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290 nente de armar todas as instituigdes para esse fim e Prepa- rar todas as populagées, mas sem o imperativo de mobilizar uma “comunidade do povo” na qual estariam fundidos todos , € sobre esse ponto que se obser. os individuos. Sem duvi va a maior diferenca, il a democracia liberal e ao respeito dos direitos da pessoa — mesmo aquele que acende o fogo do nacionalismo e do racis- mo da forma mais chauvinista e violenta, como fez Trump -, fazer dele um “homem novo” ou encontrar nele o “homem. arcaico” da raga superior. Estamos muito longe do projeto de renovacgao do homem que anima o fascismo italiano ou do projeto nacional-socialista de retorno a “pureza primaria” de uma “esséncia alema original” (Chapoutot, 2020a, p. 204-5). Além disso, querendo deixar 0 cuidado dos negocios sérios aos experts, aos homens de negécio ou burocratas, Trump rejeita a organizagao das massas sob a forma disciplinada e arregimentada que o fascismo histdrico oferece. Certamente, como mostrou a invasao do Capitélio em 6 de janeiro de 2020, ele nao hesitou em instrumentalizar, na ocasiao, milicias fas- cistas ou supremacistas ja constituidas, como os Proud Boys, mas nao chega a criar do nada milicias reunidas pelo culto de sua pessoa, 0 que constitui, em si, uma diferenga decisiva. Em f I 1 iii sovfazrotind 1 idadevafici id disciplina férrea, seja a “comunidade do front” (Frontgemeins- chaft) do nazismo, seja a comunidade da nagao, compreen- dida como organismo celebrado pelo fascismo (Chapoutot, 2020a, Pp. 130). Ao contrario, ele exalta o individuo, coloca-0 acima do sentido comum, do interesse geral, incensa todas as manifestagdes de sua liberdade, suas iniciativas, suas esco- lhas, sua vontade de ser o melhor e de explorar suas “poten= cialidades”. A maneira pela qual Trump e Bolsonaro “gerita™ a crise da pandemia, encorajando os individuos a desprezar as orientagdes de protegio, notadamente o uso de ™ fala muito sobre a representacéo que fazem das relagoes eh” cara,

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