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Crise de identidade: o que é, como lidar e como sair dela?

Sabe aqueles momentos em que você se sente totalmente em dúvida? Aquelas horas nas quais não sabe
qual carreira seguir, se muda de cidade ou não, se desiste daquele projeto no qual colocou tanta energia? Já
passei por muitos períodos desse tipo e acredito que você também tenha vivido (ou esteja vivendo) algo
parecido.

É o que muita gente que chama de crise de identidade. Preste atenção nessa palavra: identidade. É uma
etapa na qual não nos identificamos com nenhum papel previamente exercido. Vamos entender melhor o
que isso significa?

Meu histórico pessoal de crises de identidade


Comecei minha carreira no mundo corporativo, trabalhando em agências de publicidade. Por lá, exercia
aquele papel de candidato a “executivo”: ia ao escritório todo dia (muitas vezes no final de semana), trocava
inúmeros e-mails, negociava prazos, preparava apresentações, tentava me vender internamente e no
mercado…
Até que um dia entrei numa crise de identidade e me dei conta: acho que não pertenço mais a esse grupo.
Como assim? O que faço agora? Será que mudo de profissão?

Mudei para o outro extremo. Fui viajar e desbravar o mundo. Comecei fazendo intercâmbio e trabalhando
como garçom. Me senti extremamente livre! Depois passei a trabalhar como redator web, virei nômade digital
e rodei pelo mundo. Era a vida dos meus sonhos. Tinha horas que eu chegava a me beliscar para tentar
entender se aquilo era real. Até que…

Mais uma vez, vi que aquele papel de “explorador” não me cabia mais. Sofri bastante tentando entender se
estava mentindo para mim mesmo… Afinal, eu amava tanto aquela vida até pouco tempo! E agora, o que
fazer? Viajar ou não viajar? Onde morar? Qual é meu papel no mundo?

Depois disso, vieram várias outras crises de identidade, mas isso é assunto para outra hora hehe… Minha
intenção com os exemplos é ajudar você a entender o significado dessa crise. É isso que vamos ver a seguir!

Afinal, o que é a crise de identidade?


A crise de identidade ocorre quando deixamos de nos identificar com um papel social que exercíamos até
então.

Desde crianças, todos nós exercemos papéis constantemente: filho(a), irmã(o), aluno, colega, amigo. À medida
que nos desenvolvemos, muitos desses papéis ficam cada vez mais solidificados: mãe, pai, profissional,
executivo, empresário, viajante, esportista etc.

A falta de identificação (e a consequente crise de identidade) ocorre quando nos sentimos presos e limitados
dentro de um papel social, ou ainda por conta de um sofrimento que aquele papel nos causou.

Acontece que quem causa sofrimento não é o papel/identidade em si, e sim o apego a ele.

Identidade na visão de alguns caminhos evolutivos

Psicologia analítica
Carl Jung foi um dos maiores psicanalistas e psiquiatras de todos os tempos. Ele desenvolveu o conceito de
arquétipos, que nada mais são do que padrões antigos de comportamentos presentes na humanidade. O
próprio Jung chamou de “persona” o arquétipo da adaptação social, em referência às máscaras usadas no
teatro grego para representar papéis.

Segundo Jung, a persona é uma identidade ou personalidade que adotamos para facilitar a comunicação
com a sociedade e para viver de acordo com os papéis exigidos por ela. O objetivo principal é sermos aceitos
pelos grupos sociais aos quais pertencemos.
Na maior parte dos casos, as personas ou arquétipos são adotados de forma inconsciente. Por exemplo,
durante parte da minha vida adotei sem querer a identidade do “explorador”, pois eu estava em busca de
liberdade e novas experiências.

Vale destacar que a persona e os arquétipos não são intrinsecamente bons ou ruins. Cada padrão adotado
pode nos energizar e ajudar a alcançar um certo ponto de evolução pessoal ou profissional. Porém, chega
uma hora em que precisamos transcender essa limitação e “sair da caixa”. Faz sentido?

Quando nos identificamos firmemente com um papel social, evoluímos até nos tornarmos esse papel na
prática. Depois disso, é preciso desapegar dele para que possamos seguir em frente. E sabe o que acontece
quando não desapegamos do papel social? Vem a crise de identidade!

Ou seja, a crise nada mais é do que uma amiga que nos ajuda a desapegar de algo que está nos limitando.

Filosofia oriental
Existem diversas filosofias orientais, como o Taoísmo, Budismo e Hinduísmo, que nos ajudam a compreender
a crise de identidade e sua transcendência.

Taoísmo
No Taoísmo, as pessoas que encontram a paz interior são chamadas de “homens do Tao”. Nessa filosofia, o
homem do Tao é alguém que pratica o “não ser”. Ao invés de tentar se tornar algo, esse ser humano abre mão
de todas as identificações com papéis sociais. A ele não interessam mais as aparências e os conflitos
superficiais, já que seu compromisso é com a compaixão, o amor e equilíbrio interior.

