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Carl Jung A Vida de Jung (1875-1961) Una infancia infeliz Sonhos ¢ fantasias O estudo da medicina 0s anos com Freud Un episédio neurdtico Energia Peiquica Opostos, equivaléncia ¢ entropia Os Sistemas de Fersonalidade ego Ag atitudes: extroversio e introvers30 As fungies psicoldgicas 0s tipos psicoldgicos Oinconsciente pessoal Complexos O inconsciente coletivo Arquétipos ‘A minha vida é a histéria de um inconsciente que se auto-realizou, Tudo nele busca uma manifestacao externa ¢ a personalidade também deseja sair dos seus estados inconsclentes, Carl Jung 0 Desenvolvimento da Fersonalidade Da infaincia ao inicio da idade adulta Meia-idade Individuag3o Questées sobre a Natureza Humana A Avaliagio na Teoria de Jung Associagao de palavras Andlise de sintomas ‘Analise de sonhos O indicador de Tipos Myers-Briggs A Pesquisa na Teoria de Jung Tipos psicolégicos Sonhos A crise da meia-idade nas mulheres Um Comentario Final Resumo do Capitulo Perguntas de Revisao Sugestdes de Leitura 88 PARTE 3 O Enfoque Neopsicanalitico Sigmund Freud designou Carl Jung como © seu herdeiro espiritual, mas este desenvolveu uma teoria da personalidade que diferia drasticamente da psicanatj. se ortodoxa, criando uma nova e elaborada explicagdo da natureza humana dife. ogia analitica rente de qualquer outra, que ele chamou de psicologia analitica. A teoria junguiana da © primeiro ponto no qual Jung discordou de Freud foi quanto ao papel da eee sexvalidade, Jung ampliou a definigao freudiana de libido redefinindo-a como uma energia psiquica mais generalizadaque inclui sexormnas ndo se sestringe aele. ‘A segunda érea importante de discordancia diz respeito & direao das forgas que infiuenciam a personalidade. Enquanto Freud via 0s seres humanos como prisio- neiros ou vitimas de eventos passados, Jung argumentou que somos moldados pe- Jo nosso futuro e passado. Nés somos aletados nao s6 pelo que nos acontecey {quando criangas, mas também pelo que aspiramos fazer no futuro, O terceiro pon- to significativo de divergéncia gira em torno do inconsciente. Em vez de minimi- zaro papel do inconsciente, como fizeram outros dissidentes que discutimos, Jung o enfatizou mais do que Freud. Ele investigou mais profundamente o inconscien- i tee acrescentou uma nova dimensdo: as experiéncias herdadas das espécies huma- 7 / nas e pré-humanas. Embora Freud tenha reconhecido este aspecto filogenético da personalidade (a influéneia das experiéncias primitivas herdadas), Jung o tornou \\ centro do seu sistema de personalidade: combinou idéias de hist6ria, mitologia, antropologia e relivio para formar a sua imagem da natureza humana. A Vida de Jung (1875-1961) Uma infancia infeliz Sacerdotes vestindo habitos pretos, mortes ¢ funerais, pais neuréticos num casa- mento fracassado, dividas ¢ conflitos religiosos. sonhos € visdes bizarras e um boneco de madeira como companheiro marcaram a infancia dificil e infeliz. de Jung. Naseido na Suica em uma familia que tinha nove sacerdotes (oito tios € 0 pai), foi introduzido logo cedo na religidio e nos classics. Ele se relacionava bem com 0 pai, mas o considerava traco e sem poder Embora bondoso e tolerante, 0 pai de Jung passava por momentos de mudanga de humor e irritabilidade € nao conseguiu ser a figura autoritéria forte de que o filho precisava. A mie de Jung era mais enérgica, mas a sua instabilidade emocional a levou se comportar de mancira inconstante: de um minuto para outro, deixava de es- lar alegre ¢ feliz. ¢ comegava a resmungar incoerentemente com 0 olhar distante. Quando menino, Jung achava que sua mae era duas pessoas diferentes que habi- tavam o mesmo corpo. Obviamente, isso 0 deixou perturbado. Um bidgrafo suge- riu que “todo 0 lado materno da familia parecia estar marcado pela insanidade” (Ellenberger, 1978, p. 149). Como conseqiéncia do comporiamento estranho da mae, Jung tinha grande desconfianga das mulheres, levando anos para se livrar dela. Na sua autobiogra- fia, descreveu a mae como gorda e