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AULA 5

INDÚSTRIA 4.0

Profª Ana Carolina Bueno Franco


CONVERSA INICIAL

Nesta aula, serão abordadas as tecnologias complementares que servem


de apoio à manutenção e aumentam a produtividade das indústrias. Os assuntos
que serão abordados têm como objetivo:

• apresentar os principais conceitos de robótica;


• explicar o que são robôs colaborativos ou COBOTs;
• expor o conceito de manufatura aditiva e os benefícios de sua adoção para
a manutenção industrial;
• mostrar como o uso de QR Code e RFID auxilia a indústria e a manutenção;
• esclarecer as diferenças entre realidade aumentada e realidade virtual.

TEMA 1 – ROBÓTICA: CONCEITOS

A robótica impulsionou de forma considerável a indústria, permitindo que


atividades repetitivas ou realizadas em locais perigosos tivessem a mão de obra
humana substituída pelo uso intensivo de robôs. De acordo com a Federação
Internacional de Robótica (IFR), as vendas de robôs industriais aumentaram cerca
de 114% no período compreendido entre 2013 e 2017, conforme Gráfico 1. Os
países que mais compraram robôs foram: China, Japão, Coreia do Sul, Estados
Unidos e Alemanha. Esse crescimento das vendas foi impulsionado pela quarta
revolução industrial, mediante o uso de robôs colaborativos ou COBOTs.

Gráfico 1 — Vendas de robôs industriais de 2009 a 2017 e estimativa de vendas


de 2018* a 2021*

Fonte: IFR World Robotics (2018)

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As principais terminologias e características da robótica, de acordo com
Craig (2013), são:

• descrição de posição e orientação — consiste na localização de um objeto


no espaço segundo um sistema de coordenadas, conforme a Figura 1;

Figura 1 — Sistema de coordenadas para localização de um objeto

Fonte : Craig (2013).

• cinemática dos manipuladores — relacionada às propriedades de


movimento. Os elos do robô formam a cadeia cinemática, e seus
movimentos são dados pelas juntas. O elemento final é provido pela garra
ou uma ferramenta específica. O número de graus de liberdade está
relacionado com o número de movimentos individuais das articulações dos
robôs;
• velocidade dos movimentos dos robôs;
• controle de força — uma das características mais importantes, pois deve
ser calculada e ajustada de acordo com a superfície e o objeto, para que
não haja deformação;
• programação do robô — permite programar a trajetória, a posição e a força
do robô para uma determinada tarefa.

TEMA 2 – ROBÔS COLABORATIVOS

O uso dos robôs na indústria não é novidade, uma vez que eles sempre
foram muito utilizados nas indústrias automobilísticas. De acordo com Craig
(2013), o uso intensivo dos robôs na indústria americana teve início na década de
1980. Ao longo do tempo, eles evoluíram em suas tecnologias e, atualmente, têm

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uma participação relevante na indústria 4.0, representada pelos COBOTs, ou
robôs colaborativos.
Afinal, quais as diferenças entre um robô industrial e um robô colaborativo?
A primeira característica que os diferencia é a colaboração, ou seja, os COBOTs
são desenvolvidos para trabalhar em conjunto com humanos, sem oferecer riscos.
De acordo com a norma técnica ISO/TS 15066:2016 (ISO, 2016), um espaço de
trabalho colaborativo é aquele no qual o robô (incluindo a peça que será
trabalhada) e um ser humano desempenham tarefas de forma conjunta e
simultânea ao longo da etapa produtiva.

Figura 2 — Exemplo de uso de um robô colaborativo

Crédito: Zapp2Photo/Shutterstock.

