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HOMILÉTICA PRÁTICA

INTRODUÇÃO
É natural que todo crente que se depara com a verdade de Deus registrada
nas escrituras sinta seu coração aquecido e ávido por anunciar o evangelho. Contudo,
a aquisição de conhecimento por si só não faz de ninguém um bom expositor do
evangelho. Nós cristãos já cremos na mensagem, conhecemos a verdade, a questão
agora é, como fazer para propaga-la? Este pequeno material sobre homilética visa
descomplicar a vida de obreiros, jovens vocacionados e demais amantes da palavra
de Deus que desejam dividir seus conhecimentos com a igreja, para edificação dos
irmãos, e com os incrédulos, para que sejam salvos por Jesus.
Que este conteúdo te ajude e abençoe sua vida para a glória de Deus!

PERFIL DO PREGADOR
Antes de pensar na formatação do sermão, sua construção e até no conteúdo,
é importante salientar que para a propagação da boa mensagem o primeiro
instrumento que deve ser trabalhado é o próprio pregador. O texto de II Tm 2:15
trabalha elementos importantes que devem constar no perfil do pregador.

 Apresenta-se aprovado diante de Deus


 Não tem do que se envergonhar
 Maneja bem a palavra da verdade

CARACTERÍSTICAS DE UM PREGADOR

SOB O PONTO DE VISTA ESPIRITUAL SOB O PONTO DE VISTA TÉCNICO


Chamado – Mt 28:19 Dom da palavra – Rm 12: 6,7.8
Conhecer Deus – Atos 4:13 Conhecer a palavra – II Tm 2:15
Ter uma mensagem – Atos 5:20 Guardar a palavra – Sl 119
Ter unção – 2 Reis 2.9
Manejar a palavra – II Tm 2:15
Autoridade – Mc 1:21

A palavra de Deus afirma que a fé vem pela pregação da palavra e a


pregação pela palavra de Cristo (Rm 10:17). Entretanto, a falta de preparo adequado
do pregador, falta de unidade corporal do sermão, falta de vivência real do pregador
na fé cristã, falta de aplicação prática às necessidades existentes na igreja, falta de
equilíbrio na seleção de textos bíblicos e a falta de um bom planejamento ministerial
traz dificuldades na proclamação da palavra.

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PREGAÇÃO - DINÂMICA E O OFÍCIO DO PREGADOR
No texto de Neemias 8:1-8, encontramos dez fundamentos da atividade do
pregador e como a pregação deve ser desenvolvida. Vejamos:

1. O povo pede a lei (v.1) – Demonstra a sede humana pela palavra de Deus (Sl 42).

2. O sacerdote leva a lei ao povo (v.2) – O trabalho realizado pelo sacerdote Esdras
tipifica o trabalho do pregador, que é um trabalho missionário por excelência (Mc
16:15).

3. Um povo heterogêneo (v.2) – O grupo que pede a lei era composto por homens,
mulheres e todos que tinham idade suficiente para entender a mensagem (Tt 2:11).

4. Leu a lei em voz alta (v.3) – Pregação significa proclamação, anunciação,


propagação, portanto, pressupõe-se que seja um anúncio público (Is 61:1-3).

5. O povo ficou atento por três horas (v.3) – Significa que quando a palavra de
Deus é anunciada com vigor e dedicação, ela não é algo cansativo ao ouvinte (Sl 1:2).

6. Em pé sobre o estrado (v.4) – Quando Esdras sobe ao estrado, a ideia não é que
ele fique em evidência, mas é privilegiar os ouvintes, para que todos tenham acesso
ao que será proclamado (Lc 5:1-3).

7. Abriu o livro diante do povo (v.5) – Ao fazer isso, Esdras revela a bíblia como a
única fonte da mensagem (Mt 4:4,7,10).

8. Esdras bendisse a Deus e o povo diz amém, e todos adoraram (v.6) – A


adoração verdadeira acontece mediante o conhecimento da palavra de Deus (I Co
14:15 e Rm 12).

9. Os levitas explicavam a palavra de Deus (v.7) – Depois da exposição da palavra


ainda precisa haver o ensino (I Pe 3:15).

10. A lei foi lida, explicada e aplicada (v.8) – O trabalho do pregador não é composto
somente por ler e explicar a bíblia, mas é preciso conectar a realidade do ouvinte ao
que está sendo ensinado (At 8:30).

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DEUS, A PALAVRA E O MINISTRO

DEUS

Pregador Ouvinte

O pregador recebe de Deus e transmite a mensagem ao ouvinte a mensagem


levando-o a Deus.

