximo da condenação em 8
(oito) anos
33
para obtenção do benefício, a decisão retoma o padrão de indulto praticado
na maior
parte dos 30 anos de vigência da Constituição de 1988

A decisão proferida foi “modulada”?


PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS
São Gabriel
NPJ – Núcleo de Prática Jurídica
Prática Simulada IV – Ações Constitucionais
Prof. Sérgio Timo Alves

Houve algum recurso?


A decisão transitou em julgado?

Você também pode gostar