De acordo com Roboterin (2017), as principais características de um robô


colaborativo são:
• parada de segurança: ocorre quando o robô colaborativo está operando
sozinho e o operador precisa realizar alguma tarefa no mesmo espaço de
trabalho. Nessa situação, o robô não será desligado, mas os seus freios
serão acionados (diminuindo a velocidade) a fim de permitir que o operador
realize o trabalho sem qualquer risco à sua segurança.
• possibilidade de programação manual: o operador pode guiar o robô
manualmente, ensinando o caminho a ser percorrido e, por exemplo, qual
força deve ser aplicada pelas garras do robô ao pegar uma peça.
• controle de velocidade: o robô é programado para atuar dentro de um
espaço de trabalho (zona de segurança) que pode ser monitorado por
sistemas de visão. Quando um operador “invade” essa zona de segurança,
a velocidade de trabalho do robô será reduzida. Caso o operador se

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aproxime muito, o robô vai reduzir ainda mais a velocidade e pode até parar
a sua operação.
• potência: o robô é programado para detectar algum tipo de força não
programada, bem como dissipar forças em casos de impactos (por esse
motivo, são projetados com formas mais arredondadas). Inclusive, nos
COBOTs, os motores não ficam expostos para garantir a segurança do
operador.

Saiba mais
Assista ao vídeo (em inglês), a seguir, e entenda o funcionamento dos
robôs colaborativos: <https://youtu.be/Mjn2K3423zk>. Acesso em: 20 maio 2019.

Os robôs colaborativos podem ser usados em várias aplicações industriais


e oferecem diversas vantagens, como as que seguem:

• redução do tempo de execução das tarefas;


• aumento da produtividade;
• rapidez na instalação e na manutenção, por serem menores e mais leves;
• redução considerável de riscos aos operadores.

Saiba mais

Conheça alguns exemplos de aplicações de robôs colaborativos nas


indústrias:
• Docol, empresa de metais sanitários que utiliza robôs colaborativos em
tarefas repetitivas, reduzindo as atividades de manutenção:
https://www.pollux.com.br/blog/videocase-docol-diminui-manutencoes-e-
ganha-em-produtividade-com-robo-colaborativo/
• Indústria farmacêutica, exemplos de aplicações em empacotamentos,
movimentação de materiais e paletização:
<https://youtu.be/PlZs2GW6wCk>.

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TEMA 3 – MANUFATURA ADITIVA

A competitividade e a complexidade dos produtos obrigaram as indústrias


a pesquisarem novos processos de fabricação, a fim de reduzir tempo e custo. As
alterações no processo produtivo envolvem a adoção de novas técnicas e
ferramentas para o projeto, além de análise e simulação para a otimização do uso
de matérias-primas e sistemas. Todas essas adequações do processo produtivo
ocorrem devido às novas demandas dos consumidores em busca da
customização dos produtos. Para atender a essas exigências, utiliza-se a
manufatura aditiva (em inglês, Additive Manufacturing – AM) também conhecida
por impressão 3D (Volpato; Carvalho, 2018).
De modo geral, o processo de fabricação é baseado na moldagem de
materiais que pode ocorrer por fusão (por exemplo, fundição de metais), remoção
ou subtração de material (por exemplo, torneamento), na conformação que gera
a geometria final, na união de componentes ou divisão de materiais (Volpato;
Carvalho, 2018).
A manufatura aditiva surgiu no final da década de 1980 e tem como
princípio a adição de materiais em forma de camadas com base em uma
representação geométrica 3D gerada em um software.

Figura 3 — Manufatura aditiva: adição de material por camadas

Crédito: Dabarti CGI/Shutterstock.

A peça ou o objeto é desenhado em um software do tipo CAD (em inglês,


Computer Aided Design). Já o processo de construção do objeto ou do protótipo
é automatizado e realizado de forma rápida. A primeira etapa consiste em gerar o
modelo geométrico no CAD, a etapa seguinte, em planejar o processo de

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produção por fatiamento e, em seguida, vem o processo de produção do modelo
físico, conforme a Figura 4.

Figura 4 — Etapas da manufatura aditiva

Fonte: Volpato; Carvalho (2018).

A principal característica da manufatura aditiva é o alto grau de


automatização, com pouquíssima intervenção do operador no processo de
produção do protótipo.
Ao longo dos últimos anos, os processos de manufatura aditiva evoluíram
devido ao surgimento de novos materiais e máquinas com elevada precisão. Já é
possível por exemplo, fabricar o produto final do consumidor.

