APRESENTAÇÃO
Por meio dessa perspectiva, tornou-se possível a comparação de visões de mundo e costumes
para demonstrar que tudo é relativo ao meio em que se vive e se foi educado, que há uma lógica
interna que precisa ser compreendida. Desse modo, desenvolve-se uma postura mais aberta e
curiosa às diversas formas de viver, pensar e agir, importantes para um contexto cosmopolita,
como o vivido por todos contemporaneamente.
Bons estudos.
Sendo assim, com o objetivo de realizar uma intervenção que faça sentido às experiências
locais, você deve propor uma ação que inclua as adolescentes como protagonistas do debate
sobre o tema "parentalidade, sexualidade e gravidez na adolescência".
INFOGRÁFICO
No Infográfico, você vai conhecer quatro abordagens que consolidaram a Antropologia Cultural
nos Estados Unidos.
CONTEÚDO DO LIVRO
No capítulo Relativismo cultural, da obra Antropologia Social, você vai ver sobre esse
conceito e as estratégias desenvolvidas na Antropologia pós-evolucionista para a adoção de uma
perspectiva relativista, acompanhada de outra compreensão de cultura.
Boa leitura.
ANTROPOLOGIA
SOCIAL
Introdução
O relativismo é uma corrente que se contrapõe ao etnocentrismo a partir
da compreensão dos comportamentos, pensamentos e sentimentos do
outro conforme sua cultura. Trata-se de um procedimento antropológico
por excelência, porque tenta demonstrar que toda cultura opera como
uma lente que condiciona a visão de mundo dos indivíduos no contexto
da cultura em que estão inseridos. Esse processo possibilita que se entenda
que cada cultura é singular e diferente.
Neste capítulo, você estudará o relativismo cultural, uma perspec-
tiva fundamental para compreender as diferenças e a diversidade; as
ferramentas metodológicas para praticá-la, a partir da antropologia;
bem como a noção de cultura por Franz Boas, um importante expoente
dessa discussão.
Descentramento do olhar
A curiosidade do ser humano sobre si mesmo sempre acompanhou a história,
mas recentemente se tem uma consciência da alteridade que marca o surgi-
mento de um campo do saber sobre a diferença. A compreensão da diferença
como diversidade, não hierarquia, somente será possível diante do processo
de estranhamento e reflexividade que a acompanha (LAPLANTINE, 2003).
2 O relativismo cultural
[...] a perplexidade provocada pelo encontro das culturas que são para nós as
mais distantes, e cujo encontro vai levar a uma modificação do olhar que se
tinha sobre si mesmo. De fato, presos a uma única cultura, somos não apenas
cegos à dos outros, mas míopes quando se trata da nossa. A experiência da
alteridade (e a elaboração dessa experiência) leva-nos a ver aquilo que nem
teríamos conseguido imaginar, dada a nossa dificuldade em fixar nossa aten-
ção no que nos é habitual, familiar, cotidiano, e que consideramos “evidente”.
[...] O conhecimento (antropológico) da nossa cultura passa inevitavelmente
pelo conhecimento das outras culturas; e devemos especialmente reconhe-
cer que somos uma cultura possível entre tantas outras, mas não a única
(LAPLANTINE, 2003, p. 21).
https://qrgo.page.link/3TwrX
cultural dentro dos próprios termos, bem como marcam a ruptura com a
centralidade da cultura do eu no pensamento europeu sobre a diferença. Já o
efeito epistemológico é a separação dos olhares de dois sujeitos: o de etnógrafo
(o eu) e o do nativo (o outro).
O outro torna-se um porta-voz de sua cultura, e o etnógrafo aquele que
olha a partir de uma perspectiva de olhar distanciado, analisando as diferenças
culturais. Portanto, os estudos realizados começam a observar o contexto
em que vivem as sociedades analisadas como um importante fator para a
explicação da cultura. Assim, segundo Rocha (1988, p. 62):
[...] o “outro” começa a deixar de ser um simples retrato dos momentos pri-
mitivos do “eu” e passa a ocupar um lugar mais destacado como algo que
transforma a teoria antropológica e pode, de muitas maneiras, servir para
dimensionar a própria sociedade do “eu”.
O olhar distanciado
A seguir, veja o exemplo que Malinowski (1978, p. 19) trouxe em sua obra Argonautas
do Pacífico Ocidental.
