Você está na página 1de 4

Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

Centro de Teologia e Ciências Humanas


Departamento de Psicologia

TRABALHO DE ÉTICA PROFISSIONAL

Letícia Rabello Sampaio (1911807)

Ética Profissional – PSI1780 – 1EB


Prof. Raphael Zaremba

Rio de Janeiro
2021
A introdução à disciplina de Ética Profissional se deu por meio do seguinte
questionamento levantado pelo professor: “O que é Ética?”. A minha resposta foi “regras e
valores dentro de uma sociedade”. A partir das demais e variadas respostas para essa questão,
levantou-se o debate entre os conceitos de Ética e Moral. Seriam moral e ética sinônimos? Seria
a moral uma manifestação prática e concreta de uma ética? Geralmente, a moral é vista como
algo que aprisiona, regras que ditam o comportamento de um grupo. A ética seria tida como
algo mais libertador, promovendo um processo de reflexão. Teria a ver com tomada de decisões,
posicionamentos e a responsabilidade pelas consequências de determinadas escolhas. Seguindo
por esse sentindo, é possível ter um comportamento que vá contra as normas de convívio de
uma sociedade, mas que ainda assim seja ético? Acredito que para refletir sobre esse caso, é
necessário levar em conta o fato de que o mundo em que vivemos é repleto de diferentes
culturas, crenças e hábitos. Alguns costumes de determinadas culturas podem não ser
considerados éticos em outras.

Na Psicologia, é preciso estabelecer limites pessoais para aquilo que considera ético ou
não e em que ponto determinado fator, ou seja, essas suas limitações pessoais, vão interferir na
sua vida profissional. Surge o debate: é possível separar a prática profissional das suas opiniões
pessoais? Considero que nesse ponto vale destacar a importância de que o profissional da área
de Psicologia mantenha também um processo terapêutico contínuo, para que desenvolva o
sentimento da empatia (o exercício de “se colocar no lugar do outro”) e também para que
conheçam e lidem com seus próprios limites.

Assim, o profissional vai desenvolver sua capacidade de ouvir aquilo que é diferente de
si, tendo como principal objetivo compreender o que está por trás de determinado pensamento,
afinal, cada pessoa tem um histórico diferente. É preciso amadurecer a ideia de que não é sobre
necessariamente concordar com certo posicionamento, mas sim sobre saber dialogar e
principalmente ouvir o que o outro lado tem a dizer. A sua verdade não é universal. Também
não significa que seja melhor ou pior do que a verdade de outra pessoa, é apenas diferente.

Mais para frente no curso, realizamos reflexões acerca da leitura prévia do capítulo 12
do livro “A construção das Ciências” de Gerard Fourez: “Ética Idealista e Ética Histórica”.
Aqui discutimos a possibilidade de uma ética que abrange todas as épocas, atende todas as
necessidades das diversas culturas e pessoas, sem precisar ser repensada de tempos em tempos,
pois viria de uma instância superior – como Deus, por exemplo (o que seria a essência da ética
idealista) ou se devemos pensar na perspectiva de uma ética histórica, que é revista e atualizada
de tempos em tempos, de acordo com o momento atual da humanidade.
Gérard Fourez (1995, p.264) introduz a ética idealista da seguinte forma:

Falaremos de uma ética idealista quando se supõe que a moral decorre de uma série
de ideias eternas, que se tornam uma norma para a ação. A maneira pela qual se
constrói o raciocínio idealista na moral pode ser ilustrado pelo exemplo que se segue:
“A ideia de ´família´ implica uma relação monogâmica; por conseguinte, para ter um
comportamento ético é preciso guiar-se por essa norma.”

Já ao introduzir um ponto de vista histórico sobre a ética, disserta:

O ponto de vista que iremos propor agora pode ser chamado de “histórico” por dois
motivos. Por um lado, consideraremos que o debate ético não funciona em torno de
ideias eternas, mas em torno de conceitos historicamente construídos e, por outro lado,
que o próprio debate evolui ao longo da história.
O que é considerado como moral em uma determinada época pode, mais cedo ou mais
tarde, ser considerado como inadmissível do ponto de vista moral. (FOUREZ;
GÉRARD, 1995, p. 265-266).