Figura 5 — Principais nomenclaturas da manufatura aditiva

Fonte: Volpato; Carvalho (2018).

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De acordo com Volpato e Carvalho (2018), a manufatura aditiva é vantajosa
porque:

• permite a fabricação de peças com geometrias mais complexas;


• reduz o desperdício de matéria-prima;
• favorece o uso racional de energia elétrica;
• dispensa a troca de ferramentas ao longo do processo produtivo;
• resume o processo de fabricação em uma única etapa.

Com relação às limitações, é importante compreender que:

• as propriedades dos materiais usados nesse tipo de manufatura diferem do


processo de produção “tradicional”;
• a precisão e o acabamento das peças são inferiores aos de outros
processos (devido às camadas);
• a escolha dos materiais para a produção das peças é limitada, já que nem
todos são adequados;
• este tipo de manufatura não é adequado para a fabricação de grandes lotes
de peças.

Saiba mais
Assista ao webinar sobre manufatura aditiva e conheça mais sobre o
assunto: <https://youtu.be/K_DF28PRIXU>. Acesso em: 20 maio 2019.

As primeiras aplicações da manufatura aditiva foram dedicadas à


elaboração de protótipos, em função das tecnologias e matérias disponíveis na
época. Mas, à medida que as tecnologias evoluíram e novos materiais surgiram,
o setor industrial vislumbrou várias possibilidades de aplicações.
De acordo com Volpato e Carvalho (2018), em uma pesquisa realizada com
127 empresas, cerca de 36% das aplicações ainda se concentram em
prototipagem, de acordo com a Figura 6.

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Figura 6 — Pesquisa sobre o uso da manufatura aditiva

Fonte: Volpato; Carvalho (2018)

A manufatura aditiva também atua auxilia o trabalho das equipes de


manutenção industrial. Um exemplo é a sua aplicação no reparo de motores
aeronáuticos, como podemos ver no vídeo disponível em:
<https://youtu.be/PErEaLd_JCg> e também na seguinte reportagem: <
http://g1.globo.com/rj/regiao-serrana/rjintertv-
2edicao/videos/t/edicoes/v/empresa-de-petropolis-usa-impressora-3d-para-criar-
ferramentas-para-manutencao-de-avioes/6871043/>. Acesso em: 20 maio 2019.

Outro exemplo de aplicação citado por Volpato e Silva (2018) é a fabricação


de peças do equipamento Fortus da empresa Stratasys. O equipamento tem
32 peças que normalmente eram injetadas gerando alto investimento em
ferramental. Com o uso de manufatura aditiva, a empresa teve uma redução no
custo de desenvolvimento das peças acima de 200 mil dólares.

TEMA 4 – QR CODE E ETIQUETAS DE RFID

Algumas tecnologias complementares compõem o conceito de


indústria 4.0, como as etiquetas de RFID ou ou o QR CODE para a identificação
e a rastreabilidade de peças ou elementos em uma linha de produção.
De acordo com Sacomano et al. (2018), as etiquetas de RFID (em inglês,
Radio Frequency Identification) são constituídas por dispositivos eletrônicos de

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identificação que fazem a comunicação por meio de radiofrequência. Suas
aplicações são bastantes diversificadas, em produtos, embalagens,
equipamentos, entre outros.
As etiquetas têm a capacidade de recepção e/ou transmissão de sinais de
rádio emitidos por uma base transmissora em uma frequência específica e podem
ser classificadas em:

• passivas: só respondem ao sinal enviado pela base e não têm fonte própria
de energia;
• ativas: enviam o sinal e têm fonte própria de energia;
• semipassivas: não dispõem de modulador, por isso precisam de um leitor
para comunicar as informações.

Figura 7 — Uso de RFID

Crédito: FrimuFilms / Shutterstock.