A série televisiva Strangers Abroad foi exibida na década de 1990 e objetivava apresentar
alguns antropólogos importantes que influenciaram tradições e escolas. Por meio da
reconstituição da trajetória acadêmica deles, é possível saber mais sobre suas pesquisas,
influências e ideias. No link a seguir, você pode assistir ao episódio “As correntes da tra-
dição” (The shackles of tradition) para acompanhar a trajetória acadêmica de Franz Boas.
https://qrgo.page.link/EFPjc
8 O relativismo cultural
Publicado na obra Antropologia Cultural (organizada por Celso Castro), “Raça e Pro-
gresso” é uma conferência de Franz Boas no encontro da American Association for the
Advancement of Science, sendo uma importante leitura para compreender as críticas
ao determinismo biológico e ao racismo presente naquela época, nos Estados Unidos.
Nessa palestra, mostra-se como os aspectos considerados científicos sobre as raças
eram falhos, iniciando com uma desconstrução da ideia de raça e a questão da mistura
racial, a partir de estudos etnológicos e históricos de que essa mistura em outras
regiões do planeta não apontou evidências para uma degeneração, como as teorias
racialistas do período defendiam.
BOAS, F.; CASTRO, C. (org.). Antropologia cultural. Rio de Janeiro: Zahar, 2004. 112 p.
CUCHE, D. A noção de cultura nas ciências sociais. Bauru: EDUSC, 1999. 258 p.
GEERTZ, C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 1989. 213 p.
GEERTZ, C. Nova luz sobre a antropologia. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. 248 p.
LAPLANTINE, F. Aprender antropologia. São Paulo: Brasiliense, 2003. 205 p.
MALINOWSKI, B. K. Argonautas do Pacífico ocidental: um relato do empreendimento e
da aventura dos nativos nos arquipélagos da Nova Guiné melanésia. 2 ed. São Paulo:
Abril Cultural, 1978. 424 p. (Os Pensadores, 55).
ROCHA, E. P. G. O que é etnocentrismo. 5. ed. São Paulo: Brasiliense, 1988. 95 p. (Coleção
Primeiros Passos, 124).
DICA DO PROFESSOR
A diversidade cultural está presente em nosso cotidiano de tal forma que não é possível adotar
uma postura que ignore os conflitos e os dilemas que o contato produz. Nesse sentido, é preciso
outra postura frente às demandas contemporâneas sobre as diferenças para o desenvolvimento
de uma sociedade que as respeite.
Na Dica do Professor, você vai refletir sobre a atualidade do debate sobre a diversidade cultural.
Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
EXERCÍCIOS
A) A metáfora das lentes é utilizada para dizer que existe um par de lentes para todas as
culturas verem o mundo.
C) Ao ver o mundo por detrás de diferentes lentes culturais é o que produz um mal-entendido
sociológico.
B) Os seres humanos têm uma unidade psíquica que produz as mesmas formas de
pensar, independentemente de sua historicidade e condições geográficas de sua existência.
E) Os sistemas culturais podem ser divididos por lógicos e pré-lógicos, porque os seres
humanos estão inseridos em contextos diferentes que propiciam um desenvolvimento
diferenciado do pensamento.
Tendo por base a noção de cultura boasiana, assinale a alternativa que representa o
pensamento desse antropólogo:
A) Desenvolveu uma compreensão universalista da cultura, buscando as leis gerais que regem
o seu desenvolvimento humano.
B) Comparava os costumes semelhantes, buscando a sua origem por meio das teorias
difusionistas.
C) Estudava todas as manifestações culturais com vistas a realizar uma grande síntese que
explicasse as diferenças entre as sociedades.
D) Afirmava que a cultura deveria ser compreendida em relação às bases biológicas, em razão
de sua influência moral e intelectual na formação daquela.
NA PRÁTICA
A intervenção a partir das políticas públicas em regiões periféricas de uma cidade implica
considerar o contexto e as práticas do sujeito diante das questões sociais que são concretamente
vividas pelos habitantes dessas localidades. Por isso, é necessário escutar e olhar atento para
compreender as formas como se vivencia a desigualdade e quais são as estratégias construídas
como formas de resistência, isto é, estar atento à agência dos atores sociais.
Confira, Na Prática, um caso que toma por base a discussão sobre trabalho, desigualdade e
honra para pensar as formas de agência dos atores.
SAIBA MAIS
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do
professor:
Leia o artigo que discute a possibilidade de uma perspectiva de produção de conhecimento que
rompe com uma ideia congelada de eu-outro para pensar a posicionalidade como outra forma de
colocar-se na relação dialógica com a alteridade.