Aqui nos deparamos com duas ideias básicas do texto: o conceito de ética idealista como
a noção de ideias que servem para tudo e todos os momentos históricos e socioculturais, e o
conceito de ética histórica, com a ideia de que certas coisas podem deixar de ser aceitas, ou
seja, podem deixar de ser consideradas éticas, como por exemplo, a escravidão. É ainda nos
apresentado o conceito de “vozes proféticas”, que podem ser contrárias ao pensamento de um
determinado grupo ao mesmo tempo que podem representar o pensamento de outro. (FOUREZ;
GÉRARD, 1995, p. 268-269).

Com a discussão baseada no texto “Ética como potência e moral como servidão”,
retomamos a ideia de que a moral seria algo mais rígido, enquanto a ética seria algo mais livre,
porém que traz juntamente com essa liberdade a responsabilidade por suas escolhas e
determinadas consequências. Manifestou-se, então, o debate sobre o que despertaria o ideal de
servidão no ser humano: medo ou desejo? E se for desejo, seria este necessariamente
consciente? Pressupõe-se a seguinte ideia: nota-se certo conforto em ter uma instância superior
que dita as regras e se responsabiliza pelas consequências de suas escolhas – a responsabilidade
não é minha, e sim do meu superior. Ao analisar o Artigo 1 do capítulo 8 (“Das
responsabilidades do Psicólogo”) do Código de Ética do Psicólogo, observamos os seguintes
pontos:

f) Fornecer, a quem de direito, na prestação de serviços psicológicos, informações


concernentes ao trabalho a ser realizado e ao seu objetivo profissional; g) Informar, a
quem de direito, os resultados decorrentes da prestação de serviços psicológicos,
transmitindo somente o que for necessário para a tomada de decisões que afetem o
usuário ou beneficiário; h) Orientar a quem de direito sobre os encaminhamentos
apropriados, a partir da prestação de serviços psicológicos, e fornecer, sempre que
solicitado, os documentos pertinentes ao bom termo do trabalho. (Código de
Ética Profissional do Psicólogo. Conselho Federal de Psicologia, Brasília, agosto de
2005. Vieira MC.)

Levanta-se, então os seguintes questionamentos: quem é “a quem de direito”? E quem


decide o que é necessário ser transmitido? Nesse caso, caberá ao profissional avaliar, e tomar
decisões a partir de reflexões sobre questões éticas.

Para refletir sobre o desenvolvimento do Código de Ética Profissional do Psicólogo,


trabalhamos com base no texto “A história da construção do Código de Ética Profissional do
Psicólogo”. Aqui fizemos um resgate dos conceitos de ética idealista e ética histórica. No
primeiro momento, o país passava pelo momento histórico e cultural pré ditadura militar. Por
isso, o primeiro Código de ética foi pensado como algo mais rígido, normatizado: um
instrumento de controle para evitar que fosse adotada alguma prática não condizente com aquilo
que se espera de um profissional da Psicologia (pág. 665). Quatro anos depois, viu-se a
necessidade da realização de uma revisão do Código, tendo como motivação principal o
aumento no número de profissionais da área registrados somado a emergência de novas áreas
de atuação. (pág. 667).

Com as mudanças na conjuntura política e socioeconômicas consequentes do fim da


ditadura, na década de 1980, volta um regime mais democrático com o movimento Diretas Já.
Faz-se necessário mais uma revisão do Código. (pág. 669). Até que, motivado pela
promulgação da Constituição de 1988, chegamos finalmente ao Código em vigor atualmente,
desde do ano de 2005.

...reflexo da necessidade que a categoria tinha em sintonizar-se com o “contexto


institucional-legal do país, marcadamente a partir da promulgação da denominada
Constituição Cidadã, em 1988” (Conselho Federal de Psicologia, 2005), com vistas a
democratizar o acesso da população a um conhecimento científico bastante elitizado
(p.674).

Um trecho do texto levanta ainda a seguinte questão: qual deve ser a finalidade de um
Código de Ética: preferencialmente normatizado ou preferencialmente reflexivo? Por quê?
(pág. 671). Na minha concepção, acredito que o Código de Ética do Psicólogo deva ser
preferencialmente reflexivo, pois na Psicologia é necessário levar em consideração inúmeras
situações que não somos capazes de prever. Ao nos depararmos com essas situações, é
inevitável nos abrirmos para a reflexão, de acordo com aquilo que consideramos como sendo
ético, levando em consideração as consequências dos nossos atos e nossas escolhas e assumindo
a responsabilidade sobre qualquer que sejam essas consequências.

Você também pode gostar