pouco atraente, o que pode explicar por que rejeitou a teoria de Freud de que todo menino tem desejo sexual pela mae. Evi- dentemente, isso nao refletia a sua propria experiéncia, Para evitar 0s pais € os seus constantes problemas conjugais, Jung passava varias horas sozinho no s6tao de sua casa, esculpindo um boneco de madeira, figura na qual ele podia confiar. Sua irma, que nasceu quando ele tinha nove anos, teve pouca influéncia no seu desenvolvimento. O nascimento dela em nada con tribuiu para diminuir a sua solidao. Sonhos e fantasias Desconfiado da mae e desapontado com o pai, Jung sentia-se excluido do mun- do exterior, da realidade consciente, Como fuga, voltou-se para 0 seu inconscien- {e, para o mundo dos sonhos, das visdes e das fantasias, no qual ele se sentia mais SeBuro. Essa op¢do o orientaria para o resto de sua vida. Sempre que se via dian- fe de um problema, buscava a solugao nos seus sonhos € visbes. Acesséncia da sua teoria da personalidade foi moldada de maneira semethan- {e. Aos trés anos, sonhou que estava numa caverna, Num outro sonho posterior, viu-se cavando embaixo da superficie da terra, desenterrando ossos de animais Pré-histéricos. Para Jung, esses sonhos representavam a diregdo da sua aborda- ‘gem da personalidade humana. Eles o incentivavam a explorar 0 inconsciente, ue esta abaixo da superficie do comportamento. Ele foi tao fortemente guiado Por essas manifestagoes do seu inconsciente que intitulou sua autobiografia Memdrias, sonhos, reflexdes (1961) ¢ achava que a sua abordagem da personali- dade se parecia com uma confissao subjetiva. Portanto, assim como o trabatho de Freud, a sua teoria da personalidade era intensamente autobiografica. Numa palestra que deu quando tinha $0 anos, reconheceu a influéncia dos acontecimen- tos da sua vida na sua teoria. Quando crianga, evitava deliberadamente outras criancas. Um dos seus pou- cos conhecidos dessa época lembra-se de Jung como um “monstro anti-social” (Wehr, 1987, p. 29). Ao descrever a sua inf’ncia solitaria, escreveu: “O padrio do meu relacionamento com o mundo ja estava preestabelecido. Hoje, assim como era naquela época, sou um solitério” Jung, 1961, pp. 41-42). A solidao de Jung reflete-se na sua teoria, que se concentra no crescimento interno do individuo, € ‘do nos seus relacionamentos com outras pessoas; opostamente, a teoria freudia- nna preocupa-se mais com as relacdes interpessoais, talvez porque Freud, ao con- twério de Jung, nao teve uma infZncia tao isolada e introvertida. 0 estudo da medicina Jung nao gostava da escola e se ressentia do tempo que tinha que dedicar aos estu- dos formais, em vez de as idéias que Ihe interessavam; preferia ler por conta pré- pria, principalmente sobre questées religiosas ¢ filoséticas, Para o seu deleite, foi forcado a perder seis meses de aula porque tinha tido uma série de desmaios. No entanto, quando ouviu seu pai dizer: “O que sera desse menino se ele nao conse- guir ganhar a vida?”, sua doenga de repente desapareceu e ele voltou a escola, empenhando-se mais do que antes (Jung, 1961, p. 31). Jung posteriormente escre- veu que essa experiéncia ensinou-lhe comportamentos neurdticos; reconheceu que provocara a situagdo para nao ir 4 escola e isso fez com que sentisse raiva e vergonha. Jung decidi estudar medicina na Universidade de Basel resolveu, para decepgao de seus professores, se especializar em psiquiatria, uma area que na €poca nfo era muito respeitada. Para ele, a psiquiatria the daria a chance de tra- balhar com o seu interesse em sonhos, no sobrenatural eno oculto. Em 1900, trae balhou num hospital psiquidtrico, em Zurique, dirigido por Eugen Bleuler, o psi- quiatra que criou o termo esquizofrenia. Nos anos que se seguiram, deu palestras na Universidade de Zurique, criou uma clinica independente e fez pesquisas uti- lizando 0 seu teste de associagao de palavras para investigar as reages emocio- nais de seus pacientes. STE O Enfoque Neopsicanalitico Os anos com Freud ‘Ao se associar a Freud, em 1907, Jung ja tinha criado uma boa fama profissiongy Quando Jung e Freud encontraram-se pela primeira vez, tinham tanta afinidade ¢ tanto a compartlhar que conversaram por 13 horas, tormando-se amigos intimos, “Bu 0 adotei formalmente como um filho mais velho”, Freud escreveu a Jung, “¢ o consagro 0 meu sucessor principe coroado” (Freud e Jung, 1974, p. 218). Jing considerava Freud uma figura paterna, “Quero desfrutar da nossa amizade nag como uma amizade entre iguais”, escreveu a Freud, “mas como uma amizade en. tre pa filho” (Freud e Jung, 1974, p. 122). 