Hinduísmo
O Hinduísmo, por meio dos Vedas (escrituras sagradas mais antigas da humanidade), também fala sobre os
apegos à identidade. Segundo essa filosofia, antes de encontrar o caminho da paz e do equilíbrio, o ser
humano precisa passar pela identificação com dois outros caminhos.

Um deles é o caminho do reconhecimento, no qual buscamos a aprovação de outras pessoas. Para isso, é
comum nos identificamos com certos papéis que são muito bem aceitos pela sociedade: o trabalhador, o
esforçado, o amigo, o sábio, o executivo etc.

O outro caminho é o dos prazeres sensoriais, no qual buscamos sensações agradáveis nos seis sentidos (os
cinco tradicionais, mais a mente). Lembra que contei sobre a minha fase “explorador”, na qual meu objetivo
era desbravar o mundo e ter experiências prazerosas? Tem tudo a ver com essa etapa.

Após saturar nesses dois caminhos, estamos mais “livres” para buscar cumprir nosso real dever (terceiro
caminho). No entanto, isso não significa que nunca mais passaremos por crises. Na verdade, as crises de
identidade podem até se intensificar, já que agora existe a intenção de desapegar dos papéis.
Budismo
O Budismo fala muito sobre “anatta”, que significa “não eu”. Esse também é um caminho proposto para a
libertação das diversas identidades que assumimos ao longo da vida.

Mais uma vez, o foco está em aceitar os papéis sociais como parte de nossa evolução. No momento em que
fizer sentido, o papel pode ser transcendido por meio do desapego.

Essa transcendência não significa que você precisa deixar de exercer uma determinada função. Basta criar
consciência de que aquele papel não define quem você é. A partir daí o ser humano está livre para cumprir o
papel social nos momentos em que for necessário, simplesmente por amor aos outros seres.

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Duas metáforas para ajudar a compreender a crise de


identidade

A lagosta e a casca
Vamos voltar às aulas de Biologia por um instante?

Imagine que você nasceu como uma bela lagosta. Em sua evolução, você desenvolveu um exoesqueleto
rígido, capaz de trazer proteção contra predadores. Com isso, teve a oportunidade de crescer e se tornar uma
lagosta robusta e imponente.

Esse exoesqueleto foi extremamente importante para que você não morresse. Sem ele, você simplesmente
não teria chegado até aqui.
Só que agora sua armadura começa a incomodar. Você começa a sentir dores, como se essa “roupa”
estivesse muito apertada. O que será que está acontecendo? Alguns dias se passam, mas a dor continua.
Diante dessa agonia, só há uma solução: sair da casca!

Por um momento, você sente um pavor. A sensação é de exposição total! Você se sente indefeso(a) e perdido.
Sem a armadura de antes, a única alternativa é se recolher por algum tempo, buscando um canto seguro.

Naturalmente, um novo exoesqueleto se desenvolve. Ele é mais amplo que o anterior, podendo levar você a
uma nova etapa de evolução.

Agora você tem duas opções: acreditar que esse novo esqueleto deve durar para sempre (e sofrer) ou
lembrar-se de que ele também terá suas limitações no futuro.

O ator e a crise de identidade


Nossa segunda metáfora se passa nos palcos de um grande teatro.

Imagine que você é um ator ou atriz extremamente dedicado. Em um certo momento, você recebeu o convite
para participar de uma peça clássica e interpretar o papel principal.

Seu amor pela profissão é tão grande que você decide tomar uma medida drástica: vai incorporar seu
personagem 24 horas por dia, 7 dias da semana. Tudo com o objetivo de fazer a melhor interpretação que
esse personagem já teve!

Detalhe: a peça ficará em cartaz por um ano inteiro. Isso significa que você precisa passar 365 dias vivendo o
personagem.

As primeiras semanas correm bem. A peça está fazendo o maior sucesso e todos os críticos elogiam. Mas
nem tudo são flores…

Depois de tanto tempo sem sair do personagem, você começa acreditar que é o próprio papel. Não há mais
divisão entre persona e ator. Tudo se tornou uma coisa só. Um sofrimento intenso começa a tomar conta de
você. Muitas dúvidas surgem… Junto com elas, vem a vontade de desistir de tudo.

Finalmente, você desapega de interpretar o papel. Tudo perde o sentido por alguns dias ou semanas, até que
uma sensação de liberdade surge. De repente, você se sente livre para voltar a interpretar o papel, pois sabe
que ator e personagem são duas coisas completamente distintas.

Além da crise de identidade: como podemos


transcender nossos papéis sociais
1. Criando consciência sobre o papel adotado
O primeiro passo é ficarmos conscientes das identidades que estamos assumindo. Esses papéis podem ser
em relação ao trabalho, à família, aos amigos, ao dinheiro, aos prazeres e hobbies, à espiritualidade etc.

Ao longo do artigo citei alguns exemplos de papéis comuns, mas aqui vai mais uma lista:

Filho(a)
Pai/mãe
Irmã(o)
Cuidador
Estudante
Inocente
Bom amigo
Herói
Explorador
Rebelde
Amante
Criador/criativo
Engraçado
Sábio
Líder/chefe

Esses são só alguns exemplos. Com um pouco de reflexão, você pode encontrar os papéis que você mesmo
está exercendo consciente ou inconscientemente.

