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FACULDADE DE DIREITO
DELEGAÇÃO DA BEIRA
Grupo I
A hipótese prevista no Grupo I abordava a temática da validade do objecto dos contratos
de trabalho.
Nos termos do artigo 280.º do Código Civil, a cláusula do contrato que dispunha que
Aimar poderia intimar e utilizar a força física para executar o contrato era nula, pois era
contrária à Lei penal e aos bons costumes.
Pelo exposto, e também nos termos do artigo 51.º/1 da LT, a disposição seria nula.
Dado que se tratava de apenas uma cláusula, o contrato subsistiria se ficasse
demonstrado que a referida cláusula não tinha sido determinante para a celebração do
mesmo, sendo que a cláusula nula deveria ser suprida com as disposições legais
adequadas (cfr. 51.º n.º 1 e 2 da LT).
Grupo II
Em relação aos dois primeiros elementos não se suscitavam grandes dúvidas, pois era
evidente que a utilização do veículo da empresa e as despesas de combustível eram uma
contrapartida do trabalho (decorriam da execução do contrato de trabalho) e que eram
atribuídas de um modo regular e periódico (estavam atribuídas desde o inicio do
contrato). A questão colocava-se sobretudo em relação ao seu carácter patrimonial.
Quanto ao carácter patrimonial, dado que estava em causa uma prestação em espécie
significava que a mesma teria de ser avaliável patrimonialmente. Ou seja, aquilo que o
trabalhador receberia teria de implicar directa ou indirectamente uma vantagem
patrimonial para o trabalhador.
No que se refere ao veículo da empresa, tendo em conta que o mesmo era utilizado para
fins pessoais e profissionais significava que o mesmo tinha uma repercussão no
património pessoal do trabalhador, na medida em que com a sua utilização o trabalhador
auferia uma vantagem pessoal -atribuída deliberadamente pela entidade empregadora -
que extravasava o próprio desenvolvimento da prestação laboral do trabalhador.
Pelo exposto, e dado que o veículo automóvel atribuído a Makukula para uso pessoal e
profissional integrava o conceito de remuneração, deveria entender-se que a retirada do
mesmo deveria ser compensada, sob pena de se estar a violar um direito adquirido, e em
particular de se estar ilicitamente a diminuir a remuneração (cfr. art. 114º/1 da LT).
Grupo III
Embora não esteja prevista na Lei do Trabalho (LT), a cessão da posição contratual
segue as regras gerais previstas nos artigos 424º e ss do Código Civil (CC). A cessão da
posição contratual tanto pode acontecer pelo lado do trabalhador, como do empregador.
Da matéria de facto da hipótese decorria que Yebda havia cedido a sua posição de
trabalhador da “Vai haver sangue, S.A.” a Binya.
Mediante os mecanismos da cessão da posição contratual, previstos no artigo 424º e ss
do CC, Yebda transmitiu a Binya a sua posição no contrato de trabalho que havia
celebrado com a “Vai haver sangue, S.A.” No entanto, da hipótese não resultava que
tivesse existido consentimento da “Vai haver sangue, S.A.” (ou da após a aquisição do
capital da “Direito do Trabalho não é fácil, S.A” - embora nesta situação o
consentimento continuasse a ser formalmente da “Vai haver sangue, S.A” ) na
transmissão da posição contratual, facto que nos termos do número 1 do artigo 424º do
CC é essencial.
A consequência do não consentimento da “Vai haver sangue, S.A.” é a não produção de
efeitos da cessão da posição contratual, ou seja, Yebda não havia transmitido a sua
posição contratual a Binya, e por conseguinte, este não era trabalhador da “Vai haver
sangue, S.A.”.
Em relação à questão da transmissão do estabelecimento, e embora a constatação das
contingências da inválida cessão da posição contratual esvaziassem um pouco esta
questão, deveria ser necessariamente referido o seguinte:
Nestes termos, a alegação de Binya de existência de uma eventual justa causa para a
rescisão do contrato de trabalho com base na transmissão do contrato era totalmente
infundada por três razões: 1) Não tinha havido transmissão do estabelecimento; 2)
Como se constatou, em virtude da ineficácia da cessão da posição contratual, Binya não
tinha qualquer relação laboral com a “Vai haver sangue, S.A.”; 3) A justa causa
invocada por Binya era apenas assente no receio da repetição do despedimento a que
tinha sido submetida aquando da sua passagem pela “Direito do Trabalho não é fácil,
S.A.”.
Grupo IV
No caso em apreço, verificava-se que ao trabalhador tinham sido atribuídas funções que
não constavam do objecto do seu contrato, o que implicava que se os requisitos legais
do ius variandi estivessem preenchidos o cumprimentos dessas funções seria obrigatório
para o trabalhador.
A hipótese não continha elementos de facto que permitissem concluir sobre a validade
da ordem dada pela empresa, pelo que deveriam assumir-se dois pressupostos: i) a
validade da ordem, i.e. a verificação dos requisitos do ius variandi; ii) a não verificação
dos requisitos do ius variandi.
Faz-se notar que decorria que hipótese que a remuneração não era diminuída, o que
indiciava que a alteração ao objecto do contrato seria válida.
Pelo exposto, verificava-se que qualquer um dos cenários era válido à luz da matéria de
facto da hipótese, sendo essencial referir ambos.