IDENTIDADE DO PREGADOR
Baseando-se em três passagens da vida de Pedro o pregador deve ser:

 Aquele que esteve com Jesus – Atos 4:13


 Aquele que fala como Jesus – Mateus 26:73
 Aquele que fala de Jesus – Atos 4:10

A proclamação do Evangelho consiste em levar Boas Novas da Salvação.


Apresentar ao público quem é Jesus Cristo, seus ensinamentos e seu propósito. Para
isso, é preciso que o mensageiro tenha uma identificação completa com Cristo,
conhecê-Lo de forma especial e, além de ser convertido, ter certeza de uma chamada
(missão) específica para o ministério da palavra, o que só é possível àquele que
“esteve com Jesus”.

ÉTICA NO PÚLPITO
Devemos considerar que, quando existe uma indisposição do ouvinte para com
o mensageiro, maior será sua resistência ao conteúdo da mensagem. A primeira
impressão é a que fica! O comportamento, imagem e exemplo é atributo influente na
transmissão da mensagem como um todo. Não existe um padrão que deva ser
adotado, mas o ideal é estar de acordo com o local e a ocasião.
Alguns cuidados prévios nos ajudam. Pergunte sempre, como são os membros
da igreja que vai visitar? Quais são as características da denominação? Qual é o
horário de início e término do culto? Como é a liturgia? Isso gera empatia e constrói
uma boa relação entre pregador e ouvinte.
Observe estes aspectos errados que devem ser evitados pelo pregador:
 Fazer uma segunda e auto-apresentação;

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 Manter a mão no bolso ou na cintura o tempo todo;
 Limpar as narinas, cocar-se, exibir lenços sujos, arrumar o cabelo ou a roupa;
 Usar roupas extravagantes;
 Apertar a mão de todos, basta um leve aceno;
 Fazer gestos impróprios;
 Usar esboços de outros pregadores, principalmente sem fonte;
 Contar gracejos, anedotas ou usar vocabulário vulgar;
 Não fazer a leitura do texto;
 Evitar desculpas, você começa derrotado (não confundir com humildade);
 Chegar atrasado;
 Evite abordar questões teológicas muito complexas;
 Não peça que a congregação faça algo que não esteja de acordo com os
preceitos e costumes locais.

Outras dicas:
 Procure estar dentro dos padrões dadenominação;
 Procure dar conotações evangelísticas a mensagem;
 Respeite o horário (mesmo que seja pouco tempo);
 Converse sempre com o pastor antes do início do culto.

DUAS IDÉIAS FALSAS SOBRE A HOMILÉTICA


Existem ao menos dois erros muito comuns em relação a homilética.

 A preparação não énecessária


Baseado naquele pensamento de que a preparação é falta de fé, se usa alguns
casos o Salmo 81:10 “...abre a tua boca e eu a encherei...” O único problema é que
esse versículo não fala da preparação de sermões. É um texto, usado fora de
contexto, servindo como pretexto para o não preparo prévio de um bom sermão. No
sermão existe a parte que cabe a Deus – a iluminação da mensagem (Jr 33:3). Mas
existe a parte que cabe ao homem – a preparação da mensagem.

 A habilidade humana é suficiente


O outro erro nos leva ao outro extremo. Neste caso se coloca toda a confiança
na preparação e na habilidade humana, com pouca ou nenhuma dependência do
Espírito Santo. É uma autoconfiança que é resultado, muitas das vezes, do
treinamento e desenvolvimento das habilidades naturais. Contudo, é a unção do
Espírito Santo sobre a mensagem que pode ministrar a vida de Deus à audiência.
Permita que a preparação de seu sermão seja saturada com meditação intensa

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e oração fervorosa. Faça força para fazer o melhor assegurando-se de que a sua
confiança está em Deus e não em você mesmo. Confie sempre Nele, para receber
unção e bênçãos durante a preparação de seu sermão.

“Estude, até ficar cheio. Ore, até que o coração esteja aceso. Escreva, até que a
mensagem fique clara em sua mente.”
(Anselmo Antônio Moreira – Manual de formação pastoral vol. 3)

DEFINIÇÕES DE HOMILÉTICA
Desse trecho em diante veremos tecnicamente no que consiste a pregação.

 Homilética – É a ciência/arte que estuda os princípios fundamentais do


discurso em público, aplicados na proclamação do evangelho. Este termo
surgiu durante o iluminismo, entre os séculos XVII e XVIII, quando as principais
doutrinas teológicas receberam nomes gregos, como, por exemplo, dogmática,
apologética e hermenêutica.