2. Encontrando os benefícios ocultos desse papel


Já mencionei antes, mas não custa repetir: nenhum papel é ruim, porém todos têm suas limitações. O que
acontece é que adotamos uma personalidade porque ela é útil e funcional, trazendo benefícios.

Agora, o desafio é encontrar as recompensas ocultas que essa identidade está nos trazendo. A questão é que
muitas vezes esses prazeres secretos são coisas que não queremos admitir para nós mesmos.

Quer um exemplo? Veja os papéis que eu assumi em minha vida (e que exemplifiquei no início do artigo):

Esforçado/trabalhador/executivo — Todos esses papéis eram exercidos por mim, Rafael, enquanto trabalhei
no mundo corporativo. Eles me traziam benefícios ocultos como: reconhecimento externo (respeito dos
colegas), redução de cobrança por chefes (pois percebiam que eu era esforçado), reconhecimento pela
família e parceira, sensação de merecimento etc.
No entanto, a identificação extrema com esses papéis me levou a trabalhar muitas madrugadas e finais de
semana. Isso gerou um desgaste enorme não só em relação à profissão, mas em outras áreas da vida. Nesse
momento veio a crise, me forçando a desapegar desses papéis.

Explorador/viajante/nômade — Após me frustrar com papéis que traziam muita autocobrança,


inconscientemente adotei identidades mais “livres”. Elas me trouxeram benefícios ocultos como: sensação de
liberdade, sensação de independência, reconhecimento externo (por poder contar meus feitos para outras
pessoas) etc.

Mais uma vez, foi preciso desapegar dos papéis em um dado momento, pois percebi que eles estavam
limitando minha vida certos aspectos. Tinha horas que eu queria ser uma pessoa “comum” e ter um endereço
fixo, mas o papel social de nômade não permitia, por exemplo.

A diferença é que quando esse ciclo de “explorador” se encerrou, eu já estava buscando autoconhecimento
profundo. Isso me ajudou a passar pela crise com muito mais observação e consciência.

3. Amando o papel exercido e agradecendo a ele


O terceiro passo para transcender uma crise de identidade é agradecer pelo papel que você exerceu até
aqui, seja ele qual for.

A gratidão é o que nos permite ir verdadeiramente além do papel social. Sem ela, a tendência é criarmos uma
aversão (desgosto) em relação a esse papel, causando ainda mais sofrimento.

Da mesma forma que odiar uma pessoa nos traz infelicidade, odiar um papel social que fez parte da nossa
vida só traz mais angústia. Portanto, agradeça por tudo o que aquele “personagem” anterior fez por você.

Sem o seu “eu de ontem”, você jamais teria tido a chance de ser o seu “eu atual”.

4. Escolhendo uma nova intenção de SER


Depois de agradecer os papéis exercidos até aqui, chega a hora de escolher conscientemente uma nova
intenção de SER.

Dessa vez você não precisa pensar em uma identidade específica. Pense nas qualidades que você quer ter
como ser humano e estabeleça uma firme intenção de ser tornar aquilo.

Por exemplo, você pode escolher ser uma pessoa amorosa, paciente, honesta, pacífica etc. Uma dica é
pensar nas pessoas que você mais admira e buscar desenvolver as qualidades que elas têm.

Ou seja, você não precisa ter o mesmo papel social de alguém para adquirir as virtudes que aquela pessoa
possui: basta identificar as qualidades e buscar desenvolvê-las em si mesmo(a), praticando dia após dia.
Desafio final: uma charada para refletirmos
Já que acabei citando o Budismo anteriormente, vou pegar emprestada uma prática de reflexão dessa
tradição. Na linhagem Zen é comum que os monges e praticantes utilizem Koans, que são uma espécie de
quebra-cabeça mental capaz de gerar reflexões — e evoluções — profundas.

Para encerrarmos este artigo, convido a você a refletir em cima da seguinte afirmação até compreender a
realidade contida na frase:

“Você não é seu corpo, nem seus desejos e medos, nem sua mente, nem seus
papéis sociais. Nada disso representa o que você supõe que você é.” —
Nisargadatta Maharaj

Gratidão pela leitura e boas reflexões!

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Rafael Zenato (https://genesetreinamentos.com/author/rafaelzenatogmail-com/)


Treinador Comportamental e Cofundador da Gênese Treinamentos. É autor do livro Tudo É Perfeito
Como É, Pós-Graduado em Psicologia Positiva, Ciência do Bem-Estar e Autorrealização pela PUC-RS,
Certificado como Líder e Treinador de Alta Performance pela Pandora Treinamentos e Bacharelado em
Comunicação Social pela UFRGS.
(https://www.instagram.com/rafaelzenato/?hl=pt-br) (https://www.facebook.com/rafael.zenato)

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O que o inverno me ensinou sobre autoconhecimento → (https://genesetreinamentos.com/inverno/)

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