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Rio de Janeiro
2021
A introdução à disciplina de Ética Profissional se deu por meio do seguinte
questionamento levantado pelo professor: “O que é Ética?”. A minha resposta foi “regras e
valores dentro de uma sociedade”. A partir das demais e variadas respostas para essa questão,
levantou-se o debate entre os conceitos de Ética e Moral. Seriam moral e ética sinônimos? Seria
a moral uma manifestação prática e concreta de uma ética? Geralmente, a moral é vista como
algo que aprisiona, regras que ditam o comportamento de um grupo. A ética seria tida como
algo mais libertador, promovendo um processo de reflexão. Teria a ver com tomada de decisões,
posicionamentos e a responsabilidade pelas consequências de determinadas escolhas. Seguindo
por esse sentindo, é possível ter um comportamento que vá contra as normas de convívio de
uma sociedade, mas que ainda assim seja ético? Acredito que para refletir sobre esse caso, é
necessário levar em conta o fato de que o mundo em que vivemos é repleto de diferentes
culturas, crenças e hábitos. Alguns costumes de determinadas culturas podem não ser
considerados éticos em outras.
Na Psicologia, é preciso estabelecer limites pessoais para aquilo que considera ético ou
não e em que ponto determinado fator, ou seja, essas suas limitações pessoais, vão interferir na
sua vida profissional. Surge o debate: é possível separar a prática profissional das suas opiniões
pessoais? Considero que nesse ponto vale destacar a importância de que o profissional da área
de Psicologia mantenha também um processo terapêutico contínuo, para que desenvolva o
sentimento da empatia (o exercício de “se colocar no lugar do outro”) e também para que
conheçam e lidem com seus próprios limites.
Assim, o profissional vai desenvolver sua capacidade de ouvir aquilo que é diferente de
si, tendo como principal objetivo compreender o que está por trás de determinado pensamento,
afinal, cada pessoa tem um histórico diferente. É preciso amadurecer a ideia de que não é sobre
necessariamente concordar com certo posicionamento, mas sim sobre saber dialogar e
principalmente ouvir o que o outro lado tem a dizer. A sua verdade não é universal. Também
não significa que seja melhor ou pior do que a verdade de outra pessoa, é apenas diferente.
Mais para frente no curso, realizamos reflexões acerca da leitura prévia do capítulo 12
do livro “A construção das Ciências” de Gerard Fourez: “Ética Idealista e Ética Histórica”.
Aqui discutimos a possibilidade de uma ética que abrange todas as épocas, atende todas as
necessidades das diversas culturas e pessoas, sem precisar ser repensada de tempos em tempos,
pois viria de uma instância superior – como Deus, por exemplo (o que seria a essência da ética
idealista) ou se devemos pensar na perspectiva de uma ética histórica, que é revista e atualizada
de tempos em tempos, de acordo com o momento atual da humanidade.
Gérard Fourez (1995, p.264) introduz a ética idealista da seguinte forma:
Falaremos de uma ética idealista quando se supõe que a moral decorre de uma série
de ideias eternas, que se tornam uma norma para a ação. A maneira pela qual se
constrói o raciocínio idealista na moral pode ser ilustrado pelo exemplo que se segue:
“A ideia de ´família´ implica uma relação monogâmica; por conseguinte, para ter um
comportamento ético é preciso guiar-se por essa norma.”
O ponto de vista que iremos propor agora pode ser chamado de “histórico” por dois
motivos. Por um lado, consideraremos que o debate ético não funciona em torno de
ideias eternas, mas em torno de conceitos historicamente construídos e, por outro lado,
que o próprio debate evolui ao longo da história.
O que é considerado como moral em uma determinada época pode, mais cedo ou mais
tarde, ser considerado como inadmissível do ponto de vista moral. (FOUREZ;
GÉRARD, 1995, p. 265-266).
Aqui nos deparamos com duas ideias básicas do texto: o conceito de ética idealista como
a noção de ideias que servem para tudo e todos os momentos históricos e socioculturais, e o
conceito de ética histórica, com a ideia de que certas coisas podem deixar de ser aceitas, ou
seja, podem deixar de ser consideradas éticas, como por exemplo, a escravidão. É ainda nos
apresentado o conceito de “vozes proféticas”, que podem ser contrárias ao pensamento de um
determinado grupo ao mesmo tempo que podem representar o pensamento de outro. (FOUREZ;
GÉRARD, 1995, p. 268-269).
Com a discussão baseada no texto “Ética como potência e moral como servidão”,
retomamos a ideia de que a moral seria algo mais rígido, enquanto a ética seria algo mais livre,
porém que traz juntamente com essa liberdade a responsabilidade por suas escolhas e
determinadas consequências. Manifestou-se, então, o debate sobre o que despertaria o ideal de
servidão no ser humano: medo ou desejo? E se for desejo, seria este necessariamente
consciente? Pressupõe-se a seguinte ideia: nota-se certo conforto em ter uma instância superior
que dita as regras e se responsabiliza pelas consequências de suas escolhas – a responsabilidade
não é minha, e sim do meu superior. Ao analisar o Artigo 1 do capítulo 8 (“Das
responsabilidades do Psicólogo”) do Código de Ética do Psicólogo, observamos os seguintes
pontos:
Um trecho do texto levanta ainda a seguinte questão: qual deve ser a finalidade de um
Código de Ética: preferencialmente normatizado ou preferencialmente reflexivo? Por quê?
(pág. 671). Na minha concepção, acredito que o Código de Ética do Psicólogo deva ser
preferencialmente reflexivo, pois na Psicologia é necessário levar em consideração inúmeras
situações que não somos capazes de prever. Ao nos depararmos com essas situações, é
inevitável nos abrirmos para a reflexão, de acordo com aquilo que consideramos como sendo
ético, levando em consideração as consequências dos nossos atos e nossas escolhas e assumindo
a responsabilidade sobre qualquer que sejam essas consequências.