 Homiletike (grego) – Ensino em tom familiar. Era uma forma de pregação


cristã feita nos lares, algo semelhante ao discipulado.

 Homilia (do verbo homileo) – Pequeno sermão, uma pregação cristãem


forma de conversa.

 Pregação – É o “ato” (Os 4:4-6, Ml 2:7-8) de pregar a palavra de Deus.


Pregador (aquele que prega) vem do latim, “prae” e “dicare” (anunciar, publicar,
dedicar, propagar ou proclamar). Apalavra grega correspondente a pregador é
“Keryx”, arauto (Dn 3:4), isto é, aquele que tem uma mensagem (Kerygma) do
reino de Deus, uma boa notícia, uma boa-nova – evangelho, “evangelion” (Rm
6:23).

FERRAMENTAS DA HOMILÉTICA
Pra que o exercício da homilética aconteça, precisamos usar algumas
ferramentas. Os principais elementos técnicos usados pelo pregador durante a
preparação do sermão são – Exegese e Hermenêutica.

 Exegese – Parte prática do processo de interpretação. O significado é “tirar” ou


“arrancar” para fora o significado do texto.

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 Hermenêutica – A palavra hermenêutica vem grego “Hermeneutikos” cujo
significado é: Arte e/ ou ciência(*) de interpretar os livros sagrados e/ ou os
textos antigos. De modo geral e mais abrangente, se fala da teoria da
interpretação de sinais e símbolos de uma cultura e a arte de interpretar leis.

(*) Ciência - Porque contém regras definidas, organizadas. Arte - Porque na aplicação
das regras há necessidade de bom senso, sensibilidade.

Veja as principais regras da Hermenêutica:

1. A bíblia explica a bíblia – Regra fundamental. A bíblia é suficiente, ela mesma se


basta para ser interpretada (II Pe 1:21, II Tm 3:16, I Co 2:13).

2. Tomar as palavras no seu sentido comum e usual – As vezes as palavras não


significam o que literalmente estão dizendo. Uma coisa é a palavra no seu sentido
literal, outra é a mesma palavra empregada no seu sentido comum. Exemplo Gn 6:12.

3. Entender os tipos de textos presentes na bíblia – A bíblia é um livro de literatura


diversificada, embora seja um livro de uma mensagem só, encontramos n’ela vários
estilos. Temos passagens narrativas, simbólicas, alegóricas, tipológicas, proféticas,
doutrinárias,... E é importante identificar em qual tipo de estilo literário se enquadra o
texto que esta sendo trabalhado, para não incorrer em interpretação equivocada.

4. Entender o ponto de vista histórico – Trata-se de conhecer o tempo, a cultura, o


lugar, costumes, a sociedade onde se passa a passagem bíblica. Isso ajuda a revelar
o pano de fundo do texto e compreender as reações que se dão na passagem.
Exemplo livro do profeta Jonas.

5. Entender os originais – Quando um texto concebido num idioma é traduzido, é


inevitável que na tradução algo se perca. Ainda mais quando falamos de línguas
mortas – hebraico e grego koiné. Exemplos: Jo 21:15-17 e Gn 1:1 com Cl 1:13.

6. Interpretação contextual – Esse tipo de interpretação consiste em olhar para tudo


que circunda uma passagem da bíblia. Segundo o Pr. Esdras Costa Bento, os tipos de
contexto podem ser classificados como: Imediato, inicial, remoto, histórico, literário,
lógico e gramatical.

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QUATRO ASPECTOS DA HOMILÉTICA
Há quatro áreas principais que a Homilética está relacionada:

1. Conceito – Tem a ver com a obtenção do tema original para a mensagem. É a


arte de conhecer como receber uma mensagem de Deus. É a maneira como se
obtém a idéia e o tema inicial de um sermão – Projeto.

2. Composição – Depois de receber uma inspiração sobre uma verdade


concreta, você tem que descobrir o que contém essa verdade.Enquanto medita
em oração, escreva cuidadosamente cada pensamento que venha a mente
sobre essa verdade – Aquisição de materiais.

3. Construção – Uma vez analisado todo material de seu tema, devemos


começar a reunir os pensamentos de uma maneira ordenada. Esta ordem vai
ajudar na formação do sermão, assim como na apresentação clara do tema.
Faça a construção do sermão da forma mais simples possível a fim de que a
sua audiência possa captá-lo com facilidade – Mão de obra.

4. Comunicação – Por último chegamos à apresentação da mensagem diante da


audiência – Entrega da obra pronta.