0 seu relacionamento aparentemen. te continha muitos dos elementos do complexo de Edipo, com o desejo inevitg. vel do filho de destruir 0 pai. : ‘Além disso, 0 seu relacionamento pode ter sido marcado, até condenado, por uma experiéncia sexual que Jung teve aos 18 anos. Um amigo da familia, um homem mais velho que fora uma figura paterna e um confidente, fez investidas fisicas a Jung, buscando uma relagdo homosexual. Sentindo repulsa e decepeao, Jung rompeu o relacionamento. Anos mais tarde, quando Freud, que era quase 20 anos mais velho do que ele, tentou designé-lo como seu filho e herdeiro, Jung pode ter sentido que Freud estava, de certa maneira, se impondo a ele ¢ mudan- do a natureza do seu relacionamento. Devido & sta experiéncia anterior, ele pode ter ficado igualmente decepcionado com Freud e sido incapaz de manter uma relago emocional intima com ele. Durante um certo tempo, os dois permaneceram amigos. Jung continuou em Zurique, mas se encontrava periodi Fesponder com freqiiéncia ¢ Jung viajou com Freud para os Estados Unidos para dar uma palestra na Clark University. Freud estava providenciando para que Jung assumisse a presidéncia da Associagdo Internacional de Psicandlise. Preocupado que esta fosse rotulada de ciéncia judaica (como veio a ser chamada na era nazis- (a), Freud queria que um nao judeu assumisse a lideranga o Ao contririo do que Freud esperava, Jung nao era um diseipulo que nio eri- ticava; linha as suas préprias idéias e uma visdo peculiar da personalidade huma- nna. Quando ele comegou a expressar esses conceitos, a separ vitével. Eles romperam o relacionamento em 1913, amente com Freud; eles continuavam a se cor- cial do movimento, agao tornou-se ine Um episédio neurdtico Nesse mesmo ano, quando Jung estava com 38 anos, Sédio neurético que durou trés perder 0 contato com a reali cle passou por um grave epi- os El estava correndo o riseo de le ficou to angustiado que patou de dar 4 Universidade de Zurique, Em cerios momenios, pensou tae a Eran Sa Sarre eee toe cas Perec Cann coisa aie ae Far de prceten tiamais volta” (Noll, 1994 p.207) Embora se seen bar us DrosseEuir com o seu trabalho cienifco, ele persion, no tratamento de seus pacientes, anos. Ele achava qu a RES CariJung ot importantes da minha vida — tudo que era essencial foi decidido neles” Jung, 1961, p. 199). Ele concluiu que a fase mais importante no desenvolvimento da personalidade ndo era a infincia, como Freud afirmava, mas a meia-idade, que foi a época em que Jung teve a sua propria crise. : ‘Como Freud. Jung elaborou a sua teoria com base na intui¢0, que era deri- vada das suas experiéncias e sonhos. Ela foi refinada por dados fornecidos por seus pacientes, seguindo finhas mais racionais e empiricas. Cerca de dois tercos desses pacientes eram de mei -idade ¢ estavam enfrentando as mesmas dificul- dades que ele. O restante da longa vida de Jung foi frutifera tanto em termos pessoais quan- {0 profissionais, Ele explorou diversas culturas nos Estados Unidos, Africa € India para ampliar a sua compreenséo da natureza humana. A Universidade de Basel criou uma cadeira para ele e um grupo'de alunos organizou um instituto de treinamento junguiano em Zurique. Jung continuou produtivo nas pesquisas e escreveu durante a maior parte dos seus 86 anos de vida. Seus livros tornaram-se populares e a sua psicologia analiti- Ca atraiu uma quantidade cada vez maior de seguidores. Suas idéias foram difun-

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