Na manutenção industrial, as etiquetas de RFID são bastante utilizadas e


trazem vários benefícios, como:

• registro de todas as operações e manutenções realizadas nos


equipamentos;
• identificação única, permitindo o registro e histórico dos equipamentos;
• veracidade dos dados coletados, evitando distorções por anotações
incorretas.
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O QR Code (em inglês, Quick Response Code) é semelhante a um código
de barras com duas dimensões, conforme a Figura 8, e pode ser escaneado por
qualquer dispositivo que tenha uma câmera e o aplicativo para a leitura instalado
(Sacomano et al., 2018).

Figura 8 — QR Code

Crédito: naum/Shutterstock.

Saiba mais
Assista ao vídeo e veja como o uso de QR Code pode auxiliar as equipes
de manutenção predial (Industrial (2014):
<https://www.youtube.com/watch?v=3EsAWhhd8rE>. Acesso em: 20 maio 2019.

TEMA 5 – REALIDADE AUMENTADA E REALIDADE VIRTUAL

A realidade aumentada (em inglês, Augmented Reality) permite mesclar


objetos do mundo real com o virtual. De acordo com Sacomano et al. (2018), suas
características são:

• combinação do mundo real e virtual;


• possibilidade de interagir em tempo real;
• experiência tridimensional.

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Figura 9 — Realidade aumentada

Crédito: Zapp2Photo/Shutterstock.

Para que a realidade aumentada funcione, são necessários três


componentes: um objeto (com um código ou marca de referência), uma câmera
capaz de coletar a imagem do objeto e um software programado para a
interpretação da imagem.
As etapas do processamento da formação do objeto virtual são mostradas
na Figura 10.

Figura 10 — Realidade aumentada (etapas)

Captação e Recepção das Processamento


transmissão da imagens das imagens Exibição do
imagem do coletadas do recebidas no objeto virtual
objeto objeto software

A Realidade Virtual (em inglês, Virtual Reality) é obtida por um hardware


(computador, headphones, óculos, luvas, entre outros) que transmita uma
sensação de realidade. Por exemplo, é possível visualizar uma máquina e sua
montagem sem que haja alguma peça dela disponível (Sacomano et al., 2018).
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Sua diferença em relação à realidade aumentada é que, na realidade virtual, o
ambiente é criado, ele não existe.

Figura 21 — Realidade virtual

Crédito: g-stockstudio / Shutterstock.

O uso da realidade virtual tem crescido muito na indústria, pois ela pode
ser utilizada desde a etapa de projeto de um produto até na manutenção de um
equipamento.

Saiba mais
Assista ao vídeo e entenda como a FIAT utiliza a realidade virtual em sua
fábrica: <https://youtu.be/WpZbu28vtqo>. Acesso em: 20 maio de 2019.

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REFERÊNCIAS

CRAIG, J. Robótica. 3. ed. São Paulo: Pearson, 2013.

GLOBAL industrial robot sales doubled over the past five years. IFR —
International Federation of Robotics. Disponível em: <https://ifr.org/ifr-press-
releases/news/global-industrial-robot-sales-doubled-over-the-past-five-years>.
Acesso em: 18 maio 2019.

ISO — Internationation Organization for Standardization. ISO/TS 15066:2016 —


Robots and robotic devices — Collaborative robots. Genebra, 2016.

O que é um robô colaborativo? RoboterIn. Disponível em: <


http://roboterin.com.br/o-que-e-um-robo-colaborativo/>. Acesso em: 18 maio
2019.

SACOMANO, J. B.; GONÇALVES, R. F.; SILVA, M. T.; BONILLA, S. H.;


SÁTYROWALTER. Indústria 4.0: conceitos e fundamentos. São Paulo: Blucher,
2018.

VOLPATO, N.; CARVALHO, J. de. Introdução à manufatura aditiva ou impressão


3D. In: VOLPATO, N. (org.). Manufatura Aditiva — tecnologias e aplicações da
impressão 3D. São Paulo: Blucher, 2017.

VOLPATO, N.; SILVA, J. V. Aplicação direta da manufatura aditiva na fabricação


final. In: VOLPATO, N. (org.) Manufatura Aditiva — tecnologias e aplicações da
impressão 3D. São Paulo: Blucher, 2017.

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