CLASSIFICAÇÃO DOS SERMÕES


Existem vários tipos de sermão, em geral são classificados como: Temático,
textual, expositivo, histórico, biográfico e narrativo. Alguns sermões que podem ser
identificados em uma ou mais categorias, por exemplo, um sermão expositivo, por ser
também um sermão biográfico e ser apresentado em forma de narração.O sermão
mais usado na história da pregação tem sido e deve continuar sendo, o sermão
expositivo.

 Sermão temático (tópico)


O sermão temático se baseia em um tema, utilizando textos de toda a Bíblia
para desenvolver o tema. Este é o sermão mais fácil e simples. Cada proposição deve
ser apoiada por um texto bíblico, dentro de seu contexto.

 Sermão textual
Sermão textual se baseia exclusivamente no texto, seja em apenas um ou em
mais versículo. O tema se encontra dentro do texto, assim como as divisões principais.

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Neste sermão é possível acrescentar outras passagens bíblicas que ajudam a explicar
a idéia central. O texto mantém a unidade no desenvolvimento de todo sermão.

 Sermão expositivo
O sermão expositivo é um comentário, é uma interpretação, apresenta os detalhes
do texto. Os detalhes das Escrituras são apresentados em uma harmonia e levados a
uma conclusão inteligente. O sermão expositivo tem sido e deve continuar sendo, o
mais usado na pregação das verdades divinas.
O sermão expositivo ensina mais profundamente e de maneira mais completa a
Palavra de Deus. A Igreja que prega sermões expositivos está mais fundada em todos
conselhos e nas doutrinas da Bíblia.
Este sermão se baseia em vários versículos de uma mesma passagem bíblica. Pode
ser um parágrafo ou um capítulo, ou até um livro inteiro da Bíblia, pregado em uma
série de sermões. Ao seguir um estudo de um livro, é dada ao pregador a
oportunidade de falar de temas delicados ou escondidos que não poderia ser tratado
de outra forma.
Cada passagem deve conter um tema predominante. As divisões principais se
encontram na passagem bíblica. Outros versículos podem ser introduzidos, mas em
geral em quantidade menor que em um sermão textual.
Para o preparo deste tipo de sermão é indispensável o uso de dicionários
bíblicos, comentários bíblicos, mapas, literatura adjacente e tudo mais que agregar no
conhecimento do texto. De todos, esse é o tipo de sermão mais teológico.

PARTES DE UM SERMÃO
Um sermão é um discurso religioso com base nas sagradas Escrituras,
apresentado a uma audiência para conversão dos incrédulos e para a edificação dos
crentes. As seguintes partes compõem um bom sermão organizado:

 Tema
O tema é a essência do sermão, apresentado em uma palavra ou em uma
frase. O tema pode vir primeiro ou pode também ser o texto que venha primeiro, para
o sermão. O importante é que ambos estejam em harmonia.

 Texto
O texto é a passagem das Escrituras que se usa como fundamento do sermão.
Nosso Senhor Jesus Cristo e os apóstolos usaram passagens do Antigo Testamento
como base para seus sermões (Lucas 4:10-17, Atos 2:16-21, Atos 13:15-44)

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 Introdução
A primeira necessidade do pregador é se aproximar de seus ouvintes. É bom
procurar se colocar no lugar dos ouvintes para fazer melhor contato com eles. Aqui o
pregador desperta o interesse da audiência e chama a atenção para o tema que vai
desenvolver. A introdução deve ser curta, interessante e precisa. Além disso, a
introdução deve ser simples e estar bem conectada com a mensagem a ser pregada.
A introdução é no sermão o que a decolagem de um avião é na aviação, assim como
a aplicação do sermão, é a aterrissagem do avião. Ambas são os momentos mais
críticos do passageiro de um avião, assim como para o ouvinte de um sermão.

 Desenvolvimento
No desenvolvimento do sermão tratamos com a explicação, exposição e
interpretação do tema. É a parte do sermão onde as ideias precisam estar
perfeitamente organizadas. Para isso, a divisão do sermão é muito importante para
manter um progresso organizado do pensamento e evitar repetições de ideias. Essa
ordem do sermão é fundamental para memorizar as partes principais.

 Conclusão
Este é o momento onde brevemente é sintetizado o tema principal do sermão.

 Aplicação
Este é o clímax da mensagem. Aqui permitimos que o ouvinte responda e aplique
a verdade compartilhada, a sua vida.

CONCLUSÃO
Espero que esse pequeno resumo do assunto homilética possa acrescentar na
sua vida como cristão, assim como, no desenvolvimento do seu ministério como
obreiro do Reino de Deus.

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